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Intitulei esta apresentação de "Patologia Social".
Decidi usar a metáfora da doença
para descrever o estado actual da sociedade
e as tendências que antevê e perpetua.
Tomei conhecimento desta ideia
de relacionar o estado social com um estado celular
através um homem chamado John McMurtry
que escreveu um livro intitulado "A Fase Cancerígena do Capitalismo".
A lógica é bastante simples. Tal como o ser humano
tem de lidar com agentes patógenos que invadem e prejudicam o seu organismo
o mesmo acontece com o sistema social que todos nós partilhamos.
Claro que estas doenças sociais não são geradas
por micróbios físicos ou algo parecido.
Ao invés, tomam a forma
de princípios de preferência
"memes" culturais que passam de pessoa para pessoa com base em valores
e, consequentemente, em sistemas de crenças.
Estes "memes", ou padrões de perspectiva e comportamento
resultam de, ou consistem em
manifestações culturais que nos rodeiam
como as ideias de democracia
republicanos, democratas, o sonho americano, etc.
No capítulo 1 iremos examinar os sintomas
e, portanto, diagnosticar a fase actual da doença.
Depois, no capítulo 2 iremos estabelecer um prognóstico
ou seja, o que podemos esperar do futuro
à medida que os actuais padrões patogénicos continuam.
E finalmente, no capítulo 3, discutiremos o tratamento
para o estado actual da doença
e é aqui que o conceito de Economia Baseada em Recursos
será inicialmente examinado.
Contudo, como introdução a tudo isto,
vou começar por descrever aquilo a que chamo "prisão invisível".
Trata-se do sistema fechado de feedback intelectual
que atrasa consistentemente ou chega mesmo a impedir
o surgimento de novos conceitos socialmente transformantes.
Trava o progresso. Passo a explicar.
A ordem social, como a conhecemos, é criada a partir de ideias,
quer directamente, quer como consequência sistemática.
Por outras palavras, alguém algures fez algo
que despertou o interesse de um grupo que posteriormente levou à implementação
de uma componente social específica, seja numa forma física
filosófica ou em ambas.
Assim que um conjunto de ideias é adoptado
por um grupo significativo de pessoas, essas ideias tornam-se numa instituição.
E assim que essa instituição se torna dominante seja de que forma for
depois de existir durante um certo período,
essa instituição pode ser considerada uma ordem estabelecida.
As ordens institucionais são simplesmente tradições sociais
às quais foram dadas a ilusão de permanência.
Por sua vez, quanto mais estabelecidas elas se tornam
maior será a influência cultural que tendem a ter sobre nós,
incluindo os nossos valores, e por conseguinte, as nossas identidades e perspectivas.
Não é exagerado dizer que as ordens estabelecidas
que regem o ambiente de uma pessoa, não passam de uma plataforma de condicionamento
para programar essa pessoa com um conjunto específico de valores
necessários para manter o estatuto da ordem.
Como tal, vamos chamar a isto "programas de valores estabelecidos".
Descobri que a analogia da programação informática
é uma excelente forma de ilustrar este ponto.
Enquanto há sempre debate sobre genética
e influência ambiental, algo que
a Roxanne Meadows irá abordar em maior detalhe mais à frente
é muito fácil de compreender no contexto dos valores
ou seja, aquilo que pensas ser importante ou não
que as influências de informação ou condicionantes
advêm do mundo à nossa volta.
Não nos iludamos, cada conceito intelectual
com o qual cada um de nós se identifica
é o resultado de uma influência da informação cultural
de uma maneira ou de outra.
O ambiente é um processo de programação que se auto-perpetua
e da mesma forma que se desenvolve um software para o nosso computador
cada ser humano é advertida ou inadvertidamente
programado para ter a sua perspectiva do mundo.
Continuando com a analogia, o cérebro humano é uma peça do hardware
e o ambiente que nos rodeia constitui a equipa de programação
que cria os valores e a perspectiva.
Cada palavra que conhecemos foi-nos ensinada de uma maneira ou de outra,
logo, cada conceito e crença que temos
é o resultado dessa mesma influência.
Certa vez, o Jacque Fresco perguntou-me:
"Que percentagem de ti és tu?"
Claro que a resposta é uma espécie de paradoxo
pois ou eu sou tudo ou não sou nada do que sou,
no que toca à informação que compreendo e que me leva a agir.
A informação é um processo em série, o que significa que a única forma
de o ser humano criar uma ideia
é através da recepção de informação dependente
que permita a concretização dessa ideia.
Somos aparentemente programados culturalmente desde o momento
em que viemos ao mundo, até ao momento em que morremos
e não vou aprofundar muito mais o assunto.
No entanto, e consequentemente, os atributos culturais
que consideramos como valores importantes
são na maioria das vezes aqueles que são reforçados pela cultura externa.
Vou repetir.
Os atributos culturais mais dominantes
são aqueles que são reforçadas pelo nosso meio.
Se nascermos numa sociedade que recompensa a competição em detrimento da colaboração
então o mais provável é adoptarmos esses valores de modo a sobreviver.
A questão é que somos essencialmente máquinas bioquímicas.
E embora a integridade do nosso poder de processamento
e de memória dependam, em parte, da genética,
a fonte das nossas acções vem fundamentalmente
das ideias e experiências instaladas
no nosso hardware mental pelo mundo que nos rodeia.
No entanto, o nosso computador biológico, a mente humana
possui um sistema operacional instalado evolutivamente
que possui algumas tendências aparentemente difíceis
o que tende a limitar a nossa objectividade
e, por conseguinte, o nosso processo de pensamento racional.
Isto surge na forma de inclinações emocionais.
Muitos dos que aqui estão decerto já ouviram a frase "Sê objectivo!"
Nenhum ser humano consegue ser totalmente objectivo.
Foi uma das coisas mais importantes que aprendi com o Sr. Fresco.
Por conseguinte, existe uma propensão muito comum para nós seres humanos
encontrarmos algo que funcione de acordo com as nossas necessidades
dada a estrutura social, e agarrar-nos a isso com unhas e dentes
independentemente de informação nova e contraditória que pode dar-nos
uma possibilidade lógica de mudança.
A mudança tende a ser temida por perturbar as nossas associações.
E, a propósito, quando se trata de manter o nosso rendimento
no sistema monetário, vemos esta propensão em toda a sua plenitude
algo de que falarei mais tarde.
Portanto, de cada vez que alguém se atreve a apresentar uma ideia externa
ou contrária à programação da ordem estabelecida
a reacção é frequentemente de condenação, apelidando a ideia de blasfémiaa
subversiva, conspiracionista ou simplesmente errada.
Por exemplo, no mundo académico, a investigação limita-se frequentemente
a círculos de discurso auto-referenciados
circuitos fechados de feedback, que assumem que os pressupostos fundamentais
das suas escolas de pensamento são empíricos
e que apenas esses peritos, tal como está estabelecido pelas credenciais que possuem,
são considerados autoridades viáveis
exercendo por isso influência sobre a opinião pública.
Este é um médico chamado Ignaz Semmelweis
e perdoem-me a minha falta de ***úncia húngara
mas ele foi um médico que viveu em meados do século XIX
e realizava partos.
Através de uma série de acontecimentos, ele apercebeu-se de um padrão.
Havia uma relação entre a transmissão de doenças
e o facto de que os médicos na altura
nunca lavavam as mãos depois de realizarem autópsias.
Os médicos da época lidavam com cadáveres
nos pisos mais baixos dos hospitais e depois subiam
para realizar partos sem lavarem as mãos.
Então, este médico apercebeu-se deste padrão
e começou a falar com os colegas sobre o assunto.
E disse-lhes: "Sabem, deviam lavar as mãos antes de fazer isto"
"antes de realizarem qualquer tipo de cirurgia ou parto"
"em especial depois de mexerem num cadáver".
Foi ridicularizado. Foi gozado e ignorado.
Publicou estudos que foram desmentidos e ridicularizados.
E depois de muitos anos a tentar divulgar este tema, acabou por ser internado
numa instituição psiquiátrica, onde morreu.
Só muitos anos depois da sua morte, quando Louis Pasteur
desenvolveu a teoria microbiana da doença
é que as suas observações foram finalmente compreendidas
e as pessoas se aperceberam do terrível erro que tinha sido cometido.
Nas palavras de John McMurtry, professor de Filosofia no Canadá
"Na última idade das trevas, podemos pesquisar
os estudos dos pensadores dessa época
desde Santo Agostinho a Ockham, que não descobriremos
uma única página de crítica à estrutura social instituída
por pior que fosse a insuportável servidão feudal, o paternalismo absoluto
o direito divino dos reis e tudo o mais."
E actualmente, será assim tão diferente?
Será que vemos na comunicação social ou mesmo nas publicações universitárias
um parágrafo que desmascare claramente
o regime global que condena
um terço de todas as crianças à malnutrição
havendo comida mais do que suficiente?
Desta forma, o pensamento torna-se indistinguível da propaganda.
Apenas uma doutrina é passível de ser discutida, e a classe social desses especialistas
determina as necessidades e obrigações para todos.
A consciência social está encarcerada
numa espécie de lógica cerimonial
que opera exclusivamente no âmbito da estrutura
de um sistema regulador prescrito exaustivamente
que protege os privilégios dos privilegiados.
A censura metódica triunfa disfarçada de rigor académico
e o único espaço deixado à curiosidade humana
torna-se um jogo concorrencial de racionalizações.
As pessoas tendem a não criticar a ordem social
porque fazem parte dela.
Estamos a executar um programa de pensamento
que foi instalado no nosso hardware mental
e que controla inerentemente o nosso quadro de referência.
Para usar uma analogia diferente, é como se estivéssemos num jogo
em que a ideia de questionar a integridade do próprio jogo raramente ocorre.
Na verdade, os membros da sociedade tornam-se tão doutrinados
pelas suas normas socialmente aceitáveis, que o sentido da vida de cada pessoa
é moldado pelo sistema de valores dominantes
e a interpretação de novas informações
é consciente ou mesmo subconscientemente pré-filtrada
para ser coerente com as suas anteriores tendências.
Muito bem, compreendida esta ideia básica
vamos aprimorar o nosso foco
e reflectir um pouco sobre este fenómeno de controlo da mente, como lhe podemos chamar
no contexto da economia
especificamente, da economia de mercado.
Na realidade, um termo mais indicado nesta fase deveria ser "teologia económica".
Pois, tal como esta apresentação irá explorar
a maioria das pessoas deste planeta
não só não fazem ideia de como estam a ser negativamente afectadas
pela economia de mercado em geral, como, pelo contrário, em média
defendem justamente esses princípios
com base em nada mais do que na doutrinação tradicional.
Certa vez, recebi um email que dizia:
"Se és contra o mercado livre, és contra a liberdade".
(Risos)
E, naturalmente, estremeci perante este estado de controlo da mente
que a ortodoxia dominante estabelecida impôs com tanto sucesso.
Claro que é desta forma que o poder é mantido e tem sido mantido
pelas ortodoxias dominantes e estabelecidas desde o início dos tempos.
E o truque, uma vez mais, está em condicionar as pessoas minuciosamente
aos sistemas de valores estabelecidos, fazendo com que qualquer pensamento alternativo
seja afastado sem qualquer espécie de análise.
E para mostrar o quanto este fenómeno se encontra generalizado,
reparemos que praticamente todas as organizações activistas
de movimentos ambientais, sociais e políticos
excluem sempre o próprio sistema de mercado
como criador de efeitos perversos.
Nem sequer lhes ocorre.
Em vez disso, concentram-se em indivíduos e determinados grupos
ou empresas corruptas
quando, na verdade,
é necessário abordar áreas problemáticas caso a caso,
evitam o mecanismo que está na realidade a criar o problema.
É esta a falha fatal que se verifica na suposta comunidade activista.
E, como será sólida e claramente fundamentado
ao longo desta apresentação
o maior destruidor da ecologia
a maior fonte de desperdício e poluição
o maior causador de violência, guerra, crime,
desumanidade, pobreza e distorção social
o maior gerador de neurose social e pessoal,
transtornos mentais, depressão e ansiedade
e a maior fonte da paralisia social
que nos impede de avançarmos para novas metodologias
para a sustentabilidade global e, consequentemente, para o progresso neste planeta
não é nenhum governo. Não é nenhuma legislação.
Não é nenhuma empresa, monopólio ou cartel.
Não é uma falha qualquer da natureza humana.
É, na verdade, o próprio sistema económico
no seu próprio fundamento.
O sistema de mercado, o sistema monetário,
o mercado livre, a estrutura capitalista, seja o que for que lhe queiramos chamar
não é apenas a fonte de alguns dos maiores
problemas sociais que enfrentamos hoje
é também algo que nos empurra
para aquilo a que se poderia chamar de fase terminal desta doença
em que este cancro de valores sociais
sofreu uma mutação e se multiplicou até chegarmos ao ponto
em que chegámos e nos vemos confrontados com nada menos
que a morte ou colapso da civilização moderna tal como a conhecemos.
Espero que percebam que
eu não sou um profeta da desgraça.
Não estou aqui à procura de reacções emocionais
nem a dizer que é o fim do mundo.
Não é preciso ser-se um génio para perceber o caminho que as coisas estão a tomar,
o caminho de que os meios de comunicação nunca falam
e tendo em conta o padrão de negligência
e abuso político, económico e ambiental
estamos numa rota de colisão, que irei explicar à medida que continuamos.
Há soluções para estes problemas? Sim, há.
Mas estão de tal forma afastadas do status quo
e são uma ameaça para os que detêm o poder, quer política quer económicamente
que são imediatamente rejeitadas como irracionais e absurdas.
Os auto-intitulados guardiões do status quo nem sequer querem ouvir falar delas
por estarem distantes da sua referência e identidade.
Eis alguns exemplos de algumas das coisas que estão a acontecer actualmente.
E há muitos mais. Estes são apenas alguns dos que têm aparecido
na comunicação social.
É aqui que entra o Movimento Zeitgeist. Lamento muito ter de dizer isto
mas já não podemos confiar em instituições governamentais
para nos orientarem na direcção certa.
Todos os governos deste planeta estão dependentes
de um programa social economicamente orientado
que age em proveito próprio, é insustentável
e destrutivo de uma maneira ou de outra.
A possibilidade de uma transição suave
para um novo esquema social inspirador
que não tenha os subprodutos negativos
que irei referir, é extremamente limitada
dadas as opções disponíveis na conjuntura actual
ou seja, o sistema jurídico, o sistema político, etc.
Da mesma forma, não podemos continuar a tolerar
o carácter orientado para o lucro dos poderes empresariais e financeiros
que controlam todos os recursos preciosos do planeta
recursos que todos nós precisamos para sobreviver.
A sociedade actual está doente e a doença alastrou a todos os seus sistemas de vida,
e vejo o Movimento Zeitgeist como o sistema imunológico
do mundo social, digamos assim.
[Aplausos]
Obrigado. Capítulo 1: Diagnóstico.
Antes de começar esta análise da condição social
temos de considerar em primeiro lugar a questão do relativismo cultural
e dos valores.
Hoje em dia, as pessoas tendem a pensar que as suas ideias são iguais às dos outros,
independentemente da informação que as sustenta. Esta obsessão com a opinião
criou um quadro de referência para muitas pessoas
que não tem nenhum referente físico
em que a prova se torna inconveniente
e, basicamente, as pessoas pensam que tudo é igual.
Este argumento é muito comum. Estou certo que todos vocês já passaram por isto.
É um ponto muito, muito específico.
As opiniões de cada um não valem o mesmo.
É impossível valerem, por mais estranho
e inconveniente que este conceito possa parecer.
A questão que se coloca é: "O que merece realmente o nosso empenho?"
O que é importante para todos neste planeta
e como podemos manter o nosso bem-estar, tanto a nível pessoal
como social, de uma forma sustentável?
Qual é o denominador comum indiscutível
com o qual todos possamos estar de acordo, num mundo de cristãos
muçulmanos, capitalistas, socialistas, ateus, anarquistas
cientologistas, republicanos?
Em que é que podemos estar todos de acordo?
Bem, aqui está uma coisa que é universal:
ser saudável versus estar doente.
Podemos dizer que ser saudável é um valor preferencial.
Estados normais versus estados patológicos
ou seja, estados saudáveis versus estados doentios
fornecem uma base de valor incontestável
para todos os indivíduos e sociedades.
Teoricamente, todas as pessoas em todas as sociedades preferem estar vivas
e de boa saúde.
Não há relativismo cultural quanto a se ter boa comida para comer
não ter cancro ou ter água não poluída para beber
é um bom valor para se ter ou não.
Portanto, a nossa análise à saúde da sociedade
não será baseada no PIB
no índice de preços do consumidor, no estado do mercado de acções, no crescimento económico
nos níveis de desemprego ou emprego, nos acordos de comércio livre
ou em qualquer outro atributo económico normalmente
usado para afirmar que a sociedade está a "melhorar" ou a "crescer".
Em vez disso, vamos examinar as coisas que realmente interessam
tais como as taxas de doença, a pobreza
o capital social, a confiança
os conflitos, a corrupção, o esgotamento dos recursos, a poluição
as taxas de homicídio, a esperança média de vida, o sucesso escolar
as taxas de encarceramento, o abuso de drogas e de álcool, as doenças mentais, etc.
Estas são as coisas que realmente importam.
Comecemos então.
Contrariamente à crença popular
as provas mostram que os primeiros antepassados do Homem
que antecederam a revolução neolítica
não viviam num estado de conflito permanente e escassez extrema
como muitos antropólogos assumiam inicialmente.
De facto, as sociedades de caçadores-recolectores eram uma organização muito especial
imersa num paradigma ambiental
restritivo, ainda que auto-regulador.
Antes do advento da agricultura, havia muito pouco controlo
sobre o que estava disponível. Não havia agricultura
não se podia controlar o ambiente.
Como tal, havia um equilíbrio natural.
E as próprias sociedades pareciam reflectir este equilíbrio
tendo, efectivamente, estruturas sociais não hierárquicas
não competitivas e sem liderança.
Na verdade, verificou-se que os seus sistemas de valores
os seus valores sociais, eram essencialmente baseados
na igualdade, no altruísmo e na partilha.
E era literalmente proibido o arrivismo, a dominação
a agressividade e o egoísmo.
Sabemos isto graças a estudos antropológicos feitos
com base em sociedades de caçadores-recolectores que ainda restam no mundo
tais como os Piraha, que é como se pronuncia fora do Brasil.
Surpreendentemente, parece que, e este é um ponto importante
para aqueles que dizem que o sistema actual é natural
durante mais de 90% da existência da espécie humana
neste planeta tal como o conhecemos
estivemos inseridos em organizações sociais que não usavam dinheiro
que não tinham hierarquia, e que chegavam mesmo
a ter "estratégias anti-dominação", onde a maioria
trabalhava em conjunto para impedir qualquer indivíduo
que tentasse adquirir poder e controlo.
Basicamente o inverso do que temos hoje.
A revolução neolítica mudou tudo isso.
Deu aos humanos a capacidade de controlarem o ambiente de forma mais intencional.
O sustento da vida passou a ser cultivado essencialmente por vontade própria.
Porém, embora esse advento possa parecer um grande benefício para todos
também introduziu alguns problemas sociais incómodos
como resultado de atributos condicionantes com os quais ainda hoje lidamos.
Na perspectiva do antropólogo e professor de Neurologia
da Universidade de Stanford, Dr. Robert Sapolsky
"os caçadores-recolectores tinham milhares de fontes selvagens de alimentação com que subsistir."
"A agricultura veio mudar tudo isso, criando uma tremenda dependência"
"em apenas algumas dezenas de fontes de alimentação."
"A agricultura permitiu a acumulação de recursos excedentários"
"e, inevitavelmente, a sua desigual acumulação,"
"a estratificação da sociedade e a invenção de classes."
"Deste modo, permitiu a invenção da pobreza."
Desde esta mudança dramática na estrutura da sociedade humana,
a criação de desequilíbrios tem-se perpetuado,
e a estratificação social e a desigualdade de rendimentos
são agora símbolos do mundo moderno, como todos sabemos.
De facto, muitos dos que desconhecem a história humana
provavelmente considerariam estes atributos como sendo parte, uma vez mais
de alguma ordem natural do ser humano. É uma ideia tão generalizada hoje em dia.
Passámos do cultivo de colheitas, à troca de mercadorias
passando pela troca de ouro e pela troca de certificados apoiados por metal
à moeda fiduciária.
Passámos de um sistema com valores que reflectiam
verdadeiros processos naturais
para um sistema de valores baseados em certificados de propriedade
que são trocados por rendimento, praticamente
- nem sequer diria praticamente - completamente
dissociado de recursos físicos.
E viemos de um mundo baseado na necessidade
e esforço social direccionado para a preservação e sustentabilidade
para um mundo baseado em manipulação estratégica
materialismo inútil
e obsessão com propriedade e posse.
Nas palavras do historiador e filósofo, David Hume
"O primeiro homem que, depois de vedar um pedaço terra,"
"pensou em dizer: «Isto é meu»"
"e tendo encontrado pessoas suficientemente simples para acreditarem nele"
"foi o verdadeiro fundador da sociedade civil"
Quantos crimes, quantas guerras, quantos assassinatos
quantas desgraças e horrores teria esse homem poupado à sua espécie
homem que, preparando-se para partir ou para permanecer,
deveria ter gritado aos seus semelhantes: "Cuidado ao escutarem este impostor."
"Estarão perdidos se esquecerem que os frutos da Terra pertencem a todos nós,"
"e a própria Terra, a ninguém."
Ademais, a escassez
é agora uma força motriz para o comércio.
No nosso sistema, a escassez equivale a lucro.
Quanto menor a quantidade de alguma coisa, mais valiosa esta se torna monetariamente.
Por outras palavras, a abundância é negativa num sistema de lucro.
Nas palavras do antropólogo Marshall Sahlins
"O sistema de mercado industrial institui a escassez"
"de forma totalmente inédita,"
"a uma escala nunca antes atingida,"
"onde a produção e distribuição são organizadas mediante a oscilação dos preços,"
"e todos vivem em função do que se ganha e do que se gasta."
"A insuficiência de meios materiais"
"torna-se no ponto de partida evidente e calculável"
"de toda a actividade económica."
Da mesma forma, gostaria de salientar, como um simples aparte
que todo o dinheiro em circulação nos EUA
tem sempre menos valor do que as transacções comerciais em curso.
Por outras palavras, não há nem nunca haverá
na moeda em circulação nos EUA ou na maioria dos restantes países do planeta
uma quantidade suficiente de dinheiro
para cobrir as transacções activas na economia.
O dinheiro é criado a partir de dívida, através de empréstimos.
E os juros são cobrados sobre esses empréstimos
seja na forma de obrigação do governo ou empréstimo pessoal para habitação.
Se todas as dívidas fossem saldadas agora mesmo na nossa economia
haveria uma quantidade enorme de dinheiro
que seria literalmente impossível de pagar em moeda nacional.
Esta é uma razão central pela qual a estratificação e a desigualdade
são literalmente intrínsecas ao nosso sistema:
a escassez inerente da própria oferta de dinheiro.
Imaginem só.
Neste sistema, a falência não é um subproduto irregular
com o qual as pessoas negligentes se deparam
é um atributo inevitável e intrínseco.
É um "jogo de cadeiras". Espero que este ponto esteja claro.
Segundo o economista Bernard Lietaer
uma grande citação:
"A ganância e a competição não são o resultado"
"da imutabilidade do temperamento humano."
"A ganância e o medo da escassez estão, de facto, a ser continuamente criados"
"e ampliados como resultado directo do tipo de dinheiro que usamos."
"Podemos produzir comida mais do que suficiente para alimentar toda a gente,"
"mas claramente não há dinheiro suficiente para pagar tudo isso."
"A escassez está nas nossas moedas nacionais."
"Na verdade, a função dos bancos centrais"
"é criar e manter essa escassez."
"Como consequência directa, temos de lutar uns com os outros, para sobrevivermos."
Esta última frase é bastante esclarecedora.
"Como consequência directa, temos de lutar uns com os outros, para sobrevivermos."
A consequência destes mecanismos é, uma vez mais, o desequilíbrio social extremo
e, por conseguinte, a estratificação social.
Percebido isto, consideremos agora
a desigualdade de rendimentos no mundo.
Em 2005, o pessoal divertido do Citigroup
enviou um memorando aos seus clientes mais ricos
que abordava o estado do que eles chamavam de "Plutonomia"
e o resumo de abertura é muito, muito claro.
"O mundo está dividido em dois blocos: a Plutonomia e o resto."
"Os EUA, o Reino Unido e o Canadá são as principais plutonomias,"
"economias alimentadas pelos ricos."
Uma plutonomia é definida como uma sociedade em que a maior parte da riqueza
é, obviamente, controlada por uma minoria cada vez menor.
E como tal, o crescimento económico dessa sociedade
torna-se dependente das fortunas
da minoria rica e não do resto das pessoas.
Tenham isso em mente.
Em seguida, perguntam "Quem são os condutores de uma plutonomia?"
E afirmam: "Tecnologia disruptiva"
"ganhos de produtividade induzidos, inovação financeira criativa,"
"governos cooperativos e simpatizantes do capitalismo"
"uma dimensão internacional de imigrantes"
"e conquistas no estrangeiro que revigoram a criação de riqueza,"
"trabalho escravo"
"o estado de direito e a patenteação de invenções."
"Estas ondas de riqueza envolvem muitas vezes grande complexidade"
"que são mais bem exploradas pelos ricos e educados da época em questão."
O ponto fundamental deste documento é a compreensão
de que o consumidor médio é essencialmente irrelevante para os mercados de capitais.
Já que os super-ricos que negoceiam entre si
definem maioritariamente o estado da economia.
Eles afirmam: "Numa plutonomia não há animais como 'o consumidor dos EUA'"
ou o 'consumidor do Reino Unido' ou até mesmo 'o consumidor Russo'."
"Há consumidores ricos, que são poucos,"
"mas de forma desproporcionada na gigantesca fatia de rendimento e de consumo de que dispõem."
"Há o resto, os 'não-ricos', a esmagadora maioria,"
"mas que representam apenas uma parte surpreendentemente pequena do bolo nacional."
E continuam. "É por isso que, por exemplo,"
"não nos preocupamos tanto com o impacto dos preços altos do petróleo no consumo total."
"É evidente que os preços altos do petróleo são um fardo para a maior parte das nossas comunidades."
"No entanto, sem fazer qualquer juízo moral,"
"a desigualdade de rendimentos, sendo o que é,"
"apenas faz com que este grupo seja menos relevante para os dados estatísticos."
"A conclusão? Deveríamos preocupar-nos menos com o consumidor médio,"
"o percentil 50, o que eles fazem,"
"quando esse consumidor é (pensamos nós) menos relevante para os dados estatísticos"
"do que aquilo que os ricos pensam e estão a fazer."
"Isto é apenas um caso de matemática, não de moralidade."
Há que lhes dar crédito por serem honestos.
Antes de prosseguir, permitam-me esclarecer um pouco melhor.
A plutonomia, tal como descrevem os documentos do Citigroup
e estamos a falar de documentos muito extensos
é, obviamente,o estado de extremo desequilíbrio, tão extremo nalguns países
que a comunidade de investidores tem pouca consideração
com os hábitos de consumo do cidadão comum.
Por outras palavras, a mutação preferencial
ocorreu como resultado do sistema de incentivo financeiro
onde os padrões de consumo da população em geral
se tornaram quase obsoletos em benefício dos ricos
onde eles, a elite rica, a plutonomia, podem agora limitar-se a negociar
entre si e esquecer as classes mais baixas.
Por outras palavras, há tanto dinheiro a ser movimentado entre os ricos,
que os padrões de consumo público são quase irrelevantes.
Obviamente que isto faz sentido quando se pensa
nos métodos utilizados para medir a saúde da economia,
que deveriam supostamente dizer respeito a todos.
O PIB é basicamente calculado
de acordo com a quantidade de dinheiro que as pessoas gastam ou ganham
num determinado bem ou serviço.
Usando o exemplo do património líquido,
se temos os 1% mais ricos a controlar
35% da riqueza financeira nos Estados Unidos
com os seguintes 19% mais ricos a controlar 50%
deixando os restantes 80% com 15%
temos 20% da população americana a controlar 85% do dinheiro.
E foi isto que a Citigroup percebeu.
Esta fatia muito pequena da população é o actual motor do país.
Isto significa que o sistema financeiro tem, por natureza, pouco incentivo
para se preocupar com as acções ou o bem-estar de 80% do público.
E como todos sabemos que o sistema financeiro
é a mais poderosa influência sobre a maioria dos governos do mundo
em especial o governo dos EUA, percebe-se que que a única preocupação
que a classe dominante tem em relação à maioria da população
é meramente a de nos manter suficientemente complacentes para que não ocorra uma reacção.
E não sou eu que o digo, a Citigroup
deixa isto muito claro quando afirma:
"Na nossa óptica, a maior ameaça à plutonomia virá de um aumento"
"das exigências políticas para reduzir a desigualdade de rendimentos"
"espalhar a riqueza mais equitativamente e desafiar forças como a globalização"
"que têm beneficiado o lucro e o crescimento da riqueza."
Mas não se preocupem, porque eles não estão muito preocupados.
"A nossa conclusão? As três alavancas que governos e sociedades"
"poderiam puxar para acabar com a plutonomia são benignas."
"Os direitos de propriedade mantêm-se em geral intactos,"
"as políticas fiscais estão neutras a favoráveis,"
"e a globalização mantém o fornecimento de mão de obra excedentária,"
"agindo como um travão à inflação dos salários."
E sumarizam:
"O âmago da nossa tese sobre a plutonomia: de que os ricos
"são a principal fonte de rendimento, riqueza e procura nos países plutonómicos,"
"tais como o Reino Unido, os EUA, o Canadá e a Austrália,"
"países esses que têm uma abordagem económica liberal à criação de riqueza."
"Nós acreditamos que as acções dos ricos e a proporção de pessoas ricas"
"numa economia ajudam a explicar muitas das desagradáveis questões"
"e receios que têm atormentado os nossos clientes recentemente,"
"tais como os desequilíbrios globais ou o porquê de os preços elevados do petróleo"
"não terem destruído a procura."
"Na nossa opinião, a plutonomia explica estes problemas"
"e diz-nos para não nos preocuparmos com eles."
"Em segundo lugar, acreditamos que os ricos vão continuar a enriquecer nos próximos anos,"
"à medida que os capitalistas (os ricos) recebem uma parcela ainda maior do PIB"
"em resultado, principalmente, da globalização."
"Esperamos que a oferta global de mão-de-obra nas economias em desenvolvimento"
"mantenha a inflação de salários sob controlo e as margens de lucro crescentes,"
"o que é bom para a riqueza dos capitalistas"
"e relativamente mau para a mão-de-obra não-qualificada e passível de ser externalizada."
"Isto é um bom augúrio para as empresas que vendem ou prestam serviços aos ricos."
Peço desculpa por vos obrigar a ouvir todo este texto
mas espero que dê para perceber aquilo que as pessoas que estão no topo
pensam realmente sobre o sistema financeiro.
E provavelmente têm razão. Os ricos estão a ficar mais ricos.
O actual declínio económico
não significa realmente nada para os 20% que estão no topo.
São os 80% que continuam a sofrer.
Mas o que é que interessa? É evidente que os 20% que estão no topo impulsionam a economia de qualquer forma
e nem sequer vou abordar o que isto significa relativamente aos
nossos pressupostos ingénuos acerca da democracia no mundo moderno.
De facto, nas palavras do antigo juiz do Supremo Tribunal de Justiça
Louis D. Brandeis, penso que é assim que se pronuncia
"Podemos ter democracia neste país ou podemos ter uma grande riqueza"
"concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter as duas coisas".
Apresento agora esta ideia como uma introdução
para aquilo de que vamos falar em relação à saúde social.
No entanto, a par disto, penso que devemos abordar algumas estatísticas.
Em 2007, os principais executivos das 365 maiores empresas dos EUA
receberam bem mais de 500 vezes o salário do trabalhador médio.
Em muitas destas empresas de topo, o director executivo recebe mais num dia
do que um trabalhador médio ganha num ano.
A família Wal-Mart, constituída por cerca de 6 pessoas, os Waltons
tinha uma fortuna conjunta estimada em cerca de 90 mil milhões de dólares
segundo a Forbes em 2009.
A riqueza combinada dos 40% mais pobres da população dos EUA
é de apenas 95 mil milhões de dólares.
Além disso, os empregos mais bem remunerados no planeta
pertencem às áreas do investimento e da bolsa, ocupações que
não têm significado algum
não criam nada.
São inúteis para o estado da sociedade no mundo natural.
Em 2005, a média anual dos salários
dos 26 gestores de topo dos maiores fundos de cobertura, também conhecidos por "casinos"
foi de 363 milhões de dólares cada!
Comparem esses valores com o salário médio de um médico que ganha cerca de 150 mil dólares por ano
ou com os cientistas de investigação biológica que procuram curas
e tratamentos para doenças e que ganham apenas cerca de 68 mil dólares por ano.
Penso que já perceberam. A desigualdade de rendimentos está aqui
está a crescer e parece imparável
quando olhamos para os mecanismos dos mercados financeiros
e para a realidade culturalmente aceite das tremendas diferenças salariais
entre diferentes campos.
Agora, coloca-se a questão:
o que significa isto para a nossa saúde, para o nosso bem-estar?
A pesquisa pioneira de Richard Wilkinson e Kate Pickett, do Reino Unido
na área da desigualdade social na saúde
e nos detrimentos sociais da saúde, deu-nos algumas ideias profundas
sobre o que significa ter uma sociedade baseada e orientada pela desigualdade.
Para resumir esta pesquisa pioneira, o consenso geral
de que os problemas sociais são causados directamente por condições materiais
tais como más condições de habitação, má alimentação, falta de oportunidades na educação
e assim por diante, está a ser alterada.
A ideia de que as sociedades mais ricas estão melhor do que as sociedades mais pobres
relativamente à saúde em geral, não corresponde à realidade.
Os problemas sociais que abundam em países ricos e altamente estratificados
são em grande parte causados pela dimensão das diferenças materiais
entre as pessoas da própria sociedade.
O problema não é o rendimento absoluto, mas sim o rendimento relativo.
Se compararmos grupos de pessoas com o mesmo rendimento em diferentes países
veremos que as dos países mais desiguais
vivem muito pior do que as dos países menos desiguais
com o mesmo rendimento.
Parece ser um fenómeno psicossocial.
A desigualdade parece tornar os países socialmente disfuncionais.
E, com base nas estatísticas de saúde social, taxas de criminalidade e bem-estar
é seguro dizer-se, como me verão assinalar
que a nossa estrutura actual é nada mais do que um fracasso social.
Esperança de vida.
Neste gráfico, vemos um conjunto específico de países ricos.
Peço desculpa aos que não conseguem ler isto aí atrás
farei o melhor para mostrar o que se passa aqui.
Basicamente, no eixo dos Y está a esperança de vida
e no eixo dos X está a desigualdade de rendimentos, indo da esquerda para a direita, de baixo para elevado.
Esperança de vida de baixo para cima, da mais baixa para a mais elevada.
Como podem ver neste, o ***ão tem a menor desigualdade de rendimentos
mas uma esperança de vida espantosamente elevada.
Enquanto que a Singapura, superando apenas os Estados Unidos, neste conjunto particular
de países analisados, que são sobretudo países ricos
tem a maior desigualdade de rendimentos
e a linha de regressão no meio mostra claramente
como os padrões ao moverem-se da menor para a maior desigualdade
reduzem a esperança de vida de todos estes países.
Consumo de drogas. Vemos os Estados Unidos
como o país com o maior nível de desigualdade, com base no conjunto da amostra
e inserido também no conjunto dos 4 países
com o maior consumo de drogas ilegais: EUA, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido.
Enquanto que no escalão inferior está o ***ão, a Suécia e a Finlândia,
que têm os níveis mais baixos de desigualdade e consumo de drogas.
A Grécia também lá está. O mais importante são as tendências aqui.
Vê-se claramente a linha de regressão.
Quero debruçar-me um pouco mais sobre esta em particular. A justificação para isto:
em 2002 fez-se um estudo com macacos do género macaca.
No estudo, foram observados e analisados 20 macacos
em relação a hierarquias sociais que se desenvolveram em diferentes circunstâncias
anotando quais os animais que eram dominantes e quais os que eram subordinados.
O resultado foi que os macacos que se tinham tornado dominantes
tinham mais actividade de dopamina no cérebro, do que tinham exibido
antes de se tornarem dominantes, enquanto os macacos que se tornaram subordinados
apresentaram muito poucas alterações na química cerebral.
Por sua vez, depois de ensinarem os macacos a tomarem cocaína
com a ajuda de alavancas, verificou-se que os macacos subordinados
tomavam muito mais cocaína do que os macacos dominantes.
Por outras palavras, é uma forma de auto-medicação.
Continuemos com as doenças mentais.
As doenças mentais são muito mais comuns em países mais desiguais.
Mais uma vez, temos os EUA no topo das doenças mentais
e o ***ão no escalão mais baixo.
Como podem ver neste gráfico, as doenças mentais e a desigualdade
estão bastante interligadas.
Uma rápida análise às consultas médicas com prescrição de fármacos antidepressivos ISRS
a adultos com 18 ou mais anos de idade
nos EUA, entre 1995 e 2002
mostra uma clara tendência de crescente dependência de antidepressivos.
As formas mais comuns de distúrbios são, obviamente, a ansiedade e a depressão.
Um psicólogo chamado Jean Twenge fez um interessante estudo
que provou que os Americanos sentem mais ansiedade que no passado.
Uma sondagem feita a 52 mil alunos universitários
entre 1952 e 1993
constatou que os alunos sentem hoje mais ansiedade
do que 85% da população no início do estudo (ou seja, 1952).
No final dos anos 80, uma criança norte-americana sentia mais ansiedade
do que os pacientes de psiquiatria infantil da década de 1950.
Quanto à depressão, um estudo intitulado
"Tendências temporais na saúde mental de adolescentes" concluiu que na Grã-Bretanha
a depressão entre as pessoas na casa dos 20 anos era duas vezes mais comum
num estudo de cerca de 10 mil pessoas nascidas em 1970.
Um estudo de 10 mil pessoas, duas vezes mais comum em 1970 do que em 1958.
Também se constatou que, em geral, os distúrbios psicossociais
que afectam os jovens têm aumentado substancialmente nos últimos 50 anos.
Na Alemanha, Itália, ***ão e Espanha
por ano, 1 em cada 10 são considerados "mentalmente doentes".
No Reino Unido é 1 em 5, e nos EUA é 1 em 4.
Em populações inteiras, as taxas de doenças mentais são 5 vezes maiores
nos países mais desiguais em comparação aos mais iguais.
Agora surge a pergunta óbvia: "Então e a genética?"
Acho que Richard Wilkinson resumiu isso muito bem.
"Embora a doença mental possa ser afectada por mudanças"
"nos níveis de certas substâncias químicas no cérebro,"
"ninguém mostrou que elas são realmente as causas da depressão,"
"ao invés de mudanças causadas pela depressão."
"Embora algumas vulnerabilidades genéticas possam servir de base para algumas doenças mentais,"
"isso por si só não explica o enorme aumento
da doença nas últimas décadas."
"Os nossos genes não podem mudar tão rapidamente."
Avancemos agora para a ideia de confiança.
Podemos chamar-lhe capital social.
O capital social é definido como uma atitude, um espírito
ou uma predisposição das pessoas para participarem em actividades cívicas colectivas
que resultem numa forte relação de confiança.
Como se pode ver no gráfico, aqueles que sentem que podem confiar nos outros
são muito mais frequentes, naturalmente
nas sociedades menos desiguais.
Isto é mais do que óbvio, como penso que muitos concordarão.
Naturalmente, com maior desigualdade as pessoas preocupam-se menos umas com as outras.
Na verdade, penso que a desconfiança e a desigualdade reforçam-se mutuamente.
O seguinte ponto só por si dava para fazer uma palestra de uma hora:
o que é uma sociedade se as pessoas não podem confiar umas nas outras?
É importante perceber que a ideia de amizade
e as noções associadas à amizade,
que no fundo é uma qualidade de confiança,
é uma característica completamente oposta
à mentalidade de competição
e às teorias económicas de interesse próprio que vemos hoje.
Empatia, reciprocidade e cooperação equivalem a uma boa saúde
enquanto suspeita, luta e competição,
equivalem sempre a elevados níveis de stress e, consequentemente, destruição.
Como iremos falar de seguida,
o stress é um dos assassinos mais mortais que se conhecem. É um assassino secreto.
E viver numa sociedade em que temos de olhar por cima do ombro
e onde temos de lutar por tudo o que temos
onde nos temos de questionar sobre praticamente todas as transacções
por partirmos do pressuposto que a pessoa
pode estar a tentar enganar-nos para seu próprio benefício
o que importa reter é que nós prosperamos socialmente através da confiança e da cooperação
e comprovadamente pelos padrões de saúde.
E estruturas sociais que criam relações baseadas na desigualdade
inferioridade e exclusão social,
são infligidas com as piores consequências em termos de dor social e neuroses.
Prossigamos para os valores da educação.
Este é muito interessante. Não só os países mais desiguais
têm piores resultados educativos
como também as crianças são mais propensas a abandonar a escola.
Curiosamente, as distinções entre classes e os seus efeitos
têm-se tornado muito evidentes a este respeito.
Por exemplo, num estudo realizado em 2004
colocaram-se 321 rapazes indianos de casta alta
juntamente com 321 rapazes de casta baixa
e deram-lhes um determinado problema para resolver.
A primeira vez que o fizeram, a relação de castas
o estatuto social, não foram anunciados a essas crianças.
Elas não tinham ideia de quem estava a seu lado. E pode ver-se
que nestas condições a casta inferior chegou mesmo a superar a casta superior.
Da segunda vez que o fizeram, os resultados foram dramaticamente diferentes
a casta baixa saiu-se muito pior
enquanto a casta superior saiu-se melhor. Isto é psicológico.
É uma relação psicossocial de superioridade-inferioridade
que tem sido repetida muitas vezes em muitos outros estudos
exactamente com os mesmos resultados.
As pessoas são muito afectadas pela percepção do seu estatuto na sociedade.
Quando esperamos ser vistos como inferiores, muitas vezes actuamos como tal.
As taxas de homicídio.
Como podem ver, os Estados Unidos superam tudo e todos
quando se trata de taxas de homicídio.
E, obviamente, se olharmos para a tendência de regressão
as taxas de homicídio são naturalmente mais comuns em sociedades desiguais.
Na verdade, a violência em si
é provavelmente o atributo de desigualdade social mais estabelecido
sobre qualquer uma das coisas de que estamos a falar nestes exemplos.
James Gilligan, que foi psiquiatra prisional durante 25 anos
e é actualmente o director do Centro de Estudos de Violência
na Universidade de Harvard, disse o seguinte acerca da longa experiência
que teve com criminosos violentos:
"Os reclusos com quem trabalhei disseram-me, repetidamente,"
"quando lhes perguntava por que motivo tinham atacado alguém,"
"que tinha sido porque «ele me desrespeitou»."
"A palavra «desrespeito» é central no vocabulário, no sistema de valores morais"
"e psicodinâmica destes homens cronicamente violentos."
"Ainda estou para ver um acto grave de violência que não tenha sido provocado"
"pela experiência de se sentir envergonhado, humilhado"
"desrespeitado e ridicularizado, sem que haja"
"uma tentativa de impedir ou anular esta «desenora»,"
"independentemente da severidade do castigo."
"Pois compreendemos mal estes homens por nossa conta e risco"
"se não percebemos que não podiam ser mais sinceros"
"quando dizem que preferem matar ou mutilar outros, serem mortos,"
"do que viver sem orgulho, dignidade e auto-respeito."
"Preferem literalmente a morte à desonra."
É muito fácil perceber como as relações de classe
e, por conseguinte, a desigualdade de rendimentos, se podem traduzir em sentimentos de humilhação
perda de controlo, desrespeito e ridicularização.
Sabe-se que quando alguém perde o emprego, isso é muitas vezes é desmoralizante.
Diz-se: "Oh, o meu marido está desempregado".
E isso é uma coisa desmoralizadora, "Oh, ele está... desempregado..."
Afinal de contas, a própria natureza de classe é hierárquica.
Por outras palavras, a classe mais alta menospreza realmente
a classe mais baixa, historicamente falando.
E ser-se menosprezado é basicamente humilhante.
Portanto, não deve ser nenhuma surpresa o facto de os Estados Unidos terem o maior número
de homicídios no mundo, dada a sua extrema desigualdade de rendimentos.
E isto leva-nos a taxas de encarceramento.
A tendência é também muito acentuada.
Obviamente, como podemos ver, as taxas de encarceramento são muito mais elevadas em países desiguais.
Quanto mais desigual é o país, mais pessoas há na prisão.
No entanto, o mais interessante acerca desta realidade
é que se trata apenas de uma questão de criminalidade, que, obviamente
é muito mais prevalecente em sociedades desiguais
mas também tem que ver com as atitudes punitivas
contra os chamados "elementos criminosos da sociedade".
Por outras palavras, quanto mais desigual for a sociedade
mais duras são as punições para uma dada infracção.
E, por conseguinte, mais pessoas são colocadas na prisão por períodos mais prolongados
do que em países mais equitativos.
Desde 1984, o estado da Califórnia, construiu
uma nova escola por cada 20 novas prisões.
Como parêntese, para aqueles que pensam
que o sistema prisional tem algum papel terapêutico de reabilitação
na modificação de seres humanos e do seu comportamento
gostaria de recorrer novamente ao nosso psiquiatra prisional
James Gilligan, pela sua perspectiva.
Ele afirma: "A maneira mais eficaz de transformar uma pessoa não-violenta"
"numa violenta é mandá-la para a prisão."
"Os sistemas penal e de justiça criminal têm operado"
"sob um grande equívoco, nomeadamente a crença de que a punição"
"irá prevenir, impedir ou inibir a violência"
"quando na verdade é o mais poderoso estimulante de violência"
"jamais descoberto."
E aqui está um muito interessante: mobilidade social.
Mobilidade social tem a ver com
a classe que temos à nascença
e a facilidade com que nos movemos para classes superiores
ou inferiores a essa classe durante a nossa vida.
Por outras palavras, se nascemos na pobreza, qual a possibilidade
que temos de nos tornarmos ricos?
Bem, como podem ver por este gráfico, os Estados Unidos
terra do "Sonho Americano"
têm a menor taxa de mobilidade de todos os países que constam do estudo.
Se nascermos na pobreza, há grandes probabilidades de permanecermos na pobreza.
Da mesma forma, se nascermos ricos,
permaneceremos ricos muito provavelmente para o resto da vida.
E se pensarmos bem, trata-se efectivamente de uma forma de segregação de classes.
Esta realidade pode ser, em parte, atribuída
aos mecanismos do nosso sistema financeiro
que mantém deliberadamente as classes baixas, pobres
e as classes altas, ricas.
Como exemplo rápido disto mesmo, e que já referi antes
mas que julgo ser um exemplo muito importante
se tivermos 1 milhão de dólares e os colocarmos numa conta a longo prazo num banco
com juros a 5%, iremos gerar 50 mil dólares por ano
só por esse depósito.
Estamos a fazer dinheiro do próprio dinheiro, papel feito de papel
nada mais, não há qualquer invenção nem contribuição para a sociedade, nada.
Tendo isso em conta, se formos pessoas de classe média-baixa
classe que é limitada em fundos, e precisarmos de pedir um empréstimo com juros
como a maioria das pessoas, para comprarmos casa ou usarmos cartões de crédito
estaremos a pagar juros ao banco
que o banco irá usar, em teoria
para pagar os juros de quem tem o depósito a prazo de 5%.
Esta equação não só é escandalosamente ofensiva, devido ao uso
de juros para roubar aos pobres para dar aos ricos
como também perpetua a estratificação de classes,
mantendo as classes mais baixas, pobres, sob o fardo constante da dívida
enquanto mantém as classes altas, ricas, com os meios para transformar o excesso de dinheiro
como que por artes mágicas, em mais dinheiro, sem qualquer trabalho ou contribuição social.
Já agora, este é apenas um dos mecanismos
usados para garantir que estes atributos de classes,
ou segregação de classes, sejam mantidos.
Mortalidade infantil.
Muito simplesmente, é mais alta em países desiguais
do que em países menos desiguais.
Obesidade. Naturalmente, maior nos países mais desiguais.
Taxas de mães adolescentes. Maior nos países mais desiguais.
Inovação. Gosto muito deste. Porque é uma valente chapada na cara
de todos os fanáticos entusiastas do mercado, que parecem pensar
que o sistema de incentivos baseado na competição e na procura de lucro
se traduz em novas inovações para o bem comum.
E lamento dizer que não é isso que acontece.
Usando a medida de patentes por milhão, a Finlândia, a Suécia
e a Irlanda batem os Estados Unidos no que diz respeito ao número de invenções.
E, finalmente, vamos dar uma olhadela num resumo
dos muitos pontos que acabámos de examinar.
Este gráfico mostra a esperança de vida, a literacia matemática, a mortalidade infantil
os Homicídios, os níveis de reclusão, de mães adolescentes, confiança, obesidade
doenças mentais (consumo de drogas/álcool) e mobilidade social.
Como podem ver, nos Estados Unidos
que têm o nível de estratificação mais elevado, somos definitivamente os piores.
E só para ter certeza de que entendem esta análise de claramente
aqui está um gráfico que mostra o rendimento absoluto, da mesma coisa que acabaram de ver.
Como podem ver, não há qualquer padrão. Não há nenhuma linha de regressão.
Aqui estão eles, lado a lado, para que possam ver quão viável esta informação realmente é.
A tendência é muito clara quanto às ramificações da desigualdade
num determinado país ou ambiente social.
Como ponto final sobre este tema da desigualdade e das suas consequências,
quero falar de um estudo chamado "O Estudo Whitehall",
realizado em duas fases, a 1 e a 2, e que se estendeu por cerca de 60 ou 70 anos.
O professor Michael Marmot, do Departamento de Epidemiologia
e Saúde Pública da University College de London
foi o director destes estudos.
Ele usou o sistema britânico de administração pública como grupo de estudo
e descobriu que existe um gradiente de qualidade de saúde
nas sociedades industrializadas que não é apenas
uma questão de fraca saúde para os mais desfavorecidos
e de boa saúde para os restantes. Algo de diferente estava a acontecer.
Lembrem-se, isto é no Reino Unido, que tem um sistema de saúde socializado.
Por isso, todos têm essencialmente igual acesso
à mesma quantidade de cuidados de saúde.
Eles descobriram, independentemente disto, que havia uma distribuição social da doença
à medida que percorremos a escala sócio-económica de cima para baixo
e que os tipos de doenças que as pessoas contraíam mudavam em média.
Por exemplo, os degraus mais baixos da hierarquia
tiveram um aumento de 4 vezes na mortalidade por doenças cardíacas
em comparação com os degraus mais altos.
E este padrão era até certo ponto, e uma vez mais, independentemente do acesso aos cuidados de saúde.
Já agora, este é apenas um exemplo.
Existe um gradiente de problemas de saúde que emergem
e que não podem ser explicados pelo rendimento absoluto.
E, de facto, remontam ao impacto do stress
se analisarmos e pesquisarmos estes pontos.
Mesmo num país com um sistema de saúde universal
quanto pior for a situação financeira e posição hierárquica de uma pessoa
pior será a sua saúde, em média.
Por outras palavras, as pessoas que estão em posições sócio-económicas mais elevadas na pirâmide
vivem mais tempo, gozam de melhor saúde
e sofrem de menos incapacidades
enquanto aquelas que têm menor estatuto sócio-económico
morrem mais cedo e sofrem de mais incapacidades e de doenças.
Isto surge novamente na forma de um gradiente, significando que
a partir da classe superior directamente para baixo, para a classe inferior
cada passo para baixo ou para cima na escada sócio-económica
constitui uma mudança respectiva na qualidade
de saúde de uma pessoa.
O que importa realçar é a existência de imensos dados estatísticos que mostram
claramente que viver numa sociedade mais igualitária é mais saudável e produtivo
para cerca de 99,9% da população.
Somente aqueles que ocupam a ponta da pirâmide
é que poderiam ser considerados imunes à doença
conhecida como desigualdade social.
Por outras palavras, a igualdade beneficia toda a gente.
Tendo em conta esta realidade
levanta-se a questão: qual é a verdadeira
causa psicossocial destes problemas?
Quais são os mecanismos mais dominantes
que apoiam continuamente a divisão de classes
a neurose e a doença que gera?
Bem, na verdade não precisamos de ir muito longe para encontrar um forte suspeito.
A divisão de programação cultural do sistema de mercado é a indústria da publicidade
que serve para perpetuar os valores consumistas que vemos à nossa volta.
No entanto, a questão é muito mais profunda do que isso.
É muito mais profundo do que levar as pessoas a comprarem coisas
para dar lucro de uma dada empresa.
O facto é que os valores do materialismo e do consumo
são de extrema importância para o funcionamento da economia mundial.
Sem esses valores
o sistema fraquejaria, e permitam-me explicar porquê.
No centro da economia como a conhecemos
encontra-se o requisito inalterável para o consumo constante
cíclico e perpétuo.
Por outras palavras, toda a base daquilo a que chamamos de "crescimento económico",
que por sua vez se traduz noutras coisas como o produto interno bruto,
que são supostamente medidas de progresso social e afins,
não são nada mais do que seres humanos constante e perpetuamente a comprar e a vender,
vezes sem conta.
Se os seres humanos não comprarem coisas
as empresas e as lojas não poderão pagar aos seus empregados.
Se um empregado não recebe, ele que também é consumidor,
não poderá gastar o dinheiro que recebe
e devolvê-lo ao sistema para perpetuar o ciclo.
Se as pessoas não gastarem o seu dinheiro constantemente
toda a estrutura económica, incluindo o sistema de trabalho
cairia totalmente por terra.
Dada esta realidade, a maior prioridade de qualquer empresa
ou de qualquer governo que se preocupe com a sua economia
é a de assegurar que o público tenha um interesse imediato
em consumir constantemente.
É interessante relembrar que a América foi fundada originalmente
sobre um certo grau de ética de trabalho protestante
uma visão protestante do mundo, onde economizar e poupar
eram realmente os valores dominantes da época.
Desde esse tempo, as agências de publicidade tiveram de mudar os seus argumentos
focados em pontos de vista utilitários
para outros de apelo emocional
e melhoria de estatuto.
Os Americanos consomem hoje o dobro
do que consumiam antes do final da Segunda Guerra Mundial.
Como nota histórica
uma das principais figuras deste "sequestro" de valores americanos
é um homem chamado Edward Bernays.
Bernays ficou famoso pelo seu livro chamado "Propaganda",
que foi comprado por muitas pessoas, incluindo Joseph Goebbels.
Foi contratado por todas as grandes empresas há muitas décadas
para ajudar a influenciar o público a comprar coisas
das quais pura e simplesmente não precisava.
Nesse tempo, foi criado um novo mundo de associações neuróticas, tal como o materialismo
e o "consumo conspícuo", para citar Thorstein Veblen
mundo esse que tem crescido e mudado dramaticamente.
Hoje, as necessidades humanas tornaram-se totalmente distorcidas
pelas vontades impostas e sugeridas geradas
pelo mecanismo de provocação de consumo do marketing e da publicidade.
Quanto mais insatisfeita e infeliz for uma população
melhor para agências e empresas de publicidade.
O consumismo alimenta-se de um tipo de inferioridade e consciência própria
e isso traduz-se, literalmente, em identidade e estatuto social.
Surpreendentemente, a doutrinação é tão poderosa que o consumismo é considerado
pela maioria da sociedade como reflexo de algum tipo de interesse humano básico
como se fosse um reflexo da natureza humana.
É óbvio que isto não tem qualquer fundamento. De facto, a nossa necessidade neurótica de comprar e consumir
é na verdade um reflexo da nossa profundidade social
e de como somos influenciados pela programação social,
pelo estatuto orientado pelas posses, pelas aparências
e por tudo o que nos é impingido.
Posto isto, vou agora iniciar a transição
para a próxima secção desta apresentação
e para estabelecer aqui uma ponte, quero frisar que
não só os padrões de consumo gerados pelo estatuto
da maioria das pessoas, em especial na América
causam uma grande dose de stress social,
levando, em parte, a muitos dos problemas que acabámos de analisar
a propensão para o consumo cíclico constante
que, uma vez mais, é necessária para que toda a economia mundial funcione,
está também a sublinhar tendências que mostram um caminho claro
para graves problemas ambientais
bem como a contínua deterioração da civilização tal como a conhecemos,
à medida que destruímos todos os nossos recursos naturais
através deste acto idiota de consumismo para alimentar o PIB.
Parte Dois: Prognóstico
Os pontos anteriores, sobre assuntos que afectam a qualidade de vida e o bem-estar
associados ao desequilíbrio social, constituem um grande problema.
No entanto, para sermos justos, só porque existe propensão
para uma população com excesso de peso, violenta, doente, mentalmente perturbada
egoísta, desconfiada e analfabeta
não se traduz necessariamente
no colapso social que estamos a começar a ver.
Vamos então avançar, colocando de momento o bem-estar básico da Humanidade
de lado e focarmo-nos nos mecanismos
do próprio sistema social
e nos problemas de ordem maior que estão a ser criados.
Ora bem
uma das coisas mais importantes que devemos compreender
que prova sem sombra de dúvida
a insustentabilidade do nosso actual sistema social
e como está em rota de colisão com a Natureza, é esta:
devido à forma como o dinheiro e, por conseguinte, a economia de mercado, funcionam
estamos confinados a um paradigma incompatível
onde dois princípios de funcionamento mutuamente exclusivos
um, a necessidade de consumo constante, ou crescimento "infinito",
colide com um planeta inflexível e finito
e, consequentemente, com as leis físicas da Natureza.
Simplesmente não se pode ter um crescimento infinito do comércio
e do consumo num sistema fechado
como o planeta Terra.
Para quem não entende isto por completo, permitam-me explicar melhor.
O planeta Terra é basicamente um sistema fechado no que se refere aos seus recursos.
Todos os depósitos de minerais e de energia que usamos actualmente
possuem períodos de formação que excedem tremendamente
o tempo de vida do ser humano.
Por exemplo, o petróleo e os combustíveis fósseis em geral
levaram mais de 100 milhões de anos para se formarem.
O mesmo é verdade para os nossos recursos minerais.
As 4.400 espécies minerais hoje existentes
demoraram quantidades astronómicas de tempo para serem criadas.
Os diamantes que encontramos hoje
levaram mais de 3 mil milhões de anos para serem criados.
Tendo em conta esta realidade ambiental, deveria ser mais do que óbvio
que o aspecto mais importante de qualquer sociedade terrestre
fosse a preservação dos recursos da Terra, certo?
Que toda a base de qualquer estrutura económica
teria como prioridade número um
a preservação dos recursos do planeta.
Porquê? Porque assim que acabarem, acabou.
Por exemplo, mesmo nesta fase da investigação científica,
não podemos tirar um pneu, que contém cerca de 25 litros de petróleo
e convertê-lo em combustível.
Então, em vez de termos um sistema lógico de gestão de recursos,
onde monitorizamos os recursos da Terra e tentamos, enquanto espécie humana
orientar estrategicamente o uso destes preciosos elementos finitos
arranjámos algo bem mais interessante
a que chamamos "Paradigma Económico de Crescimento Infinito".
No nosso sistema actual, pegamos em tantos recursos quanto possível,
usamo-los em qualquer coisa que julgamos poder ser comprada
e tentamos manipular-nos uns aos outros para comprarmos essas coisas para obter lucro.
De facto, toda a base da ideologia do mercado livre
está em usar e trocar tantos recursos quanto possível
o mais rápido possível, para gerar tanto dinheiro quanto possível
que por sua vez é usado para explorar mais recursos sucessiva e repetidamente.
Criámos uma estrutura global monetária com fins lucrativos,
que consiste num "protocolo" de troca circular, digamos assim,
onde o dinheiro deve deslocar-se do consumidor para o empregador
para o empregado, que por sua vez é novamente consumidor; e a única forma
de sustentar este padrão, de manter as pessoas empregadas
a única maneira de manter as pessoas alimentadas, manter o PIB a subir ou o mercado de acções em alta
é através da condição de que os bens e serviços
compostos pelos nossos recursos e energia finitos
são constantemente e perpetuamente usados e vendidos ad infinitum
independentemente do propósito, utilidade ou respeito por aquilo que realmente temos.
Eu não conseguiria arranjar uma forma mais destrutiva
de organizar a sociedade.
E o mais triste é que as pessoas não vêem isto.
Foram condicionadas com ideologias.
Capitalismo, comunismo, socialismo... bem, sabem que mais?
Qualquer ideologia social, especialmente a económica, cujas doutrinas
não estejam directa e explicitamente relacionadas com os recursos do planeta
ou seja, os atributos do nosso ambiente que sustentam actualmente a nossa vida,
é uma ideologia social inaplicável e, por conseguinte, irrelevante.
Temos o exemplo do petróleo e dos combustíveis fósseis.
Vivemos numa economia de hidrocarbonetos, como estou certo que todos sabem.
Toda a nossa estrutura económica, ou seja, produção, distribuição
cultivo de alimentos, transporte, etc.
é totalmente baseada em energia de combustíveis fósseis.
Há 10 calorias de energia de hidrocarbonetos
em cada caloria de alimentos actualmente consumidos no mundo industrializado.
Este é M. King Hubbert, um geólogo
e curiosamente, um tecnocrata.
M. King Hubbert previu no final da década de 1940
que os Estados Unidos iriam atingir o pico da sua produção de petróleo em 1970.
Como é óbvio, foi ridicularizado e desprezado
pelo mundo científico.
Infelizmente, estava certo.
Os EUA atingiram o pico na década de 70.
De facto, alguns estudos mostram agora que as descobertas globais de petróleo
atingiram provavelmente o pico por volta da mesma altura.
A data exacta é discutível, mas isso não muda nada.
Antes de ir mais longe, sei que alguns de vocês estão a pensar:
"Como sabemos que estas estatísticas estão certas?"
"Como sabemos que as instituições de pesquisa desconhecem"
"as reservas de petróleo ainda por descobrir?"
"E como sabemos se as empresas petrolíferas"
"que estão na posse dos dados, não estão simplesmente a mentir para aumentarem os seus lucros?"
Bem, são boas perguntas. Mas não há dúvida
sobre o declínio nos Estados Unidos. Actualmente, importamos
mais de 70% do nosso petróleo.
E quanto ao pico global, tudo o que temos de fazer
é olhar para os padrões de perfuração das maiores empresas
para ver que quase todas elas
estão desesperadas para encontrar novas reservas
e que já fizeram praticamente tudo o que era legal para as encontrar.
O petróleo deste planeta, que levou 100 milhões de anos para se formar
independentemente do que sabemos sobre taxas de depleção
irá acabar, de uma forma ou de outra.
É uma prática insustentável.
E nem sequer vou abordar os perigos óbvios associados à queima de combustíveis fósseis
em relação aos seus efeitos ambientais
dos quais todos nós ouvimos falar.
Como aparte, não é de todo irracional
ou precipitado considerar que a questão do pico do petróleo
possa ter algo a ver com o facto de os Estados Unidos
que consomem 25% da energia mundial
apesar de terem apenas 5% da população
possuírem as maiores bases militares permanentes da História
situadas no Médio Oriente, sem nenhum sinal
de alguma vez virem a sair dessa região.
Obama já declarou que vai deixar 50 mil tropas
no Médio Oriente por tempo indeterminado
este é o tipo que recebeu o prémio Nobel da Paz
enquanto continuamos no Oriente Médio para sondar e agitar países
que detêm, adivinhem... a maioria das reservas de petróleo recuperáveis
do planeta, como é o caso do Irão. Pensemos sobre isto.
E se considerarmos por um momento que o pico do petróleo e a sua relação
com o sistema económico e geopolítico
pode ser relevante para o envolvimento dos EUA no Médio Oriente,
descpbrimos que o mundo começa a fazer muito mais sentido.
Nas palavras de M. King Hubbert:
"Estamos numa crise na evolução da sociedade humana"
"que é única na história humana e geológica."
"Nunca aconteceu antes e não é possível que venha a acontecer novamente."
"Só podemos usar o petróleo uma vez."
"Em breve, todo o petróleo será queimado e todos os metais extraídos e dispersados."
"Isto é obviamente um cenário de catástrofe"
"mas nós temos a tecnologia."
"Tudo o que temos de fazer é alterar completamente a nossa cultura"
e encontrar uma alternativa ao dinheiro."
"Não estamos a começar do zero. Temos uma quantidade enorme"
"de conhecimento técnico."
"É apenas uma questão de juntarmos tudo isso."
"É impossível ter uma solução não-catastrófica"
"a menos que a sociedade seja estabilizada."
"Isto significa abandonar dois axiomas da nossa cultura:"
"a actual ética de trabalho e a ideia de que o crescimento é um estado normal de vida."
[Aplausos]
E continua num artigo que escreveu em 1981, chamado
"Dois Sistemas Intelectuais: Matéria-Energia e a Cultura Monetária".
Hubbert escreveu: "A actual civilização industrial"
está limitada pela coexistência de dois sistemas intelectuais"
"universais sobrepostos e incompatíveis:"
"o conhecimento acumulado dos últimos quatro séculos"
"sobre as propriedades e interacções entre matéria e energia,"
"e a cultura monetária associada"
"que evoluiu do folclore de origem pré-histórica."
Não se pode, simplesmente, ter uma sociedade a operar com base nesta necessidade
de crescimento constante para manter, ironicamente, a estabilidade.
Temos à nossa disposição um número tremendo de energias alternativas
possibilidades a nível de infraestruturas e formas sofisticadas de execução,
que poderiam reduzir drasticamente a nossa dependência dos combustíveis fósseis
abrindo caminho para um mundo sem qualquer dependência
em energia de hidrocarbonetos.
Infelizmente, não iremo ver isto em breve
porque o paradigma económico em que vivemos
cria um outro problema sério que temos de abordar
a que eu chamo simplesmente de "Paralisia Institucional".
Dada a nossa tremenda dependência
da energia de hidrocarbonetos nesta fase da evolução humana
as pessoas quando ouvem falar do problema óbvio de depleção
desprezam-no ingenuamente sob o pressuposto de que as instituições
se estão realmente a preparar para uma transição para a nossa
independência dos hidrocarbonetos.
Ou melhor ainda, que as instituições possam realmente dar-se ao luxo
de criar uma transição.
Para compreender a dificuldade em sair
do nosso paradigma energético actual
devemos primeiro compreender que do ponto de vista financeiro
há muito pouca motivação para avançar rumo a um novo sistema.
É esta a natureza de uma instituição estabelecida
no sistema monetário.
O facto é que uma quantia exorbitante de dinheiro
sei que isto irá soar estranho para muitos de vocês - uma quantia exorbitante de dinheiro
irá ser feita graças à escassez de energia
e ao colapso da própria sociedade.
O nosso sistema económico baseia-se no predicado de fazer dinheiro no caminho para cima
e fazer dinheiro no caminho para baixo. Os que estão no poder
fazendo referência ao documento do Citigroup de que vos falei
têm uma propensão para se preocuparem mais com os benefícios financeiros
de curto prazo resultantes da escassez de energia
do que com os atributos essenciais de apoio à vida
que a energia proporciona.
Se recuarmos no tempo, veremos que a preocupação
com o esgotamento dos combustíveis fósseis tem sido debatido há muito tempo.
E muitos cientistas nos anos 60 e 70 sentiam que por volta do ano 2000
iríamos ter uma infraestrutura energética totalmente diferente.
Por que é que isso não aconteceu? Porque é que a administração Reagan arrancou
os painéis solares da Casa Branca que Jimmy Carter tinha instalado?
Porque é que o governo dos EUA se colocou ao lado das grandes empresas petrolíferas
para que o carro eléctrico fosse esmagado nos Estados Unidos?
A resposta, obviamente, é que o nosso sistema baseado no lucro
tem uma tendência natural defensiva para travar seja o que for
se essas alterações considerarem que o anterior paradigma é obsoleto.
Este é provavelmente o atributo mais corrosivo da nossa situação actual.
A propensão instintiva para travar a mudança produtiva
em prol da preservação de quota de mercado e lucro para determinados grupos.
Pensem sobre isto.
Se fundarmos uma empresa, contratamos empregados
e geramos rendimento. O que é que fizemos?
Criámos uma instituição, da qual nós e os nossos colegas
dependemos para sobreviver.
Por conseguinte, iremos fazer o que for preciso para protegermos
a empresa que nos serve de sustento.
É ela que nos dá condições para mantermos o nosso nível de vida. Por outras palavras
existe uma miopia intrínseca.
E este elemento de sobrevivência, que só funciona
no nosso actual sistema orientado para o lucro
é o que está a impedir a mudança necessária.
Poderia enumerar muitos exemplos de inovações
que foram postas de parte por serem demasiado eficientes
ou por serem demasiado sustentáveis para a economia de mercado as absorver
ou simplesmente por não gerarem dinheiro continuamente,
por não poderem perpetuar o sistema, ou porque levam uma indústria à falência
e põem pessoas no desemprego. Há um elemento humano nisto.
Há uma necessidade natural, um atributo natural, aliás,
em que as pessoas dizem: "Bem, isto talvez até seja melhor para a sociedade
mas eu preciso de fazer dinheiro agora," "não posso pensar na transição
portanto vamos pôr isto de lado por agora." É isto que tem vindo a acontecer vezes e vezes sem conta.
Não é que sejam pessoas "más".
Isto é o que este sistema criou.
Simultaneamente, não esqueçamos que
a economia de mercado exige problemas constantes.
Para que o interesse público e o consumo se mantenham
são necessários problemas em termos de influência cultural.
Quanto mais problemas houver, melhor para a economia, falando em termos gerais.
Neste sistema, é "bom"
que os carros avariem. É "bom"
que as pessoas tenham cancro.
É "bom" que os computadores se tornem rapidamente obsoletos.
Porquê? Mais dinheiro. Resumindo numa frase:
mudança, abundância, sustentabilidade e eficiência
são os inimigos da estrutura do lucro.
O avanço progressivo da ciência e tecnologia,
que podem resolver os problemas de ineficiência e de escassez de uma vez por todas
estão a tornar obsoleto a vantagem que
o anterior paradigma obtinha deles.
Por conseguinte, num sistema monetário, as empresas
não estão apenas a competir com outras empresas
elas estão na verdade a competir com o próprio progresso.
[Aplausos]
Obrigado.
E, novamente, é por isso que é tão difícil
ter qualquer tipo de mudança num sistema monetário.
Simplesmente, não podemos ter uma convenção social
onde o dinheiro é gerado a partir da ineficiência, da escassez e da miséria
e esperar uma rápida incorporação de inovações
que possam aliviar estes problemas.
Muito bem, percebido isto, voltemos ao problema da energia.
A última questão que eu gostaria de salientar é a seguinte:
além do facto de existir uma grande quantidade de dinheiro
para ser ganho pela minoria enquanto a maioria sofre;
além do facto de as instituições energéticas estabelecidas terem pouca motivação
para renunciar à sua rentabilidade de modo a beneficiar a sociedade
temos a dura realidade
de que devido às dívidas pendentes a nível global
a Terra está essencialmente falida
por mais hilariante que isso seja
não irá haver dinheiro suficiente para mudar seja o que for.
Quero que pensem sobre isto de forma muito crítica.
Por muito empolgante que seja o potencial das energias renováveis
nas áreas da energia solar, geotérmica, maremotriz, das ondas
potencial esse que tem sido minuciosamente documentado, e que é capaz de exceder
em muito o consumo global de energia em milhares de pontos percentuais
ainda temos o grave problema actual
do financiamento da infraestrutura para fazer esta transição.
Como fazemos a transição para uma nova infraestrutura quando todos os governos
deste planeta, todos os países, devem dinheiro a alguém
quando se assiste ao início de um colapso sistémico
por insolvência na Europa? E nos Estados Unidos é apenas uma questão de tempo.
Dado o estado actual das coisas, e a urgência de renovação
em especial com o pico do petróleo, como é que podemos
fazer uma transição para estas energias renováveis
antes que a escassez do petróleo comece a estagnar tudo
devido aos preços altos do petróleo resultantes da oferta e da procura?
Um estudo feito por um especialista na Suécia prevê que em 2030
o mundo consumirá 10 barris de petróleo
por cada novo barril descoberto ou extraído.
Isso não está assim tão longe.
Então, como podemos esperar que os Estados Unidos
com uma dívida de 12 biliões de dólares, que mal são capazes de cobrir
os seus pagamentos de juros a outros governos e que registam falências estatais
níveis de desemprego altíssimos, cortes em programas sociais,
- já estamos a vender infraestruturas a países estrangeiros -
como podemos esperar o financiamento de uma nova infraestrutura?
Estou a utilizar a energia como exemplo
há muitos outros problemas com os quais temos de lidar.
Em 2008, o director-executivo da Agência Internacional de Energia afirmou
que seriam precisos 22 biliões de dólares em investimentos
para actualizar o fornecimento global de energia e a sua infraestrutura até 2030.
22 biliões de dólares! De onde é suposto vir esse dinheiro?
Acham que nos safamos apenas a imprimir aleatoriamente
mais e mais dinheiro nos bancos centrais
sem esperar repercussões inflacionárias ou do colapso da dívida?
Convém lembrar que todo o dinheiro é gerado a partir de empréstimos.
Tem de haver um iniciador. Cada dólar
em todas as nossas carteiras é devido a alguém por alguém.
E isto leva-nos novamente ao cerne da doença:
o sistema económico-monetário ou "O Jogo"
como eu gosto de lhe chamar, porque é isso que é
e que sempre foi, um jogo
e podemos mudar o jogo quando quisermos.
Precisamos apenas de convencer aqueles que estão a ganhar o jogo
a pousarem as suas peças por um momento e a perguntarem-se
se o jogo que estão a jogar vai realmente recompensá-los a longo prazo.
Num relatório feito pela AFP, há evidências crescentes
de que a taxa actual de nossa exploração de recursos
tem de facto os dias contados. O relatório afirma:
"Actualmente, a Humanidade consome recursos equivalentes"
"a quase uma vez e meia a capacidade da Terra para satisfazer as suas necessidades",
disse a Global Footprint Network, um grupo de reflexão internacional.
"Estamos a exigir os serviços da Natureza
consumindo recursos e criando emissões de CO2, a uma taxa 44% superior
à que a Natureza pode regenerar e absorver."
"Isto significa que a Terra leva pouco menos de 18 meses para produzir"
"os serviços ecológicos que a Humanidade precisa para um ano."
"E se a Humanidade continuar a consumir os recursos naturais"
e a produzir resíduos ao ritmo actual,"
"vamos precisar dos recursos de dois planetas
para satisfazer as nossas necessidades por volta de 2030."
"Um nível voraz de consumo ecológico", na terminologia deles,
"que pode causar um grande colapso do ecossistema", disse o relatório.
Já agora, quero salientar que
as pessoas ouvem isto e têm uma noção malthusiana
pensam que os nossos padrões de consumo são de alguma forma inerentes
e não vão mudar.
Li recentemente uma estatística... e no meu novo filme vou
apresentar uma grande secção sobre os atributos de resíduos de certas indústrias.
E o que eu descobri foi que de toda a produção que é feita
em média, 75% é desperdício.
75% é desperdício.
De todos os materiais que são criados, colocados em circulação e escoados
90% destes acabam em aterros sanitários
julgo que num período de 6 meses.
Não se trata de estarmos a fazer algo que é natural no ser humano.
Trata-se da obsessão do sistema social pelo consumo constante
em prol do crescimento económico.
Numa análise feita pelo IRRC, por volta de 2025
prevê-se que 2/3 do mundo sofram de escassez de água.
Dois terços do mundo, em 2025.
Muitos países aparentemente ricos já se estão a voltar para a dessalinização.
Por sua vez, mais de mil milhões de pessoas passam fome no planeta.
Depois de tudo o que temos discutido
acreditam que qualquer destas coisas vá melhorar
dada a nossa actual crise financeira?
E, uma vez mais, no caso de ainda não terem percebido, os problemas da escassez de água
e de alimentos são 100% de carácter económico.
Existem muitos tipos de processos de dessalinização
que poderiam tratar a água salgada e convertê-la em água limpa
em todos estes países pobres. Mas sabem que mais?
Ninguém tem dinheiro para implementar estes tipos de soluções
em países pobres. O mesmo acontece com os alimentos.
Chegámos a um ponto em termos científicos
que já nem sequer precisamos de terra arável
que, por sinal, se está a degradar ao ritmo de cerca de 2,5 cm por ano
devido aos métodos agrícolas abusivos que estão a ser utilizados.
E não nos esqueçamos que são necessários cerca de 500 anos para a camada superior de terra fértil se formar.
Só a hidroponia e a aeroponia, se aplicadas correctamente, poderiam abastecer
todas as pessoas do mundo, sem os recursos de água desperdiçados
e a necessidade excessiva de fertilizantes baseados em azoto.
Na verdade, podemos construir estas infraestruturas
na terra que está esgotada, em andares.
Podíamos ter arranha-céus, digamos assim, para produção
de alimentos orgânicos a nível industrial.
Mas mais uma vez, quem tem o dinheiro para fazer isso?
E numa nota extremamente enfurecedora e triste,
à medida que o colapso social se vai desenrolando
veremos mais exploração humana, crime e abuso.
Enquanto aqui na América pensamos que a escravatura foi abolida há muitas décadas,
o facto é que existem hoje mais escravos
no mundo do que em qualquer outro momento da história humana
dada a definição de escravidão.
No entanto, desta vez não toma a forma de posse de pessoas
é simplesmente o atributo da globalização
de exploração de mão de obra barata.
Vou parar por aqui,
quanto aos atributos negativos inerentes ao nosso sistema
juntamente com o colapso social em curso
cujo fim, já agora, e na minha opinião, ainda levará muito tempo a chegar
se é que terá fim, francamente, até passarmos para algo mais sustentável.
As dívidas pessoais, por exemplo, são neste momento tão altas
que será necessário o estouro de outras bolhas
para atingirmos algum tipo de estabilidade.
De qualquer forma, antes de avançar para a secção final desta palestra
que é essencialmente uma introdução ao Projecto Vénus
e a uma Economia Baseada em Recursos, deixem-me resumir dizendo
que o paradigma da estrutura económica monetária, como o conhecemos, é
a causa fundamental e sistémica da maioria
dos problemas globais que vemos à nossa volta.
Neste sistema, se permitirmos que este cancro cresça sem oposição
espalhando as suas propensões malignas a todo o globo, completamente dissociado
do mundo natural e da capacidade de suporte de vida da Terra
destruindo os recursos finitos que todos partilhamos,
caminhamos a passos largos para algo
que ninguém pode sequer considerar, um colapso.
E eu não estou a falar em acordar um dia e não haver nada à nossa volta.
Não é nada disso. A situação irá deteriorar-se lentamente
até que os valores, a cultura e a consciência se tornam tão perturbados e confusos
que os níveis de qualidade de vida se tornam justificados.
Quando se começar a aceitar cada vez menos.
As coisas vão começar a desacelerar até um arrasto.
E invariavelmente haverá acentuações dramáticas
de problemas graves, em especial no que toca
à crise energética que aí vem.
É preciso fazer algo radical. Estamos a aproximar-nos de uma fase terminal.
Parte 3: Tratamento
Há dois ângulos a considerar quando se tenta resolver estes problemas.
O primeiro é a mentalidade da cultura, como vimos antes
os padrões culturais.
E o segundo é a actual estrutura de funcionamento social.
Como observado anteriormente, estes dois atributos estão profundamente ligados.
No entanto, em relação ao primeiro ponto de condicionamento cultural
precisamos de empregar, enquanto movimento, aquilo a que eu chamo
de "Terapia Social".
A terapia social refere-se ao ajuste dos valores de uma sociedade
à mudança da programação de valores.
Precisamos de valores sustentáveis para termos práticas sustentáveis.
Sugiro que o primeiro programa que precisa de ser desinstalado
do nosso hardware mental é a distorção social
que gera um consumo ostensivo, impulsionado
pelas agências de publicidade alinhadas com os lóbis empresariais.
O querer-se ter mais e mais coisas
independentemente da sua utilidade ou função, é uma ideologia insustentável
por inerência, num planeta finito.
O consumismo e materialismo são doenças
culturalmente criadas para perpetuar o consumo cíclico
necessário para alimentar o mercado e o sistema de trabalho.
Isto é precisamente o que o Movimento Zeitgeist está a tentar fazer.
Nós não conseguimos fazer nada até que as pessoas compreendam a necessidade desta direcção,
razão pela qual estamos aqui agora
razão pela qual isto está a ser transmitido pela Internet;
razão pela qual os envolvidos no movimento trabalham diligentemente
não para criar já infraestruturas, mas para tentar divulgar estes valores.
Iremos abordar as directrizes do movimento na segunda metade do programa.
Além disso, da maneira em que está a actual estrutura da sociedade
receio que precisemos nada menos que uma revisão completa e total.
E é aqui que o Projecto Vénus entra mais uma vez.
Vou apontar cinco dos que considero ser os atributos centrais
necessários à mudança para uma economia baseada em recursos.
Primeiro, temos de passar de uma economia de crescimento para uma economia de estado estacionário.
As consequências cancerígenas do paradigma de crescimento infinito
devem ser travadas antes que seja tarde demais.
Em última análise, dado o patamar do nosso engenho tecnológico
propomos a eliminação absoluta do sistema monetário.
Não há outra reforma possível para impedir o que este sistema está a fazer.
A escassez e o desperdício que vemos em nosso redor são criados por nós,
e não por um processo natural intrínseco
ou alguma tendência malthusiana inerente.
A necessidade de dinheiro já não é relevante
e é extremamente prejudicial.
Segundo, temos de passar de um sistema primitivo, competitivo
virado para invenções e de trabalho, para um colaborativo.
Não só os bens produzidos na nossa sociedade actual são inferiores
devido à necessidade de manter um preço competitivo no mercado
como o sistema competitivo também gera uma quantidade enorme de corrupção.
Sim, admito que o incentivo à concorrência
produz alguns produtos e serviços de valor
até certo ponto, mas esse valor é totalmente eclipsado
pela obsolescência planeada, a obsolescência planeada inerente
e a indiferença ambiental geral
gerada pela necessidade de nos mantermos à frente de alguém.
Como um aparte, imaginem por um momento que os melhores engenheiros
das maiores empresas automóveis, em vez de competirem
se juntavam e decidiam colaborar
para fazer o melhor carro possível numa determinada altura.
Imaginem que estabelecíamos um sistema de incentivos
que juntasse as pessoas para criarem o melhor
em vez de competirem e produzirem inferioridade inerente.
Pensem nisso. Um mundo "open source"
onde todas as linhas se fundissem e produzissem bens
para que todos pudessem beneficiar.
Pensem nisso. O progresso seria inacreditável,
já para não falar que pouparia enormes quantidades de recursos.
Pois deixaria de haver necessidade de duplicar perpetuamente.
Deixaria de haver duas empresas a fazerem a mesma coisa
Ao trabalharem juntas, estariam a preservar.
Em terceiro, temos de nos afastar dos nossos métodos industriais fragmentados e dispersos
para um sistema central, planeado para o funcionamento eficiente.
Será que só eu é que considero absolutamente demente que se importem morangos do Brasil
bananas do Equador, ou água das Fiji
quando todas estas coisas poderiam ser produzidas localmente?
Como Jacque Fresco descreveria em relação aos sistemas da sua cidade
tudo seria independente tanto quanto possível.
Como outro exemplo, considerem os circuitos gerais de produção.
Desde a extracção dos materiais, à criação dos componentes preliminares,
à montagem dos componentes, à distribuição.
E há um movimento constante de transporte
para ir de um lugar para o outro
que desperdiça enormes quantidades de energia.
Pensem nisso por um momento. Imaginem que optimizávamos
todos os processos da sociedade, imaginem como as coisas poderiam ser fluídas
e o que isso realmente significa.
Para aprofundar este ponto, numa palestra que dei intitulada "Para Onde Vamos?"
descrevi uma abordagem global
a uma organização em rede
que é de facto uma economia baseada em recursos.
E descrevi por que razão os parâmetros são o que são.
Não tenho tempo para falar nisso, mas permitam-me dar apenas uma pequena ideia
do raciocínio para aqueles que nunca tenham sequer considerado
qualquer outro sistema social diferente do que conhecemos hoje.
Muito simplesmente, a Terra é um sistema e deve ser vista como tal.
Existem recursos por toda a Terra, e portanto
e, portanto, precisamos de um sistema capaz de monitorizar esses recursos globais
dentro de uma infraestrutura tecnológica global.
Por conseguinte, precisamos de um sistema de feedback, que tem de ser global por natureza
baseado na capacidade de suporte da Terra
que é o ponto de partida de todas as decisões industriais.
O primeiro passo para isso é fazer um levantamento completo dos recursos naturais da Terra.
Não é possível tomar decisões inteligentes se não conhecermos
os atributos que compõem essas decisões.
Precisamos primeiro de saber quais os recursos terrestres
e as suas capacidades, de modo a inferir
o que podemos fazer com eles.
Há muitos recursos naturais a considerar no planeta
mas por agora vou focar-me novamente na energia.
Como a energia é essencialmente o combustível da sociedade
este é um bom ponto para focar.
Então o que fazemos? Examinamos a Terra, de forma holística.
Sim, analisamos o planeta inteiro
listando todos os locais de energia relevantes e os seus potenciais.
Os potencias, e só para esclarecer, baseiam-se em parte
no estado da tecnologia. Não quero entrar nos pormenores técnicos
de equipamento e coisas do género.
Mas por exemplo, a tecnologia solar tem um potencial enorme nesta fase
devido ao advento da nanotecnologia.
Estamos a assistir a um possível aumento exponencial neste potencial,
onde painéis solares muito pequenos poderiam ter até 97-98% de eficiência
na radiação que absorvem.
Adiante. Ficamos então com os dados em bruto. O que fazemos?
Avaliamos cada recurso, com base na sua capacidade de renovação, poluição
todos os factores que têm a ver com
o acto de extracção e tudo o que está relacionado.
O processo torna-se auto-evidente, baseado explicitamente
na meta da sustentabilidade e da máxima eficiência.
Os recursos que tiverem o impacto mais negativo
recebem a menor prioridade de utilização.
Por exemplo, os combustíveis fósseis já não são necessários,
porque não são renováveis e poluem o meio ambiente.
Dado o tremendo poder da energia geotérmica, eólica, das ondas e solar
não há qualquer razão para queimar combustíveis fósseis.
Assim que percebermos isto, passamos para o nosso terceiro ponto: distribuição e monitorização.
Os projectos de distribuição de energia e de infraestruturas seriam logicamente formulados
com base na capacidade tecnológica
e, naturalmente, na proximidade das fontes.
Por outras palavras, se tivermos energia eólica a ser utilizada na Ásia
é pouco provável que seja distribuída na América Latina.
Por isso, os parâmetros de distribuição seriam auto-evidentes
com base na tecnologia e na natureza prática da proximidade.
Da mesma forma, a monitorização de recursos activos, feita através de sensores terrestres
permitiria uma percepção constante das nossas taxas de consumo
de esgotamento, de renovação
ou qualquer outro parâmetro que seja relevante saber.
Isto é fundamental para mantermos o que consideramos
uma economia equilibrada.
Se a escassez de qualquer recurso estiver iminente
sabê-lo-emos com grande antecedência, poderemos prever isso
e implementar acções adequadas para nos adaptarmos
antes que se torne um problema grave.
Claro que esta ideia não tem nada de novo. Vemos isto nas nossas impressoras a jacto de tinta.
Uma impressora tem um nível de tinta que nos diz quanto resta.
E só para vos mostrar que isto não é uma
ideia bizarra e impossível
a Hewlett-Packard anunciou recentemente aquilo a que
chamaram surpreendentemente de "Sistema Nervoso Central para a Terra",
uma expressão que ouvi pela primeira vez da boca
de Jacque Fresco, e é exactamente isso
que eles estão a tentar fazer, num sentido limitado.
Estão a tentar desenvolver um sistema sensorial
sem fios para adquirir dados sísmicos de alta resolução.
E é exactamente esta a direcção.
É engraçado ver como coisas que já são faladas há tanto tempo,
coisas que as pessoas diziam que jamais poderiam acontecer, começam a aparecer
aqui e ali.
Tudo o que temos a fazer é ampliar
e expandir isto para as nossas necessidades.
Muito bem, então o que temos até agora? Temos as localizações
dos nossos recursos energéticos. Na posse dos parâmetros de potencial
e distribuição baseados num uso estratégico.
consultamos o público para ver o que as pessoas querem.
Tal como quando vamos a uma loja e dizemos ao vendedor "Quero isto."
As pessoas obtêm o que precisam e esse acto torna-se num dado estatístico.
Ou seja, seria um acompanhamento dinâmico das taxas de consumo.
E, finalmente, temos um sistema de monitorização activa de recursos que relata
o estado do fornecimento de energia, taxas de consumo e outras tendências relevantes.
Sei que estou a avançar muito depressa com isto.
Se quiserem ouvir uma versão mais alargada deste ponto
podem assistir à palestra "Para Onde Vamos?" que se encontra na Internet.
Por outras palavras, com todo este conceito, criámos um sistema
uma abordagem de sistemas para a gestão da energia no planeta.
O sistema é composto por dados e estatísticas em tempo real.
O processo não é baseado na opinião de uma pessoa ou de um grupo
não nos caprichos de uma empresa ou governo
mas nas leis naturais e na lógica.
Por outras palavras, assim que estabelecermos
que a sobrevivência e, por conseguinte, a sustentabilidade, é a nossa meta
enquanto espécie, que espero que todos os que estão aqui presentes partilhem
cada um dos parâmetros a considerar no que diz respeito à gestão de recursos
torna-se completamente auto-evidente.
É o tal "chegar às decisões"
ao contrário de "fazê-las", que é um acto subjectivo
baseado em informações incompletas
e muitas vezes em preconceitos culturais ou pessoais.
Usando este modelo energético como um exemplo de procedimento (vou começar a avançar mais depressa
porque não me apercebi do tempo passar... Já são quase 17h30...)
compilaríamos esta informação num programa informático de gestão de bases de dados
que seria uma forma lógica de monitorizar e de ter sistemas de automação
para corrigir elementos problemáticos.
Queremos eliminar a subjectividade actualmente dominante na nossa sociedade.
Isto é como um sistema nervoso. Não há razão para votar no que quer que seja,
não há razão para debater nada na Assembleia da República.
Avancemos para o ponto 4.
No interesse da Humanidade e da eficiência
temos de deixar de perder tempo com processos baseados em mão-de-obra que são gerados
pela economia de mercado para manter o emprego.
Precisamos de avançar para a automatização deliberada em tudo o que pudermos.
Dado o estado actual da tecnologia, não há absolutamente nenhuma razão
para existirem empregados num restaurante.
Não há nenhuma razão para haver empregados nos correios.
Não há nenhuma razão para haver pessoas
a trabalhar em fábricas.
Tenho estado a trabalhar num conjunto de dados estatísticos
para um projecto que estou a fazer sobre emprego nos EUA
considerando que percentagem da actual força de trabalho
poderia ser automatizada nesta fase do conhecimento tecnológico.
juntamente com a eliminação de ocupações que não têm retorno social,
como Wall Street, incluindo todos os trabalhos relacionados com dinheiro.
[Aplausos]
Como o Jacque descreveria, o nosso sistema não tem dinheiro.
não há bancos, nem bancários.
Cheguei recentemente a uma conclusão
na qual estou a trabalhar continuamente, mas vou levantar a ponta do véu.
Acredito que 65% dos empregos nos EUA poderiam ser eliminados amanhã,
com o conhecimento que temos hoje.
Não são extrapolações estatísticas, que fazem com que as coisas pareçam cataclísmicas
é o conhecimento que temos agora.
[Aplausos]
Mas esta não é apenas uma noção fantasiosa para podermos dizer que ficamos com mais tempo livre,
existe aqui também um imperativo social.
É muito importante salientar que, historicamente
quanto mais automatizámos as coisas, aquilo a que qualquer indústria chama de
"mecanização", mais aumentámos a produtividade.
De facto, a produtividade é hoje inversa
ao emprego em muitos dos sectores estudados
o que significa que é socialmente irresponsável
não automatizar o máximo possível
uma vez que tal acto permite uma maior abundância e eficiência.
Aqui está um gráfico dos países industrializados do G7,
que mostra como o emprego industrial tem caído,
em contraponto com a produção industrial.
E esta tendência está presente em todo o gráfico, e porque não havia de estar?
Estas máquinas não precisam de pausa para almoço,
não precisam de férias, nem de seguros.
Faz todo o sentido. E para ser muito rápido
o que iremos encontrar é o baixo preço das máquinas.
As máquinas estão a tornar-se muito baratas.
A tecnologia cresce a um ritmo exponencial.
Nos nossos telemóveis há um pequeno microchip que é mais potente
do que o maior super-computador que existia há 50 anos.
E é bastante barato. O primeiro grande super-computador
custou milhões e milhões de dólares.
A maior parte das empresas não irá conseguir pagar aos empregados.
Vão automatizar, porque já não conseguem encontrar forma
de manter a mão-de-obra humana
excepto para as coisas ideológicas, claro.
E em quinto
temos de passar de um sistema de materialismo e propriedade
para um sistema de acesso universal.
Antes que este ponto seja rejeitado como propaganda comunista
consideremos a seguinte linha de raciocínio.
Numa economia baseada em recursos, onde a produção é optimizada
para maximizar a qualidade e minimizar o desperdício e a duplicação
a ideia de propriedade torna-se obsoleta e, na verdade, prejudicial.
As pessoas não precisam de acumular e proteger o que quer que seja.
Necessitam apenas de ter acesso ao que precisam quando precisam.
O melhor exemplo é o automóvel. Temos visto na ciência actual
*** feitos a carros que se podem conduzir a si próprios.
Foram testados automóveis orientados por satélite que podem navegar muito bem
E o Jacque também referiu isto há alguns anos, utilizando radar doppler
para que os carros não possam chocar uns com os outros.
Estas coisas têm vindo a concretizar-se. Então, no futuro, se precisarmos de ir a algum lado
chamamos o carro que precisarmos, ele vem até nós e utilizamo-lo
e então, quando chegarmos ao destino, ele regressa para ajudar outra pessoa,
em vez de estar parado num parque de estacionamento
a desperdiçar tempo e espaço durante cerca de 80% da sua vida útil.
É isto que nós fazemos. Desperdiçamos tanto espaço e recursos...
[Aplausos]
Desperdiçamos tanto espaço e recursos com este conceito primitivo
de propriedade pessoal.
É ambientalmente prejudicial e socialmente ineficiente.
E já agora, a propriedade não é uma ideia americana ou capitalista.
É realmente uma perspectiva mental primitiva gerada a partir de gerações de escassez.
As pessoas reivindicavam a posse legal porque era uma forma de protecção.
Mas também é uma restrição controlada.
Deixaria de ser necessário uma pessoa viver num certo lugar.
Poderíamos viajar constantemente pelo mundo, acedendo ao que precisássemos pelo caminho.
Qualquer coisa necessária seria obtida sem qualquer restrição.
Não haveria nenhuma razão para sequer "roubar" seja o que for, e este é um ponto extremamente importante.
Como se poderia roubar algo que ninguém possui?
Não seria possível revender porque não haveria dinheiro.
Só com esta medida, eliminaríamos 95% de todos os crimes.
[Aplausos]
Concluindo, por mais paradoxal que possa parecer
quanto mais eficientes e conservadores nos tornamos
quanto mais funcionais nos tornamos
maior o nível de abundância que podemos gerar para todos nós.
Há hoje por todo o mundo muitas pessoas que dizem:
"Quem me dera poder viver como os Americanos". Sei que vocês já ouviram isto.
Bem... não.
Os padrões artificiais orientados para o consumo ostensivo
da cultura americana
deviam ser desprezados por todos os outros países deste planeta.
Temos 5% da população...
[Aplausos]
Temos 5% da população e consumimos
30% dos recursos do mundo. É uma loucura.
Numa economia baseada em recursos, onde baseamos a nossa distribuição
da produção em referências físicas
começando pela capacidade de suporte de vida da Terra,
onde optimizamos e orientamos a nossa mão-de-obra para coisas
que têm um retorno social a longo prazo;
onde nos livramos do cancro conhecido como o sistema financeiro
e começamos a partilhar os nossos recursos de forma consciente,
trabalhando juntos, evitando os falsos valores do materialismo
e do consumo impostos à nossa cultura
descobrimos que podemos oferecer uma elevada qualidade de vida para todos neste planeta
enquanto eliminamos todas as razões centrais para a guerra
a pobreza, a miséria, a violência, o comportamento criminoso, a neurose.
Seria o despontar de um mundo que poderíamos realmente rotular de civilização.
E se essa não é uma meta pela qual vale a pena trabalhar
então não sei o que é. Obrigado.
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