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Bom dia. Eu sou desenhista industrial
sou carioca
moro na Dinamarca
e eu achei interessante trazer um pouco da Dinamarca aqui
para mostrar para voces.
Em relacao ao uso da bicicleta, a questao democratica no transito da Dinamarca.
Eu fiquei super inspirado e surpreso com a primeira vez em que estive na Dinamarca
sai tirando fotos para poder entender o que estava acontecendo la.
Como e que aconteceu isso? Das pessoas usarem tanto bicicletas la.
Como que era uma coisa tao harmonica entre o carro e a bicicleta?
E, por exemplo, tem um detalhe aqui, o sinal de transito esta vermelho para o carro
e esta verde para a bicicleta.
Entao, existe esse tipo de "fairplay", onde a bicicleta pode sair na frente
porque ela e mais devagar, ela e mais fraca
e o carro, ele tem que sair atras.
Historicamente, essa foi a primeira bicicleta, que na verdade era um andador
e ela foi feita para pequenos deslocamentos e tinha todo um conceito de um objeto pessoal
era feito de um material natural, como a madeira
e eu acredito que esse conceito inicial, ele foi se perdendo com o tempo
devido a varios fatores, como a Revolucao Industrial e tal
ate chegar na bicicleta que a gente conhece hoje.
Quando eu comecei a estudar Desenho Industrial
eu olhei essa bicicleta e achei que ela poderia ser repensada
como e que a gente poderia reinventar a bicicleta?
Essa foi uma das primeiras bicicletas de bambu que eu fiz
tentando resgatar um pouco desses conceitos.
Teve uma repercussao muito grande no ano de 2000
inclusive inspirando outras pessoas em trabalharem com bambu, com bicicleta de bambu.
Aqui foi onde tudo comecou. Eu trabalhei com pesquisa na PUC-RJ no laboratorio de bambu
o desenvolvimento da tecnica com bambu foi basicamente baseado na "tentativa e erro"
e muita paciencia e persistencia tambem.
Ate entao nao existia nenhuma tecnica especifica para o bambu
voce nao podia ir na esquina para soldar o bambu, eu tinha que descobrir como eu tinha que cortar o bambu
como que eu trataria o bambu, onde eu pegaria o bambu
como que eu faria ligacoes com ele, como e que eu construiria uma estrutura
e os detalhes dessa pequena estrutura.
Por que eu achei o bambu interessante?
A primeira coisa e baseada numa palavra que se chama "abundancia".
O bambu... acho que todo mundo aqui ja passou por um bambuzal, por uma plantacao de bambu
O bambu esta espalhado pelo Brasil todo, ele e uma grama que cresce muito rapido, ele se alastra
ele e inclusive invasivo.
E eu lembro que na epoca que eu estava no laboratorio
tinham pessoas que ligavam pedindo pra vir cortar o bambu que ele estava invadindo uma certa area.
Eu achei isso muito interessante como material de construcao que a gente usa
para a producao de objetos.
A outra questao e a questao da biodegradabilidade.
Naquela foto ali voce pode ver que tem um bambu novo e tem um bambu velho
E voce pode ver... E muito claro quando voce entra em um bambuzal
voce ve a idade do bambu, voce ve quando ele morre, quando ele cresce, quando ele nasce
e eu achei isso muito interessante, a gente usar esse conceito num objeto.
O Brasil tem uma condicao geografica muito boa, um solo muito bom, muito propicio ao bambu
mas a minha pergunta antes de comecar a trabalhar com bambu foi:
"Sera que isso que estou fazendo vai funcionar? Sera que vai quebrar?"
Demorou um tempo quando eu fiz a primeira bicicleta, fiquei com medo de andar
Ninguem queria provar, e claro que tinha que ser eu.
Mas nao quebrou, estou aqui ainda.
Quando vi o Santos Dumont... esse foi um ultraleve feito pelo Santos Dumont em 1900.
Foram comercializados cerca de 200 ultraleves desses
e a estrutura dele toda era feita de bambu.
Entao eu pensei: "Se ele conseguiu fazer um ultraleve, um objeto de tamanha complexidade
eu conseguiria fazer uma bicicleta de bambu".
Existem mais de mil especies de bambus
para diferentes aplicacoes, por exemplo:
tem aquele para consturcao civil, o bambu maior
artesanato, pequenos objetos...
Inclusive, aquele bambu e um bambu nativo da Amazonia, um bambu nativo brasileiro.
Bambu e... um corte seccional ali... ele e redondo, ele e oco por dentro, e sua parte exterior
a parte mais dura, mais forte, mais nobre.
Ao contrario da madeira.
A madeira, a parte interior seria a parte mais nobre, no bambu e o contrario.
Ele nao e totalmente reto, ele e torto.
As suas fibras estao dispostas linearmente, paralelas umas as outras.
Aqui e um zoom microscopico no bambu
voce pode ver as celulas do bambu comforme vao indo para fora, elas vao ficando mais densas.
Entao, isso tudo, essa caracteristica fisica era uma coisa que eu tinha que levar em conta
quando eu estava trabalhando com bambu
ou quando eu estava fazendo essas adaptacoes, essas estruturas e tudo.
Aqui e um exemplo de uma aplicacao desse estudo com bambu.
A Bicicleta Biomega Bamboo.
A Biomega e uma firma dinamarquesa de design de bicletas.
Eles me procuraram em 2001 para trabalhar no projeto com eles
porque a ideia deles era trazer o material natural de volta a um objeto pessoal
mas eles nao sabiam como essa bicleta funcionaria, como construi-la sem que ela quebrasse.
Esse foi o primeiro desenho que eu recebi da Biomega.
Essa era a ideia deles de como seria
o bambu seria em verde... e o bambu seria colocado em volta de conexoes de aluminio
as conexoes de aluminio...
aqui, nao esta funcionando...
aquelas partes ali... e o verde entao seria o bambu.
Isso e um detalhe dessa conexao, dessa ligacao.
Eu encontrei cinco desafios que eu tinha que trabalhar.
O primeiro: incompatibilidade de materiais
porque eram dois materiais diferentes, o aluminio e o bambu.
Alinhamento entre as conexoes.
O bambu nao e reto, ele e torto
as vezes voce consegue um bambu reto, mas e muito dificil
entao voce tinha que fazer com que essa bicicleta ficasse alinhada, ficasse certinha
independente do bambu ser torto ou reto.
Uniao ou colagem, sao dois materiais diferentes, o aluminio e o bambu.
Nao existia nenhuma cola, nada nesse sentido, na epoca.
Nao existia nenhum adesivo no mercado falando que "isso pode colar bambu com aluminio".
Entao, era uma coisa que eu tinha que descobrir
Esforcos laterais nos tubos de bambu. Como essa conexao estava por dentro do bambu
ela teria vibracao na bicicleta e isso poderia fazer com que o bambu abrisse.
Maior exposicao do bambu.
Porque ele esta colocado externamente, essa conexao.
Ele fica mais exposto ao meio-ambiente.
E isso teria um problema de perda de umidade ou ganho de umidade
ele poderia mudar de tamanho e isso poderia causar a falencia da estrutura naquela parte da cola.
Ali em cima e o desenho original.
Aqui e o desenho da minha proposta
do que fazer para solucionar aqueles problemas
entao, uma coisa que eu fiz foi aumentar a area entre essa conexao de aluminio e o bambu
para voce poder utilizar diferentes bambus com diferentes diametros
independente de serem retos ou tortos.
Essa cola, seria uma cola flexivel
para poder absorver todas as vibracoes que essa bicicleta estaria exposta
e dilatacoes termicas tambem.
Tem um anel de aluminio que ajuda a segurar a extremidade do bambu
para evitar que ele se abra
e tambem protege o bambu contra intemperies, contra perda de umidade e ganho de umidade.
Esse seria o desenho final.
Como desenho pronto para producao ja
com toda essa ideia da solucao dessa ligacao pronta.
Para terminar, essa bicicleta passou por uma fase de ***
e no comeco eu pedi a...
A Biomega falou comigo: "A gente tem que testar essa bicicleta", "A gente precisa de um certificado".
Entao eu pedi para eles: "Entao vamos testar cinco bicicletas"
e eles: "Nao, uma so".
Entao, eu fiz a bicicleta, eu ja sabia que a bicicleta iria passar
mas eu combinei com eles. Eu pedi para eles que essa bicicleta fosse testada ate quebrar
porque como pesquisador a gente so consegue respostas quando uma coisa quebra.
E era importante para mim que ela quebrasse para poder ver aonde era o ponto fraco dela
o que eu poderia melhorar.
Bom, no final quebrou, so que quebrou a maquina
mas na verdade eu fiquei muito frustrado, porque nao tive resposta nenhuma
e inclusive, a fabrica mandou a conta para a Biomega.
E eu espero que a Biomega nao mande a conta para a minha casa, agora que eu estou falando isso.
Bom, e isso.
Obrigado.