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A Rainha Leoa do Reino Animal está a tentar melhorar a democracia do seu reino. Recentemente deu aos seus
cidadãos o direito de eleger representantes para o Conselho da Selva, que governa o Reino.
Contudo, ela reconhece que os seus cidadãos não estão contentes com o sistema eleitoral.
Vamos ver uma eleição numa das pequenas ilhas do seu Reino para perceber porquê.
Nesta ilha há 3 partidos políticos. Os 2 grandes, Kea e Tuatara,
e um terceiro, pequeno partido, Kakapo.
No dia das eleições, cada cidadão vota num candidato local, que irá representar uma
certa zona onde vários cidadãos vivem. Os resultados são os seguintes:
Em média, Tuatara obtém 49% dos votos, Kea 48% e Kakapo 3%.
A eleição é feita usando o Sistema Eleitoral de Maioria Relativa, o que significa que ganha
quem tiver mais votos. Como Tuatara tem o maior número de votos em cada zona, passa a
controlar 100% dos lugares do Conselho da Selva.
E é por esta razão que tantos cidadãos estão descontentes. A maioria, os 51% que votaram
noutros partidos, não têm qualquer representação no Conselho.
Isto parece injusto à Rainha Leoa mas ela não sabe bem como corrigi-lo. Os cidadãos gostam
de ter representantes locais e não querem que as fronteiras das zonas de voto mudem.
Mas felizmente Kiwi, um dos cidadãos desta ilha, tem uma sugestão para a Rainha Leoa sobre como
melhorar o sistema eleitoral, mantendo os representantes locais e deixando as
fronteiras como estão.
A sugestão é chamada de Representação Proporcional Mista ou RPM e envolve duas alterações: o número
de lugares no Conselho é duplicado e cada cidadão tem direito a 2 votos em vez de 1.
Eis como funciona:
De início, o dia das eleições para Kiwi é exactamente como antes.
Ele recebe uma lista de candidatos para representar a sua zona no Conselho.
Kiwi escolhe um e o vencedor será o candidato com o maior número de votos.
Até agora, o sistema não é melhor - Tuatara ganha novamente todas as eleições locais e
mais de metade dos cidadãos continua sem qualquer tipo de representação. Mas eis como o segundo
voto proposto pelo Kiwi - e aqueles lugares extra no Conselho - vão corrigir isso.
Kiwi usa o seu segundo voto para escolher o seu partido político preferido.
Estes segundos votos são contabilizados e demonstram a percentagem de apoio que cada
partido político tem entre todos os cidadãos
e revela quão desproporcional o Conselho é até agora.
Para corrigir isto, membros dos partidos políticos são adicionados, um a um, para tornar
o Conselho mais proporcional.
Tuatara é o mais sobre-representado e Kea o mais sub-representado, por isso Kea
recebe o primeiro lugar vazio.
Isto continua, adicionado representantes Kea um a um até que tanto Tuatara e Kea estejam
sobre-representados e Kakapo sub-representado, ficando este com o último lugar.
Agora, o Conselho da Selva representa, o mais aproximadamente possível, as preferências reais dos
cidadãos - o que é uma melhoria tremenda relativamente ao antigo sistema de Maioria Relativa.
Há, no entanto, uma questão interessante que deveria surgir neste momento:
Quem exactamente decide que membros dos partidos ficam com aqueles lugares extra?
Antes das eleições, os partidos políticos fazem uma lista dos seus
candidatos preferidos pela ordem de entrada no Conselho.
Assim, se só houver 1 lugar extra para um partido, o nome que estiver no topo da lista é o escolhido.
Se houver 2 lugares, os 2 primeiros nomes sãos os escolhidos, e por aí fora.
Isto faz com que o RPM seja um bocado diferente dos outros sistemas eleitorais pois os partidos políticos
passam a desempenhar um papel oficial no funcionamento da eleição.
Os líderes partidários passam a exercer um controlo maior sobre os seus membros pois podem
recompensar ou castigar os seus actos ao mudar a sua posição na lista do partido.
Enquanto que isto pode ser uma desvantagem do RPM, há um número de outros benefícios
de que a Rainha Leoa, em particular, gosta.
Como menos votos são desperdiçados, praticamente elimina o acto de "gerrymandering"
e previne um governo da minoria.
Também dá mais escolhas aos cidadãos ao incentivar diversidade política.
Vale a pena expandir este último ponto.
Repara-se que, com RPM, a distribuição dos votos pelos representantes locais não é a igual à
distribuição dos votos pelos partidos.
Isto deve-se ao facto de, nas eleições locais, os cidadãos terem de votar estrategicamente.
Por exemplo, apoiantes de Kakapo não gostam nada de Tuatara, mas conseguem tolerar Kea.
Como há tão poucos apoiantes de Kakapo, estes sabem que o seu candidato não tem hipóteses de
ganhar a sua eleição local, por isso a eleição é na verdade entre os dois grandes partidos.
Como tal, muitos desses apoiantes votam Kea na esperança de que este ganhe e seja o seu representante.
No entanto, quando se trata de votar no partido político favorito, esta estratégia não tem importância.
Quanto maior o número de votos de um partido, maior o número de deputados deste no Conselho.
Por isso os cidadãos são livres de votar em partidos pequenos de que gostam, sabendo que cada voto conta.
A Rainha Leoa revê as suas opções e decide mudar o sistema eleitoral do seu Reino para RPM. Agora,
pela primeira vez, o Conselho da Selva reflecte exactamente as preferências dos seus cidadãos.
Traduzido por Guilherme Simões