Tip:
Highlight text to annotate it
X
O som de fundo � retirado dos debates da 3� internacional situacionista realizada em Munique, do 17 ao 20 de abril de 1959
Este bairro foi projetado
para a miser�vel dignidade da pequena burguesia,
para ocupa��es respeit�veis e para o turismo intelectual.
A popula��o sedent�ria dos escal�es superiores
ficou protegida da influ�ncia das ruas.
O bairro em si permaneceu o mesmo.
Foi um cen�rio aparente de nossa hist�ria,
onde umas poucas pessoas colocaram em pr�tica
um questionamento sistem�tico de todo o trabalho e de todo o lazer da sociedade,
um questionamento total de sua no��o de felicidade.
Tais pessoas tamb�m desprezam a "profundidade subjetiva".
A �nica coisa que lhes interessa
� a satisfat�ria express�o concreta de suas pr�prias vidas.
Os seres humanos n�o est�o plenamente c�nscios da realidade de suas vidas.
Apalpam-se na escurid�o, e s�o subjugados
pelas conseq��ncias de seus atos,
e a todo momento tanto grupos como indiv�duos
se v�em diante de desdobramentos indesejados.
Eles dizem que o esquecimento � sua paix�o dominante.
que gostariam de a cada dia reinventar todas as coisas;
tornar-se senhores de suas pr�prias vidas.
Da mesma maneira que n�o julgamos um indiv�duo
pelo que ele pensa sobre si mesmo,
�o podemos julgar um per�odo de transforma��o
pela sua pr�pria consci�ncia.
Pelo contr�rio,
esta consci�ncia deve ser compreendida
como reflexo das contradi��es da vida material,
o conflito entre as condi��es sociais
e as for�as da produ��o social.
O avan�o no controle da natureza
n�o foi acompanhado por uma correspondente
libera��o da vida cotidiana.
A juventude cedeu diante
dos v�rios mecanismos de sujei��o.
Nossa c�mera capturou para voc�
algumas vis�es ligeiras de uma micro-sociedade ef�mera.
O conhecimento de fatos emp�ricos
permanece abstrato e superficial na medida em que
n�o s�o concretizados no que diz respeito � situa��o como um todo.
Este � o �nico m�todo que nos permite substituir
problemas parciais e abstratos
pela sua "ess�ncia concreta",
e assim implicitamente pelo seu significado.
Este grupo se manteve �s margens da economia.
Tendeu a exercer um papel do puro consumo,
particularmente de livre consumidor de seu pr�prio tempo.
Ao mesmo tempo em que est� diretamente envolvido
nas diverg�ncias qualitativas da vida ordin�ria,
v�-se privado de quaisquer meios para administrar essas diverg�ncias.
O grupo circula dentro uma �rea bem restrita.
Repetidamente v�o e voltam sempre para os mesmos lugares.
Ningu�m quer ir cedo para a cama.
Continuamente discutem sobre o significado de tudo...
"Nossa vida � uma viagem
no inverno e na noite.
Procuramos nosso caminho..."
A literatura que abandonaram,
como que exercendo uma influ�ncia tardia,
manifesta-se em algumas formula��es afetivas.
Havia a fadiga e o frio da manh�
esse complicado labirinto,
como um enigma que ter�amos que resolver.
ma realidade
pela qual descobrir�amos
verdadeira riqueza potencial.
Nos bancos de areia do rio,
a noite recome�ou; e as car�cias;
e a import�ncia de um mundo desimportante.
Assim como os olhos t�m uma vis�o turva de muitas coisas
mas pode ver uma �nica coisa claramente,
tamb�m a vontade pode apegar-se
imperfeitamente a objetos diversos
e amar completamente apenas um de cada vez.
Ningu�m pode contar com o futuro.
Nunca ser� poss�vel estar juntos no amanh�, ou em qualquer outro lugar.
Nunca haver� uma maior liberdade.
A recusa do tempo e do envelhescimento
automaticamente limita os encontros
nesta estreita e contingente zona,
onde o que falta � sentido como irrepar�vel.
A extrema precariedade dos seus m�todos de sobreviv�ncia
sem trabalhar est� na raiz desta impaci�ncia
que torna os excessos necess�rios e os rachas irrevog�veis.
Nunca poderemos realmente desafiar
qualquer forma de organiza��o social
desafiar todas as suas formas
de organiza��o da linguagem.
Quando a liberdade � praticada em um c�rculo fechado,
ela enfraquece em forma de sonho,
torna-se uma mera imagem de si mesma.
O ambiente do jogo � por natureza inst�vel.
A qualquer momento a "vida ordin�ria" pode mais uma vez prevalecer.
A limita��o geogr�fica do jogo
� at� mesmo mais contundente que sua limita��o temporal.
Todo jogo acontece dentro dos limites de seu pr�prio dom�nio espacial.
Fora da vizinhan�a,
al�m dos limites de sua breve e sempre amea�ada estabilidade,
descortina-se uma cidade meio desconhecida
onde as pessoas encontram-se apenas por casualidade,
sempre perdendo-se pelo caminho.
As meninas que se acham por ali,
por estarem legalmente sob o controle de suas fam�lias
at� a idade de dezoito anos,
acabam enclausuradas pelos defensores
dessa institui��o detest�vel.
Elas geralmente ficavam trancadas sob a cust�dia de criaturas
que em meio a todas as produ��es ruins dessa sociedade ruim,
criaram a mais feia e repugnante de todas: as freiras.
A que faz a maioria dos document�rios
t�o f�ceis de entender
� a limita��o arbitr�ria do assunto abordado.
Eles se limitam a descrever fun��es sociais fragmentadas
e seus produtos isolados.
Em contraste,
imagine a completa complexidade de um momento
que n�o � resolvido em um trabalho,
um momento cujo desenvolvimento cont�m fatos relacionados,
valores,
cujo significado n�o � ainda aparente.
Esta confus�o generalizada poderia ser
o assunto de tal document�rio.
Nosso tempo atingiu tal n�vel de tecnologia e de conhecimento
que tornou poss�vel, e crescentemente necess�rio,
a constru��o direta de todos os aspectos
de um modo de vida mental e materialmente livre.
O aparecimento destes meios superiores de a��o,
embora permane�am n�o usados por causa da demora
no projeto de abolir a economia de mercado,
j� havia revelado a obsolesc�ncia de toda atividade est�tica,
cuja ambi��o e poder entrou em franco decl�nio.
A decad�ncia da arte
e de todos os velhos c�digos de conduta.
nos serviu de base sociol�gica.
O monop�lio da classe governante dos instrumentos
que precisamos para implementar
a arte coletiva de nosso tempo
nos deixou completamente fora da produ��o cultural oficial,
que foi dedicada
a ilustrar e repetir o passado.
Um filme de arte nesta gera��o
pode ser apenas um filme sobre sua falta de cria��o real.
Outros irrefletidamente seguiram os caminhos aprendidos de uma vez por todas,
do trabalho para casa,
para seu previs�vel futuro.
Para eles o dever tornara-se um h�bito,
e o h�bito um dever.
Eles n�o viram as defici�ncias de suas cidades.
E viram as defici�ncias de suas vidas como algo natural.
N�s procuramos fugir deste condicionamento,
em busca de diferentes usos da paisagem urbana,
em busca de novas paix�es.
A atmosfera de alguns lugares
insinuou os futuros poderes de uma arquitetura
que seria preciso criar
para dar lugar a atividades menos med�ocres.
N�o poder�amos esperar nada de qualquer coisa
que n�o viesse de n�s mesmos.
O ambiente urbano proclama as ordens
e as prefer�ncias da sociedade dominante
t�o violentamente quanto os jornais.
O homem unifica o mundo,
mas o homem se espalhou por toda parte.
as pessoas n�o podem ver nada ao redor delas que n�o seja sua pr�pria imagem;
tudo fala a elas a respeito delas mesmas.
At� mesmo sua paisagem � uma coisa viva.
Havia obst�culos em todos lugares.
Todos eles relacionados entre si,
mantendo um reinado unificado da pobreza.
Considerando que tudo estava conectado,
ou mudava-se tudo por uma luta unit�ria, ou n�o se mudava nada.
Era preciso uma uni�o com as massas,
mas o sono rondava � nossa volta.
A ditadura do proletariado � uma luta inexor�vel,
sangrenta e sem derramamento de sangue,
violenta e calma, militar e econ�mica,
educativa e administrativa,
contra as for�as e tradi��es da velha sociedade.
Mas neste pa�s,
novamente s�o os homens da ordem
que se rebelaram
e fortaleceram seu poder.
S�o eles que contribuem para agravar o absurdo
das condi��es reinantes de acordo com suas vontades,
ornando seu sistema com as cerim�nias f�nebres do passado.
Anos,
como um �nico instante prolongado at� esse momento,
chega a um fim.
Tudo o que era diretamente vivido
reaparece congelado � distancia,
marcado nos gostos e ilus�es de uma era,
e deixa-se arrastar.
A apar�ncia dos eventos que n�o criamos,
eventos que na realidade outros criaram contra n�s,
agora nos obriga a estar atentos � passagem do tempo
e a seus resultados,
nos obriga a proceder � transforma��o de nossos pr�prios desejos em acontecimentos.
O que diferencia o passado do presente
� precisamente sua objetividade inalcan��vel.
J� n�o mais existe o 'deveria ser';
O ser foi consumido
ao ponto de cessar de existir.
Os detalhes j� est�o perdidos na poeira do tempo.
Quem teme a vida, a noite,
ser levado, ser mantido?
O que deveria ser abolido continua,
e continuamos convivendo com isso.
Fomos engolfados. Separados uns dos outros.
Os anos passam e n�o mudamos nada.
Uma vez mais amanhece nas mesmas ruas.
Uma vez mais a fadiga de tantas noites igualmente vivdas.
Um passeio que j� durou tempo demais.
� dif�cil beber mais.
Claro que algu�m poderia fazer um filme sobre isso.
Mas at� mesmo se tal filme tivesse sucesso
seria fundamentalmente t�o incoerente e insatisfat�rio
como a realidade que aborda,
nunca poderia ser mais que uma recria��o �
pobre e falso como o remendo grosseiro de uma foto rasgada.
H� hoje pessoas que se orgulham
de serem autores de filmes, como outros o eram de romances.
Mas eles est�o ainda mais atrasados que os novelistas,
por ignorar a decomposi��o e o esgotamento
da express�o individual do nosso tempo,
eles ignoram que as artes da passividade morreram e est�o enterradas.
�s vezes eles s�o elogiados pela sinceridade
a medida em que dramatizam com uma profundidade mais pessoal
pessoal as conven��es em que consistem suas vidas.
E falam coisas como "liberta��o do cinema".
Mas de que vale para n�s uma arte liberta
se Tom, *** ou Harry
a utilizam para complacentemente expressar seus sentimentos servis?
A �nica ventura interessante � a liberta��o da vida cotidiana,
n�o apenas sob uma perspectiva hist�rica,
mas para n�s mesmos, e nesse momento.
Este projeto implica o esvaziamento
de todas as formas alienadas de comunica��o.
O cinema, tamb�m, deve ser destru�do.
Em �ltima an�lise,
os astros e estrelas do cinema n�o surgem por causa de talento ou falta de talento,
e nem mesmo por causa da ind�stria cinematogr�fica ou publicit�ria.
Eles s�o criados pela necessidade que temos deles.
Uma necessidade pat�tica, que nasce de uma vida obscura e an�nima
que gostaria de se expandir at� as dimens�es
da vida cinematogr�fica.
A vida imagin�ria na tela � o produto desta real necessidade
Os astros e estrelas do cinema s�o a proje��o desta necessidade.
as propagandas durante as interrup��es
s�o o mais verdadeiro reflexo da vida interrompida.
Para descrever esta era com exatid�o
seria indubitavelmente necess�rio mostrar muitas outras coisas.
Mas qual seria o ponto central?
O ponto central � entender
o que foi feito at� aqui
e tudo aquilo que ainda resta a ser feito
para n�o acrescentar mais ru�nas
ao velho mundo de espet�culos e recorda��es.
www.makingoff.org legendas feitas a partir de manuscritos do www.geocities.com/projetoperiferia