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Quando eu era apenas uma garotinha, eu perguntei à minha mãe:
O que eu vou ser? Será que vou ser bonita? Será que vou ser bonita? SERÁ QUE VOU SER BONITA?
O que vem depois? Ah, certo... Será que vou ser rica?
Que é quase bonita, dependendo de onde você faz compras.
E essa bonita pergunta infecta desde a concepção, passando pelo sangue e respiração, até as células
A palavra fica suspensa nos corações de nossas mães em um holofote fluorescente estridente de preocupação.
"Será que eu vou ser desejada? Digna? Bonita?"
Mas a puberdade me transformou nessa Dríade caricata:
dentes em ângulos de ficção científica,
nariz torto, cara longa como a de um burro
e toda empolada onde os hormônios pintaram a dedo.
Minha pobre mãe!
"Como isso pôde acontecer?"
"Você vai ter uma pele de porcelana assim que irmos a um dermatologista."
"Você chupou seu dedo. É por isso que seus dentes são assim!"
"Você foi atingida no rosto por um frisbee quando tinha seis anos,
Caso contrário, seu nariz seria perfeito!"
"Não se preocupe. Nós vamos consertá-lo!", Ela diria.
segurando meu rosto, torcendo-o pra lá e pra cá, como se fosse um repolho que ela fosse comprar.
Mas isto não diz respeito a ela. Não foi culpa dela.
Ela, também, foi criado para acreditar o maior patrimônio que ela poderia conceder
à sua garotinha estranha era uma fachada comercial.
Aos dezesseis, eu estava coberta de pomadas, medicações, peróxidos.
Dentes encurralados em pinos de aço. Deitada numa cama de hospital,
com o rosto cheio de gaze, amortecendo o novo nariz que o cirurgião tinha esculpido.
Barriga farta com os dois quartilhos de meu sangue que eu havia engolido sob anestesia
e cada revirar do meu intestino era como se meu corpo gritasse para mim de dentro para fora:
O QUE VOCÊ OS DEIXOU FAZEREM CONTIGO??
Durante todo esse incessante coro zumbido mais e mais,
como se a agulha intravenosa pingasse beleza líquida no meu sangue.
Será que vou ser bonita? Será que vou ser bonita?
Como a minha mãe, desembrulhando o embrulho
para revelar o buquê de filha que seus dez mil compraram pra ela. Bonita? Bonita!
E agora, eu não vejo meu próprio rosto há 10 anos...
Eu não vejo meu próprio rosto há 10 anos! Mas isso não diz respeito a mim...
Isso diz respeito a este circo automutilante no qual temos sido os palhaços.
Às mulheres que rodam 30 lojas em 6 shoppings para encontrar o vestido certo para um coquetel,
mas não têm ideia de onde encontrar satisfação ou como usar alegria,
vagando pela vida acorrentadas a um saco de compras,
sob a tirania dessas três sílabas bonitas.
Aos homens chafurdando em bancos bar, tristemente praticando atração
e a todos aqueles que voltarão pra casa esta noite, cabisbaixos,
porque poucos estranhos os acharam devidamente "trepáveis"!
Isso... Isso diz respeito à filha que um dia eu terei...
Quando se aproximar de mim, já aflita e insegura, suplicando:
"Mamãe, será que eu vou ser bonita? Será que eu vou ser bonita??"
Eu limparei essa pergunta da boca dela como batom barato e responderei:
NÃO! A palavra "bonita" não é digna de tudo o que você será,
e nenhum filho meu será contido em seis letras!
Você será muito inteligente, muito criativa, muito incrível...
Mas você nunca será somente... "bonita"!