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Existe um mito de que os grandes mestres do xadrez podem antever 10,
15,
20 movimentos na frente.
E esse é um grande mito,
pois eu sou um mestre do xadrez
e sei que isso me faz parecer um supergênio maluco.
Mas a verdade é que
em apenas quatro movimentos
existem 318 bilhões de possibilidades de jogo.
Bem, seria realmente legal se eu pudesse fazer isso,
mas os grandes mestres simplesmente não conseguem, é demais.
Por isso usamos diferentes técnicas para sermos capazes ver à frente.
E algumas dessas técnicas incluem
agrupamento,
que significa pegar um grupo, uma posição do xadrez,
e ver quais possibilidades podem vir daquele grupo;
ou reconhecimento de padrões,
que é simplesmente examinar várias posições
que parecem muito parecidas
e extrapolar verdades a partir daí;
o método de pisar nas pedras,
que é pegar uma posição,
congelar em sua mente,
e a partir daquele ponto adivinhar a próxima posição.
Mas uma das minhas estratégias favoritas
que adoro usar para resolver esse tipo de quebra-cabeça do xadrez
se chama análise retrógrada.
E se usa a análise retrógrada
para ver à frente,
vale a pena olhar para trás.
Bem, por que isso é tão útil?
Bem, no xadrez, é um caso muito complicado.
Temos aqui todas essas peças do xadrez,
são 32 peças,
mas, depois de 5 movimentos, a situação começa a evoluir um pouco.
E o jogo começa a avançar
e vocês veem a situação no tabuleiro ficar um pouco mais clara,
e um pouco mais clara ainda,
e com menos peças no tabuleiro,
até que, finalmente,
neste caso, um jogo que joguei num torneio em Foxwoods,
chegamos a uma situação como essa aqui.
Quando grandes jogadores jogam,
sempre se chega a algo parecido.
Não se vê como isso como um xeque-mate fácil, prematuro.
Grandes mestre veem através dessa coisa toda.
O que vocês veem é o fim do jogo,
algo muito, muito simples.
E gostamos de estudar coisas assim,
os grandes mestres gostam,
de modo que, quando chegamos a este ponto
sabemos como jogar de forma calculada,
mas também de modo que saibamos nos guiar
da situação que está na nossa frente,
as mais complexas que vocês viram anteriormente,
para algo fácil assim,
algo simples assim.
Assim, dessa forma, quando vocês já estiverem aniquilados,
eu já sabia disso há 10 movimentos,
pois eu sabia para onde estávamos indo.
Agora, por que isso é tão eficaz?
Bem, tem a ver com a mente humana
o problema com a mente humana.
Somos criaturas muito lógicas.
Assim, quero que vocês joguem comigo alguns jogos.
Deem uma olhada nessa sentença.
Agora, a maioria dos que estão lendo a sentença
pela segunda vez
vão perceber que vocês não perceberam a palavra "the"
na primeira vez.
Sua mente é muito lógica,
ela se move para frente,
ela simplesmente ignora qualquer coisa que quebre o raciocínio lógico,
e então você não vê a palavra "the" na primeira vez,
o segundo "the", da primeira vez que leem isso.
Mas se vocês lerem a sentença de trás para frente,
automaticamente vão perceber isso.
Ao ler de trás pra frente,
vocês chegam ao "cérebro",
e chegam ao "the",
e aí vocês percebem: "Opa, tem dois "the" na sentença".
Esse é um truque bem legal para revisar textos.
Sabe como é, quando redigimos
cometemos esses errinhos bobos.
Por que existem esses erros no meu texto?
Se você ler o texto de trás para frente, você consegue perceber todos eles.
Tá bom, vamos resolver este problema, um problema interessante.
"Bactéria que duplica a cada 24 horas
enche um lago que fica infestado precisamente após 60 dias.
Em que dia o lago estava meio cheio?"
Bem, muitas pessoas viram este problema
e pensaram: "30 dias, bem, basta dividir ao meio."
Bem, essa não é a resposta certa.
Acontece também das pessoas quererem usar uma calculadora.
É grande demais, é matemática, é chato,
eu também não quero fazer isso.
No entanto, se vocês fizerem aquele problema de trás pra frente,
vocês descobrem a resposta imediatamente.
Qual é a resposta?
59, é claro.
Vocês começam pelo fim, continuam de trás pra frente,
é como se: "É claro, é meio cheio, a resposta é 59".
Aqui está outro quebra-cabeça, um pouco mais complicado.
Vocês têm seis números, de 1 a 6.
As cartas estão viradas para baixo.
Vocês e eu vamos escolher uma carta.
Vocês escolhem uma carta e olham para ela
e ela é o número 2.
Eu olho para a minha carta,
penso sobre ela por um minuto
e digo: "Quero trocar".
A razão para isso é que
vamos trocar para ver
quem tem o maior número no final.
Vocês querem trocar comigo?
A maioria das pessoas respondem: "É claro, eu tenho um 2 e 2 é péssimo!
Existem quatro números mais altos,
a probabilidade diz que posso conseguir algo melhor".
Resposta errada, vocês estão jogando com um grande mestre.
Basta começar do final e voces chegam à resposta.
Se eu tivesse o número 6, eu ofereceria troca?
Claro que não, não sou burro.
Que tal o número 5?
Provavelmente não também,
pois vocês não diriam sim se tivessem um 6.
Bem, se um 5 não seria trocado e um 6 não vai ser trocado,
4 vai ser meio que:
"Não vou trocar também, pois 5 e 6 não se trocam."
Então vocês veem o que acontece quando trabalhamos de trás pra frente.
3 vai perceber que quem tem 4, 5 ou 6 não troca,
assim, a oferta é sem dúvida um 1,
e todos vocês que disseram sim,
obrigado pelo dinheiro.
Assim, essa análise retrógrada é usada em vários lugares.
É usada para provar as horas de intoxicação depois de uma alegação de dirigir sob o efeito do álcool
pelos policiais da Pensilvânia,
o que é bem legal.
Bem, isso significa se for beber, não dirija.
O uso da retroanálise é usado
na lei,
na ciência,
na medicina,
nos seguros,
no mercado de ações,
na política,
no planejamento da carreira.
Mas eu achei seu uso num lugar mais interessante,
talvez um dos usos mais interessantes para ela
neste filme, que sei que muitos aqui já assistiram,
"O Curioso Caso de Benjamin Button",
no qual Brad Pitt é um cara
que vive sua vida de trás pra frente.
E o que este filme me faz pensar
é aquela grande citação que,
bem, aquela frase que ouvimos frequentemente de pessoas mais velhas,
que a juventude é desperdiçada pelos jovens.
Bem, se vocês podem ver o fim do jogo,
sua juventude não vai ser desperdiçada.
Muito obrigado.