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Nossa relação com as pessoas ...
consiste em discutir com elas e criticá-las.
Foi isso que me afastou,
por vontade própria ...
de toda minha vida social.
Isso tornou minha velhice solitária.
Sempre trabalhei muito, e sou grato por isso.
Comecei a trabalhar para sobreviver ...
e acabei amando a ciência.
Tenho um filho que também é médico e mora em Lund.
Ele foi casado durante anos, mas não teve filhos.
Minha mãe ainda vive e apesar da idade, é uma pessoa ativa.
Minha esposa, Karin, morreu há muitos anos.
O jantar está servido, Prof. Borg.
Obrigado.
Tenho o privilégio de ter uma boa empregada.
Talvez deva acrescentar que sou um velho meticuloso ...
o que às vezes tornou a vida penosa ...
tanto para mim quanto para os que convivem comigo.
Meu nome é Eberhard Isak Borg,
e tenho 78 anos.
Amanhã, receberei o Título Honorário na Catedral de Lund.
MORANGOS SILVESTRES
Na noite do primeiro dia de junho ...
tive um sonho estranho.
Sonhei que durante minha caminhada matinal ...
eu me perdi numa parte desconhecida da cidade ...
com ruas desertas e casas em ruínas.
O senhor está bem?
Srta. Agda, prepare meu café, vou viajar de carro.
Claro, volte a dormir. Servirei o café às 9hs ...
e partiremos às 10hs, como combinamos.
Tudo bem, viajarei sem comer.
E quem arrumará sua mala?
- Eu mesmo. - E o que eu faço?
Pode ir de carro comigo ou de avião, como desejar.
Esperei o ano todo para vê-lo receber seu Título.
Depois de ter organizado tudo,
decide ir de carro!
A cerimônia será às 17hs.
Terei 14 horas para chegar.
Vai estragar tudo!
E seu filho estará esperando no aeroporto em Malmo.
Você terá que inventar alguma desculpa.
Se for de carro, não irei à cerimônia.
- Ouça, Srta. Agda ...
- Tudo bem, pode ir! Vai arruinar o melhor dia da minha vida.
- Não somos casados, Srta. Agda.
E agradeço a Deus todas as noites por isso.
Segui meus princípios por 74 anos e não vou mudar hoje.
- É sua última palavra?
- Sim, é minha última palavra.
mas não vou me esquecer como são os velhos egoístas que só pensam
em si mesmos e esquecem os que os serviram por 40 anos.
Não sei como a aguentei mandando em mim ...
tantos anos.
É só dizer e eu parto amanhã mesmo.
De qualquer modo, vou de carro. Faça o que quiser.
Já sou bem crescido e não tenho que receber ordens suas.
- Ninguém faz malas como você Srta. Agda.
- É mesmo?
- Velha chata.
- Quer que eu cozinhe uns ovos?
- Sim, obrigado. É muita gentileza sua.
Título Honorário, que estupidez.
Deveria receber o título de idiota honorário.
Odeio gente rabugenta.
Não faria mal a uma mosca, muito menos à Srta. Agda.
- Aceita umas torradas?
- Não se preocupe comigo.
Por que o mau humor?
- Aceita uma xícara? - Não, obrigada.
Bom dia, Tio Isak.
Bem, o que minha nora faz acordada a esta hora?
É difícil dormir com os dois gritando.
- Ninguém estava gritando.
- Ninguém mesmo.
- Vai para Lund de carro?
- Acho que sim.
- Posso ir junto?
- Quer ir para casa?
- Sim, quero voltar.
- Voltar para Evald?
- Não precisa perguntar.
- Se eu pudesse, iria de trem.
- Claro que pode ir comigo.
Estarei pronta em 10 minutos.
Minha nossa!
Por favor, não fume. Não suporto cigarro.
Eu me esqueci.
Devia haver uma lei contra cigarros.
- Está um dia bonito.
- Sim, mas está estranho.
- Acho que vai chover. - Eu também.
Não, dê-me um cigarro.
Os charutos são estimulantes. É um vício para homens.
E quais os vícios para a mulher?
Chorar, engravidar e ficar fofocando.
Quantos anos você tem mesmo, Tio Isak?
- Por que pergunta?
- Por nada.
- Eu sei por que perguntou.
- Com certeza.
Não precisa fingir, sei que não gosta de mim.
Eu o conheço apenas como sogro.
- Por que está voltando?
- Por impulso.
- Evald é meu filho.
- Eu sei.
Evald e eu somos parecidos, temos nossos princípios.
- Não precisa me dizer.
- O empréstimo, por exemplo ...
Eu sei, ele ia pagar assim que recebesse.
Ele vai lhe pagar quando se tornar professor associado.
É uma questão de honra para ele pagar 5.000 por ano.
E assim por diante.
O combinado é o combinado.
Nunca poderemos ser livres,
e ele se mata de trabalhar.
Você tem renda própria.
Especialmente porque é rico
e não precisa do dinheiro.
O combinado é o combinado. Sei que Evald me respeita.
Talvez, mas também o odeia.
- O que tem contra mim?
- Quer uma resposta sincera?
Quero.
É um velho egoísta.
Não tem consideração e só ouve a si mesmo.
Mas esconde bem isso atrás de sua civilidade e seu charme.
Mas é egoísta apesar de ser chamado de grande amigo da humanidade.
Quem convive com o senhor sabe como é. Não nos engana.
Lembra-se do que disse quando me mudei?
Tive a má idéia que poderia ajudar Evald e eu.
Achei que nos ajudaria e pedi para ficar 2 semanas em sua casa.
- Lembra-se do que disse?
- Sim, disse que era bem-vinda.
Deve ter se esquecido, mas disse ...
Não tente me envolver nos seus problemas conjugais.
Cada um resolve seus problemas.
Você e Evald devem fazer o melhor que puderem."
- Eu disse isso?
- Não só isso. - Oh, não.
- Foram suas palavras:
Não respeito o sofrimento da mente,
por isso não se lamente.
Se precisar de ajuda, posso lhe arranjar um psicanalista ...
ou um padre, está em voga.
- Eu disse isso?
- Tem opiniões categóricas, Tio Isak.
Detestaria depender do senhor.
Para ser honesto, gostei de sua companhia.
- Como se fosse um gato.
- Ou um ser humano.
É uma boa jovem, e sinto muito que não goste de mim.
- Não disse que não gosto. - Mesmo?
- Sinto pena do senhor. - Pena?
Gostaria de contar um sonho que tive esta manhã.
Não me interesso por sonhos.
Claro que não.
- Aonde vamos?
- Quero mostrar uma coisa.
Até os meus 20 anos passávamos os verões aqui.
Eu tinha 10 irmãos e irmãs. Deve saber disso.
- Há alguém aqui agora?
- Não neste verão.
- Vou dar um mergulho no lago. - Pode ir.
Sim, por todos os efeitos.
O canteiro dos morangos silvestres.
É possível que eu tenha ficado sentimental.
Talvez estivesse cansado ou nostálgico.
e me sentia um pouco triste
Foi então que percebi que pensava em coisas ...
que estavam ligadas à minha infância.
Não sei como isto aconteceu ...
mas a luz do dia clareou mais ainda ...
as imagens das minhas lembranças ...
que passavam perante meus olhos
com toda a força da realidade.
Sara.
Sara,
Sou eu, seu primo Isak.
Estou mais velho, é claro, e tudo ficou diferente.
Mas você não mudou nada.
Bom dia, prima. O que tem aí?
Morangos silvestres, seu idiota.
E quem será agraciado com estes morangos ...
colhidos pela manhã por uma jovem tão dócil?
Hoje é aniversário do tio Aron.
Esqueci do presente ...
por isso vou lhe dar uma cesta de morangos.
- Vou ajudá-la.
- Sigbritt fez um bordado e Charlotta fez um tapete ...
Angelica fez o bolo, Anna pintou um quadro ...
Kristina e Brigitta cantarão uma canção.
- Mas o tio Aron é surdo!
- Ele ficará feliz, idiota.
Você tem um pescoço lindo.
- Não devia fazer isso.
- Quem disse? Eu.
E você é um pretensioso
que se acha o máximo.
Sou seu primo e adoro você.
Adora?
Venha, vou beijá-la na boca.
Se insistir, direi a Isak que está sempre querendo me beijar.
Pobre Isak, eu acabaria com ele sem esforços.
Isak e eu estamos noivos secretamente.
Um segredo que todos já sabem.
As gêmeas são umas fofoqueiras.
Quando é o casamento? Quando é o casamento?
Não sei qual dos quatro irmãos é o mais fútil de todos.
Eu acho que é Isak.
Pelo menos Isak é o mais simpático.
E você é o mais tolo, mais malvado,
mais idiota ... Nem sei o que dizer!
- Admita que gosta de mim.
- Você fede a charuto.
É cheiro de homem.
E as gêmeas que sabem de tudo ...
Dizem que você fez coisas horríveis com a Berglung.
Ela não é uma boa moça. Eu acredito nas gêmeas.
Fica linda quando está brava.
Tem que me beijar, não aguento mais.
Estou perdidamente apaixonado por você.
- Não é verdade. - Não.
As gêmeas também disseram
que você é mulherengo.
É verdade?
Oh, veja o que fez!
O que Isak irá dizer? Ele me ama de verdade!
Você arruinou minha vida, ou quase isso!
Vá embora, nunca mais quero vê-lo.
Nunca mais
Pelo menos não até o almoço.
Preciso me apressar. Ajude-me a pegar os morangos.
Oh, sujou todo o meu avental!
Brigitta e Kristina, onde está Isak?
Isak e papai estão pescando e não ouviram o sino.
Papai disse para não esperá-los.
Foi o que ele disse.
Senhor, abençoe o alimento que vamos comer. Amém.
Benjamin, vá lavar as mãos.
- Quando aprenderá a ser limpo?
- Eu já lavei.
Sigbritt, passe o mingau. Angelica, sirva as gêmeas.
Suas unhas estão imundas.
Hagbart, passe o pão.
Quem o ensinou a passar tanta manteiga no pão?
Charlotte, o sal está úmido. Deixou destampado.
Quantas vezes devo dizer que não pode ficar fora?
Lavei as mãos, isto é tinta nas minhas unhas!
- Quem pegou morangos para mim?
- Fui eu. - O que?
Fale mais alto, o tio Aron não escuta.
Fui eu!
Obrigado, lembrou do meu aniversário!
Foi muita gentileza.
O tio não poderia tomar um drinque para comemorar?
Bebida sem a presença de seu pai está fora de questão.
O tio Aron já tomou três. Nós vimos.
Hoje de manhã, às 8:00 quando foi tomar banho.
Também pegaram morangos! Obrigado.
Não falem de boca cheia!
Não arrumaram as camas, por isso vão enxugar a louça.
Façam o que Auntie manda.
Benjamin, não roa as unhas.
O que está fazendo, Anna? Não é mais uma criança.
Quero dar o quadro ao tio Aron.
Podemos dar os presentes agora?
- Onde estão? - Aqui embaixo.
Não, depois do almoço.
Uma bela obra de arte: Fridhof e Ingeborg.
Mas é difícil saber quem é Fridhoff.
O que Sara e Sigfrid faziam no canteiro de morangos?
Vimos tudo do banheiro.
As gêmeas deveriam ser amordaçadas.
- Preciso por mordaças nelas. - Fiquem quietas ou retirem-se.
- E a liberdade de expressão?
- Calem a boca.
Sara ficou corada! Sara ficou corada!
Sigfrid também ficou! Sara e Sigfrid!
Silêncio!
Mas Sara!
Estão mentindo! Estão mentindo!
Isak é tão gentil.
Ele é fino, honesto e sensível.
Quer sempre ler poesias,
falar da vida após a morte ...
e gosta de tocar piano.
Só tenta me beijar no escuro ...
e fala do pecado.
Ele é muito melhor que eu.
Nem sei como me sinto.
Não há perdão para mim.
Às vezes me sinto tão mais velha que ele
se é que me entende.
Ele parece um menino, apesar de termos a mesma idade.
E Sigfrid é tão perverso e excitante. Quero ir para casa!
Não quero passar o verão
sendo ridicularizada por todos.
Não quero!
Falarei com Sigfrid.
Se não a deixar em paz,
pedirei ao papai que o faça trabalhar.
Papai dará jeito nisso facilmente.
Ele acha que Sigfrid é vadio e precisa trabalhar.
Pobre Isak, é tão bom comigo.
Tudo que faço é tão injusto.
Tudo vai dar certo.
Estão cantando para o tio Aron.
Não é tolo cantar para alguém que é totalmente surdo?
É típico das gêmeas.
Flores saúdam, a grama se curva
Em volta de nossa adorável casa
Parabenizamos nosso tio Aron
E com nossa canção
Alegramos seu olhar
Vamos dar vivas ao tio Aron!
Urra, urra, urra, urra
- Vou me encontrar com Isak. - Boa idéia.
Um sentimento de vazio e tristeza invadiu meu coração.
Mas uma voz de menina me trouxe de volta dos meus sonhos.
Ela me pergunta algo insistentemente.
- Esta casa é sua? - Não.
Que bom que é honesto. Tudo aqui é do meu pai.
- Mas vivi aqui por 200 anos. - É mesmo?
- Aquele é seu carro? - Sim, é.
- Parece antigo. - Sim, é antigo, como o dono.
Sabe ser irônico, isto é ótimo.
- Para onde está indo? - Para Lund.
Que coincidência! Vou para a Itália.
- Ficarei honrado se quiser vir. - Sou Sara. Um nome estranho.
Eu sou Isak, um nome estranho também.
- Não foram casados? - Infelizmente, não.
- Abraão casou-se com Sara. - Vamos?
Sim, mas há mais alguém. Aí vem ela.
Marianne, esta é Sara.
Teremos companhia. Sara vai para a Itália.
- Ela vai até Lund conosco. - Está sendo irônico de novo.
Vamos?
Pessoal, consegui uma carona.
Este é Anders, o de óculos é Victor.
Este é o Dr. Isak.
E a moça bonita para quem estão olhando é Marianne.
- É um carro grande. - Tem lugar para todos.
Ponham a bagagem no porta-malas, se quiserem.
Preciso confessar que eu e Anders estamos noivos.
Nós nos amamos. Victor fica de vela. Foi idéia do meu pai.
Victor também me ama ...
e vive vigiando Anders. Isto prova a genialidade de meu pai.
Terei que seduzir Victor para me livrar do meu pai.
Quero dizer que sou virgem, por isso sou assim.
E fumo cachimbo. Victor disse que faz bem.
Victor adora tudo que faz bem.
Tive uma namorada que se chamava Sara.
- Ela se parecia comigo? - Para dizer a verdade, sim.
O que houve com ela?
Casou-se com meu irmão e teve 6 filhos.
Agora tem 75 anos e continua muito bonita.
Deve ser horrível envelhecer!
Desculpe, disse uma bobagem.
Deixe-me colocar os óculos.
Vocês estão bem? Desculpem, foi nossa culpa.
Minha esposa estava dirigindo. Alguém se machucou?
Preciso me apresentar. Sou Alman.
Sou engenheiro em Estocolmo. Minha esposa, Berit.
Ela era atriz, e discutíamos ... Venha se desculpar.
Perdoem-me, a culpa foi toda minha.
Eu ia bater no meu marido quando a curva apareceu.
Isso mostra que Deus castiga. O que acha, não é católico?
Acho melhor desvirarmos seu carro.
- Não se preocupe. - Deixe.
Existem pessoas que não são tão egoístas quanto você.
Minha esposa está nervosa. Sofremos um choque.
Vejam só como o engenheiro mede forças com os jovens.
Tudo isso para se exibir para a jovem.
Cuidado para não ter um infarto, querido.
Ela adora me ridicularizar. Eu deixo, é uma boa terapia.
Pare!
Nunca sei quando minha esposa está chorando ou fingindo.
Mas acho que é de verdade.
- É como observar a morte. - Por que não se cala?
Ela tem um grande talento.
Por dois anos, ela me fez crer que tinha câncer.
Tinha todos os sintomas possíveis ...
apesar de os médicos não acharem nada.
Era tão boa que acreditávamos mais nela do que nos médicos.
Entendo que esteja aborrecido, mas deixe-a em paz.
Lágrimas de mulheres pertencem às mulheres. São sagradas.
Você é muito bonita.
Mas Berit está ficando velha, por isso pode defendê-la.
Não é verdade. Tenho pena de sua esposa por várias razões.
Muito sarcástica. Mas não me parece ser histérica.
Berit é uma grande histérica. Sabe como é conviver com isso?
- Ela disse que é católico. - Isso mesmo. Por isso aguento.
Nós nos ridicularizamos. Eu sou católico, e ela é histérica.
Como vê, dependemos um do outro.
Não nos matamos por egoísmo.
Aí está! Isso é o que chamamos de síncope.
Que engraçado.
Se eu tivesse um cronômetro, poderia ter ...
Cale a boca!
Concordo que seja saudável se expressar ...
mas temos três jovens no carro, por isso, peço que desçam.
Perdoem-nos, se puderem.
Foi com sentimentos confusos que vi aquela cidade de novo.
Tive meu primeiro consultório aqui ...
e minha mãe mora na maior casa da região.
Bom dia, doutor!
Como vai? Encho o tanque? A chave, por favor.
Venha aqui, Eva.
Este é o famoso Dr. Borg, em pessoa!
Meus pais e todos aqui ainda falam do senhor.
O melhor médico do mundo.
Daremos seu nome ao nosso filho.
Isak Akerman, perfeito para um primeiro-ministro.
- E se for menina? - Só temos meninos. Óleo e água?
- Como vai a artrite de seu pai? - Piorando a cada dia.
Mas mamãe continua muito bem.
- Vai visitar sua mãe? - Vou.
Ela é admirável. Deve ter 95 anos.
- 96. - Não diga.
- Quanto devo? - É por nossa conta.
- Não posso permitir. - Não nos ofenda.
Também podemos fazer gentilezas.
Não há razão para você pagar minha gasolina.
Há coisas que não esquecemos e que não têm preço.
- Nem mesmo gasolina. - Nós não nos esquecemos.
Pode perguntar a qualquer um daqui.
Todos se lembram do que fez por eles.
- Devia ter ficado aqui. - Como assim?
- O que disse? - Que devia ter ficado aqui.
Eu disse? Pode ser verdade.
Obrigado de qualquer modo.
Mandem-me avisar. Gostaria de ser o padrinho do bebê.
Sabem onde me achar.
Eu disse à velha: "Eu sou o médico da cidade".
Durante o almoço, eu me abri ...
e contei aos jovens sobre meus anos de médico na cidade.
Parece que adoraram minhas histórias ...
e não acho que riram por educação.
Tomei vinho no almoço, e depois café com vinho do Porto.
Quando tal beleza se manifesta em cada veio da criação ...
como deve ser bom ser a primavera imortal.
Ele será pastor, e Victor médico.
Prometemos não discutir sobre Deus ou ciência nesta viagem.
- Anders quebrou sua promessa. - Foi lindo.
Como um homem moderno pode ser pastor? Anders não é idiota.
Seu racionalismo é terrível, e você é um idiota.
- Acho que o homem moderno ... - Entende sua futilidade.
Acredita em si mesmo e na morte biológica.
O resto é bobagem.
Este homem só existe na sua imaginação.
O homem vê a morte com medo.
Sem dúvida. Religião para o povo e ópio para aliviar a dor.
Sempre concordo com quem dá a última palavra.
Acreditava em Papai Noel, agora acredita em Deus.
E você sempre teve pouca imaginação.
Qual a sua opinião, professor?
Vão considerar minha opinião com ironia, seja qual for.
- Por isso, ficarei calado. - Pense em como não têm sorte.
Ao contrário, têm muita sorte.
"Onde está o amigo que procuro em toda parte?
O amanhecer é a hora da solidão e do carinho.
Quando o dia se vai ... Quando o dia se vai ...
Quando o dia se vai, ainda não o encontrei.
Um fogo invade meu coração. Sinto sua presença."
O senhor é religioso?
"Vejo Sua glória poderosa onde nascem as flores.
As flores têm perfume, e as montanhas se elevam.
Seu amor está no ar que respiro.
Ouço Sua voz sussurrando no vento do verão ..."
Nada mal para um poema de amor.
Estou me sentindo solene. Fico assim à toa.
Preciso visitar minha mãe que mora aqui perto, volto logo.
- Posso ir junto? - Claro que sim.
Até logo.
Aí vem tempestade.
Acabo de mandar um telegrama para parabenizá-lo.
Hoje é seu grande dia. E aí está você!
Todos têm seu dia de glória, mãe.
Aquela é sua esposa? Não quero falar com ela.
- Ela já nos causou muitas dores. - Aquela não é Karin.
É esposa de Evald. É minha nora, Marianne.
Então pode me cumprimentar.
Bom dia.
- Por que está longe de casa? - Fui visitar Estocolmo.
Por que não está com Evald e seus filhos?
Não temos filhos.
Estes jovens de hoje são estranhos. Tive 10 filhos.
Por favor, Marianne, poderia me trazer aquela caixa?
Minha mãe morava nesta casa.
Lembra-se que vinha visitá-la?
Lembro-me muito bem.
Nesta caixa estão alguns brinquedos seus.
Tentei descobrir de quem eram.
Dez filhos e todos mortos, exceto você, Isak. Vinte netos.
Evald é o único que me visita. Não estou reclamando.
Tenho 15 bisnetos que nunca vi.
Mando cartas e presentes para todos em seus aniversários.
Recebo cartas agradecendo, mas ninguém me visita.
A não ser quando querem dinheiro emprestado.
- Eu devo ser muito cansativa. - Não diga isso, mamãe.
Também tenho outro defeito. Não morro.
Todos os descendentes estão esperando ...
e nada da herança sair.
Esta boneca era de Sigbritt. Ganhou quando fez 8 anos.
Eu mesma fiz o vestido. Ela nunca gostou dela.
Charlotte era quem brincava com ela. Lembro-me bem.
Sabem quem são? Sigfrid com 3 anos, e você com 5.
E esta sou eu. Como éramos diferentes naquela época.
- Posso ficar com esta foto? - Claro que sim.
É um livro de pintura.
Devia ser das gêmeas, Anna e Angelica.
Todos puseram seus nomes nele.
Kristina escreveu: "Ao meu pai, quem mais amo no mundo."
E Brigitta acrescentou: "Vou me casar com papai."
Não é engraçado? Eu ri quando vi isto.
Não está frio aqui? O fogo não esquenta muito.
Não acho que está frio.
Por que sempre sinto frio? Você é médico, deve saber.
- Sinto frio na barriga. - Tem pressão baixa.
Pedirei para fazer um chá e poderemos conversar.
Obrigado, mamãe. Não vamos mais incomodar.
Olhe isto.
O filho de Sigbritt fará 50 anos. Pensei em lhe dar este relógio.
Posso lhe dar, mesmo sem os ponteiros.
Lembro-me de quando ele ficava no berço ...
na pérgola da casa de verão.
Agora vai fazer 50 anos.
E a pequena prima Sara sempre cantava para ele dormir.
Ela casou-se com Sigfrid, o inútil.
Sei que precisa ir ou vai se atrasar para a cerimônia.
Fiquei feliz por ter vindo e espero vê-lo de novo.
Dê minhas lembranças a Evald. Adeus.
Onde estão Anders e Victor?
Estavam discutindo sobre Deus, então começaram a gritar.
Anders tentou convencer Victor ...
mas ele disse que o argumento era muito fraco.
Então disse que eles deviam discutir sobre mim.
Mandaram eu me calar, pois não entendia o debate.
Agora vão discutir sem parar ...
até conseguirem se entender.
- Para onde foram? - Lá em cima.
- Vou até lá. - De qual deles gosta mais?
- De qual deles você gosta mais? - Não sei.
Anders será pastor. Mas ele é muito carinhoso.
Mas ser mulher de pastor? Victor também é bom.
- Victor irá mais longe. - Em que sentido?
Um médico ganha mais dinheiro. Pastores estão fora de moda.
Mas ele tem pernas e pescoço bonitos.
Como pode acreditar em Deus?
E então? Quem ganhou?
Dormi, mas fui atormentado por sonhos e imagens ...
que me pareciam tangíveis e humilhantes.
Havia algo muito forte nestas imagens ...
que penetrou em minha mente ...
com muita determinação.
Já se olhou no espelho, Isak? Ainda não?
Vou lhe mostrar como está.
É um velho assustado, que logo morrerá ...
e eu tenho uma vida pela frente.
Desculpe se o ofendi.
- Não estou ofendido, Sara. - Está sim.
Pois não suporta a verdade.
Tentei ser uma pessoa razoável ...
e acabei sendo cruel.
Entendo.
Não entende. Não falamos a mesma língua.
Olhe no espelho de novo. Não desvie o olhar.
- Estou olhando. - Quero lhe dizer uma coisa.
Vou me casar com seu irmão Sigfrid.
O amor para nós é como um jogo.
Olhe para o seu rosto agora. Tente sorrir.
Está sorrindo!
Mas dói tanto.
Como professor, devia saber por que dói, mas não sabe.
Pensou saber tanto, mas não sabe de nada.
Preciso ir. Prometi cuidar do filho de Sigbritt.
Pobre bebezinho. Precisa dormir agora.
Não tenha medo do vento.
Não tenha medo dos pássaros nem dos abutres.
Não tenha medo das ondas do mar.
Vou abraçá-lo com força, estou aqui com você.
Não tenha medo. Logo amanhecerá.
Ninguém vai machucá-lo. Estou aqui com você.
Entre, Professor Borg.
Sente-se.
- Trouxe seu livro? - Sim.
- Aqui está. - Obrigado.
Identifique a amostra da bactéria no microscópio.
Deve haver algo errado.
- Não há nada de errado. - Não vejo nada.
Por favor, leia o texto.
"Inke tan magrov stak farsin ...
Ios kret fajne kaserte mijotron presete."
O que significa?
Não sei.
- Não sabe? - Sou médico, não filólogo.
Pois nesta lousa está escrito o primeiro dever de um médico.
Sabe qual é?
- Sim, deixe-me pensar. - Pode pensar.
O primeiro dever de um médico ...
O primeiro dever é ...
Eu me esqueci.
O primeiro dever de um médico é pedir perdão.
Sim, sem dúvida. Agora me lembro.
- Foi acusado de culpa. - Acusado de culpa?
Parece que não entendeu a acusação.
- E isto é sério? - Temo que sim.
Sofro do coração. Sou um velho, inspetor Alman.
- Deveria me poupar. - Aqui não diz nada sobre isso.
- Quer que eu pare o exame? - Por favor, não.
Poderia fazer um diagnóstico da paciente?
A paciente está morta.
- O que está escrevendo? - Minha conclusão.
- E qual foi? - Que é incompetente.
Incompetente?
Foi acusado de pequenos delitos, porém graves.
Indiferença, egoísmo, falta de consideração.
Sua esposa fez as acusações. Terá que confrontá-la.
- Mas ela está morta há anos. - Acha que estou brincando?
Quer vir voluntariamente? Não tem escolha. Venha.
Muitos esquecem uma mulher morta há 30 anos.
Alguns guardam uma imagem frágil.
Mas sua mente sempre guardará esta imagem.
Estranho, não? Terça-feira, primeiro de maio de 1917.
Você estava aqui, ouviu e viu o que eles fizeram.
Contarei tudo a Isak e já sei o que ele dirá.
Pobrezinha, como sinto pena de você.
Como se ele fosse Deus.
Então, vou chorar e dizer: "Sente mesmo pena de mim?"
E ele dirá: "Sinto muita pena de você."
Eu chorarei e pedirei perdão. E ele dirá ...
Não precisa pedir perdão, não há o que ser perdoado.
Mas não é o que ele pensa.
Ele é um homem frio.
Então, ele ficará carinhoso ...
eu gritarei que ele está louco ...
e que sua demonstração de afeto me dá nojo.
Ele vai querer me dar algo para dormir e dizer que compreende.
Direi que é tudo culpa dele ...
então, ele ficará triste e dirá que a culpa é minha.
Mas ele não se importa com nada, é frio como gelo.
- Onde ela está? - Ela se foi, tudo se foi.
Percebe o silêncio? Tudo se foi.
Uma cirurgia de mestre Sem dor, sangue ou tremor.
- Está mesmo silencioso. - Uma conquista perfeita.
- Qual será a pena? - Pena? A de sempre, creio.
- A de sempre? - A solidão.
- Solidão? - Exatamente, solidão.
- Não há clemência? - Não pergunte a mim, não sei.
Onde estamos?
- Eles queriam esticar as pernas. - Mas ainda está chovendo.
Falei sobre a cerimônia. Insistiram em prestigiá-lo.
- Que bobagem. - Dormiu bem?
Sim, mas tive um sonho. Tenho tido sonhos estranhos.
- Sonhos absurdos. - Como assim?
Parece que quero me dizer algo que não quero ouvir acordado.
Como o quê?
Que estou morto, apesar de vivo.
- Você e Evald são idênticos. - Se você diz.
- Evald me disse a mesma coisa. - Sobre mim? Acredito.
- Não, sobre ele mesmo. - Mas ele só tem 38 anos.
- Vai se chatear se eu contar? - Claro que não.
Há uns meses, eu queria conversar com Evald ...
e fomos até a praia.
Evald estava sentado onde o senhor está.
O que queria me dizer? Com certeza algo desagradável.
- Preferia não ter que contar. - Encontrou outra pessoa?
- Não seja tolo. - O que posso pensar?
Diz que quer conversar, estamos aqui, e você não consegue falar.
Pelo amor de Deus, fale logo. Pare com este mistério.
Que engraçado. O que acha que vou dizer?
Que matei alguém ou roubei?
Estou grávida.
- Tem certeza? - Peguei o resultado ontem.
Então era esse o mistério?
Também quero dizer que vou ter este filho.
- Tem certeza? - Tenho.
Sabe que não quero filho. Terá que optar entre ele e eu.
- Pobre Evald. - Não fale assim comigo.
É absurdo trazer uma criança para este mundo ...
e mais absurdo é achar que ela viverá bem.
- Isso é uma desculpa. - Chame como quiser.
Eu fui um filho indesejado de um casamento infernal.
Será que sou filho do meu pai?
Isso não lhe dá o direito de se comportar assim.
Preciso ir para o hospital. Não tenho tempo para discutir isto.
Covarde.
Tem razão. Acho esta vida um lixo ...
e não quero ser forçado a viver mais do que desejo.
E você sabe que falo sério.
- Eu sei que isto é errado. - Não existe certo ou errado.
Agimos conforme o necessário. Isto é primário.
E o que é necessário?
Para você é viver, existir e procriar.
E para você?
Para mim é morrer. Simplesmente morrer.
Se quiser fumar, não me importo.
- Por que resolveu me contar? - Quando o vi com sua mãe ...
senti muito medo.
Não entendo.
Eu pensei ...
Esta é sua mãe, uma velha fria como gelo ...
de certa forma, mais assustadora do que a própria morte.
Este é seu filho ...
e entre eles há uma grande distância.
Ele se sente um morto-vivo.
E Evald se sente no limiar do frio e da morte.
Então pensei no filho que carrego.
Pensei, não existe nada além do frio ...
da morte e da solidão.
Deve haver algum motivo.
Mas está voltando para Evald.
Só para dizer que discordo dele. Quero este filho ...
e ninguém vai tirá-lo de mim.
Nem mesmo a pessoa que mais amo.
- Posso ajudá-la? - Ninguém pode me ajudar.
Já estamos velhos, fomos longe demais.
- O que houve depois da conversa? - Nada. Eu o deixei.
Não falou mais com ele?
Não quero viver daquele jeito.
O que quer dizer?
Como o casal que encontramos. Como se chamavam?
Eu estava pensando neles.
Eles me fizeram lembrar do meu casamento.
Mas eu amo Evald!
Muito tempo possa ele viver Muito tempo possa ele viver
Possa ele viver cem anos de idade
Muito possa ele viver
Soubemos que hoje é um dia especial ...
e queremos lhe dar estas flores.
Estamos impressionados por ser médico há 50 anos.
E achamos que deve ser muito inteligente.
Que conhece tudo da vida ...
e que sempre foi muito dedicado.
Obrigado.
É melhor irmos, já está tarde.
Finalmente chegou. Já havíamos perdido as esperanças.
É bom relaxar e dirigir.
Precisa se arrumar.
Olá, Marianne. Avisei Evald que você viria.
Muito obrigada.
- Então você veio. - Era o meu dever.
O senhor não conseguiu estragar minha diversão.
- Bem-vindos. - Olá, Evald.
- Como vê, trouxe Marianne. - Posso levar minhas coisas?
- Ficará no quarto de hóspedes. - Ótimo.
Deixe-me levar a mala.
Ponham ali, eu já volto.
- Fizeram boa viagem? - Ótima.
- Quem são os jovens? - Eles vão para a Itália.
- Parecem simpáticos. - Muito simpáticos.
Só quero avisar que são 15:45hr.
Trouxe cadarços novos.
- Vou embora amanhã. - Ficará num hotel.
Por quê? Não podemos dividir o quarto por uma noite?
- Ajude-me a desfazer a mala. - É bom vê-la. Uma surpresa.
Igualmente. Iremos ao jantar depois?
Avisarei Sternberg que terei companhia. Ele é o responsável.
Está atrasado.
Doutor Isak!
Surpreendi-me durante a cerimônia ...
pensando nos eventos do dia.
Foi então que decidi pensar e escrever tudo que houvera.
Notei que nestes eventos tão ligados ...
havia uma casualidade memorável.
- Gostou da cerimônia? - Sim.
- Está cansada? - Não posso negar.
- Tome um comprimido para dormir. - Não, obrigada.
Senhorita Agda, me desculpe por hoje.
- Está doente? - Não, por quê?
Não sei, me parece estranho.
É tão estranho eu pedir desculpas?
- Quer a luz acesa? - Não, obrigado.
Vou deixar aberta.
Não está chovendo.
Obrigada, professor.
Boa noite.
- Srta. Agda? - O que foi?
Nós nos conhecemos há tanto tempo e não somos amigos.
Não podemos nos chamar de Isak e Agda?
- Acho que não. - Por que não?
- Escovou os dentes? - Sim.
Prefiro não ter esse tipo de intimidade.
- Estamos muito bem assim. - Minha cara, já estamos velhos.
Fale pelo senhor. As mulheres gostam de manter a reputação.
O que diriam se começássemos a nos chamar pelos nomes?
- O que diriam? - Iriam nos ridicularizar.
- É sempre tão correta? - Quase sempre.
Na sua idade, devia saber se comportar, não acha?
Boa noite.
Boa noite, professor. Deixarei a porta aberta.
Se precisar de algo, é só chamar. Boa noite.
Estava maravilhoso na cerimônia.
Estamos orgulhosos de conhecê-lo. Já estamos indo.
- Temos carona até Hamburgo. - Anders já se apaixonou.
- Pare com isto. - Só viemos nos despedir.
Adeus e obrigado pela companhia.
Adeus, Dr. Isak. Eu o amo muito.
Hoje, amanhã e sempre.
- Vou me lembrar disso. - Vamos.
- Adeus, professor. - Adeus, Victor.
- Adeus, professor. - Adeus, Anders.
Temos que ir agora.
Mandem notícias.
- Acho que está dormindo. - Evald?
- Sim, papai? - Já chegaram?
O salto do sapato de Marianne quebrou.
É mesmo? Irão ao baile?
Acho que sim.
- Como se sente? - Bem, obrigado.
- E o coração? - Vai bem.
Boa noite, durma bem.
Sente-se aqui um pouco.
Algum problema?
O que acontecerá com você e Marianne?
- Perdoe-me por perguntar. - Não sei.
- Não é da minha conta, mas ... - O quê?
Pedi a ela que fique.
- Sim, mas como vai ... - Não posso viver sem ela.
- Não quer ficar sozinho. - Não posso viver sem ela.
- Entendo. - Ela fará o que quiser.
- E ela quer isto? - Disse que vai pensar, não sei.
- Pensei sobre o empréstimo ... - Pode deixar, devolverei tudo.
- Não foi isso que quis dizer. - Devolverei tudo.
- Como está se sentindo? - Bem.
Quebrei o salto do sapato. O que acha deste?
Muito bonito.
- Obrigado por me acompanhar. - Obrigada ao senhor.
Gosto muito de você, Marianne.
Também gosto do senhor.
Quando fico preocupado ou triste ...
tento relaxar com as lembranças da minha infância.
Foi por isso que fiz essa noite.
Isak, querido, não sobrou nenhum morango.
Titia quer que procure seu pai. Vamos velejar pela ilha.
Já procurei, mas não encontrei nem o papai nem a mamãe.
Vou ajudá-lo.
Venha.