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Olá, bom dia a todos.
Eu gostei da forma como me apresentaram aqui.
Eu nunca tinha sido apresentado dessa forma, mas
ela faz todo sentido, porque a imagem, o olhar, a cidade,
são coisas que foram me interessando ao longo da vida e talvez eu tenha tido a sorte
ou a inteligência de correr atrás das coisas que me interessavam
e elas todas tinham a ver com isso e hoje
estou envolvido em muita coisa que faz diferença.
Mas eu acho que antes de tudo o que me move é o lugar onde eu vivo.
Eu nasci aqui na cidade de São Paulo e eu gosto de me sentir como um paulistano da gema,
que é uma contradição em termos, porque as pessoas chegaram aqui em São Paulo há pouco tempo .
Isso aqui era um vilarejo até meados do século XIX.
Mas eu tenho avós paternos que vieram da Itália e foram trabalhar no campo aqui em São Paulo
e tenho avós maternos que também vieram do campo. Todos vieram para a metrópole.
E talvez isso é que faça um paulistano da gema.
E hoje vindo para cá de trem eu fiquei, comovido é um pouco exagerado, mas eu fiquei bastante sensibilizado
porque esses avós maternos moravam aqui no fim da zona leste.
E eu quando era moleque, adolescente frequentei um pouco essa paisagem aqui.
E aí, aquela coisa, eu fui parar na periferia, na periferia distante daquele tempo
Hoje em dia a periferia que eu morei nem é mais periferia
e com uma vida de perspectiva de tentar arrumar um trabalho digno e que me satisfizesse.
Mas sem muita perspectiva, em colégios públicos etc, que era a norma naquele tempo
E aí diante do dilema do vestibular. - Eu não quero ser médico, nem engenheiro, eu não sei o que eu quero ser.
E aí, tinha que prestar o vestibular e eu falei: Bom, vamos pensar um tempo, ah, então vou fazer filosofia,
filosofia é para pensar, quem sabe eu aprenda a pensar lá, não é.
E aí eu fui parar no curso de filosofia da USP lá na FFLCH e de cara eu vi o meu grande equívoco
porque aquilo ali era uma coisa insana de ler livros em francês, em alemão, em grego e ficar discutindo as vírgulas desses textos
e nada mais longe da vida prática urbana, metropolitana e de periferia do que isso.
Mas um dia, caminhando no que era até os anos 80 o centro nervoso da cidade, era o centro de fato,
onde todas as pessoas de todas os bairros se dirigiam
Enfim, o centro que era o que a gente chama de centro velho hoje
e atravessando o viaduto do Chá, que era obrigatório nesse centro velho
ali cruzavam por dia dois milhões de pessoas, se eu não me engano.
Era uma coisa maluca assim. O tempo todo tomada as duas margens do viaduto do Chá por pessoas
indo e vindo freneticamente.
E aí eu percebi nessa caminhada que propicia muita reflexão
que fazia 6 meses, ou sei lá, fazia um tempo que eu ia ao cinema para assistir um, dois, as vezes três filmes por dia
E eu falei: pô, isso deve ter algum significado.
Não deve ser por acaso que eu estou me envolvendo tanto com essas imagens
E aí no fim do Viaduto, no fim da caminhada me veio a iluminação.
E eu falei: pô, se eu gosto tanto disso eu acho que é isso que eu deveria fazer profissionalmente na vida
E aí, decidi que eu queria me envolver de verdade, profundamente com essa forma de expressão
E aí eu fui batalhar, vestibular é claro, na USP é claro.
Era a única Escola de cinema que tinha naquela época.
E aí eu cursei. Na verdade eu nem entrei no vestibular, mas eu cursei mesmo assim, para ódio dos professores.
E aí, eu tive uma sorte enorme, tão enorme, que, sei lá, se eu fosse religioso eu diria que foi uma bênção de cair em uma turma excepcional.
Em universidade, eu acho que a maioria dos cursos, das carreiras você desenvolve com quem está do seu lado
olhando o mundo de forma parecida e questionando o mundo de forma parecida também.
E essa turma que eu cursei é uma turma que não só hoje é expoente da produção de imagens
e da reflexão de imagens aqui em São Paulo,
como a gente. quase trinta anos depois do curso
a gente colabora muito um com o outro, a gente continua compartilhando essas visões de mundo até hoje.
Mas, imediatamente pisando dentro do curso de cinema.
Então, tinha o lado muito bom, que era a coisa prática,
e essa turma, por ser uma turma muito aguerrida, a gente praticou muito cinema dentro do curso
Então abriu uma perspectiva profissional de ser técnico,
de trabalhar em filmagens ou publicidade, ou televisão,
Mas antes mesmo de pisar em um set de filmagem dentro da universidade
eu já estava preocupado com circulação, com difusão, enfim, com o conhecimento audiovisual
que não era aquele exatamente das aulas
E aí, descobri rapidamente que tinha um cineclube histórico lá dentro da ECA, que estava desativado
chamado Cineclube Luz Vermelha. E aí pedi para fazer programações lá, liberaram,
e eu comecei a programar filmes que eram importantes para a gente
E a gente não tinha muito ocasião de assistir.
E na verdade, na verdade, essa foi a minha formação.
E eu agradeço muito a ela. Pratiquei muito produção de cinema, feitura, o labor cinematográfico
Mas, entendendo e correndo atrás e praticando, que produzir com o resultado disso não circulando
Já foram dez minutos? Não, não foram.
é que faz sentido, é que consegue-se realmente poder modificar uma cena
que é como eu me considero, assim, o que eu faço.
E aí ao longo desses anos todos, além de fazer os meus curtas e documentários
todos eles ou quase todos eles tematizando coisas da cidade que eu achava importantes, que estavam emergindo,
paisagens que eu achava significativas historicamente, afetivamente
eu comecei a atuar criando cenas por curta metragem, que não circulavam e não tinham onde ser exibidos
para o documentário. Isso me levou para festivais, para fazer parte da direção de eventos que atuam nisso
para novas mídias e atualmente estou focado em uma coisa América Latina
fazendo um festival de cinema latino-americano, organizando um laboratório de desenvolvimento de longas.
E, enfim audivisuais latino-americanos etc.
E agora em 2012 vocês, se tiverem interesse, vão poder assistir meus primeiros longas
Um sobre a Tropicália hoje, enfim uma coisa desse tipo de documentário
Mas um que é de paixão, que se chama Augustas,
que é uma história de fição que se passa talvez em um das mais emblemáticas vias dessa cidade,
que é a rua Augusta.
Teve uma época em que a imprensa especializada tinha uma dificuldade em me definir,
porque eu era um cineasta. Certo, eu era um cineasta, mas eu fazia tantas outras coisas
na área de audiovisual. E aí, sei lá, faz uns 15 anos
começaram a me chamar na imprensa de agitador cultural
Era um termo que estava começando a entrar em voga naquela época
Hoje já está um pouco abandonado.
Mas, o mais significativo de tudo, além da minha produção, da minha expressão,
é fazer diferença em uma cena a partir do local onde eu vivo.
É mais ou menos assim que eu me defino.
Eu tenho mais cinco minutos?
Não? Eu vi um cinco aí.
Deu oito agora?
Você mostrou uma placa de dez.
Ah, agora eu tenho sete.
Então, eu vou deixar de conversar com ela e vou conversar com vocês
Ah, então, podemos conversar bem mais sossegados.
Eu já dei conta de todas as informações mais importantes,
mas essa forma de fazer diferença, de tentar modificar para melhor uma cena,
me levou, por exemplo, eu vou contar um momento que deflagrou as coisas
Em meados dos anos 80 eu fiz o meu primeiro curta, meu segundo curta, e não tinha onde passar.
Não existia tvs a cabo, não existia festivais de curta, não existia nada disso
E aí, tinha um museu que funcionava com muitos horários ociosos na época,
que era o Museu da Imagem e do Som, que para aquela altura era muito bem equipado.
Aí eu fui lá no Museu da Imagem e do Som e pedi para organizar uns eventos se ele cedessem os espaços.
Eles cederam, e aí eu comecei a organizar o que é hoje a Mostra de Audiovisual Paulista
que a ideia era exibir no final do ano tudo que se fizesse de curtas metragens
naquela altura em película, em São Paulo.
Porque eu estava abismado que tinha filmes que eram feitos e não tinham uma exibição.
Eu cheguei a achar um caso desses. Um curta que foi feito em 85 e nunca tinha sido exibido em lugar nenhum,
porque não tinha onde exibir.
E aí eu comecei a mapear a produção de São Paulo
E isso me levou, nos anos 90, 2000, a mapear a produção feita por jovens de periferia
em digital, evidentemente, e modificar o conceito do evento para todos os suportes,
formatos, linguagens, que tenham a ver com audiovisual.
Então, não só o que a gente chama de filmes,
mas também video clipes, mas também vinhetas, mas também vídeo instalações,
com um carinho especial pelo que era feito por jovens de periferia.
Através de oficinas, seja o que for.
E aí, o passo seguinte, levar essa exibições
não deixar no Jardim América, apenas,
mas tentar levar inclusive para as periferias.
Isso levou, por exemplo, no final do ano passado
essa Mostra do Audiovisual Paulista a acontecer em 36 locais de São Paulo,
20 deles localizados em bairros periféricos
e alguns em periferia profunda, chamemos assim.
Essa preocupação em acompanhar as novas possibilidades que se abrem
para poder se expressar audiovisualmente foi me levando.
Foi criado um festival internacional de curtas em São Paulo, que é bastante importante no mundo.
É um dos cinco mais importantes do mundo.
E aí, eu estava lá como diretor adjunto e foi criado anos depois o Festival Internacional de Documentários,
"É tudo Verdade", de reputação também planetária.
Eu estava lá como Diretor associado.
Depois foi criado um Festival internacional de mídias móveis e eu estava lá como coordenador executivo,
Sempre tentando trazer, fazer circular uma informação audiovisual de ponta,
para cada um desses momentos.
E hoje eu estou me dedicando bastante a coisa Latino-americana, que eu acho que é absolutamente
necessário para o país.
Enfim, hoje até há tenha cursos em espanhol na Escola,
mas não se circula informação, mesmo jornalística
sobre a América Latina aqui e o que dirá cultural, artística,
enfim, expressões do mundo, olhar para o mundo.
E aí, é isso o que está me movendo hoje.
E eu acho fundamental a gente está além do Festival Latino Americano
além do laboratório, o desenvolvimento de novos projetos
Está ali um germinar de uma coisa de referência de informação do audiovisual de toda a América Latina,
que eu ainda não sei que forma vai ganhar,
mas até o ano que vem a gente vai botar esse circo na rua.
E aí, eu fico muito estimulado, muito animado.
Eu acho muito promissor que hoje, comparado com vinte anos atrás,
tanta gente possa se expressar através de formas audiovisuais.
Hoje até quem cursa jornalismo tem que dominar essa ferramenta,
porque desde a adolescência eu achava que o mundo se comunicava,
e se informaria, se comunicaria e se informaria cada vez mais através da linguagem audiovisual
e modestamente eu pensava: se a nossa informação e a nossa comunicação tende cada vez mais
a se dar através dessa linguagem,
a reflexão sobre esse mundo e expressões e olhares pessoais sobre esse mundo
talvez a linguagem mais adequada não fosse a escrita, já que é um mundo audiovisual,
talvez a forma de refletir e se expressar sobre ele deveria também ser audiovisual.
E aí, não só fico satisfeito em ver que tanta gente,
em tudo quanto é esquina do país de alguma maneira está fazendo
algo utilizando essa linguagem, como fui vendo ao longo da vida,
ainda que timidamente, surgirem ensaios audiovisuais.
Aí, verdadeiramente, não é filme de fição, não é documentário,
não é informação e não é expressão artística.
É ensaio, ensaio teórico, mas feito através de imagens.
Aqui mesmo em São Paulo a gente tem talvez a maior sumidade no pensamento audiovisual do país,
que é o Jean Claude Bernardet, ex-professor da ECA-USP,
e ele cunhou aí uns 3 ensaios audivisuais entre meados dos anos 90 até muito recentemente.
E eu me sinto não só feliz, mas também modestamente um pouco orgulhoso
de ver resultados de ações que eu estive envolvido, que eu tive iniciativa
não importa muito, germinarem e modificarem, fazer agilizar processos,
e sair de uma cena em meados dos anos 80, onde os poucos, eu quase que ia falar produtos,
mas eu não gosto disso,
as poucas expressões audivisuais que eram feitas,
as vezes acontecia de sequer ter como circular,
e ver a cena 15, 20, 25 anos depois
e tão rica e tão variada.
Aí eu falo: bom, esses curtas aí teve um papel
lá atrás que eu estava envolvido.
Esses documentários antes do Festival Internacional e de certos momentos ali dos anos 90
não tinham onde ser exibidos e mal eram feitos
E hoje é uma coisa muito intensa, e assim vai indo.
As mídias móveis e etc.
E no futuro breve, assim espero, estou trabalhando para isso.
A gente vai ter acesso a tanta expressão, a tanta forma audiovisual da América Latina,
que vai ser um momento de antes e depois,
E agora chegamos ao fim.
Obrigada pela paciência e pela atenção. Um bom dia para vocês
(Aplausos)