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- Sim? - Thomas, escute.
- Francine. - Escute.
Às vezes a vida clama por uma mudança.
Uma transição.
Como... como as estações.
Nossa primavera foi... foi maravilhosa,
mas o verão acabou agora e deixamos passar o outono.
E agora, de repente, está frio, tão frio que tudo está... tudo está congelando.
Nosso amor adormeceu e a neve pegou-o de surpresa.
Mas se você adormece na neve, você não sente a morte chegando.
Cuide-se...
Deixe-me sair! Por favor...
Francine... Lembro-me exatamente. Era 15 de maio.
A primavera demorava a chegar, nuvens de chuva se formavam e você gritava.
Por favor, Bruno... Bruno, por favor!
Eu não aguento mais! Alguém pode me ouvir?
Eu te ouço.
- Quem é Bruno? - Estou ensaiando, não vê?
Sei disso, desculpe.
Não... não, desculpe-me.
Você é uma atriz?
Estou tentando ser. Tenho uma audição hoje.
- No conservatório? - Sim.
Que tipo de cena foi essa?
É desse filme muito ruim que eu fiz uma vez, é meu único filme até agora.
Sou uma prostituta que é golpeada e violentada por seu gigolô
e ele a tranca numa cela escura o dia todo e ela fica louca...
Mas no final eles ainda se casam.
Um gigolô e uma prostituta...
- Droga! São dez horas? - E...?
- Eu tenho que estar lá às dez horas. - Conheço um atalho, vamos!
- Espera! Espera! - Por aqui.
- Tem certeza? - Reto.
- Isso foi rápido, obrigada! - Boa sorte.
E, claro, eles te aceitaram.
Você se mudou de Boston a Paris
para um pequeno apartamento na Rue du Faubourg Saint-Denis.
Eu te mostrei nosso bairro, meus bares, minha escola.
Eu te apresentei aos meus amigos, meus pais.
Eu escutei os texto que você repetia,
seu canto, suas esperanças, seus desejos, sua música.
E você escutou a minha. Meu italiano, meu alemão, um pouco de russo.
Eu te dei um walkman, você me deu um travesseiro.
E um dia, você me beijou.
O tempo passou, o tempo voou e tudo parecia tão fácil,
tão simples, livre, tão novo, tão único.
Nós fomos ao cinema, fomos dançar,
fazer compras, nós rimos, você chorou, nós nadamos, fumamos, raspamos.
De vez em quando você gritava sem razão, às vezes com razão.
Sim, às vezes com razão.
Eu te acompanhei ao conservatório, estudei para os meus exames,
escutei seu canto, suas esperanças, seus desejos, sua música.
E você escutou a minha. Estávamos próximos,
muito próximos, cada vez mais próximos.
Nós fomos ao cinema, nós nadamos, rimos juntos.
Você gritava, às vezes com razão, às vezes sem razão.
O tempo passou, o tempo voou.
Eu te acompanhei ao conservatório, estudei para os meus exames,
você me ouviu falar italiano, alemão, russo, francês.
Eu estudei para os meus exames, você gritava, às vezes com razão.
O tempo passou, sem razão. Você gritava, sem razão.
Eu estudei para os meus exames, os exames, os exames, os exames...
O tempo passou, você gritava. Você gritava, você gritava...
Eu fui ao cinema.
Bruno, estou morrendo aqui dentro, ouviu? Estou morrendo!
Abre! Alguém pode me ouvir?
Perdoe-me, Francine...
- Sim? - Ei, o que aconteceu? Caiu de repende.
Você desligou? Está tão ruim assim?
- Thomas... Ainda está bravo por ontem? - Não.
Certo, então me diga, deu para acreditar?
Entendo... Droga. Não funciona assim, né?
Como você pode dizer:
"nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão acabou"
sem parecer completamente melodramático?
Como o diretor gostar, tenho que achar um jeito.
Thomas, você está me ouvindo?
Não. Eu vejo você.