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É permitida e promovida
a cópia, modificação, adaptação,
tradução e exibição pública deste filme
para fins não lucrativos.
Este filme é o resumo de uma aprendizagem que continua
permanentemente e sob nenhuma circunstância,
deve ser considerado conclusivo.
As pessoas apresentadas neste filme têm ideias e opiniões diversas,
a sua aparição não expressa necessariamente conformidade
com todo o conteúdo do mesmo.
Co-produtores
A todas as crianças e jovens que querem crescer em liberdade.
Sempre me lembro de uma aula de filosofia
onde o professor nos contou esta história...
Numa caverna havia um grupo de homens,
prisioneiros desde que haviam nascido,
acorrentados de tal forma
que só podiam olhar para o fundo da gruta.
Uma fogueira e figuras manipuladas por outros homens
projetavam na parede todo tipo de sombras.
Para os prisioneiros
as sombras eram a única referência do mundo exterior.
Estas sombras eram o seu mundo, a sua realidade...
Um dos prisioneiros era liberado e lhe permitiam
ver a realidade inteira fora da caverna.
Quanto tempo ia lhe tomar acostumar-se ao exterior
depois de toda uma vida de confinamento?
Possivelmente a sua reação seria de um profundo temor à realidade...
Poderia entender o que é uma árvore, o mar, o sol?
Assumamos que este homem pode ver a realidade tal qual ela é
e entender o grande engano que era a caverna...
O professor
nos explicou brevemente as interpretações do mito
em relação ao conhecimento, à ilusão, à realidade,
e como possivelmente estamos dentro de uma grande caverna,
que por sua vez está dentro de outra...
Mas não há dúvida, da necessidade desse homem livre,
de voltar e compartilhar com o mundo o que tinha visto...
"A Educação PROIBIDA"
Bem, e é assim como na sua 11ª tese que ele chega à ideia
de que o filósofo não só tem que entender a realidade,
mas também tem que conseguir transformá-la.
Meios de comunicação, milhares de livros,
todos os discursos políticos,
organismos internacionais,
especialistas, filósofos, páginas de internet.
Todos coincidem na importância que tem a educação.
Investe-se em capacitações,
melhorias na infra-estrutura, investigações,
compram-se livros, notebooks, lousas digitais.
Dão-se cursos, sobem salários, descem salários,
imitam-se modelos estrangeiros.
Tudo para melhorar a educação.
Isto não impede que existam
tantas escolas quanto realidades sociais.
Escolas marginais, para pobres, escolas depósito,
escola de operários,
profissionais, escolas de classe média,
escolas públicas e privadas,
escolas para ricos, escolas da elite.
Grande parte delas pretende incluir
e conter a maior quantidade de estudantes,
muitas outras ocupam-se em formar
trabalhadores de diferentes hierarquias,
e só umas poucas se dedicam aos supostos resultados de excelência.
Além das suas diferenças,
todas trabalham e aspiram a um ideal de escola comum...
Até que ponto esta escola ideal nos ajuda
a desenvolver-nos individual e coletivamente?
Realmente este paradigma educacional procura
que as pessoas tenham uma boa qualidade de vida
e trabalhem para melhorar a sua comunidade?
Há outro tipo de escola que o consiga?
Há alguma educação pensada com estes ideais?
Isto nos levou a abrir as portas de um mundo
oculto para muitos de nós...
Este filme é parte de um processo que possivelmente não tenha fim,
uma pergunta que seguramente não tem resposta,
uma pesquisa sobre qual
é a natureza da aprendizagem e da educação,
que erros cometemos,
e principalmente que ideias são úteis para continuar procurando,
continuar aprendendo...
Bem, acho que o que a Alicia quer,
o que a diretora quer é simplesmente estar de acordo,
entrar em consenso para ver o que é que vai ser dito,
é um ato do colégio, o colégio tem que saber o que é que vai ser dito.
Claro, claro.
Javier, e como ficamos?
Bem, eu proponho à turma como um exercício, que escrevam um texto,
contando-nos qual é o balanço desses anos na escola, é isso.
"Muito pouco do que se passa na nossa escola é realmente importante."
"Nos ensinam a estar longe uns dos outros e a competir."
"Pais e professores não nos escutam."
"Por tudo isso dizemos: chega!"
"A educação está proibida."
"Se você busca resultados
diferentes, não faça sempre a mesma coisa"
O estudante não aprende depois de 12 anos a ler compreensivamente,
não aprende as operações matemáticas,
não aprende... enfim, aprende muito pouco...
O que é que faz que o estudante fracasse na escola?
E o convencimento se dá pela comprovação
de que não é o estudante quem fracassa,
é o sistema que está mal projetado.
É que as reformas educacionais atuais
em voga em muitas partes, estão mal enfocadas.
São arranjos cosméticos do que nós
pensamos que devemos melhorar na escola,
o problema está no modo
como concebemos paradigmaticamente a escola,
é um problema de concepção básica.
As escolas e os colégios da América Latina
são apenas espaços de tédio e desinteresse.
E eu sempre os convido para que passemos pelos colégios
para que vejamos uma caricatura que deve ser rompida...
e é o professor em um quadro *** dando aulas,
em pleno século XXI, isso não tem sentido.
É uma matéria estática,
uma matéria que não tem movimento,
uma matéria que diz somente palavras.
MAÇANTE
Eu sou o adulto, sou eu quem vai dar a vocês esta informação.
Isso tem que ser aprendido assim como está.
Porque é assim.
Vocês são as crianças, têm que se calar e obedecer.
Silêncio!
Cale-se, que você nunca sabe nada!
Não buscam, por assim dizer,
outro desenvolvimento
a não ser o desenvolvimento curricular.
Estão muito focados nos próprios conteúdos.
Quem não aprende a ler, escrever e calcular, então não está educado.
Porque somente se enfoca o trabalho em
algumas capacidades, em algumas áreas.
SÓ IMPORTAM OS CONHECIMENTOS FORMAIS
O conhecimento atual está
fragmentado, porque a visão é parcial.
Nós dizemos que nas escolas
convencionais a aprendizagem é preventiva.
"Senhora, para que serve isso?"
e a professora lhe diz:
"Ah, algum dia você poderá necessitá-lo"
Mas temos visto que esses conhecimentos
não duram nem prevalecem durante muito tempo.
Hoje em dia, os paradigmas estão mudando muito rapidamente.
O conhecimento está mudando permanentemente.
Então, o que aconteceu foi que
os sistemas educacionais
não têm mudado tão rapidamente quanto o resto da sociedade.
É aí que está o problema de fundo.
Nas escolas normais e nas faculdades
de educação nos disseram que
um objetivo é aquele que é
mensurável, quantificável e observável.
Então, começamos a buscar a regra
que nos permita medir os objetivos.
E a isso chamaram de qualificações.
Seja um A, uma carinha feliz ou uma triste.
Mas a lógica sempre será a mesma: comparar.
Comparar o sujeito, suas aprendizagens.
Frente a uma escala padrão que mede o quê?
Se cada sujeito é único, singular e irrepetível.
Busca que um número defina,
inclusive, a qualidade de pessoa que você é.
Então, por exemplo, crio conflitos cognitivos.
"Vamos ver quem é o primeiro que realiza..."
Com o qual uns são ganhadores e os outros são perdedores.
Cada vez que existem perdedores, há alguém que se sente feio, é óbvio.
Estimula-se muito as crianças a competir entre elas.
Os melhores alunos têm reconhecimentos, têm prêmios.
Chama-se a atenção daquelas crianças que não vão bem nos exames.
Em muitos casos, nem sequer são levadas em conta.
Todo mundo fala de paz, mas ninguém educa para a paz.
As pessoas educam para a competição
e a competição é o princípio de qualquer guerra.
Em teoria, todas as leis de educação nos falam
de objetivos de
desenvolvimentos humanos profundos,
valores humanos, cooperação, comunidade, solidariedade, igualdade,
liberdade, paz, felicidade e se enchem de palavras bonitas.
A realidade é que a estrutura básica do sistema,
promove justamente os valores opostos
a concorrência, o individualismo, a discriminação,
o condicionamento,
a violência emocional, o materialismo.
Qualquer ideia que se promova a partir do discurso
é incoerente com o que a estrutura sustenta.
Bem, apesar de que a escola
teoriza e discute sobre princípios e valores,
os discute como conteúdos.
Se eu venho de um paradigma fragmentado,
onde o que me interessa é ensinar história,
vou ver quanto de história este sujeito sabe depois que
eu lhe fale de história e o faça ler um livro de história.
E para mim esse sujeito terminou, não tem mais nada a ver comigo,
se esse sujeito sofre ou não,
vem de boa família ou não, tem dinheiro ou não.
Para o professor tradicional,
o mais fácil é continuar fazendo o que fez durante muitos anos.
Você quer ser um medíocre para toda a sua vida?
Ou o que tem aprendido por tradição.
Você já não é mais uma criança do segundo grau.
Então, o ensinar se converte simplesmente
num processo de reprodução simbólica.
Não quero que voe uma mosca.
Na Argentina, a imensa maioria das crianças neste momento diz:
"Que chato! Hoje é segunda e tenho que ir outra vez à essa escola!"
Mas isso não é o pior, a imensa maioria
dos docentes na Argentina diz o mesmo.
Eu acredito que os professores atuais são filhos de um sistema.
Não é que o professor nasça
ou queira ser professor para ser bom ou mau.
É o que o Estado lhe permite.
Chega, vão ficar sem recreio!
Ah, não, não me diga que você tem problemas em casa.
FAZEMOS O QUE PODEMOS
Como faço para educar a emoção destas crianças se no meu curso
de formação docente nunca me
falaram uma palavra sobre as emoções?
Se continuarem falando, eu vou separar vocês, hein!
OS SENTIMENTOS NÃO TÊM IMPORTÂNCIA?
Não quero que vá à escola para perder tempo,
não quero que vá passar um mau momento.
Neste momento, um garoto de 8 anos passa na escola
mais horas que um universitário na universidade
não tem sentido algum,
não há tantos conhecimentos para aprender na escola.
A escola então não é nem sequer o lugar de formação.
É uma grande creche ou, como eu chamo,
um grande estacionamento de crianças.
Penso que são cárceres. Penso que é um horror.
Pensar que se tenha que confinar as crianças,
que deva haver guardas vigiando-as para que não fujam.
E, então, cada vez as confinamos mais.
Cada vez lhes colocamos muros mais altos.
Os muros podem ser de tijolos ou de árvores.
Mas, de qualquer forma, são muros que isolam, que separam.
Quero que a escola seja para ele um espaço de crescimento pessoal,
e não um lugar onde o adestram para um futuro ensino médio,
e depois para uma universidade e depois para o trabalho,
e depois, para quê?
Mas é muito mais fácil dizer: "Agora, calem a boca,
agora, abram o caderno,
agora, peguem o lápis vermelho..."
O qual é um adestramento canino,
isso não é educação.
Sim...bem, na verdade, o que eles me dizem
é que este texto eles pensavam lê-lo na comemoração.
É um esboço.
Não é um esboço, não, vamos lê-lo assim como está.
Não, Martín, aqui há palavras muito ofensivas.
Não podem nos atacar gratuitamente.
Bem, se se sentem atacados, será por algum motivo. Ou não?
Bem, para um pouco.
Alicia, o que fizemos foi simplesmente cumprir
uma tarefa que o professor nos deu.
Alicia, por isso digo, é um esboço. Eles vão suavizar este texto.
Não vamos suavizá-lo, vamos lê-lo assim como está...
Martín!
- Não vamos suavizá-lo. - Não!
Martín, assim como está é uma falta de respeito.
Me desculpa.
Me esqueci que dizer o que se pensa é faltar o respeito.
"Nosso problema para a a compreensão da escolarização
obrigatória tem sua origem num fato inoportuno:
o dano que faz desde uma perspectiva humana,
é um bem desde uma perspectiva do sistema."
Isso quase não se sabe, mas a educação
pública, gratuita e obrigatória
foi inventada em algum momento da história.
Antes não existia.
A educação na antiguidade se distanciava muito
do que hoje entendemos por educação.
Na Atenas Clássica, por exemplo, não havia escolas,
as primeiras academias de Platão
eram espaços de reflexão, conversação e experimentação livre.
A instrução obrigatória era coisa dos escravos.
Por outro lado, a educação em Esparta
era mais parecida a uma instrução militar.
O estado se desfazia daqueles
que não alcançavam os níveis esperados.
Havia aulas obrigatórias, fortes castigos
e modelagem da conduta através da dor e do sofrimento.
Antigamente, a educação estava nas mãos da igreja católica,
pelo menos no mundo cristão ocidental.
E foi recentemente,
no século XVIII, em uma época da história
que se chama Despotismo Esclarecido,
com certeza ouviram isso no colégio,
que se criou o conceito de educação
pública, gratuita e obrigatória.
A escola, como hoje a conhecemos,
nasce no fim do século XVIII
e começo do século XIX na Prússia.
Com o objetivo de evitar
as revoluções que ocorriam na França,
os monarcas incluíram alguns princípios do Iluminismo
para satisfazer o povo,
mas mantendo o regime absolutista.
A escola prussiana se baseava na forte divisão de classes e castas.
Sua estrutura, herdeira do modelo Espartano, fomentava a disciplina
a obediência e o regime autoritário.
O que buscavam estes déspotas esclarecidos?
Um povo dócil, obediente
e que pudesse se preparar para as guerras
que houve nessa época entre todas as nações
que estavam nascendo.
Por exemplo, Catarina a Grande, da Rússia,
chamou os enciclopedistas
franceses para preparar isso mesmo.
Diderot, um dos mais famosos, esteve lá para armar este
pacote formador não de cidadãos, mas de
obedientes súditos desses estados.
As notícias do bem sucedido modelo educacional viajaram rápido,
e, em poucos anos,
educadores das Américas e Europa visitavam a Prússia para se capacitar.
Com o passar do tempo,
o modelo se expandiu internacionalmente.
Muitos países importaram a escola moderna
com o discurso de acesso à educação para todos,
elevando a bandeira da igualdade,
quando justamente a própria essência do sistema
provinha do despotismo, buscando perpetuar
modelos elitistas e a divisão de classes.
Essa é a origem da educação pública.
Vejam que Napoleão,
um pouco depois,
e inimigo jurado de todos estes déspotas, fez a mesma coisa.
Ele dizia com todas as letras:
"Eu quero formar
um corpo docente
para poder dirigir a opinião dos franceses".
Dá para entender? Ele tinha as coisas claras e isso opera assim,
saiba-se ou não, até os dias de hoje.
A escola nasce num mundo positivista
regido por uma economia industrial,
portanto, busca obter os maiores resultados observáveis
com o menor esforço e investimento possível,
aplicando fórmulas científicas e leis gerais.
A escola era a resposta ideal à necessidade de trabalhadores,
e os mesmos empresários industriais do século XIX
foram os que financiaram a escolarização obrigatória
através de suas fundações.
Onde coloco os filhos dessas pessoas para que possam trabalhar?
Como educamos para que aprendam a ler?
Como criamos operários inteligentes?
A educação continua sendo a mesma, uma ferramenta
para formar trabalhadores úteis ao sistema
e uma ferramenta útil para que a cultura
permaneça sempre igual e sempre se repita.
O que significa conservar a estrutura atual da sociedade.
A escola se complementou
com pesquisas sobre o controle da conduta,
propostas de utopias sociais e até teorias de superioridade racial.
Não é de se estranhar que os primeiros
estados com o sistema prussiano, ou similar,
foram, com o passar das gerações,
focos de xenofobia e nacionalismo extremos.
O modelo de produção industrial
em linha de montagem era perfeito para a escola.
A educação de uma criança
era comparável à manufatura de um produto,
portanto, requeria uma série de passos determinados
numa ordem específica,
separando as crianças por gerações em graus escolares.
e, em cada uma dessas etapas,
trabalharia sobre determinados elementos,
conteúdos que assegurariam o sucesso,
pensados minuciosamente por um especialista.
Digamos que o professor é a figura que é a encarregada
de ensinar uma série de conteúdos que condizem,
porque alguém determinou assim, com uma idade determinada.
Mas a educação não é preparada por biólogos,
e, curiosamente, muitas vezes também não são educadores que a preparam,
são administradores,
são pessoas que não dão aulas.
Nesta linha, uma pessoa
estaria a cargo de uma pequena parte do processo,
insuficiente tanto para conhecer o mecanismo
na sua totalidade quanto as pessoas em profundidade.
Um docente por ano, por matéria, a cada 30 ou 40 alunos,
chegando ao ponto de que
o processo acabe sendo meramente mecânico.
A educação como estamos vendo hoje é administrativa,
há alunos que chegam, professores que dão aula,
alunos que se vão, professores
que se vão e, no dia seguinte, repete-se o ciclo.
Um professor estatal é um funcionário.
A quem a autoridade diz:
"O senhor tem que ensinar isto, isto e isto, e desta forma".
Porque tem que ser repetido a demasiadas crianças
com um professor com demasiadas horas de aula
e com poucas horas de atenção ao aluno de forma particular.
Então, vai dirigir-se sempre a um grupo coletivo.
Porque, evidentemente, se eu tenho 30 crianças
não posso pretender que todas elas
queiram fazer a mesma coisa ao mesmo tempo.
Este sistema de linha de montagem,
que nasce com o Taylorismo, foi aplicado tanto na indústria,
na escola e no exército de
diferentes países e culturas do Ocidente.
Até poucas décadas atrás, a escola tinha estas coisas de quartel e de asilo,
inclusive o recreio termina com um sinal anônimo, não humano,
que indica às crianças que devem se adestrar, pouco a pouco
para parar num determinado lugar
atrás de determinada cabeça,
para formar uma fila, geralmente do menor ao maior.
Durante os últimos séculos, temos construído nossas escolas
à imagem e semelhança das prisões e das fábricas,
priorizando o cumprimento das regras, o controle social.
A escola foi pensada como uma fábrica de
cidadãos obedientes, consumistas e eficazes,
onde, pouco a pouco, pessoas
se convertem em números, qualificações e estatísticas.
As exigências e pressões do sistema acabam desumanizando a todos,
porque vão além dos professores, diretores ou inspetores escolares.
São considerados como grupos homogêneos,
com conteúdos homogêneos que tem que obter resultados iguais.
Que todos temos que saber o mesmo.
Apesar de que nós, adultos, não sabemos todos a mesma coisa,
apesar de que não nos dedicamos todos à mesma coisa.
Nas escolas, todos têm que
querer fazer a mesma coisa e têm que fazê-la igualmente bem.
Então, a escola tem pouca capacidade
de responder às necessidades individuais,
porque a escola instrui, é um centro de instrução e é o que faz.
Quem não aprende, fica. Essa é a realidade.
Isso, de alguma maneira, implica
em que o sistema educacional é um sistema de exclusão social:
seleciona o tipo de pessoas que irão à universidade
para chegar a fazer parte de uma elite
que domina as empresas, que domina os sistemas de
produção, econômico, de comunicação, etc.
E outro tipo de pessoas,
para as quais a escola não é suficientemente adequada,
que estão destinadas a outro tipo de trabalho mais precário,
porque não vão dispor dos diplomas para fazer isto.
Ao sistema e aos estados,
não lhes preocupa isso,
honestamente, não lhes preocupa o ser humano
enquanto pessoa, enquanto indivíduo.
E, nestes termos, toda a educação
que busque outra coisa tem que ser proibida.
A realidade é que a essência da escola prussiana
está imersa na própria estrutura da nossa escola.
Os exames padronizados,
a divisão de idades, as aulas obrigatórias,
os currículos desvinculados da realidade,
o sistema de qualificações,
as pressões sobre os professores e crianças,
o sistema de prêmios e castigos,
os horários estritos, o claustro e a separação da comunidade,
a estrutura vertical.
Tudo isso continua fazendo parte das escolas do século XXI.
A escola está fechada ao mundo exterior.
Te explicava o título do meu livro:
"Do mapa escolar ao território educacional",
para indicar essa fábula do
cartógrafo que conta Borges
que começa a fazer um mapa de um território determinado
e se entusiasma para fazê-lo o mais perfeito possível.
O mapa acaba substituindo o território.
Então, hoje em dia, a escola se fechou, se meteu dentro do mapa.
O que se ensina? Verdades que estão no mapa, não no território.
Escola não é sinônimo de educação.
A escola pode ser um velho mapa da sabedoria.
Mas a educação é o território onde todo o aprendizado acontece.
O que é uma boa educação?
Conseguir que a maior quantidade de crianças
atravesse os padrões de qualidade?
Que obtenham ferramentas
e conhecimentos que não lhes interessam
para superar barreiras que outros lhes impõem?
Não era o objetivo da educação alcançar uma boa qualidade de vida?
Esqueçamos, por um momento, tudo o que sabemos sobre educação,
toda nossa forma de entender a escola,
tudo que nos disseram que devemos aprender na vida
e o que devemos ensinar aos nossos filhos.
Começar a ver cada coisa,
a revisá-la como se nunca a tivéssemos visto.
Ou seja, cada ação, cada atitude, cada costume.
Se não estivéssemos fazendo as coisas como
as estamos fazendo, porque sempre as fizemos assim,
como as faríamos hoje?
Não? É como balançar a cabeça e dizer, bom,
começamos de novo.
Comecemos de novo.
Vejam, vocês têm que entender que o discurso que
escreveram é algo que pode incomodar muita gente.
Bom, está bem, mas se é o que sentimos e o escrevemos assim,
por que não podemos lê-lo assim?
São nossas palavras, o que pensamos, qual é o problema?
Se faz responsável pelo que escrevemos aí.
Não, não, não, para, para, para.
Para, para, para um pouco, Martín, porque eu te conheço.
Te incomoda tudo nesta escola, eu te incomodo,
te incomodam os professores. Te conheço bem.
Não, você não me conhece.
- Sim, eu te conheço. - Não, não me conhece.
“Não me sigam, sigam a criança”
Nos não queremos ensinadores, queremos educadores.
Isso é fácil. O que é dificil é
ajudar a produzir
o desenvolvimento normal de uma pessoa.
Se eu quero fazer isso tenho
que conhecer o ser humano intrínseco,
Que potencialidades traz?
Em que idades traz quais potencialidades?
Como aprendem as crianças?
Mas, mas, não segue a criança. Não está observando a criança.
Não conhece realmente a criança, cada uma particularmente.
Mas conhece muito a teoria.
Então, é como um adulto que sabe o que deve fazer a criança,
mas está cego, um pouco, sobre a realidade.
Quer dizer, o centro dessa educação é a criança.
Então, ela é pensada a partir de quais são suas necessidades.
E não desde quais são as nossas necessidades como adultos.
As crianças desde que nascem, nascem com essa capacidade de criar,
são criativas, observadoras e curiosas.
E na escola podem acontecer duas coisas:
Que o processo seja acompanhado e se propiciem atividades para
desenvolver essa capacidade ou que seja frustrada.
De fato, poderíamos dizer que o ser humano tende a aprender.
Inclusive podemos dizer mais ainda: não é mérito nenhum
do ser humano aprender.
Eu diria mais: é que não pode não aprender.
Você o vê. O tempo todo está te perguntando
"E isto por quê? E isto por quê?".
Não é que alguém tenha que lhe proporcionar a vontade
de perguntar, ele a tem na sua essência.
Basta que tenha órgãos sensoriais e perceba, não é verdade?
Basta que tenha seu cérebro
e pense, raciocine e imagine, crie e fantasie.
Mas na escola consegue-se apenas silenciá-lo.
Assim, se prestar atenção, cada vez, à medida que crescem as crianças,
vão perdendo sua curiosidade e seu desejo de aprender.
Uma criança com 12 anos
dificilmente quando sai da escola pega um livro.
É a minoria que faz isso.
Por quê? Porque está cansado, está totalmente cansado
de que lhe digam o que deve e o que não deve fazer,
e já perdeu toda a curiosidade de aprender.
A mente da criança tem qualidades de aprendizagem
qualitativamente superiores à dos adultos,
porque está naturalmente desenvolvida
para perceber o que lhe é apresentado
e, com isso, cria sua mente, constrói a si mesma.
Em poucos anos, aprende a controlar seu corpo,
pode comunicar-se em
vários idiomas, compreende as regras
da natureza e as características da sua cultura.
Todo este complexo e maravilhoso processo,
se dá de maneira inconsciente.
Aprende sem muito esforço por conta própria.
Das coisas que aprendemos na escola,
inclusive quando na escola aprendíamos muitas coisas,
há muito poucas que precisamos na vida cotidiana.
É possível que a escola seja conveniente,
eu não acredito que a escola seja necessária.
Acredito que pode ser, na melhor das opções, muito conveniente para
a sociedade, mas podemos prescindir dela.
Porque podemos viver sem saber logaritmos,
mas não podemos viver sem
saber como relacionar-se com outras pessoas,
ou sem saber caminhar, ou sem saber usar ferramentas.
Todas essas coisas as crianças aprendem brincando.
As crianças, desde que nascem,
têm a habilidade de construir a si mesmas,
aprendendo com o que encontram à sua volta,
através de brincar e explorar o mundo.
As crianças absorvem cultura,
as crianças absorvem a cultura dos pais,
e isso se vê inclusive na linguagem.
Está no contexto cultural humano,
os números, as letras e as palavras; então elas os aprendem.
Da mesma forma que aprendem a andar, porque há adultos que andam.
Quer dizer, quando um ser humano nasce,
sua biologia não o obriga a ser humano.
Precisa nascer em um entorno humano.
Tudo o que nos rodeia,
influi tremendamente em nossa aprendizagem.
Os espaços, os tempos, as atitudes das nossas famílias.
As emoções, os gostos, as crenças.
Tudo é parte desse ambiente
com o qual construímos a nós mesmos.
A pergunta então é:
Que ambiente estamos oferecendo às crianças,
para que os adultos se desenvolvam dessa maneira?
Porque a criança entra, e entra em um meio dogmático.
"Sente-se aqui", "Fique 6h ou 7h sentado nessa fila". Que horrível!
Se estamos numa família onde essa rede de afetos é
extremamente fraca, os níveis de agressão são muito altos,
de violência, a criança vai ser
uma criança provavelmente muito violenta.
Não é certeza que vai ser violenta, não estou dizendo isso,
mas, sim, estamos falando que
em contextos violentos, a violência se reproduz facilmente.
A criança vai dar o que recebe.
Então, por isso temos que conseguir relações muito
mais amorosas, muito mais profundas nas aulas.
Estudos indicam que, atualmente, na idade de 5 anos,
98% das crianças poderiam ser consideradas gênios.
São curiosas, criativas, e têm a habilidade de pensar
de formas diversas, resolver problemas,
quer dizer, têm a mente aberta.
O problema é que, 15 anos mais tarde
só 10% dessas crianças
mantêm essas capacidades.
Ou seja, de alguma forma, estou dizendo que desde além da mente,
desde o mundo da consciência, todos somos gênios.
E, realmente, o que o professor tem que aprender é que seus alunos
possam abrir as portas de suas mentes
para que desça todo esse conhecimento
e essa criatividade e essa genialidade que todos temos dentro.
Se olharmos os grandes homens e mulheres da humanidade,
todos têm sido grandes sonhadores,
quer dizer que tiveram uma imaginação enorme.
Como seres humanos, somos o resultado de milhares
de anos de adaptação natural e evolução.
Trazemos dentro aquelas características que nos
têm permitido sobreviver, transformar-nos e crescer.
Desde a vontade de comer quando temos fome,
até a curiosidade interna das crianças de explorar o mundo.
Este potencial está esperando que lhe permitamos manifestar-se.
Nas crianças, o vemos nas brincadeiras espontâneas,
nos adolescentes de hoje através da rebeldia
e da necessidade de transformar a realidade.
Por que insistimos em matar
sua espontaneidade e castigar sua rebeldia?
Quando são estas as características que manifestam
suas necessidades humanas internas de desenvolver-se?
A criança tem um professor interior, principalmente nos primeiros anos,
que a impulsiona a aprender, que a impulsiona a descobrir,
que a impulsiona ao movimento,
que a impulsiona a participar,
a trabalhar, a repetir comportamentos,
que a impulsiona a decidir quando
quer deixar de repetir algo porque já o superou.
Observando como agem as crianças, descobrimos que
usam todos os critérios de um investigador verdadeiro,
exatamente os mesmos. É claro que existem distintos níveis
de complexidade, não é verdade?
Mas não há criança que não seja sistemática na observação,
não há uma menininha pequena que esteja observando
e que não produza experimentos.
Como podemos fazer para que sejam mais criativas? Elas já são.
A única coisa que temos que fazer é oferecer-lhes
as possibilidades para que possam expressar-se
de diferentes maneiras.
Se continuarem a fazê-lo, amanhã serão cientistas,
amanhã serão artistas.
Tem que deixá-las.
Chega, já deu Martín, não faz falta,
vamos ver, o que você ganha com isto?
Eles apresentam o assunto das notas, por exemplo.
Dizem que somente nos importa a nota final.
Que não nos importa se estudam ou não, se aprendem ou não.
Vamos, Martín.
Chega, tá bom, o que ganho? Faço a minha vontade.
Por que é tão teimoso?
E, mais ainda, de alguma maneira estamos
fazendo com que compitam entre eles por isso.
Você também pensa assim?
Olha, acho que não é uma
colocação tão equivocada, tão errada.
Evidentemente, alguma coisa
da estrutura da escola não lhes faz bem.
Olha, Javier, eu acho que o que faz mal a eles é a sociedade.
E com a sociedade que temos, o melhor que
pode lhes acontecer é vir à escola, não acha?
- Esta bem, mais isto é bastante forte. - Eu sei, mas...
- Desculpem! - Sim.
Aqui está tudo o que aprendi em cinco anos de escola.
Sabem o que vai acontecer com isto?
Eu vou esquecer tudo.
Pior ainda.
Já me esqueci.
"Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las"
Então, a educação nasce assim, colocar mais informação
porque achamos que essa informação é necessária.
A pergunta que eu me faço é:
Quanto nos lembramos
daquilo que nos ensinaram na educação básica, por exemplo?
Quanto nos lembramos do conteúdo ensinado no Ensino Médio?
É que a maneira pela qual
é apresentado, não motiva ninguém.
E o estudante acredita que
a única coisa que tem que fazer é repetir, repetir, repetir
até que tudo seja enfiado na cabeça.
Repitam, vejamos
"Actínio, Ac, 3, metal,
"Actínio, Ac, 3, metal"
Vejamos.
Quando eu repito, quando eu repito
alguma coisa que me dizem que devo repetir,
simplesmente me transformo num repetidor.
"Ácido desoxirribonucleico,
ácido desoxirribonucleico,
ácido desoxirribonucleico".
Compreenda ou não compreenda não interessa, porque o que importa
é que eu diga da mesma maneira o que foi dito.
"Ácido desoxirribonucleico,
ácido desoxirribonucleico".
Se eu exijo de uma criança mais do que ela pode dar,
começo a gerar estresse nessa criança.
"Ácido desoxirribonucleico,
ácido desoxirribonucleico,
ácido desoxirribonucleico".
Aprender se converte num processo maçante,
num processo difícil,
e deixo de aprender.
Tudo o que você possa aprender na escola no dia a dia,
passa a 2º plano, se não faz parte
da tua decisão, se não faz parte da tua opção.
São conhecimentos frios,
são palavras que podem se perder com o tempo.
A informação ou o saber podemos armazená-los
no nosso cérebro, num livro ou num computador.
Mas a compreensão é uma
ferramenta em constante crescimento,
com características únicas que variam segundo cada pessoa,
implica criar e estabelecer relações entre critérios,
e assim, resolver problemas e construir novos conhecimentos.
As crianças não eram
autômatas que simplesmente copiavam
ou repetiam as coisas porque sim, mas realmente havia,
havia como mais consciência
da parte delas, do que estavam fazendo.
Esse conceito vai entrar nela, vai assumi-la de uma maneira
relacionada com a sua vivência.
Se não se desfruta da aprendizagem, não existe aprendizagem autêntica.
E, sobretudo, a genialidade
que cada um leva dentro não pode se manifestar,
e não pode enriquecer o resto da classe, nem o próprio professor.
A aprendizagem profunda só pode estar embasada
no interesse, na vontade, na curiosidade,
e se origina além das fronteiras da razão.
É muito mais que analisar ou relacionar conceitos.
Aprender implica num processo profundo
onde se criam relações entre a pessoa e seu entorno.
Porque existe um principio que também é utilizado pela neurociência:
"O que o cérebro humano mais gosta é conhecer,
mas quando conhece com felicidade, gozo e prazer, que é o aspecto lúdico."
Temos partido do cérebro emocional para ir ao cérebro lógico,
e essa lógica é válida, é boa, é mais completa.
Existe algo maravilhoso em ver o momento do descobrimento,
que é o momento da aprendizagem.
Essa criança não se esquece nunca mais
quando chegou a entender o porquê.
Antigamente, o conhecimento só podia ser
encontrado nas bibliotecas ou universidades,
ter acesso era vital para a aprendizagem.
Hoje, o livre acesso
à informação, as bibliotecas virtuais,
a construção coletiva do conhecimento,
conseguem que não apenas
o conhecimento esteja ao alcance de todos,
de forma aberta e plural,
mas que se atualize constantemente.
O que nós podemos aprender na escola hoje,
dentro de 4 anos, talvez quando a criança deixe a escola,
já vai estar completamente desatualizado.
A educação, ao se escolarizar, meteu-se dentro da escola
e perdemos os critérios exteriores da natureza.
Hoje em dia, lemos critérios que estão nos livros,
o problema é que como muitos deles são verdadeiros,
para que vou discuti-los?
Mas com isso, desvirtuamos o que
é o processo educacional, que é o da descoberta,
não da aprendizagem das verdades.
Já não vai aceitar as coisas como verdades, vai apresentá-las
e, ao mesmo tempo, vai estar disposto
a duvidar delas e a checá-las juntos, não é?
BOLA FEITA EM CASA
CASA VIZINHA
BOLA COMPRADA
BOLA PERDIDA
"O que temos que aprender o aprendemos fazendo."
Em todos os níveis, o ser humano sempre aprende o que faz.
Tem que se esforçar para aprender o que não faz.
Primeiro foi a ação, depois vem o cognitivo.
E, às vezes, olhamos a motricidade pejorativamente,
e acontece que a motricidade está muito ligada à parte cognitiva.
O jogo é um desafio ao desconhecido.
Um desafio ao que pode acontecer, porque quando um menino brinca
ou se coloca frente a isto,
parte do princípio de que coloca algo em movimento;
na educação sempre estamos colocando algo em movimento.
À casa do tio-escola, digo eu,
a gente vem aprender, isso é óbvio, não vem só para brincar,
porém, de brincadeira em brincadeira se aprende muito.
Estudamos quando saímos à natureza,
para procurar coisas, explorar, encontrar, ter vivências.
Quando você trabalha e conecta as crianças com a natureza, tudo flui.
Ir à essa escola é um prazer,
porque todos os dias temos tantas coisas
para experimentar, para pesquisar para agradecer que estamos vivos.
A tarefa do educador consistirá, então,
a todo momento, em mostrar mistérios, mostrar
situações na natureza que, mesmo que já estejam descritas pela ciência,
não as estão para o educando.
De modo que o educando se surpreenda frente a algo
e trate de lhe encontrar uma explicação.
Tem sido gerado todo um movimento
de décadas chamado escola ativa,
onde a criança faz, produz, sai da cadeira.
Mas isto não é novo, Piaget o escreveu nos anos 50,
não se coloca em prática porque dá preguiça.
No início do século XX
surgiram diversos movimentos na pedagogia,
pensadores de diferentes partes do mundo desenvolveram
experiências educativas concentradas na ação,
na liberdade da criança
e na construção autônoma da aprendizagem,
repensando toda a estrutura da escola tradicional.
Porém, no meio do século, todas estas ideias transformadoras
começam a cair no esquecimento
com o medo aos países totalitários.
Bom...o método está centrado
em que a criança é quem aprende, totalmente.
Tem que ter, necessariamente, tem que ter objetos físicos,
objetos concretos para que a criança manipule,
para que a criança experimente.
Tudo no ensino fundamental é operativo,
tudo é com material concreto.
A criança na medida que erra, vai se dando conta,
porque o próprio material leva à correção.
Normalmente não é o adulto
quem deveria estar corrigindo a criança.
É a própria criança quem tem que estar corrigindo a si mesma.
Agora também existe muito a
correção por parte de outras crianças.
Eu acredito que desde o ponto de vista educacional
são bem-vindos os erros e os equívocos.
De fato, a ciência apresenta mais erros e equívocos que acertos.
É verdade que avança,
nós sabemos que pode avançar quando há um acerto,
mas os erros são os que permitem que os cientistas possam avançar.
Ao ver as crianças que dizem:
"Não importa se erro porque estou aprendendo,
porque ninguém tem que ganhar aqui.
Ao contrário, todos estamos para melhorar".
O inventor da lâmpada elétrica teve mais de
mil tentativas falhas antes de fazer funcionar a lâmpada.
Quando um jornalista lhe perguntou o que sentia
ao fracassar mil vezes ele respondeu:
"Não fracassei mil vezes,
a lâmpada elétrica é uma invenção de mil passos".
Igual a uma descoberta científica, a educação informal
é o resultado de um processo profundamente caótico,
onde o homem procura uma ordem causal, lógica,
passando do caos à ordem alternadamente.
Mas esta aprendizagem nasce da pergunta no caos,
não de uma resposta numa ordem.
A sociedade quando nós nascemos, a sociedade
nos torna mais ignorantes porque nos dá respostas a estas perguntas.
E nos dá respostas pré-fabricadas,
pré-fabricadas na filosofia, na política e até nas religiões.
Então mata as perguntas e a capacidade de aprender.
Eu acredito que de maneira sintética poderíamos dizer que
a escola está orientada para a resposta.
Ao passo que os processos educacionais que ocorrem fora
do âmbito escolar, mas também dentro dele,
estão orientados para a pergunta, para a indagação,
nos quais a resposta vem, mas não é o cerne no processo.
O que deve fazer o educador então?
Contribuir para a revelação daquilo, não impor uma resposta.
A importância da pergunta está colocada desde
o começo da filosofia na antiga Grécia,
onde a aprendizagem surge
do repensar e do voltar a questionar.
Mas, se essa é a natureza da aprendizagem,
por que insistimos em estruturá-la, limitá-la, condicioná-la, ordená-la?
PLANEJAMENTO CURRICULAR
É assim como todos os seres vivos aprendem, através
de interagir com os outros e com o entorno,
não através de um currículo prévio que alguém estabelece.
O tempo escolar então é um tempo enganoso,
no sentido de que nos coloca numa programação
a ideia de que o educando irá progredindo
de acordo à maneira que o programa está planejado.
Nesse sentido, a escolarização é linear,
passo um, passo dois, passo três,
E o décimo passo vai estar depois do nono.
Mas na aprendizagem a situação
é diferente, pode ser que a pessoa avance
progressivamente de maneira linear, um, dois, três e pula ao décimo.
O currículo é um guia ordenado para construir
o conhecimento baseado em experiências prévias.
Mas se a aprendizagem se caracteriza
por processos tão diversos e individuais,
qual é a necessidade de forçar isso e alcançar objetivos?
Normalmente os objetivos educacionais no mundo
são colocados a partir de fora do aluno, da criança:
"Espera-se que seja um bom cidadão"
"Espera-se que possa participar desta sociedade competitiva", etc...
Portanto, a criança começa a entender que as ações
do ser humano não começam tanto de uma força interna,
de uma conexão com a natureza,
de uma percepção, de uma sensibilidade pela vida.
Mas que estão motivadas por alguma coisa exterior;
estudo para passar o exame,
não leio para aprender,
não me interesso pelos animais porque eu gosto deles,
não, não, é que agora não cabem os animais, agora cabe outro tema.
Se eu não mudo o interesse, se não desenvolvo
as partes criativas, estou gerando robôs com objetivos
e, portanto, no caminho vão
ficar um 60 ou 70% das crianças com potencialidades maravilhosas.
Novamente, repitam:
"Actinio ac 3 metal"
Actinio ac 3 metal,
Actinio ac 3 metal,
Actinio ac 3 metal".
Ajo, porque se eu faço isso,
conseguirei um prêmio, terei um carro desta maneira e tal.
E se isso significa que tenho que especular, ou que tenho que
passar por cima de quem quer que seja,
tenho que mentir e tenho que pisar quem está do lado,
dá na mesma.
A que tipo de relação educacional leva isto?
Uma relação educacional que põe a ênfase no resultado.
Ao crescer, a escola e a sociedade nos levam a assumir motivadores
externos para alcançar os objetivos,
e dificilmente podemos entender que alguém
possa realizar alguma coisa sem interesse,
a não ser o próprio prazer do processo.
Mas uma criança pequena não tem um lugar para onde ir,
simplesmente desfruta de crescer,
caminha pelo simples prazer de caminhar e explorar,
e isso faz com que se desenvolva.
Sua motivação não está no objetivo,
nem no resultado. Está no caminho.
O que podemos dizer é que
não temos objetivos concretos sobre a vida das crianças,
que tenham que aprender determinadas coisas,
que tenham que ser de determinada maneira, não temos esses objetivos.
O currículo que se faz aqui, é um que está plasmado num caminho
e que a criança conduz esse caminho, então ela o tem e ela sabe.
Então o professor não é protagonista do filme,
o conteúdo não é o protagonista, o protagonista é a criança que
acompanhada do adulto que faz de intermediário,
põe-se em contato com o conhecimento,
e o conhecimento já atrai e age por si só.
E aí, nisso que estou lhes contando, respeita-se o ritmo da criança,
ou seja, não existe a pressão fundamental
de que tem que chegar a este resultado em tal tempo.
Se eu concebo que ao longo do curso
tem que aprender a escrever seu nome,
assim vou estar preocupado e,
ao invés de ver a criança, vou ver o objetivo,
e vou tentar adaptar a criança ao objetivo.
Se o que quero é que aprenda e viva,
digamos, de maneira espontânea,
pois isso ela vai aprender de qualquer maneira
mas eu não vou estar preocupado com isso
e vamos poder fluir e desfrutar do processo.
Finalmente, as crianças não vão
apenas se divertir mais, ou seja, dentro de 20 anos
terão uma melhor lembrança da sua escola, o que já é muitíssimo,
mas, além disso, têm rendimentos melhores
com resultados a longo prazo melhores.
Vamos, Micaela: Por quê você você insiste com esse discurso?
Por que eu quis me expressar, colocar o que penso, o que sinto.
Meu amor, todos nós queremos fazer o que sentimos
e muitas vezes, temos que fazer coisas que não gostamos.
Não, me desculpa, mas eu não tenho a mesma opinião que você.
Bem, eu te entendo, mas...
Me escuta Micaela: Você não quer passar de ano,
ter um diploma, uma profissão, ser alguém na vida?
Mas...
eu já sou alguém na vida.
"Na verdade, só existe o ato de amar...
Significa dar vida, aumentar a sua vitalidade.
É um processo que se desenvolve
e se intensifica a si mesmo."
A gente se encontra com duas vias pedagógicas básicas.
Uma que é: "devo adaptar a criança à cultura",
e outra que é: "devo adaptar a cultura à criança",
leia-se: direita e esquerda pedagógicas, é simples assim.
Em algum caminho do meio deve estar a verdade.
A escola construiu seus embasamentos sobre
uma ideia fundamental,
que transcende toda sua estrutura:
a noção de que as crianças estão vazias,
e, em consequência,
a sua individualidade pode ser quebrada e reformada,
interceptada de acordo com as necessidades externas.
A criança tem sido considerada como um objeto de estudo,
um rato dentro do maior laboratório de socialização da história,
cujo principal objetivo foi o de modelar o ser humano.
Isso é muito humano, não é?
Pensar que se não cuidarmos do bosque ele se estraga.
Para o bosque, deixá-lo tranquilo é suficiente, sempre.
Tudo que temos de bosque
é porque o ser humano não tem interferido.
Mas o ser humano acredita que intervindo
faz mais, faz melhor as coisas.
Dentro da semente de uma árvore, encontra-se toda
a informação que este ser precisa para se desenvolver.
O ambiente que a rodeia
contém tudo o que essa árvore precisa para crescer,
porém este desenvolvimento depende
da estrutura interna dessa semente.
Todas as reações às condições externas
estão planejadas no interior de cada ser,
tanto de uma árvore, quanto do homem.
A formação dos órgãos vitais, a estrutura óssea, os tecidos,
as características básicas de cada um de nós
são o resultado de um processo interno, autônomo,
que não requer a intervenção do ser humano,
onde a mãe satisfaz apenas
os recursos necessários, mas não dirige.
Qualquer célula tem uma estrutura interna que lhe permite saber,
inconscientemente, o que precisa a cada momento,
como deve ser o entorno ao seu redor
para satisfazer as necessidades internas da célula,
expressadas geneticamente,
para que essa célula possa
chegar a ser o que ela é potencialmente.
Quer dizer, o objetivo da vida é viver e se autorealizar
para isso, esse organismo precisa encontrar um ambiente que respeite,
que satisfaça essas necessidades internas.
Havia um jardineiro que tinha tanto amor pelas plantas,
as cuidava tanto, que ia ali
e assim que começavam a brotar esticava seus caules.
O que aconteceu? Todas se deformaram ou morreram.
Ou seja, o crescer é inato, não temos que esticar ninguém,
não temos que fazer que nada apareça,
somente temos que fazer que lhe chegue o necessário.
Para sobreviver esta célula tem algumas necessidades básicas:
alimento, segurança e talvez o elemento mais importante,
que tem feito possível toda a evolução biológica,
o amor.
Uma vez que a célula conta com estes recursos
começa a se desenvolver, a se autorrealizar.
O amor é necessário durante todo o desenvolvimento da vida.
Em sua gestação é a companhia e proteção do útero,
depois é o contato corporal,
apoio emocional, expressões, gestos, sons,
até o entendimento, a aceitação, o respeito e a confiança no outro.
Se o amor é vital para o desenvolvimento e o aprendizado,
Por que geralmente tentamos
educar com ameaças, castigos, tensões, esquecendo o amor?
E o que fazemos nós, os adultos?
Temos que conseguir que faça o que nós queremos,
e aí entram os prêmios e os castigos:
"Não. Eu te avaliarei e te darei uma prova,
e você terá que passar no exame, e se não passa
chegarão à tua casa umas notas, umas classificações
ruins que quando teus pais as virem, te darão uma bronca e
blá, blá, blá, haverá uma série de consequências."
Nos falta capacidade de amar,
então normalmente amamos de uma forma limitada.
"Eu te amo se concordar comigo, senão não te amo."
Esta é normalmente a nossa forma de amar.
Quando a pessoa não se sente
amada ou tem um conflito quanto a isso,
cria uma representação de si mesma.
Vai contando algo dela que não é ela.
Quanto mais intensa a dor,
mais distante é a representação da pessoa real.
Se me obrigam a fazer uma série de coisas,
com as quais eu não estou interessado em absoluto,
mesmo que tentem me motivar exteriormente
através de prêmios, castigos, notas e balas,
minha necessidade pode ser outra.
Mas esta necessidade, eu não posso atendê-la
porque estão me obrigando a fazer outra coisa.
Portanto eu vou perdendo cada vez mais a conexão com
meus próprios recursos, com minha própria força vital.
Os prêmios e castigos
agem manipulando as necessidades básicas.
Quando não recebemos amor ou proteção
fazemos o possível para obtê-los,
gerando mecanismos de conduta
e comportamentos que nos permitem sobreviver.
Nos condicionamos.
Essa criança não estuda para aprender,
não trabalha por prazer, nem para se realizar,
faz isso porque senão perde
a segurança, o amor, sente que morre.
Todas as suas ações passam a ser controladas pelo medo.
De alguma maneira, o que se faz na escola atual,
estou generalizando, é semear esse medo.
Coloca-se limites à pessoa, em vez de fazer o contrário,
e pôr limites é o medo.
Em nossa mente estruturada
quando criamos dentro de uma crença,
a forma que a mente tem
para não sairmos dessa crença e criar fora, é o medo.
Quando nós aproximamos à beira de uma crença sentimos medo.
É um mecanismo de controle,
é um mecanismo de manipulação ética.
Se você se comportar bem, eu te qualifico bem.
É um modelo condutivista;
esse é o grande modelo condutivista
que tanto mal tem feito à nossa sociedade.
O manifesto condutivista de 1913 promovia uma psicologia
cujo objetivo era a predição e o controle da conduta.
Mediante experimentos com ratos, animais e seu condicionamento
desenvolveu-se uma ciência de controle social,
utilizada para pensar as bases da escolarização moderna,
a publicidade, a propaganda política,
o treinamento militar e os exercícios de tortura.
A manipulação das massas através do medo.
Tudo o que vemos atualmente em nosso mundo,
tudo tem como base o medo.
O medo à mudança, o medo ao progresso,
o medo de ser você mesmo,
o medo de amar, o medo de revelar teu ser perante este mundo.
Então, estamos criando uma sociedade
onde as pessoas trabalham em coisas que não gostam
para conseguir dinheiro, para conseguir uma posição.
Ou seja, é a sociedade do autoengano.
"Tenho um diploma de, tenho um título de, tenho..."
E o "ter" é o que nos separa realmente de nossa identidade,
o que nos leva de novo ao medo. "Tenho que aparentar que sou".
As crianças que têm ficado e têm saído deste tipo de escolas,
dizem-nos muito alegres que não sentem essa pressão,
porque descobriram ao longo de sua infância
e de sua adolescência que fazem as coisas por um
prazer pessoal, por um gosto pessoal, por uma meta pessoal.
O importante é esta vontade de viver; sem esta vontade de viver
a vida não vale a pena, não é?
Então as crianças nos mostram esta vontade de viver
que a perdemos como adultos.
Então as primeiras perguntas teriam que ser
Estou cuidando da vontade de viver desta criança ou não?
Quer dizer, quando a criança está bem cuidada,
e bem cuidada significa respeitada em seus processos vitais,
acompanhada por adultos disponíveis,
com uma série de limites que ajudam-na a fortalecer-se;
quando a criança está bem cuidada,
a criança tem vontade
de construir coisas com os outros a partir do amor.
Se uma criança sempre faz o que o adulto lhe manda,
chega um momento que se desconecta de si mesma.
No entanto, se elas estão habituadas a seguir o seu
próprio impulso, continuam relacionadas com o seu interior,
sabem o que querem, sabem quem são.
As crianças, além disso, te levam pela mão,
e te mostram realmente, te dizem o que necessitam,
a questão é ouvi-las e colaborar com elas na sua busca.
Uma descrição dos organismos vivos é que são autopoiéticos,
sistemas com a propriedade
de produzir a si mesmos continuamente,
e as relações que se dão entre eles nunca são instrutivas,
mas de vida, desenvolvimento e progresso.
Quer dizer, na natureza não existem ordens externas,
simplesmente organismos conscientes conectados
mas em pleno desenvolvimento autônomo, num aparente caos.
Digamos que o estímulo não é necessário,
não temos que motivar as crianças para nada.
Se elas querem fazer algo, fazem-no, e se não, não o fazem.
Mas não temos que motivá-las
para que façam algo onde se sairão bem,
porque elas sabem se vão se sair bem ou não.
E que elas possam ir escolhendo
e se posicionando de forma instintiva naquilo que realmente
vai chamando sua atenção, as estimula;
que descubram realmente o dom que cada uma delas tem.
Transforma-se em tua própria responsabilidade,
em vez da responsabilidade de um sistema.
Ou seja, quem eu quiser ser é minha própria responsabilidade.
A criança fica consciente disto desde pequenina.
A célula gera uma membrana que a separa do entorno exterior.
Esta membrana é semipermeável, quer dizer,
permite que ingresse o que
precisa do entorno, quando o necessita.
É necessário somente
que estes recursos estejam disponíveis no exterior,
mas sem forçar sua entrada ao ser,
sem violar sua segurança e bem-estar.
Desta maneira o organismo
pode criar a si mesmo, se autorrealizar.
É assim como aprendemos da cultura.
O debate entre o inato e o adquirido não tem uma resposta,
porque ambos atuam numa complexa interação...
que requer amor e respeito.
Portanto, a criatividade é a maneira como o organismo se expressa,
expressa algo que tem construído através
do respeito às suas próprias necessidades.
Com os conhecimentos básicos, tentar ver
em que momento se encontra,
o que é que precisa, o que ela quer, o que será que lhe dará mais impulso.
Porque lá no fundo é a criança que vai dar os passos,
na realidade ninguém aprende de forma forçada,
não é aprendizagem o que se produz quando é forçado.
A infância é o mais belo, ou seja, é a alegria.
E neste sentido eu creio que
qualquer educação é boa se cuida da alegria
e da vontade de viver da criança.
Então pessoal, semana que vem é a prova final.
Leram o livro? Era curto, era curto.
Eu não o li professora, o ano já está terminando.
Chega, para que me serve tudo isso? Eu quero ser bailarina.
Não me serve para nada tudo isso.
Não, claro, não...se as bailarinas não estudam.
Para mim sim, vai servir, eu vou estudar marketing, então vai me servir.
Ah, para mim também não vai servir para nada, professora,
por que temos que aguentar
anos estudando coisas que depois não nos servem para nada?
- Não, claro. Para nada, para nada. - É como a carta que escrevi.
Outra vez com o assunto da carta. Pessoal, chega.
Me interessa o assunto da carta.
O que é isso? Parem com isso.
E você, e você aí, garota. Estou falando com você.
Vocês dois são uns ingratos, porque os professores se esforçam
para que lhes fique alguma coisa, e para vocês dá na mesma.
Ei, ei, chega. Mariela chega, me escute.
Vejamos. Calem-se.
Então Martín, me explique o assunto da carta.
Você também Micaela.
Falavam em nome de todos seus colegas o terrível que era.
Eu também concordo professora, mas como disse...
- Professora. - O que você quer, Juan?
Posso sair um minuto, por favor?
Não, faltam dez minutos, sente-se, continuemos. Por favor.
Viu como somos diferentes,
este não se importa com nada, é uma ameba.
"Sinta sua alma, escute seu coração".
Por que é necessário que as
crianças sejam agrupadas por idades?
Porque há algo implícito por trás disto, o implícito é que
as crianças da mesma idade têm as mesmas afinidades,
têm as mesmas capacidades, têm... são iguais.
Claro, se você coloca uma criança pequena num ambiente
para fazer que ela acredite que é igual aos demais,
e todos os esforços estão em que ele veja que é igual,
a criança vai se sentir igual e vai tender a se comportar igual,
a se homogeneizar.
"Esta criança fala demais, teria que ser mais silenciosa;
esta criança fala pouco, teria que ser mais expressiva;
esta criança brinca pouco, teria que brincar mais;
esta criança se mexe demais, teria que ficar mais quieta.
Faça o que ela fizer parece que está mal,
que tem que terminar sendo
a criança protótipo que faz exatamente a metade de tudo.
Somos iguais como indivíduos, biologicamente somos uma espécie,
mas social e culturalmente somos diferentes,
e isso a escola não tem podido entendê-lo.
Têm ritmos de aprendizagem diferentes,
têm interesses e motivações diferentes,
têm maneiras de se relacionar diferentes.
Gardner, já faz alguns anos,
definiu que uma pessoa não tem só uma inteligência
linguística, verbal ou lógico-matemática,
mas tem inteligências muito diversas,
entre elas tudo o que diz respeito ao emocional.
A diversidade, de alguma forma,
expressamente está nos dizendo que todos somos originais.
Somos originais como indivíduos
e somos originais como culturas e como sociedade.
E valorizar isto em cada um,
e que cada criança sinta que as diferenças
que têm com os demais
são o que justamente torna a vida mais rica.
Como conseguimos que se valorize esta diversidade,
se nem sequer a entendemos como adultos?
Que tenhamos igualdade
de direitos não necessariamente implica que devamos fazer o mesmo.
Hoje em dia muitas crianças com interesses
e comportamentos diferentes ao esperado
são diagnosticadas com condições psiquiátricas.
Quem nos assegura que não estamos confundindo
a diversidade nas crianças com doenças?
É uma autêntica epidemia, uma moda,
em algumas zonas há 10% de crianças nas escolas
tomando psicofármacos para sua suposta hiperatividade.
A hiperatividade não está
demonstrada que neurologicamente
exista nem que seja sequer uma doença
porque você cumpre uns
critérios de diagnóstico,
então alguém decide que você é hiperativo,
que você é um superdotado,
que você está dentro do limite da normalidade aceita
para considerá-lo inteligente.
Ou as crianças agora são muito mais hiperativas que antes
coisa que custo a crer, mas que se for assim,
teríamos que nos perguntar qual é a causa desse problema,
e o que fizemos para que as crianças estejam assim.
Ou as crianças são iguais que antes.
E então, o que fizemos que já não as aguentamos?
Professora, posso ir buscar giz?
Eu disse que não.
Senhorita, posso ir ao banheiro?
Espera o recreio, não.
Quando rotulamos uma criança de hiperativa,
todo o entorno se posiciona com a criança,
tentando freá-la, tentando acalmá-la, tentando tranquilizá-la.
Com isso o único que você faz é deixar a criança nervosa.
Portanto, você se dá conta que realmente
quando nos rotulam, nos enquadram
e nos cortam realmente as asas
de ser pessoas e de explorar o nosso máximo potencial.
Tradicionalmente, o *** de coeficiente intelectual
é utilizado para medir a inteligência de forma linear.
Da mesma forma, os exames
medem o rendimento em algumas condições.
Mas estas formas de avaliar
não contemplam dezenas de variáveis que influem tanto ou mais
no desenvolvimento e são vitais para a educação.
O ser humano é um todo, e requer uma visão global,
uma educação integral, holística.
A inteligência holística levanta que é possível
desenvolver um tipo de inteligência unificadora,
porque o holismo não é outra coisa que a visão do todo.
Ter um equilíbrio entre o que nós chamamos:
cabeça, coração e mãos,
para nós isso é poder desenvolver um ser humano equilibrado
por assim dizer.
E por último continuamos na
educação com o mesmo, fragmentando os espaços.
Aqui ensinamos ciências,
aqui ensinamos estudos sociais, então isso não é educação integral.
Imaginemos que os pais da Maria
querem que tenha uma educação integral,
então enviam-na a um colégio trilíngue,
onde tem todo tipo de esportes, mais de 10 disciplinas acadêmicas,
sala de informática, laboratório.
Realizam visitas de estudo todos os meses.
Oficinas de xadrez, teatro, artes plásticas, música,
dança, patinação, horta, caratê, ioga e meditação.
Tanto dentro como fora da escola,
a educação integral não tem relação
com a quantidade de recursos ou matérias,
mas com um enfoque global.
Porque funciona também com áreas integradas,
não segmentadas como na educação tradicional
onde só pensam em espanhol ou só pensam em matemática.
Então a matemática é história,
e é linguagem e é geografia ao mesmo tempo.
É uma educação cósmica, explica Montessori,
em que tudo se relaciona com tudo.
Então se tudo tem relação com tudo,
eu posso estar fazendo uma coisa e aprendo disso,
e aprendo disso, e o tempo todo estou aprendendo.
E então o que tínhamos que fazer era permitir
que as crianças tivessem contato com experiências diferentes.
A escola tem de ser uma base de experimentação,
uma base de abertura de possibilidades totais.
Experiências científicas, artísticas, humanísticas, de diferentes tipos,
e ver se isto lhes despertava algo.
Portanto, não há um percurso único,
não há um caminho único, como não há uma criança igual à outra.
Se queremos que as crianças sejam criativas,
temos, por um lado, que permitir que elas criem,
deixar que tenham atividades em que possam agir de forma espontânea.
Neste caminho pessoal de criação e expressão,
a arte desempenha um papel fundamental,
já que é a maneira que temos
de manifestar a nossa criatividade e personalidade.
A partir daqui, é imperativo que o nosso conceito
de arte seja o mais aberto e menos regulamentado possível.
Então, as artes estão colocadas aí na lógica de
construção de comunidade de sentido;
não em termos daquilo que hoje chamaríamos
as indústrias culturais, que é a derivação das belas artes.
Então, ali estamos parados nós nas artes populares.
Criamos com a pintura, a música, mas também a dança,
o teatro, o desenho, a construção,
a história, a escultura, a literatura, o humor, o jogo,
tudo o que surja
espontaneamente da criança é criação.
A interioridade de cada pessoa revela-se através da arte.
Não se usa a arte como
ferramenta ou instrumento de aprendizagem, a arte é em si mesma
já bastante válida para ser utilizada como ferramenta de aprendizagem.
Neste sentido, a arte é um direito.
Se você não acede à arte, não acede a uma formação integral.
Acho que a emoção é a base
que movimenta a vida, as emoções nos direcionam.
Antes de tomar uma decisão, eu sinto.
Não temos que fazer uma escola "educação emocional" específica.
Mas temos que levar em conta que o indivíduo é um ser emocional
e que essas emoções são complexas.
Se quando dirigimos as relações, os contextos de aprendizagem,
já levamos em conta a emoção
que isso gera, já vamos desenvolver a emoção.
Não existe ser humano que possa viver indiferente ou abandonado.
Precisamos de amor, de carinho, de aceitação dos seres humanos.
Só haverá um adulto equilibrado e emocionalmente estável e saudável,
se tiver sido tratado com muito amor quando criança
e se tiverem tido muita paciência e muito carinho;
e que sinta que tiveram carinho por ele e paciência com ele.
Um dos fatores primordiais aqui é a atenção,
a escuta, o entendimento
E mais que uma atenção verbal,
uma atenção física, de apoio, de inclusão.
Não somente que eles se sintam amados, reconhecidos,
mas também que eles aprendam a expressar suas emoções.
Ao saber que as suas emoções são respeitadas,
não têm nenhum problema em expressá-las.
Falo dessas questões muitas vezes com os alunos:
você pode não ter trabalho,
o ambiente à tua volta pode não ser o mais favorável,
mas se você sabe
lidar com suas emoções, com certeza está mais à vontade, não é?
Como seres humanos, como seres
é fundamental que desde pequenos possam conectar-se com eles,
com o que sentem, possam reconhecer o que é que sentem.
Conhecer essas virtudes que têm.
Têm que conhecer o que é que vão pôr à disposição da humanidade.
Que possam desenvolver esse autoconhecimento, em vez de estar
o tempo todo olhando para fora, como se lá fora
encontrássemos a solução de todos nossos problemas,
é o aprender a olhar o nosso interior.
Aprender a conhecer todas as ferramentas, as que temos para,
basicamente, definir o próprio destino.
Para que cada um aprenda
a ser artífice do seu próprio destino, o que cada um decide.
Não queremos que saia da escola nestas condições.
Eu também não quero ir embora da escola nestes "termos".
Mas vamos ler o discurso de qualquer forma.
Querido, daqui a pouco tempo
você vai estar lá fora, vai ter que escolher uma profissão,
tomar decisões, ser responsável.
Você não pode continuar brincando como um bebê!
Está bem, está bem... Perfeito.
E quando vocês me ensinaram a escolher?
"... a educação sem liberdade, dá como resultado uma vida
que não pode ser vivida plenamente."
A vida está cheia de opções, e temos que aprender a fazer escolhas.
Por isso, a organização de todo o material educacional
faz com que as crianças possam tomar decisões.
Um ambiente que respeite as suas necessidades,
que possa se mover, que tenha uma variedade de materiais,
que possa descobrir, que possa tocar, que possa
seguir seus próprios impulsos,
sem ninguém que pretenda lhe ensinar.
Onde os alunos podem escolher as disciplinas que não querem fazer,
as que querem fazer,
onde podem propor atividades autogerenciadas por eles.
Uma escola aberta, uma escola
onde os estudantes não tinham que dar satisfação a ninguém,
onde cada um podia ser si mesmo.
Então, quem quiser entra aqui, quem quiser entra aqui.
Então, crianças com idades diferentes
diferentes acedem a isso por seus próprios interesses
A liberdade de aprender o que querem aprender,
de aprender a seu tempo,
e não aprender o que não querem aprender.
Escolher o que fazer, vai ajudá-la a se dar conta
do que mais precisa escolher.
De alguma maneira, os projetos lhe permitem
experimentar muitas opções,
e, como resultado, ter no final do seu processo,
uma ideia mais clara de si mesma.
A criança vai encontrando caminhos para sua vida futura
e tem a certeza de que,
quer seja sapateiro quer seja médico, vai se dar bem;
se ela o faz com todo o amor, e com toda a arte
e toda a entrega possível. Está me entendendo?
A gente não pode aprender a liberdade na teoria,
e ao sair da escola
em seguida ser livres.
As crianças têm que ser livres na escola.
Se a gente não pode decidir o que quer experimentar,
o que quer viver,
está muito limitado na hora de aprender.
Somente quando você tem uma autonomia e se sente
respeitado na sua autonomia,
vai poder saber o que quer.
Basicamente, as crianças
que não conseguem estes níveis de independência,
que se convertem em crianças dependentes de outras pessoas,
nunca vão fazer o que elas querem,
sempre vão fazer o que as outras pessoas querem.
Primeiro você precisa saber, resolver situações por si mesmo.
E nesse processo, vai se dar a responsabilidade.
Eu me proponho, eu faço, obtenho e já é um ciclo de
tomada de decisões, de vontade,
de gerenciamento da liberdade.
E depois da responsabilidade,
então você pode aspirar a essa liberdade bem entendida.
Talvez o maior desafio que enfrentamos
é nossa tendência a dirigir a atividade da criança.
A única forma que conhecemos de educar
é dizer ao outro o que fazer e como fazê-lo,
e temos poucas experiências onde decidimos por conta própria.
Encontro-me muitas vezes em aulas nas quais lhes pergunto
o que querem fazer, e não sabem o que fazer.
Estão muito acostumadas a uma diretividade na aula,
a "vamos fazer isto, vamos fazer aquilo".
Porque o docente em geral,
está acostumado a ser quem dirige tudo.
Porém, desta forma damos uma participação ativa à criança.
Um docente que já não está lecionando,
mas está passando pelos grupos orientando, facilitando
Os escuta, e lhes dá espaço para que se desenvolvam.
O professor faz as propostas, não impõe, mas propõe.
Não é que você tenha a autoridade e ele não a tem.
Trata-se de semear no aluno
a ideia de que ele tem que ser a autoridade na sua própria vida.
Apostas encerradas.
Um 3, Romero.
Nós achamos que as notas,
são totalmente subjetivas e imperfeitas.
Primeiro, porque não há um docente que avalie igual a outro.
Frente à cada trabalho é a criança que teria
que avaliar como se sente com esse trabalho,
se está satisfeita, se acha que poderia tê-lo melhorado.
A criança também controla seu processo de aprendizado,
leva seu controle de progresso,
ela sabe onde está, em que unidade, em que lição,
em que parte desse processo.
Ela sabe seu caminho, ela sabe e é ela quem vai se dando conta
de como vai nesse caminho.
Elas decidem, elas escolhem em que idade passar,
elas escolhem quando estão prontas.
Não há um exame de saída aqui,
mas elas observam quando já completaram
no informe pedagógico tudo o que tinham que ter completado,
dizem: vou sair.
Algumas experiências nos falam de informes pedagógicos
compartilhados que se focam nos processos,
outras trabalham desde a autoavaliação e o constante
intercâmbio entre educadores, educandos e a família.
Esta perspectiva muda totalmente
nossa maneira de entender a avaliação.
Se realmente nos interessa
aprender respeitando o ritmo e a motivação de cada um,
é importante questionar
a necessidade dos exames e as qualificações.
Não há qualificações para ver quem é melhor e pior,
simplesmente há um acompanhamento no desenvolvimento da criança.
Você observa sua questão emocional, sua maturidade,
sua socialização, seu nível de independência.
E isso se materializa quando falamos deles
nas nossas reuniões de equipe.
Quando compartilhamos a equipe e as famílias
nas reuniões individuais com as famílias,
mas não há uma avaliação das aprendizagens,
do comportamento, da conduta,
disso não há uma valoração, digamos. Há um acompanhamento.
A escola se transforma num espaço aberto,
uma escola de portas
abertas às experiências, costumes, à comunidade.
Os conflitos e situações do espaço comunitário
são parte da escola,
e esta passa a ser um centro educacional,
onde todos podemos aprender com todos.
Desta forma, não existem idades ou barreiras
que nos separam, só experiências que nos constroem.
A escola não deveria ter nem sequer muros,
o meu sonho é toda uma cidade.
Ou seja, a cidade das crianças, na qual toda a cidade se converte
em ambientes de aprendizagem lúdicos.
Bem, para começar você entra e sente um ambiente fluido,
sim, fluido e de muita tranquilidade.
Uns fazendo umas coisas, outros olhando pelo telescópio,
outros lendo ali um livro,
outros fazendo aqui uma experiência. Grupinhos, grupinhos,
trabalhando mas com um objetivo
muito claro e sabendo para onde eles vão.
As escolas rurais ou escolas unitárias
em geral se veem obrigadas a trabalhar com crianças
de diferentes idades em conjunto.
Geralmente afirma-se que esta é uma desvantagem,
mas, ao contrário, a aprendizagem se potencializa
em experiências, vínculos e valores humanos,
tanto para as crianças quanto para o docente.
Geralmente acontece
que estas escolas, afastadas e marginais,
tem uma formação integral,
difícil de encontrar nas escolas urbanas
que insistem em separar as crianças por idades.
Essa temporalidade da escola,
também fez com que tenhamos na escola os alunos
separados por gerações. Então, aqui estão as crianças
de 6 anos, de 7, de 18, etc... Não é mesmo?
Quando o ser humano, ao longo de toda a sua história,
tem vivido em relação intergeracional,
onde o pequeno compartilhou
com o avô, o avô com o pai, uma mistura total.
E aí a criança tem aprendido, e tem aprendido muito bem...
Não estavam separados em cursos. Estavam todos juntos.
Então, todos subiam a montanha juntos, todos
trabalhávamos juntos, todos fazíamos projetos juntos.
Crianças de diferentes idades,
todos numa mesma escola unitária, digamos assim.
As diferentes idades também criam as possibilidades
para que aconteça a ética,
acontece através das experiências do dia a dia.
É algo vivo.
Existem escolas com aulas integradas,
juntando crianças a cada 3 anos,
outras onde existem crianças que têm até 6 anos de diferença,
e em algumas vemos adolescentes compartilhando
o espaço com criancinhas que recém começam.
Também existem muitas escolas que mantêm o modelo graduado,
porém as crianças podem mudar de grupos,
de acordo com as suas necessidades e processos.
De modo geral, coincidem na idade, porém
como existem crianças que pela maturidade estão trabalhando
conectadas com outros temas,
numa dessas eles trabalham em algumas matérias com alguns grupos
menores e com alguns grupos maiores.
A criança que não pode avançar numa matéria,
que avance em outra, que não tenha interrupções.
É como um curso d'água,
que encontra uma pedra e não fica esperando,
procura por onde passar, e senão, cresce e passa por cima.
E isso permite que a criança que é forte numa área,
seja aquela que possa mostrar aos outros,
e ajudar os outros nessa área.
E, ao mesmo tempo, ela pode nutrir-se de quem
é forte em outra área.
Todos podemos ser o estímulo próximo,
mas no momento que tiver que ser.
Então, existem muitas crianças, de diferentes idades
que podem passar ao outro este estímulo próximo
para a aprendizagem da criança,
e não necessariamente um grupo ou alguém especificamente.
E é muito linda essa conexão que há entre eles,
porque os maiores cuidam dos menorzinhos.
Quando saem para brincar os ajudam a mudar de roupa,
a colocar os tênis ou o agasalho.
É, melhor dizendo, aprender a viver juntos, aprender a...
sim, trabalhar em equipe.
Qual é objetivo da educação?
Aprender? Aprender o quê? Conhecimentos?
Ou ir desenvolvendo umas capacidades humanas
que somente se desenvolvem a partir da relação com o outro,
a partir do tempo, a partir do processo,
a partir do fazer, a partir de se comunicar,
a partir de se ver e de se reconhecer,
a partir do amor.
- O que estão fazendo? - Nada Sebastián. Sai.
Nada? Estão escrevendo alguma coisa.
Não se meta.
- Bem, quero saber. - Você está pisando. Está pisando!
O que está acontecendo?
- Não está acontecendo nada. - Como nada?
Cristina, por favor, leve-os. Sebastián!
Você fica aqui, vocês também.
O que vocês pensam que é a escola?
Posso dizer algo?
Não, agora não, Micaela. Isto é um caos.
- Do que está rindo? - Desses cartazes.
O que é isto?
São uns cartazes que queremos colar nas paredes,
já que não nos deixam ler o discurso.
De maneira nenhuma. Isto assim não!
Vocês acham que podem fazer qualquer coisa?
Que podem pendurar qualquer coisa?
Não pessoal, na escola existem regras.
O mundo é um caos, nossas vidas são um caos.
Por isso temos que lhes dar
um pouco de paz, tranquilidade, segurança.
A escola quer lhes dar um pouco de ordem, entendem?
Ordem!
"Toda vivência humana acontece em conversas
e é nesse espaço que se cria a realidade em que vivemos".
Há sempre um temor de que
a liberdade e a falta de um sentido autoritário,
mas que autoridade, gere indisciplina, ou desordem.
O que ocorre é que as escolas têm encarado a disciplina como
"comportar-se como eu quero que se comportem".
Na realidade a disciplina é a aprendizagem da conduta.
Quer dizer que uma pessoa disciplinada
é uma pessoa que aprende, que aprendeu a conduzir sua conduta,
mas não exteriormente, a gente aprende a conduzir sua conduta.
Podemos distinguir 3 tipos de disciplina:
Uma disciplina autoritária, normalmente com regras
estabelecidas por uma autoridade que controla.
Uma disciplina funcional,
onde as regras derivam de experiências reais,
são modificadas e estabelecidas em grupo.
Este tipo de disciplina é é naturalmente estabelecida
pela comunidade, já que responde à escolha de todos.
E finalmente, uma autodisciplina,
onde cada pessoa é consciente de que constrói sua própria conduta.
Eles vão aprendendo o respeito de uma maneira viva e fácil.
O fato é que, se estão todos
sentados em cadeiras, fazendo o que o adulto manda,
aí não tem aprendizagem de limites
nem de respeito ao outro, simplesmente tem obediência.
Basicamente, se você ensina
as crianças que limite é respeitar os outros,
deixar trabalhar, permitir trabalhar,
elas entendem perfeitamente que um comportamento
que impeça o trabalho deve ser: "Isto você não pode fazer".
Quer dizer, não tem que explicar nada em termos de convivência.
Você não pode trabalhar
se o grupo do lado está fazendo barulho demais e vice-versa.
E a questão está em que a criança comece a ser responsável
pelas consequências que ela mesma produz.
Aquele ser que pode dominar-se, que pode pensar, que pode refletir,
realmente não precisa
de um limite externo para poder conseguir o que ele quer.
Não podemos pretender que um jovem possa tomar
decisões conscientes sobre sua vida, seu entorno ou seu país,
se sempre decidimos por ele como deve ir vestido à escola,
que deve aprender o que fazer em sua vida...
Estes jovens terão que tomar decisões numa sociedade
onde as regras vão se transformando
segundo as novas necessidades,
opiniões e formas de entender a realidade.
Da mesma forma poderia ocorrer na escola,
onde as regras seriam funcionais ao aprendizado,
necessidades e opiniões das crianças.
Para conseguir isto,
é fundamental repensarmos as estruturas de poder na escola.
Que não deve haver estrutura de poder,
que tem que haver uma autoridade funcional,
administrativa, funcional, organizadora, mas não de poder.
Quando você se atreve a questionar essa autoridade
que vem de fato, você pode
se converter num melhor diretor do processo.
Às vezes pedimos sua opinião
e em suma cabe se perguntar se vamos
levar em conta essa opinião ou não.
Eu diria ver juntos. Temos uma questão e dizemos:
"Bom, vamos vê-la juntos",
"E qual é a tua ideia?", "Não, vamos ver juntos,
não abordemos isto com minha ideia, tua ideia."
Na natureza o que existe é a cooperação.
Os organismos que cooperam
com os outros são os que mais sobrevivem.
Os organismos que acreditam que podem viver
independentemente não sobrevivem.
Então algo muito importante
é como começamos a construir melhores cidadãos desde a escola.
O conceito de participação,
se não se aprende desde a aula, depois já é muito tarde.
Porque são eles mesmos que, através das conversações
ou dos diálogos, vão se gerando no coletivo,
conseguem evidenciar qual é o mínimo que precisam
para poder conviver nesse espaço comunitário.
O coordenador seria quem
coordena que o currículo se cumpra,
mas todas essas coisas pequenininhas
de dentro desse currículo as escolhemos entre todos.
As crianças têm que aprender
a trabalhar em grupo, a escutar o outro,
a aceitar ideias diferentes, mesmo quando não concordem
e não usar a força,
a poder resolver conflitos, a tomar decisões em grupo,
a procurar entendimento...
Eu sinto que as crianças quando estão seguras e se sentem respeitadas,
estão num espaço harmônico, em equilíbrio.
Elas, de um modo geral, não procuram romper o limite,
principalmente quando
surgiu delas mesmas como uma comunidade.
Por exemplo, se há um problema, assembleia.
Na assembleia se discute o que acontece,
então já não se discute se está contra o regulamento,
o que está bem, o que está mal.
Discute-se a ação, discute-se a sustentabilidade,
discute-se a inter-relação.
Além disso há momentos
durante o dia em que há reuniões, há assembleias,
como quiserem chamá-las, em que se tomam uma série
de decisões coletivamente. Das quais as crianças,
que têm a maturidade necessária para isso,
e o desejo de participar delas, participam.
E na assembleia nós, os facilitadores, não temos voto,
as crianças têm voz e voto, nós só temos voz.
Então participamos da assembleia, mas as que decidem são elas.
Algumas experiências compreendem governos estudantis
com estruturas muito complexas,
outras têm assembleias
semanais desde o ensino fundamental,
e até espaços de reflexão que atendem às necessidades
e conflitos que surjam.
Em todas, as crianças tomam decisões sobre sua realidade,
as regras, a forma de se vestir.
as funções que se atribuem entre elas
propostas educacionais,
projetos curriculares,
e, em alguns casos até decidem quem fará parte
da equipe de professores...
É perder o medo, atrever-se a equilibrar
um pouco mais a balança e confiar
em que as crianças e os adolescentes têm muito o que dizer.
Tudo se dá num certo caos,
mas esse caos é um caos construtivo
onde reina, diríamos,
um bom relacionamento entre as pessoas.
Trabalhamos em roda,
sentados em almofadas, ou com tapetes no chão.
Um pouco como o sentido que tinha a roda antigamente,
de que é um espaço no qual todos somos iguais,
todos estamos na mesma distância, todos podemos nos ver.
Pois aqui as crianças, estão dialogando sobre
cada objetivo de aprendizado,
refletindo sozinhas, em pares e em grupo.
Aprendem a ajudar-se, aprendem a cuidar-se,
como uma forma de vida.
Então, há uma briga entre duas crianças:
"Ok, aconteceu isto com ele, e qual foi tua parte nisso?"
É como reconhecer que a gente também tem a ver numa relação.
Mediar para que entre elas possam fazer esse trabalho
e que cada uma seja responsável pela sua parte no conflito.
Compreender que o outro, tanto quanto eu, acha que está certo.
E a partir daí, como podemos nos entender.
Vai ser uma pessoa que propicia a conversa, a troca
e o afeto com o outro por construir um vínculo
que serve para a vida toda, a ambos.
Grande parte destas experiências, seja dentro ou fora das escolas,
são obrigadas a funcionar à margem do sistema
sendo negadas e excluídas.
Em alguns casos, as crianças podem realizar
exames livres para justificar a sua aprendizagem,
e em outros não se lhes permite obter
uma validação dos seus conhecimentos.
É realmente necessário que um papel nos diga o que sabemos?
Por acaso um diploma
prova que terminamos a nossa educação com sucesso?
Por acaso existe alguma
educação que termine ou que tenha êxito?
Isso não tem a ver com aprender que dois mais dois são quatro,
tem a ver com poder descobrir a sua vocação, a sua missão na vida.
Quando você tem isso claro, pode fechar os olhos,
respirar fundo e sabe por onde ir.
A educação nunca termina, porque a essência da nova
educação é a auto-educação.
E o processo final é que o próprio aluno se transforme num professor.
E ele aprende do seu próprio interior, aprende.
E também aprende do exterior, forma-se um fluxo
no qual a educação se transforma num entrar e sair de dentro.
O aluno não é só alguém que recebe, mas se converte numa fonte.
Então, aquela ideia que nos venderam na escola, de que
"estude para que tenha algo e seja alguém na vida".
A ideia de "estude para que suba na vida".
A ideia da educação como
única via de ascensão sócio-econômica não é tão certa.
Há poucas décadas, surgiu uma corrente crítica contra a escolaridade.
Educadores, pedagogos,
sociólogos reivindicavam a educação fora das instituições,
no âmbito familiar e social.
Destas críticas surgem as práticas da educação em casa
educação sem escola,
e com o passar do tempo
começaram a se pensar formas de auto-educação,
redes de formação autodidata, e educação entre pares.
Fazemos que aprendam na vida cotidiana, viajam conosco,
vão a diversas atividades conosco.
Dessas que se chamam trabalho, onde muitas vezes estão excluídos
os meninos e as meninas.
Ganhos que são bastante importantes,
em termos de auto-descoberta,
de reconquista da autonomia, de segurança pessoal.
Eu a vejo mais segura do que quer, que explora
muito mais, que estuda porque gosta de aprender.
E consideramos que o tipo
de educação sem escola que nós fazemos,
é um tipo de educação que poderíamos denominar
de auto-aprendizagem colaborativa,
ou de aprendizagem auto-dirigida, ou de aprendizagem livre.
Sem dúvida, há tantas formas de educação em casa
ou de educação sem escola quanto famílias que a praticam.
Desde experiências realizadas por educadores e acadêmicos,
até famílias com crenças religiosas e povos com culturas marginais.
Estas experiências enriquecem a diversidade educativa e as formas
de entender a aprendizagem.
Mas para isso é necessário
que todas elas possam existir, sejam livres.
Eu acredito que não tem que obrigar, a liberdade não pode se obrigar,
mas podem se abrir espaços para ela de tal forma
que sejam legítimos.
E se a metade de uma nação
quer a educação estadual, então que possam tê-la,
mas se a outra metade quer,
sei lá, 30 pedagogias diferentes, que assim seja.
Um novo paradigma educacional deveria ser cenário onde cada um
pudesse experimentar e descobrir as coisas
de que gosta e logo desenvolvê-las.
Daí minha proposta, que o que temos que fazer
é desescolarizar a escola, quer dizer:
tirar da escola tudo o que tem de escolar, isto significa
que temos que tirar da escola
tudo o que impede que os estudantes aprendam.
Não necessariamente tem que estar nas escolas,
isto poderia estar em clubes, em conselhos comunitários,
organizações dos bairros, nas praças.
Quer dizer, são ilimitados os locais onde podemos chegar
a pôr isto em funcionamento.
São adolescentes, por favor.
Não temos que dar mais crédito a isto.
Eu aos 18 também queria
mudar o mundo, mas não é possível...
Não, não, não. Não acho que seja tão assim.
Acho que a crítica do pessoal é válida.
É uma crítica ao sistema educacional,
não encaremos isto como algo pessoal, por favor.
Eu tenho que tomar uma determinação.
Deixamos que eles leiam o discurso ou não?
Olhe, Alicia, te digo uma coisa,
se você deixar, vai perder a autoridade.
Não podem fazer o que querem, não podem.
De qualquer jeito, com o tempo eles esquecem.
Depois eu falo com eles e lhes explico porque não podem lê-lo.
Não, não é assim. A questão não é se deixamos ler o texto ou não.
Acho que temos que pensar
se estamos dando ou não importância ao que dizem.
É profundo o que estão dizendo, não é qualquer coisa.
Olha, eu concordo totalmente com você.
Porque todos lemos este trabalho, e aqui, o que eles pedem
é que exista uma mudança na educação, um crescimento.
Acho que se temos a capacidade
de reverter estes nossos posicionamentos cotidianos
de todos os dias, então eles vão nos levar mais a sério.
E eu acho que esta é uma oportunidade
que nos é dada na palma da mão.
Se não podemos vê-la, talvez seja porque os estamos
subestimando um pouco.
A pergunta seria:
Estamos dispostos a aproveitar essa oportunidade?
Estamos preparados para essa mudança?
"Pouco a pouco foram se despojando da falsa
roupagem com as quais a escola normal as havia vestido;
adoçaram a sua voz e seu olhar e se sentaram entre as crianças
para conversar com elas e para escutá-las conversar."
O grande professor já não vai dar a grande aula magna.
Está simplesmente acompanhando um processo de aprendizagem
com um grupo de pessoas que não sabe mais ou menos que ele.
O professor deve entender que é uma guia, deve entender
que vai semeando, que vai guiando, que vai
colocando oportunidades e pretextos para que a criança
explore, trabalhe e se sinta motivada e interessada.
Portanto, no meu modo de ver,
o termo educação é confuso, e parte de uma posição arrogante.
Por exemplo, educação vem de educere, "educere" significa tirar.
Se eu sou professor, quero que a criança tire algo,
tire o melhor de si mesma,
Mas isso também é arrogante, pois eu...
é um pouco violento que você tire o melhor de si,
que eu te faça tirar o melhor de você com a minha educação.
Eu proponho cuidar no lugar de educar.
De cuidar há somente uma maneira, ou você cuida ou descuida.
Para educar há muitas maneiras, mas de cuidar não.
Uma capacidade de aceitar o fluir da vida,
porque isto é a vida, não é outra coisa,
e não ter a intenção de ensinar a todo momento.
Um bom caminho é abandonar a pequena onipotência
que muitas vezes têm os professores
de achar que carregam algo para ensinar a seus alunos.
É preciso fazer um grande trabalho de humildade,
e de observação.
para poder perceber cada criança no seu processo
e cuidar-se para não ser um obstáculo para ela.
A chave não está nos materiais, nos recursos, nas metodologias,
nos conteúdos, ou nos currículos e planejamentos.
Mas na forma, na relação,
nas pessoas e na sua forma de ver a educação,
sua maneira de entender a vida, a infância e a aprendizagem.
Podemos capacitar milhares de docentes,
e investir milhões em materiais e novas metodologias,
mas o segredo é o olhar de cada ser humano sobre os outros,
o que faz e o que é.
Abrir-se com o coração puro, essa possibilidade que a gente tem,
e falar com clareza.
Isso é o único que
as crianças precisam e, a partir daí, é a comunicação...
Tudo que elas veem em você através da verdade, elas escutam.
Um docente que não muda sua atitude, que não acredita
no que vai fazer, é muito difícil que tenha resultados.
O princípio básico de
toda mudança é questionar o que acredito, e isto nos dá medo.
Quer dizer, não posso mudar mantendo o que acredito
e, portanto, em certo sentido,
ou de um modo simbólico, tenho que morrer,
minha visão da vida tem que morrer para melhorar.
A aprendizagem é uma contínua transformação,
e dificilmente poderemos
acompanhar e colaborar na aprendizagem alheia
se não aprendermos por conta própria,
se não enfrentarmos a mudança interna,
a nossa história pessoal, ao que nos condiciona.
E a filosofia logosófica se baseia nisso, que é algo muito natural,
Não se pode dar o que não se tem, ou seja, tudo que se queira ensinar
tem que possuir o aval da própria experiência, o aval da própria vida.
Os que estão ensinando vêm de uma educação repressiva.
Portanto, os professores que ensinam
não sabem como administrar suas próprias emoções,
portanto, não podem ensiná-las.
A chave está em que cada geração tem uma responsabilidade,
para mim, uma responsabilidade essencial,
que é ser exemplo do que faz em sua vida,
ser exemplo de uma vida a mais integral possível.
É como se os educadores quando estudam vão
sendo convencidos de que a educação é assim,
então, têm menos capacidade de questionar a educação.
Mas não são felizes, não se divertem,
não desfrutam de seu trabalho.
E é muito importante começar a olhar
o que eu estou sentindo quando estou educando.
Estou me sentindo em paz, ou estou me sentindo em conflito?
A mudança nos professores, então, na mesma linha que os pais,
é exatamente descobrir seu próprio ser,
seu próprio potencial, em se descobrir além das
crenças e da educação que tenham recebido.
Portanto, isso exige um trabalho interior muito grande,
tremendamente grande.
Mas, principalmente, é um caminho de autoconhecimento,
um professor para ser professor tem que estar
em contínuo processo de auto-desenvolvimento.
Um trabalho muito profundo
de sensibilidade, de consciência, de harmonia,
de alegria, para se atrever a chamar de professor.
Porque se o docente continua temendo o amanhã, se o docente
continua duvidando de suas capacidades,
não vai poder orientar a criança.
Se você não é realmente feliz na educação,
você não está educando.
Então o docente também tem que amar tudo
o que viveu até agora,
para precisamente dar a volta e transformá-lo.
Quando você esteve realmente conectado com as crianças,
você sai das aulas rejuvenescido.
Ao invés de ir embora cansado, você vai com um monte de energia.
Pessoas que queiram ser professores porque
têm vontade de brincar,
que queiram ser professores porque têm vontade de abraçar,
que queiram ser professores
porque têm vontade de aprender com as crianças.
Eu penso que realmente ser professor é um privilégio
nesta vida, porque
é como entrar num turbilhão todos os dias,
você sai transformado...
Você tem que estar muito, muito cego para não aproveitar
essa oportunidade de crescimento que você tem,
porque é o contato com a essência da vida,
é como estar na natureza no seu estado mais puro.
Como pode um professor transmitir felicidade e realização pessoal
se o próprio sistema o considera um número?
O que a escola faz com as crianças, também o faz com os professores,
através dos seus prêmios e castigos, pontuações,
limitações, sua burocracia.
Agora quando nós dizíamos
que as crianças cresçam em liberdade,
também os professores deviam estar em liberdade.
O docente tem um papel que tem que recuperar.
Não porque o estado o concede, mas porque ele o tira.
De fato, isso implica, por exemplo, que nesta escola
não existe um diretor.
Existe uma direção colegiada.
Nós, os professores, temos que estar de acordo.
Não há ninguém para culpar.
Se uma reunião não é tão frutífera, é responsabilidade de todos,
porque não há um chefe, um diretor, alguém que defina.
De fato, todos os dias no final do trabalho nos reunimos
e compartilhamos mais ou menos uma hora e meia, duas horas,
nas quais conversamos sobre os temas do dia.
Eu não sei se poderia sustentar esta experiência se não houvesse
esse trabalho por detrás, não é?
Não só esta reunião nossa das manhãs,
mas depois todos os dias no almoço também nos reunimos
para falar das crianças, fazer uma avaliação geral do dia
e de cada um dos grupos,
ou lidar com algum tema se houve alguma situação particular.
A tarefa da educação é tão complexa,
que sozinhos não podemos fazê-la, este é um trabalho de equipe.
Uma educação verdadeiramente democrática
confia em que as crianças decidam sobre sua aprendizagem,
em que os pais sejam livres para decidir e participar
na educação de seus filhos
e em que os professores
escolham que caminho desejam seguir em cada aula,
em cada escola.
Somente dessa maneira, nos asseguramos de que
a educação responda diretamente
às necessidades de cada pessoa, família e comunidade.
Desta maneira não há uma receita perfeita,
um método para todos,
mas tantas propostas
quanto experiências livres e autônomas existam.
Como professor, muita gente me pergunta, amigos, amigas:
Qual é a melhor escola?
Qual é o melhor modelo?
E eu simplesmente lhes digo: "Olha, onde há amor, há respeito,
e onde há respeito
existe a possibilidade de criar porque existe diálogo".
Então, uma instituição onde se possa realmente amar o outro,
e amar quer dizer aceitá-lo na sua diferença,
onde existe amor existe respeito.
Muitas destas propostas pedagógicas iniciaram-se ali,
e dali construíram um discurso muito coerente.
Mas, na minha opinião, cometeram
um erro que é muito comum em nós, seres humanos.
Acharam que tinham encontrado a verdade.
O importante não é inventar outras pedagogias, e outra, e outra,
senão adequar a pedagogia
ao momento cultural, a esse grupo de crianças,
a esse grupo de docentes. Então vamos desfrutar a pedagogia.
Tem que seguir seus instintos,
e não ficar no que vem se fazendo, simplesmente
por não quebrar a inércia.
Que esqueça tudo o que aprendeu,
tudo o que lhe disseram e todos os conceitos que lhe disseram.
E que tenha contato com seu coração.
E que cada vez que veja uma criança,
se lembre de quando foi uma criança
e se lembre que o que mais gostava era de brincar
e que o que mais queria era que lhe sorrissem,
e que o que mais queria era que lhe fizessem cócegas,
e que tenha contato com esse ser humano de coração a coração.
Honestamente creio que
a educação é uma questão de pessoas,
além das pedagogias. É a pessoa que a faz.
Micaela, tive que sair do trabalho
para vir até aqui por uma estupidez dessas.
Não é uma estupidez para mim.
Não sei para que me chamaram.
Não sei, mãe, uns caras queriam ler uma coisa e não os deixaram.
Você passou em tudo, não é?
- Sim, mãe. - Bom.
Você tem que se formar.
Como você acha que vai entrar na faculdade?
E quem disse para você que eu quero ir à faculdade?
Bom, Juan, isto acabou.
Você tem seu futuro garantido.
Então, agora você sai de férias, curte a praia...
"Os ideais não têm lugar na educação porque impedem
a compreensão do presente.
Podemos dar atenção ao que é,
somente quando deixamos de fugir para o futuro".
A família é tudo, é de onde viemos, é o princípio de tudo,
o local que nos acolhe. A família é importantíssima.
A pedagogia sistêmica diz que
os protagonistas da educação são os pais,
então uma escola que está pouco vinculada
com as famílias é uma escola que tende a se fechar em si mesma,
e como consequência,
a reproduzir mecanismos de relação e aprendizagem
que seguramente estão desvinculados
da realidade de cada um dos alunos.
Sem o envolvimento dos pais
e das famílias em geral, não pode haver projeto.
A família não é culpada pelos maus resultados escolares,
como diz a escola,
a família é a responsável
por toda a vida da pessoa que está criando.
É determinante na formação de um ser humano,
porque você pode fazer todo o trabalho de sensibilização,
de respeito, de reconhecimento do outro,
mas se essa criança chega em casa e o pai assim que a vê,
a desconhece,
e quando a reconhece é para repreendê-la,
para gritar, para mandar nela,
o que vai ficando na criança?
Antigamente as crianças aprendiam em seus lares,
trabalhando com seus pais,
seus afazeres cotidianos do dia a dia.
Aprendiam tudo compartilhando com seus pais e a comunidade.
A escola devia acompanhar esse processo.
Mas muitas famílias perderam essa confiança em si mesmas,
a confiança em que seu próprio instinto pode lhes dizer como criar
e educar uma criança.
Como fizemos durante milhares de anos.
Parece que os pais pensam
que criar um filho é uma atividade profissional,
ou seja, que para criar meu próprio filho,
deveria estudar, deveria esforçar-me
e que, como no fim das contas, provavelmente não conseguirei
fazê-lo bem por mais que eu me esforce,
então, o melhor é que diretamente já deixe a criança com um profissional,
com um pedagogo, com um pediatra, com um psicólogo, e não é assim.
Os únicos que podem cuidar bem dos filhos são os pais.
Quer dizer que as crianças, são uma oportunidade imensa,
são um presente, sinceramente, são um presente.
E é triste que normalmente
no mundo desenvolvido o que frequentemente fazemos é afastá-los.
Os levamos à escola em seguida.
Há mães e pais que veem a criança uma hora por dia.
Mas como pode ser isso?
Ou seja, como podemos esperar algo bonito disso?
Então, as crianças precisam estar com seus pais,
uma criança estabelece um vínculo afetivo muito forte,
com uma pessoa que habitualmente é sua mãe,
e se sente muito mal quando se separa dessa pessoa.
Sente-se muito pior quanto menor ela for
e quanto mais horas contínuas estiver separada dessa pessoa.
Vê que nós, os pais, a colocamos aí para que
enquanto estamos fazendo coisas interessantes,
ou estamos trabalhando,
elas estejam aí trancadas para que não incomodem,
e essa é muitas vezes a sensação que elas têm,
e não entendem para que aprender tudo aquilo.
Isto, inclusive, as creches, digamos,
de categoria não têm feito absolutamente nada bom.
É uma coisa, separar o filho da mãe tão cedo, isto...
O quê, quem, que estudo defende isto?
Enfim, não há nada que defenda isto...
Nós devemos estar com
nossas famílias, as escolas não têm sentido aí,
nós devemos estar com nossos amigos brincando,
com a nossa "galera", aprendendo a conhecer o mundo.
A pressão social, as extensas jornadas de trabalho,
a necessidade de não nos sentirmos excluídos,
nos obriga dia a dia, a tomar decisões sem nos
perguntar se realmente são lógicas ou coerentes para nós,
sem pensar como nos sentimos.
Eu acho que as crianças são o reflexo da sociedade
em que vivemos e se estão bem cuidadas,
percebe-se. E esta sociedade
não cuida das crianças porque também não cuida de si mesma.
Elas são nosso espelho.
Quando uma criança volta da escola para casa,
a pergunta que os pais fazem é: O que você fez?
E como foi? E o que aprendeu?
Mas a pergunta que normalmente nunca fazemos é:
Como você se sentiu hoje na escola?
A ideia mais revolucionária que existe
é tentar que as pessoas sejam felizes.
Quando uma pessoa é feliz,
tem vontade de compartilhar essa felicidade com o outro,
tem vontade de compartilhar esse amor com o outro,
e tem vontade de ajudar e cooperar com o outro.
Mas para isso, a pessoa tem que estar bem consigo mesma.
Se eu estou dizendo a meu filho: seja feliz, seja feliz,
mas eu estou ressentido
porque meus pais não me ensinaram isto,
meu filho não poderá aprender realmente o que é ser feliz,
porque eu não lhe estarei demonstrando.
Quando uma pessoa está bem consigo mesma?
Está bem consigo mesma quando é capaz de pegar seu pai e sua mãe,
e dizer "Sim, este é o meu meu pai e esta é a minha mãe,
apesar de tudo o que aconteceu, eu estou em paz com meu passado.
Eu não estou lutando contra nada,
nem quero defender, nem demonstrar nada a ninguém,
não tenho que construir nenhum tipo de identidade falsa,
sou professor, sou psicólogo, sou tal. Não, eu simplesmente sou".
Que tentem se lembrar da criança pequena que eles foram,
e que se lembrem que o que era mais importante para eles
era ver nos olhos de seus pais amor incondicional,
aceitação total,
e que olhem seus filhos realmente com olhos
de curiosidade, com olhos de descoberta,
e que não só descubram
a criança, mas que também descubram
o mundo através dos olhos, das mãos da criança.
Penso que aí descobrimos
a autêntica maternidade e a autêntica paternidade.
Então, eu lhes diria que olhem seus filhos,
ou se não têm filhos, que olhem as crianças,
que observem um momento as crianças com o coração,
e com isso é suficiente... para decidir...
Então, dê a ela o que puder de atenção,
brinque, role no chão com ela,
participe com ela o máximo possível,
faça que ela participe das suas tarefas,
que aprenda as coisas da casa,
mas por vontade dela e como uma brincadeira.
A despeito dos métodos muito bons que tenhamos,
a criança precisa, antes de mais nada, de amor,
proximidade, sentir-se cuidada, protegida;
quanto menor, mais protegida.
E depois ela mesma pode
proteger os outros e cuidar dos outros.
Quer dizer, primeiro tem que se apegar para se desapegar.
Acredito que nós, mães e pais,
estamos voltando a ser os educadores
que fomos em algum momento.
Além de ir e colocar teu filho num lugar
onde parece que vão educá-lo,
estamos dizendo: "Vejamos,
não, um momento, não é? Isto eu não aceito".
E acredito que além disso, tem que surgir daí,
não vai chegar de uma autoridade,
isto é algo que você tem que
simplesmente trabalhar a nível pessoal para alcançá-lo.
Nossa história social, cultural
e pessoal nos trouxe a este momento.
Adotamos e criamos uma grande quantidade de objetivos
e expectativas, que provavelmente não são nossas,
mas do mundo que nos rodeia:
a melhor escola, a melhor
universidade, títulos, prestígio, dinheiro,
nos fizeram esquecer o que realmente procuramos.
O que procuram? Procuram que seu filho tenha um título
determinado? Para quê?
Para que estou nessa busca do saber?
O que estou procurando? Que tipo de conhecimento procuro?
Um conhecimento que estimule a criança a ter êxito?
Sob que ponto de vista?
Meu filho tem que ser como eu quero que ele seja,
ou tem que realizar o que eu nunca pude realizar,
todo isto é muito egocêntrico.
Estou educando para que saibam se adaptar
à sociedade em que vão viver, que sabemos que vai ser dura?
Ou estou educando para que elas percebam criticamente
o que gostam, o que não gostam
e em seu dia a dia trabalhem para melhorar esta sociedade?
Porque uma criança vem com um mundo tão fresco
que irremediavelmente vai questionar o meu,
porque para ela tudo é novo. Para ela não há nada velho.
Confiem em seus filhos,
eles sabem muito mais do que vocês pensam,
porque às vezes as pessoas que mais limitam os nossos filhos
somos nós, os pais, e depois sofremos.
O que tento transmitir é que é tão bom poder cuidar de um filho
por todo o inesperado, por todo o mistério,
por todos os problemas que nos traz.
É lindíssimo porque isso é uma oportunidade imensa para crescer.
Libertemos nossas expectativas,
afastemos o que o mundo pretende das crianças,
o que a cultura espera de cada um de nós.
Respeitem as crianças,
deem a elas a oportunidade
de se desenvolver como elas se desenvolvem,
não como nós como adultos
queremos ou pensamos que deve ser,
mas como elas podem fazê-lo.
Os ideais e objetivos que temos sobre as crianças
não nos permitem ver quem realmente são
e o que é que precisam... não amanhã ou dentro de vários anos
mas hoje.
Há só uma coisa que é realmente importante.
É o amor que nós podemos dar às crianças.
Se queremos uma sociedade diferente,
o único que realmente temos que fazer,
é amar as crianças, que elas aprendam a amar os outros.
O conhecimento vai vir sozinho,
os resultados do mundo vêm sozinhos,
mas uma criança que não foi amada
dificilmente vai aprender a amar.
Isto é algo que escreveram uns colegas para
ler no fim do ano, mas não os deixaram.
E acho que é importante. Então, eu gostaria de ler.
"Hoje em dia a educação está proibida.
Muito pouco do que acontece
em nossa escola é verdadeiramente importante.
E as coisas que importam
não se escrevem em nenhum caderno nem em nenhuma pasta.
Como nos encontrarmos com a vida?
Como enfrentar as dificuldades?
Não sabemos".
"Falam muito de educação,
progresso, democracia, liberdade, um mundo melhor...
mas nada disso acontece nas aulas.
Nos ensinam a estar longe
uns dos outros e a competir por coisas que não têm valor.
Pais e professores não nos escutam.
Não nos perguntam nunca o que opinamos.
Não têm ideia do que sentimos,
o que pensamos, o que queremos fazer.
Não seria maravilhoso
se pudéssemos escolher diariamente ir à escola?
Que seja nossa escolha, não dos nossos pais.
Que a escola seja um lugar lindo,
onde se possa desfrutar, onde se possa brincar,
onde possamos ser livres,
onde se possa escolher o que aprender e como aprender".
Existem múltiplas experiências que têm
se atrevido a transformar as estruturas da escola.
Experiências de educadores
que se atreveram a pensar a escola em outros lugares.
Muitas delas se converteram em métodos formais,
outras trabalham em espaços comunitários e populares,
algumas escolheram continuar a experiência em forma privada
e muitos outros o fazem dentro das aulas da escola pública.
Estes exemplos são a prova viva
de que os esquemas tradicionais da escola
podem ser reinterpretados e alterados.
Existem experiências em toda classe e grupo social
onde têm havido educadores com a intenção de mudar.
Educação Ativa, Popular, Libertária, Cooperativa, Livre,
Ecológica, Democrática, Holística,
Étnica, Educação sem Escola, Educação em Casa...
Em maior ou menor medida, todas estas experiências apostam
em pensar a aprendizagem como um crescimento contínuo,
como o intercâmbio vivo
entre o indivíduo, seus pares, seu entorno e sua comunidade.
Uma Educação Viva...
"Ensinem-nos que as coisas podem ser diferentes.
Esse é o exemplo que têm que dar-nos.
Suas expectativas são suas, não são nossas.
E enquanto continuem tendo-as, vamos continuar falhando."
Este filme expõe uma parte das ideias que encontramos,
visitamos algumas de todas as experiências que existem,
e somente conhecemos umas poucas em profundidade.
Não existe somente uma forma, não existe o melhor modelo.
A verdadeira diversidade existe quando se respeita
e experimenta a diversidade em todas as suas dimensões.
Todas estas experiências são valiosas porque são fruto
de pessoas que dedicaram sua vida à aprendizagem.
Existem desencontros e coincidências,
mas sem dúvida todas contribuem à melhoria da educação.
Precisamos que suas ideias e práticas venham à luz,
poder conhecer suas
contribuições, histórias, riquezas e limitações.
Compartilhar recursos, intercambiar visões e construir
juntos um novo paradigma educacional.
"Por tudo isto, dizemos chega!
Chega de decidir por nós,
chega de nos qualificar, chega de nos impor.
Nem as ciências, nem as provas, nem os diplomas nos definem".
Estamos aqui para isso, para falar, para compartilhar nossas ideias.
Aprender que as coisas podem mudar.
"Nós vamos decidir
o que queremos ser, fazer, sentir, ou pensar.
Hoje, mais do que nunca, existem os recursos para que
estas experiências se multipliquem e se diversifiquem.
Existe a possibilidade de que a escola se reencontre com a educação,
que seja um espaço construído e gestionado por toda a comunidade,
que responda às necessidades das pessoas e seu entorno.
"Acreditamos que a educação está proibida.
Não por culpa das famílias, não por culpa das crianças,
não por culpa dos docentes."
Todos proibimos a educação.
Cada vez que você escolhe olhar para o outro lado, em vez de escutar.
Cada vez que escolhemos a meta, em lugar do trajeto.
Cada vez que deixamos tudo igual, em lugar de tentar algo novo.
Este filme é um convite para nos encontrarmos com
a educação além dos muros da escola que todos conhecemos,
um convite para pensar outras formas de aprendizagem,
para conversar e debater sobre nossas práticas escolares
e educacionais.
Quer seja professor,
quer seja aluno,
quer seja pai, seja quem for, ajude-nos.
A educação tem que avançar.
Tem que crescer.
Tem que mudar.
Encontrar-nos com os outros,
conhecer e explorar suas experiências,
trocar ideias e levá-las à nossa realidade.
Essa é a nossa proposta e começa hoje mesmo.
JUNTE-SE À REEVO Rede de Educação Viva.
ENCONTRO, INTERCÂMBIO, AÇÃO
Créditos para legendas: educacionprohibida.com/creditos#sub-pt
Revisão da tradução e reformatação da legenda:
DANIEL SLON danielslon@uol.com.br
Sincronização: Lucia Moretzsohn luciamoretz@gmail.com