Tip:
Highlight text to annotate it
X
Sandra, é um prazer te conhecer.
O prazer é meu e obrigado pelo convite.
Eu queria te perguntar sobre sua graduação. Onde você se formou?
Bem, eu tenho carreira curiosa, porque eu cresci nos Estados Unidos.
Agora eu moro na Inglaterra, mas eu cresci nos Estados Unidos.
E eu fui para uma pequena universidade de Artes Liberais na Califórnia denominada Pomona College.
E eu comecei na graduação estudando literatura medieval francesa.
Então eu comecei a estudar francês...
Nas faculdades de Artes Liberais, cada aluno da área de Ciências tinha que escolher
uma disciplina artística da área humana, e cada aluno de Humanas
tinha que cursar uma disciplina de Ciências por período.
E eu escolhi Biologia Marinha porque eu cresci bem longe do oceano e pensei que seria muito legal.
Então eu tentei me matricular em Biologia Marinha, mas não havia vagas,
então eu entrei em uma disciplina de Botânica, e visitávamos o deserto todos os finais de semana
para coletar plantas. E eu pensei: "Isto é fantástico!"
Então era isso: eu era uma botânica! Eu mudei, mudei completamente.
Fale sobre seu trabalho. O que está realizando de pesquisas?
Eu estou trabalhando no meu PhD em Cornell (EUA)... mas aqui no Brasil
eu fui convidada pelo Leandro [Giacomin] e pelo Dr. João Renato Stehmann para ministrar palestras
no Congresso Nacional de Botânica do Brasil, e foi uma grande honra.
O evento foi absolutamente fantástico.
E você trabalha com Solanaceae?
Sim, trabalho com a família Solanaceae.
Quando fui concluir minha pós-graduação na Universidade de Cornell eu queria trabalhar
com plantas do deserto nos EUA, porque eu realmente gostava do deserto.
E meu orientador, o professor Michael Whalen me falou:
"Porquê você não trabalha com gênero Solanum?
Porque eu trabalho com esse gênero e é muito interessante".
E eu, querendo ser difícil, disse "eu não posso trabalhar com esse gênero,
não posso trabalhar com a mesma coisa que você".
Aí ele tentou me convencer. Eu estava pensando em trabalhar com margaridas do deserto.
Mas depois eu fui participar de um curso na Costa Rica, nos trópicos.
Eu nunca tinha visitado os trópicos na minha vida.
Então eu participei deste curso na Costa Rica e pensei: isso é ótimo!
E havia várias plantas do gênero Solanum. Isso era ótimo!
Então eu novamente mudei, e comecei a trabalhar com Solanum.
Eu trabalhei com polinização por um tempo, e depois eu escolhi
um grupo de Solanum que ocorre no meio da floresta, são pequenos arbustos.
As pessoas pensam em Solanum somente como o gênero das batatas e tomates e coisas que comemos,
muito comuns, ou ervas...
Mas eu escolhi estas plantas que ocorrem bem no interior das matas, muito raras.
E eu decidi trabalhar somente com as plantas da América Central,
porque é uma área pequena e já comporta várias espécies,
e eu não conseguiria concluir meu PhD se eu não focasse.
Então, notei que não era uma boa ideia, porque existe muita conexão
entre as espécies das Américas do Sul e Central; portanto, não era uma boa ideia.
Então, os grupos de estudo começaram a ficar maiores e maiores,
e eu acabei trabalhando com toda a América do Sul,
e depois que eu acabei meu doutorado, continuei aumentando o grupo
e ele se tornou um monstro... mas foi legal!
Certo. Para você, qual é o maior desafio para os biólogos brasileiros,
considerando este cenário no qual temos uma grande biodiversidade
e várias espécies que nem descrevemos ainda?
É verdade. Existem muitas espécies aqui.
Na verdade, existem várias espécies em todos os lugares que ainda não foram descritas.
Mas a maioria destas espécies está no grupo dos insetos.
Comparando com outros grupos, as plantas estão muito bem descritas,
mas ainda existem muitas espécies para descrever.
E no meu ponto de vista, um dos maiores desafios para os biólogos no Brasil
é convencer as pessoas de que existe muito mais no país do que a Amazônia.
A Floresta Amazônica é realmente muito importante na escala global,
mas existe muito mais no Brasil do que a Amazônia.
E a diversidade de habitats, a diversidade de espécies nestes habitats deixa claro
que é importante se conhecer o Brasil como um todo, e não apenas poucos lugares específicos.
E também são desafios a taxa de destruição de habitats e a dificuldade de acessar os lugares,
porque o Brasil é um país realmente grande. Você sabe disso! É um país gigantesco.
E tem muita coisa para se fazer.
Muita coisa para se fazer. E eu me sinto realmente privilegiada
por ter sido convidada pelo João Renato e pelo Leandro para participar da Botânica no Brasil.
Porque foi muito divertido, muito empolgante.
Legal! Fale para o nosso público de biólogos, alguma dica ou segredo para ser uma referência...
Não existe segredo... Segredo? Como se tornar um sucesso?
As pessoas sempre me perguntam: Como você consegue se tornar um líder em alguma coisa?
E, para mim, liderança é um produto do trabalho duro.
Então, trabalhe duro!
Mas se você realmente gosta de plantas, este trabalho duro é divertido.
Eu acho que minha maior dica é:
Nunca faça uma coisa que você não goste. Sempre faça coisas que você acha divertido, e você vai se divertir.
Bom! Então é isso. Só para finalizar a entrevista,
você pode sugerir um trabalho científico ou um site na internet
para as pessoas que gostam deste assunto poderem pesquisar?
Bem, nós estamos aqui hoje porque o Leandro e eu estamos construindo, melhorando nosso site da internet
que é denominado "Solanaceae Source", que agora tem uma nova URL:
Lá nós estamos tentando reunir todo nosso trabalho taxonômico online.
É melhor do que esperar um longo tempo para serem publicados.
Às vezes, demora muito tempo e estamos tentando disponibilizar o conhecimento disponível
de uma maneira mais ágil, e de uma maneira na qual poderemos ajudar outros taxonomistas de outros lugares.
E outra coisa que pretendemos fazer, e não tivemos tempo ainda,
é criar uma maneira pela qual qualquer pessoa possa contribuir para o site.
Tentaremos colocar uma ferramenta para que as pessoas possam anexar fotos e se tornarem colaboradoras.
Na verdade, todas as pessoas são de alguma maneira taxonomistas,
porque todo mundo observa as plantas!
E cada pessoa tem um ponto de vista e uma perspectiva diferente do que é a biodiversidade.
E considerar todas estas perspectivas é importante para chegarmos a um entendimento global.
Estamos tentando fazer isso, mas são apenas poucos de nós envolvidos.
É realmente difícil.
Vai ser legal!
Claro! Muito obrigado. Foi um prazer.
O prazer foi meu. Muita sorte no trabalho que vem desenvolvendo.
Obrigado.