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O OUTRO LADO DO CÉU
Resync: MarcoALauten
O meu nome é John H. Groberg.
Nasci durante a Grande Depressão em Idaho Falls, no Idaho.
O meu nome do meio é Holbrook,
o nome de solteira da minha mãe.
Os meus pais deram esse nome aos sete filhos,
dos quais sou o mais velho.
Éramos pobres, mas éramos felizes,
com grandes porções de pão caseiro e música em família.
O meu pai era avaliador de propriedades
e um Democrata proeminente,
isto é, o único Democrata de Idaho Falls.
Quando o Presidente Harry Truman veio à cidade,
na campanha para a reeleição,
o meu pai foi escolhido para o receber.
O Pres. Truman saiu-se muito bem com o clã Groberg nesse ano.
Eu andava numa escola chamada "East Side Elementary".
Uma manhã, a nossa diretora, a Sra. Bunker
reuniu todos os alunos à frente da escola.
Disse-nos que algo terrível havia acontecido
num local chamado Hiroshima, no ***ão
e pediu-nos que fizéssemos um momento de silêncio.
Sobre os Japoneses só sabia que estávamos em guerra com eles.
Ainda assim, ali de pé, em frente à minha escola,
senti algo por eles.
Numa fase posterior da minha vida,
viria a sentir ainda mais por outro povo,
numa terra longínqua.
BASEADO NUMA HISTÓRIA VERÍDICA
UNIVERSIDADE DE BRIGHAM YOUNG - 1953
Com licença!
O que estás a fazer? Sou eu! Vá lá!
Eu fico com isso.
Não acredito que fizeste isto!
Como "ah, ah, ah"?
- Ele era o meu par. - Era o teu par!
Devia vir sozinha a um baile, só porque tocas numa banda?
Podes vir com quem quiseres, desde que saias do baile comigo.
- A sério? - A sério!
Anda, Jean, quero mostrar-te uma coisa.
Anda, segue-me.
Parece o Paraíso!
Gostas?
É todo teu.
Mandei fazê-lo especialmente para ti.
A Lua também.
- Senta-te, quero mostrar-te algo. - Está bem.
Olha para a água e diz-me o que vês.
Vejo a Lua.
Olha outra vez.
Vejo... o meu reflexo, à luz da Lua.
Exatamente. Tu ao luar.
Sabe quantos quilômetros viajou aquela luz para te iluminar?
Acho que não.
148 milhões e 500 mil.
Mais coisa, menos coisa.
- Sabes que mais? - O quê?
Acho que mereces a viagem.
- Sabes o que eu acho? - O quê?
Acho que pensas de mais.
Talvez pense.
Para onde quer que me mandem,
estaremos debaixo da mesma Lua.
IDAHO FALLS, IDAHO - TRÊS MESES DEPOIS
"É convocado por meio desta para cumprir funções de missionário
junto do povo do reino de... - Tonga!
Vais para Tonga!
Tonga?
Esperem!
Onde fica Tonga?
John, aqui!
Discurso!
Venha de lá esse discurso, Elder!
Pai, vá lá.
Não preparei nada para isto, nem sei como poderia fazê-lo.
Toda a minha vida me disseram que Deus amava tanto o mundo
que lhe deu o Seu filho.
Eu achava que sabia o que isso era...
...e não sabia.
Não conheço ninguém em Tonga o suficientemente bem
para os amar e lhes mandar o meu filho.
Mas acho que Deus sim.
Lembra-te disso nas alturas mais difíceis, filho.
Como Deus ama os Seus filhos.
Olha para ti, a falares como se soubesses alguma coisa!
Embarcar!
Adoro-o, pai.
Também te adoro, filho.
Adoro-a, mãe.
Não venhas para casa, filho.
Não venhas para casa cedo.
Três vivas para o John Groberg!
Querida Jean, não faz mal não teres ido à minha despedida.
Não queria ver-te a chorar, e a fazer um escândalo.
E, se não tivesses chorado,
seria bem pior.
Éramos sete missionários a bordo do navio,
mas os outros iriam continuar para a Austrália e N. Zelândia.
Eu devia encontrar-me com o presidente da missão de Samoa
nas docas e ele ia pôr-me noutro barco para Tonga.
Acho que não sabia que eu vinha, porque não apareceu.
Após umas semanas, encontrei-o e pôs-me num barco para Fiji,
onde disse que eu poderia apanhar outro barco para Tonga.
Também me disse que seria recebido por dois missionários, nas docas.
Tem de sair, amigo!
O seu bilhete acaba aqui.
Pare! Não está na nossa lista.
Quero lá saber da lista! O rapaz fica!
- Vou prendê-lo! - O problema é dele.
Pira-te daqui, amigo, ou tenho de te empurrar!
Está preso.
Olá, Louis Armstrong!
Os missionários de Fiji arranjaram-me um trabalho
num navio para Tonga. Conheci um tipo chamado Swede,
que me prometeu uma miúda em cada porto, se deixasse a missão
e ficasse no navio. Disse-lhe que uma moça para mim chegava.
Acho que perdeu o respeito por mim quando eu disse isso.
Quando cheguei a Tonga, tudo voltou ao normal.
Ninguém sabia da minha chegada.
A notícia de um miúdo de Idaho sentado nas docas
espalhou-se rapidamente porque, de repente,
sem que nada o fizesse prever...
- Groberg? Elder John Groberg? - Sim, senhor.
Por onde tem andado, jovem?
Rezei bastante pela sua missão.
Acho que tenho o local ideal para si.
- Niuatoputapu. - Niu o quê?
É uma pequena ilha a cerca de 13 kms daqui.
Não tem brancos e ninguém fala uma palavra de Inglês.
Ótimo.
Tem duas missões.
Aprenda uma língua, construa um reino.
- Alguma pergunta? - Não... sim.
Quem será o meu companheiro?
Feki, quero que conheças o teu novo companheiro, Elder Groberg.
Bem-vindo. Tenho rezado por ti.
A pior parte da minha viagem foi, sem dúvida,
a jornada de oito dias até à ilha que me fora destinada.
O mar estava bravo e o barco era pequeno.
Enjoei na primeira hora
e passei o resto da viagem à espera de morrer.
A ilha é ali. A viagem acabou. Vamos.
Chamam-me "kolipoki"
porque aqui não conseguem pronunciar "Groberg".
Um dia provavelmente descobrirei que significa:
"tipo branco com estômago fraco."
Achas que vai estar lá alguém para nos receber?
Elder John Groberg. Obrigado por me terem vindo receber.
O que se passa com eles?
O que estão a dizer?
Disseram que és branco e suave. Têm razão.
E a nossa comissão de boas-vindas?
O Presidente da Congregação...
Espera aqui, vou procurá-lo.
Isto...
...está muito bom.
Não sinto a língua.
"Hoje celebramos a chegada...
"...do nosso irmão branco Kolipoki,
"que vem como mensageiro de Deus à nossa pequena ilha."
Ele quer saber se tens algo para lhes dizer.
Preciso ir à casa de banho.
Ele tem de ir verter águas.
O palangi tem de mijar!
Acho que vais ter companhia.
Nem quero ver o que acontece quando eu tomar banho.
Feki!
Feki!
Querida Jean, oxalá esteja tudo bem contigo, aí nos EUA.
Está tudo bem aqui em Tonga, a ilha é linda,
mas muito pequena.
São todos da mesma família
e aqueles dispostos a ouvir-nos
já pertencem a outra igreja.
O reverendo deles avisou-os que não me dessem ouvidos,
o que é ridículo, visto que eu não falo a língua deles.
O Presidente da minha missão disse-me que aprendesse a língua
e construísse a igreja.
Até agora, não estou a sair-me muito bem.
O barco do correio vem apenas uma vez por mês
e a única coisa por que anseio mais do que as tuas cartas
é a rede contra mosquitos que o meu Presidente me prometeu.
Aqui há uma doença transmissível pelos mosquitos
chamada elefantíase.
Continuarias a amar-me se eu regressasse a casa
parecido com um elefante?
Já chega de falar do desgraçadinho.
Fala-me de ti.
O que vais fazer no Natal?
Como correram os exames finais?
O Edward já te pediu para casares com ele?
Se assim for, lembra-te do missionário de Tonga
que está a tentar regressar a casa sem parecer um elefante.
Sabes que te amo.
Escreve-me.
John.
O Presidente quer que fales aos membros na terça-feira.
Como posso falar se não sei a língua?
Ele diz que iremos rezar por ti... muito.
Vamos agora ouvir...
...a palavra do nosso irmão palangi, Kolipoki.
Diga ele o que disser...
...acenem com a cabeça
e finjam interesse.
Vai ser uma bela palestra.
Eu...
...estou muito grato...
...por estar perante vós hoje.
Desde que era uma criança,
sempre quis crescer e servir
como um anexo do Senhor.
E suponho
que essa é a minha mensagem para vós, hoje.
Porque escolheu o Senhor mandar...
...um anexo...
...da América,
quando cada um de vós
é capaz de ser...
...o vosso próprio anexo?
Que disse eu?
Elder Anexo!
Eu disse aquilo?
Silêncio!
Sejam simpáticos com o Elder!
Vem aí um barco, Kolipoki. Traz correio.
Kolipoki!
Onde está o Kolipoki?
Kolipoki!
Kolipoki...
"No início, Deus criou o Céu e a Terra."
"E Deus disse: 'Faça-se luz! ' E fez-se luz!"
"E Deus viu que a luz era boa."
"E Deus separou a luz das trevas."
Querido John,
esta é a 4ª. carta que te mando
sem nunca ter tido notícias tuas.
Espero receber um maço de cartas tuas em breve.
E rezo para que esteja tudo bem contigo.
Lembras-te do Edward?
Pediu-me em casamento na semana passada.
Disse-lhe que teria de pensar, porque fizemos um 'acordo'.
"...quando penso nos Céus, obra dos Teus dedos..."
Se algo... não sei que acordo é este...
"A Lua e as Estrelas como as ordenastes...
Fui ao nosso balanço para pensar. Havia luar
e lembro-me de teres dito:
"Onde quer que estejamos, estaremos sob a mesma lua."
Senti-me perto de ti por um momento,
como se os céus nos unissem. Sinto a tua falta.
Do outro lado dos céus, sinto a tua falta.
Kolipoki, acorda!
Então, pá!
Onde estiveste nos últimos quatro dias?
Assustaste-me!
Tenho tanta fome que comia três javalis.
Assados ou cozidos?
Vai matá-los...
...que eu devoro-os.
Enquanto falas...
Anda, vamos trabalhar.
Vamos...
...divertir-nos!
Querida Jean, fiz progressos na língua
e o trabalho está muito melhor.
Estamos a ensinar um jovem chamado Finau
que está muito entusiasmado com o Evangelho.
Queria ser batizado, mas os pais não permitem.
Ele e os aldeões ajudaram-nos a construir a nossa casa.
Deu muito trabalho,
mas a parte pior foi despejar os inquilinos anteriores.
Já está! A pegamos!
E esta?
Lar, doce lar.
É o grito da Morte.
Alguém morreu.
É o choro dos enlutados.
De todas as criações de Deus,
as crianças são a Sua maior glória.
Levanta-te daí!
A comida já está pronta?
- Uma carpideira profissional? - Sim.
- E pagam-lhe em quê? - Um teto, comida...
A maior oferta que se pode levar para um funeral
é um saco de farinha ou um porco bem gordo.
Feki, porque és tão...?
Porque tens tanta fé em mim?
Porque não haveria de ter?
Vieste de longe para nos ensinar. O que dizes deve ser verdade.
- E se eu te tiver mentido? - Tu não mentirias, Kolipoki.
Mas se o tivesse feito?
Então terias viajado de muito longe só para contar uma mentira.
Quando eu era criança, o meu pai bebia muito
e batia na minha mãe.
Eu não era suficientemente forte para o evitar.
Os missionários chegaram e mostraram-lhe a verdade.
Só a verdade foi suficientemente forte.
Um dia, fui a Tantum fazer os sacrifícios,
mas eles abanaram a cabeça
e mostraram-me que os missionários sacrificavam muito mais.
Estavam a morrer com a febre.
Deixavam as famílias
e atravessavam mares para pregar a palavra de Deus.
Punham-se de pé nas suas caravanas e gritavam...
Sempre que via o meu pai, depois disso,
sempre que ele não estava bêbado, pensava a mesma coisa:
Penso a mesma coisa sempre que te vejo a ensinar.
APÓS SEIS MESES NA ILHA
Kolipoki!
Kolipoki!
Caiu de uma mangueira, em cima das raízes.
Pega nele.
Abençoa-o.
Faça-o voltar para mim.
Ele está morto.
Se está morto ou não, não sei.
Só sei que o quero bem novamente.
E tu tens esse poder.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
O ar mau para fora, o ar bom para dentro.
Onde estou?
Aqui está o teu filho. Já está bom.
Obrigado, Kolipoki. Como o fizeste?
Não fui eu.
Meu filho!
Querida Jean,
muito tem acontecido na nossa pequena ilha.
O Feki e eu ajudamos Deus a curar um menino,
e a ilha inteira parece reconhecer isso.
Sinto que doravante seremos mais bem aceites.
Estamos a ensinar uma bela família
e ainda estamos a trabalhar com o Finau.
A última lição foi sobre o significado da Fé.
Coisas que não são visíveis,
mas que são verdadeiras.
Ofereci-lhe uma pérola como parte da lição.
Para além da língua, também estou a aprimorar o arroto.
Aqui consideram boas maneiras arrotar após as refeições.
E eu que estes anos todos achei que era grosseiro.
Então, o Edward pediu-te em casamento... que surpresa!
Obrigado por lhe teres dito que tínhamos um acordo.
Para mim, esse acordo significa que estarás apaixonada por mim
daqui a dois anos e meio quando eu regressar da minha missão.
Aí casaremos e seremos felizes para sempre.
A sério, Jean,
acho que esta ilha é o sítio mais lindo do mundo.
A única coisa que podia torná-la mais bonita seria a tua presença.
Espero que, um dia, possamos percorrer estas praias juntos.
Até lá, amo-te. John.
- O que foi? - Os meus pés!
- Dormiste com os pés destapados? - Não me lembro! Estava calor!
Disse-te para nunca dormires com os pés destapados.
- Os ratos comem as solas dos pés. - O quê?
Senta-te.
Espera aqui!
Fico aqui à espera a sangrar?
O que foi?
Os teus pés têm de ser queimados.
Podemos usar uma faca quente ou o sol.
Para aqui, onde o sol é mais forte.
Querido John, estou contente por saber que tudo corre bem.
Obrigada por partilhares a tua versão do nosso acordo.
Quanto à minha versão do nosso acordo...
... não sei se vejo as coisas tão nitidamente como tu.
Mas recusei o pedido do Edward.
Ele ficou bastante chateado.
Voltou a pedir-me em casamento, uma semana depois,
e voltei a dizer-lhe que teria de pensar.
É difícil ter tanta fé em nós, contigo tão longe.
E se eu apanho elefantíase enquanto estás aí?
E se rejeito todos os pretendentes que tiver
e tu voltas para casa apaixonado por uma princesa tonguiana?
Não deves pensar em mim neste momento,
deves pensar no povo de Tonga e servi-lo com todo o coração
e reservar apenas o canto mais ínfimo para mim.
Acho que te amo.
Acho que vou dizer ao Edward... "não".
Se não, estás convidado para o casamento.
Com amor, Jean.
- Asi? - Sim, Kolipoki?
A tua filha, Mele...
...porque é tão calada?
Ela não é minha filha.
A mãe dela era uma mulher má que andava com o meu marido
antes de ele ser batizado.
Tomei conta dela como se fosse minha e tentei amá-la,
mas uma ilha é um sítio pequeno para fugir a tal legado.
Ela castiga-se a si própria pelos pecados do pai.
Kolipoki, o reverendo disse ao rebanho dele
que as tuas feridas nos pés são castigo de Deus,
por pregares a falsa doutrina. Agora deves mostrar a tua fé.
Reza pelos teus pés.
Daqui a três dias...
...provaremos que estão errados.
Querida Jean,
encontrei a forma de evitar que o Edward seja tão irresistível.
Por favor, mete-o no próximo barco para Tonga.
Tenho o tratamento ideal para ele.
Hoje, vamos falar-vos do plano de felicidade do Senhor.
O que foi? Qual é o problema?
O reverendo disse para deixarmos de assistir às tuas lições.
Mas não há problema, se continuarmos a alimentar-te.
Não devíamos abençoar a comida primeiro?
Posso dizer eu?
Pai do Céu, agradecemos-Te por esta família maravilhosa,
agradecemos-Te por todas as Tuas bênçãos.
Especialmente...
...pelo maravilhoso Plano de Felicidade para os Teus filhos.
Agradecemos-Te pelo Teu Filho, Jesus Cristo,
que viveu e morreu para que um dia possamos voltar para junto de Ti.
Agradecemos-Te pelo saber que, através do Teu Plano de Felicidade,
fez com que as nossas famílias possam viver juntas para sempre.
Damos graças pelo maravilhoso Plano de Felicidade
e por esta maravilhosa família
que nos preparou esta maravilhosa refeição.
Em nome de Jesus Cristo, amém.
Amém.
- Por favor, passa-me o polvo. - Foi uma bonita oração, Kolipoki.
Para a próxima vez, digo eu.
Muito obrigado pelo jantar.
Pelo menos sei que um de vocês gostou.
Muito bem, Kolipoki.
Mais vale tarde do que nunca.
Deixem os Mórmones comigo!
Tomasi...
...porque nos ajudaste?
Há muitos anos,
eu ia muitas vezes à ilha grande.
Missionários como tu tomaram conta de mim,
puseram-me na escola. Foram bondosos para mim.
Depois vim para cá, não havia missionários,
e eu esqueci-me da igreja.
Até esta noite,
quando o reverendo nos pediu para batermos nos Mórmones,
lembrei-me que era um deles.
Ao Tomasi, o Mórmon.
APÓS UM ANO NA ILHA
- Pronto? - Preparar...
Partida!
Anda!
Quem quer fazer um piquenique?
Lá para trás.
Noli!
Ajuda-me, Elder!
Magoei o tornozelo.
Céus! Isto nunca aconteceria em Idaho!
Anda comigo.
Lavania, não podemos fazer isto.
- Pensei que gostavas de mim. - Não... eu gosto de ti.
Então, porque me rejeitas?
Não sou suficientemente bonita?
És muito bonita.
Então, vem. Vamos fazer amor.
Vem comigo à praia e podemos falar de amor.
Do tipo que nunca acaba.
- Vamos falar de amor? - Sim, de amor verdadeiro.
- Mais do que isto. - Espera por mim!
Querido John, ontem fui fazer um piquenique com o Edward.
Ele começou a ficar todo sentimental...
Tens tanta sorte por não teres de lidar com coisas dessas.
Tomasi!
Tomasi, viemos para te levar à igreja.
Mórmones!
Vieram para me batizar?
Sim, mais ou menos.
Já não há pudim.
- Já reparei. - E então?
O que se passa, Noli? O que te preocupa?
Dizes que nos amas e que estás a tentar ajudar-nos.
Mas achas-te bom de mais para a minha filha?
Não é suficientemente bonita para ti?
A tua filha é linda.
O meu marido ofereceu-te centenas de hectares desta terra.
Oferecemos-te a nossa filha.
E ainda assim, torceste o nariz.
Afinal, o que queres tu?
- Bem, acho que... - Faço-te uma oferta melhor,
nem tens de casar com a nossa filha, ou viver na nossa ilha.
Dá-nos um bebê mestiço e não pediremos mais nada.
Não deves ser assim tão egoísta que não faças isso por nós.
- Bem, não é uma questão de... - Então o que é?
- A nossa pele castanha? - Adoro a vossa pele castanha.
Ou és demasiado rico para partilhar a tua semente com gente como nós?
A minha semente?
- Não é assim tão simples... - Também não é muito complicado.
Não posso partilhar a minha... semente até me casar
e não posso casar enquanto for missionário.
Então tira um dia de folga!
Não há homem nenhum nesta ilha que não vendesse todos os seus bens
por uma hora com a minha filha.
Sim, sim!
Exatamente por essa razão, ela devia guardar-se,
essa parte tão bonita que ela tem, para quem a amar para sempre.
Olha para isto.
Isto é uma fotografia do meu amor verdadeiro.
Quando eu regressar, vamos casar e ficar juntos para sempre.
Por isso, prometemos guardar essa parte de nós um para o outro.
- Vês como ela é linda? - É muito bonita.
Ela está a respeitar a promessa que me fez.
Achas que eu devia quebrar a promessa que lhe fiz?
Kolipoki, tens de respeitar a tua promessa.
Agora, vai. Obrigada por me dizeres.
Não voltarei a incomodar-te.
Peixe para o pequeno-almoço. Tal como te prometi.
Vamos já!
Larguem-no!
- Um bonito barco branco! - Da Nova Zelândia.
Um barco!
Temos lugar para três.
Por favor, estes homens não têm nada que vocês precisem.
Por favor, mais não.
Estes homens vão levar-vos a todos e não nos darão nada em troca.
Santo Deus!
Mele, por favor, não vás!
Eu já lá estive, é um local de escuridão.
Por favor!
Mele, por favor, perdoa os meus pecados...
Mele!
Lavania,
com a autoridade que me foi concedida por Jesus Cristo,
eu te batizo, em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, amém.
Não temas mais, meu filho.
Eles chegaram, tal como querias.
Podemos abençoá-lo.
Não quero as vossas bênçãos nesta casa.
O rapaz está a morrer. Só pode ajudar.
Uma luz? Vês uma luz?
Vai ter com ela, Finau.
Saúda a luz.
Ela vem ter comigo.
Não!
Não!
Temos de ir.
- Ainda agora chegamos. - O ar está a ficar pesado.
- Está sempre pesado. - Mas não tanto,
temos de nos esconder. - Esconder?
Temos de ir já.
A minha menina. Não encontrei a minha menina!
Lita!
Lita!
Onde estás?
Onde estás?
Lita!
Está ali!
Vamos sair daqui, Lita!
- Despacha-te! - Não pares!
Cuidado!
Lita!
Mele!
Já passamos por isto
e vamos conseguir sobreviver novamente.
Colham todos os frutos das árvores caídas
e recolham todos os frutos do chão.
- E o telégrafo? - Partiu-se com a tempestade.
Mas deve chegar um barco dentro de duas semanas.
Se racionarmos toda a comida, não devemos ter problemas.
Reverendo, pode dizer uma oração?
Com certeza.
Querido Pai que estais no Céu,
estamos perante Ti, na nossa pequena ilha,
e rezamos para que nos mostres o caminho. Somos pequenos,
mas somos fortes e amamos-Te.
Agradecemos-Te por tantos de nós terem sobrevivido
a esta grande tempestade.
Pai, sabemos que esta tempestade seguiu o seu caminho
e rezamos por aqueles com quem se irá cruzar.
Particularmente aqueles que serão lançados nas ondas do mar.
Por favor, cuida deles como cuidaste de nós.
Amém.
Tens de vir, já!
Mele!
Santo Deus, Mele!
Amém.
Eu corto, tu escolhes.
Vá lá, escolheste a parte menor.
Eu sou menor.
Queres?
Não, obrigado.
Achas mesmo que o barco chega dentro de duas semanas?
Não sei, Kolipoki.
Não sei.
QUATRO SEMANAS APÓS O FURACÃO
Do barco, nem sombras, e ainda não há peixe.
A água da lagoa ainda está má.
- Pronto para o almoço? - Com certeza.
É melhor ter pouco do que nada.
Querido John,
já passaram seis semanas desde a tua última carta
e, por muito que me custe admitir, estou preocupada.
Depois do que me contaste sobre o Feki, sei que estás em boas mãos.
Espero que ele esteja a tomar bem conta de ti.
OITO SEMANAS APÓS O FURACÃO
Querida Jean, não sei se estarei vivo quando receberes esta carta.
As minhas forças estão no limite e dou comigo, muitas vezes,
num cenário diferente daquele em que vivemos.
É muito bonito.
E as minhas visitas ajudam-me a perceber que, viva ou morra,
não é muito importante. Por estranho que pareça,
só lamento não te ter aqui, ao meu lado.
Morreria com a tua mão na minha, firmemente apertadas,
para tornar bem claro que nunca nos separaremos,
isto é, partindo do princípio que ainda não casaste com o Edward.
Jean, aprendi coisas nas últimas semanas
que são difíceis de exprimir.
Há uma ligação entre o Paraíso e a Terra.
Descobrir essa ligação faz com que tudo tenha significado,
incluindo a morte.
Não a descobrir faz com que tudo pareça insignificante,
inclusive a vida.
Por favor, faz o que puderes para reconfortar os meus pais.
Só agora começo a compreender o amor dos pais pelos filhos.
Querido John,
há três meses que nem eu nem os teus pais temos notícias tuas.
Estás bem?
- O que vês? - Vejo...
...vejo uma luz.
Vai ter com ela, John. Saúda a luz.
Ela vem ter comigo.
Kolipoki...
Quero que fiques com isto.
Estou velho e morrerei em breve.
Esta tempestade fez-me mal,
mas tu és jovem e ainda podes fazer muito bem.
Por favor, come a comida e vive.
E perdoa-me todo o mal que te fiz.
Não te conhecia.
Tinha medo.
De todas as criações de Deus,
as crianças são a Sua maior glória
e tu serviste os filhos de Deus com todo o teu coração.
Kolipoki!
O barco chegou, estamos salvos. Vamos!
Vai andando. Eu fico aqui.
Eu vou e trago-te comida.
Temos um novo Presidente da missão.
- Ai sim? - Sim. Ele...
...quer que eu seja presidente do conselho,
quer fundar uma escola e começar a pregar nas ilhas exteriores,
quer que nomeie dois conselheiros e, para ti...
Quer que eu volte à construção?
Adeus.
É difícil deixar um irmão.
Pois é, muito difícil.
Tenho um presente para ti.
A pérola do Finau.
Deves ficar com ela para te lembrares dele.
Fica tu com ela e lembra-te de mim.
Não, basta-me a recordação de ma teres oferecido.
Agora tenho de ir, Kolipoki.
Construirei todas as tuas capelas
e tu há de enchê-las de gente, Kolipoki.
Então, que história é essa de cocos roubados?
Moças, imoralidade...
Vocês são meus conselheiros, aconselhem-se comigo.
São os privilégios da classe alta.
Que privilégios?
Os cocos dos vizinhos...
- A mulher do vizinho... - Isso foi na igreja.
É assim que as coisas se fazem por aqui.
Eu sou produtor de cobre.
Para alimentar a minha família, preciso que o meu cobre
atinja os preços mais altos. Para que isso aconteça,
levo a minha filha a visitar o Governador, uma vez por semana.
Isso foi antes de te conhecer, agora estou arrependido.
Agora dá-lhe uma garrafa de licor caro.
- Dás-lhe licor? - Às sextas, para o fim-de-semana.
Tomasi, sabes que isso é contra a nossa religião.
Beber álcool é contra a nossa religião,
oferecer licor é um ato de caridade.
Ai sim? Proíbo-te de o voltares a fazer.
O quê?
Proíbo-te de voltares a dar álcool.
És meu conselheiro, tens de dar o exemplo.
Tomasi, onde vai? Amanhã temos uma viagem.
Tu não compreendes, Kolipoki.
Vou passar a dar um melhor exemplo.
Tenho andado a pensar...
Tu rezaste por vento de cauda.
Talvez haja outros no mar a rezar por vento de frente.
Devíamos possibilitar a Deus atender a ambos,
rezando apenas por vento bom.
Cada um fará a sua oração.
Entra.
Para chegarmos antes do pôr-do-sol, temos de partir já.
Chegar onde?
Há uma família que quer ouvir o Evangelho.
Temos uma missão do Senhor. Entra.
Passem lá a noite.
De manhã, teremos vento.
Levem isto convosco.
Porque estás a fazer isto?
Só decidi servir o Senhor quando já estava velho e cansado.
Cansado de todo o pecado.
Tu és jovem e já estás a entregar-Lhe a tua vida.
Não posso voltar a ser jovem.
Mas hoje posso ser o vento do Senhor.
Querido John,
as ilhas e as pessoas daí parecem maravilhosas.
Tu também pareces maravilhoso. Quase consigo tocar-te.
Às vezes pergunto-me como poderei acompanhar-te.
Não precisas de me acompanhar. Só tens de ser tu própria.
Estou quase a formar-me. Devo ir ensinar algures.
Quem me dera que viesses ensinar para aqui.
Consegues ouvi-los? Ouves as crianças a cantar?
Com todo o meu amor.
APÓS DOIS ANOS E MEIO NA ILHA
Chegou o novo Presidente!
Olá!
Deve ser o novo presidente.
- Não estava à sua espera. - Estou a caminho de Vava'u.
O nosso barco aportou aqui por esta noite.
Muito prazer em conhecê-lo.
- Vai ficar aqui? - Não, tenho um quarto na aldeia.
Não tenho tido notícias suas.
Esperava que pudesse relatar-me as suas atividades.
Com certeza, com certeza...
Bem, creio que estamos a fazer o que nos pediram.
A escola está em crescimento,
temos viajado para as outras ilhas para pregar e batizar.
Quem batizou?
- Batizamos Vica, Hale, Pita... - Não tenho registros deles.
- Nem do seu trabalho aqui. - Temos feito imenso trabalho...
Quando batiza alguém, deve preencher um registro batismal.
Também deve enviar relatórios semanais sobre o que fez.
Tanto quanto sei, até pode ter passado estes dois anos de férias.
Nunca ninguém me pediu quaisquer relatórios,
exceto o presidente da congregação de Filamea...
Não temos nenhuma congregação em Filamea.
Temos, sim. É uma congregação sólida com 32 membros.
E também uma boa capela.
Quem o autorizou a organizar uma congregação em Filamea?
Quem o autorizou a construir uma capela?
É que temos batizado tanta gente...
Onde arranjou o dinheiro? De quem é a terra onde está construída?
Não sei de quem é a propriedade, mas todos em Filamea sabem...
Todos em Filamea, mas ninguém na minha congregação.
Elder Groberg,
a casa do Senhor é uma casa organizada.
- Há formulários para estas coisas. - Formulários?
Qual deles?
Sr. Presidente!
Presidente Stone!
Estes são os batismos,
as ordenações dos padres,
as congregações que organizamos,
e as capelas que construímos.
Lamento muito por não ter conhecimento dos formulários.
Elder Groberg,
passei a noite toda acordado preocupado com o que disse ontem,
e parece que você também.
Nunca vi uma congregação tão feliz em mais lado nenhum.
Continue a fazer o que tem feito.
E mais uma coisa: queria prolongar a sua missão por mais seis meses.
Parece-me ótimo!
Vou pôr duas capelas novas no seu distrito.
Como vão ser feitas de cimento,
talvez seja melhor comprar o terreno.
Está bem.
Temos uma visita!
- Não está certo esconderes-te. - Sim.
Agora nada para casa. E despacha-te!
Está bem.
Uma vez, os meus pais deixaram-me numa bomba de gasolina.
Vamos só andar em torno dele, não é?
Como pode ele aprender se eu ceder?
Kuli, e os tubarões? E os caranguejos eremitas?
Ele é meu filho. Não lhe vai acontecer nada.
Corta a vela! Corta a vela já!
Já a agarrei!
Aguentem!
- Kuli! - Recolhe a vela, Tomasi!
Kuli!
Aguenta, Kolipoki!
Kuli!
Tomasi!
Querido John, fiquei extasiada ao saber da tua nova missão,
apesar de saber que, por vezes, deve ser sufocante.
Senti isso quando acabei a escola
e aceitei o primeiro emprego aqui em Anaheim.
Os meus amigos estão em Utah, a minha família em Hollywood.
Aqui, só tenho os meus alunos
e muito tempo para pensar em ti.
Estás bem, John? Estás seguro?
Tens tempo para pensar em mim,
ou estás completamente perdido no trabalho do Senhor?
As Escrituras dizem que encontramos a vida ao perdê-la.
E, apesar de ter imensas saudades tuas,
encorajo-te nessa demanda.
Entrega-te, John, totalmente.
E depois, quando voltares para casa,
saberei que estou apaixonada pela faceta que Deus te destinou.
Ele está ali!
- Estamos aqui! - Estamos aqui!
Nada, Kilopoki!
Às vezes Deus acalma a tempestade,
outras vezes acalma o marinheiro.
E outras vezes, temos apenas de nadar.
Lamento muito, Kolipoki!
Há algo para mim?
- Queres dizer-me o que diz? - Não sei...
É confidencial.
"Caro Elder Groberg, stop.
"Solicitação para extensão recusado por Salt Lake, stop.
"Barco para a Nova Zelândia,
"avião para Los Angeles para a semana, stop.
"Deixar a ilha o mais depressa possível, stop."
- Obrigada pela escola, Kolipoki! - Não tens de quê.
Obrigado por te portares bem.
Temos um presente para ti, Kolipoki.
- Vestes fúnebres? - De Salt Lake.
Pediram-nos para as guardar sempre, mas sem to dizer.
Estamos felizes por não termos tido de as usar.
Obrigado. Eu também.
Temos outra surpresa para ti, Kolipoki.
Rápido como um relâmpago, deixando para trás uma nuvem de pó.
Em frente, Silver! O Mascarilha!
Voltando aos dias de outrora, do passado...
Querido John,
quem me dera... - Que pudesses ver...
... o que eu vejo.
- Tomasi. - Tomaste conta de mim.
Que Deus esteja contigo Até nos revermos
Que os conselhos d'Ele Te guiem, te defendam
Que com o seu rebanho Te proteja
O teu corpo pode deixar-nos,
mas o teu espírito permanecerá sempre na nossa ilha.
Obrigado.
Aloha.
Adeus, Kolipoki.
Conduzirás o nosso destino das lindas montanhas.
Lembrem-se,
amor verdadeiro.
- Amor eterno. - É isso mesmo.
Querida Jean,
finalmente aconteceu: vou voltar para casa.
- Presidente Stone. - Elder Groberg.
Mas tem graça...
Sinto mais como se estivesse a deixar a minha casa.
Nos últimos três anos, vivi entre pessoas que nada possuem,
e que possuem tudo.
John!
Nesta vida, navegaram os oceanos;
na próxima, navegarão os céus.
Gostaria de ser mais como eles,
um marinheiro entre as estrelas.
E gostava de te ter lá comigo,
a tua suavidade a meu lado.
Jean... Jean, Jean...
Amar-me-ás do outro lado do céu?
"Lavania e o marido emigraram para os EUA em 1975.
"Vivem no norte da Califórnia com os seus dois filhos e cinco netos."
"Nuku mudou-se para os EUA em 1973 e casou pouco depois.
"Ele e a mulher têm sete filhos. Vive e trabalha em São Francisco."
"Feki casou-se com uma bela moça de Niue em 1958.
"Supervisionou a construção do primeiro aeroporto de Niue,
"bem como do primeiro hotel da ilha.
"Morreu de cancro dos ossos em 1972."
"John e Jean casaram-se em 1957.
"Criaram uma família numerosa
"e voltaram muitas vezes às ilhas do Pacífico,
"prosseguindo o seu serviço missionário."