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É muito raro não acontecer nada na cidade.
Como é uma cidade muito grande,
sempre tem alguma coisa acontecendo.
Por um motivo ou outro,
sempre tem homicídio.
Não passa um dia sem um.
Vamos a um Z1 por X13.
- O que isso significa?
Morte por arma de fogo.
Vamos ver se foi assalto ou vingança,
se estava relacionado a drogas...
- Vamos para uma área perigosa? - Sim.
A área de Iztapalapa tem bairros com muitos conflitos, muito perigo.
Conhecemos bem essa área.
Sabemos que temos de ter cuidado para ver se podemos fazer nosso trabalho ou não.
A primeira coisa com que temos de lidar é a polícia.
Se já isolaram a cena do crime,
temos de ser criativos para tirar nossas fotos.
Meu nome é David Alvarado Hernandez.
Trabalho há 12 anos
como fotógrafo especializado em crimes.
Atualmente, trabalho para a Alarma!
Sou Miguel Angel Rodriquez Vazquez,
editor-chefe da Revista Alarma!,
que cobre crimes, ou "Nota Roja", como chamamos aqui.
Basicamente, publicamos eventos violentos de todo o país...
de todo o México.
Penso na Alarma! como um catálogo do “mau”.
Se você roubar, vai para a Alarma!.
Se se envolver com drogas, vai ser morto e aparecerá na Alarma!.
Se beber e dirigir, bater o carro e morrer, vai para a Alarma!.
A revista é basicamente sobre isso.
A Alarma! sempre foi conhecida por publicar fotos do jeito que são:
com pessoas degoladas,
cérebros expostos,
intestinos para fora,
a cabeça toda esmagada e assim por diante.
Sempre foi conhecida por esse tipo de foto.
- Qual a periodicidade da revista? - Semanal. Sai toda segunda.
Não competimos com os jornais, sabe?
Temos nossas próprias histórias e damos enfoque de revista.
Sempre vai haver histórias para preencher as páginas de uma revista como a nossa.
No fim das contas, não matamos nenhuma dessas pessoas
e não queremos que nenhuma dessas coisas aconteça.
Mas, se acontecem e podemos denunciá-las, é o que fazemos.
Acredito que os leitores da Alarma! gostam...
não é nem da história. É das imagens.
Por isso o trabalho dos nossos fotógrafos é tão importante,
como o que o David faz aqui na Cidade do México,
e nossos ótimos fotógrafos no resto do país,
que mandam coisas boas de todo o México.
- Segue por aqui? - Sim, chegamos.
Espero que a família da vítima não esteja por perto
e espero que não tenham isolado a área.
- Qual o nome do Z1?
- Juan Alberto Dávila.
Era um jovem que estava supostamente nessa loja...
Os caras apareceram, atiraram e o mataram.
Ainda não se sabe se foi vingança,
ou acerto de contas.
- Onde ele está?
Ali. Bem ali.
Ali, ali.
Se você for até ali, vai vê-lo no chão.
Só dá para ver os pés.
- Como estavam as pessoas do bairro?
Na verdade, estavam tranquilas. Não estavam agressivas.
Não sei se você percebeu, mas a polícia isolou a cena
e, quando comecei a fotografar, tentaram me bloquear
para me impedir de tirar fotos.
Mas eu consegui umas fotos boas.
Vamos.
Vamos!
- David, em média, quantos acidentes ou mortos você vê por noite?
Depende.
Às vezes, vemos até sete mortos num dia só.
- Você não se incomoda de ver tanta gente morta?
- Não. Você se acostuma.
Para nós, ver gente morta é uma coisa cotidiana.
Vemos como uma coisa normal.
Você fica calejado.
Fica acostumado com tudo isso.
Desde que era criança,
sempre gostei de ver acidentes.
Gostava de ver sangue.
- Então você sempre quis ser fotógrafo policial?
- Exatamente.
- Você já lia a Alarma! naquela época?
- Sim.
- Gostava muito da Alarma!
Depois, quando estava estudando Jornalismo,
[DAVID ALVARADO: FOTÓGRAFO POLICIAL] comecei a trabalhar como taxista para pagar os estudos.
Já estava casado nessa época,
então perguntei se ela me apoiaria.
Foi graças ao apoio dela e dos meus filhos que consegui me formar.
Minha prova final foi no necrotério,
onde avaliaram se estávamos prontos para ver esse tipo de acidente.
Disseram para levarmos nosso café da manhã
e, bem ali, fizeram a autópsia.
Tínhamos que comer enquanto assistíamos.
Muitos colegas vomitaram ou desmaiaram.
Eu, não. Sempre gostei de ver sangue.
Não senti nada.
- Você lembra o que comeu no café da manhã?
- Comi uns sanduíches com presunto e ovo
e uma Coca.
Agora vou me arrumar para o trabalho.
Vamos ver o que Deus nos traz hoje.
Eu saio entre 21h30 e 21h45.
Mesmo antes de sair, já começo a ouvir o rádio,
que está na nossa frequência interna,
ou meu Nextel.
Temos esses contatos que nos ligam e dizem onde estão os acidentes.
Eles dizem: "Vá para lá."
"Está sabendo desse?" "Vá para aquele lugar."
Às vezes, vou direto daqui para o acidente.
Certo. Estou saindo, amor.
- Deus te abençoe e proteja.
Toma cuidado.
Sempre nos colocamos nas mãos de Deus, porque
nunca se sabe o que pode acontecer na cena.
Pode ter tiroteio. Às vezes, somos agredidos.
- Se não tem acidente, para onde você vai?
Vamos para o Monumento à Revolução.
É a nossa base. Chamamos de “Ponto 1”.
Paramos às cinco da manhã,
às vezes até às seis, se houver mais acidentes.
Esse é o “Ponto 1”, o Monumento à Revolução.
Usamos esse lugar como base
porque é fácil sair daqui para qualquer acidente ou emergência na cidade.
Se não tem nada acontecendo,
falamos sobre que fotos emplacamos.
Falamos sobre os colegas do turno do dia,
se foram agredidos ou não.
Falamos sobre as pessoas que morreram durante o dia e assim por diante.
E quando acontece alguma coisa, vamos para lá com nossos carros.
- Pode me dizer os nomes de seus colegas que estão aqui com você?
Valente Rosas, que trabalha para El Universal.
Gustavo Hurtado do La Prensa,
Juan Carlos Alarcon do Diario Monitor,
e alguns companheiros de outros veículos.
Todos nos damos bem.
Há muita camaradagem entre nós.
E também...
- Estão pedindo uma ambulância, K5.
OK. Estamos indo.
Quando pedem uma ambulância, "K5" significa que precisam imediatamente.
Deve ser bem grave...
Vamos ver se conseguimos alcançá-los.
- Acelera, Piti!
Tô correndo pra caralho!
Para que lado fica da Rua Alfredo Molina?
- Norte. Norte.
Dirigimos muito rápido.
Queimamos semáforos,
mas temos cuidado para evitar acidentes.
- Para o Hospital La Villa. - Para o Hospital La Villa.
Estão levando para lá?
- Sim.
Estou voltando.
Estão vindo. Estão levando para lá.
- Ele pode morrer no caminho. - Está com uma bala no coração.
A Cruz Vermelha que está levando, certo?
- Sim!
Para o Hospital La Villa.
Estou na cola deles.
- Piti?
Já cheguei.
Ele levou um tiro no coração.
- Quem você está acompanhando?
Sou da imprensa.
- Por aqui!
- Com licença, amigo?
Tarde demais, filho. É um R3. Já tirei as fotos.
- Você disse que já estava morto, seu ***!
- Foi o que pensei, mas o Amarillo me avisou.
- Beleza.
Vejo vocês no “Ponto 1”.
- Cara, o marido da menina...
parece que pegou os dois...
Bom, não sei o que eles estavam fazendo,
mas ele fodeu com o cara.
Ouviu isso?
- O que aconteceu?
Aparentemente, a vítima era amante de uma menina que era casada.
O marido pegou os dois fornicando
O marido pegou os dois fornicando
e atirou nele.
Por isso ele estava pelado.
- Atirou no coração?
- Exatamente.
Seis tiros no total, porra.
Um na perna, três no estômago
e dois no peito.
- Você tem que tomar cuidado.
- Isso aí.
Por isso você não devia se envolver com mulheres casadas.
Dá muito problema.
Os leitores da Alarma! gostam de ver fotos,
mas, claro, querem saber o que aconteceu.
[MIGUEL ANGEL RODRIGUEZ: EDITOR-CHEFE ALARMA!] Querem saber por que aconteceu.
Mas, se cavamos um pouco mais fundo,
as histórias mais interessantes envolvem amor.
"Por que ele a matou?"
"Matou a esposa
e tentou suicídio."
Acredito que essas histórias atraem mais as pessoas.
Mas, de novo, no fim das contas, é a imagem que prende o leitor.
[DAVID ALVARADO: FOTÓGRAFO POLICIAL] Que tipo de imagens a Alarma! procura?
Normalmente, na Alarma!,
as fotos são...
mais cruel,
mais grotesca.
Esse é o tipo de foto que tenho que tirar.
É disso que estou falando:
"Estuprou e assassinou!"
- Essa foto é sua? - Não, um companheiro tirou.
- Essa foto é chocante.
Ela já estava em decomposição.
Isso aconteceu em fevereiro, quando suicídios são muito comuns.
Esse jovem se enforcou depois de terminar com a namorada.
- Quantas histórias são publicadas na Alarma! por edição?
Saem...
talvez dez.
Casos policiais, cerca de dez,
mas também há outras seções
como o pôster,
palavras cruzadas,
histórias de sexo...
Como eu disse, a Alarma! inclui
um pôster que é tradicional da revista.
Incluímos isso pensando em nossos amigos mecânicos.
É muito comum ver mecânicos com pôsteres da Alarma!.
São páginas muito importantes para nós.
Estão lá para agradar os olhos dos leitores.
Depois de ver muitas fotos de crimes,
damos alguma coisa bonita para seu deleite.
A seção paranormal é sobre assuntos inexplicáveis,
como óvnis, fantasmas, chupa-cabras...
Também temos a seção “Recanto Cubano”.
No "Recanto Cubano", temos garotas cubanas
que nos escrevem e mandam suas fotos.
Escrevem para nós porque querem fazer amizade com homens.
Como nossa revista circula em todo o México e EUA,
ajudamos com essa conexão.
Claro, não somos traficantes de pessoas.
É uma coisa de amizade por correspondência.
Recebemos aproximadamente cinco cartas por dia
e publicamos cerca de sete moças por semana.
Olha, essa é bonita.
Parece modelo de passarela.
Algumas tiveram sorte.
Algumas mandam e-mails ou cartas para agradecer,
dizendo que logo virão para o México ou para os EUA.
A maioria tenta ir para os EUA.
É engraçado, porque a Alarma! não é vendida em Cuba.
Na verdade, acho que a maioria delas
não tem ideia do que se trata a revista.
Acredito que algumas devem achar que somos uma revista sobre romance,
mas não somos.
Elas não sabem.
Não conhecem a revista.
Acho que se vissem a revista, não escreveriam para nós.
Achariam que as colocaríamos em contato com um monte de assassinos.