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Paulo Abel do Nascimento é brasileiro.
É um fenômeno vocal extremamente raro: ele é castrato.
Como toda quinta, ele vai trabalhar sua voz na casa de sua pianista.
Trinta e quanto?
Quarenta e oito.
Mais tempo aqui...
Não é um contratenor,
embora possa cantar como contratenor.
Mas não é um contratenor.
É realmente um homem que tem uma voz de mulher,
de mezzo-soprano.
A primeira vez que o ouvi cantar foi no Brasil
e para nós era uma coisa muito engraçada.
Como a gente se divertia muito, a gente ria muito.
Ele mesmo fazia isso como um divertimento, no começo.
Ele era realmente muito talentoso
e foi então que ele começou a estudar música muito seriamente.
Eu não sei se ele já tinha vontade
de se tornar músico quando ele era mais jovem,
de se tornar cantor, especialmente.
Acho que isso veio depois através de outras pessoas
que perceberam o grande talento que ele tem.
Ele trabalhou muito na Itália,
ele trabalhou muito na Europa,
mas ele sempre teve essa voz.
Sua voz, Paulo a deve a um erro da natureza.
Ele nunca teve bastante testosterona,
esse hormônio masculino que faz com que os meninos pequenos se tornem homens um dia. Na época da puberdade,
ele desenvolveu um corpo de adulto,
mas sem pomo de adão,
sem possibilidade de procriar
e, sobretudo, sua voz nunca mudou de timbre.
Vamos!
Aí está. Esses garotos todos,
este aqui por exemplo está mudando de timbre.
O que aconteceu comigo foi que eu não mudei de timbre.
Eu conservei minha voz de criança.
Então eu esperei até 16 anos, era o limite.
Eu disse: ela não vai mudar de timbre.
E foi muito duro para mim.
Enquanto todos os colegas da escola
percebiam a mudança de suas vozes,
comigo nada (acontecia).
Não só isso me causou muito problema,
porque quando a gente é diferente dos outros,
é um problema.
Mas também isso
me fez refletir muito,
já naquele momento,
sobre qual caminho eu ia tomar para sair vitorioso,
ou seja, de bem comigo mesmo, descontraído, numa boa.
De sua deficiência, Paulo fez uma vantagem.
Hoje ele faz discos e concertos.
Ele luta para divulgar o repertório cantado por um verdadeiro castrato.
Esse repertório é habitualmente interpretado por vozes em falsete,
em outras palavras,
cantores que utilizam uma voz de garganta para subir até os agudos.
Paulo tem sorte.
Aquele que o ajuda em sua carreira é antes de tudo um apaixonado.
E então?
Estou ligando...
Alô! O senhor deve ter recebido o dossiê de imprensa.
Certo...
Em princípio as datas de entrevista seriam de 5 julho a 26 de agosto
na Capela Imperial de Ajaccio.
Certo!
Escute, de qualquer maneira,
a partir de 10 de maio, me ligue de novo. Estarei aqui, O.K.?
Tudo bem. Muito agradecido!
Até logo!
Está confirmado, então.
Até logo mais!
Exatamente. Tudo bem!
É fácil empresariar um castrato?
Muito difícil!
Muito difícil empresariar um castrato.
Por um lado, porque é uma voz muito particular,
que não se enquadra em qualquer tipo de manifestação.
E, além disso, eu diria que as pessoas, em geral,
não sabem o que é uma voz de castrato.
Então é preciso informar antes de vender.
A partir do momento que o ouvi cantar, eu estava convencido
de que sua voz era realmente extraordinária
e que poderia ser utilizada
no âmbito clássico e no âmbito da música ligeira.
Então eu quis continuar
e ver como se poderia promover uma voz dessas.
Paulo experimenta a música ligeira,
mas é talvez aqui
que ele se sente mais próximo da história dos primeiros castratos.
Antigamente, as mulheres não podiam cantar nas igrejas.
A música sagrada era interpretada por adolescentes
castrados antes da puberdade.
Essa crueldade pela arte desapareceu.
Resta a natureza;
para Paulo, um dom de Deus: sua voz.
Que perfeição!
Isso vem do céu. É irreal...