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A História mostra que a Humanidade está mais disposta a sofrer...
enquanto os males são suportáveis...
...do que a revoltar-se abolindo as formas a que se acostumou.
Declaração de Independência dos EUA
As pessoas perdoam muito.
Quase nunca percebem o que lhes estão a fazer.
Nós somos cobaias em mudança de época. Há uma altura em que o Ocidente
podia virar complacente e claramente sem redundância
ou poderíamos ter um papel decisivo no futuro.
O que os bancos fizeram é repreensível.
Foi por isso que a ganância dos banqueiros foi considerada um ultraje.
Quando lhes demos o dinheiro que era suposto ajudá-los a emprestar a outros
mas que decidiram usar para se pagarem bónus, porquê?... Por prejuízos record?
Nós hoje somos governados por grandes empresas.
Muitas vezes por empresas que não se interessam muito pela nação americana.
Eh pá, não sei o que aconteceu, não sei o que aconteceu aos EUA.
Estávamos tão bem, sabes, quando é que começou a correr mal?
Foi o "disco"? Foi Donna Summer? Foi isso que matou a América?
Estamos a entrar na idade das consequências.
Um sistema financeiro voraz, uma escalada de violência organizada,
pobreza abjecta para milhares de milhões, ruptura ambiental iminente,
tudo converge numa altura em que governos,
religião e economistas eminentes emperraram.
Guerra, Conquista, Fome e Morte.
Vêm aí os Quatro Cavaleiros!
OS QUATRO CAVALEIROS
Este não é um documentário que revela conspirações.
Não é um documentário que os comerciantes devam temer.
Não é um documentário que culpa banqueiros ou políticos.
É um documentário que questiona os sistemas que criámos
e sugere formas de os reformar.
Ao longo dos séculos, os sistemas têm sido subtilmente alterados,
manipulados e até corrompidos para servirem os interesses de alguns.
Temos aceitado essas mudanças.
Como o Homem consegue adaptar-se a quaisquer condições,
o que nos tem permitido sobreviver, é o que nos tem reprimido.
A maioria das sociedades tem uma elite
e as elites tentam ficar no poder.
E ficam no poder
não é controlando os meios de produção,
por serem marxistas, ou seja, controlando o dinheiro,
mas sim controlando o mapa cognitivo,
a forma como pensamos.
O que realmente importa neste aspeto
não é tanto o que é dito em público, mas o que não se debate,
o que não se diz.
Durante séculos,
Os detentores do poder manipularam o nosso mapa cognitivo.
Em 1989, o cientista informático Tim Berners-Lee
implementou a primeira comunicação bem-sucedida
entre um cliente HTTP e um servidor.
Nasceu a World Wide Web.
Desde então,
desencadeou-se um tsunami de informação acessível e gratuita.
Tal como a imprensa escrita de Gutenberg
retirou o controlo sobre o mapa cognitivo
de uma elite eclesiástica e nobre,
hoje, a Internet começa a mudar governos, finanças e os média.
Estamos à beira da mudança.
Mas para a estabelecer,
temos, primeiro, de perceber o que não foi dito por tanto tempo.
Para tal, precisamos do contexto das pessoas que dizem a verdade
enfrentando a ilusão coletiva,
porque perceber algo, é libertarmo-nos disso.
Impérios
Tudo o que uma superpotência necessita fazer para se destruir, é continuar a tentar o impossível.
No fim da Segunda Guerra Mundial,
detínhamos 50% do produto interno bruto mundial,
fazíamos 54.000 aviões por ano, 7000 navios, etc.
Éramos a nova Roma.
Reconhecíamo-lo e elaborámos um esquema de gerência de poder,
a Lei de Segurança Nacional de 1947,
que funcionou razoavelmente bem durante a Guerra Fria.
Mas não fizemos nada desde então e isso é outro sinal
da nossa incapacidade de agarrar o novo mundo.
Os impérios não começam ou acabam numa data certa.
Mas eles acabam,
e o Ocidente ainda não aceitou o facto
de que a sua supremacia está a enfraquecer.
No fim de todos os impérios, com o pretexto de renovação,
tribos, exércitos e organizações aparecem e devoram a herança
da superpotência anterior, muitas vezes a partir do interior.
No ensaio "The Fate of Empires", o soldado, diplomata e viajante,
tenente-general John Glubb analisou o ciclo dos impérios.
Encontrou semelhancas notáveis entre todos eles.
Um império dura cerca de 250 anos, ou dez gerações,
desde os pioneiros aos consumidores conspícuos,
que se tornam um fardo para o Estado.
Seis eras definem o ciclo de vida de um império.
A era dos pioneiros,
a era das conquistas,
a era do comércio,
a era da afluência,
a era do intelecto,
acabando com "pão e circo" na era da decadência.
Há características comuns a todas as eras da decadência.
Um exército indisciplinado e sobre-dimensionado,
a ostentação de riqueza,
uma enorme disparidade entre ricos e pobres,
um desejo de viver de um Estado inflacionado
e um obsessão por sexo.
Mas talvez a característica mais notória de todas
seja a desvalorização da moeda.
Os EUA e o Reino Unido
começaram num padrão-ouro ou padrão-prata,
há muito tempo abandonado.
Roma não foi diferente.
Começou num princípio muito saudável
e estava no padrão-prata.
Mas à medida que se ia corrompendo cada vez mais,
o denário romano chegou ao ponto
em que era uma moeda de cobre.
Aprenderam a platinar e banhavam-no em prata.
Durante a circulação, a cobertura saía.
No fim, todos os senadores que outrora já tinham representado o povo
estavam apenas interessados
em representar a riqueza que poderiam roubar no cargo.
A riqueza de um grande império deslumbra sempre,
mas sob a superfície,
o desejo desenfreado por dinheiro, poder e bens materiais
significa que o dever e serviço públicos
são substituídos por líderes e cidadãos que disputam os despojos.
Historicamente, todos os sinais do declínio do império
começam a desenvolver-se, uns são mais claros do que outros.
A actual crise financeira e económica,
esse tipo de coisas, acompanham sempre o declínio do império.
O povo de Roma era constantemente distraído por eventos gladiatórios,
e os políticos sabiam que o distraía.
Sempre que havia agitação social, organizavam um grande evento.
Organizavam um novo evento com muitos gladiadores.
Todos os dias, fazemos isso.
É uma característica comum a todos os impérios em queda.
Hoje, nos EUA, por exemplo,
encontra-se uma grande ênfase em todos os programas de televisão
que distraem as pessoas de perceber o que está, realmente, a acontecer.
O desporto é parte disso, tal como no tempo dos gladiadores.
Na essência, fomos embalados numa letargia
e aceitámo-la.
Tal como as estrelas do desporto ganham grandes montantes,
também os condutores de quadrigas ganhavam.
No seculo II, Caio Apuleio Diocles
acumulou uma fortuna de 35 milhões de sestércios em prémios,
equivalente a vários milhares de milhões de dólares atuais.
Estranhamente, há outra profissão
que se torna desproporcionalmente reconhecida
à medida que um império declina.
Os romanos, os otomanos e os espanhóis
tornaram os seus chefs celebridades.
Mais uma vez, isto simboliza o fim de um império.
As coisas eram tão boas que nos deixámos levar pelo entusiasmo,
percebemos que éramos grandes
e sentíamo-nos grandes; mas já não o sentimos.
Estão todos à procura disso.
Talvez esteja na melhor comida ou nas melhores roupas,
ou na melhor música, ou nos melhores filmes,
ou num "reality-show", ou numa revista.
Mas nunca nos fartamos do que não precisamos.
Precisamos de uma forte convicção moral
que se difunda na sociedade, e de integridade.
Há uma enorme apatia, uma enorme falta de moralidade, até mesmo política.
Resumindo, há uma enorme maioria de pessoas que não liga o mínimo.
Portanto, esta entropia natural, num organismo vivo,
que um império de facto é, morre com o tempo.
A questão é, como morre?
Morre devorado numa rápida sucessão de acontecimentos,
ou leva muito tempo a morrer?
A geração "baby-boom" nasceu nesta era da decadência.
Talvez inconscientemente,
quebraram o contrato tácito intergeracional.
Através do consumismo desenfreado,
da subida em flecha do imobiliário
e do desejo pela eterna juventude,
a geração "baby-boom" esbanjou a herança de gerações futuras.
Acho que a minha geração e a geração seguinte
esqueceram a frase
do preâmbulo da Constituição "e a nossa posteridade".
De repente, tornou-se apenas "nós".
A geração "baby-boom", à qual pertenço,
fez a pior alocação de capital na história da Humanidade.
Tivemos petróleo barato,
energia barata é a melhor forma de dizer.
Tivemos uma abundância de ideias,
mas escolhemos e perpetuámos um sistema
que deve ser das piores formas
de usar as dádivas que nos foram concedidas.
E vamos pagar por isso.
Os seres humanos são incoerentes e paradoxais.
Queremos paz e imortalidade,
mas estamos sempre a inventar novas formas
de nos destruirmos uns aos outros.
Somos capazes dos atos mais bondosos e nobres
e das atrocidades mais hediondas.
Os seres humanos são criaturas complexas.
Por exemplo, somos capazes de, neste preciso momento,
agir de forma a que seja provável,
se não certo,
que os nossos netos enfrentem catástrofes terríveis.
E agimos conscientemente para acelerar essa probabilidade,
embora todos amemos os nossos netos.
Como ser mais contraditório do que isso?
Apesar de todos os esforços económicos dos últimos 50-70 anos
desde a 2ª Guerra Mundial, e de toda a industrialização,
ainda não conseguimos resolver o problema da pobreza,
privação, fome ou desnutrição.
Todas as noites, milhões de pessoas vão para a cama sem comer,
e milhões de pessoas deitam comida fora.
Desperdício por um lado, e pobreza, privação e fome por outro.
Desnutrição por um lado, e obesidade por outro.
Que espécie de sistema criámos?
Porque é que, com um brilhante conhecimento sobre o planeta,
continuamos a debater-nos por uma distribuição justa da riqueza?
Como é que o Homem desenvolveu um sistema
governamental e económico tão imperfeito
que serve uma minoria em detrimento da maioria?
E com tamanha pobreza numa era de abundância,
porque não houve a vontade de mudar tal estrutura social imoral?
A ganância é o ingrediente fundamental da economia imoral.
O problema não é não haver o suficiente no mundo.
As pessoas dizem que há pobreza e que temos de criar mais riqueza.
Há o suficiente no mundo para as necessidades de todos,
como disse Mahatma Gandhi, mas não para a ganância de todos.
Será apenas ganância ou será mais do que isso?
Será o problema sistémico?
Sistema Bancário
Quando o saque se torna um modo de vida para um grupo de homens que vivem juntos em sociedade,
eles criam para si mesmos, ao longo do tempo, um sistema legal que o autoriza
e um código moral que o glorifica.
Como civilização, tivemos um óptimo período.
Demo-nos muito bem.
Tivemos a Revolução Industrial e sobrevivemos-lhe.
Construímos muitas tecnologias militares modernas
e sobrevivemos a isso, até agora.
Construímos um sistema bancário
e continuamos a debatermo-nos com essa parte,
mas tivemos um bom período.
Quando trabalhei em Wall Street, durante sete anos,
tive uma experiência como a de alguém
que vai a uma fábrica de processamento de carne
e se torna vegetariano.
Ao trabalhar em Wall Street, vemos como o Goldman,
JP Morgan e outros bancos ganham dinheiro.
Quando vemos dinheiro, ficamos repugnados.
Acho que se as pessoas soubessem
o que o sistema bancário anda a fazer,
como disse Henry Ford, haveria uma revolução amanhã de manhã.
A maioria das pessoas pensa que o banco empresta o dinheiro
que alguém lá depositou anteriormente.
Na realidade, um banco comercial gera dinheiro a partir do nada
e, depois, empresta com juros.
Se eu fabricar dinheiro em casa, chama-se falsificação.
Se um contabilista criar dinheiro do nada nas contas da empresa,
denomina-se falsificação de contas,
mas se um banco o faz, isso é perfeitamente legal.
Ao permitir a legalização de uma fraude,
todos os tipos de problemas surgirão no sistema económico
e não se pode fazer nada.
Os bancos privados fazem dinheiro a partir do nada
e emprestam-no com juros. Parece absurdo.
Quando ensino isto a universitários, eles nunca acreditam.
Tenho de explicar várias vezes.
Sim, os bancos criam dinheiro e é assim que fazem...
É absurdo, têm razão em duvidar que é isso que acontece,
mas é.
Se o "lobby" bancário for muito forte
dirá que não querem mudar o sistema,
porque ganham muito dinheiro assim.
Tentam convencer as pessoas de que a culpa é delas,
as suas pretensões salariais são muito altas
e, por isso, temos uma inflação elevada.
Ou que é por se especular no mercado imobiliário
que os preços das casas estão a aumentar.
Não dizem que isto acontece porque os bancos
estão a criar dinheiro a partir do nada e a injectá-lo no sistema.
É por isso que os preços estão a aumentar.
Mas como é que chegámos a um sistema
no qual os bancos têm o poder de criar dinheiro?
Desde 1971, quando o presidente Nixon tirou aos EUA
o que restava do padrão-ouro,
o mundo opera sob um sistema financeiro conhecido como "fiat".
O dólar, a libra, o euro são moedas governamentais "fiat".
"Fiat" é uma palavra latina que significa "que se faça".
É a lei de que a moeda do governo seja dinheiro.
Sem essa imposição legal
e o facto de termos de pagar impostos com esse dinheiro,
o tal dólar ou o símbolo no computador que representa o dólar,
não teria significado.
Apenas o governo tem o poder de emitir tal papel-moeda.
mas os bancos podem criá-lo através de empréstimos.
Nos últimos quarenta anos,
desde que o sistema "fiat" se tornou a norma,
a oferta de dinheiro cresceu exponencialmente.
Temos visto o maior crescimento da oferta de moeda na história.
Mas quem beneficia?
Os que têm o poder de emitir, claro, os governos e os bancos.
Depois, as empresas e particulares
que chegam primeiro a este dinheiro, podem gastá-lo
antes que o preço das coisas que querem comprar suba,
em resposta ao novo dinheiro em circulação.
Ou seja, recebem serviços, produtos e bens baratos,
mas os preços sobem em pouco tempo.
Assim, os titulares de bens, como casas ou acções,
verão ganhos sem haver necessariamente melhorias
na empresa ou casa em questão.
Muitas vezes isto pode levar a bolhas financeiras.
E os que estão no fundo da pirâmide?
Os que têm salários ou rendimentos fixos,
os que vivem em zonas remotas ou os que têm poupanças.
Na altura em que este dinheiro novo chegar a eles,
os preços das coisas que querem comprar aumentaram,
as poupanças rendem-lhes menos,
e os salários continuam inalterados.
Em alguns casos, têm de contrair dívidas
para conseguirem pagar o que antes conseguiam comprar,
o que significa que têm de ir aos bancos.
Na realidade, este processo de criar dinheiro
apenas redistribui riqueza do fundo para o topo da pirâmide.
Assim, o crescente fosso entre ricos e pobres
torna-se cada vez maior.
Quando se sai do padrão-ouro e se entra no sistema "fiat"
combinado com um sistema bancário de reservas fraccionárias,
acaba-se por agravar a dívida
mais rápido do que se pode produzir para suportar essa dívida.
Eventualmente, acabará numa escravidão de dívidas.
Foi o que aconteceu nos EUA.
Nos EUA, por cada dólar do PIB cria-se 5,50 dólares de dívida,
porque é o que acontece quando a economia se inverte.
Naturalmente, a solução do governo para todos o problemas
é criar mais dívida.
Dinheiro que não funciona nunca é suficiente.
Podem imprimi-lo eternamente, mas não se pode imprimir riqueza,
não se livra da dívida contraindo mais dívidas.
Se pudéssemos emitir riqueza,
o Zimbabwe seria o país mais próspero do planeta.
Todos sabemos que isso não funciona.
De todo o dinheiro do mundo atual, 97% é dívida.
O filósofo francês Voltaire disse que,
"eventualmente, todo o papel-moeda regressa ao seu valor intrínseco: zero."
Por três gerações,
o mundo viu a luta entre o capitalismo e o comunismo.
Mas nos anos 80, a economia russa começou a ruir.
a União Soviética rendeu-se
e o chamado capitalismo imperou.
Antes de 1989, tínhamos uma luta entre o comunismo e o mercado.
Nessa luta havia o sentido
de não expor as falhas da economia de mercado.
É uma luta demasiado importante, onde não se critica a nossa equipa,
enquanto lutamos contra a equipa deles.
A equipa deles, o autoritarismo social,
falhava em proporcionar bem-estar à sociedade.
Era muito óbvio, se tivéssemos de escolher entre os dois,
saber qual o melhor.
O comunismo falhou por várias razões.
Foi ineficaz, desrespeitou os direitos humanos...
Assim, o Ocidente capitalista tem estado num modo contínuo de triunfo,
pensando que o adversário falhou portanto, estamos a fazer tudo bem.
Ambos os sistemas estão a tentar fazer algo impossível,
crescer para sempre. Ambos vão falhar. Primeiro, falha um.
O capitalismo vai falhar, mais tarde, se é que não está a já falhar.
Neste momento, os EUA estão numa posição interessante,
porque, nos últimos 200 ou 300 anos da sua história,
foi um país que quase sempre existiu
no pressuposto de que os recursos poderiam expandir-se.
Se houvesse um problema, resolviam-no aumentando o bolo.
"Vai para o Oeste, meu jovem."
Aumenta-se o bolo, para que todos fiquem com uma fatia maior.
Agora, enfrentam um mundo
onde os recursos começam a ser mais escassos.
Terão de dividir esse bolo e infligir dor às pessoas.
Não estão preparados para isso.
Como é que o país se afastou tanto
das intenções dos seus fundadores?
Como é que o sonho americano se tornou tão distorcido?
Nos últimos 30 a 40 anos,
o capitalismo tomou a sua forma extrema.
Isso deve-se ao economista Milton Freedman,
da Escola de Chicago,
a Ronald Reagan, a Margaret Thatcher,
e outros que seguiam estas políticas,
encorajando as pessoas a contrair grandes dívidas,
encorajando privatizações,
reduzindo o governo, supostamente, mas aumentando as Forças Armadas.
Na verdade, os gastos do governo aumentaram.
Há desregulamentação,
livram-se de regras para quem gere as instituições,
nomeadamente as empresas.
É como se tivéssemos de acreditar
que quem está no topo das empresas não precisa de ser controlado.
São uma espécie de.. deuses!
Milton Freedman, os seus protegidos "Chicago Boys",
e a ideologia neoclássica
derrotaram a abordagem clássica à economia
e tornaram-se a estrutura do que, hoje, chamamos capitalismo.
Há duas abordagens económicas principais
que determinam como gerimos o mundo e distribuímos a riqueza.
São as escolas clássica e neoclássica.
A escola clássica defende menos interferência do governo,
mais autonomia pessoal
e reconhece que os humanos não podem funcionar
sem recursos naturais.
A escola neoclássica, que atribui menos importância aos recursos naturais
pensa que o governo deve gerir a economia,
resolver problemas sociais
e deixar o mercado livre tratar da distribuição da riqueza.
A escola neoclássica surgiu há cerca de 100 anos,
devido ao desejo dos investidores em proteger os seus bens.
Significa que os modelos matemáticos neoclássicos
foram desviados da realidade.
Baseiam-se no que deve ser,
ao contrário dos modelos clássicos, que se baseiam no que realmente é.
São estes modelos neoclássicos, que favorecem grandes empresas,
que têm sido usados para legitimar
o financiamento da economia global.
Defendida por Ronald Reagan e Margaret Thatcher,
a economia neoclássica
continua a dominar a formulação de políticas, hoje em dia.
A revolução Reagan, como é chamada nos EUA,
ou a revolução Reagan-Thatcher, falando globalmente,
foi uma grande mudança na estrutura do poder
e uma grande transferência de oportunidade e riqueza.
Não foram os pobres que deram aos ricos,
foi uma transferência dentro do sistema.
Assim, o sector financeiro, em particular nos EUA,
mas também no Reino Unido e alguns outros sítios,
tornou-se muito mais rentável,
os salários desse sector subiram, e concentrámo-nos em bonificações.
Os salários base também subiram, foi uma compensação geral.
Há, assim, uma transferência da parte não-financeira da economia
para a parte financeira.
É uma transferência sem precedentes,
tendo em conta toda a informação disponível.
Refiro-me a toda a história da Humanidade registada.
Em 1932, no rescaldo da Grande Depressão,
aprovou-se legislação para proteger a sociedade.
Introduziu-se a Lei Glass-Steagall
para separar os bancos comuns dos bancos de investimento.
67 anos mais tarde, em 1999,
sob a influência do secretário do Tesouro Larry Summers
e do seu antecessor Robert Rubin,
o presidente Bill Clinton revogou a Lei Glass-Steagall.
Novamente, os bancos podiam usar o dinheiro de depósitos
para especular no que quisessem.
Wall Street tornou-se num tipo de casino muito particular.
Infelizmente, não é o tipo de casino que há em Las Vegas,
que é uma forma legítima de entretenimento.
É um casino com repercussões muito negativas no resto da sociedade.
Não se trata de perder dinheiro numas noites de loucura.
Trata-se da forma como cada empresa perde o seu dinheiro,
o que causa impacto numa sociedade inteira
e conduz a uma grande perda de empregos.
Estes jogos irrestritos deixaram o sistema financeiro global
à beira do colapso.
Com saldos e obrigações de dívida
maiores do que o PIB de países inteiros,
os bancos tornaram-se demasiado grandes para falhar.
O Ocidente não estava preparado
e os banqueiros dirigiram-se aos seus governos desorientados:
"Têm de nos resgatar, precisamos de dinheiro!"
"Se não nos derem dinheiro, tudo se desmoronará!"
"E o que se fará com dezenas de milhões de pessoas
"que perderam tudo o que tinham na conta bancária?!"
"Haverá uma revolução!"
"Por isso, desembolsem o dinheiro!"
"Peguem no dinheiro criado do nada,"
"e devolvam-lo-no!"
"Para resolvermos os nossos problemas"
"e para não falirmos,"
"senão!..."
Foi o que Hank Paulson fez no Congresso dos EUA.
Um dia, chegou lá
e disse que precisavam de 700 mil milhões, de imediato. Senão!!!
Este sistema a que chamamos capitalismo é mesmo capitalismo?
Num sistema capitalista, o governo deveria ser pequeno.
Mas hoje, o Estado está maior e mais invasivo do que nunca.
Os particulares e as empresas deveriam actuar num mercado livre.
As boas empresas deveriam ser recompensadas com lucros
e as más empresas deveriam fracassar.
Mas durante a crise bancária de 2008,
viu-se o sistema económico ocidental dividido de uma forma
que nunca se julgou possível.
Socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres.
Nos EUA, os bancos têm problemas, e o governo resgata-os.
Isso é socialismo.
As pessoas argumentam contra o socialismo nos EUA,
no entanto, agora, deve ser o país mais socialista do mundo.
Temos um sistema que nem é um sistema capitalista adequado.
Os ricos cometem erros e não são castigados.
Os pobres cometem erros e são castigados
ou pior ainda, não cometem erro algum
e são forçados a pagar pelos erros dos ricos.
Quando o contribuinte paga a conta da má especulação dos bancos,
em vez de a economia servir o cidadão,
o cidadão fica ao serviço perpétuo de empresas financeiras amorais.
Foi o director do Banco de Reserva Federal, Alan Greenspan,
que, depois do 11 de Setembro,
cortou as taxas de juro para encorajar os empréstimos.
Os banqueiros precisavam de novos participantes
para manter o dinheiro a circular num sistema
que se tornara um esquema em pirâmide global.
O dinheiro recentemente criado entrou no mercado imobiliário
e gerou uma inflação sem precedentes.
Os preços das casas subiam continuamente.
As mães foram forçadas a voltar a trabalhar
para pagar empréstimos de habitação
e o sonho anglo-americano
focou-se na especulação imobiliária.
No Ocidente, o mercado de habitação não tem que ver com posse.
O mercado imobiliário, no Ocidente,
é a única forma de as pessoas comuns poderem melhorar de vida.
E as pessoas comuns não podem melhorar com salários.
Criámos uma grande bolha financeira do sector imobiliário,
que suga uma grande quantidade de capital,
retira capital que estava em verdadeiras inovações na economia
e coloca-o em uso especulativo sem resultados produtivos genuínos.
É interessante, os alemães não vêem a ligação
entre ter uma propriedade e viver em democracia.
Na Alemanha, muitas pessoas arrendam casas
e estão confortáveis com essa situação.
Mas é verdade que, em diferentes contextos,
tanto Reagan como Thatcher incentivaram as pessoas
a ter casa própria. Isso é parte do problema,
pois ao incentivar pessoas a comprar casa antes de terem condições para isso,
ao impingir-lhes empréstimos duvidosos,
as pessoas não percebem em que se estão a meter,
pode haver graves repercussões desfavoráveis.
Em parte, foi o que levou à crise imobiliária nos EUA.
Não tem nada que ver com democracia,
é apenas um mau conceito económico.
O ponto de viragem que aconteceu por volta do ano 2000, nos EUA,
foi quando os banqueiros descobriram que os pobres são honestos.
Perceberam que quem é pobre, quem não é rico,
tem valores diferentes e pensa que dívida é dívida
e é algo que tem de ser liquidado.
As pessoas vão tentar pagar as dívidas que têm,
mesmo que as dívidas não sejam válidas,
mesmo que as dívidas sejam maiores do que o esperado,
mesmo que não possam pagar as dívidas.
Acho que as instituições imobiliárias e bancárias,
ao elaborarem contratos com taxas de juro flexíveis,
sabiam desde o início que estes problemas surgiriam,
sabiam que as pessoas não conseguiriam pagar os empréstimos.
Ao subirem as taxas de juro, puseram as pessoas em situações
em que não podem colocar comida nos frigoríficos
têm de tirar os filhos da faculdade, porque já não a podem pagar.
E a situação está a piorar.
Os bancos envolveram-se numa conspiração criminal,
ao cobrar mais a negros e hispânicos.
Os bancos juntaram-se, apoiaram a administração Bush,
impedindo processos estatais de empréstimos raciais
para explorar e cobrar mais às minorias.
Eram empréstimos concedidos
por uma das maiores mutuantes da cidade e do país,
a Wells Fargo.
A Wells Fargo teve como alvo comunidades minoritárias na cidade,
concedeu empréstimos a mutuários que não os podiam pagar,
concedeu empréstimos de alto risco.
Logo, eram mais caros e menos vantajosos para os mutuários.
Esconder práticas de empréstimo predatórias nas letras pequenas
de produtos financeiros complexos
só iria enriquecer uma das partes.
Várias comunidades onde vivem afro-americanos
estavam a estabelecer-se,
havia desenvolvimento
víamos sinais de vitalidade nessas comunidades.
As execuções de hipoteca da Wells Fargo,
e os empréstimos de alto risco desse banco, e outros
prejudicaram esse progresso e travaram-no.
Eles não se importam nada, eles não vêem o íntimo da situação,
eles não vêem mesmo os estragos porque se mantêm de fora do problema.
É como olhar para a capa de um livro,
mas se não se abre o livro, nunca se sabe o que está dentro.
Portanto, eles não querem saber da pessoa a quem vendem,
e está errado.
Porque se soubessem, talvez tivessem vontade de ajudar.
O que aconteceu em Baltimore é apenas um exemplo
do que acontece no mundo inteiro,
Uma forma de enquadrar esta injustiça
é marcando-a como uma questão racial.
Mas se olharmos com atenção, veremos que há algo em jogo
que transcende a raça: o lucro!
Não é por acaso, por exemplo, que a tivemos a desregulação...
... na indústria financeira que provocou um desastre.
Os agentes de "lobby" nesta indústria são cerca de 5 pessoas para cada congressista.
Eles pagam a 5 pessoas para explicarem a cada congressista,
para os convencerem, que eles devem aprovar legislação que é favorável
à indústria financeira.
As pessoas pobres que são devastadas não têm dinheiro suficiente.
Não podem contratar 5 pessoas por cada congressista.
Portanto, a nossa democracia funciona em planos desnivelados.
O sector financeiro adquiriu muito poder,
em parte através de contribuições políticas, comprando favores,
mas sobretudo através de controlo ideológico,
convencendo as pessoas de que as finanças estão boas,
que quanto mais financiamento melhor
e que as finanças ilimitadas não reguladas são o melhor.
Esse é o fundamento do corredor de Wall Street - Washington,
como chamamos nos EUA,
Se for necessário provar quem tem o controlo em Washington,
quando foi aprovado o resgate após o colapso do Lehman Brothers,
80% da população estava contra o resgate.
No entanto, o congresso aprovou o resgate, provando, na minha opinião
que está sob o controlo dos interesses dos banqueiros.
Não é reflexo de uma boa democracia
quando uma empresa, um grupo de empresas ou uma indústria
diz que os interesses deles são mais importantes
do que o interesse nacional.
Como é que isso pode acontecer? É fácil.
Graças ao papel das contribuições nas campanhas e dos "lobbies"
na estrutura política norte-americana.
Temos uma democracia com falhas.
É uma oligarquia avançada,
no sentido em que o principal mecanismo de controlo
é convencer as pessoas de que precisam, por exemplo,
dos seis maiores bancos dos EUA, na forma como existem hoje,
com o mesmo baixo nível de regulação,
e que se não existirem ou se se tentar mudá-los,
coisas horríveis acontecerão.
E isto não é chantagem.
Parece, mas convenceram-nos de que não é chantagem,
que o mundo é assim, que não se pode fazer nada
e que temos de colaborar com eles. É muito astuto.
O Sistema de Reserva Federal é essencialmente
o lobista do sistema bancário comercial.
Quando se diz que se quer regulamentar
o Sistema de Reserva Federal, diz-se que o sector financeiro
e Wall Street deveriam ser autorregulamentados.
Wall Street tem poder de veto sobre o diretor da Reserva Federal.
Ao dar poder de veto dos reguladores a Wall Street,
e ao escolher reguladores bancários da própria indústria bancária,
podemos esquecer qualquer possibilidade de regulamentação.
É desregulamentação e chamar-lhe regulamentação
é como duplicar o pensamento orwelliano,
A democracia é o governo do povo.
Plutocracia é o governo dos ricos.
Num estado plutocrático, a desigualdade económica é grande,
a mobilidade social é baixa
e, por causa da exploração contínua das massas,
é quase impossível os trabalhadores saírem da pobreza.
A lei dos direitos de voto, do início do século XX,
aboliu um sistema em que os ricos tinham mais votos
do que os pobres.
Hoje, a ação dos lobbies pôs fim a isso
e reduziu o sistema político norte-americano
a uma mera câmara de branqueamento
para os interesses dos ricos.
O sistema do Goldman Sachs
usa lucros para comprar influência em Washington,
para mudar leis para que seja fácil ganhar dinheiro na Wall Street
para ser usado para comprar influência em Washington,
É uma máquina de prevaricação que se reforça a si mesma,
que continua a crescer como um parasita na economia
e continua a matar o hospedeiro.
Famoso por alegar que faz o trabalho de Deus,
o Goldman Sachs é um dos bancos de investimento
mais influentes do mundo.
Os indivíduos do seu círculo, muitas vezes ocupam posições de grande influência
em governos e bancos centrais.
Em Setembro de 2008, menos de um mês antes da queda da bolsa,
Goldman, supostamente um pilar do mercado livre, mudou o seu estatuto
de banco de investimento para comercial.
Isto significa que ficava agora elegível para protecção do estado.
Socialismo para ricos a funcionar.
O Goldman Sachs é extremamente eficiente no que faz.
A sua tarefa é gerar dinheiro.
Faz com que ladrões de bancos como Willie Sutton
pareçam amadores modestos.
É um grande ladrão de bancos, mas é legal.
O sistema está feito de forma a que o possam fazer.
Recentemente, tem vendido valores mobiliários
juntamente com empréstimos que sabiam que não tinham valor.
Estão a vendê-los a consumidores inadvertidos,
ganhando muito dinheiro com isso.
Enquanto isso, estão a apostar que vão falhar,
porque sabem que o que estão a vender está estragado.
Apostaram com padrões de crédito e muitas outras coisas
com uma grande companhia de seguros, a AIG.
Assim, a Goldman Sachs segurou-se contra o fracasso do que vendem.
Durante a crise do crédito de alto risco nos EUA,
os corretores Michael Swenson e Josh Birnbaum
lucraram quatro mil milhões de dólares vendendo hipotecas a descoberto.
Apoiado por Dan Sparks,
o Goldman Sachs chamou à sua posição "The Big Short"
e apostou contra os próprios clientes.
O senador Carl Levin
chamou o diretor-executivo do Goldman Sachs Lloyd Blankfein,
a uma subcomissão para testemunhar sob juramento.
Muito se falou sobre o suposto imenso valor a descoberto
que o Goldman Sachs tinha no mercado imobiliário dos EUA,
A verdade é que não tivemos uma posição líquida a descoberto
em produtos relacionados com hipotecas imobiliárias,
em 2007 e 2008.
Não tivemos um descoberto massivo no mercado imobiliário
e não apostamos contra os nossos clientes.
O esquema "The Big Short" , em 2007,
rendeu milhares de milhões de dólares ao Goldman.
E, até agora, saíram impunes com este grande golpe.
Voltaram maiores e mais ricos do que antes.
Tiveram os maiores lucros da história, tiveram bónus...
Estão óptimos!
Muito do que têm feito, talvez tudo o que têm feito,
não tem quase nada que ver com o benefício da economia,
Poderá haver alguma objeção a pessoas talentosas
que ganham muito dinheiro,
se trazem algo novo e tangível para o mundo,
se assumem riscos pessoais com o seu próprio dinheiro
e realmente trazem prosperidade para todos?
Num mercado livre, se eu tiver uma ideia brilhante, por exemplo,
alimentar um carro com aparas de relva,
e produzir esse carro, a minha motivação pode ser o lucro
mas se o mercado achar que este é o melhor carro jamais inventado,
e eu ganhar milhões de dólares, eu não beneficiei somente a mim próprio,
mas também todos os outros que precisam de transportar-se.
Esta é a mágica do mercado livre, tem este paradoxo, pode beneficiar
o próprio e simultaneamente todos os outros, e é disto que se trata.
Mas quantas pessoas do público geral alcançaram prosperidade
através de um bónus bancário?
Foi com a Catedral de S. Paulo, em Londres, em pano de fundo
que o vice-presidente e porta-voz do Goldman Sachs, Lorde Griffiths,
deu a entender a forma como os banqueiros realmente pensam.
O cristão devoto defendia bónus exorbitantes.
Não sou uma pessoa de aflição, sou uma pessoa de esperança,
Acho que temos de tolerar a desigualdade
como forma de atingir maior prosperidade
e oportunidade para todos.
Numa visão cristã, islâmica e, com certeza, judaica
diz-se que a riqueza é para ser partilhada.
O dinheiro tem de ser partilhado, não o podemos levar connosco.
A partir daí, muito se desenvolve sobre justiça, economia...
Em vez disso, há pessoas a acumular cada vez mais.
Acho...
... repugnante que as pessoas percam as suas casas,
percam o emprego, não possam pagar os empréstimos
de bancos que cometeram um grande erro
e, depois, recebem grandes bónus.
Isto é errado.
E não percebo porque...
... não nos manifestamos em relação a isso.
Quando os ricos dizem que é necessário enriquecerem
através desses mecanismos de exploração escandalosos,
é apenas propaganda egoísta e deve ser desconsiderada.
É verdade que, ao organizar a sociedade humana,
umas pessoas prosperam e outras têm dificuldades,
é um mecanismo natural.
Mas dizer que tem de haver desigualdade
e que o Goldman Sachs tem de estar organizado dessa forma,
é uma falácia.
Em que momento é que a moralidade entra na economia?
De certa forma,
muitas pessoas pensam que Adam Smith nos concedeu um livre-acesso,
uma forma de não pensar em moralidade,
porque Adam Smith disse que os indivíduos em busca
dos seus interesses são conduzidos como que por uma mão invisível
ao bem-estar geral da sociedade.
Deixe-me clarificar, Adam Smith não disse isso.
Adam Smith tinha plena consciência
de que as empresas se juntariam,
que conspirariam contra o interesse público,
que subiriam os preços... Tinha consciência do monopólio,
sabia da importância da educação
que o setor privado não poderia proporcionar...
Ele próprio conhecia as limitações,
mas os seus descendentes esqueceram essas ressalvas.
Adam Smith foi o padrinho da economia clássica.
Mas desde a sua publicação
que a sua obra tem sido usada como jogo político.
Os financeiros manipulam as suas palavras
consoante os seus interesses.
Lorde Griffiths defende o individualismo implacável
para nos convencer da ideia
de que se um banqueiro enriquecer, nós enriqueceremos também,
através de um processo conhecido como escoamento económico
ou teoria do cavalo e do pardal.
Se alimentarmos bem o cavalo,
algum do alimento passará para os pardais.
É a ideia de que a riqueza concentrada numa pequena minoria
eventualmente escoará para todos os outros.
Mas isso não funciona,
porque quando o dinheiro chega
às pessoas do fundo da nossa pirâmide financeira,
já perdeu o seu valor.
O público não percebe
como os nossos líderes políticos permitem que isto aconteça.
E, naturalmente, perguntam porquê.
Porque os nossos processos políticos têm falhas enormes.
Têm falhas por causa da dependência de "lobbies"
nas contribuições de campanha
Na minha opinião, e na de muitas pessoas,
é por isso que temos que reestruturar os nossos processos políticos,
para dar mais voz ao cidadão comum
e menos voz a grupos de interesse, a grupos financeiros,
àqueles que têm tido um papel na configuração
do nosso código fiscal e na nossa regulamentação.
Na entrada da casa de Colin Powell,
olhei para ele e perguntei-lhe o que se seguiria.
Perguntou-me o que queria dizer e eu disse "o que fazemos agora?"
Ele disse que ia escrever um livro, eu sabia disso,
mas não o faria pelo resto da vida. Eu queria saber o que se seguia.
Ele disse "talvez uma posição no Gabinete..."
"Mas, primeiro... dinheiro."
Eu perguntei que dinheiro e ele respondeu "milhões".
"É a única forma de ser membro do governo norte-americano."
Maiores contribuintes de campanha
Os democratas e republicanos estão comprometidos
com interesses corporativos.
Enquanto não se descomprometerem desses mesmos interesses,
nunca teremos uma república bem governada.
Terrorismo
Linguagem política...
... tem o propósito de fazer a mentira parecer verdade, e o assassínio respeitável.
e de dar ao vento uma aparência sólida.
A iniquidade inerente
ao nosso sistema financeiro, bancário e político
não teve apenas consequências internas,
mas também à escala global.
Os líderes ocidentais apresentaram a sua campanha militar no Iraque,
Afeganistão e Paquistão como uma obrigação moral,
mas haverá outras razões?
O primeiro beneficiário da política externa dos EUA é o exército.
Em particular, aqueles que fornecem armas e equipamento.
O exército ganhou guerras, mas quão bem-sucedido tem sido
no seu maior objectivo de erradicar o terrorismo?
Os ataques com drones não só falharam,
como também criaram mais radicalismo.
Ajudaram na radicalização da juventude na Fronteira Noroeste
e também em algumas zonas de Punjab e do Paquistão.
Mas quantas e quantas vezes...
... parece que os EUA fazem isto deliberadamente
para destabilizar o Paquistão. Não tenho a certeza quanto a isso,
mas acho que quem apoia esta política,
sempre que mata dez dos denominados "terroristas",
cria mais 500, porque encaram os ataques de drones
como um ataque ao estado soberano do Paquistão.
Se de facto quisessem acabar com eles, não havia necessidade de uma enorme...
operação militar em Swah, causando o desalojamento da população de uma província inteira.
A população de Swah é de 1,8 milhões, e há 2,3 milhões de refugiados no país.
A província inteira foi desalojada.
Isto não teria sido necessário, teria bastado uma operação comando cirúrgica...
... para capturar os líderes. Mas eles deixaram-nos escapar, todos eles.
A seguir às Forças Armadas, os beneficiários seguintes
são os que ganham os contratos do processo de reconstrução.
No Ocidente, as pessoas até se podem sentir otimistas
ao ouvirem que os EUA injetaram
milhares de milhões de dólares recém-criados
em nações em vias de desenvolvimento
para construírem infraestruturas,
mas normalmente isto não parece alcançar os objetivos divulgados.
Haverá outra razão para ajudarmos estes países?
Os assassinos económicos criaram o primeiro império global do mundo.
E fizemo-lo essencialmente sem os militares.
Trabalhamos de várias formas.
A mais comum é escolher um país de terceiro mundo,
com recursos que as nossas empresas cobicem, como o petróleo,
e providenciar um empréstimo enorme a esse país,
do Banco Mundial ou de uma organização-irmã.
Contudo, o dinheiro nunca chega realmente ao país.
Chega às nossas empresas,
para construírem infraestruturas nesse país,
centrais de energia, autoestradas, complexos industriais...
Coisas que beneficiem algumas famílias ricas desse país,
e também as nossas empresas,
mas não ajuda a maioria das pessoas.
São demasiado pobres para comprar eletricidade
ou para conduzir carros nas autoestradas
e não têm capacidades para trabalhar em complexos industriais.
Mas ficam com uma dívida enorme.
As infraestruturas que vêm com empréstimos avultados
do Banco Mundial e do FMI,
e que são feitas por empresas dos países ocidentais,
beneficiam a elite e as classes ricas,
mas não beneficiam o povo.
Muito do dinheiro vai para estes consultores e empresas ocidentais que...
... cobram somas avultadas de dinheiro e, de facto, o que sobra para os projetos
e pessoas vulgares, é muito limitado.
As massas já têm muito pouco.
Os proprietários das infraestruturas
e os que ganham dinheiro com as infraestruturas construídas
vão prosperar.
Mas para quem não tem recursos
e para quem não tem emprego
não há atividade económica,
em termos de fabricar bens
para vender, para que também eles possam prosperar.
Quando não têm isso, o que fazem?
Juntam-se aos talibãs,
porque vêem o inimigo a entrar e a levar o pouco que têm.
O presidente Obama quer investir 7,5 mil milhões de dólares
em infraestruturas no Paquistão...
... para mitigar a pobreza
e retirar as divisões e o sentimento anti-americano.
Quaisquer que sejam as razões, podemos viver sem ele.
Na realidade, é a pior coisa que ele pode fazer,
Este tipo de ajuda será um obstáculo, só vai piorar a situação.
Trará a guerra contra o terrorismo para as nossas zonas rurais.
Quanta da política externa dos EUA é genuinamente altruísta?
Quanta é influenciada pelos bancos e empresas que lucram com isto?
O evangelismo da democracia norte-americana
está repleto de contradições.
E também a ideia de promover a democracia na ponta das armas
ou opor regimes que são democráticos, mas não exactamente como os EUA querem.
Esta ideia de que os EUA têm promovido,
o capitalismo do mercado livre, também está cheia de contradições.
A verdade é que as empresas norte-americanas
tendem a lucrar mais quando os países estão à beira da mudança.
Certamente, as empresas financeiras norte-americanas,
querem mercados que estejam a mudar estruturalmente,
mas que não sejam demasiado livres e transparentes,
porque ganham dinheiro quando os mercados são um pouco opacos.
Não será de admirar que nações desenvolvidas
estejam em guerra em nações sub-desenvolvidas
quando há tantos que lucram com isso,
sem terem de enfrentar,
ou sequer testemunhar, as consequências das suas ações.
Se cinco milhões de crianças morressem por causa da dívida?
Há quem ganhe um bónus de um milhão de libras.
Já tive esta conversa...
... com banqueiros no activo há muito tempo.
Eles ouviam, educadamente,
eram muito educados, encantadores.
No fim diziam "prazer em vê-lo, Tarek" e voltavam para o escritório,
para conceder um empréstimo à Tanzania ou algo assim.
Tenho conhecido muito "terroristas".
Conheci-os, entrevistei-os,
conheço-os desde que era assassino económico.
Nunca conheci um que quisesse ser terrorista.
Todos queriam estar com a família, nas suas quintas.
Foram levados ao terrorismo porque perderam a sua quinta.
Foi inundada com água de um projeto hidroelétrico,
ou com petróleo das gruas.
As quintas foram destruídas.
Não conseguem ganhar para sustentar os filhos.
No caso dos piratas da Somália,
as suas águas de pesca foram destruídas,
por isso, recorrem ao terrorismo.
Não é por quererem ser piratas ou terroristas.
Pode haver pessoas loucas.
Há pessoas loucas, que não regulam bem.
Haverá sempre assassinos em série, haverá sempre loucos,
talvez Osama bin Laden fosse um deles.
Mas não conseguem seguidores,
a não ser que aconteça uma terrível injustiça.
Se as pessoas têm fome e não têm recursos,
então seguirão estes loucos, porque oferecem uma alternativa.
Se queremos acabar com o terrorismo,
se queremos ter segurança dentro dos nossos países,
temos que reconhecer que o planeta pertence a todos.
O que significa a palavra "terrorista"?
Muitos terroristas descrever-se-iam como lutadores pela liberdade.
Será que a acusação de terrorismo poderia facilmente ser feita
contra empresas ocidentais,
especuladores e decisores políticos?
Quando se fala de terrorismo, fala-se do que eles nos fazem,
não do que nós lhes fazemos a eles.
O que nos fazem pode ser repulsivo,
embora não seja nem uma fracção do que lhes fazemos a eles.
Por exemplo, o 11 de Setembro.
Foi um acto de terrorismo muito sério. Talvez o pior da História.
Mas poderia ter sido pior.
Imaginemos que a Al Qaeda
bombardeava a Casa Branca, em Washington,
matava o presidente, estabelecia uma dura ditadura militar
e trazia economistas
que levavam a economia ao pior desastre da história.
Teria sido pior do que o 11 de Setembro,
Não estou a inventar, isso aconteceu.
Chama-se o primeiro 11 de Setembro na América do Sul,
nomeadamente no Chile.
A 11 de Setembro de 1973,
o presidente chileno Salvador Allende, democraticamente eleito,
foi derrubado num golpe de Estado.
Estabeleceu-se a ditadura de Augusto Pinochet,
que governou o Chile até 1990.
Houve uma supressão sistemática de todos os dissidentes políticos.
Milhares de pessoas foram presas e assassinadas.
Quem esteve envolvido no primeiro 11 de Setembro?
Não é difícil encontrá-los.
Estavam em Washington, em Londres, etc...
Mas isso não está na ordem do dia, não conta.
Há uma ideologia que diz
que nunca devemos olhar para os nossos crimes.
Por outro lado, devemos exaltar os crimes dos outros
e opormo-nos a eles.
As causas do chamado terrorismo não serão resolvidas
aumentando a desigualdade económica.
Se os governos querem mesmo combater o terrorismo,
devem começar por uma reforma estrutural no seu próprio país.
Enquanto os impérios bancários
continuarem em busca de infraestruturas e dívidas,
para seu lucro,
o Ocidente continuará a exportar injustiça através da economia.
Milhões de pessoas serão deslocadas,
o terrorismo irá prosperar
e o neocolonialismo continuará a matar cada vez mais pessoas
no mundo inteiro.
Recursos
As coisas que possuímos, acabam por nos possuir.
O que aconteceu foi que passámos
de um mundo relativamente vazio para um mundo relativamente cheio.
Tinha pouca população e poucas coisas
e, agora, está repleto de pessoas e atulhado de coisas.
Durante a minha vida, a população mundial triplicou.
E a população de outras coisas como carros, casas, barcos...
todas essas coisas, que sobrecarregam o ambiente,
tal como os corpos humanos,
mais do que triplicaram.
O mundo está muito cheio
do que podemos chamar "capital criado pelo Homem".
E está a ficar cada vez mais vazio do que havia,
do que podemos chamar "capital natural".
Somos a primeira geração...
Nós, no mundo rico desenvolvido, somos a primeira geração
a chegar ao fim dos benefícios do crescimento económico.
Durante séculos,
a melhor forma de aumentar a verdadeira qualidade de vida
tem sido através do aumento dos padrões de vida material.
É isso que tem conduzido
aos enormes aumentos na esperança média de vida,
aos aumentos da felicidade e outras medidas de bem-estar.
Mas, agora, isso separou-se do crescimento económico.
Se bem que a esperança de vida continue a crescer no mundo rico
já não está de todo relacionada com o valor
do crescimento económico do país em questão,
e o mesmo acontece com as avaliações de felicidade,
e as avaliações de bem-estar.
O paradoxo é que quanto mais crescemos,
mais pobreza criamos.
O nosso sistema económico egoísta
parece não aprender com os erros.
Assim, ao continuarmos a despojar a Terra do seu capital natural,
será hora de repensarmos a nossa definição ocidental de progresso?
Quando olho para o mundo,
olho-o mais ou menos da mesma forma que a holandesa Shell o faz.
Eles são uma das melhores entidades mundiais em estratégia,
pública ou privada.
E, nessa estratégia, eles consideram dois cenários,
Um chama-se "o plano", e é, obviamente,
uma estrutura corporativa de planeamento onde se supõe que os líderes mundiais
se reúnem e discutem coisas como a transformação de energia,
aquecimento do planeta, escassez de combustíveis fósseis, etc.
O outro cenário chama-se "barafunda", e
é exactamente o que o nome indica, uma desordem.
É interessante notar que, em 2075,
o ano limite para estes cenários, se bem me lembro,
o resultado de ambos os cenários é semelhante.
A diferença é que o "plano" faz muito menos sangue.
O "barafunda" faz muito mais sangue,
porque há luta por estes recursos, com as consequências.
A razão porque as petrolíferas fazem furos no mar a grandes profundidades
é porque o petróleo facilmente acessível no mundo
já foi descoberto e quase todo consumido.
Não só os recursos petrolíferos estão a escassear,
como as novas descobertas de metais estão a tornar-se cada vez mais raras,
40% da terra arável do mundo está seriamente degradada,
e cada vez mais recursos voláteis continuam a ser mal distribuídos.
Pode acontecer que a ameaça iminente
não seja o aquecimento global,
mas sim a exaustão dos recursos do planeta.
Vamos ter lutas para encontrar
terra suficiente para criar produtos agrícolas
a avaliar pelo que diz a ONU,
que a população mundial vai ser de 9 mil milhões (em 2075).
Vamos lutar por
combustíveis fósseis não renováveis conforme forem acabando.
Eu penso que não chegam a 2075 conforme o plano da Shell,
e nós vamos lutar por coisas como água,
e outros recursos preciosos que são necessários à
nossa vida e à nossa economia.
Isto pode ser, como diz a Shell,
um "plano" com os líderes mundiais trabalhando em conjunto para uma
repartição igualitária, ou pode ser uma grande "barafunda".
E, já agora, a Shell aposta na "barafunda".
Tal como o fracasso da geração "baby-boom"
em salvaguardar a geração seguinte,
a nossa mentalidade competitiva ultrapassada
de um mundo sem recursos poderia ter consequências devastadoras.
O nosso contexto económico encoraja o individualismo,
baseado na competição e comparação,
enquanto o progresso que tem havido durante milénios
se tem baseado na cooperação.
Em quase todas as espécies animais,
há sempre um potencial para um enorme conflito,
porque dentro de qualquer espécie,
todos os membros têm as mesmas necessidades,
Lutam, entre eles, por comida, abrigo, ninhos, território,
parceiros sexuais e todo esse tipo de coisas.
Contudo, os humanos sempre tiveram outra possibilidade,
Temos a possibilidade de sermos o melhor recurso de apoio,
amor, assistência e cooperação,
Muitos mais do que qualquer outro animal.
Então, as pessoas podem ser o melhor ou o pior.
Podem ser o meu pior inimigo ou a melhor fonte de apoio.
Numa sociedade progressiva,
para satisfazermos as nossas necessidades económicas,
sociais e culturais comuns,
temos de passar da globalização para a localização.
Os benefícios de um sentido de companheirismo,
responsabilidade e propósito
numa vida conduzida pela produção e não pelo consumo
conduziriam à felicidade e à satisfação.
De facto, temos de nos perguntar
se o estilo de vida consumista nos tem feito felizes.
Acho que se alguém do século XIX
ouvisse que, dali a cem anos, as pessoas estariam a viver
nesta riqueza e conforto extraordinários,
com aquecimento central,
que poderiam deitar fora tamanha quantidade de comida,
como fazemos...
Seria de imaginar que viveríamos num estado de harmonia social
e que tudo seria cor-de-rosa.
É notável o contraste
entre o sucesso material das nossas sociedades e o fracasso social.
A economia em crescimento exige que façamos do consumismo
uma forma de vida.
Ser o que morre com mais bens acumulados
tornou-se a ambição,
e as vendas substituíram a satisfação espiritual.
Foi sem surpresas que a venda de antidepressivos disparou.
A verdade é que a economia mundial, nos últimos anos,
durante uma boa parte da minha vida,
tem sido suportada pela indústria de armamento
ou pela produção de objetos de que não precisamos
e nem sequer queremos, se formos bem a ver,
mas que todos temos de possuir.
O consumismo é conduzido pela nossa natureza social.
Queremos ter as coisas
para fazermos boa figura aos olhos dos outros.
Porque sinto através dos olhos alheios
o sentimento de culpa, vergonha ou orgulho...
Talvez se sintam invejados com tudo isso.
Os bens materiais são uma forma de mediar
a relação entre nós e os outros,
nesta hierarquia alienada.
O que foi mesmo afetado foram as relações humanas,
a vida familiar... Coisas muito importantes para nós.
No fim, o que faz a felicidade das pessoas não é o dinheiro.
É muito claro que, passado um certo nível,
só se obtêm ganhos marginais da riqueza.
O que nos faz realmente felizes são as outras pessoas.
É a nossa relação com os outros que tem sido prejudicada,
nos últimos 30 anos.
Confiamos menos nos outros, interagimos menos,
ligamo-nos menos, casamos menos.
O casamento está sob ameaça, mais do que nunca,
e tudo o que representa o afecto humano incondicional
está a ser destruído ou prejudicado.
Esse é o verdadeiro legado dos últimos 30 anos.
De alguma forma, temos de recuperar e re-humanizar as nossas vidas,
caso contrário, não só se tornarão desagradáveis, brutais e curtas,
mas também solitárias.
O Ocidente está a começar a perceber
que o seu projecto humano está a falhar.
O Ocidente estava tão convencido de que
se incentivarmos o sucesso individual das pessoas,
os sucessos individuais todos somados,
resultariam numa sociedade bem-sucedida.
E o que o Ocidente começa agora a perceber,
é que o sucesso individual,
que não incorpora a comunidade vulnerável,
é um mito.
A ideia era, constrói a tua própria vida,
sê individualmente ambicioso,
e então terás sucesso individual,
e serás individualmente próspero,
e então serás individualmente feliz.
Acabarás sendo tudo isso num frasco de vidro,
e o frasco de vidro tem uma altura limitada,
e é hermético,
e no fim vais morrer com falta de oxigénio.
Os seres humanos estão vivos porque buscam relações,
e porque são movidos pelo afecto,
portanto, o indivíduo bem-sucedido isoladamente, no fim, implode.
Para encontrar um objectivo na vida, tem de vir do nosso exterior.
Não interessa como construímos a partir do nosso exterior,
desde que seja um valor positivo a acrescentar na sociedade.
Mas tem de ser no exterior, não podemos ser nós próprios.
Se nos buscamos a nós próprios, buscamos o abismo,
como Nietzsche disse, "acabarás no abismo".
Progresso
Nunca deixei que a minha escolaridade interferisse com a minha educação.
Uma das estruturas culturais mais poderosas
que molda a forma como pensamos atualmente, no Ocidente,
é o formato dos filmes de Hollywood.
Eles seguem um padrão cultural particular.
Há um início, um meio e um fim.
Há drama, tensão, há determinação,
costuma haver o bom e o mau da fita,
e é normalmente uma história dirigida ao ser humano típico.
Esta " hollywoodização" de como as pessoas comunicam,
a forma como contam histórias sobre elas próprias
e como vêem a História recente
tem muito impacto na forma como encaramos a crise financeira.
As pessoas olham para o início, para o meio e para o fim,
olham para o drama do Lehman Brothers
e querem uma solução.
Querem os maus da fita
e, também, vítimas sacrificiais.
As pessoas concentraram-se em alguns indivíduos.
A ideia é que não houve apenas um ou dois indivíduos
na raiz do problema, foi um problema sistémico,
quase todos os que participaram foram culpados
da absoluta negligência
ou simplesmente não fizeram as perguntas certas.
Porque é que o dinheiro era tão barato, por tantos anos?
A ideia de que foi uma falha sistémica
é algo muito difícil de as pessoas compreenderem.
Ainda mais difícil é descrevê-la como uma boa história.
Talvez haja este sentimento de desamparo,
porque não percebemos qual é o verdadeiro problema.
Tirar algumas maçãs podres não vai retificar os defeitos
do coração do sistema económico ocidental.
Um sistema que deveria proteger as pessoas
é precisamente aquilo que permite aos nossos Quatro Cavaleiros
andarem com tanto vigor.
Os Quatro Cavaleiros dos dias modernos:
- Um sistema financeiro voraz,
- A intensificação da violência organizada,
- A pobreza miserável de milhares de milhões de pessoas,
- O esgotamento dos recursos da Terra,
estão a passar por cima dos que menos conseguem suportar isso.
Galopam sem oposição, porque o mapa cognitivo
implementado pelas nossas escolas,
universidades e nos "media", não nos encoraja
a questionar as normas aceites.
Em vez disso, há apatia.
Acho que somos sociedades deprimidas.
Acostumámo-nos à ideia
de que não há nada que possamos fazer,
de que não há alternativa,
que nunca iremos lidar com estes problemas ambientais
e vivemos numa sociedade competitiva.
O que temos de retirar daqui é o reconhecimento
de que a maioria destes problemas podem ser bastante melhorados,
tornando as nossas sociedades mais justas
e reduzindo as diferenças de rendimento.
Isso também nos ajuda a resolver os problemas ambientais.
Podemos alcançar uma sociedade
qualitativamente melhor para todos nós.
A apatia é como que arquitetada,
porque não temos discussões sobre isto, nos media públicos.
Sem surpresa, os media públicos são dirigidos por capital imobiliário
e interesses financeiros,
e não vão explicar às pessoas
a relação entre os sectores financeiro, de seguros e imobiliário,
o sector FIRE.
Há esta desinformação, este "chutar-para-o-lado",
e a negação dos factores motrizes.
Todas estas são estratégias comuns.
Mesmo na Educação,
vê-se que os bancos ajudaram a estabelecer universidades,
financiaram-nas, financiaram organizações,
têm funções educacionais, têm jornais.
Tudo isto acontece como um exercício de propaganda,
para que as pessoas não percebam qual é o problema.
Não devemos presumir,
por não termos conhecimentos de economia ou de direito,
que estes problemas são demasiado complexos para nós.
Não são complexos, de todo. É muito simples.
Tem que ver com poder e com democracia,
e podem perceber tão bem quanto eu.
Uma fonte desta desinformação
é a escola de economia neoclássica.
Esses economistas e académicos têm conseguido convencer o mundo
de que os modelos deles eram inatacáveis.
Mas tal como a imprensa de Gutenberg foi revolucionária,
no século XVI,
hoje, estamos no despontar do esclarecimento da Internet,
que afastará a nuvem de ignorância
mantida por académicos e pelos detentores dos "media".
A Educação pode ser uma forma de controlo de ideias de massas
e é espantoso que, hoje, a economia neoclássica
continue a ser ensinada em todas as universidades da Ivy League.
Recebo cartas de estudantes de Economia
de outras universidades.
Estão num programa de pós-graduação
e dizem ter lido alguma coisa que escrevi
e que afirmam ser do seu interesse.
Dizem estar presos num programa,
no qual não podem sequer falar sobre essas coisas.
Pedem-me conselhos para o que devem fazer.
Digo que o que lhes estão a ensinar é ao que se terão de opor.
Muitas dessas coisas... Algumas são úteis...
Algumas coisas são úteis, aprendam-nas.
O resto, devem aprender para conhecerem o inimigo.
Um indivíduo pode não ser capaz de mudar o sistema,
mas pode mudar-se a si próprio,
Se não nos oferecem a instrução devida, devemos começar a nossa.
Uma boa forma para começar
é através da leitura dos economistas clássicos,
questionando-nos sobre o que poucos se perguntam,
mas que nos afecta a todos: o nosso sistema monetário.
Se o sistema monetário do mundo não for reformado,
dirigimo-nos para o fim da civilização industrial.
Não direi que acabará com a humanidade,
mas haverá um colapso absoluto
do mundo, tal como o conhecemos,
porque não pode estar baseado em dinheiro "fiat".
Nenhum dos responsáveis por isto o quer admitir, mas é este o facto.
O sistema monetário "fiat" é uma lei criada pelo Homem
e tem sido abusada.
Haverá uma forma de dinheiro
cuja lei não seja criada pelo Homem?
Ao olharmos para a lei natural e para o ouro...
Descreveria o ouro como uma forma natural de dinheiro.
Todo o ouro minado, ao longo da História,
ainda existe e está em circulação.
É uma quantidade correspondente a duas piscinas olímpicas e meia,
se puséssemos todo esse ouro num só sítio.
Acontece que este ouro em circulação
aumenta cerca de 1,75% por ano.
É aproximadamente igual
ao crescimento da nova população mundial
e é aproximadamente igual à criação de nova riqueza.
Em resultado...
... o valor do ouro é consistente,
durante longos períodos,
porque a relação de oferta e procura está equilibrada.
Para atingir a liberdade, é preciso ter dinheiro seguro
e o ouro é a única forma de o fazer.
Só o ouro está fora do controlo dos políticos.
Com os processos modernos criados pelo homem,
tem-se acumulado um excesso de dívida crónica
a todos os níveis da sociedade.
Atualmente a dívida é considerada normal. Não o é!
É uma forma de escravatura.
Mas quanto questionamos a nossa dívida?
E o que devemos fazer acerca disso?
O exemplo clássico mais recente de uma anulação de dívida
foi o milagre económico alemão, em 1947.
Os Aliados anularam
todas as dívidas internas e externas alemãs, excepto as dívidas
que os empregadores deviam aos empregados,
nas semanas anteriores,
e excepto o saldo básico funcional, que todos podiam ter no banco
para comprar comida, nas semanas seguintes.
Essencialmente, seguir-se-iam as cinco ou seis páginas
do que a reforma monetária de 1947 fez na Alemanha.
Começar-se-ia com uma ficha limpa.
Significa que todos teriam a sua propriedade sem dívidas.
O problema é que teríamos de anular as poupanças,
essa seria a contrapartida,
Isso não seria tão mau,
se virmos que 1% dos norte-americanos mais ricos
possuem uma concentração enorme de riqueza nas suas mãos,
mais do que em qualquer outra altura, desde que se registam estatísticas.
O nosso sistema fiscal também precisa de ser revisto.
Atualmente lançamos impostos sobre o que produzimos.
Talvez fosse mais progressista
lançar impostos sobre o que consumimos.
Quantos norte-americanos percebem
que os Pais Fundadores nunca quiseram
que se pagassem impostos sobre o trabalho?
Noutras palavras,
não deveriam existir impostos sobre o rendimento.
O sistema fiscal exportado da Grã-Bretanha,
um vestígio do colonialismo, enganou o mundo.
O elemento mais importante de um sistema fiscal
é fazer o que todos esperavam que fosse feito, no século XIX.
Ou seja, basear o sistema fiscal em impostos sobre a terra
no valor livre de propriedade da terra
e no que John Stuart Mill chamou de "incremento imerecido",
o rendimento que os proprietários ganhavam enquanto dormiam,
como explicou.
Quem pôs petróleo no solo?
Ou o carvão ou o ferro...
Estas são coisas que não são produto do esforço humano.
Claro que extraí-las é, mas a sua existência não.
As receitas provenientes dos recursos naturais
são óptimas para serem taxadas.
Ninguém as fez, então...
E quando são taxadas,
fazemos com que os outros as usem com mais eficiência.
Isto parece perfeito para taxar,
em vez do trabalho e do capital.
Se os governos usassem este valor da terra proporcionado pela natureza,
e não pelo trabalho humano,
e também não por uma empresa,
então não teria que taxar salários sob a forma de imposto sobre rendimento,
não teria que incluir imposto sobre vendas que se soma ao preço de fazer negócio,
e não teria que lançar a proliferação de impostos sobre os negócios.
Este sistema fiscal, defendido por todos os economistas clássicos,
começaria a visar a pobreza global
e permitiria cidadãos de países em vias de desenvolvimento
manter a fonte de riqueza.
Nos países desenvolvidos,
começaria a tratar a nossa crise imobiliária e de dívida,
desencadearia o tipo de empreendedorismo necessário
para desencalhar as nossas economias.
Talvez devêssemos ressuscitar
outro princípio intemporal para os trabalhadores
que foi promovido durante a Revolução Industrial.
A ideia de que quem trabalha numa fábrica tem de a possuir
está bastante implementada na cultura da classe trabalhadora.
No início da Revolução Industrial, nos finais do século XIX,
os trabalhadores tomavam como garantido
que deveriam possuir a fábrica em que trabalhavam.
Outra coisa seria um ataque aos seus direitos fundamentais
enquanto cidadãos livres.
Também tomaram como garantido
que o trabalho assalariado não é muito diferente da escravatura.
Só é diferente por ser temporário e, depois, pode ser-se livre.
Uma das formas de se ser livre
é sendo proprietário das próprias fábricas.
Não era uma visão exótica, era a visão de Abraham Lincoln.
De facto, foi um princípio do Partido Republicano,
no final do século XIX,
Deu muito trabalho tirar essas ideias da mente das pessoas,
mas continuam lá e são muito relevantes.
Foi o filósofo grego Platão
que disse que a relação entre os rendimentos
do empregado mais bem pago e o menos bem pago
de qualquer organização não deve ser maior do que 6 para 1.
Em 1923, o banqueiro JP Morgan declarou que o limite ideal era 20 para 1.
No entanto, a diferença salarial atual
entre o topo e o fundo, nas empresas globais,
pode ser maior do que 500 ou 1000 para 1.
Quando se está numa desigualdade de 500 para 1,
os ricos e os pobres tornam-se quase espécies diferentes,
já não são membros da mesma comunidade.
Perde-se a uniformização dos interesses
e torna-se difícil formar uma comunidade
e ter relações amigáveis entre classes com diferenças tão grandes.
Quando o público expressa o seu desagrado
devido aos rendimentos desadequados,
a defesa comum é levar o debate para o domínio psicológico
e citar o economista britânico Herbert Spencer.
Cunhou a frase "sobrevivência do mais apto"
e as suas palavras são, agora, usadas para justificar o excesso.
A competitividade, nos negócios, é boa,
mas deve haver igualdade de condições.
Os monopolistas têm demasiado,
porque o sistema onde operam está viciado.
Sob a estrutura económica atual,
a aptidão da vasta maioria da população mundial é irrelevante.
Os que vão pagar pela crise não são os que a causaram.
Mas quem a causou, por sobrevivência,
irá, sem dúvida, tentar marginalizar este documentário,
rotulando-o de socialista ou, até, marxista.
Sou capitalista. Sou uma pessoa de negócios.
Acredito nos princípios básicos.
É por isso que estou completamente horrorizado
ao ver esses princípios destruídos por monarcas e monopolistas,
que têm destruído o sistema a partir de dentro, em Wall Street.
E completamente inaceitável.
Sou capitalista. Acho que o capitalismo pode vencer.
Não é uma questão de nos livrarmos do capitalismo.
É uma questão de nos livrarmos desta forma terrível de capitalismo.
O capitalismo, por outras palavras, economia de mercado,
não só tem futuro, como não imagino o futuro do mundo sem ele.
A questão é, que tipo de capitalismo? Que tipo de economia de mercado?
Um sistema de capitalismo reformado,
construído com dinheiro independente,
um sistema fiscal baseado no consumo e não nos rendimentos,
e negócios com trabalhadores-proprietários,
começaria a construir uma economia não dependente
do crescimento constante para servir a sua dívida.
Há séculos que suportamos o denominado "mercado livre".
Longe de ser livre,
levou-nos a destruir a Natureza e uns aos outros,
numa tentativa inútil de progredir.
É absolutamente ridículo sugerir que existem limites do mercado
cientificamente definidos que nunca deveríamos mudar.
Isto é o que os economistas do mercado livre
querem que acreditemos, porque quando nos convencem disso
e se afirmam detentores da verdade,
por terem doutoramentos em Economia,
podem dizer-nos o que quiserem e temos de aceitá-lo.
É nisto que temos de confrontar estas pessoas.
A política tem de estabelecer os limites do mercado.
Se pensarmos, muitas coisas saíram do mercado,
nos últimos dois ou três séculos.
Há dois ou três séculos, podia-se comprar seres humanos,
trabalho infantil...
Muitas coisas que não se imaginam comprar ou vender, nos dias de hoje.
Ao longo do tempo, temos reestruturado esse limite
e não há nada de errado em voltar a reestruturá-lo.
Coisas que eram consideradas absolutamente razoáveis em 1850, como...
vender qualquer químico numa esquina de rua,
dizendo-lhe que é o medicamento indicado para o seu caso,
coisas como esta que eram absolutamente normais na altura,
são agora sérios crimes públicos.
O mesmo se passará certamente, daqui a cem anos,
com a actual gestão activa de dinheiro.
O colapso que vimos na Grande Depressão
e que voltamos a testemunhar no início do século XXI,
ocorreu porque, em nome do crescimento,
muito foi tirado do sistema pelos que contribuem muito pouco.
Empresas multinacionais e bancos vão sempre querer crescer
sem ter de compensar aqueles que realmente trabalham
para produzir o excedente.
No passado,
sempre que quem contribuía pouco retirava demasiado,
as pessoas insurgiam-se para travar tais práticas
levadas a cabo por um inimigo tangível.
Hoje, a pergunta é: com inimigo tão informe
a impregnar cada elemento
do nosso processo económico e democrático,
poderá ser feito outra vez?
Claro que pode ser feito outra vez. É um ciclo.
Não somos escravos da dívida.
Quanto muito, somos ratos numa roda, na gaiola de alguém.
O mercado financeiro cresce, fica organizado,
ganha-se muito dinheiro, no comércio bancário...
É fácil subornar políticos,
mas a essência da democracia norte-americana
é este confronto repetido.
Em 1830, Andrew Jackson venceu o segundo banco dos EUA,
no início do século XX,
Teddy Roosevelt venceu o JP Morgan e o John D Rockefeller
e, em 1930,
Franklin Delano Roosevelt, FDR, venceu todos em Wall Street.
Agora, temos de voltar a fazê-lo.
A única coisa que me deixa optimista,
em vez de cínico ou pessimista
são os meus alunos.
Primeiro, não vejo neles o desejo de irem para Wall Street,
vejo o oposto.
Segundo, vejo neles um desdém por pessoas que...
Melhor, não só não querem dinheiro, como vejo neles desdém
por pessoas que só querem mesmo dinheiro.
A crise que enfrentamos, hoje, foi criada pelo Homem
e o que foi criado pelo Homem pode ser mudado por ele.
Somos todos capazes de transformar o nosso mundo.
As revoluções são filosóficas.
Organizarmo-nos
e impedirmos que os culpados ocultem o verdadeiro problema
significa que é possível envolvermo-nos numa revolução sem sangue
contra as empresas violentas e os seus líderes bárbaros,
que arruinaram a economia.
O sistema bancário globalizado, o capitalismo viciado,
a especulação imobiliária,
os impostos sobre o rendimento,
e a economia neoclássica corporatizaram a democracia,
impediram o progresso,
corromperam o rumo do destino do Homem
e comprometeram o futuro deste planeta.
Se estes problemas não forem abordados,
a próxima implosão será numa escala inimaginável.
Qualquer que seja a propaganda,
no início do século XXI,
os bancos centrais desregulamentaram dinheiro barato,
aumentaram os valores imobiliários,
o que criou uma bolha insustentável de activos,
num mundo que, mais uma vez, gere um sistema fiscal viciado
que enriquece interesses instalados.
Os economistas neoclássicos
arruinaram a vida de milhões dos mais desfavorecidos,
atraíram todos para um conflito intergeracional
e criaram sofrimento que não tem limites.
As pessoas enfurecem-se em multidões
e acordam lenta e individualmente.
A História está repleta de exemplos
de pessoas que se libertam do domínio da opressão
para adoptar uma mudança radical,
só para acabar com novos governantes populares
que mantêm o estado das coisas.
Perceber, realmente, algo é libertarmo-nos disso.
Dedicarmo-nos a uma grande causa, aceitarmos responsabilidade
e sermos autodidatas, constitui a própria essência do ser humano.
O verdadeiro inimigo do capitalista predatório
e o maior aliado da humanidade é o indivíduo autodidata que leu,
percebeu,
atrasa a sua recompensa
e anda com os olhos bem abertos.