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“Mas quem te protege as costas quando tens as costas encostadas à parede sem plano B
acostado nas costas da tua mochila? E nem sequer tens espinha dorsal que te sustente as costas.
Rapaz, ganha espinha nessas costas. Rapaz, ganha espinha nessas costas.”
Um rapaz num orfanato, aterrorizado, Saltam-lhe com raiva as perguntas,
por que está ali fechado, A sua história deixa uma página em branco,
Com a idade vai a juventude pelo barranco, Desde a inocência castigado, podias jurar
que o rosto foi remodelado, O mundo tão grande parece uma jaula agora,
No seu mundo nada mudou ou melhora, Um mundo de felicidade nunca passou
pela cabeça desta pouca idade.
Ele nunca saberá o que é a sensação de ter orgulho,
Quando fala, a sua voz nunca será alta demais se ninguém a escuta,
Quando salta, os seus passos nunca irão longe demais se ele não tem para onde correr,
Rosto pálido, roupa rasgada, sem remorso, recorre à força,
Sonhos perdidos, pés descalços, Noite escura é o retrato dos seus dias,
Um preço imerecido o que ele paga, Como agulha num palheiro perdida a esperança,
Fome, a única razão por que não pode fugir, Julgava que amor e ódio separava uma linha fina,
Quem parece diferente provoca nele um ódio
desmedido que descrimina. Que bela e podre vida aquela.
E ele pergunta Que amor é esse de que falas?
Consegues vê-lo ou senti-lo? Seja como for, afeiçoar-se não é opção,
Sobrevivência na cabeça a única solução, Amor? Ódio? Depressão? Opressão? Sucessão?
Tudo sobrevalorizado nesta confusão.
Vem morte e põe fim a esta aflição, ao meu cansaço, como podem as pessoas sentir felicidade?
A dor tem sido presente e eu sou a testemunha, O meu jeito de vestir dá-me dignidade,
Que culpa tenho eu, a vida é uma confusão, Sou descendente de um ser para quem
não tenho perdão, E a minha raiva introvertida grita,
como se fosse só minha a desdita.
E agora retiro-me desta noite emboscada, Com a morte a um hálito de distância vou dormir
com vontade do próximo duelo diário sem salário,
E se o amanhã é de lamentação, sem hesitação não peço emprestado outro amanhã,
Até lá adeus mundo.