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A Rainha Leoa do Reino Animal não está contente. Ela introduziu recentemente eleições para o
cargo de Rei usando o sistema eleitorial de Maioria Relativa.
Embora o Reino tenha começado com uma democracia saudável, com muitos candidatos ao cargo de Rei,
esta rapidamente transformou-se numa governação bipartidária, com os cidadãos não gostando de
nenhum partido, mas confinados a este sistema devido a um problema chamado efeito Spoiler.
No entanto, um dos súbditos da Rainha Leoa de uma terra distante, Canguru, tem uma solução:
Voto Alternativo. Qual é a diferença?
Para a descobrir, vamos seguir um eleitor num dia de eleição, Esquilo Vermelho, em ambos os sistemas.
Há cinco candidatos para o cargo de Rei, dois pertencentes aos grandes partidos, Gorila e Leopardo,
e três outros candidatos, Tartaruga, Coruja e Tigre.
Sob o sistema de Maioria Relativa, Esquilo Vermelho recebe uma cédula onde escolhe apenas um candidato.
Esquilo Vermelho gosta mesmo de Tartaruga, e até faz campanha por ela. Contudo, ele sabe
que o seu novo vizinho, Esquilo Cinzento, vai votar Gorila.
"E quanto aos outros animais?" começa-se a questionar Esquilo Vermelho.
Em quem irão eles votar?
Os debates no Canal de Notícias dos Animais eram sempre entre os partidos principais,
por isso Esquilo Vermelho acha que vai ser uma eleição renhida entre Gorila e Leopardo.
Enquanto ele é indiferente a Gorila, ele tem um medo de morte de Leopardo.
Como só consegue escolher um único candidato
ele vota Gorila na esperança de prevenir Leopardo de se tornar Rei.
Isto é chamado de votação estratégia, e é uma necessidade sob o sistema de Maioria Relativa.
Mas agora vamos analisar o Voto Alternativo, que Canguru explica a Esquilo Vermelho.
Em vez de escolher um e um só candidato, o eleitor pode classificá-los por ordem,
do seu favorito para aquele de quem gosta menos. Ele dirige-se para as urnas e recebe
a mesma cédula de voto anterior, mas desta vez escolhe Tartaruga em primeiro lugar,
Coruja em segundo, e Gorila em terceiro. Como não gosta nem de Leopardo nem de Tigre,
não preenche mais nada e entrega o seu voto.
A partir daqui, Esquilo Vermelho não se importa muito com o que acontece.
Ele tem outras coisas em que pensar e vai-se embora. Mas tu, caro cidadão,
queres saber como os votos são contados. É assim: Tartaruga, apesar de popular entre alguns cidadãos,
fica em último lugar com 5% dos votos e é eliminada da eleição.
Como os eleitores classificaram os candidatos por ordem, podemos determinar o que teria acontecido
se Tartaruga não se tivesse candidatado. Sem Tartaruga, eleitores como Esquilo Vermelho
teriam votado Coruja em alternativa, e por isso os seus votos são transferidos para ela,
como se Tartaruga nunca se tivesse candidatado. Esta é a razão por que o Voto Alternativo
é por vezes designado de Votação com Turnos Instantâneos. É capaz de simular várias eleições
onde o candidato menos votado em cada ronda é eliminado, sem se perder tempo e dinheiro
necessários para organizar outras eleições.
O método do Voto Alternativo continua a eliminar o candidato menos votado até
que um candidato finalmente ganhe uma maioria ou seja o único que resta.
Como ainda ninguém tem uma maioria, o próximo candidato menos votado, Tigre, é eliminado.
Votantes em Tigre, escolheram Leopardo como sua segunda opção, por isso este fica com os seus votos.
Na última ronda, Gorila é eliminado. Votantes em Gorila escolheram Coruja como sua
segunda opção por isso esta fica com os seus votos, ganha uma maioria e é coroada Rei.
O Voto Alternativo é um sistema melhor porque produz vencedores com que um número maior
de eleitores concorda. Enquanto o Voto Alternativo tem falhas,
é importante salientar que qualquer problema que o Voto Alternativo tem, a Maioria Relativa também o tem.
São ambos susceptíveis a "gerrymandering", não são sistemas proporcionais, nenhum consegue
garantir um vencedor Condorcet (um facto odiado pelos matemáticos mas não há tempo para explicações),
e ao longo do tempo ambos tendem para um sistema biparditário.
No entanto, o Voto Alternativo tem uma enorme vantagem sobre a Maioria Relativa, o que faz
deste matemáticamente superior: não há efeito Spoiler!
Imaginemos uma última eleição, com os dois candidatos principais, Gorila e Leopardo,
e Leopardo pode ganhar com 55% dos votos. Mas o candidato dum terceiro partido, Tigre, aparece.
Tigre consegue convencer 15% dos votantes em Leopardo a apoiá-lo.
Sob a Maioria Relativa, Gorila vence apesar da maioria dos eleitores não o querer como Rei.
Sob o Voto Alternativo, como todos os que votaram Tigre escolheram Leopardo em
segundo lugar, Leopardo ganha na mesma porque uma maioria dos cidadãos
do Reino Animal prefeririam vê-lo no governo do que Gorila.
Com o Voto Alternativo, cidadãos conseguem apoiar e fazer crescer partidos mais pequenos
com que concordam sem terem de se preocupar que alguém de que não gostem ganhe a eleição.
Depois de examinar as diferenças entre os dois sistemas eleitorais, a Rainha Leoa
escolhe o Voto Alternativo para eleger o Rei e todos ficam mais felizes. Bem, quase todos.
Os dois partidos principais não podem ser tão complacentes como antes e têm de
lutar muito mais pelos seus votos.
Isto foi O Voto Alternativo explicado por mim, C. G. P. Grey.
Muito obrigado pela atenção.
Traduzido por Guilherme Simões