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Legendas e tradução por Marcelo de Carvalho e Ulysses Santana.
A vida não examinada não vale a pena ser vivida. -Platão
A VIDA EXAMINADA
"A vida não examinada não vale a pena ser vivida." diz Platão em Apologia, 38A.
Como você examina a si mesmo? O que acontece quando você se questiona?
O que acontece quando você começa a questionar...
suas convicções tácitas e pressuposições desarticuladas,
e começa então a tornar-se um tipo de pessoa diferente?
Veja só, eu considero deste modo. Que, para mim,
a filosofia é fundamentalmente sobre...
nossa situação finita.
Podemos definir isso em termos de sermos seres direcionados à morte
e não temos penas como as aves, temos duas pernas, criaturas linguisticamente conscientes nascidas entre urina e fezes...
cujo corpo um dia será iguaria culinária para vermes terrestres.
É o que somos. Somos seres direcionados à morte.
Ao mesmo tempo, temos desejo enquanto organismos no tempo e no espaço,
Logo, é o desejo em face à morte.
E então, é claro, você tem o dogmatismo, várias tentativas de agarrar-se em certezas,
em várias formas de idolatria, e você tem diálogo diante do dogmatismo.
E então, é claro, estrutural e institucionalmente, você tem a dominação...
e você tem a democracia.
Você tem o esforço de pessoas tentando tornar explicável...
as elites, reis, rainhas, soberanos, elites corporativistas, políticos,
tentando explicar essas elites para as pessoas do dia a dia.
Então, a filosofia torna-se por si só...
uma disposição crítica...
de luta com o desejo diante da morte,
de luta com o diálogo diante do dogmatismo,
e de luta com a democracia na tentativa de manter vivas as experiências democráticas muito frágeis
diante das estruturas de dominação;
patriarcalismo, supremacia branca, poder imperial,
poder do estado.
Todas essas formas concentradas de poder...
que não se explicam para as pessoas que são afetadas por elas.
O primeiro passo em direção à filosofia é a incredulidade. -Diderot
[mulher] E então, você pode me ouvir bem?
[Astra Taylor] E você pode falar comigo, então - Bem. Muito bem.
Maravilhoso. Certo.
Então, eu estava tentando compreender em que você estava me metendo aqui,
e em que modo estamos envolvidos neste passeio.
Eu ia te entrevistar e perguntar o que você pensou estar fazendo.
Especificamente, estou pensando no desafio de fazer um filme sobre filosofia,
que, obviamente tem um elemento falado,
mas, tipicamente, é escrita.
E o formato livro te permite explorar algo com tanta profundidade,
você sabe, 300, 400, 500 páginas explorando um só conceito,
Enquanto na duração de um filme temos 80 minutos...
no formato de discurso que foi gravado.
E no caso deste filme, cada pessoa tem dez minutos.
Sim, isso é escandaloso.
Posso entender que os outros terão dez minutos,
mas reduzir-me a dez minutos...
é um ultraje - não há dúvida quanto a isso.
O fato é que não sabemos onde este filme aterrissará,
a quem ele irá sacudir, despertar,
endoidar, ou entediar.
Mas mesmo o tédio, como um ramo da melancolia, me interessaria...
como uma resposta às estonteantes declarações que estamos produzindo.
Mas eu diria que , mesmo se a filosofia -
E não se esqueça que Heidegger rejeitou a filosofia pelo pensamento,
pois pensou que a filosofia como tal...
ainda era demasiado institucional, acadêmica,
demasiado confinada na erudição e resultados,
demasiado modulada cognitivamente.
então formulou a pergunta, "O que chamamos pensar?"
E tinha muito a dizer sobre passeios,
sobre percorrer caminhos que não conduzem a nenhum lugar.
Um de seus importantes textos chama-se Holzwege,
que significa "um caminho que não conduz a lugar nenhum".
Em grego, a palavra para caminho é "methodos".
Então, estamos no caminho.
[Astra Taylor] Uma coisa sobre a qual quero te interrogar é o significado.
A filosofia é uma busca de significado?
[Ronell] tenho muitas suspeitas, histórica...
e intelectualmente, sobre a promessa de significado,
porque significado...
teve frequentemente arestas fascistóides,
não-progressistas,
se não a essência dessa espécie de coisa.
- Desculpe-me -
de modo que, com muita frequência,
mesmo a emergencial oferta de significado...
que é trazido a um dado incidente ou estrutura...
ou tema na vida de uma pessoa, são disfarces,
um modo de encobrir a ferida da falta de significado.
Penso que seja muito difícil manter coisas...
na estrutura tensa de abertura,
seja ela estática ou não, da falta de significação.
É muito, muito difícil, razão pela qual se dá então...
a rápida tomada de um "significante" transcendental,
de Deus, nação, patriotismo.
Tem sido bastante devastadora esta,
esta ânsia de significado,
embora seja algo com o qual estamos em constante negociação.
Todos querem algo como um significado.
Mas, quando vemos estes cães brincarem,
[cães rosnando] porque reduzir isto a um significado...
em vez de vermos apenas a erupção arbitrária...
de alguma coisa que não pode ser colhida ou explicada,
mas que simplesmente está ali...
nesta espécie de contingência absoluta de ser.
Deixar as coisas em aberto...
e radicalmente inapropriáveis e algo -
e admitindo que não entendemos realmente...
satisfaz muito menos, é mais frustrante,
e mais necessário, acho eu, sabe.
E por isso acho que muitas pessoas...
foram alimentadas e abastecidas por promessas...
de gratificação imediata no pensamento...
e alimento e porcaria, e assim em diante -
pensamento de refugo, comer porcaria, e assim em diante.
Então,
existe uma política de negação daquela gratificação.
E sei que é loucura, mas acho que é aí que temos que pisar no freio.
[Astra Taylor] Algumas pessoas poderiam perturbar-se, ou questionar-se,
sobre como você se comportar eticamente se não existe significado absoluto?
Precisamente onde não existe significado...
seguro ou palpável,
você deve se esforçar muito e você deve ser mega ético,
pois é muito mais fácil viver a vida e saber...
que bem, "aquilo você não deve fazer", e "isso você deve fazer", porque alguém disse assim.
Se não estivermos ansiosos, se estamos bem com as coisas,
não tentamos explorar ou deduzir nada.
Logo, ansiedade é a disposição, por excelência,
da- da-
da eticidade, acho eu, sabe.
mas, não estou receitando transtorno de ansiedade para ninguém.
Entretanto, você poderia imaginar sr. Bush, que não está nem aí...
quando envia todos para a câmara de gás...
ou para a cadeira elétrica?
Ele não exprime nenhuma ansiedade.
E ficam muito orgulhosos disso. Não perdem um instante de sono.
Eles não exprimem ansiedade.
Isto é algo que Derrida ensinou.
Se você sentir que se absolveu de modo honrado,
então você não é tão ético.
Se você tiver sua consciência em paz, então você não tem valor.
Como, se você pensar- "Oh, dei cinco dólares a este morador de rua.
Sou um cara legal." - então você é irresponsável.
O ser responsável é aquele que pensa...
que nunca foi responsável o suficiente.
Que nunca cuidou o bastante do próximo.
O próximo excede tanto...
de qualquer coisa que você possa entender ou alcançar ou reduzir.
Isto, por si só, cria um vínculo ético -
uma relação sem relação, pois você não sabe -
você não pode presumir conhecer ou compreender o próximo.
No minuto em que você pensa conhecer o próximo, você está pronto para matá-lo.
Você pensa, "Oh, eles estão fazendo isto ou aquilo.
Eles são o Eixo do Mal. Vamos despejar algumas bombas."
Mas se você não sabe, você não entende esta alteridade,
é tão "Outro" que você não o pode violar com seu sentido de compreensão,
então,
então, você tem que deixá-lo viver, em certo sentido.
Este é o centro de uma das cidades mais ricas do mundo...
e também um dos lugares mais caros,
e isso levanta uma questão ética.
Quero dizer, há pessoas que têm dinheiro para gastar nessas lojas...
e elas não parecem ter qualquer tipo de problema moral fazendo isso.
Mas o que quero perguntar é, bem, não deveriam ver algum tipo de problema moral nisso?
Não existiria um questionamento sobre com o que deveríamos estar gastando nosso dinheiro?
Então estamos aqui em frente à Bergdorf Goodman, onde há uma vitrine de sapatos Dolce & Gabbana.
E isto é algo que é divertido para mim porque cerca de 30 anos atrás,
eu escrevi um artigo chamado "Fome, Riqueza, e Moralidade"...
no qual eu imaginei...
que você está caminhando próximo a um lago raso,
e você percebe que uma criança pequena caiu dentro desse lago...
parece que ela corre perigo de se afogar,
e você olha em volta procurando seus pais, e não há ninguém por perto.
Você percebe que se você não entrar nesse lago e tirar a criança de lá,
ela irá morrer afogada.
Não há perigo para você pois sabe que o lago é raso,
mas você está usando um belo par de sapatos...
e provavelmente irá estragá-los se entrar nesse lago raso.
Então, é claro, quando pergunto às pessoas, elas sempre dizem,
"Bem, é claro, esqueça os sapatos. Você tem que salvar a criança. É claro."
E então eu paro e digo, "Certo, eu concordo com você sobre isso".
"Mas pelo preço de um par de sapatos,
"se você doá-lo para a Oxfam ou UNICEF ou uma dessa organizações,
"eles provavelmente poderiam salvar a vida de uma criança, talvez mais de uma, em um país pobre,
"onde crianças estão morrendo porque não conseguem ter cuidados básicos de saúde...
para tratar doenças básicas como diarréia ou o que quer que seja."
E esta é uma das razões pelas quais eu acho interessante...
estar aqui na 5a Avenida falando sobre ética,
porque ética é sobre as escolhas básicas que nós temos que fazer em nossas vidas,
e uma dessas escolhas é: como gastamos nosso dinheiro.
[Singer] Eu comecei a pensar sobre essas questões na década de 1970...
quando, por uma razão, havia uma crise em Bangladesh...
onde havia milhões de pessoas que corriam o risco de morrer de fome...
por causa da repressão aos bangladeshis pelo exército do Paquistão naquela época.
E aquilo me fez pensar sobre nossas obrigações em ajudar as pessoas que correm o risco de morrer de fome.
Também por volta daquele tempo, eu conheci uma pessoa que era vegetariana,
a qual me fez questionar,
se me parecia justo continuar comendo carne?
O que nos dá o direito ou justifica
tratar os animais da forma que são tratados...
antes que eles acabem em nosso almoço ou jantar ou seja lá o que for?
E eu li um pouco sobre as fazendas de criação de animais,
fazendas industriais, e a forma que estas confinam os animais,
o que era algo que estava acontecendo naquele estágio.
E eu pensei que você não tem como realmente justificar isto,
que nós simplesmente tomamos como nosso privilégio a ideia...
de que, de alguma forma, os seres humanos têm o direito de usar os animais da maneira que lhes convêm.
E não há justificativa para isso.
A diferença de espécies não é algo que seja realmente tão moralmente significante...
que isso nos autorize a pegar outro ser senciente...
o qual pode sofrer ou sentir dor,
e fazermos o que quisermos com este ser senciente...
somente pelo fato de que gostamos do gosto de sua carne.
Então essas duas questões me fizeram pensar sobre Ética Aplicada,
a qual, naquela época, no início da década de 1970 não era na verdade uma disciplina.
Não era na verdade algo que os filósofos pensavam como sendo filosofia, propriamente.
Mas eu acho que era um bom momento para começar a pensar nessas questões...
por causa do movimento estudantil,
o movimento radical dos anos 1960 e início dos anos 1970...
o qual criou um pouco mais de interesse nessas questões e levantou o problema,
podemos tornar nossos estudos acadêmicos mais relevantes para as questões importantes do dia a dia?
Quando você aplica a ética,
você frequentemente conclui que pensar as coisas detidamente direciona-te a desafiar a moralidade do senso comum.
E, é claro, isso é consistente com uma tradição filosófica ancestral.
Isto é exatamente o que aconteceu com Sócrates...
quando ele começou a perguntar às pessoas “O que é justiça?”
E eles achavam que sabiam o que é justiça,
e eles começaram a pensar sobre isso
e chegaram à conclusão que não compreendiam isso.
E, é claro, Sócrates acabou sendo forçado a tomar cicuta...
porque foi acusado de corromper a moral da juventude.
Agora, felizmente isso não acontece aos filósofos da atualidade.
Mas pode ser bem dito que, de um ponto de vista conservador,
a Ética Aplicada corrompe a moral -
“Corromper” é uma definição errada. Mas isso certamente desafia a moral...
e pode nos levar a pensar de modo diferente sobre algumas coisas...
as quais temos tido apreço por um longo período.
Um monte de pessoas pensam que você só pode ter padrões morais...
se, de alguma forma, você for religioso,
você acredita que existe um deus que ditou alguns mandamentos...
ou que inspirou algumas escrituras as quais o dizem o que fazer.
Eu não acredito em nada disso.
Eu acredito que a ética tem que sair de nós mesmos,
mas isso não significa que seja totalmente subjetiva,
isso não significa que você pode pensar o que quiser sobre o que é certo ou errado.
Quando você começa a olhar as questões, eticamente,
você tem que fazer mais do que pensar apenas os próprios interesses.
Você tem que perguntar a si mesmo, como levo em conta os interesses dos outros?
O que eu escolheria se estivesse na posição dos outros, ao invés de estar em minha posição?
Uma das coisas mais óbvias que surgem...
quando se coloca na posição de outros...
é a prioridade em reduzir ou evitar o sofrimento,
porque ética não é somente sobre...
o que eu de fato faço e o impacto disso,
mas é também sobre o que eu omito fazer, o que decido não fazer.
E é por isso, questões sobre - sendo que nós todos temos uma quantia limitada de dinheiro -
questões sobre em que você deve gastar seu dinheiro...
são também questões sobre em que você não gasta seu dinheiro,
ou o que você não usa seu dinheiro para alcançar.
Eles apenas dizem, “Bem, eu não estou prejudicando ninguém...
se eu gastar alguns milhares de dólares em uma roupa nova."
Mas, em fato, dadas as oportunidades que temos para ajudar...
e dado a forma que o mundo é,
eu acho que bem frequentemente você de verdade...
está falhando em beneficiar alguém, o que poderia estar fazendo.
Eu acredito que temos obrigações morais de ajudar da mesma forma que temos obrigações morais de não prejudicar.
[Singer] Por milhares de anos de história e desenvolvimento da filosofia,
um monte de filósofos têm se perguntado, “A vida tem um significado? Qual é esse significado?"
E esta é uma questão para a qual nós podemos dar uma resposta.
E eu acho que a resposta é, nós fazemos nossas vidas terem significado...
quando nos conectamos com causas ou questões verdadeiramente importantes.
E nós contribuímos para isso, então nós sentimos que...
porque vivemos, algumas coisas tem sido melhores, do que teriam sido de outra forma.
Nós temos contribuído, mesmo que de de forma pequena, para fazer do mundo um lugar melhor.
E eu acho difícil encontrar algo que seja mais significante do que fazer isso,
do que reduzir a quantidade de dor e sofrimento desnecessário que tem existido nesse mundo,
ou fazer do mundo um lugar um pouco melhor para todos os seres que o compartilham conosco.
[Appiah] comecei a pensar na diferença entre...
o contexto no qual evoluímos enquanto espécies...
e o presente, sabe, nessa era de globalização.
E um modo de pensar sobre isso é perceber que...
Se você vive uma vida moderna, se está viajando por um aeroporto,
você passará por muitas e muitas pessoas,
e, em poucos minutos, você terá passado por mais pessoas...
do que a maioria de nossos remotos ancestrais humanos...
jamais teriam visto em suas vidas inteiras.
Como americano, você existe nesta espécie de relação virtual com 300 milhões de pessoas.
Se você tiver sorte o bastante para ser chinês, suas relações virtuais, você sabe, são com,
logo, um bilhão e meio de pessoas, ou algo assim.
Portanto, penso que isto seja um modo de dramatizar,
Acho que o desafio que enfrentamos.
Somos - somos bons com pequenas coisas, cara a cara.
Fomos feitos para isso.
Sabemos como assumir responsabilidade por filhos e pais.
por primos e amigos.
Mas agora temos que ser responsáveis por nossos pares cidadãos,
Sejam de nosso país, sejam pares cidadãos do mundo.
E a pergunta é, podemos imaginar isto?
"Cosmopolitanismo" vem da palavra grega "kosmopolitês"
ou seja, cidadão do cosmo, do mundo.
E precisamos de uma noção de cidadania global.
O cosmopolita diz: devemos iniciar reconhecendo que somos responsáveis...
coletivamente, uns pelos outros, como cidadãos o são.
Mas, segundo,
cosmopolitas pensam que seja ok para as pessoas serem diferentes.
que se importem com todos,
mas não em modo a significar que querem todos do mesmo jeito ou como eles.
Visto que existe um certo tipo de universalismo filosófico,
frequentemente associado com religiões evangélicas, nas quais,
"Sim, amamos todos, mas queremos que tornem-se como nós...
para amá-los de modo digno."
existe um grande provérbio alemão que diz -
"Se você não quiser ser meu irmão, vou esmagar teu crânio."
E isto seria o oposto de cosmopolitismo.
É o universalista que diz, "Sim, quero que você seja meu irmão, mas sob minhas condições."
Agora, se você acredita que todos tem o direito de serem diferentes, certo,
isto pode produzir um tipo de relativismo cultural, no qual se diz,
"Qualquer coisa que queiram fazer, está bem.
"Não existe para mim um lugar externo do qual posso formular qualquer juízo moral,
qualquer juízo ético sobre o que estão prontos a fazer."
Logo, este é um tipo de posição da qual quero me distinguir.
Acho muito importante...
que na conversação global entre seres humanos, que os cosmopolitas recomendam,
uma das coisas que fazemos...
é trocar ideias sobre o que é certo e errado,
é perfeitamente oportuno fazer isto.
Tenho o privilégio de ter crescido em dois lugares.
Minha mãe veio da Inglaterra. Meu pai veio de Ghana.
E nunca, nenhum dos dois,
nos contaram exatamente como se conheceram ou exatamente o que foi que atraiu um ao outro,
apesar de meu pai dizer sempre que minha mãe tinha um esplêndido traseiro não-inglês.
Assim era -
Ela realmente tinha um traseiro mais africano e ele achava isto atraente. Logo, não sei.
Acontece que na cabana onde cresci, o parentesco, ou seja, a família,
é organizada em modo muito diferente do modo em que se organiza na Inglaterra.
Somos o que antropólogos chamam matrilineares.
Significa que o homem adulto mais importante na vida de uma criança...
não é o marido de sua mãe, quer dizer, seu pai.
Mas sim o irmão de sua mãe, seu tio materno.
Existe uma palavra para isto: wofa.
Então, tenho estas oito pessoas no mundo,
duas jovens mulheres...
e seis jovens homens que são meus sobrinhos e sobrinhas.
Eu sou o wofa deles. E por nossa tradição, eu sou -
já que minhas irmãs não tiveram nenhum outro irmão -
eu sou a pessoa responsável pela educação deles.
Se algo ruim acontecer a eles, espera-se que eu cuide deles, e assim por diante.
É claro, agora na Inglaterra se você tiver pai, esta será sua função.
Existe um certo tipo de universalista que dirá,
"Um destes deve estar correto."
mas o cosmopolita diz que são dois modos de fazer,
desde que façam o que se espera deles,
parece-me absurdo sugerir que um deve ser melhor que o outro,
ou que um deles deve, por alguma razão, ser universalizado.
Uma coisa sobre da qual se fala muito atualmente são os conflitos de valores entre culturas,
e com frequência se pensa que sejam quase inevitavelmente irreconciliáveis…
e que são as raízes de todas as dificuldades no mundo.
Para mim - o primeiro modo, acho
que precisamos trabalhar para desembaraçar todos os problemas deste modo de pensar...
é reconhecer a enorme diversidade de valores pelos quais as pessoas são guiadas.
Somos diferentes. O cosmopolita pensa que temos o direito de ser diferentes,
e que é permitido que devem existir diferenças de certos tipos.
Ma o cosmopolita admite também o fato de que existem todos esses diferentes tipos de valores...
e o fato de que podemos reconhecer tantos deles…
é uma lembrança do fato de que somos todos seres humanos,
de que compartilhamos aquilo que poderia se chamar uma natureza moral.
[Appiah] Nossas responsabilidades não são unicamente para uma centena de pessoas com as quais podemos interagir e ver.
Acho que este é o grande desafio.
Cosmopolitismo, para mim, deve ser considerado uma resposta para este desafio.
significa dizer que...
você não pode reduzir-se aos cem.
Simplesmente não pode ser parcial a favor de algum pequeno grupo...
e simplesmente transcorrer toda sua vida moral nisto.
Isto não é - Não é moralmente permissível.
Mas você também não pode abandonar seu grupo particular,
porque isso te conduziria muito distante, acho, de tua humanidade.
Portanto, o que devemos fazer é aprender como realizar os dois.
[Nussbaum] Aristóteles tinha os ingredientes de uma teoria da justiça...
que acho muito poderosa.
É que a tarefa de um bom acordo político...
é prover toda e qualquer pessoa...
com aquilo que necessitam para se tornarem capazes...
de viver vidas humanas ricas e prósperas.
Mas, é claro, ele não incluiu todo o povo,
mas, ao menos, ele tinha esta ideia de apoiar a capacidade humana...
este é o fundamento de minha abordagem.
Agora então, nos séculos XVII e XVIII,
surgiu em cena uma abordagem nova, muito poderosa,
foi a abordagem do contrato social -
Hobbes, Locke, Rousseau, Kant.
A abordagem do contrato social se inspirou...
pelo ambiente cultural do feudalismo,
onde todas as oportunidades eram distribuídas desigualmente...
às pessoas segundo suas classes,
suas riquezas herdadas, e seus status.
Então, o que estes teóricos disseram foi, tentem imaginar seres humanos...
privados de todos estas vantagens herdadas,
Situados no que chamaram de “estado natural”
no qual possuíam somente seus corpos naturais e suas vantagens físicas,
e tentem imaginar que tipo de providências eles poderiam realmente tomar.
A tradição do contrato social é, claramente,
uma tradição acadêmica, filosófica,
que tem, no entanto, uma influência tremenda na cultura popular...
e em nossa vida pública em geral.
Pois, todo dia ouvimos coisas como,
"Oh, essas pessoas não pagam por suas escolhas."
Ou, apoiando algum novo grupo de pessoas,
"Bem, eles serão um atraso em nossa economia."
Então, a ideia de que um bom membro da sociedade é o produtivo...
Que contribui com vantagem para todos, é uma ideia muito, muito vivaz.
E permanece por trás do declínio dos programas de previdência social neste país.
Acho que ela se encontra por trás do ceticismo de muitos americanos sobre a Europa,
sobre a democracia social européia.
Você ouve termos como “o Estado babá,"
Como se houvesse algo de errado com a ideia de cuidado maternal...
como noção do que a sociedade realmente faz.
Também vemos isso de outro modo em imagens do que é o homem real.
O homem real é como estas pessoas no estado natural.
Ele não precisa profundamente de ninguém.
Ele não se liga a ninguém por vínculos de amor e compaixão.
Ele é o solitário que pode prosseguir por seu próprio caminho...
E logo, fora de qualquer proveito,
Ele decidirá estabelecer certos tipos de acordos sociais.
Os teóricos do contrato social tiram conclusões que nem sempre são verdadeiras.
Eles supõem que as partes deste contrato...
Na verdade são desiguais em poder físico e mental.
Então, isto é certo...
Quando se pensa sobre homens adultos sem deficiências,
Mas como alguns deles já começam a notar,
não está tão certo quando se pensa sobre mulheres,
porque a opressão das mulheres sempre foi parcialmente ocasionadas...
Por sua fraqueza física, comparada aos homens.
E então, se você excluir esta assimetria física,
Você pode estar excluindo um problema que uma teoria da justiça terá que regular.
Mas, obviamente não está certo quando pensamos sobre justiça...
Para pessoas com deficiências físicas ou mentais graves.
Na verdade, alguns dos teóricos que perceberam isso disseram,
"Bem, isso é um problema, mas só teremos que resolvê-lo mais tarde.
Primeiro, formularemos a teoria e então, nos dedicaremos a este problema em outro momento."
Certamente, penso que este não seja um problema menor.
Existem muitas pessoas com sérias deficiências físicas e mentais.
E não só isso, é com todos nós -
Quando somos crianças pequenas e conforme crescemos.
Como pensar na justiça quando estamos tratando com corpos físicos...
que são muito, muito desiguais em suas habilidades e poderes?
E talvez até pior,
Como pensar nisso quando se está tratando com...
capacidades mentais que são muito, muito desiguais em seu potencial?
Penso que este seja um problema político realmente sério.
Começamos apenas a compreender como educar crianças deficientes,
como pensar a representação política delas,
como projetar cidades que sejam abertas à elas.
Quero dizer que esta ponte que atravessamos, um cadeirante pode atravessá-la.
Mas, como se sabe, 50 anos atrás, não seria este o caso.
Existiriam degraus e aquela pessoa não teria podido ver esse belo lago.
A abordagem baseada nas capacidades, que desenvolvi assim como uma teoria da justiça,
começa com a ideia de que todos os seres humanos...
possuem uma dignidade intrínseca...
e requerem circunstâncias de vida...
equivalentes àquela dignidade.
As áreas da vida que me parecem particularmente importantes...
quando pensamos as capacidades são;
certamente a vida mesma é a mais basilar;
Saúde corporal; integridade corporal;
O desenvolvimento dos sentidos, imaginação e pensamento;
O desenvolvimento da razão prática;
O desenvolvimento de afiliações, Seja as mais informais,
na família e na amizade, seja também na comunidade política;
O desenvolvimento da capacidade de brincar...
E ter oportunidades de recreação;
A habilidade de criar relações...
Com outras criaturas e com o mundo da natureza;
Desenvolvendo capacidades emocionais,
Porque acho que muitas teorias excluem o fato...
De que não queremos ter vidas repletas de medo, por exemplo,
A meu ver, pessoas se reunem para formar uma sociedade...
Não porque tenham medo...
E desejam estipular um acordo de vantagem mútua,
É muito mais devido ao amor...
que eles querem unir-se a outros na criação de um mundo que seja tão bom quanto possível.
[Astra Taylor] Então, você tem que ir à escola para ser um filósofo?
[ West ] Oh, Deus, não. Graças a Deus você não precisa ir à escola para isto.
Não. Um filósofo é um amante do saber.
Requer uma tremenda disciplina, requer tremenda coragem...
pensar por si mesmo, examinar você mesmo.
O imperativo socrático do auto- exame requer coragem.
William Butler Yeats costumava dizer que para examinar os ângulos escuros de sua própria alma...
é necessário ter mais coragem do que o soldado que luta no campo de batalhas.
Coragem para pensar criticamente. Você não pode falar -
Coragem é a virtude que habilita qualquer filósofo,
qualquer ser humano, penso, afinal.
Coragem de pensar, coragem de amar, coragem de ter esperança.
Platão diz que a filosofia é uma meditação sobre a morte e uma preparação para ela.
E o que ele quer dizer com morte não é um evento,
mas sim uma morte em vida porque não existe renascimento,
não existe mudança, não existe transformação sem morte.
Portanto, a questão se torna, como aprender a morrer?
É claro, Montaigne fala disso em seu famoso ensaio,
"Filosofar é aprender a morrer."
Não se pode falar sobre a verdade sem falar sobre aprender a morrer.
Acredito que Theodor Adorno estava certo quando diz...
que a condição da verdade é permitir que o sofrimento fale.
Veja como isso traz uma ênfase existencial.
Logo, estamos realmente falando sobre a verdade como modo de vida...
em oposição à simples verdade como um grupo de proposições...
que correspondem a um grupo de coisas no mundo.
Seres humanos são incapazes...
de jamais conquistarem qualquer monopólio sobre a Verdade com “V” maiúsculo
Poderíamos ter acesso à verdade, com “v” minúscula, mas seriam afirmações falíveis sobre a verdade.
Poderíamos estar errados. Temos que estar abertos à revisão e assim em diante.
Logo, existe um certo tipo de mistério que vai de mãos dadas com a verdade.
Por isso tantos pensadores existencialistas, sejam eles religiosos,
como Mestre Eckhart ou Paul Tillich,
ou sejam eles profanos como Camus e Sartre,
estão acentuando nossa finitude e nossa incapacidade de alcançar plenamente...
a natureza absoluta da realidade, a verdade sobre as coisas.
E por isso, ali, fala-se sobre a verdade...
coligando-a ao caminho para a verdade,
porque uma vez que você desiste da noção...
de compreender totalmente o modo de ser do mundo,
vamos falar sobre o que são os caminhos nos quais posso confirmar minha busca pela verdade.
Como sustentar uma jornada, um caminho em direção à verdade, o caminho para a verdade?
Logo, a fala da verdade vai de mãos dadas com a fala sobre o caminho à verdade
E cientistas, você sabe, poderiam falar disso em termos de
evidência indutiva e traçar um desenho seguro e assim em diante.
O povo religioso falaria disso em termos de...
rendição da arrogância e orgulho da pessoa...
diante da revelação divina e todo o resto.
Mas estão sempre reconhecendo nossa finitude e nossa falibilidade.
Quero que todas as colorações ricas e históricas...
se manifestem quando se fala de nossa finitude.
Tendo nascido de uma mulher...
no fedor e catinga que chamo “funk”.
Sendo introduzido ao pavor da vida no útero...
e a pressão do amor que te tira para fora.
Certo? E então seu corpo não é só morte -
No modo em que Vico fala dele. E nisso, Vico era muito melhor do que Heidegger.
Vico fala do corpo como se fosse um cadáver.
Note que Heidegger não falou de cadáveres.
Ele fala de morte. Isso ainda é muito abstrato.
Totalmente. Leia a poesia de John Donne.
Ele lhe falará de cadáveres em decomposição.
Bem, isso é história.
Esta é a pavorosamente crua e fedorenta matéria da vida.
Isto é o que homens do blues fazem. Veja, isto é o que homens do jazz fazem.
Veja, eu sou um homem do blues na vida da mente.
Sou um homem do jazz no mundo das ideias. Por isso música para mim está no centro.
Logo, quando falava de poesia, na maior parte,
Platão estava falando principalmente de... palavras,
Enquanto eu falo de notas, falo de tom, falo de timbre,
Eu falo de ritmos.
Entenda, para mim, musica é fundamental.
A filosofia tem que ir à escola não só com os poetas.
A filosofia precisa ir à escola com os músicos.
Lembre-se, Platão bane a flauta da República, mas não a lira.
Por quê? Por que a flauta invoca...
todos os diferentes lados daquilo que somos...
dada sua tripla concepção da alma;
a racional, a espiritual e a apetitiva.
E a flauta invoca todas as três,
lá onde ele pensa que a lira de uma corda invoca somente uma delas, sendo portanto permissível.
Certamente, a ironia é que em seu leito de morte, o que fez Platão?
Bem, ele pediu que a moça da Trácia tocasse flauta.
Eu sou cristão, mas não sou puritano. Acredito no prazer.
O prazer orgiástico tem seu lugar. O prazer intelectual tem seu lugar. O prazer social tem seu lugar.
O prazer televisivo tem seu lugar. Veja só, eu gosto de certos programas de TV.
Meu Deus, quando se trata de música- Oh!
Como a 32ª sonata, Opus 111 de Beethoven.
Um prazer estático inacreditável.
Poderia ser o mesmo com Curtis Mayfield ou The Beatles ou muitos outros.
Existe um certo prazer na vida da mente que não pode ser negado.
É verdade que você pode estar socialmente isolado,
por estar numa biblioteca, em casa, e assim por diante,
mas você está intensamente vivo.
Na verdade, você está muito mais vivo do que essas pessoas...
que caminham nas multidões das ruas de Nova York...
sem, absolutamente, nenhuma interrogação ou questão intelectual.
Mas, como você sabe, se você ler, John Ruskin ou Mark Twain,
ou, meu Deus, Herman Melville,
você deve quase jogar o livro contra a parede...
porque você está tão intensamente vivo que quase precisa de uma pausa.
[Astra Taylor] Você fica elétrico. Exatamente.
É hora de fazer uma pausa para ter uma pouco de tédio em sua vida.
Pegue Moby ***, jogue-o contra a parede como Goethe jogou a obra de von Kleist contra a parede.
Foi simplesmente demasiado. Fez Goethe-
O livro fez Goethe relembrar a escuridão da qual ele escapava...
depois de ter superado os impulsos suicidas...
com Os sofrimentos do jovem Werther, nos anos 1770...
que o direcionou ao neo classicismo em Weimar.
Existem certas coisas que nos fazem quase vivos demais.
É quase como se sentir intensamente apaixonados. Você não pode fazer nada.
É difícil fazer retornar Kronos. É difícil fazer retornar a vida cotidiana, Sabe o que quero dizer?
Aquela dimensão quirológica do estar apaixonado por outra pessoa,
tudo é tão significativo, que você quer passar por isso. É verdade.
Você não pode fazê-lo em modo simples, sabe. Você tem que ir ao banheiro, tomar um pouco d’água. Merda.
Para minha geração, na metade dos anos 80, quando tinha 20 anos...
E iniciava a fazer política em modo sério,
Parecia que o único caminho -
a única saída para o desejo revolucionário era partir para a América Central...
e participar de qualquer modo ou, ao menos observar suas revoluções.
Quero dizer que então, muita gente foi para o Nicarágua.
Eu e meus amigos nos interessávamos sobretudo por El Salvador.
Mas, o que percebi a um certo ponto...
Foi que tudo que podíamos fazer, realmente, era observar o que eram suas revoluções
E o momento decisivo para mim veio num encontro em El Salvador...
Com um grupo de estudantes, na Universidade de El Salvador.
E, em certo momento, um amigo de lá disse,
"vejam só, somos realmente gratos por estes camaradas norte americanos que vieram nos ajudar
"Mas nós, realmente - o que seria realmente melhor para nós...
"seria que todos vocês fossem para casa, fazer a revolução nos Estados unidos.
Isto seria realmente melhor do que tentar vir nos ajudar aqui."
E, certamente, era verdade. Acho que nenhum daqueles norte americanos ajudou particularmente...
Em Nicarágua e El Salvador, etcetera.
E – disse naquela ocasião -
"Como sabe, Reagan está na Casa Branca.
Não tenho ideia do que significaria fazer a revolução nos EUA. Simplesmente não tenho nem ideia -"
Então ele disse, "Olhe só, vocês não tem montanhas nos EUA?"
E eu respondi, "Sim. Temos montanhas." Diz ele, "É fácil.
"Você vai para as montanhas. Você inicia um grupo armado. Você faz revolução."
E pensei, "Oh, merda." Você sabe.
Isto simplesmente não correspondia a minha realidade.
Como a noção de construir um grupo armado,
Especialmente, construir um grupo armado nas montanhas e logo, sabotar coisas.
Isto não tinha – não tinha absolutamente sentido algum, pois não tínhamos ideia de como fazer isto.
Não somente que não sabíamos na prática-
Como não sabíamos que rifles levar para as montanhas.
É que - a ideia total do que isto envolvesse faltava,
E exigia um repensamento conceitual real.
Acho que encalhamos, conceitualmente, Entre dois modos de pensar a revolução hoje, que são quase clichês.
Por outro lado, temos...
A noção de revolução que envolve...
a substituição de uma elite dominante...
por outra...
elite dominante, melhor em muitos sentidos.
E, na verdade, esta é a forma que muitas revoluções modernas tomaram...
que trouxe grandes benefícios para o povo, etcetera, mas não alcançaram a democracia.
E então, esta noção de revolução está, realmente, desacreditada, e acho certo que seja assim.
Mas, em oposição a esta, existe outra noção de revolução,
Que acho igualmente desacreditada, de um ponto de vista exatemente oposto,
a qual é a noção de revolução que, de fato, não foi instituída -
Que pensa a revolução apenas como uma remoção...
De todas aquelas formas de autoridade-
poder estatal, o poder do capital -
Que impedem as pessoas de exprimir suas habilidades naturais a governarem a si mesmos.
Por muito tempo, a questão da natureza humana tem sido uma coisa de filosofia política.
Na realidade, estou certo de que todos tiveram alguma estúpida noite de faculdade, fumando e falando exageradamente,
quando você acaba caindo em uma discussão, tipo, você decide discordar de seu amigo...
Porque ele acha que a natureza humana é má,
Você acha que a natureza humana é boa, e não se avança disto.
Quero dizer, é - acho eu - o tipo de estupidez, acho
que afetou muito a história da filosofia política.
E acho que é o fato relevante para a política -
que procede encalhada.
Naufragada.
Realmente, o fato relevante para a política é que a natureza humana é mutante.
A natureza humana não é boa nem má. A natureza humana é composta.
É composta por nosso modo de agir, nosso modo de -
A história – a natureza humana é, na verdade, a história de hábitos e práticas...
Que são resultados de lutas passadas,
de hierarquias passadas, de vitórias e derrotas passadas.
Logo, acho que esta é realmente -
A chave para repensar a revolução é reconhecer...
Que revolução ...
Não envolve apenas... Uma transformação pela democracia.
Realmente - Revolução requer realmente...
Uma transformação da natureza humana de modo que o povo seja capaz da democracia.
Democracia é um daqueles conceitos que me parecem ter sido...
Quase totalmente corrompidos hoje em dia.
Em alguns casos, costuma significar...
simplesmente eleições periódicas com uma escolha limitada de governantes.
Em outros casos, quando se pensa especialmente em negócios internacionais,
geralmente significa seguir a vontade dos Estados Unidos.
Mas realmente, democracia significa o governo de todos por todos.
Significa todos envolvidos no autogestão coletiva.
Vê estas tartarugas ali?
Como se transforma a natureza humana em modo que o povo seja capaz de democracia?
A solução de Lênin para o problema É uma solução adequadamente dialética.
Ele pensa – é o que em grande parte decretam os soviéticos -
que deve existir uma negação da democracia.
Chame-a de "ditadura do proletariado,"
Alguma espécie de estado hegemônico que, então, realizaria a transição,
que transformaria a natureza humana,
para assim chegar, eventualmente, ao momento em que o povo se torna capaz de democracia,
O estado não é mais necessário, etcetera.
É exatamente a natureza dialética dito que me parece errada.
Como o povo aprende a democracia? Como a natureza humana muda para Tornar-se capaz da democracia?
Não através de seu oposto.
Isto só pode se realizar numa espécie de desenvolvimento positivo por -
Só se aprende a democracia fazendo-a.
Então, esta me parece - A concepção -
O único modo em que, hoje me parece possível reabilitar...
A concepção de revolução.
Hoje, então, revolução renega a dialética entre purgatório e paraíso.
Trata-se sobretudo de instigar a utopia todos os dias.
Não existe nada tão – que pareça imediatamente, tão inapropriado...
Quanto falar sobre revolução desse -
O que seria como um modo... quase aristocrático. 694 00:52:50,934 --> 00:52:53,266 Quero dizer, nem mesmo burguês. Situação aristocrática.
Sabe, remar no lindo lago de um parque...
Com toda riqueza de Nova York ao redor, Parece uma espécie de absurdo.
[Astra Taylor] Bem, onde assumiríamos que seria então o local revolucionário?
Mas isto então já seria um clichê.
Aqui, o clichê seria que se escolheria como sítio visual...
Ou uma cena de pobreza...
Ou uma cena de trabalho e de produção.
Hum,
Porque então você mostraria aqueles que se beneficiariam com isto,
E mesmo os sujeitos, você sabe, Os atores que a conduziriam.
Mas isto me choca em outro modo que seria apropriado ter -
que trabalhar contra uma concepção de revolução...
como -
perda e privação.
Para mim faz bem pouco sentido dizer que a revolução não pode ser feita nos Estados Unidos...
ou que a revolução não pode ser feita em Nova York. Porque estão todos muito confortáveis,
Porque eles têm muito a perder, etcetera.
Eles também têm muito a ganhar.
Quando dizemos que um mundo melhor é possível,
Não queremos dizer somente um mundo melhor para aqueles que hoje são menos favorecidos.
Queremos dizer um mundo melhor para todos nós.
É aqui que deveríamos começar a nos sentir em casa.
Parte de nossa percepção diária da realidade...
É que isto aqui desaparece de nosso mundo.
Quando você vai ao banheiro, a merda desaparece. Você dá a descarga.
É claro, racionalmente você sabe que ela está lá, canalizada e tudo mais,
Mas em certo nível de tua experiência mais fundamental,
Ela desaparece do mundo.
Mas o problema é que o lixo não desaparece.
Acho que a ecologia-
O modo como abordamos a problemática ecológica...
talvez seja o campo crucial da ideologia de hoje.
E uso ideologia no sentido tradicional, como modo ilusório
e errado de pensar e perceber a realidade.
Porque? Ideologia não é simplesmente sonhar...
sobre falsas ideias e tudo mais.
Ideologia se dirige a problemas muito reais, mas os mistifica.
Afirmo que um dos mecanismos ideológicos elementares,
É o que chamo de tentação do significado.
Quando algo horrível acontece,
Nossa tendência espontânea é buscar por um significado.
Deve significar algo. Você sabe, como AIDS. Foi um trauma.
Os conservadores vieram e disseram: é punição...
Por nosso modo de vida cheio de pecados, e por aí vai.
Mesmo se interpretamos uma catástrofe como punição,
Isto a torna mais fácil, em certo sentido...
Porque sabemos que não é apenas alguma terrível força cega.
Tem um significado.
É melhor quando você está em meio a uma catástrofe.
É melhor sentir que Deus te puniu Do que sentir que simplesmente aconteceu.
Se Deus te puniu, isto ainda é um universo de significado.
Acho que é aí que a ecologia entra como ideologia.
Trata-se realmente da premissa implícita à ecologia...
Que o mundo existente...
é o melhor mundo possível,
No sentido de ser um mundo equilibrado...
Que é perturbado pelo excesso de confiança humano.
Então, porque acho isto problemático?
Porque acho que esta noção de natureza -
natureza como um organismo harmônico, orgânico,
equilibrado, reprodutor e quase vivo,
que é então perturbado,
descarrila-se através do excesso de confiança humana, da exploração tecnológica, e assim por diante,
Acho que é uma versão secular da história religiosa da Queda.
E a resposta deveria ser, não que não há nenhuma queda, que nós somos parte da natureza,
mas ao contrário, que não existe nenhuma natureza.
Natureza não é uma totalidade equilibrada, que nós humanos então perturbamos.
Natureza é uma grande série...
de catástrofes inimagináveis.
Nos aproveitamos delas. Qual nossa principal fonte de energia hoje? Petróleo.
O que, sabemos - o que é o petróleo?
As reservas de petróleo por baixo da terra são resíduos materiais...
de uma inimaginável catástrofe.
Somos conscientes- Por que todos sabem que o petróleo, petróleo, petróleo é-
Petróleo é composto por resíduos da vida animal,
Plantas e tudo mais e mais.
Você pode imaginar que tipo de catástrofe impensável...
teve que acontecer na terra?
Pois isto é bom lembrar.
Não. Você chama isto de ***ô? Meu Deus.
Você pode comer metade de um hamburger. Aqui tem um pouco de sanduíche de queijo.
Depois você pode comer bolo com um pouco de suco.
Talvez a ecologia vire, lentamente,
um novo ópio das massas...
No modo em que, como sabemos, Marx definiu a religião.
O que esperamos da religião é uma espécie de altíssima e indiscutível autoridade.
É a palavra de Deus, isto é o que é. Não se discute.
Afirmo que hoje,
A ecologia cada vez mais está assumindo este papel...
de uma ideologia conservadora.
Sempre que se dá a abertura de qualquer novo caminho científico
é como se a voz...
Que nos avisa para não transgredir,
não violar um certo limite invisível...
como, "Não faça isto. Seria demais."
Esta voz hoje é cada vez mais a voz da ecologia.
Como, "Não se meta com o DNA.
Não se meta com a natureza. Não o faça"-
Esta básica e conservadora...
e parcialmente ideológica desconfiança pela mudança.
Isto é a ecologia de hoje
Outro mito popular sobre a ecologia-
nominamente um um mito ideológico espontâneo -
é a ideia de que nós, pessoas ocidentais...
Em nosso meio ambiente artificial e tecnológico...
Somos alienados dos ambientes imediatamente naturais-
De que não deveríamos esquecer...
que nós humanos, somos parte da Terra viva.
Não deveríamos esquecer que não somos engenheiros abstratos,
teóricos que só exploram a natureza-
Que somos parte da natureza, que a natureza é nosso incompreensível e impenetrável antecedente.
Penso que este seja precisamente o maior perigo.
Por que? Pense num certo e óbvio paradoxo.
Todos sabemos o perigo que corremos -
aquecimento global, possibilidade de outras catástrofes ecológicas e daí por diante.
Mas não porque não fazemos nada sobre isto?
Penso que se trate de um belo exemplo...
Daquilo que em psicanálise se chama rejeição.
A lógica é aquela do, "eu sei muito bem,
mas me comporto como se não soubesse."
Por exemplo, precisamente,
No caso da ecologia, sei muito bem que pode haver aquecimento global,
tudo explodirá e será destruído.
Mas após ler um tratado sobre isto, o que faço?
Pulo fora. Eu vejo - não coisas que vejo agora lá atrás -
Este aqui é para mim um belo panorama -
Vejo belas árvores, pássaros cantando e tudo mais.
E mesmo se, racionalmente, sei que tudo isto está correndo perigo,
Simplesmente não acredito que isto possa ser destruído.
Este é o horror de visitar lugares de catástrofe como Chernobyl.
De certa forma, não somos evolutivos -
Não estamos antenados nem para pensarmos algo como aquilo.
Em certo modo é inimaginável.
Então, penso que o que devemos fazer...
para enfrentar corretamente a ameaça de catástrofe ecológica...
não é toda essa coisa de nova era...
para sair for a dessa matriz tecnológica e manipuladora...
e encontrar raízes na natureza,
cortando, ao contrário, ainda mais estas raízes na natureza.
Precisamos de mais alienação do mundo em que vivemos,
de nossa - como era - natureza espontânea.
Devemos nos tornar mais artificiais.
Penso que devemos desenvolver um novo materialismo abstrato, muito mais aterrorizador,
Uma espécie de universo matemático onde nada existe.
Existem só formulas, Formas técnicas e tudo mais.
E a coisa difícil é encontrar poesia,
espiritualidade, nesta dimensão...
para recriarmos – senão a beleza- ao menos uma dimensão estética...
em coisas assim, mesmo no lixo.
Este é o verdadeiro amor pelo mundo.
Porque o que é o amor? Amor não é idealização.
Todo amante verdadeiro sabe que se você amar realmente uma mulher ou homem,
você não idealiza ele ou ela.
Amor significa que você aceita uma pessoa...
com todos seus erros, estupidez, pontos feios.
E apesar disto, a pessoa é para você o absoluto.
É a vida de tudo- Que faz a vida valer a pena de ser vivida.
Mas você vê perfeição na própria imperfeição.
É assim que devemos aprender a amar o mundo.
Verdadeiros ecologistas amam tudo isto.
Eu imaginei que poderíamos caminhar juntas.
E,...
Uma das coisas que queria conversar era o que significa para nós ‘caminharmos juntas’.
Quando inicialmente te perguntei sobre isso, você me disse que você caminha, você dá uma volta.
- Sim. Eu caminho. E...
você pode dizer algo sobre, o que é isto para você?
Quando você caminha, como você o faz e quais palavras você usa para descrever isso?
Bem, eu acho que sempre saio para caminhar.
Provavelmente eu saio todos os dias para caminhar. Todos os dias.
E sempre digo para as pessoas que estou saindo para caminhar.
Eu uso essa palavra.
E a maioria das pessoas com deficiência também usam esse termo.
E em quais ambientes é possível para você sair para caminhar?
Eu me mudei para São Francisco principalmente porque é um dos lugares mais acessíveis no mundo.
Sim. E parte do que é tão admirável para mim, sobre isso...
é que - o acesso físico -
o fato de que o transporte público é acessível,
existem rampas de acesso na maioria das calçadas.
Quase todos os lugares aonde vou têm rampas de acesso. Prédios são acessíveis.
E o que isso faz é que também leva a uma aceitabilidade social,
que de alguma forma, porque - porque há acesso físico,
há, simplesmente, mais pessoas com deficiência nas ruas e pelo mundo.
E então as pessoas têm aprendido a interagir com elas...
e estão acostumadas com elas de certa forma. - Sim.
E então o acesso físico de fato leva a um,
um acesso social, uma aceitabilidade. - Sim.
Deve ser legal não ter que sempre ser pioneira.
Sim, definitivamente. A primeira que eles encontram...
A primeira pessoa com deficiência que vêem. E ter que explicar.
Sim. E sim, eu falo...
e penso e falo e me movimento e aproveito a vida... Sim.
e sofro muitas das mágoas que você sofre.
De qualquer forma...,
mas o que estou curiosa é, mover-se no espaço social, certo?
Mover-me - todos os movimentos que você pode fazer...
e que te permitem viver e os quais lhe expressam de várias formas.
Hm, você se sente livre para mover-se de todas as maneiras que deseja?
Eu posso ir a um coffee shop e na verdade pegar o copo com minha boca...
e levá-la até minha mesa.
Mas então, isso se torna quase mais difícil...
devidos aos -
aos padrões normalizadores de nossos movimentos… Sim
e ao incômodo que isso provoca...
quando faço coisas com partes do corpo...
que não são necessariamente as coisas para as quais admitimos que elas servem.
Isso parece ser até mais
difícil de lidar, para as pessoas.
O sapato de alguém...
Pergunto-me se podem caminhar sem ele. Sim.
Estou só pensando que ninguém dá um passeio sem que exista uma técnica do caminhar.
Sim. Ninguém caminha...
sem que exista algo que sustente essa caminhada, fora de nós mesmos.
E que talvez tenhamos uma ideia falsa,
de que a pessoa que possui um corpo funcional seja, em qualquer modo, radicalmente auto suficiente.
[Sunaura Taylor] Certo.
Só depois de ingressar nos meus 20 anos, 20 ou 21 anos,
tornei-me consciente da deficiência...
enquanto questão política.
E, na maior parte isso aconteceu através da descoberta do modelo social de deficiência...
que é basicamente -
Nos estudos sobre deficiência, existe uma distinção...
entre deficiência e incapacidade. Certo.
Em tal modo, incapacidade seria meu corpo, minha corporalidade atual.
O fato de ter nascido com artrogripose,
que significa - o que o mundo médico rotulou de artrogripose -
basicamente, que minhas articulações estão enrijecidas.
Meus músculos são mais fracos. Não posso me mover de certos modos.
E isso afeta minha vida em todo tipo de situações.
Por exemplo, sabe, tem uma ameixeira em meu quintal.
Eu não consigo colher ameixas da ameixeira.
Tenho que espera que caiam ou seja lá o que for.
Mas então - e daí tem essa corporalidade,
nossas corporalidades próprias e únicas.
E daí tem a deficiência que basicamente é
a repressão social de pessoas deficientes.
O fato de que pessoas deficientes têm opções de moradia limitadas.
Nós não temos oportunidades profissionais.
Somos socialmente isoladas.
Somos -
Como sabe, existe, em muitas formas, uma aversão cultural a pessoas deficientes.
Logo, a deficiência seria a organização social da invalidez?
Basicamente, os efeitos invalidantes da sociedade.
O que aconteceu? você entrou em contato com ativistas deficientes?
Ou leu certa coisas? Na verdade, li um livro.
Ah, sim? Sim, simplesmente li um livro.
E quando isso aconteceu, eu vivia no Brooklyn.
E eu tentava realmente me forçar a sair...
só para pedir um café por mim mesma. Certo.
Mas antes disso, ficava sentada por horas no parque...
tentando exatamente encontrar a coragem para fazer isso. Oh.
De certa forma, para mim é um protesto político ir lá...
e pedir um café e pedir ajuda...
simplesmente porque, em minha opinião, ajuda é algo de que todos nós precisamos.
Certo. Mas é algo que - como se sabe - o desmerece...
e... realmente não é uma preocupação nesta sociedade...
quando todos nós- todos nós precisamos de ajuda.. Certo.
e todos nós dependemos uns dos outros em todas as maneiras. Sim.
Vamos dar uma parada para comprar algo que me aqueça?
Não sei, querida. Este é bastante elegante.
Vamos buscar algo bom.
Sim, acho que esse provavelmente escorregaria pelos ombros.
Mesmo assim, acho que podemos prová-lo.
Esta é basicamente a parte de trás, certo. Seria sim-
Sim.
Certo.
Outro braço. Outro braço?
E eu gosto. Tem estilo. É muito elegante.
Certo. Sabe, é do tipo,
esportivo e elegante.
Será um novo programa, Fazendo compras com Judith Butler.
Para o seriado “*** Eye”.
Talvez eu possa levá-lo já vestida.
[balconista] Olá. Oi. Vestimos o suéter.
Certo, estou comprando este mesmo que estou usando. Só queremos pagá-lo.
Certo, mas é por peso.
Oh, é por peso? Dá para adivinhar?
Posso provavelmente fazer por quatro dólares mais o imposto. Parece legal.
Aqui está.
Você pode me dar as notas antes e as moedas depois? Certamente.
Oh. Oh, quero dizer que- Oh, você quer-
- Sim, è que não dá para eu segurar ambos ao mesmo tempo. - Aqui está.
- Aqui está. - Obrigado. Muito obrigado.
Acho que gênero e deficiência convergem numa porção de modos diferentes.
Sim. Mas, acho que ambos os movimentos fazem uma mesma coisa...
é nos fazem repensar sobre o que o corpo pode fazer.
Existe um ensaio do filósofo Gilles Deleuze chamado "O que um corpo pode fazer?"
e a questão supostamente desafia os modos tradicionais...
segundo os quais pensamos os corpos.
Geralmente, você sabe, perguntamos o que um corpo é...
ou qual a forma ideal de um corpo...
ou, sei lá, qual a diferença entre o corpo e a alma...
esse tipo de coisas. Certo.
Mas "O que um corpo pode fazer?" é uma questão diferente.
Ela isola um grupo de capacidades...
e um grupo de instrumentações ou ações,
e nós somos uma espécie de reunião dessas coisas.
e eu gosto dessa ideia.
Não é como se existisse uma essência,
nem como se existisse uma morfologia ideal -
sabe, como um corpo deve parecer.
Exatamente, não é essa a questão. Certo.
[Risos] ou como um corpo deveria mover-se.
E uma das coisas que descobri...
pensando sobre gênero e mesmo sobre violência...
contra minorias sexuais, ou minorias de gênero -
pessoas cuja apresentação de gênero não se adequa aos padrões ideais...
de feminilidade ou masculinidade-
é que frequentemente,
se resume a,
você sabe, como as pessoas caminham, como usam seus quadris, o que fazem com as partes de seus corpos,
para que usam suas bocas, [Risadas]
para que usam seus ânus ou para o que permitem que seus ânus sejam usados.
Tem um rapaz do Maine que- acho que tinha por volta de 18 anos.
E, ele caminhava com
uma cadência muito diferente.
Sabe, os quadris indo para um lado e para o outro, um caminhar muito feminino.
Mas um dia estava indo para a escola,
e foi atacado por três colegas de classe,
e foi jogado de uma ponte e foi assassinado.
A questão com a qual aquela comunidade teve que lidar -
como realmente toda mídia que cobriu o caso-
foi, como é possível que o modo de caminhar de alguém,
que o estilo do caminhar de alguém...
possa ter provocado o desejo de matar aquela pessoa?
E isso me faz pensar sobre o caminhar em modo diferente.
Quero dizer, uma caminhada pode ser uma coisa perigosa.
Estava exatamente me lembrando que, quando era pequena, quando caminhava,
Diziam-me que caminhava como um macaco. - Ah.
Acho que, para muitas pessoas deficientes
a violência
e essa espécie de ódio, existe bastante...
nessa,
lembrança das pessoas...
de que nossos corpos estão envelhecendo...
e estão indo em direção à morte.
E -
Sabe que em certos modos, também me pergunto, pensando exatamente no comentário sobre o macaco...
se isso não seja também um nível de -
e esse é só um pensamento instantâneo do alto de minha cabeça -
mas somente,
o tipo de...
onde se encontram nossas fronteiras enquanto humanos...
com aquilo que se torna não humano.
Isso me faz pensar se essa pessoa era anti-evolucionária.
- Certo. - Talvez fosse criacionista.
É como dizer, "Bem, porque não deveríamos ter alguma semelhança com o macaco?"
Bem, realmente o macaco sempre foi meu animal favorito, também.
Logo, muitas vezes eu me sentia lisonjeada.
Exatamente. - Sim.
Mas isso-
Quando, naqueles momentos intermediários...
de, sabe, mediação entre masculino e feminino...
ou entre morte e saúde -
Até quando você ainda conta como humano?
Sinto que o que está em jogo aqui é...
realmente, repensar o humano como espaço de interdependências
Acho que quando você entra no coffee shop. Certo?
Se posso, por um momento, voltar àquele momento.
E você pede um café,
ou você, de fato, até pede ajuda com o café,
basicamente você estava propondo uma questão-
Vivemos ou não num mundo no qual amparamos uns aos outros? [Risos] Sim.
Nos ajudamos ou não reciprocamente, em nossas necessidades básicas?
E essas necessidades básicas devem ser resolvidas como uma questão social...
e não somente como minha questão pessoal, individual...
ou nossa questão pessoal, individual?
Então, quero dizer, existe aí um desafio ao individualismo...
que ocorre no momento em que você pede ajuda com a xícara de café.
Sim. na esperança que alguém a erga...
e diga, "Sim, eu também vivo naquele mundo... Sim.
em que compreendo que necessitamos uns dos outros para nos voltarmos às nossas necessidades básicas."
Você sabe.
E quero organizar um mundo social e político fundado sobre tal reconhecimento.
[West] O romantismo saturou completamente o discurso dos pensadores modernos.
Pode-se totalizar? Pode-se fazer das coisas um inteiro? [Astra Taylor] Exato.
Você pode criar harmonia? E se não puder, decepção.
Decepção está sempre ao centro. Fracasso está sempre ao centro.
Mas de onde teria vindo o Romantismo? Porque iniciar com o Romantismo? Note que não começo com o Romantismo.
Você lembra o que Beethoven disse em seu leito de morte? Lembra?
Ele disse, "Aprendi a olhar o mundo...
Em toda sua escuridão e mal e ainda assim, amá-lo."
E este não é o Beethoven romântico. Este é o Beethoven do quarteto de cordas 131,"
O maior quarteto de cordas jamais escrito- Não só na musica clássica.
Mas, certamente, é uma forma européia, Então Beethoven é o grande mestre.
Mas o quarteto de cordas- Você retorna àqueles movimentos,
Não é nenhuma totalidade romântica para ser despedaçada, como no primeiro Beethoven.
Note que ele desistiu daquilo.
Daqui parte Chekhov. Daqui parte o blues. Daqui parte o jazz.
Você acha que Charlie Parker está chateado porque não pode segurar uma harmonia?
Ele não se importava com a harmonia. Ele estava totalmente tentando flutuar na dissonância, flutuar nas notas do blues.
Certamente ele tem harmonia em suas intervenções aqui e acolá.
Mas porque iniciar desta obsessão com a totalidade?
E você não a pode ter então você fica decepcionado, querendo tomar um drink...
E melancolia E blá, blá, blá,...
Não. Veja que o blues- Meu tipo de blues-
Começa da catástrofe, começa com o Anjo da História nas Teses de Benjamin.
Você sabe. Ele começa com o saqueio, com a ruína-
Um colide com o outro.
Este é o ponto de partida. O blues é a catástrofe pessoal expressa liricamente.
E os negros na América E no mundo moderno-
Dado este legado perverso da supremacia branca-
É assim que se gera...
a elegância de uma merecida união consigo mesmo...
Assim você tem onde aferrar-se...
diante do catastrófico e do calamitoso...
E do horrendo E do escandaloso e do monstruoso.
Apesar disto, note que quando você tem um projeto romântico, parte do problema é que,
você fica tão obcecado com o tempo enquanto perda e com o tempo enquanto subtração.
Enquanto, como um Cristão Chekhoviano, Eu também quero acentuar o tempo como um dom, como um doador,
Tempo como um dom e tempo como um doador.
De modo que, sim, é o fracasso, Mas quanto é bom o fracasso? Você fez coisas maravilhosas.
Veja que agora, Beckett poderia dizer, "Tente de novo, fracasse de novo, fracasse melhor."
Mas porque chamar isto de fracasso? Quero dizer, porque não dizer que você sente gratidão...
Por ser capaz de fazer tudo o que fez?
Por ser capaz de amar tanto e de pensar tanto...
E brincar tanto.
Porque pensar que você precisava da totalidade?
Entende o que digo? Isto chega a ser inquietante na América.
E a América, certamente, é um projeto romântico.
È paradisíaco, "Cidade na montanha" E toda outra confusão E mentiras e assim por diante
Eu digo não, não. A América é uma experiência democrática muito frágil,
derivada da espoliação de terras dos povos indígenas...
E da escravidão de povos africanos E da subjugação das mulheres..
E da marginalização de gays e lésbicas.
E ela tem grande potencial.
Mas esta noção de que, em qualquer modo, sabe, nós tínhamos tudo...
Ou de que teremos tudo, Isto tem que sumir.
Você tem que deixar isso de lado.
E assim que você tiver deixado tudo isso de lado, então, a linguagem da decepção tende a retirar-se...
E a linguagem do fracasso.
E você vai dizer- Okay, mas quanto fizemos?
Como fomos capazes de fazer isto tudo?
Podemos fazer mais? Claro que em certas situações você não pode fazer nada mais.
É como tentar dançar break-dance aos 75. Você não pode mais fazê-lo.
Aos 16 você foi mestre nisso. Acabou.
Você não pode mais fazer amor aos 80 do jeito que você fazia aos 20. E daí?
O tempo é real.
Então, a única pergunta, ou frase, que continua a mostrar-se,
é esta ideia de uma vida cheia de significado.
Você acha que seja dever da filosofia manifestar-se sobre isso?
Uma vida cheia de significado? Como viver uma vida cheia de significado.
Seria esta, até mesmo, uma questão relevante ou adequada para um filósofo?
Não, acho que sim. Não, acho que o problema do significado é muito importante.
Niilismo é um sério desafio.
A falta de significado é um sério desafio.
Até significar a falta de significado É, isso mesmo, uma espécie de disciplina e conquista.
Certamente, o problema, como você sabe, é que você nunca a alcança.
Não se trata de um telos estático, imóvel, nem de um fim ou alvo.
É um processo que nunca se alcança. É Sisífico.
Você está escalando a montanha em busca de significados melhores...
ou grandiosos, significados mais capacitadores.
Mas você nunca os alcança.
Neste sentido, você sabe,
Você more sem ser capaz de “possuir” a totalidade,
Na linguagem do discurso romântico.
Deixe-me saltar aqui na esquina.
Okay. Muito obrigada. Muito obrigado.
Cuide-se. Você também.