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Tradutor: Gabriela Balieiro Moreira Revisor: Sandro Sperandei
O que eu gostaria de fazer é falar um pouco sobre o medo
e o custo do medo
e a idade do medo da qual estamos emergindo agora.
Gostaria que vocês se sentissem confortáveis comigo fazendo isso,
dizendo à vocês que conheço um pouco sobre medo e ansiedade.
Sou um judeu de Nova Jérsei.
(Risos)
Comecei a me preocupar antes de aprender a andar.
(Risos)
Por favor, aplausos a isso.
(Aplausos)
Obrigado.
Mas eu também cresci em um tempo onde havia algo a se temer.
Éramos levados à sala, quando era uma criança,
e ensinados como colocar nossos casacos em cima da cabeça
para nos proteger da guerra termonuclear.
Até meu cérebro de sete anos sabia que aquilo não ia funcionar.
Mas eu também sabia
que a guerra termonuclear era algo com que devíamos nos preocupar.
Mesmo assim, apesar de termos vivido por 50 anos
com a ameaça de tal guerra,
a resposta do nosso governo e da nossa sociedade
foi fazer coisas maravilhosas.
Criamos o programa espacial em resposta àquilo.
Criamos nosso sistema de estradas em resposta àquilo.
Criamos a Internet em resposta àquilo.
Então, às vezes, o medo pode produzir uma resposta construtiva.
Mas às vezes pode produzir uma resposta destrutiva.
Em 11 de setembro de 2001,
19 homens tomaram quatro aviões
e voaram em direção à alguns prédios.
Isso custou muito.
Não é nosso papel minimizar tais perdas.
Mas a resposta que tivemos foi claramente desproporcional,
a ponto de chegar à beira da loucura.
Rearranjamos os aparatos da segurança nacional dos Estados Unidos
e de muitos governos
para abordar uma ameaça que, na época dos ataques,
era bem limitada.
Na verdade, de acordo com nossos serviços de inteligência,
em 11 de setembro de 2001,
havia 100 membros no núcleo da Al-Qaeda.
Existiam apenas alguns milhares de terroristas.
Eles representavam uma ameaça existencial
à ninguém.
Mas rearranjamos todo nosso aparato de segurança nacional
da forma mais abrangente desde a Segunda Guerra Mundial.
Iniciamos duas guerras.
Gastamos trilhões de dólares.
Suspendemos nossos valores.
Violamos leis internacionais.
Adotamos a tortura.
Adotamos a ideia
de que,se esses 19 homens puderam fazer aquilo, qualquer um poderia.
E por isso, pela primeira vez na história,
estávamos enxergando todos como uma ameaça.
E qual foi o resultado disso?
Programas de vigilância que espionavam e-mails e telefonemas
de países inteiros,
de milhões de pessoas,
não importando se tais países eram nossos aliados,
não importando quais eram nossos interesses.
Eu poderia dizer que 15 anos depois,
hoje existem mais terroristas,
mais ataques terroristas, mais vítimas de terroristas,
isso pelas contas do Departamento de Estado dos EUA,
hoje a região da qual esses ataques emanam
é mais instável do que em qualquer outra época na história,
desde o Dilúvio, talvez,
não tivemos sucesso em nossa resposta.
Agora vocês perguntam: "Onde foi que erramos?
O que fizemos? Qual foi erro que cometemos?"
E vocês podem dizer: "Bem, Washington é um lugar disfuncional
Existem disputas por migalhas.
Transformamos nosso discurso em uma luta de vale-tudo."
E isso é verdade.
Mas existem problemas maiores, acreditem ou não, do que essa disfunção,
mesmo que eu pudesse dizer
que a disfunção torna impossível se fazer qualquer coisa
no país mais rico e poderoso do mundo,
é muito mais perigosa do que qualquer coisa que um grupo como o EI faria,
pois nos para em nossos próprios trilhos e impede nosso progresso.
Mas existem outros problemas.
E os outros problemas
vieram do fato de que em Washington e em muitas capitais hoje,
estamos em uma crise de criatividade.
Em Washington, em grupos de reflexão,
onde as pessoas supostamente estão pensando em ideias novas,
você não encontra boas novas ideias,
pois se oferecer uma,
não só é atacado no Twitter,
mas também não será confirmado em um emprego do governo.
Porque absorvemos o veneno intensiticado pelo debate político,
ganhamos governos que têm uma mentalidade de "nós contra eles",
pequenos grupos de pessoas tomando decisões.
Quando nos sentamos numa sala com um grupo de pessoas tomando decisões,
o que ganhamos?
Ganhamos um pensamento único.
Todos têm a mesma visão de mundo
e qualquer visão de fora do grupo é vista como uma ameaça.
Isso é perigoso.
Também há processos que se tornam refratários aos ciclos das notícias.
Assim, os setores do governos dos EUA, que fazem previsões, que olham adiante,
que fazem estratégias,
e os análogos de outros governos, não podem fazê-lo,
porque estão na contramão do ciclo das notícias.
Então não estamos olhando para frente.
Em 11/09 tivemos uma crise porque estávamos olhando na direção errada.
Hoje temos uma crise por causa do 11/09,
ainda estamos olhando na direção errada
e sabemos disso, porque vemos tendências de transformação no horizonte
que são muito mais importantes do que vimos em 11/09;
muito mais importantes do que a ameaça apresentada por aqueles terroristas;
muito mais importantes do que a instabilidade
que temos em algumas partes do mundo que estão abaladas por ela hoje.
Na verdade, o que vemos nessas partes do mundo
podem ser sintomas.
Podem ser reações a tendências maiores.
E se estamos tratando o sintoma e ignorando a tendência maior,
então temos um problema ainda maior para lidar.
E quais são essas tendências?
Bem, para um grupo como vocês,
as tendências estão aparentes.
Estamos vivendo em um momento no qual o próprio tecido da sociedade humana
está sendo trançado novamente.
Se vocês viram a capa da The Economist alguns dias atrás --
dizia que 80% das pessoas no planeta,
no ano 2020, teriam um smartphone.
Teriam um pequeno computador conectado à internet em seus bolsos.
Na maior parte da África a taxa de penetração de celulares é de 80%.
Passamos do ponto, outubro passado,
em que existem mais celulares, SIM cards,
no mundo do que pessoas.
Estamos a poucos anos de um momento profundo em nossa história,
quando, efetivamente, cada ser humano no planeta
pela primeira vez, será parte de um sistema feito por humanos,
capaz de tocar qualquer pessoa,
tocar para o bem ou para o mal.
E as mudanças associadas a isso estão mudando a própria natureza
de cada aspecto da governança e da vida no planeta,
da forma como nossos líderes deveriam ponderar,
quando estiverem pensando nessas ameaças imediatas.
No aspecto da segurança,
saímos de uma Guerra Fria em que era muito caro lutar uma guerra nuclear,
e então não lutamos,
para um período que chamo de Guerra Morna, guerra cibernética,
onde os custos de um conflito são tão baixos, que talvez nunca paremos.
Talvez entremos em um período de batalhas constantes
e sabemos disso porque estivemos nele por muitos anos.
Mesmo assim, não temos as doutrinas básicas para nos guiar.
Não temos as ideias básicas formuladas.
Se alguém nos ataca com um ataque cibernético,
temos a habilidade de responder com um ataque cinético?
Não sabemos.
Se alguém lança um ataque cibernético, como o impedimos?
Quando a China lançou uma série de ataques cibernéticos,
o que o governo dos EUA fez?
Ele disse: vamos indiciar alguns chineses
que nunca virão para a América.
Eles nunca estarão perto de qualquer oficial da lei
que os levaria sob custódia.
É um gesto, não uma dissuasão.
Operadores das forças especiais que estão em campo hoje
descobrem que pequenos grupos de insurgentes com celulares
têm acesso às imagens por satélite
as quais, antigamente, apenas as superpotências acessavam.
Na verdade, se você tem um celular,
você tem acesso ao poder que superpotências não tinham
e que seriam altamente confidenciais há dez anos.
No meu celular tenho um aplicativo que me diz
onde está cada avião no mundo, sua altitude, velocidade
e qual o tipo de aeronave ele é.
E para onde está indo e aonde pousará.
Eles têm aplicativos que permitem saber
o que o adversário está prestes a fazer.
Estão usando essas ferramentas de novos jeitos.
Quando uma cafeteria em Sidnei foi tomada por um terrorista,
ele entrou com um rifle...
e um iPad.
E a arma era o iPad.
Porque ele capturou pessoas, as aterrorizou,
apontou o Ipad para elas
e depois fez um filme e postou na internet
e tomou conta da mídia internacional.
Mas isso não afeta apenas o aspecto da segurança.
As relações entre grandes potências,
pensávamos que já tínhamos passado a era da bipolaridade.
Imaginávamos estar num mundo unipolar, com as principais questões resolvidas.
Lembram? Era o fim da história.
Mas não estamos.
Agora vemos que nossas pressuposições básicas sobre a internet,
que iria nos conectar, interligar a sociedade,
não são necessariamente verdadeiras.
Em países como a China, há o Grande Firewall da China.
Há grandes países dizendo: "não, se a internet está em nossas fronteiras,
a controlamos.
Controlamos o conteúdo. Iremos controlar nossa segurança.
Vamos gerenciar essa internet.
Vamos dizer o que pode estar nela.
Vamos ditar regras diferentes."
Vocês podem pensar: "Mas é só a China"
Mas não é apenas a China.
É a China, a Índia, a Rússia.
A Arábia Saudita, Cingapura, o Brasil.
Depois dos escândalos da NSA, russos, chineses, indianos e brasileiros disseram:
"Vamos cronstruir uma nova estrutura de internet,
pois não podemos mais ser dependentes desta outra."
E de repente, o que se tem?
Tem-se um novo mundo bipolarizado
no qual o internacionalismo cibernético,
nossa convicção,
é desafiada pelo nacionalismo cibernético,
outra crença.
Enxergamos essas mudanças onde quer que olhemos.
Vemos o advento do dinheiro portátil.
Está acontecendo em lugares em que não se esperaria.
Está acontecendo no Quênia e na Tanzânia,
onde milhões de pessoas que nunca tiveram acesso a serviços financeiros
agora conduzem todos estes serviços por telefone.
Existem 2,5 milhões de pessoas que não têm acesso a serviços financeiros
que terão em breve.
Um bilhão delas poderão acessá-los
do celular em breve.
Isso não apenas as dará a oportunidade de acessar o banco.
Mudará a política monetária.
Transformará o que é o dinheiro.
A educação está mudando da mesma maneira.
Os cuidados com a saúde estão mudando do mesmo jeito.
Como os serviços governamentais são oferecidos está mudando.
Mesmo assim, em Washington, estamos discutindo
se chamamos o grupo terrorista que tomou a Síria e o Iraque
de ISIS, ISIL ou Estado Islâmico.
Estamos tentando determinar
o quanto queremos ceder em uma negociação com os iranianos,
em um acordo nuclear que lida com tecnologias de 50 anos atrás,
quando, na verdade,
sabemos que eles agora estão engajados numa guerra cibernética contra nós
e o estamos ignorando,
em parte porque empresas não estão dispostas
a falar sobre os ataques que estão sendo lançados sobre elas.
E isso nos leva a um outro fracasso
que é crucial,
e outro fracasso que não poderia ser mais importante para um grupo como esse,
porque o crescimento da América e uma real segurança nacional americana
e todas as coisas que conduziram ao progresso, mesmo durante a Guerra Fria,
fori uma parceria público-privada entre a ciência, tecnologia e governo,
que começou quando Thomas Jefferson se sentou sozinho em seu laboratório
inventando coisas novas.
Mas foram os canais, as rodovias, o telégrafo;
foi o radar e a internet.
Foi o Tang, a bebida do café da manhã --
provavelmente não o mais importante desses desenvolvimentos.
Mas o que se tinha era uma parceria e um diálogo
e o diálogo fracassou.
Fracassou porque em Washington
menos governo é considerado mais.
Fracassou porque há, acreditem ou não,
em Washington, uma guerra à ciência,
apesar de que em toda a história da humanidade.
Toda vez que alguém travou uma batalha contra a ciência,
a ciência ganhou.
(Aplausos)
Mas temos um governo que não quer ouvir,
que não tem pessoas nos altos cargos
que entendem isso.
Na era nuclear,
quando havia pessoas em cargos superiores de segurança nacional,
esperava-se que eles jogassem pesado.
Esperava-se que eles soubessem os jargões, o vocabulário.
Se hoje você pedir ao alto escalão do governo dos EUA:
"Fale-me sobre cibernética, neurociência,
sobre as coisas que irão mudar o mundo de amanhã,"
ganharia um olhar perplexo.
Eu sei, porque quando escrevi esse livro,
falei com 150 pessoas, muitas da área das ciências e tecnologia,
que sentiam que estavam sendo mandadas para a mesa das crianças.
Enquanto isso, na área tecnológica,
temos muitas pessoas maravilhosas criando coisas maravilhosas,
que começaram em garagens e não precisaram do governo
e não querem o governo.
Muitas têm uma visão política que se situa entre o liberalismo e a anarquia:
"Me deixem em paz."
Mas o mundo está desmoronando.
De repente, existirão mudanças regulatórias enormes
e enormes questões associadas com conflito
e enormes questões associadas à segurança e privacidade.
E ainda nem chegamos ao próximo cenário de questões,
que são questões filosóficas.
Se você não pode votar, não pode ter um emprego,
não pode usar o banco, não tem assistência à saúde,
se não pode ser educado sem acesso à internet,
seria a internet um direito fundamental que deveria estar na constituição?
Se o acesso à internet é um direito fundamental,
será que o acesso à eletricidade, para os 1,2 bilhão que não o tem,
não é um direito fundamental?
Essas são questões fundamentais. Onde estão os filósofos?
Onde está o diálogo?
E isso me leva ao motivo de eu estar aqui.
Moro em Washington. Coitado de mim.
(Risos)
O diálogo não está acontecendo lá.
Essas grandes questões que irão mudar o mundo,
mudar a segurança nacional, a economia,
criar esperança e ameaças,
só podem ser resolvidas quando juntamos
grupos de pessoas que entendem de ciência e tecnologia,
com o governo.
Os dois lados precisam um do outro.
E até recriarmos essa conexão,
até que façamos o que ajudou a América crescer
e ajudou outros países a crescer,
iremos ficar sempre mais vulneráveis.
Os riscos associados com o 11 de setembro não serão medidos
em termos de vidas perdidas por ataques terroristas
ou prédios destruídos, ou trilhões de dólares gastos.
Eles serão medidos em termos dos custos
do nosso descuido com as questões críticas
e da nossa inabilidade em reunir
cientistas, tecnólogos, líderes governamentais
num momento de transformação semelhante ao começo do Renascimento,
semelhante ao início das maiores eras transformadoras
que aconteceram na Terra,
e de começar a encontrar, se não as respostas certas,
pelo menos as perguntas certas.
Não estamos lá ainda,
mas discussões como essa e grupos como vocês
são os lugares onde essas questões podem ser formuladas e levantadas.
E é por isso que acredito que grupos como o TED,
discussões como essa, ao redor do planeta,
são os lugares onde o futuro da política externa, política econômica,
da política social, da filosofia irão, prioritariamente, acontecer.
E é por isso que foi um prazer falar com vocês.
Muito, muito obrigado.
(Aplausos)