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Este ano, quando andava no campo com uma garotinha de seis anos,
ela apontou algumas flores no caminho.
Perguntei-lhe para quê serviam as flores.
Deu-me uma resposta muito pensativa.
Duas coisas, disse ela:
Para embelezar o mundo
e para ajudar as abelhas a fazerem mel para nós.
Achei muito terna sua resposta e lamentei-me de ter de abrir-lhe os olhos.
Sua resposta não é muito diferente da resposta
que a maioria teria dado ao longo da história.
O primeiro capítulo da Bíblia declara:
<i>"O homem tem domínio sobre todas os seres vivos."</i>
Os animais e plantas estão para nosso benefício.
Esta visão prevaleceu na Idade Média e persiste até hoje.
Um religioso da Idade Média
dizia que as ervas daninhas existem para nosso benefício,
pois é bom para o espírito trabalhar duro para arrancá-las.
Outro reverendo pensava que os piolhos eram essenciais,
já que proporcionavam um forte incentivo à limpeza.
Também foi sugerido
que os animais "desejam" colaborar com a humanidade
e até "querem" ser comidos por nós.
Essa idéia me lembra uma passagem
de um de meus livros favoritos,
"Guia da Estrada Galáctica",
de Douglas Adams.
Gostei muito. Queria que alguém o lesse.
Há algum voluntário?
Você, por favor.
- Seu nome? - Douglas
- Douglas de quê? - Adams.
Douglas Adams! Que coincidência!
<i>um enorme animal se aproximou da mesa de Zaphod Beeblebrox,</i>
<i>um quadrúpede bovino, com olhos lacrimejantes,</i>
<i>chifres pequenos e um doce sorriso em seus lábios.</i>
<i>Boas tardes", mugiu, sentando-se de cócoras.</i>
<i>"Sou o prato principal do dia..."</i>
<i>"Posso oferecer-lhe alguma parte do meu corpo?"</i>
<i>Arthur recebeu seu olhar com espanto,</i>
<i>e Zaphod Beeblebrox, morto de fome.</i>
<i>"Um pedaço de meu lombo, talvez?" - sugeriu o animal.</i>
<i>"Tostado, ao molho de vinho branco?"</i>
<i>"Ah!... seu lombo? murmurou Arthur horrorizado.</i>
<i>"Naturalmente, senhor", mugiu contente o animal.</i>
<i>"Não tenho mais do que a mim a lhe oferecer";</i>
<i>Zaphod examinou ansiosamente o animal.</i>
<i>"Minha cadeira é muito boa também", murmurou o animal.</i>
<i>"Eu a tenho exercitado, de modo que tenho muita carne"</i>
<i>"Este animal deseja que o comamos?", exclamou Arthur,</i>
<i>"Você é o mais repugnante que já vi!"</i>
<i>"Qual é o problema terráqueo?"</i>
<i>"Não comerei um animal que me convida a fazê-lo!"</i>
<i>é crueldade! "</i>
<i>"É melhor do que um animal que não quer ser comido"</i>
<i>"Esse não é o ponto!" logo acrescentou:</i>
<i>"Talvez você tenha razão, mas mudemos de assunto."</i>
<i>"Só quero uma salada."</i>
<i>"Posso sugerir que considere minha barriga?" - perguntou o animal.</i>
<i>"Deve estar muito apetitosa,</i>
<i>tenho-a engordado eu mesmo durante meses."</i>
<i>"uma salada", respondeu enfáticamente.</i>
<i>O animal olhou-o com desaprovação.</i>
<i>"Por acaso não posso pedir uma salada?"</i>
<i>"Bem", disse o animal,</i>
<i>"Os vegetais têm sido muito claros sobre esse ponto,</i>
<i>porisso decidimos cortar seus males por todo esse problema,</i>
<i>criar os animais que querem ser comidos</i>
<i>e que sejam capazes de expressar claramente esse desejo</i>
<i>...e aquí estou eu.</i>
<i>"Um copo d'água", pediu Arthur.</i>
<i>"Você está com fome ou não?" - protestou Zaphod.</i>
<i>"Quatro bifes, rápido"</i>
<i>O animal se levantou.</i>
<i>"Boa escolha, senhor"</i>
<i>"Muito bem", disse o animal,</i>
<i>"Vou atirar em mim."</i>
<i>Voltou-se, piscou para Arthur de modo amigável.</i>
<i>"Não se preocupe, senhor, vou ser muito humano."</i>
Muito obrigado.
Embora a história pareça estranha,
essa idéia ainda domina nossa cultura:
os animais estão para nosso proveito.
Precisamos encontrar uma nova visão do mundo.
Devemos nos colocar no lugar das outras criaturas
e não ver tudo através de nossos olhos egoístas.
"As flores", poderiam pensar as abelhas,
"estão para fornecer pólen e néctar."
Também as abelhas estariam erradas,
mas estariam mais certas que nós,
quando pensamos que as flores estão para nosso benefício.
Mas as flores vivas e coloridas,
estão ali porque as abelhas as cultivaram e domesticaram.
Quando digo abelhas, incluio borboletas e outros polinizadores.
Porisso usei a palavra "jardim" no título desta lição.
Por quê jardim ultravioleta?
É uma parábola,
como a do Bom Samaritano.
A radiação ultravioleta
é um tipo de luz que não podemos ver.
É como a luz comum, mas em outro comprimento de onda.
As abelhas podem vê-la, mas não vêem a cor vermelha.
Aos olhos das abelhas,
as flores têm um aspecto muito diferente.
Da mesma forma, a pergunta "para quê servem as flores?"
deve ser examinada através dos olhos das abelhas.
Somos cegos ao ultravioleta
e é inútil tentar captar o que vêem as abelhas
quando olhamos as flores,
mas faremos alguns truques para ter certa ideia de como seria.
Aquí estão algumas pipetas com substâncias de cor branca.
Todas similares.
Todas são vistas brancas,
mas, se forem expostas à luz ultravioleta,
por um momento,
brilham em cores diferentes.
Isto é um truque.
Não estamos vendo ultravioleta, estas cores não são ultravioleta.
Todas são cores visíveis que podemos perceber.
Estamos usando isso como uma metáfora
para ilustrar como mudaria nossa visão.
As abelhas não vêem isso dessa forma,
mas nos dá uma ideia de como as coisas são vistas por elas.
Na verdade, as flores se veriam mais diferentes.
As abelhas percebem as formas de um modo diferente da nossa.
Quando a abelha vê uma forma complicada,
como uma folha ou uma flor,
não percebe desta forma,
mas como um "cintilante".
Há pequenas luzes piscando nas flores.
Repito, não é assim como as abelhas vêem,
mas se aproxima do que elas veriam,
quando observam formas complicadas como essas.
Aquí há um vídeo que nos dá uma impressão
do aspecto de que como ficaria o jardim ultravioleta.
Uma série de flores,
como nós vemos
e depois, como as veria um abelha em ultravioleta.
Nós vemos em branco e amarelo.
A abelha a veria com o centro destacado em ultravioleta.
Novamente, vemos uma flor amarela
e para a abelha brilharia com uma estranha luz ultravioleta.
É um truque, mais uma vez,
pois não sabemos que aspecto tem a luz ultravioleta,
mas nos dá uma idéia de como seria diferente para ela.
Isto é uma parábola
para mudar nosso ponto de vista
sobre quem ou para que servem
as flores e todas as coisas vivas.
Agora, perguntamos: para que servem as abelhas
do ponto de vista das flores?
As flores são órgãos sexuais, projetados por seleção natural,
para fazer células masculinas e femininas
e cruzá-las entre si.
Há razões genéticas para que as flores
não se cruzem entre si.
Seria facilimo para uma flor fecundar a si mesma,
já que o pólen e o estigma
estão presentes na mesma flor,
mas usam as abelhas, borboletas e outros polinizadores
pra transportar o pólen de uma flor a outra.
Para isso, geralmente as atraem com néctar.
Aquí há um beija-flor
bebendo o néctar.
As cores das flores são como brilhantes anúncios
que convidam a alimentar-se delas.
Produzem néctar para esse fim, e é caro.
Algumas flores evitam esse gasto,
como a orquídea-martelo,
que imita uma vespa
para atrair o macho, que tentará copular com ela.
Aquí tem uma articulação,
e ali estão os sacos polínicos.
Aquí está a fêmea ficticia.
Agora chega um macho e colide com o pólen.
Vai prá lá e prá cá, como um martelo.
Cedo ou tarde, o pólen se impregna em seu dorso.
Ali vai carregado de pólen.
Agora voará para outra flor e ocorrerá o mesmo de novo.
Esta é a orquídea-balde, usa um truque mais inteligente.
Despeja um rico fluido no balde
e a abelha-verde
é atraída por esse fluido.
Pousa na flor e cai dentro do balde.
Ali fica presa.
A única saída é através de um buraco,
fornecido pela orquídea,
Ali está o buraco, a abelha o encontrou.
Luta
e, ao sair,
estarão os sacos de pólen.
Sai pelo estreito buraco,
e assim o pólen é transferido à abelha.
Esta abelha voará com o pólen em seu dorso
e, eventualmente, cairá em outra orquídea,
e se repetirá o mesmo processo,
cairá dentro,
verá o buraco
e, ao sair,
desta vez perderá os sacos de pólen,
fertilizando outra orquídea.
A orquídea engana as abelhas,
para usar suas asas e transportar o pólen.
A polinização realizada pelas abelhas é muito grandiosa.
Só na Alemanha, estima-se que as abelhas polinizam
dez bilhões de flores,
durante um só día.
Estima-se que 30% da alimentação humana
depende da polinização.
Se as abelhas desapareceram,
30% dos nossos alimentos desapareceriam.
O mundo das abelhas é dominado pelas flores.
Não só as abelhas melíferas, há muitas espécies de abelhas solitárías
que não vivem em colmeias.
Quase todas suas larvas se alimentam de pólen.
Alguém quer cheirar o pólen destas flores?
Por favor.
Venha e cheire as flores.
Cheire esta.
É isso!
- Seu nome? - Richard.
Seu nariz ficou coberto de pólen.
Mete seu nariz em outra flor...
É brincadeira! Obrigado, Richard.
Isto fazem as abelhas, milhões de vezes ao día.
Nutrem suas larvas com pólen.
O néctar é seu combustível,
e só é fornecido pelas flores.
Trabalham duro por aquele doce prêmio.
Para produzir 1/2 quilo de mel,
as abelhas devem visitar 10 milhões de flores.
As flores usam as abelhas e as abelhas usam as flores.
Cada uma das partes tem sido moldada pela outra.
De certa forma, ambas as partes se domesticaram e se cultivaram.
O jardim ultravioleta tem uma dupla utilização,
mas se as flores e as abelhas
evoluiram para um consórcio,
não se deve assumir que todas as criaturas se ajudem mutuamente.
Acredita-se que os antílopes estão para o proveito dos leões,
mas, na realidade, os leões ajudam
a manter baixa a população de antílopes.
É tão ridículo quanto acreditar que os bois
se ofereçam ao abate para nosso benefício.
Talvez eu devesse referir-me aos morcegos
em vez de abelhas e flores.
Pois os morcegos não estão interessados em ajudar os insetos,
Só querem comê-los!
e as moscas tampouco têm qualquer interesse
e, de fato, estariam felizes se não houvessem morcegos.
Embora as associações como abelhas e flores são muito comuns,
as não associações, como morcegos e moscas,
são muito mais comuns.
Dão-nos outra lição, semelhante ao jardim ultravioleta,
pois têm uma perspectiva do mundo mais diferente que as abelhas.
Se este morcego estivesse voando,
emitiria uns leves chiados que não poderíamos ouvir,
mas tenho este "detector de morcegos",
uma ferramenta que traduz o guinchado.
São guinchos eco-localizadores.
O morcego agora percebe uma imagem do mundo
e da cara do Bryson.
Dirige-se ao seu pescoço,
até sua orelha...
Um anel extra!
Muito obrigado, Bryson
e também ao morcego.
Se o mundo parece diferente a uma abelha
por sua visão ultravioleta,
muito mais distinto deve ser para um morcego,
já que vê pelos ouvidos.
Quando dizemos que as flores usam as abelhas para seus fins,
ou que os morcegos usam as moscas para seus fins,
O que isso significa realmente?
Para que servem realmente as flores,
abelhas, beija-flores e morcegos?
É uma questão profunda e agora gostaria de abordá-la.
Quero começar com uma demonstração no computador.
Primeiro, insiro este disco.
Alerta de Vírus!
Este disco está infectado.
Alerta de vírus!
Este disco está infectado.
Como faço para removê-lo?
Como poderão imaginar, esta foi uma recreação,
mas poderia ter sido real.
Os vírus da informática são uma ameaça real.
O que é um vírus de computador?
É só um programa de computador,
escrito em linguagem muito simples,
ao contrário, por exemplo, de um complexo processador de textos,
Um vírus faz apenas uma coisa:
só diz "Copia-me - propague-me".
Como os usuários de computador sempre compartilham seus discos,
um programa que ordena: "executar - copiar-me - fechar",
infecta o computador e faz um monte de cópias,
e logo o disco se difunde entre mais e mais pessoas
e, em pouco tempo, o país inteiro está contaminado
com vírus da informática que só dizem "copia-me".
Ele é executado automaticamente,
sem perceber do que ele faz.
Um programa sem sentido, é claro.
Mas não importa que seja fútil.
Espalha-se, porque se propaga, e se propaga.
Por quê não iria se propagar?
O computador faz o que lhe é ordenado
e o virus lhe ordena propagar-se.
O fato que seja inútil ou até prejudicial,
é irrelevante.
Os vírus reais causadores de doenças como a gripe,
são quase o mesmo.
Não estão escritos em linguagem de computador, mas em código ADN,
Além disso, são muito semelhantes.
Também dizem "copia-me",
e usam um mínimo "programa" para se copiar.
Há outra diferença,
os vírus de computador são obras de humanos,
enquanto que os vírus biológicos surgem por seleção natural.
O ADN que emite a instrução "copia-me"
serão as cadeias de ADN que tenderão a se espalhar.
Mais uma vez, parece-nos um absurdo,
mas o que nos parece sem sentido,
não tem importancia.
Estão ai, porque estão ai, porque estão ai...
Aos virus, de ADN ou de computador,
a tarefa lhes é muito fácil,
pois no mundo já há uma máquina pronta para a cópia.
No caso dos vírus de ADN, as máquinas são nossas células.
Nos vírus de computador,
são os computadores de pessoas que emprestam discos.
Constituem um paraíso para um programa de auto-cópia.
Mas de onde vêm estas solícitas máquinas de cópia?
Não por coincidência, têm de ser fabricadas.
Os vírus de computador são feitos por humanos.
Nos vírus de ADN, são as células de outras criaturas.
E quem fabrica essas criaturas,
esses humanos, elefantes, hipopótamos
cujas células faz a vida tão fácil para os vírus?
pois são fabricados por outro ADN de auto-duplicação,
o ADN pertencente aos humanos, aos elefantes e aos hipopótamos.
Que são as grandes criaturas, como humanos e árvores?
Para que são e para benefício de quem?
Do ponto de vista dos vírus,
alguém poderia pensar que estamos para o proveito dos vírus,
mas esta resposta não explica
porque estaríamos de estar ali em primeiro lugar.
Uma vez mais, devemos mudar nossa perspectiva.
Voltemos aos vírus de computador em busca de uma resposta.
Programação um vírus de computador é um jogo de meninos.
Não é algo para se orgulhar, qualquer idiota pode fazê-lo.
Imaginemos algo como um vírus de computador.
Em vez de ter um computador pronto a receber suas instruções,
tive que começar de zero.
Seria um grande desafio.
Não poderia dizer "copia-me" porque não havia nada que fizesse a cópia.
Para realmente auto-duplicar-se,
num mundo sem equipamentos de duplicação oferecidos em uma bandeja,
nosso programa teria de ser muito mais complexo.
Teria de dizer...
"Faz a máquina necessáría para duplicar-me."
E antes disso, teria de dizer...
"Faz as partes com as que se montará
a máquina necessária para duplicar-me."
E, antes disso, teria de dizer...
"Reúna as matérias-primas necessárías para construir as partes" etc etc.
Este programa complexo requer um nome.
Vou chamá-lo "Programa de Auto-cópia Total."
Este programa,
deve ter controle sobre algo mais que um típico computador.
Deve ter uma mão
como um robô industrial que pega objetos e os manipula,
pois deverá juntar outros robôs como ele.
Aquí há um robô manipulando objetos.
É semelhante aos robôs que fabricam carros.
E se podem fazer carros
também podem fazer robôs iguais a si mesmo.
Mas isso não basta,
porque este robô só pode pegar os objetos próximos,
e para executar o Programa de Autocópia Total,
deverá percorrer o mundo em busca de sua matéria-prima.
Exigirá pernas.
Deverá ter algo parecido com isto,
é o "Robugen 2" da Politécnica Portsmouth.
Tem quatro patas e parece um inseto.
Pode escalar um muro pois tem patas de sucção,
É muito hábil para superar obstáculos.
Vou lhe jogar uma burla.
Porei minha mão sob sua pata.
Observem.
Busca onde pisar.
Quer tirar-me do caminho.
Os descendentes diretos deste robô são muito úteis,
porque há lugares onde os seres humanos não se atrevem a ir,
como as estações radioativas.
Estes robôs vão às estações nucleares,
pois não temem a radioatividade,
e cumprem tarefas que os seres humanos jamais fariam.
Este robô tem quatro cérebros.
Aquí e aquí...
Cada cérebro controla uma perna.
Só faz operações básicas,
como buscar algo em seu caminho, se coloco sob sua perna.
Controlam os movimentos de cada perna,
mas a estratégia total do robô
está sob o controle de um humano através deste cabo.
Este é um robô real.
O robô imaginário do qual falamos,
faria algo mais que isso.
Vou contatá-lo quando o robô parar.
Aproximou-se,
e não quero nem pensar no que aconteceria se continuar subindo.
Muito obrigado, Robug 2 e ao Politécnico Portsmouth.
Robug é um robô real
e foi controlado por um humano através de um computador.
Pode nos servir para associá-lo com nosso robô imaginário.
Isso teria incorporado seu próprio computador,
executando um programa-mestre de auto-cópia.
E diria o seguinte:
"Faz uma cópia não só do programa,
mas também do equipamento necessário para duplicar o programa."
Caminharia pelo mundo,
e teria o equivalente a braços e olhos
do robô industrial que vimos no vídeo.
Iria pelo mundo reunindo os materiais necessários
para fazer uma cópia de si mesmo.
O programa mestre diria:
"Faça uma cópia do robô,
e instala o programa de auto-cópia
em seu computador."
Um robô auto-duplicante como o que imaginamos,
nunca foi construído.
Foi discutido, como uma possibilidade teórica
por John von Neumann,
considerado o pai do computador moderno.
No entanto, isso nunca foi feito.
Porque estou dizendo isso?
Que diabos penso que é isto?
Ou isto?
E eu mesmo? Ou qualquer um de nós?
Estas criaturas, viajando pelo mundo
Façamo-lo caminhar.
Pensem nesse bicho-pau como se fosse um robô,
não como o que vimos recentemente, mas o que imaginávamos.
Com o seu computador interno,
transportando as instruções,
espalhando-se pelo mundo,
recolhe matéria-prima, come vegetais
e usa essa materia para fazer novos robôs, iguais a ele.
Então, esses robôs sairão pelo mundo, se espalharão,
coletam alimentos e fabricarão novos bichos-pau, tal como este.
Em cada um dos casos, o objetivo da tarefa é
espalhar o programa que faz a instrução.
O camaleão, nós e os elefantes,
fazemos o mesmo.
É a essência de humanos ou elefantes.
Um elefante é uma enorme gama
de um programa escrito em linguagem ADN.
Nosso ADN constroi sua própria máquina auto-duplicante,
Somos máquinas construídas pelo ADN,
cujo objetivo é fazer mais cópias do mesmo ADN.
Este processo funciona muito bem uma vez iniciado,
porém, como começou originalmente?
Para responder a isso, temos de voltar um longo tempo
mais de 3 bilhões de anos,
talvez há 4 bilhões de anos.
Naquela época o mundo era muito diferente.
Não havia vida, nem biologia, só física e química.
Pensa-se que a vida começou
no que se tem chamado a "sopa primordial".
O caldo diluido de substâncias simples no mar.
Ninguém sabe como ocorreu,
mas de alguma forma,
sem violar as leis físico-químicas,
surgiu uma molécula
que resultou ter a propriedade de auto-replicar-se.
Então a evolução darwiniana se pôs em marcha.
Pode parecer um grande golpe de sorte,
mas ocorreu apenas uma vez.
Na verdade, talvez só ocorreu em um planeta,
dentre os bilhões de planetas no universo.
Esse tipo de evento venturoso
pode ser tão raro,
que a probabilidade de que ocorra no universo
pode ser uma vez a cada um bilhão de anos.
É demasiada sorte.
Se isto realmente aconteceu em um só planeta do universo,
esse planeta é o nosso, pois aquí estamos falando dele.
Na minha opinião, a origem da vida deve ter sido muito mais comum
e é provável que exista vida em muito mais planetas.
Inclusive se tem sugerido que pode ser um evento raro
mas, uma vez iniciado, espalhou-se a outros planetas,
em um processo chamado "Panspermia"
pelo químico sueco Arrhenius.
Esta é uma recriação da Panspermia por Karl Sims,
mediante o computador: "a máquina de conexão."
Ele não crê na panspermia, mas é uma bela animação.
Um esporo sobe até um planeta longinquo do mundo.
O esporo se incha e explode
e seu material genético, o equivalente ao ADN,
derrama sobre o planeta.
Cada unidade começa a brotar.
Vamos chamá-las "plantas".
Estas plantas não foram inventadas,
Sims as desenvolveu através de um processo
semelhante aos biomorfos, que vimos em uma lição anterior.
As plantas começam a crescer no planeta.
Ao completar o ciclo de crescimento,
se reproduzirão novamente
e todo o ciclo de crescimento e reprodução será renovado.
Há uma floresta de plantas
esperando se reproduzir.
Começa a reprodução
e os esporos são disparados ao espaço.
Lá vão eles.
O ciclo se renova.
A informação genética é enviada ao espaço
para recolonizar outros mundos.
Claro, isso foi pura fantasia,
mas é uma séria reflexão sobre a viabilidade da vida.
Penso que sempre haverá algum tipo de ciclo vital repetitivo,
o qual começa a partir de uma informação encapsulada,
passando por fases de crescimento e maturação
e, finalmente, voltar à fase inicial de informação encapsulada.
Na Terra, a máquina auto-duplicante original,
devia ser mais simples que uma bactéria,
mas é a idéia mais próxima a que podemos recorrer.
Aquí há uma pequena fração reproduzindo-se.
Cada uma destas bactérias é muito complexa.
A parede celular
tem cromossomos de material genético.
Não é só uma bolsa de água, mas uma complexa estrutura.
Hoje é o exemplo mais simples
de máquina auto-replicante que conhecemos.
Em algum estágio precoce da vida,
as bactérias, ou algo similar às bactérias,
agruparam-se para formar o que chamamos de "célula eucariótica."
Nós somos feitos por este tipo de células.
Nossas células são células eucarióticas.
O mesmo ocorre com as células de plantas, fungos e protozoários.
Sabemos agora, com quase certeza, que as células eucarióticas
foram formadas por agrupamento de bactérias
há bilhões de anos.
Este modelo de célula eucariótica
mostra estas mitocôndrias laranja,
que são bactérias,
ou descendentes diretas das ancestrais bactérias.
Reproduzem-se por si,
como se fossem bactérias independentes.
Assim como as bactérias se agruparam
para formar células eucarióticas,
assim mesmo, as células eucarióticas
se agruparam para formar organismos maiores.
Neste microscópio
temos os volvox,
um organismo muito simples,
composto por colônias de células eucarióticas,
formando uma esfera oca.
Quem quer usar o microscópio?
Você, na primeira fila.
- Seu nome? - Katy
- Sabe como usar o microscópio? - Não.
Os volvox são grandes globos verdes.
Manipule desta forma.
Chegue mais perto.
Se mover aquí, dirige-se até aquí.
Já encontrei um, tente focalizá-lo.
Aí está.
Está vendo bem?
Bem feito, Katy, muito obrigado.
Katy encontrou um volvox.
Um globo formado por milhares de células.
Cada uma dessas células é uma entidade independente,
com diminutos cílios vibrando em suas bordas.
Todo o globo se move como se fosse um único organismo.
São organismos modernos, não são antepassados nossos,
mas é possível que algo similar a isto
tenha dado origem a nossos antepassados.
Somos, afinal, colônias de células.
As células se agrupam para formar organismos maiores
e têm alcançado tamanhos verdadeiramente colossais.
O elefante é uma grande dispersão do programa "copia-me".
Realmente enorme.
Enquanto um volvox tem algumas centenas de células,
um elefante está formado por trilhões de células.
Se um elefante carrega seu plano de construção,
então é um robô inconcebivelmente grande.
Não é "grande" em termos absolutos,
não é tão grande quanto uma estrela,
mas é colossal em comparação com as moléculas de ADN que o formaram.
Para se ter uma ideia,
imaginem que vamos construir um cavalo de troia
para viajarmos em seu interior.
O cavalo se assemelharia a um robô.
Teria blindagem de aço e seus olhos seriam câmeras de TV.
Quão grande seria?
A resposta é:
se este cavalo fosse construído à mesma escala
em que estamos construídos por ADN,
ou um cavalo real construído por seu ADN,
este cavalo deixaria anão o Monte Everest.
Seria feito a uma escala colossalmente grande.
Um corpo vivo, real, como um cavalo ou como nós,
é tão grande comparado aos genes que lhe dão forma,
porque seu processo de crescimento
é diferente de uma máquina feita pelo homem,
com um montão de gente martelando chapas de aço.
O modo de crescer dos seres vivos é muito diferente.
Chama-se crescimento exponencial,
ou crescimento via duplicação local.
Funciona assim:
Começa com uma única célula.
Vou representá-la com
uma moeda no tabuleiro de xadrez.
É uma célula que se divide e resulta em duas células iguais.
Como são iguais entre si,
também têm a propriedade de dividir-se e produzir quatro
e cada uma dessas células pode se dividir e produzir oito.
Estamos duplicando.
Vamos estimar o quão alto seria a pilha de moedas,
se continuarmos duplicando,
este animal seguirá crescendo e crescendo...
Conseguimos encher uma fila do tabuleiro.
Em cada casa equivale o dobro, e assim por diante.
O tamanho deste animal se duplica e duplica.
Qual será a altura da pilha de moedas
se chegarmos ao outro lado do tabuleiro, à casinha 64?
Já fiz o cálculo.
O resultado é muito impressionante.
A pilha de moedas nesta casinha do tabuleiro
atingiria até a estrela Alfa Centaurio.
Ou seja, quatro anos-luz de distância.
Bem, esse é o crescimento exponencial.
Pode trazer-me a baleia azul, por favor?
Muito obrigado.
Quer ser uma baleia azul, quando crescer.
Se conseguir,
seria na casa 57,
pois faltam só 57 gerações celulares
para construir uma baleia azul,
a qual está composta de 100 trilhões de células.
Alguém quer saber de quantas células é formado?
Temos um programa que converte o peso em células.
- Seu nome? - Sam
Na balança, por favor.
Essas botas pesam muito!
53 quilos.
Sam tem, aproximadamente,
74.2 trilhões de células.
Faltariam 46 gerações celulares para construir Sam.
Muito obrigado.
Agora tentemos com alguém um pouco maior.
Douglas, você pode vir?
Vejamos.
Sou bem maior.
110 quilos.
154 trilhões, só 47 gerações de células.
Muito obrigado, Douglas.
Só é necessária uma geração celular a mais
para construir Douglas com relação a Sam,
e só 10 gerações mais para construir uma baleia azul.
46 ou 47 gerações, são valores mínimos.
De fato, tardaria mais,
pois as partes se dividem em distintos períodos de tempo.
As células do fígado demorariam mais que as dos rins etc.
Não é um cálculo tão simples,
mas nos explica como o corpo consegue controlar sua forma.
Você só precisa alterar o número de divisões celulares
mediante finos ajustes para cada região do corpo
a fim de mudar essa forma, em relação à outra região.
Por exemplo,
comparados com nosso ancestral, o *** habilis,
o queixo moderno é muito mais proeminente.
O *** habilis teria um queixo chato.
Na evolução humana, o queixo se ampliou.
Aquí está meu ancestral, o *** habilis.
Comparem o queixo.
Evolutivamente, o queixo humano tem se extendido
em relação ao resto da cabeça.
Assim mesmo, tivemos outras mudanças.
Não é difícil de alcançar, mediante o crescimento por duplicação local,
pois só muda ligeiramente o número de gerações celulares
necessárías para construir os ossos da mandíbula.
O que é notável
é que as linhagens celulares
deixem de se dividirem quando lhes toca,
de tal modo que nossas partes guardem as proporções corretas.
Em certos casos, as linhagens celulares não cessam de crescer quando deveriam.
Quando acontece, chamamos isso de câncer.
A construção de corpos colossais,
como nós ou os cavalos,
enormes segundo os padrões do ADN,
pode qualificar-se de "gigatecnología",
a arte de construir coisas cujo tamanho
é bilhões de vezes maior que seu construtor.
Os engenheiros humanos não a desenvolveram,
porém já se fala sobre a tecnologia oposta,
a "nanotecnologia".
Giga significa bilhão
e nano, bilionésimo.
Construir coisas, cujo tamanho é
da bilionésima parte de seu construtor.
É levada a sério pelos cientistas e não só por loucos.
Isso poderá acontecer em um futuro não muito distante.
É puramente imaginário.
Os glóbulos vermelhos são atacados por um vírus.
Um nano-robô é enviado ao organismo
para eliminar o vírus.
Se a nanotecnologia se tornar uma realidade,
teria efeitos revolucionários em nossas vidas.
A cirurgia é um exemplo.
Os cirurgiões são pessoas muito hábeis,
que manejam instrumentos de alta precisão, como estes...
Ouçamos Eric Drexler,
cientista considerado o apóstolo da nanotecnologia.
<i>Os bisturis e suturas são muito grosseiros</i>
<i>para reparar cabelos, células e moléculas.</i>
<i>Imaginemos uma cirurgia na perspectiva de uma célula.</i>
<i>Enorme faca penetra cortando cegamente</i>
<i>uma multidão de células, matando mil delas.</i>
Agora, referindo-se à agulha cirúrgica.
Agulha e linha para suturar feridas.
<i>Logo, penetra um obelisco arrastando um cabo,</i>
<i>grosso como trem</i>
Refere-se à linha de sutura.
<i>...para amarrar essa multidão.</i>
<i>Dessa perspectiva, mesmo a cirurgia mais delicada,</i>
<i>é o trabalho de um açougueiro.</i>
<i>Apenas ao esquecer seus mortos, agrupá-los e se multiplicar</i>
<i>as células tornam possivel a cura.,</i>
<i>Mas como as vítimas de paralisia, bem o sabem,</i>
<i>nem todos os tecidos são curados.</i>
A nanotecnologia propõe construir instrumentos
que atendam à escala das células.
Estes seriam muito pequenos para serem controlados por um cirurgião.
Se a nível celular, uma linha é tão grande como um trem,
imaginem como seriam os dedos de um cirurgião.
Se um minúsculo robô fosse capaz de fazer isso,
seria uma conquista maravilhosa.
Mas seria uma só,
entre milhões de glóbulos a reparar.
Só funcionaria
se esses nano-robôs se clonarem a si mesmos
e se multiplicarem da mesma forma que as células sanguíneas.
Como a molécula de imunoglobulina,
que o médico injeta no sangue
para deter uma hepatite.
É eficaz, porque infunde milhares e milhares de cópias.
Disso depende a nanotecnologia.
Isto não é nanotecnologia, pois é um objeto biológico.
Mas a nanotecnologia seria semelhante.
A nanotecnologia nos parece algo muito estranho, apenas credível.
A idéia de robôs à escala de um átomo nos parece algo do outro mundo.
Mais estranha que vida extra planetária,
imaginada pela ficção científica.
A nanotecnologia nos parece inovadora e futurista
mas, na realidade, longe de ser nova ou alheia,
é muito mais antiga do que todos nós,
cujos corpos pertencem ao mundo das coisas grandes.
Somos grandes, somos os novos e futuristas.
Somos o produto de uma inovadora gigatecnología.
A vida se fundamenta no nanomundo.
Eu disse que as células são formadas por bactérias,
e que nós estamos constituídos pelo agrupamento de células.
Pois também existem colônias de organismos individuais,
insetos sociais,
em que a colônia inteira pode ser considerada
uma grande dispersão do programa "copia-me".
Esta é a formiga marabunta da América do Sul.
Milhões de formigas formando um grande ninho vivo.
Seguinte...
Aquí há duas formigas. Outra espécie, não marabuntas.
São irmãs entre si.
São membros da mesma colônia.
Ambas são necessárias para a colônia,
apesar da imensa diferença de tamanho.
A partir desta questão,
a rainha alada é alimentada por uma formiga obreira
para transferir o ADN da colônia à próxima geração.
A colônia é uma máquina
que transfere seu ADN para o futuro.
A rainha dos cupins.
Uma enorme máquina poedeira de ovos,
Ali está o cupim rei na mesma escala.
Põe os ovos para as futuras gerações.
Estas são as formigas do mel,
atuam como reservatórios de mel.
O abdômen se alarga para conter o mel,
nestes enormes barris.
Assim, se penduram no teto como se fossem lâmpadas.
Quando há bom tempo, enchem-se de mel.
Quando há seca, extraem-se o mel.
É parte da máquina total da colônia.
Este é o ninho da formiga-mineira da América do Sul,
uma enorme cavidade subterrânea.
Alí vemos um homem à mesma escala.
Isso pode ser feito
quando os indivíduos se agrupam em colônias.
Outro exemplo, as formigas-tecelãs.
Costuram as folhas para fazer seu ninho.
As obreiras unem as articulações.
Aquí há outra carregando uma larva,
que usa como cola ou seda
para costurar as folhas.
Vejam como manobra a larva
para unir as folhas.
Constroem o ninho,
são o "corpo" de toda a colônia
cujo objetivo é transferir os genes que as constituem.
Começamos, hoje, nos perguntando qual a finalidade das flores.
Procuramos diversas respostas e chegamos à conclusão que
as flores estão para o mesmo fim que toda criatura viva:
para disseminar programas "copia-me"
escrito em linguagem ADN.
As flores propagam instruções sobre como construir flores,
as abelhas propagam instruções sobre como construir abelhas,
elefantes propagam instruções sobre como construir elefantes
e as aves para construir mais aves.
As coloridas penas da arara
estão para propagar as instruções
sobre como construir mais penas coloridas.
Sua plumagem é como um anúncio,
que atrai araras do sexo oposto.
Os genes de sua plumagem
são transmitidos às gerações futuras,
pois são uma boa propaganda
para atrair parceiras
que se atraem por sua plumagem.
As asas também são ferramentas
para a dispersão de instruções genéticas
sobre como fabricar asas.
Preservam a vida das aves,
proporcionam habilidades para voar, para comer
e para evitar predadores.
Os genes de asas eficazes se transmitem,
porisso a maioria das aves têm asas eficazes.
Muito obrigado, Louro.
As plantas não têm asas.
Não podem voar.
Porém a planta não precisa de asas
já que as pede emprestadas às das abelhas e dos beija-flores.
Agora, mudemos nossa perspectiva e olhemos...
pelo ponto de vista do ADN de uma planta.
Para o ADN da planta
as asas de abelha bem poderiam ser asas de planta.
As asas das abelhas são órgãos de voo
que carregam os genes das plantas.
Igual às asas da arara que são
órgãos de voo que transportam seus genes.
O mesmo pode ser dito sobre as cores.
As flores usam seus brilhantes coloridos
do mesmo modo que aves.
Ambos são anúncios coloridos
e ambos são usados para atrair um veículo de genes alado.
Em um caso, ditos veículos são aves femininas
e, no outro caso, são abelhas.
Em ambos os casos, o resultado da atração
será a transferência de genes.
As araras se acasalam
e os genes das penas atraentes do macho
são transmitidos ao corpo da fêmea.
A abelha fica impregnada com o pólen de uma flor e, então,
os genes que foram capazes de atrair as abelhas, serão transportados
sobre o corpo de dita abelha, às gerações futuras.
Se observarmos de forma correta,
as asas de abelha bem poderiam ser chamadas de
asas vegetais.
Há um modo diferente de ver as coisas,
estranho e pouco familiar,
porém adquire perfeito sentido ao analisá-lo.
Um modo de olhar que se encaixa
ao estranho e exótico jardim ultravioleta.
Minha última palestra incidirá sobre o cérebro humano
e como conseguiu ser tão grande.
Muito obrigado.
tradução: caconti