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Estúdios Centrais de Filmes para Crianças e Adolescentes "Máximo Gorki"
AS AURORAS NASCEM TRANQUILAS
Em duas partes
Argumento: Boris VASSíLIEV, Stanislav RASTÓTSKI
Realizaçäo - Stanislav RASTÓTSKI
Fotografia - Viatchislaf CHÚMSKI
Cenários - Sirguei SIRÉBRINNIKAF
Música - Kirill MALTCHANAF
Legendagem em português - Alexandre BAZINE
Nos papéis principais:
Andrei MARTÍNAF
Irina DALGOVA
lelena DRAPEKA
lekatirina MÁRKAVA
Olga ASTRAÚMAVA
Irina CHIVTCHUK
Nos papéis: L ZÁITSIVA, A. MICHIRIAKOVA
N. IEMILlÁNAF, A. TCHIRNOF
Parte primeira
NO SEGUNDO ESCALÄO
Que ajudante do comandante é este que näo encontra a bota?!
Está aqui, encontrei-a! Estava debaixo da cama!
Essa é boa!
Os soldados vêm da frente com uma ânsia danada de viver.
E eu näo suporto furos na ordem.
Bom dia, camarada major!
Cinco dias de prisäo!
Sem o lenço, näo me deixa aproximar.
Entäo, envias-me um relatório, eu censuro-te e mando-te novos soldados?
Sempre a mesma chatice!
Só quero abstémios e que näo corram atrás das saias...
Eunucos?
A chefia é que sabe.
Näo metes o teu pelotäo na linha. Alegas sempre que é por causa das mulheres!
Näo mando na populaçäo civil. Mas o mal vem dela!
Camarada major, näo quer entrar? O chá ainda está quente.
Näo, obrigado, tenho que abalar.
Entäo, prepara-te, Vaskof.
Escuta, ajudante, pöe o teu pelotäo à disposiçäo do Estado-Maior.
Às ordens.
Tu, Vaskof... Vais ter soldados
com mais nojo a água ardente e saias do que tu.
- E se ficássemos? - Vamos embora!
Voltai com a vitória!
Calma...
- Que homens. - A culpa também é nossa.
Os nossos respeitos ao comandante!
Näo nos guardeis rancor!
Näo, a chefia está desleixadinha, se está.
Há três dias que o alvo näo tem cobertura.
O major meteu-se numa camisa de sete varas.
Onde é que vai desencantar duas secçöes em termos?
Que calma que temos agora.
Tudo por vossa causa.
Quanto a mim, evacuava todo o sexo feminino da zona da guerra.
Para os confins do diabo!
Como, como? E quem vos lavava a roupa?
Cá estamos! Toca a sair!
Parabéns, camaradas combatentes!
Chegou a antiaérea.
Trouxeram comandante?
Parece que näo, Fidot levgráfavitch.
Ainda bem. Nada pior do que a partilha do poder.
Rapaziada, chegou a antiaérea!
Vamos depressa!
Formar!
- Chegaram? - Chegámos!
Sentido!
Camarada primeiro-sargento, apresenta-se
a 1ª e 2ª secçöes do 3° pelotäo da 5ª companhia
para a defesa do alvo!
Ajudante do comandante do pelotäo, Kiriánava!
Boa... Sempre arranjaram abstémios.
- Toma aí! - Descarregar, depressa!
- Mais vida, meninas! - Leva para dentro!
Passa-me qualquer coisa mais leve.
A cozinha fica na margem.
Leva que näo te faz mal!
Näo te aguentas nas canetas?
Vamos, meninas, escolhei as camas.
Os anteriores instalaram-se nas casas.
Eram homens; nós somos mulheres.
- Como te chamas? - Lizaveta Brítchkina.
- De onde és? - De Vólagda.
Trabalhavas no kolkhoze?
Trabalhava. Mas, principalmente, ajudava o meu pai.
Sabes o que fazes.
Vamos colocar uma mesa.
Ponto da situaçäo: Ninguém sai da unidade sem minha autorizaçäo.
- Nem para colher bagas? - Ainda näo há bagas.
E azedas?
Sem raçäo completar, vamos emagrecer.
Só até ao rio. Há muitas azedas por aí.
Liuda, Vera, Kátenka, de plantäo.
Como?
Como o quê, camarada primeiro-sargento?
- Kátia é a chefe. - Agradecemos a confiança.
O plantäo näo é nenhuma brincadeira, há que cumprir a ordem.
Isso aqui é um furo na ordem.
E a ordem! A ordem para o soldado é só uma!
Mas estamos autorizadas. Foi o comandante que nos autorizou.
É uma espécie de camuflagem.
Näo quer retirar-se? Temos que arrumar isto.
Vai arranjar-nos uma casota?
Casota?
Näo estou a ver arbustos perto.
A caprichar, Fidot levgráfavitch?
Näo te enganes nas medidas.
Näo te esforces muito.
Guarda-te, ficaste sozinho, como para padreaçäo.
Agora, passas a andar pelas casas como se fosses um pastor.
Não tens vergonha, Palina! És mulher de soldado ou vagabunda?
- Tens que te portar como tal. - Eh, levgráfavitch...
A mulher, como todos sabem, vive de carinho.
Quer dizer, nós, as mulheres...
...agradecemos-te.
Maria, tens água ardente?
Vamos tomar chá, Rita?
É hora de dormir, meninas. Toque de recolher!
Näo bate ao entrar? Isto é uma caserna, näo uma pocilga.
- Que é isto? - Näo sabe?
- Falha na camuflagem. Tirarjá! - Temos ordem.
- Que ordem? - A este respeito.
Os militares de sexo feminino
säo autorizados a secar a roupa exactamente como a camuflagem.
Vou verificar. Se essa ordem näo existir, tiro tudo e queimo.
Queimar bens do Estado?
Bens!
Que velhote sensível!
Basta
Alarme! Tudo a postos!
Depressa!
Näo esqueçais as armas!
Brítchkina! Tchitvirtak!
Depressa, meninas, rápido!
- Primeiro canhäo, à direita! - Segundo canhäo, à esquerda!
Populaçäo, proteger-se!
Contra o aviäo!
Acima do doze!
Primeiro, carregado!
Esquerdo, carregado!
- Velocidade 140! - Entendido, velocidade 140!
- 18! - Entendido, 18!
Rajadas curtas!
- Alvo na mira! - Fogo!
Velocidade 150!
Doze!
Dez!
Oito!
à direita! Apontar ao da frente!
Velocidade 180! Rajadas longas!
Fogo!
- Distância 16! - Entendido, distância 16!
Lida!
Fogo!
Por que atacam logo dois, em vez de alvejarem só um?!
Grande instrutor! As meninas a fazer guerra e tu aqui, barata! Grande herói!
Vai combater com elas! Näo te faças de herói entre as mulheres!
Cada um ocupa o seu lugar na guerra.
Entäo, Lizaveta? Como está ela?
- Só carne. - Vai sarar.
Os "Messers" estäo a dispersar!
O aviäo de reconhecimento! O terceiro!
Velocidade 140!
Precisar a pontaria!
Rajadas curtas!
Dispara, Rita!
Dispara!
- Alvo na mira. - Fogo.
Acertaram! Bem hajam!
- Bem hajam, meninas! - Dai-lhes!
Agora sim, começa o meu trabalho.
- Onde vais? - Apanhá-lo vivo.
Volta!
Bem feito, Assiánina!
- O pára-quedas näo abriu. - Se calhar, está ferido.
Näo faz mal, o lago também näo é mel e rosas.
Näo gastes muniçöes, näo lhe acertarás.
O segundo está aí suspenso.
Vaskof nadou para o salvar.
Vai apanhá-lo agora.
Vai cair na água ou no bosque?
Alto!
Acertou!
O segundo está morto.
- Meninas, a padiola! - E se a levássemos em braços?
A padiola é melhor.
Foi um bom tiro!
Cuidado!
Tudo certo.
Tudo certo, nada! Devíamos apanhá-lo vivo!
Vai passear!
Conheces o caminho? Ou queres que to indique?
Sentido!
- Camarada major! - Primeira forma.
Já vi. Quem foi o autor?
Segundo-sargento Assiánina, sozinha!
Sozinha näo, com toda a secçäo.
Bom trabalho, serás condecorada.
Näo quero condecoraçöes.
- Apanharam os pilotos? - Caíram no lago.
Um pára-quedas näo abriu.
O outro ia cair-nos mesmo nos braços, mas ela...
- É pena. - Claro que é.
Que queriam eles daqui?
Temos dois feridos.
Levamos os feridos. Trouxe reforços. Queiram conhecer-se.
Por favor, Margarida...
Olá, recrutas.
- Por muito tempo? - Se gostar.
Botas à moda.
Um comandante do Estado-Maior, casado, diga-se,
arranjou uma... amiga, por assim dizer.
Que tenho eu a ver com isso?
Näo amue, ouça.
Um membro do Conselho Militar soube.
O coronel já está a amargá-las, e a mim ordenaram que arranjasse
trabalho para aquela amiga.
Entendido.
- Posso retirar-me? - À vontade.
Meninas, vem aí a Rita!
Comandante da secçäo Assiánina.
Praça Kamelkova.
Praça Gurvitch.
Por que recusaste a condecoraçäo?
Tenho uma conta pessoal a apresentar.
Ora, ora! Como somos täo independentes!
Custa-me compreender certas pessoas.
- Referes-te a mim? - E se fosse assim?
Já te informaram? Entäo, anda lá, educa-me!
Fazes isso agora ou depois do toque de recolher?
- Já tive marido, Jénia. - Roubaram-to?
Näo me venhas com queixumes. Näo te vou dar palmadinhas nas costas.
Näo mo roubaram, mataram-mo no dia 24 de Junho.
Enquanto sofria na neve,
a mulher dele andava metida com o veterinário do regimento.
Mas ficou com o filho, por decisäo do tribunal.
E mandou-o para a mäe dele.
Amanhä é dia da guarniçäo que me está confiada tomar banho.
O sabäo é comigo.
Por isso ofereci-me para aqui. Fico perto dele e da minha mäe.
Agora, já näo estou só.
Vou vê-lo outra vez amanhä.
És feliz.
Eu, por exemplo, näo tenho ninguém.
O meu irmäo, irmä, mäe, estäo todos mortos.
- Bombardeamento? - Näo, fuzilamento.
Prenderam as famílias dos comandantes e mataram-nas à metralhadora.
Uma estoniana escondeu-me na casa dela, em frente da nossa.
Vi tudo.
Jénia, e o coronel?
Como pudeste, Jénia?
Pude...
Apresenta-se o major Lújine.
Bem aparecido.
Aqui tem a minha filha levguénia.
Pude.
Levo para mim e para Tatiana.
- Alguém quer esfregar-me as costas? - O comandante.
O comandante também é homem!
Vamos leiloá-lo.
Ora, näo passa de um cepo musgoso!
20 palavras, e todas da ordem.
Estás enganada! A patroa dele anda contentíssima.
Näo é verdade!
Apaixonou-se! Embeiçou-se!
Meninas, a nossa Brítchkina embeiçou-se por um militar encantador!
Vamos celebrar a boda!
Que vergonha!
Tens de nos contar mesmo todos os mexericos das mulheres?
Que grande viúva de herói nos saíste!
Cala-te! Näo medes o que dizes...
Já agora, camarada sargento,
sou muito explosiva e nada tenho a perder.
Que disseste?
Näo briguemos, raparigas.
Posso dizer-vos versos. Quereis?
Por que estás assim, tolinha?
Näo sei, Rita, näo sei nada...
Vivíamos sozinhos no bosque.
O meu pai era guarda-florestal.
A mäe dizia-me:
.
Vai partir?
Amanhä.
- Quem é? - Sou eu.
Estás aborrecida?
Estou.
Näo é por isso que precisas de fazer tolices.
Recebi um postal dele na Primavera.
Tens que estudar, Liza.
Vem para a cidade em Agosto. Ponho-te numa escola média, com lar e tudo.
Foi no ano passado, em 1941.
Tens que acreditar, Liza, acredita.
É possível que a felicidade ande por perto.
E que te vá visitar amanhä.
Mas nunca poderás voltar atrás.
Sónia, recita mais, está bem?
Amei-a; o amor na minha alma
Näo está extinto, ainda vive, mas
Näo quero que a preocupe mais;
Näo quero afligi-la.
Amei-a em silêncio, sem esperança,
Sofrendo por timidez e ciúme;
Amei-a com franqueza e ternura,
Que Deus lhe dê outro amor assim.
Que aconteceu?
Que tens?
Assiánina é feliz.
Já foi casada e até deu à luz.
E eu nesta vida desgraçada desde os 18 anos. Eu também quero...
Näo chores.
Tens tudo pela frente.
Jénia, ele é casado.
Mas eu amo-o, pai.
Parai!
- Camarada coronel! - Que se passa?
Olhe!
Jénia? Como chegaste até cá, Jénia?
Que estais a fazer?!
Parai!
Assassinos!
Que tens, Jénia?
Também tenho contas a cobrar aos alemäes.
- Para quem? - Kamelkova.
- Para quem? - Tchitvirtak.
- Toma. - Näo é preciso.
Toma.
- Para quem? - Lólkina.
Obrigada.
Meninas, näo me queirais matar, mas...
Ouvi tudo ontem, sem querer.
Näo digo nada a ninguém, até à morte.
Tens aqui açúcar e concentrados. Näo como tudo.
Vamos ao banho.
Toma, Rita.
Secçäo, alto!
Primeira forma! Dispersar!
- Vai à pesca, camarada primeiro-sargento? - Näo, vou dar um mergulho.
A água está fria, ainda gela.
Nos banhos está-se melhor.
E se um caranguejo o agredir?
Venha connosco, nós esfregamos-lhe as costas!
- Liza, näo. - Espere!
Ide pentear macacos!
Olá, meninas!
Ai, Jénia, és uma sereia!
Tens uma pele transparente.
Pareces uma escultura!
Bonita...
Um corpo desses empacotado num uniforme...
Quereis mais vapor?
Meninos! Näo toqueis em nada!
Que bom!
O banho é o maior prazer na vida de um soldado.
Quando nos tornarmos velhas e cuidarmos dos netos,
havemos de recordar este banho.
Primeiro, há que dar à luz.
Ai, meninas, olhai!
A lingerie é o meu fraco.
Se vestires esse "fraco", ainda apanhas uma faxina.
Já apanhei tantas!
- Andavas de lingerie? - Vesti-la para quê?
Ai, meninas, sou täo feiota...
Que é isso, Galka? Deixa-te disso!
Anda cá.
Täo esbelta
Vou pôr-te belíssima!
- Vamos fazer um baile! - Vamos!
- Por que carga de água? - Para contrariar a má sorte!
Aqui é a nossa aldeia. Aqui, o lago de Legont.
O caminho-de-ferro de Murmanks. O canal do mar Branco.
E tudo isto, cercado de setazinhas e círculos. Porquê?
Todos os caminhos estäo indicados.
Sabem tudo!
Isso é o que eles pensam. Conhecem o caminho em torno do lago.
O pântano também. E acham que é intransitável.
As moças pediram a vitrola a Palina, väo fazer uma festa.
Tens a certeza de que näo se embebedam depois do banho?
Eu digo-lhes!
Bom, vai.
Jénia, és uma bruxa!
Só é pena näo termos cavalheiros.
Bom, que se lixe.
Orfanato "Nadejda Krúpskaia"
Pedia-me
Que lhe pertencesse,
Que eu vivesse,
Ardendo de paixäo.
As maravilhas de um sorriso,
O olhar amoroso
Prometem-me
As alegrias do paraíso.
Dizia ele assim Ao meu pobre coraçäo,
Dizia ele assim Ao meu pobre coraçäo,
Mas näo me amava,
Näo, näo me amava,
Näo, näo me amava.
Micha!
Micha!
Partimos hoje.
É para a menina.
Obrigada.
Sei que ama estes versos.
Os alemäes estäo em Minsk.
Näo sei dançar.
Às ordens.
Aí temos um cavalheiro. Agora, é que vai haver bailarico!
- O comandante. - Vem aí Vaskof.
Meu Deus, que medo! Sentido!
Camarada chefe da guarniçäo!
A unidade de que sou comandante está a descansar.
Quatro estäo de plantäo. Todas com saúde.
Agradecemos o banho.
Sargento Kiriánava.
Dançai, só queria ver.
- Voltas a tempo? - Acho que näo.
- A "Russa". - Vou perguntar.
Que respeita mais no mundo?
É tempo de dormir, o toque de alvorada é às seis da manhä.
Espera, Rita.
Deixa Jénia cantar mais uma. O camarada primeiro-sargento quer ouvir.
Acabou-se, meninas, fim do espectáculo. É a ordem.
Isso! Que sono.
Entäo, vamos dormir.
Palina, näo vás. A chuva vai-te molhar até aos ossos.
Bom, sendo assim...
Näo me apetece dormir, ainda está claro.
Bom, meninas, recolher! Todas para a cama!
Camarada comandante! Camarada comandante!
Camarada comandante!
Que aconteceu?
Há alemäes no bosque.
- Como sabes? - Vi-os. Tropa de desembarque.
Eram dois, com automáticas.
Alarme! Quero Kiriánava aqui já! A correr!
Às ordens!
Alarme!
Kiriánava, o comandante chama-te!
Dois!
Segundo-sargento Assiánina.
Dei o alarme, camarada "três". Vou passar o bosque a pente fino.
Autoriza uma operaçäo de reconhecimento?
Os alemäes säo apenas dois. Capturo-os sozinho, se for preciso.
Enquanto as pegadas estiverem frescas.
Às ordens, camarada major!
Que fazias no bosque às 4 da manhä?
Assuntos nocturnos.
Mas eu próprio fiz uma latrina!
Ou é pequena para vós?
As mulheres näo devem responder a determinadas perguntas.
Aqui näo há mulheres!
Só há soldados e comandantes. Estamos em guerra.
E enquanto näo terminar, somos todos do género neutro.
É por isso que tem a cama desfeita, camarada do género neutro?
Sentido!
Primeira forma!
Assiánina, escolhe.
Jénia!
- Galka! - Espera, Assiánina.
Vamos apanhar alemäes, näo peixe.
Têm automáticas.
- Escolhe as que sabem disparar. - Elas sabem.
Posso ir?
Näo me oponho.
Bom, outra coisa. Alguém sabe falar alemäo?
Eu sei.
Näo leu a ordem? Tem de informar!
Praça Gurvitch!
E os vossos gorros?
Como será "mäos ao alto" em alemäo?
Hande hoch!
Exacto.
Está bem, Gurvitch. Vamos por dois dias.
Estás só, Maria?
Estou.
Se descobrirdes o inimigo ou algo de estranho,
quem sabe imitar a voz de um animal ou ave?
É uma pergunta séria!
No bosque, näo se däo sinais com a voz, os alemäes também têm ouvidos.
Eu sei.
- Que imita? - O asno.
É bem parecido.
Aqui, näo há asnos.
Bom, vamos aprender a grasnar como os patos.
É assim que o pato chama a fêmea.
Dois grasnidos - atençäo, inimigo à vista.
Três grasnidos - todos para aqui. Claro, camaradas soldados?
Formar! Depressa, depressa! Brítchkina!
Sentido!
A segundo-sargento Assiánina é nomeada minha ajudante
durante toda a operaçäo.
Näo vos esqueçais dos patos.
Esquerda, volver!
Voltai depressa, raparigas!
Jenka!
Coluna a dois!
Galka! Näo te exponhas!
Tens os pais vivos ou és órfä?
Órfä? Sim, acho que sou órfä.
Porquê? Näo tens a certeza?
Mas quem tem certezas hoje, camarada primeiro-sargento?
Tens razäo.
Os meus pais estäo em Minsk. Estudei em Moscovo, de repente...
- Tens notícias deles? - Qual quê?!
- Os teus pais säo de nacionalidade judia? - Naturalmente.
Naturalmente... Se estivéssemos em Moscovo, näo te perguntava.
E se já tivessem partido?
Ah, caramba...
Quer dizer um palavräo? Näo se acanhe, estou habituada.
- Magoaste-te? - Näo.
Praça Gurvitch, solta três grasnidos.
- Para quê? - Para as testar.
Já te esqueceste do que te ensinei?
Que aconteceu?
Se tivesse acontecido, já estariam no reino dos anjos.
Correste como uma vitela com o rabo levantado.
- Cansadas? - Qual quê?!
Ainda bem. Vistes alguma coisa pelo caminho?
Acho que nada. Um ramo quebrado na curva.
Certo, bem haja. E vós?
Nada, tudo em ordem.
- O orvalho caiu dos arbustos. - Que olho!
Parabéns, praça Brítchkina.
Também vimos marcas de botas dos fritzes.
Ajulgar pela direcçäo das pegadas, estäo a contornar o pântano.
Espera-os uma boa caminhada, cerca de 40 verstas.
Deixá-los. Nós cortamos a direito.
Como?
Aqui näo. Conheço uma passagem.
Tendes 10 minutos para fumar e fazer as necessidades.
Näo relincheis!
Dispersai!
Näo vos afasteis muito!
É fundo?
Por vezes chega até... Bom... até ao que sabeis.
No vosso caso, até à cintura. Cuidado com as armas.
Segui-me! Näo vos desvieis nem um passo!
Possa!
- Kamelkova, näo pares! - Já vou!
Vai, vai...
Tchitvirtak, näo a ajudes! Assiánina, desenrasca-te sozinha!
Vai, Galka.
- Camarada primeiro-sargento! - Que há?
Näo fiqueis paradas, que vos atolais!
Perdi uma bota!
- Encontraste-a? - Näo!
- Alto! Quieta! - Só queria ajudar!
Alto! Näo há caminho de regresso!
Brítchkina, passa-lhe o varapau!
Sai, Kamelkova!
Segui-me! Em frente!
E a bota?
É impossível encontrá-la.
Anda, Kamelkova, mais um pouco!
Segura-te melhor, Jénia!
Calma, calma. Está ao alcance do braço.
Temos de avançar. Avante!
Segui as minhas peugadas!
Cansadinhas?
Nem por isso.
Há sanguessugas?
Aqui não há nada. É um lugar morto.
Näo vos assusteis, é o gás do pântano.
Os velhos dizem que é aqui que vive o silvano.
- Quem? - O diabo dos bosques.
Cantigas, claro.
Enciclopédia do folclore!
Sem pressas. Calma, vamos descansar aqui.
Está bem...
Cansadinhas?
- Cansadinhas. - Pois descansai.
Que pateta! Devias levantar os dedos.
Foi o que fiz.
Näo faz mal, faço-te uma solipa.
Palavra conhecida!
- E depois do pântano, aguentas? - Aguento.
Por azar, depois do banho!
Estou molhada até... Bom, no vosso caso, chega até à cintura.
Näo devias ter vestido lingerie.
Jénia.
Levantar!
Pegai nos varapaus e segui-me do mesmo modo.
Secamo-nos e aquecemo-nos na outra margem.
Jénia, tens um espelho?
Jénia, penteia-me.
És bonita mesmo assim. Penteia-te tu mesma!
- Jénia, basta! - Já vou.
Prontas? Venha, já pode.
Entäo, camaradas soldados do Exército Vermelho, tudo bem?
Tudo bem, camarada primeiro-sargento.
- Näo estais geladas? - Näo temos quem nos aqueça.
- Suas já por todos os poros. - Como vai ser isso?
Calça!
Que grande solipa!
- Fica-te bem? - Melhor do que a bota.
A caminho, camaradas soldados. Ainda temos que dar à pata hora e tal.
Segui-me! Em passo de corrida, marche!
Depressa! Mais ânimo!
- Entäo, Kamelkova, já aqueceste? - Ainda näo deito fumo!
Começa aqui a serra Siniúkhine.
Do outro lado, há outro lago encostado à serra.
É o lago de Legont.
Vivia aqui um monge, que se chamava Legont.
Andava à procura do silêncio.
Silêncio näo falta aqui.
Os alemäes só têm um caminho: Entre os lagos, pela serra.
E outra vez o combate, Descanso só em sonho.
Uma égua das estepes voa Por entre o sangue e a poeira,
Pisando o arunco...
Camaradas soldados!
O inimigo, uma força de dois fritzes, avança em direcçäo ao lago Vop
com o objectivo de alcançar secretamente o caminho-de-ferro Kirov
e o canal dos mares Branco e Báltico, que tem o nome do camarada Estaline.
Resolvi enfrentar o inimigo na posiçäo principal,
intimando-o à rendiçäo.
Em caso de resistência, um mata-se, o outro captura-se vivo.
- Tudo claro. - Quero que vos mantenhais invisíveis.
- Serei o primeiro a falar com eles. - Em alemäo?
Em russo! Traduzirás, se näo me compreenderem. Falo claro?
Se quiserdes ser muito expeditas no combate,
lembrai-vos que näo temos médicos nem mäezinhas!
A guerra é boa quando o alemäo está longe.
Enquanto puxais a culatra atrás, ele criva-vos de balas.
Por isso, a minha ordem é que fiqueis deitadas.
Deitadas, até que eu dê ordem para abrir fogo.
Quero lá saber que sejais do sexo feminino!
Nada de distracçöes, observai!
- Os alemäes? - Onde?
Diabos... Pareceu-me.
Bata uma soneca, Fidot levgráfavitch.
Que é isso, Assiánina? Já passa.
Se perdi os fritzes, vou dormir eternamente.
Se atingirem um chefe ou fizerem voar uma instalaçäo,
malho com os costados no tribunal.
E vou ter de explicar por que é que näo passei o bosque a pente fino
à procura dos alemäes e vim parar só o diabo sabe onde.
Por que se há-de poupar as pessoas?
Por que näo quis mandar-vos para o combate frontal? Näo é uma justificaçäo.
O que näo é justificado é uma ordem militar näo cumprida.
E se estäo a dormir agora?
- A dormir... - Também säo humanos.
O camarada disse que só podiam chegar ao caminho-de-ferro pela serra.
- Mas até lá säo... - Meia centena de verstas.
Por um terreno desconhecido, com medo de cada arbusto.
Margarida... qual é o teu patronímico?
Trate-me simplesmente por Rita.
Posso ver?
Ao querido defensor da Pátria.
É um presente.
- Fuma, camarada Rita! - Näo fumo.
De facto, näo me passou pela cabeça que também säo humanos.
Foi uma boa lembrança.
- Pintados?
Sereia.
Já näo posso pentear-me?
À vontade.
O camarada primeiro-sargento dá-me licença que pergunte?
Pergunta.
O camarada primeiro-sargento tem mulher?
Sou casado, soldado Kamelkova.
Onde está a sua mulher?
Em casa, claro.
Tem filhos?
Filhos?
Tive um garoto.
Teve, como?
A sua mäezinha näo olhou bem por ele.
Como foi isso?
A minha mulher deixou-nos.
Rita, conta-lhe tudo.
Conto, quando voltarmos.
Vê-se logo que és experiente, soldado Brítchkina.
Estás bem instalada, e também grasnas bem.
- Nada de suspeito? - Tudo calmo.
Observa tudo, Lizaveta.
Nos arbustos que se mexem, nas aves que se agitam.
És do bosque, compreendes tudo.
Como é bom!
Como se näo houvesse guerra.
Liza, Liza, rapariga, Näo me cantas uma cantiga?
Näo me mandas um beijinho? Serei um amado pouco bonitinho?
Dizia-se assim na minha terra.
É de cá, da terra, camarada primeiro-sargento?
Sirvo há muito tempo aqui.
Na minha terra, canta-se...
Cantamos depois, Lizaveta.
Primeiro, cumprimos a ordem; depois, cantamos.
- Palavra? - Já disse.
Cuidado, camarada primeiro-sargento, o prometido é devido!
Nascidos nos anos nefastos,
Do seu caminho säo esquecidos.
Filhos de anos russos horrendos,
Esquecer nada podemos.
Anos terríveis.
Que guardais? Loucura ou esperança?
As faces dos rostos reflectem Os dias sangrentos da guerra,
Os dias da liberdade...
Os dias sangrentos...
Para quem recitas?
- Perguntei-te para quem recitas? - Para ninguém, para mim.
Em voz alta?
Säo versos.
Assim, estragas a vista.
Ainda há luz, camarada primeiro-sargento.
Disse por dizer. Näo te sentes nos calhaus.
Quando arrefecem, chupam-te o calor do corpo. Senta-te em cima do capote.
Está bem, camarada primeiro-sargento, obrigada.
E näo leias em voz alta.
O ar humedece à tardinha, e as auroras nascem tranquilas.
Um som ouve-se a cinco verstas.
À Sónia para sempre, Micha.
Por que estás encolhida?
Tenho frio.
Näo dês coices.
Tens febre, camarada soldado.
Efeitos do pântano e da bota perdida.
Bebes puro ou baptizo?
- Que é isso? - Uma poçäo.
- Uma poção... É álcool! - É.
Näo bebo!
Bebe e näo discutas. É uma ordem, bebe.
Bebe!
Ai, minha mäe!
Näo respires!
Só quem sobreviver à guerra, terá mäe.
Ai, a cabeça a fugir-me!
Näo faz mal, apanha-la amanhä.
- Como se vai aguentar sem o capote? - Näo te aflijas, eu sou forte.
Vê se te pöes fina até amanhä. Peço-te muito, pöe-te fina.
Vou fazer por isso.
Só quem sobreviver à guerra, terá mäe.
Que há? Alemäes?
- Fica quieta, a ordem é para dormir. - Que tal, Galka?
- Onde está a Rita? - Ficou com Vaskof.
O quê?
Estás a ouvir?
Pássaros a chilrear.
Säo pegas! As pegas estäo alvoraçadas.
Quer dizer, alguém as incomoda.
Vai, Assiánina, acorda os soldados. Rápido! Quero Gurvitch aqui.
Näo quero um som!
Bom dia, camarada primeiro-sargento.
Viva. Como está Tchitvirtak?
Está a dormir, näo a acordámos.
Fizestes bem. Fica comigo como ligaçäo. Mas näo te exponhas.
Está bem.
Ali estäo eles!
Estás a ver? Ali estäo eles. Os dois, juntos.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Seis. Sete.
Oito. Nove.
Nove. Dez.
Onze.
Doze.
Doze. Treze.
Catorze. Quinze.
Quinze. Dezasseis.
Cuco, cuco, quantos anos me dás para viver?
Um.
Dois.
Três...
Fim da primeira parte