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FACE A FACE
Olá, vovó. É Jenny. Como você está?
O dia está lindo.
Sim, já levaram os móveis. Parece tão vazio.
Não, jantar não. Devo ir ao consultório antes.
Sim, estarei aí às oito. Amo vocês.
Vai ficar melhor se tomar um banho e se vestir.
Vamos abrir as cortinas. Está muito quente aqui.
Da última vez que lhe vi conversamos um pouco.
Que aconteceu agora?
Você sabe que eu sei que estás fingindo.
De que adianta isso?
Cabeça...
Rosto...
Olho...
Boca...
Você não deve.
Pobre Jenny.
Pobre Jenny.
Pobre Jenny...
- Jenny! - Vovó!
Entre.
Querida! Se soubesse como estou feliz...
- Seu avô e eu estamos muito contentes. - Onde está o vovô?
Você, como você está?
Vou ficar dois meses com vocês. Eric está num congresso em Chicago.
Falei com ele pelo telefone. Disse que tem muito para lhe falar quando voltar.
Vamos, vou lhe mostrar o seu quarto.
Vai ficar no seu antigo quarto. Não será perturbada lá.
Os móveis são os mesmos de quando era pequena.
Mandei trazer para você. Lembra-se?
E sua velha escrivaninha...
Me diga se precisar de alguma coisa.
- Vovô e eu aguardamos muito a sua vinda. - Aqui estou.
Agora vamos tomar um chá com seu avô.
Ele não suporta esperar.
Pode ajudar seu avô?
Como está Anna?
Está fazendo equitação e namorando um rapaz de 17 anos.
Que lhe diz tudo sobre a revolução mundial.
- Ele também faz equitação? - Anna já tem 14 anos...
- e sabe se cuidar. - Açúcar?
Sim, por favor.
Oh vovó, a senhora fez bolinhos. Eu estou começando um dieta...
Tolice.
Depois da equitação Anna ficará com uma amiga...
e não estará em casa até o início das aulas.
- Quando a nova casa estará pronta? - Em agosto, espero.
O construtor prometeu, mas nunca se sabe.
- Trabalhará no hospital todo o verão? - Sim
Não vai ter férias então?
Eric e eu pensamos em ir para a Itália em outubro, vamos ver.
- Que trabalho é este? - Estou substituindo ao médico-chefe.
- Espero que paguem bem. - Obrigada, vovó. Me pagam muito bem.
Está contente com o trabalho?
Sou feliz em qualquer lugar.
- Qual é o problema? - Comigo? Tudo bem.
- Algo errado entre você e Eric? - Não!
- Bem, alguma coisa está errada. - Estou um pouco cansada.
Ainda não me recuperei da gripe que tive.
Vamos, diga boa noite para o seu avô.
Vovô gosta de ver essas fotos antigas.
Ele passa horas com elas.
Deve ser no verão de 1948.
Deve ser, Greta está com um barrigão...
e Ragnar nasceu em setembro.
E aquele barco que sempre quebrava quando precisávamos dele.
Como eu odiava aquele barco.
- Você era a garotinha do papai. - Tinha seus motivos.
Boa noite. Durma bem.
Não olhe por muito tempo ou seus olhos começarão a doer.
Há 20 anos compreendi a brutalidade de nossos métodos...
e o fracasso total da psicanálise. Não creio que podemos curar alguém.
Um ou outro se restabelecerá apesar dos nossos esforços.
Penso que devo continuar com Maria, se não tiver nada contra.
Você é a chefe. Pelo menos por enquanto.
Já vou. Tenho um almoço com o ministro do interior...
um neurótico incuravelmente normal.
Até logo.
E dê alta a Maria por mim. Antes que Erneman volte da Austrália.
Ele acha que isto é uma fábrica onde os fins justificam os meios.
Por isso os políticos gostam tanto dele e o deixam viajar pelo mundo afora.
A propósito, você vai ao aniversário de minha ex-mulher?
- Você vai? - Não. Ela vai apresentar seu novo amante.
O jovem Sr. Strömberg.
- O ator? - Ele mesmo.
Ele é 26 anos mais novo que ela. Muito comovente.
- Acho isso, sem ironia. - Não é Strömberg...
Sim, mas Elisabeth gosta de seus amigos. É como uma mãe para eles.
Acho que vou.
Diga-lhe que meu prognóstico sobre o Sr. Strömberg é ruim...
e que eu, apesar de tudo, amo ela.
Querida Jenny! Você está linda, como sempre!
- Pensei que era às cinco? - Não, foi às duas.
Quase todo mundo já foi.
Entre. É muito bom ver você!
Que roupa bonita. Deixe-me ver... muito bonita.
Você é tão bela. Que bom ver você!
Estou tão feliz. Entre.
Onde está seu esposo? Ah, ele está na América.
Este é Michael.
Nos amamos muito. Verdade.
Ele é tão bom para mim.
E este é seu melhor amigo, Ludvig.
Vamos às Bahamas, os três.
E este é Tomas. Acho que já ouviu falar dele.
Ele viaja para países sub-desenvolvidos, ensinando garotas a usar contraceptivos.
E ele é o melhor médico do mundo se você tiver problemas do coração...
entende o que quero dizer...
E este...
Quem é este? Michael, lembra quem é este?
Não vamos incomodá-lo. Tira uma soneca e bem o merece...
depois do discurso que fizemos. Querida, que...
discurso que foi... E aqui duas amáveis garotas.
Elas abriram uma pequena loja na cidade.
Que tal levar estes morangos para os rapazes?
Não são lindas com seus vestidos transparentes?
Imagine nós com aquelas roupas...
Imagine.
Você está feliz agora?
Só estou lhe dizendo isto, porque você entende.
- Naturalmente existem problemas. - Verdade?
- Saúde! - Saúde.
Michael é muito complicado. Às vezes eu tenho medo dele.
E Ludvig é uma mala sem alça.
Mas, de um modo geral, posso dizer que sou feliz.
Tem certeza, Elisabeth?
Sou grata.
Humildemente grata. Não só por causa do Michael.
Mas porque sei que estou consciente e saudável.
E sei que são meus sentimentos.
Não importa, estou sonhando.
Quase a invejo.
Temos que sair, vamos ao campo.
Lamento que tenham que ir, obrigado por terem vindo.
Obrigado.
- Como vai? - Bem, e você?
Sempre estou bem.
- Do que falamos agora? - Temos um...
Com licença.
-...um assunto importante. - Verdade?
- Uma paciente que vem a ser minha meia-irmã. - Sim, Maria.
Exato.
Parece que não é o local próprio para falar sobre um paciente.
- Não é preciso. - O que quer dizer?
Poderíamos marcar um jantar.
Há um restaurante de frutos do mar aqui perto.
- Eu... - Sem problema, podemos ir outro dia.
Estarei na cidade até o final de agosto.
Poderíamos ir ao restaurante? Só preciso fazer uma chamada.
Se o convite ainda está valendo, claro.
Oi, Martin. Ainda bem que te encontrei. Não posso vê-lo esta noite.
Quê? Sim, um paciente.
Se encontrei alguém mais interessante? Você é um tonto.
Não há motivos para haver ciúmes entre nós.
Adeus.
Oh, Deus!
Entramos ou te deixas levar pelo teu impulso de fugir?
- Aqui serve um linguado excelente. - Estou com fome.
Então vamos comer, depois conversamos. Está bem?
A casa está caindo.
Às vezes penso em trocar por algo mais moderno.
Quando havia uma mulher na casa, o jardim era bonito, mas agora...
- O que gostaria de beber? - Não bebo.
- Como estás? - Eu? Vou bem.
- Estou bem. Como sempre, devo dizer. - Parabéns.
- Café? - Talvez mais tarde. Toca?
- Não, minha mulher tocava. - Morreu?
- Nos divorciamos há dois anos. - Acha que fez a coisa certa?
O divórcio foi a coisa mais certa que fizemos.
- Meu marido está fora por três meses. - Sei, você insinuou isso durante o jantar
- Na verdade o perdi. - Sei.
Tenho um amante que não é tão bom. Compreende?
Mais ou menos. Que outros tratamentos tem para sua ansiedade?
Nos mudamos para uma casa nova no outono.
- Que bom. - Ficou aborrecido?
Não. Só me perguntava quão belos são os teus seios.
Para manter a sua curiosidade posso dizer que são muito belos.
- Mas, limite-se à isso. - Me interpretou mal, mas tudo bem.
- Um cigarro? - Não fumo.
Faz bem.
Bom, preciso ir. Pode chamar um taxi?
Um momento.
- Estou muito cansada. - Apenas ouça por um momento.
Vamos.
Não podemos ser amigos? Não parece tão irônico, penso.
Está ouvindo?
Claro.
Só quero saber como nos imaginou daqui até o seu quarto.
Como imaginou vencer a vergonha de estarmos nus.
Que técnicas maravilhosas usarás para satisfazer a mim e a ti próprio?
Que exigências teria para a minha performance?
Quão avançada e impulsiva me permitirias ser?
- Você é muito engraçada. - Muito mal, porque estou séria.
Também gostaria de saber como imaginou o final do sexo.
Terno e suave?
Um cigarro em brasa na luz da manhã?
Um papo nervoso sobre a próxima vez e troca de números de telefone?
- Posso levá-la até em casa? - Não, obrigado, tomarei um taxi.
Um táxi para Söderhamnsvägen 9, por favor.
Obrigado.
Adeus então, Jenny.
Obrigado pela noite agradável. Espero que nos vejamos novamente.
- Talvez possamos ir a um cinema. - Ou a um concerto.
Quem sabe?
- Ligarei. - Talvez eu ligue para você.
- Isso me surpreenderia. - Talvez eu ligue só para surpreendê-lo.
- Está claro. - São quase duas horas.
- Está andando pela casa novamente? - O relógio.
- Acertamos ontem a noite. - Parou.
- Não. - Está atrasado.
Está como todos os outros relógios.
Mas se continuar mexendo nele, vai quebrar de verdade.
Você não está num asilo.
Está tudo em sua cabeça, está me ouvindo?
A velhice é um inferno.
Sempre pode contar comigo. Estarei sempre ao seu lado.
- Não fique tão nervoso. - Desculpe.
Venha, deite em minha cama.
Dormirá melhor e ficará mais calmo.
Então simplesmente roncarei.
Já dormi bastante.
Venha.
Ficará melhor.
- Onde estão meus chinelos? - Que chinelos?
- Os outros. - Estão no armário.
- Não, já procurei lá. - Sim, querido, coloquei-os lá.
Você nunca acha nada.
- Não seja teimosa. Não estão lá. - Sim, estão lá.
Quem é?
Quem você está chamando?
Devo levar Maria ao hospital.
- Há tanta pressa? - Ela está inconsciente.
Tem certeza que nós a drogamos?
- Em todo caso ela deve ir ao hospital. - Espera um minuto.
Não há necessidade de uma ambulância.
Não tema. Não farei nada.
Vamos fazer o seguinte: saia daqui agora, eu levarei Maria comigo.
- Ouça-me. - Não estou interessada.
Queira você ou não, a situação é esta:
Maria nos chamou ontem e queria sair, então nós a levamos.
A noite começou a gritar por você, pedindo para que a chamássemos aqui.
Procuramos na lista telefônica e a trouxemos aqui.
Ninguém abriu então entramos pelo sótão.
Quando vimos que estava tudo vazio, ligamos para o hospital
e conseguimos seu número atual.
Ela é muito apertada.
Alguém tem que pagar pela trepada, sabia disso?
Chame a porra da ambulância.
Sou a Dra. Isaksson da clínica psiquiátrica.
Queria uma ambulância para Dennavägen 35. Sim, certo.
- Não nos falamos muito esta tarde. - Muito de acordo com você.
- Você não entende. - Não, é verdade.
Há certos momentos na vida pelos quais você tem que passar.
- Sim? - Certas horas, minutos.
- Como agora? - Talvez.
- Estou feliz que estejamos juntos. - Precisa de um drinque.
- Nosso último encontro foi ridículo, não acha? - Eu não acho que foi ridículo.
- Tem alguma coisa para dormir? - Claro. Quer um?
Queria que me desse uma dose dupla de soníferos
- Talvez eu durma o dobro. - Então?
Gostaria de dormir em sua cama, sem fazer amor.
Seguraria a minha mão se necessário...
Pode fazer isso?
Não beba se vai tomar pílulas para dormir.
0,5 mg de *** e dois Mogadons. Uma boa combinação.
Eu uso o mesmo sem efeitos colaterais.
Tomo um café bem forte pela manhã.
- Quando quer ser acordada? - Um pouco antes das 7.
Devo estar no hospital às 8h30 .
- Venha. - Tomas...
Se faz as coisas para que sejam simples, serão simples. Não acha?
É assim que funciona para mim.
Algo muito estranho aconteceu comigo.
Quando vim buscar Maria outro dia...
havia dois homens na casa. Um deles tentou me violentou.
No início quis gritar, então pensei que ele era doente.
Então...
Sim?
Ele pôs seu rosto apertado em meu peito.
Ficou ruborizado e tentou me penetrar.
De repente, eu queria que ele fizesse aquilo.
E isso é tão estranho?
Não. Estranho é que, mesmo quando eu queria, ele não conseguia.
Tudo estava vedado...
e seco.
Desculpe.
Não sei...
Levante-se. Vamos, levante-se.
Vamos...
- Não entendo. - Respira fundo. Vai, respira fundo.
Assim, assim.
Eu não quero!
Quero ir para casa. Peça-me um táxi. Não quero que me leve.
Quer que chame um médico?
Tem médicos demais aqui...
Só estou cansada. Quero ir para casa.
Não há nada errado comigo. Quero ir para casa e me deitar.
Como está agora?
Melhor.
Diga o que você quer. Vou levá-la até em casa.
- Desculpe ter sido tão estúpida. - Deveria descansar.
Amanhã me sentirei melhor. Então estarei de folga...
por dois dias.
Da próxima vez falaremos apenas de você..
Ontem você dormiu o dia todo.
- Já estava preocupada. - Que dia é?
Sábado, 9 da manhã. Liguei para o hospital e falei...
- que você estava doente. - Deus, dormi o dia inteiro.
Fiz um café para você.
Obrigada.
Deveria tomar um café e comer um sanduíche.
Não poderei ficar aqui com você. Fomos convidados pelos Egermans.
Não posso cancelar.
Vovô está muito feliz de passar dois dias...
no campo. - Posso cuidar de mim mesma.
Tem certeza?
Deve ser domingo...
Devo levantar e comer
Me sinto péssima.
Pelo menos a ansiedade passou.
Uma coisa de cada vez.
Um pouco de comida.
Uma caminhada.
Um livro...
talvez um filme.
Olá Tomas, é Jenny.
Queria me desculpar pela última vez.
Grande.
Poderia me convidar para ver um filme. Que acha?
Não estou com medo...
não estou só.
Nem sequer triste.
É bastante agradável.
- Quem são estas pessoas? - Não importa.
Sente-se comigo, assim poderemos ler.
"No castelo vivia uma mulher velha e má...
e um velho ainda mais mal.
Antes que o senhor do castelo fosse a guerra... "
Que aconteceu?
"Prometeram fazer assim... "
- Porquê estou tão assustada? - "Quando o cavaleiro foi... "
- Está tão difícil respirar. - Vovó?
Porquê fede tanto aqui? E está tão quente.
- Estou com falta de ar. - Fica quieta.
A temperatura está boa e não sinto este fedor.
Velhos cheiram mal.
Vovó e vovô cheiram mal.
Velhos me dão asco. Eles sempre fedem.
Fazem com que seja difícil respirar.
Odeio quando vovó põe sua mão em meu ombro e pede que a beije.
- Fico assustada quando você lê. - Fique quieta!
Quieta!
Devo avisar-lhe que não abra esta porta.
- Está tentando me assustar. - Como queiras. Eu a avisei.
- Se eu abrir a porta, acordarei. - Você não pode acordar.
- Se fizer um esforço... - Vá em frente.
Há algo que de repente me lembro. Minha tentativa de suicídio falhou.
- Não de todo. - O que quer dizer?
Dano cerebral pela falta de oxigênio. Nunca ouviu falar dessa fatalidade?
- Isso é verdade? - Sim, querida Jenny.
Verdade.
- Sempre viverei assim? - Calma.
No hospital, eles a manterão viva, desperta ou inconsciente.
- Por quanto tempo? - Até que morra.
E levará muito tempo?
Dias, meses, anos. Quem sabe?
- Não deve ser assim. - Sim, Jenny. Deve ser exatamente assim.
- Abrir esta porta não fará diferença. - Sua lógica é impecável.
- Sabes o que há lá dentro? - Como poderia saber?
Porquê me advertiu então?
Ficaria agradecida com os horrores que já conhece.
Os horrores desconhecidos são piores.
- Vou abrí-la de qualquer maneira. - Abra. Tens sua própria vontade.
- Vai embora? - Querida Jenny.
Não quero mais problemas do que os que já tenho....
Não vá.
Vou deixar o seu sonho e entrar no meu. Não tente me impedir.
Não vá!
Só...
Vovó...
Se apenas pudesse despertar.
- Está com frio? - Sim.
- Pegue minha charpa.. - Obrigada.
- Não está mais com medo, está? - Acho que não.
Não quero... Não quero.
Deixe-me só...
Não sinto minhas pernas.
Alguém pode pegá-las ali e botá-las de novo no lugar?
Olá...
Você está aqui...
Você disse que nós iríamos ao cinema. Lembra?
Então calou-se e sumiu.
Não sabia em que pensar. Me parecia tão estranho.
Liguei de volta e ninguém atendeu. Pensei que havia sido sequestrada.
Não sabia em que pensar. Foi muito desagradável.
Água?
Sim, por favor.
Tome.
Devagar.
Obrigada.
Finalmente, fiquei tão preocupado que vim aqui e toquei a campainha.
Pedi ao porteiro para abrir.
Estou sonolenta.
- Seus estão esperando há horas. - Aqui?
Sim. De acordo com o novo contrato. Não lembra?
Sim, claro. Que descuido.
Ajude-me. Me cortaram na cabeça. Me operaram.
Mas quando me suturaram, esqueceram o medo diário.
Volte no próximo mês.
Não esqueça suas pílulas.
Anna! Que estás fazendo aqui? Não tenha medo de mim!
Como fede.
Estou suada e suja.
- Seu esposo está aqui. - Agora não...
Você tem uma habilidade para causar surpresas.
Acabo de chegar do aeroporto.
- Deve estar cansado. - Não.
- Não quer sentar? - Sim, claro.
- Estou fedendo muito. - Por favor.
Poderia voltar amanhã? Estaremos melhor.
Certo, mas...
Devo voar de volta amanhã. É urgente. Sou o presidente...
Pobre de ti.
Não tenha pena de mim.
Que complicado.
Estive me perguntando.
Eu nunca...
- Nunca fui tão... - Lamento.
- Porquê você fez isso? - Perdoa-me.
Perdoa-me...
Sei que tenho uma grande parte da culpa.
Mas não sei em quê consiste. Tentei pensar nisso...
Outra hora.
- Pode descansar agora? - Sim, posso. Não se preocupe.
Que quer que eu diga a vovó?
- Se ela perguntar... - Pode dizer a verdade.
E Anna?
Quero falar com ela. Pode chamá-la...
- e perguntar como está? - Sim.
Adeus então.
Manteremos contato.
Se cuide.
Mamãe, onde está você?
Pai, estou em casa.
Porquê estão se escondendo?
Apareçam. Estão me assustando.
Mãe, sou eu.
Pai, sou eu.
Não me reconhecem?
Pai, te amo. Você foi tão bom para mim.
Foi tão difícil quando desapareceu.
Vi quando você morreu. Você estava no necrotério.
Querida mãezinha, não tenha medo. Está tudo bem.
Não sou mais uma criança. Cresci e tomei pílulas para dormir...
mas parece que fracassei.
Vocês não podem evitar terem tido, sempre, tanto medo.
Mãe, querida mãezinha.
Tudo seria tão real, correto e preciso.
Papai, gostava tanto de abraçar. Você era tão triste e nervoso...
Então nos agredimos um ao outro sem querermos.
Toda a vida, todos os dias, todas as palavras, as pequenas coisas.
Papai? Mamãe?
Passamos bons momentos juntos. Era muito pequena, não entendia...
Mas igual, vocês fechavam a porta, e eu ficava ali, ardendo de culpa!
Sempre ficava ali em pecado e culpa!
Mamãe! Papai!
Vá embora e não volte nunca mais!
Eu odeio vocês! Odeio! E não quero ver nunca mais...
seus olhos assustados, seus modos assustados.
Tomas...
- Porquê está cuidando de mim? - Tenho as minhas razões.
- Além disso, sou o seu médico. - Não sabia.
- Agora você sabe. - Tem café nessa garrafa?
- Sim. - Posso tomar um pouco?
Não, acho que vai te dar náuseas.
- Mas pode tomar limonada. - Não obrigada.
Melhor tomar.
- Como está o seu trabalho? - Estou de férias.
Com nada melhor para fazer que vigiar um confuso ataque suicida?
- Não. - Conte uma história.
Quando tinha 9 anos, aprendi a arrotar. Meu irmão mais velho me ensinou.
Durante o jantar, achei que era o momento apropriado...
para demonstrar minhas novas habilidades para a família.
Achei um intervalo entre as almôndegas e a torta de maçã.
Não tive sucesso. Fiquei tão nervoso que peidei ao mesmo tempo.
- Que lástima. - Gerou alguma tensão, mais que um fracasso.
Perdi a torta de maçã e o pudim e tive que sair da mesa.
- Minha educação foi dogmática. - Conte-me mais. Alguma coisa bonita.
- Não sei o quê. - Qualquer coisa.
Talvez um livro que leu ou alguma pessoa interessante...
Ou um filme, ou uma viagem?
- Francamente, nada aconteceu por um ano. - E o que aconteceu depois?
- Fui abandonado. - Certo, é divorciado.
Nenhuma mulher nessa história. Fui abandonado por um amigo.
Eu gostava muito dele.
Não é verdade, eu o amava.
Vivemos juntos por cinco anos.
Você o conheceu nessa festa doentia na casa da Sra. Wankel.
Suponho que saiba de quem estou falando?
- O ator, Strömberg? - Ele mesmo.
- Agora somos apenas amigos. - Porquê se separaram?
Nesse mundo cruel, a infidelidade é total e a competição terrível.
A esposa de Wankel ofereceu melhores condições.
Ela aceitou seus novos amigos e concordou em apoiá-los.
- Ela é rica, como você sabe. - Ele não gostava de você?
Eu pensava que sim.
Bonito, talentoso e malcriado, acho que ele necessitava algo diferente.
Acho que eu era muito amargurado com meus sentimentos e meus ciúmes.
Quer dormir um pouco?
- Que hora são? - 01h30. Madrugada.
Mamãe! Papai! Socorro!
Quando era jovem, sabia que a morte me assustava.
Sempre estava presente. Me envolvia
Meu cachorro morreu atropelado. Isso foi quase o pior.
Mamãe e papai morreram num acidente de carro. Já lhe contei isso.
Um primo morreu de polio. Eu tinha 14 anos.
Nós nos beijamos no sábado, durante o jantar.
Na sexta seguinte, ele estava morto.
Você sempre foi considerada um milagre de saúde mental.
Antes de casar, vivi durante um bom tempo com um artista louco.
Quando se aborrecia, falava:
"Sua frigidez é tão intensa que me atrai".
Eu dizia: "Sou frígida apenas com você. Com outros eu consigo."
Há pouco tempo estive em uma festa...
em que alguém leu um poema sobre a morte e o amor...
e como se fundem um com o outro. E se envolvem.
Lembro de zombar desse poema.
- Muito infantil, não acha? - Talvez.
Papai era tão bom. Era alcoolista.
Sempre me abraçava. Nos dávamos tão bem.
Mamãe dizia: "Basta de mimos". E vovó: "Seu pai pode ser bom...
mas é um vagabundo e preguiçoso".
Mamãe estava de acordo. Elas o menosprezavam. E queriam meu apoio.
E foi assim. Passei a me envergonhar quando papai me abraçava e beijava.
Me preocupava em agradar a minha avó.
Então tive minha própria filha. Anna gritava de um modo estranho.
Era diferente das outras crianças. Não gritava porque estava com medo...
ou tinha fome. Era mais um grito verdadeiro.
Era algo primitivo. Às vezes eu queria bater nela por isso.
E às vezes me desmanchava em ternura. Mas sempre comigo no meu caminho.
Um temor egoísta, estranho. Não deveria haver uma entrega.
E a felicidade apagou-se.
Lembro da primeira vez em que ouvi mamãe chorar.
Eu estava no quarto e ouvi mamãe e vovó falando.
Vovó falava com uma voz baixa, estranha...
e de repente mamãe gritou. Eu não sabia o que se passava.
Eu estava muito assustada. Mais por causa da voz de vovó.
Fui até a sala e vi mamãe sentada numa cadeira perto da janela...
e vovó estava no meio da sala. Quando cheguei ela virou-se para mim...
e olhou. Era a cara de vovó, ainda que não era.
Olhava como um cão raivoso pronto para morder. Corri para o quarto...
E rezei para que vovó tivesse sua cara de volta...
e que mamãe não chorasse. É tão horrível quando...
as caras mudam e não se pode mais reconhecê-las.
Não posso falar disso.
Não quero.
Mate-me. Não suporto mais isso!
Estou doente.
Não posso continuar vivendo assim.
Acalme-se.
Não pode vestir esse vestido hoje! É seu vestido de domingo!
Não pode fazer nada. Deixe-me ajudá-la.
Coma o que está no seu prato.
Passar batom? Isso não é permitido nessa casa.
Atrasada novamente. Nunca aprende a chegar na hora?
Você é atrevida e preguiçosa. Se não se comportar, vai para um internato.
Lá aprenderá a obedecer.
Aprenderá com gente decente. Gente que tentou viver suas...
vidas em ordem e com limpeza. Se pretende continuar vivendo...
comigo e seu avô, tem que mudar o seu comportamento.
Deveria estar agradecida! Não pode mostrar gratidão pelo menos uma vez na vida?
Não me bata assim! Não bata na minha cara!
Vou lhe ensinar a se comportar feito gente. Páre de chorar.
Não gosto dessas lágrimas.
Eu faço o que quero! Não pode me controlar!
Eu te odeio, bruxa de merda!
É melhor que você mande.
Sei que você me ama e quer o melhor para mim.
Sei que devo fazer como você diz.
Porquê sempre devo ter a consciência pesada?
Peço-lhe que me perdoe. Perdoa-me.
Sei que agi mal. Sempre estou errada.
A garotinha de vovó.
Podemos falar de qualquer coisa.
Tudo é salutar com vovó.
Eu morreria se tivesse que ficar presa no armário.
Farei o que quiser, contanto que não tenha que ficar presa no armário.
Por favor, vovó, por favor.
Peço que me perdoe. Não posso viver se ficar presa no armário.
Como pode prender uma criança que tem medo da escuridão?
- Não é surpreendente? - Sim, é.
Acha que estou mentalmente perturbada pelo resto da vida?
Sabia que há um exército de um milhão de pessoas mentalmente perturbadas...
pobres diabos que perambulam gritando uns com os outros...
palavras que não entendemos e que deixam a gente ainda mais apavorados?
Não sei.
- Há um chamado para nós que não cremos. - Que quer dizer?
- Às vezes digo para mim mesmo. - Pode dizer para mim?
Desejo que alguém ou algo me bata...
assim posso voltar a realidade.
Repito incessantemente, talvez um dia eu seja real.
Que quer dizer com "real"?
Ouvir uma voz humana e confiar que vem de alguém igual a mim...
tocar um par de lábios e ao mesmo tempo saber que isso é um par de lábios.
- Desculpe incomodá-los... - É madrugada.
- Madrugada? - Em meu relógio são 04h05.
No da enfermaria, são 08h05.
- Quinta-feira? - Exato.
A filha da Dra. Isaksson está aqui. Ela quer ver sua mãe.
Quero falar com ela, mas não aqui. Podemos sentar na sala de visitas?
Claro. A esposa de um paciente estava lá, mas saiu para caminhar.
Tenho que me lavar.
Acho que podemos dar alta a Sra. Isaksson hoje, se ela quiser.
- Não temos que falar com o Dr. Wankel? - Não é necessário.
Quer o café na sala de visitas? Talvez sua filha queira uma xícara de café.
Obrigada.
Voltarei a vê-lo?
Seria bom. Mas daqui há algum tempo.
- Porquê? - Vou para a Jamaica.
- Não me disse nada. - Esqueci.
- Terei que me cuidar sozinha... - Eu que terei que me cuidar sozinho.
Eu poderia ir contigo.
- Não obrigado. - O que vai fazer na Jamaica?
Dizem que se pode viver amoralmente na Jamaica.
- Voltará? - Não posso prometer.
- Adeus. - Adeus.
Cuide-se...
e cuide dos seus.
Oi, mamãe.
Papai ligou e falou que você estava doente, resolvi te visitar...
- apesar de que ele disse para não vir. - Ele disse porque estou aqui?
Falou que adoeceu e que lhe trouxeram aqui de ambulância.
- Não falou o motivo? - Não.
- Aqui está. - Obrigada.
- Quer que feche a porta? - Sim. Vamos sentar.
- Quer café? - Não.
Não obrigada.
Isto não vai ser fácil... Nem para mim nem para você.
Fiz algo muito estúpido.
Tentei o suicídio.
É difícil de explicar.
Talvez pense que não gosto de você, ou do papai.
Mas não é isso.
São as pessoas de que mais gosto.
Você e vovó. E papai.
Nunca fez algo sem pensar...
- sem saber porquê? - Talvez.
- Tem que tentar me perdoar. - Não compreendo.
- Vai voltar ao haras? - O trem parte em uma hora.
- Você tem dinheiro? - Sim.
- Está gostando? - Mais ou menos.
Lembranças a Lena e Karin.
- Vem para casa na sexta? - Sim.
Podemos jantar juntas?
Passas por aqui a caminho de Skane. Podes vir ao centro...
e o trem não sai antes das dez.
Poderíamos jantar e ir ao cinema. Não seria lindo?
Mamãe...
Você vai fazer isso novamente?
- Não. - Como posso saber?
- Deve confiar no que digo. - Mas você sabe o que diz?
- Sim. Eu acho - Mas não tem certeza?
O que você quer realmente? Não entendeu nada?
Você nunca gostou de mim.
É a verdade.
Tenho que ir agora.
Não se preocupe. Sei cuidar de mim mesma.
- Está melhor? - Bem melhor.
- Porquê não disse nada? - Não havia nada para dizer.
Perguntei ao Dr. Jacobi e ele disse que estavas estressada.
- Sim. - E Eric veio correndo para casa.
- Mas foi embora da mesma forma. - Sim, claro.
Quando se deu conta que não era nada perigoso.
Que você estava somente estressada.
Você está cansada. Vou arrumar a cama...
- assim poderá descansar? - Não obrigada.
Mas se está estressada deveria tirar umas férias.
Não posso agora. Erneman só voltará dentro de dois meses.
Então Eric e eu sairemos de férias.
Como você está, vovó?
Assim...
Penso que seu avô não voltará a caminhar.
Assim é a vida.
Temos esperado este momento durante anos.
E mesmo assim parece estranho...
quando finalmente acontece.
É assim mesmo...
Vou vê-lo agora.
Fiquei na porta por um longo tempo...
observando o velho casal e sua interação...
Vi seus movimentos lentos em direção ao horrivel...
e secreto momento em que se tem que se separar.
Vi sua dignidade. Sua humildade.
Por um momento me dei conta de que o amor envolve tudo.
Até a morte.
Ligue-me com a enfermaria 11, irmã Gunnel.
Bom dia, é a Dra. Isaksson.
Sim, obrigada. Diga ao Dr. Wankel que estarei aí...
amanhã às 7h30, como de costume.
Obrigada.
Tradução e adaptação: Carlos Holanda