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À MEMÓRIA DE GERARD PHILIPE
ESTA HISTÓRIA FOI FILMADA
QUANDO A ÁFRICA NEGRA AINDA NÃO ERA INDEPENDENTE
E A COSTA DO OURO AINDA NÃO SE CHAMAVA GANA
Adam, vamos lhe contar uma história.
Que história?
Sobre a nossa viagem a Kourmi, em Gana...
que, naquele tempo, era chamada de "Costa do Ouro"...
onde as pessoas vão procurar dinheiro, roupas e riquezas.
A história começou na região de Ayorou.
Éramos três amigos...
Lam, Illo e Damourê.
O primeiro ê Lam.
Lam ê pastor. Seu verdadeiro nome ê Ibrahim Dia...
mas ele ê chamado de "Lam", que significa"chefe".
E Lam ê um verdadeiro chefe.
Lam ê corajoso.
Ele não fala muito, como todos os bons muçulmanos...
e ê nosso amigo desde pequeno.
Eu me chamo Lam Ibrahim Dia. Sou pastor de rebanho.
Trago meus bois para o rio com o meu irmão mais novo...
que se chama Abdulay.
É aqui que vive o nosso segundo amigo, Illo Gaouldel.
Ele ê pescador.
Como seu mestre, Malam Amissou, ele conhece todos os segredos do rio.
Dizem que ele fala a língua dos hipopótamos. É verdade.
Illo ê um verdadeiro mago do rio. Mas ele gostaria de ser marabuto.
E a água engana, meu caro, mas, mesmo assim...
Eu sou Illo Gaouldel.
Sou aprendiz de pescador de Malam Amissou.
Sou pescador daqui e dali.
Sou pescador de Koutougou.
Conheço todas as formas de piroga.
Ninguêm as conhece melhor do que eu.
Damourê, nosso terceiro companheiro, ê muito malandro...
um verdadeiro sedutor. Freqüentou a escola, mas não gostou.
Ele gosta mesmo ê de montar no seu cavalo Tarzan.
Damourê!
Pronto, estamos à cavalo e fazemos a corte às jovens.
O pastor Lam, o pescador Illo e Damourê, o sedutor...
encontram-se toda semana, aos domingos, no mercado de Ayorou.
O mercado de Ayorou ê formidável.
Ali se encontram os homens do pasto...
os homens do rio e os homens das ilhas.
É no mercado que tudo ê decidido.
Os casamentos, as aventuras, as guerras, as viagens.
Foi nesse mercado que a nossa viagem foi acertada.
Eis o pastor Lam, que chega do mato com o gado.
Ele vem vender um touro, para poder ir à Costa do Ouro.
Mas, para vender um só touro, ele leva todo o rebanho ao mercado.
Assim, ele sentirá menos a perda do touro.
Lam está triste, mas tem dinheiro.
Agora, ele se dirige ao nosso quartel-general:
A árvore sob a qual Damourê, o sedutor, trabalha como escrivão.
Sob essa árvore, decidimos partir com o pescador Illo...
para Kumasi, na Costa do Ouro.
Como vai, Lam?
Agora escrevemos. Tenho, como intêrprete, Albora...
que traduz, porque eu não falo "bella".
Leio os documentos do imposto. Ganho 1O ou 15 francos.
Vejam, por exemplo, esse pai de família...
que tem que pagar 15.8OO francos de imposto...
porque ê muito rico e tem muitas cabeças de gado!
Ele está perguntando onde vai arrumar dinheiro.
Ele não tem dinheiro.
Ele não tem mais dinheiro, e tem que pagar os impostos.
Mas, ao lado da nossa árvore, estão os jogadores de cartas.
São os jovens que foram para Kumasi...
aqueles que queremos imitar, os Kourmize.
Temos que ir embora tambêm.
Temos que ir.
Temos que ir à Costa do Ouro.
Não dá para não ir.
Os que viajaram jogam cartas há um ano. Estão melhores do que nós...
porque ninguêm ri deles. As jovens riem de nós.
Temos que conhecer esse lugar.
"Autorizo Albora a me substituir durante 2 meses.
Vou para Kumasi com Peuhl Lam e Sorko Illo. Assinado: Damourê."
Agora, meus companheiros...
temos que fazer o "sola" - dar adeus. Vamos embora.
Não ê fácil. Parece que demora um mês para chegar à Costa do Ouro.
- Um mês e 5 dias. - Um mês e 5 dias.
Um mês e 5 dias. Um mês e 2O dias.
Você tem carteira de identidade? Eu não tenho.
Carteira de identidade?
Illo, eu sei como funciona a floresta.
Quando se vai à floresta, ê bom levar uma cabaça.
- Você tem razão. - Para colocar água.
- Concordo com você. - Vamos colher as cabaças.
Pegue essa.
Mais uma.
Duas. Segure.
- Espere. Eu vou agora. - Como vamos fazer agora?
- Deixe que eu faço. - Tudo bem.
Corte aqui. Bem aqui.
Pronto.
Depois de cortar, usamos um pedaço de madeira para tirar a sujeira.
- Bem rápido. - Tem que ser rápido.
Precisamos de uma terceira para o nosso companheiro.
- Depois, prendemos na corda. - Rápido.
- E vamos atê o rio. - Pronto. É só isso.
Vamos encher de água.
- Vamos atê a margem do rio... - Isso.
- Muito bem. ...para beber.
Pronto. É o suficiente.
Numa viagem a pê, ê bom levar cabaças com água.
- Exato. É o mais importante. - Certo.
- Não dá para ficar sem. - É verdade.
Quando vou para o pasto, sempre levo uma cabaça com água.
- Agora que vamos viajar... - Eu sei como ê.
É isso mesmo.
Deixe que eu faço. Eu sei como deve ser feito.
Para ir à Costa do Ouro, temos primeiro que pedir a Deus...
que nos indique o caminho.
Por isso, Lam e Illo, que são marabutos...
vieram assistir à festa de Walima, a"descida do Alcorão".
Na festa de Walima, encontramos outro amigo, Doumá Besso.
Ele vem da Costa do Ouro e nos contou muitas coisas sobre a região.
Ele nos disse que, na Costa do Ouro, ele tinha uma casa com 2 andares.
Doumá está feliz porque tem uma casa de 2 andares.
Nós temos apenas nossos pês.
Pedimos a Deus que nos abençoe e que façamos uma boa viagem.
Depois da festa, temos que pedir uma boa viagem aos Espíritos...
aos Holey.
Então temos que pedir uma boa viagem.
Queremos ir à Costa do Ouro, ganhar dinheiro.
Eles têm que nos indicar o caminho.
O caminho tem que ser bom.
Temos que voltar para o nosso país com muito dinheiro...
para comprar comida e distribuir para todo mundo.
E tambêm para as moças.
Illo, os Espíritos nos disseram para pegar um bico de abutre.
Ali está um abutre. Rápido!
Atenção, cuidado!
Atenção! Corte o pescoço. Pronto.
- Pronto. - Pronto.
Conseguimos cortar o bico. Pronto. Acabou.
Corte os pês tambêm.
Agora que já temos o caminho de Deus e o caminho dos Holey...
temos que pedir o caminho aos Sohantiês de Wanzerbe.
Wanzerbe ê a região do Gorual...
onde se encontram os maiores magos do Níger, os Sohantiês.
Então, chegaremos um dia a Wanzerbe.
Passamos do lado dessa árvore leprosa onde tem um poço...
e, ao lado do poço, estão as moças bonitas.
Senhoritas, temos a honra de cumprimentá-las...
no momento em que passamos pela sua linda cidade...
para ir ver Mossi, o maior Sohantie, para resolver uns assuntos nossos.
Mas, antes de ver Mossi...
temos a honra de lhes pedir um pouco de água.
Então Mossi joga as "estrelas", que ele conta em pares e ímpares.
"Diam". Desgraça! O caminho está ruim.
Mossi nos diz: "Voltem esta noite...
porque, à noite, as palavras ruins não são vistas."
À noite, Mossi joga as 7 "cauris", os 7 búzios que prevêem o futuro.
"Diam", o caminho está ruim. Muito ruim.
Vocês vão sofrer acidentes. Ficarão doentes.
O caminho está ruim. "Subahana"! Desgraça!
E, depois, Mossi diz: "O caminho está melhor."
Quando vocês chegarem à Costa do Ouro, no primeiro cruzamento...
se vocês se separarem para ir cada um, só, para o seu lado...
poderão, talvez, evitar os acidentes e as doenças.
Depois disso, vocês poderão se reencontrar...
e, em nome de Deus, o caminho estará bom.
O caminho está bom.
Mossi abençoa o nosso caminho com terra.
O caminho está bom. O caminho está muito bom.
Chegamos a Daomê agora.
Vejam. É por isso que ê melhor não andar de carro.
O caminhão sofreu um acidente. As rodas estão para o alto.
Quando as rodas do caminhão estão para cima, ê mau sinal.
- Viu só? - O caminhão sofreu um acidente.
Veja.
O que acontece com os passageiros quando há um acidente?
Problema deles. Estamos a pê.
- Devolvem o dinheiro? - Pouco nos importa.
Se os nossos sapatos estão velhos, quem vai nos reembolsar?
Ninguêm.
Veja só, Lam, as montanhas!
Estamos longe de casa, ao norte de Daomê.
- Aqui ê o país Somba. - O país Somba?
- Você não conhece o país Somba? - Vocês sabem tudo.
- A região de Natitingou. - As casas são muito pequenas.
São como um sótão.
Aprendi, na escola, que os Sombas são pessoas do norte do Daomê...
e não usam roupas. E vendem sabão. Por quê?
Veja os Sombas.
Os Sombas são assim.
Illo diz que não quer a água dos Sombas.
Não ê boa.
Veja só.
- O que ê isso? - O que você está vendo?
Vejo algo lá embaixo, branco, branco, branco.
"Branco, branco"? É a máquina dele!
- Vou embora. - Não pode ir embora.
Aqui, todos são feiticeiros.
Crânios, pedras manchadas de sangue...
- Todos são feiticeiros. - Nunca vi nada parecido.
Já ouvi falar desses feiticeiros e dos Sombas, que andam nus.
Agora, de perto, não tenho certeza de que são homens.
Durante a noite, a casa pegou fogo. De manhã...
as mulheres Somba pegam terra para reconstruir a casa.
- Elas estão nuas? - Totalmente nuas.
Veja as jóias que elas usam...
na boca, por exemplo, para enfeitar.
É verdade! Você disse que elas estavam nuas.
Quando se chega em um país, ê o país que nos modifica...
e não nós que modificamos o país.
Por isso eu, Damourê, sedutor das mulheres, ficarei de short.
Veja o mercado Somba, Adam.
Eles estão todos nus, como você pode ver.
Meu amigo...
Veja só o velho completamente nu.
Viu só o pênis dele?
Você viu o velho, Lam?
Eu vi o velho, mas ele não está gostando de ser observado.
Ele está zangado, mas não pode fazer nada, pois não estamos rindo.
Se tivêssemos rido, ele teria ficado muito zangado.
Tem um com penas no nariz.
É um jovem.
É um jovem sedutor.
Que ótimo! Hoje, eu vi os Sombas.
Aquela ali está com um cachimbo.
Veja só os Sombas!
Hoje, eu vi os Sombas pela primeira vez.
O velho continua a me olhar.
Que chapêu!
Eles devem estar bem, pois estão usando óculos.
Eles vão começar a dançar.
Os Sombas são muito amáveis.
Não ê porque eles estão nus que podemos rir deles.
Eles são assim porque Deus quis...
assim como Deus quis que usássemos roupas.
Não devemos rir deles. Eles são muito amáveis.
- São irmãos, como nós. - Isso ê verdade.
É verdade.
- São pessoas muito interessantes. - Nós concordamos.
- Concordamos com você. - É assim.
Adeus, Sombas! Atê logo, região do Daomê do Norte.
Atê logo, Natitingou. Atê a próxima.
Agora, temos que lavar os pês. Tem água por todos os lados.
É uma região com muita água. Vamos pegar as cabaças e beber!
Mas ninguêm disse que a viagem era longa?
Na nossa cidade...
Ninguêm disse nada.
Se eu soubesse, não teria vindo. Hoje faz 26 dias.
- Que estão com o pê na estrada? - É. Agora só faltam 11 dias.
É uma longa viagem.
Vejam só as árvores. Acha que foi Deus quem criou árvores assim?
Acho que não.
Eu acho que essas árvores são formidáveis!
- Veja! - São as montanhas.
Essa pedra foi cortada para abrirem a estrada.
Vejam. Vocês não... estão com medo?
Illo está me perguntando...
se foi Deus ou foram os homens que construíram a estrada.
Neste país, há muitas pontes bem longas.
As pessoas da região adoram as pontes.
Adoram.
Por isso ficam pintando as pontes de vermelho o dia inteiro.
Damourê, como estamos passando na ponte, ê bom tomarmos um banho.
- Estamos transpirando muito. - Venham tomar um banho.
Viu só, Damourê? É um ótimo lugar para se lavar.
E, agora, estamos perdidos. Não sabemos onde estamos.
Vejam só o mar de que ouvimos falar há tanto tempo.
- Isso ê seu? - É.
Como o vento está bom.
Estamos de frente para o mar! É isso o que chamamos de mar.
Vamos.
Isso ê o mar?
Deixe que eu pego isso. Você não ê corajoso.
Como vão fazer com as cabaças? Elas quebraram.
Deus colocou comida nas árvores.
- Isso ê verdade? - Veja só!
- Você ganhou dele? - Ganhei.
Magnífico! Direto do ar.
- Chega. Não precisa mais. - Então vou descer.
Tudo bem?
Eles ficam nas alturas, por isso são perfeitos.
São gostosos, não têm micróbios.
Estão acima dos micróbios, e eles não têm tempo de subir na árvore.
Isso ê um coco. Algo extraordinário.
É bom demais. Melhor que queijo.
É muito bom. É tão bom.
Melhor que o leite tambêm.
Como o leite. Quando comemos, não sentimos mais fome.
É verdade.
É macio!
- É muito bom. - É tão bom quanto o chocolate.
Temos que ir embora rápido, porque os coqueiros não são nossos.
Se o proprietário chegar, seremos presos.
- Então vamos embora. - É de alguêm?
É de alguêm. Está nas terras de alguêm.
Vamos embora.
Vamos atravessar no meio das flores...
e seguiremos pela orla, porque gostamos muito do mar.
Há barcos muito grandes no mar!
É bom ir pela orla. Podemos nos deitar na areia.
- O que ê aquilo? - O que ê?
- É o Lomê. - É o Lomê!
Foi lá que eu peguei a estrela-do-mar.
- Lomê, ê o Togo. - Isso ê uma estrela-do-mar?
É um animal que vive no mar...
...mas foi jogado na praia. - É uma estrela de verdade?
Não, ê uma estrela-do-mar.
Ela dá sorte. Vou colocar na minha cabeça.
Agora estamos com sorte.
Atenção.
Alfândega.
É a alfândega, temos que parar aqui. Vou falar...
com a polícia...
e tentar dar uma de esperto, para saber como vamos passar.
Temos que ser espertos.
Sempre a alfândega!
Nós não temos nada.
Bom dia, senhor fiscal da alfândega.
Vim passear. Quero ir do outro lado. Só para passear um pouco.
Não podem saber que vamos para a Costa do Ouro...
pois não temos carteira de identidade.
Isso ê verdade?
É verdade. Não temos identidade.
E como vão fazer?
Vocês são espertos.
Os policiais ingleses vestidos de preto, como se estivessem de luto...
numerados, como placas indicando a quilometragem...
me levam para falar com o chefe.
Faremos tudo isso.
Eis o segundo chefe. Não, senhor, ê para...
Ele me diz que não ê possível.
Então, volto para falar com meus companheiros.
Fui ver o policial inglês...
e, sem carteira de identidade, não dá para passar.
Os policiais são muito burros.
Mas nunca olham para trás. Podemos passar.
- Eles só olham para a frente. - Então vamos.
Ainda bem que temos os amuletos de Mossi.
Os nossos Sohantiês são muito bons.
Ninguêm viu a gente!
Chegamos a um cruzamento, onde devemos nos separar.
Mossi nos disse que não devemos entrar juntos na Costa do Ouro.
Então, vou me despedir de Lam e Illo.
- Eles vão para Keta. - Atê logo, Illo.
Atê logo, Damourê.
Eles tomam o caminho de Keta, e eu vou para Accra.
Dentro de um mês ou dois, vamos nos encontrar em Accra...
para ver o nosso companheiro Damourê.
E, se eu ganhar o que eu quero, vou me encontrar com vocês.
- Eu vou procurar os pescadores. - Atê logo, Illo.
Então, eu vou sozinho para Accra. Deixei meus amigos.
Mas, para ir a Accra, há muitos ônibus nas estradas.
É o ônibus dos correios?
Não, ê o ônibus de passageiros.
Eu entro no ônibus, mas eu achava que o ônibus era de graça.
Como não ê, sou expulso e me devolvem o chapêu.
Agradeço e digo para irem embora. Eles não foram simpáticos.
Estou triste, vou embora. Vou continuar andando...
como estou fazendo desde que saí do Níger. Não vejo por que parar agora.
Atenção! Uma esperança. Pare!
Sadou, você está no carro?
Por favor, me leve. Eu vou a Accra.
Deus sempre dá um jeito nas coisas.
Encontrei um amigo. Pronto, estou dentro de um carro.
Todo mundo me esperava. Todo mundo me olhava.
Sou o único galã.
Não perdi o meu charme nigeriano!
Realmente sou muito bonito. Mais bonito do que as pessoas daqui.
Minha nossa! Vejam só como eles me olham.
Tenho que segurar o meu chapêu, para que o vento não o carregue.
É melhor mostrar o meu penteado do Níger. Meu belo penteado do Níger.
- Tem cavalos na cidade? - Chegamos em Accra.
- Aqui ê Accra? - Entramos em Accra de manhã.
Agora vou procurar. Vou procurar meus compatriotas, os Djerma.
Passo pelo meio dos carros, porque, em Accra, há muitos carros.
Tem muito tráfego. É preciso prestar muita atenção.
Todos os dias, um policial fica em pê de manhã atê a noite...
para que os caminhões possam passar...
senão haveria muitos acidentes todos os dias.
Esses são os vendedores de garrafas.
São da nossa terra.
São do Níger, de Anzourou.
Eles ficam o dia todo lavando as garrafas.
Se você quiser saber por que eles fazem isso, vou te contar.
Por que ficam lavando as garrafas?
As mulheres vão ao mercado comprar um pouco de óleo de amendoim.
Mas não precisam levar uma vasilha. Eles compram a garrafa.
Custa1 kobo, ou seja, 2 francos...
Porque "kobo" não significa nada.
Há as latas tambêm.
São latas vazias.
São pessoas do Zermagand.
Veja quantas latas velhas.
Mas você quer comprar alguma coisa tambêm?
Veja...
Todas as estradas são asfaltadas. Não tem poeira alguma.
Entendo o que quer dizer.
A cidade ê grande. Está me vendo?
Estou perdido no meio das ruas, veja, tentando atravessar a rua.
- Accra ê bom. - Atê que Accra não ê ruim.
Preciso correr.
Estou perdido. Não sei mais o que fazer.
Pronto, era o que eu estava procurando.
- São pessoas de Gothey. - Madeira? Que madeira?
Madeira, tábuas. É gente de Gothey que trabalha aqui.
- São nigerianos que trabalham aqui? - É. O chefe ê Yakuba.
Yakuba me contratou como carregador.
Fico empurrando o "toroko", o carrinho, entende?
Para transportar as tábuas.
Depois, colocamos as tábuas no carro.
Um dia, Yakuba me disse para empurrar o carro sozinho...
para ver se eu era forte.
Então você ê forte.
Então, meu patrão me pergunta:
..."Você foi à escola?" - Esse ê Yakuba?
Sim, senhor, eu fui à escola. Eu sei ler.
Então ele disse: "Ótimo."
Ele me fez contar as tábuas. É fácil contar de 2 em 2.
2... 4... 6... 8... 1O...
multiplicados por 1O dá 1OO...
11O... 115... 135...
O número tem de ser anotado no caderno.
Hoje de manhã foram vendidas exatamente 263 tábuas.
É muito bom. O dinheiro começa a chegar.
Agora, sou chefe da equipe.
Ele está muito contente. E, como todos os chefes de equipe...
- Você ê aquele de óculos? - Fui promovido.
- Isso ê ótimo. - E como faz muito calor...
comprei uns óculos, para ficar bem elegante.
Bem elegante.
Eu sou o chefe.
O que ê isso? Esse carrinho não está carregado.
Que coisa, meu Deus! Não dá para trabalhar com negros!
Vim falar com o chefe.
Ele tem que me pagar.
- Esse ê o seu chefe? - É.
- Você sabe o nome dele? - Sei.
- Como ele se chama? - Ele se chama Moumouni.
- É um Haoussa. - É um Haoussa? Não ê um Djerma?
Não ê um Djerma. Ele ê comerciante.
- O que ele está contando? Libras? - Ele conta libras, para me pagar.
- Ele vai me pagar 1O libras. - 1O libras?
Isso. Vim a Kumasi para trabalhar. E ê o que me pagam por mês.
Agora, vou ver o vendedor de roupas, para comprar...
um "bubu", para poder trocar de roupa.
Aqui, ninguêm se veste como eu.
Eu vim da floresta para a cidade...
e tinha que comprar um "bubu".
Este ê o "bubu" que vou comprar.
O dono chegou e me disse que custava uma libra.
Eu disse que não...
mas resolvi comprar assim mesmo, porque ê bom.
Comprei o "bubu" e vou trocar de roupa.
- Vai trocar de roupa aqui? - Vou.
- Você está contente aqui? - Muito.
Mas não vou jogar fora a minha roupa.
- Não vai jogar fora? - Vou guardar.
Quando voltar para casa, vou vestir minha roupa.
Comprei o "bubu" só para passear na cidade de Kumasi.
- Só para passear no mercado? - Só.
O mercado de Kumasi...
- Este ê o mercado de Kumasi? - É. O mercado ê muito grande.
- Grande? - Nunca vi um mercado tão grande.
- Isso tudo ê o mercado? - Tudo ê o mercado de Kumasi...
onde se vende e se encontra de tudo.
- Tem atê caminhões no mercado. - Atê caminhões?
O mercado fica para lá.
Vou passear um pouco pelo mercado.
- Por que você não anda devagar? - Porque o mercado ê grande.
Não dá para andar devagar.
Estou com pressa e tenho que correr para ver tudo.
- Hoje? - É.
Mas não tem como ver tudo hoje.
- Dá, se eu correr desse jeito. - É, se correr, dá para ver tudo.
- Mas você não fica cansado? - De jeito nenhum. Estou feliz.
Quero ver tudo.
- Isso ê bom. - Eu quero ver tudo, ê por isso.
Está vendo?
Os vendedores de sal? Todos são vendedores de sal.
Ali... tambêm são vendedores de sal.
- Quem vende sal aqui? - São os Gaouen.
- São as pessoas de Gao? - É.
- Tambêm tem vendedores de inhame? - Tem.
- Quem vende os inhames? - Os inhames são vendidos...
pelos Gaouen e pelas mulheres Ashant.
Vou te mostrar tudo.
Se você quiser ver tudo, eu vou te mostrar.
Isso, porque nunca vim aqui, quero saber de tudo.
- Você quer saber de tudo? - Quero.
- Não vai ficar cansado? - Não, estou ouvindo.
Então, está bem. Vamos continuar.
Vou mostrar tudo.
As mulheres que vêm comprar condimentos compram tudo.
Tem uma máquina de costura ali.
São as pessoas que costuram roupas no mercado.
- Está vendo esses colares? - São de contas.
São de contas. Vim para ver os colares. As contas são lindas.
- Eu sei que você vai comprar. - Vou, para minha noiva.
- Sua noiva? Você não ê casado? - Não.
Tenho uma noiva, mas não sou casado.
Muito bem.
- O que você disse? - Eu disse que ê muito bonito.
Enfim, vou comprar um recipiente.
- Quanto custa? - 6 xelins.
Que homem ê esse atrás de você...
com um bonê?
Todos os dias ele vem buscar 1 kobo.
- É fiscal da alfândega ou policial? - Está vendo o meu amigo?
O meu amigo de Gao, ali. Eu disse a ele que vim a Kumasi...
para ver os "nyama-nyama". Ele me ofereceu trabalho.
Agora, eu vendo tudo isso: Perfumes, vestidos e lenços.
- Você virou vendedor de perfume? - Sim.
Mas nada disso ê para mim.
Tenho que voltar para casa...
para cuidar do meu gado.
Só que eu vim para a Costa do Ouro. Isto daqui ê licor de menta.
É muito bom, senhora. Compre.
Venha comprar, senhora. É muito bom.
Está vendo?
Sou eu que vendo tudo isso.
Está vendo?
- Os "bubus", as fotos, isso tudo? - É, tudo.
- O que ele está fumando? - Ele está fumando um cigarro.
- Você conhece os iorubas? - Conheço.
Ele ê um ioruba.
E aquela moça?
Ela vem me ver todos os dias.
Ela quer se casar.
- Mas eu não quero. - Por quê?
Você ê solteiro. Precisa se casar.
Veja só o trem passando.
- Eu nunca vi um trem. - Isso ê um trem.
- É muito comprido. - Foi a primeira vez que vi um trem.
Ele passa todos os dias. Fico olhando bem, para, depois, contar em casa.
- É possível pegar o trem? - É.
- É perigoso? - É.
A polícia me parou outro dia.
Enquanto isso, Illo chegou a Accra e foi para o porto.
Lá, ele se tornou "kaya-kaya", carregador.
Essas pessoas todas tambêm trabalham no porto.
- Em Accra? - É.
Estamos em Accra, na Costa do Ouro. Accra, Costa do Ouro.
Illo está lá?
Ele trabalha lá?
Um "kaya-kaya" ganha apenas 2 xelins...
por um dia inteiro de trabalho.
Illo coloca isso tudo no seu "toroko"...
e, depois, sai empurrando no carrinho 5 sacos de uma vez só.
É cansativo ganhar dinheiro.
O pessoal trabalha muito aqui.
Como somos homens...
Deus disse que temos que trabalhar para ter o que comer. É cansativo!
Illo está cansado. Ele parece estar com fome.
Há vendedores de carne na Costa do Ouro. A carne fica em caixas.
Eles cortam a carne em pequenos pedaços, e esse ê o almoço de Illo.
Os "kaya-kaya" só comem isso. Eles não comem bem...
porque, senão, gastam dinheiro.
Depois dessa refeição, Illo recomeça a descarregar as caixas.
Mesmo cansados, quando eles chegam em casa...
as suas mulheres acham que eles não trazem coisas boas para elas.
Isso porque elas não viram como ê o trabalho aqui.
Tem que explicar às mulheres. Aqui ê preciso trabalhar muito.
Explicar a uma mulher? Ela nunca vai entender!
Illo tem muitos amigos entre os "kaya-kaya" do porto.
Um dia, seus amigos disseram: "Você precisa procurar um trabalho...
do outro lado, perto do mar. É lá que se ganha dinheiro.
Se Deus estiver do seu lado e se você não perder muito dinheiro no jogo."
É um carregamento de uísque.
Se você conseguir pegar uma garrafa, dá para ganhar 3O xelins.
Para levar uma garrafa de uísque a um francês.
- Os franceses adoram uísque. - Eles bebem atê cair.
E, depois, jogam conversa fora. Nem sabem o que estão dizendo.
E, se Illo for esperto, vai beber um pouco?
Ele não bebe!
Ele empurra a garrafa com os pês, para escondê-la.
Quando ele vai embora, pega a garrafa.
- Tem algum tipo de controle? - Controle?
Os policiais são mais ladrões do que os trabalhadores.
Então, ê um bom lugar para ladrões.
Fui enviado à floresta pelo meu mestre Yakuba.
"Wawa". Uma boa árvore para fazer canoas.
A "wawa" ê a fêmea das árvores, porque ela cai gritando baixinho.
A segunda árvore ê o mogno.
O mogno ê uma árvore macho...
e cai de uma vez só.
O mogno ê ideal para ser usado na carpintaria.
1O e 5 são 15. Não, 18.
15 mais 2 são 19. Não, 15 mais 2 são 17.
Não sei mais contar!
Meu chefe está chegando.
Veja, chefe, o que conseguimos fazer.
Fui ao canteiro e comprei muita madeira.
Ele está contente.
Ele me pede para subir com ele.
Ele vai me levar a um outro canteiro.
Ele está feliz.
Atê logo, senhor.
Vou ver o novo trabalho que ele me deu.
Saímos do depósito de madeira, e ele me leva à casa dele...
em Lagos, onde ele está construindo.
Então, de empregado passo a chefe de depósito.
Lagos ê um país?
É um bairro de Accra, um bairro novo.
Ele me diz: "Isso tudo ê meu.
Você vai chefiar todos esses operários."
Você parece ser preguiçoso. Vá para o outro lado.
E você, o que está fazendo? Tire a mão do bolso. Vá trabalhar!
- É você o chefe aqui? - Sou eu.
Você não tem que ficar escutando todo mundo, seu idiota. Saia daqui!
Vá trabalhar! Não quero conversa!
O que vocês estão fazendo? Não ê assim! Tem que ficar agachado.
E nada de trabalhar com chapêu!
O que está fazendo? Está doente? Não quero saber.
Se estiver doente, vá se tratar em vez de ficar olhando as pessoas.
É um inútil.
Eu passeio nas ruas e me tornei um Jaguar.
- O que significa"Jaguar"? - Jaguar ê um homem sedutor...
bem penteado, que fuma e que passeia.
Todo mundo olha para ele, e ele olha para todo mundo.
Ele olha todas as moças bonitas, fuma seu cigarro tranqüilamente.
"Jaguar" ê isso. Um homem bom...
Um sedutor, um "zazouman".
- O "zazouman" ê o Jaguar? - Isso, o "zazouman" ê o Jaguar.
- Em francês, diz-se "zazouman". - Você ê "zazouman" em francês?
Isso, em inglês diz-se "Jaguar".
Completamente.
- Ele fuma muito. - Fuma...
pois o Jaguar deve ser educado.
Um velho está acenando para você. É um velho que eu conheço.
Ele me convidou para ir a uma festa que eu não conheço.
- Que festa ê essa? - É a festa do CPP.
Liberdade!
VIDA LONGA À REVOLUÇÃO
Venho de Accra para vender os "pagnes".
- Tem uma fumaça saindo dali. - Fico com medo da fumaça.
Eu corri.
Eu não sei que fumaça ê essa. Me dá medo.
O que ê aquilo lá em cima que fica balançando?
Acabo de chegar...
Cheguei hoje, não sei o que ê.
O que você vê passando lá em cima ê areia.
A terra que vem diretamente do buraco das minas de ouro.
Todas essas pessoas que você vê, Adam, com um capacete de ferro...
que parecem velhos soldados de Napoleão, são os mineiros.
- São mineiros? - São.
Eles garimpam ouro?
Quem ê esse aí? Você o reconhece?
Quem deve ser?
Você não sabe?
Esse que está sendo revistado pela polícia...
ê um dos nossos amigos, Doumá Besso. Besso, "konkonfile".
Ele ê forte como um touro.
É ele mesmo.
Ele tem sempre alguma coisa na boca.
Ele come o tempo todo.
Come sem parar.
Besso.
Com esse capacete que você está vendo na cabeça...
e com uma lanterna...
ele fica 8 horas no buraco, 1 km sob a terra.
A cabeça dele parece uma cabeça de hipopótamo. Sem brincadeira.
Depois de 8 horas de trabalho...
COMPRE AQUI SAPATOS ELEGANTES ele olha as propagandas de sapatos...
mas Doumá não liga para sapatos. Ele anda descalço.
Doumá!
Venha cá!
Doumá!
- Então, Doumá, como vai? - Tudo bem, Lam.
- Então você ainda está aqui? - Estou.
- Qual o trabalho que você faz aqui? - Faço o trabalho que aparecer.
Desde que cheguei em Kumasi, estou procurando você.
- Está me procurando e não me viu? - Doumá explica que trabalha...
nas minas de ouro...
e que fica 8 horas sob a terra, sem ver o sol, sem respirar ar puro.
É assim que ele ganha a vida em Obuasi.
Aqui, colocamos o pó de ouro...
para ferver, como os ferreiros.
Tudo supervisionado pelos ingleses e pelos policiais.
O ouro ê derretido a uma temperatura altíssima.
Esse ê o ouro que ê trazido para ser fervido. É água de ouro.
E, depois, o ouro ê colocado em formas especiais.
Pronto!
Vira-se a fôrma...
e o lingote ê mergulhado na água para esfriar...
porque ainda está muito quente!
Isso ê ouro de verdade.
Depois, os lingotes são alinhados.
Bem alinhados.
Depois, são escovados, para tirar a poeira. Escova-se bem.
Coloca-se a marca da fábrica.
- A marca da fábrica? - É, onde foi fabricado...
porque há várias fábricas. Depois, vão para um saco.
Amarramos o saco.
O ouro ê enviado para Londres, onde fica num cofre.
E, para nos enganar, só fica o ouro ruim.
É para nos enganar.
O resto fica lá.
Com os ingleses. Não ê usado para nada nem por ninguêm.
Os ingleses vieram enganar os africanos...
tirar seu ouro, para levar para casa.
Doumá seguiu o conselho de Lam. É um trabalho difícil.
Todos acabam pegando tuberculose.
Lam o aconselha a ir com ele, como carregador.
Eles vão para Kumasi vender roupas.
Durante esse tempo, Illo está no meio das pirogas.
Nesse país, nas pirogas, há desenhos...
números, letras. Zorro.
Illo passa o dia dormindo...
numa piroga, porque ninguêm o perturba.
É perto da casa do governador.
Illo está procurando um barbeiro.
Ele pede informações às crianças.
Illo ê gentil, não ê? Mas ê feio como um sapo.
Finalmente, ele encontra um barbeiro. Sua cabeça ê molhada.
Será que ele ainda vai poder transportar peixes assim?
Mas ele ê cabeça-dura.
Cabeça de camelo. Ele pode, sim.
Agora, ele tem que pensar em Deus, porque ele fez muitas coisas.
Ele tem cara de hiena, de tão dura!
Ele não liga muito e faz suas orações em qualquer lugar.
É ele que está ajoelhado ali? Perto das garrafas?
O que ele está procurando, o marabuto?
- Não, ele está me procurando. - Está procurando você, Damourê?
- Ele acha que estou no bar. - E onde você estava?
Nas corridas.
Aquele ê o meu cavalo. Tenho certeza de que ele vai ganhar.
- É o número 12. - O seu cavalo ê o número 12?
Para ter certeza, eu me aproximo dos nigerianos...
que são da mesma cidade que eu, para perguntar a eles.
Tenho a impressão de que o conheço. Você não ê o Adamou?
- É ele. - É ele que monta o número 12.
Escolhi seu cavalo. "Número 12", como se diz aqui.
Nós esquecemos o francês. Temos que falar inglês.
- Quer dizer "12". - Pode ser. Já me esqueci do francês.
- Mas eu conheço um pouco de inglês. - Número 12!
Foi dada a largada!
O dia seguinte ê domingo.
Todos se vestem com belas roupas. Eu coloco uma roupa bonita...
para passear nas ruas de Accra.
É o único dia em que aproveito para ver as propagandas...
as festas...
e as moças bonitas.
- Elas estão saindo da igreja? - Estão.
Essas são as cristãs. Foram à igreja adorar a Deus.
Um belo grupo de jovens que foi à igreja adorar a Deus.
Se eu fosse católico, eu entraria tambêm.
O conhaque Martell!
Vamos tentar tomar um conhaque Martell.
A dança dos possuídos.
Todo mundo dança neste país. Temos que dançar tambêm.
Atê nos enterros eles dançam.
Ele está no caixão?
Está dormindo bem.
Viu só esse rapaz?
A campanha eleitoral, Adam. As motocicletas...
os carros cheios de gente...
os homens com as mãos levantadas gritando "liberdade".
Aquele ê Damourê?
É. Eu me transformei em fotógrafo no dia da Assemblêia.
O primeiro-ministro vem.
Queria ser primeiro-ministro, para ter um lindo carro?
Primeiro-ministro uma ova!
Damourê fotógrafo!
Veja só a pose.
E repare as cabeças sem cabelo.
E, agora, vamos fotografar.
- É o governo de NKrumah? - Em peso.
- Mas... onde ele está? - Você já vai vê-Io.
Ele está atrás do homem com o terno preto.
- Este ê NKrumah. - É ele?
- É. Ele está com o "pagne". - E tem um pescoço enorme.
Ele ê bem-alimentado.
Ele ê gordo!
Mas os outros ministros tambêm são gordos.
Depois da dança do CPP, vou ao bar. Cumprimento os desenhos.
E por que vai ao bar?
Esses desenhos são maravilhosos! Mais um desenho.
Cheguei onde queria.
"Please table your motion here."
"Make it go. You minute?"
Então, Illo, tudo bem?
Illo me disse: "Ficou maluco?
Virou bêbado agora?"
Não, não estou bêbado.
Só provei um pouco!
- Vamos embora. Atê o mar. - Atê o mar?
O mar e a brisa do mar fazem bem aos bêbados.
Não estou nada satisfeito com você. Não foi legal o que fez.
Isso ê água de Mohammed!
Isso não ê bom.
E por que você bebeu?
- Para ter um pouco de Mohammed! - Nada disso!
É um pouco de você, isso sim. Isto ê água de marabuto.
Não ê água de marabuto, porque marabuto não bebe.
Você, que diz que não pode beber, não acha isso bom?
Não ê bom.
Você tambêm tem que beber um pouco, seu muçulmano!
Ele me disse: "Este país não ê bom para nós.
Você começou a beber. Então, vamos para Kumasi."
Então, um dia, decidimos ir a Kumasi, para procurar...
Doumá e Lam.
Entramos no trem. Illo carregou a minha mala...
pois cheguei a chefe de depósito, depois fui controlador...
- É esse o trem que vai para Kumasi? - IIIo está ao meu lado.
As pessoas vêm se despedir e pedir conselhos ao chefe, que vai embora.
"Não se preocupem", eu digo. "Vou sair de fêrias, mas volto."
Lam, que recebeu um telegrama em Kumasi...
explica a Doumá que os seus amigos Damourê e Illo vão chegar de trem.
Ele diz: "Doumá, ê melhor enxugar tudo...
porque Damourê ê um malandro, ele critica tudo...
e, se achar poeira, vai nos insultar.
Venha se sentar aqui, do meu lado."
Descemos do trem.
Temos que ir procurar nossos amigos.
Ande logo. Vá na frente, Illo, você conhece bem Kumasi.
Você tem que ir guiando, porque sou seu chefe.
Você está carregando minha mala, ora essa!
Em princípio, o chefe ê quem vai na frente.
Venha atrás de mim, pois você não sabe ler.
Está vendo? Está escrito KU-MA-SI.
Que história ê essa de Kumasi? A ***úncia ê "ku".
É assim que os ingleses pronunciam.
Então os ingleses são burros?
Os ingleses não são burros, o vocabulário ê que ê diferente.
Os ingleses falam assim.
- Doumá, como vai? - Seja bem-vindo, Illo.
Você conhece Lam?
Eu vou bem.
- Você vende perfumes? - Vendo.
Esta ê a sua loja?
Este bonê não cabe em mim.
Anteontem recebi notícias suas pela carta que você me mandou.
Conte o que anda fazendo.
Está tudo bem.
- E aqui em Accra, está tudo bem? - Está tudo bem.
Tudo maravilhoso. Mas acho que podia ser mais organizado.
Juntando todas as mercadorias, por exemplo.
Espere.
Essas roupas não estão boas. Não estão bem costuradas.
Esse tecido não foi bem escolhido.
Vamos nos organizar...
e a nossa loja se chamará:
"Aos Poucos, o Pássaro Faz Seu Ninho!"
Isso!
"Aos Poucos, o Pássaro Faz Seu Ninho!"
Ou seja, temos que começar as coisas aos poucos.
Os ingleses são incríveis.
Ninguêm fala francês.
Temos que escrever "for sale".
Assim, conseguimos vender bem as mercadorias.
E eu escrevo as cartas.
"Meu filho, no dia da minha viagem...
esqueci meu cachimbo no sótão do seu tio Zogouma.
Diga à sua mãe que a agulha grande está debaixo da cama...
perto da viga de madeira.
Estou com ótima saúde e chego antes da primeira chuva."
As pessoas não fumam. Os muçulmanos não fumam.
Em Accra, as pessoas fumam. São todas CPP.
Lam nos explica que aqui não se pode falar do CPP.
Quem fala em CPP tem a orelha cortada.
Ficamos com medo, pois acabamos de chegar.
É preciso dizer "Islã"!
O Islã está construindo uma mesquita para todos os fiêis.
É cansativo e, para agradar a Deus...
as mulheres levam comida para todos.
Tudo bem, mas essa ê a mesquita de Deus...
e Deus não paga ninguêm.
Islã! Islã!
Venham ver estes desenhos. Estes são Eva e Adão. Adama e Hawa.
Esses desenhos são para as mulheres.
Para aquelas mulheres que fecham as pernas para os maridos.
Todos serão punidos! Comprem isso para mostrar às suas mulheres.
Você tem muitos fregueses.
Tenho atê o Guia Michelin para os viajantes.
- Vocês tambêm vendem o guia? - Na loja.
Tudo isso ê vendido na loja. Tem atê lenço de bolso.
Tudo vai muito bem e funciona automaticamente. Venham comprar!
Vejam o jogo de Ludo.
Joga-se com dois, três ou quatro jogadores.
Em vez de procurar mulheres, coloque o peão aqui.
Aquele que chega ao meio ganha o jogo.
A noite vai passando...
e ninguêm vai ver as mulheres da vida e nem pega gonorrêia.
Esta ê uma máquina fotográfica, que tira fotos sozinha.
Não ê necessário ir ao fotógrafo.
Venham ver! Na nossa loja!
Vendemos, pelo menor preço, coisas nunca vistas em Kumasi.
Escovas automáticas.
Espelhos tambêm.
Mesmo sem cabelo, pode-se coçar a careca, e a poeira vai embora.
As mulheres vão admirar você. Basta comprar um bonê preto...
e você vira um Jaguar, como todas as pessoas da Costa do Ouro.
Todos os nossos espelhos vieram de Paris.
Tudo veio da França.
Não precisamos dos objetos dos sírios.
Venham visitar a nossa loja. Tem atê a rainha Elizabeth.
Somos os primeiros a ter essa rainha.
O senhor aqui, pode se cobrir, e amanhã ficará quentinho...
e poderá trabalhar tranqüilamente.
Meu jovem, para você, um bonê preto. Olhe para mim.
E, para os que estão constipados, temos sal de frutas "for sale".
É só beber, e amanhã estará totalmente limpo...
o ventre totalmente vazio e poderá trabalhar tranqüilamente...
sem necessidade de ir ao mêdico.
Doumá sabe muito bem disso. Outro dia...
uma pessoa com sarna foi tratada com o sabão "Sunlight"...
e nem precisou incomodar o mêdico. Temos de tudo na loja.
Tudo ê vendido diretamente.
É só vir sozinho e ficará satisfeito, muito satisfeito.
O despertador toca sozinho, sem a necessidade de ficar girando.
Doumá, prepare a minha bicicleta. Vou ver o trem na estação.
O país começa a ficar ruim, Adam, temos que ir embora.
Desde que chegamos, não vimos nenhum acidente.
Agora, um trem amassou um carro, mas, por sorte, ninguêm morreu.
Ainda assim, dá pena, Adam.
E, amanhã de manhã, o segundo lojista, Ibrahim Dia...
vai tomar o seu úItimo "morning tea", o chá da manhã.
Vamos para casa.
Nós somos 4.
Quatro que vieram...
e 4 que voltam para casa.
Está na hora de ir embora.
"Aos Poucos, o Pássaro Faz Seu Ninho." Adeus, "Aos Poucos".
Adeus, empresa "Lam, Damourê, Doumá, Illo".
Vamos ver a nossa senhoria.
Ela preparou a comida durante a nossa estada, e estava lá...
triste por nos ver ir embora.
Ela coloca seu braço no ombro de Lam, que nem olha para ela.
De onde ela ê?
Ela ê de Gao, casada com... um alfaiate.
Atê logo, senhoria.
A mulher nos vê indo embora e diz: "Atê logo.
Espero que vocês voltem logo."
Ganhamos dinheiro.
- Compramos roupas. - É o caminhão que precisamos pegar.
Adeus, companheiros.
Adeus, latas vazias.
Adeus, comerciantes de latas.
Adeus, mecânico de bicicletas.
Adeus, mulheres de Kumasi.
Adeus, vendedores de "nyama-nyama".
Adeus, senhoritas.
Adeus, Elizabeth II.
Atê logo! Atê logo!
- Atê logo! - Tchau! Tchau!
Anualmente, 500 mil voltam para casa durante o período das chuvas...
como Lam, Damourê, Doumá e Illo.
Eles vieram à Costa do Ouro, ou à Costa do Marfim...
para ganhar dinheiro, claro, mas tambêm para procurar aventuras.
Eles seguiram os passos de seus antepassados...
daqueles que se denominam Alfa Hano, Babatou ou Gazari...
que vieram ao norte desta região de Gourounsi para conquistar a costa.
Foram interrompidos pelos rios e pelo mosquito tsê-tsê.
Esses jovens, que vão para casa, são heróis do mundo moderno.
Eles não capturaram prisioneiros, como seus antepassados.
Eles levam malas...
levam histórias maravilhosas...
e levam mentiras.
A volta, para eles, ê a apoteose.
Andamos a pê durante meses...
trabalhamos em condições difíceis, mas isso não tem importância.
Agora, ê a viagem de volta. Estamos voltando pra casa.
Somos soldados vencedores, como os cavaleiros de antigamente...
que as moças vinham receber.
Esses obstáculos? Não temos mais medo.
O único obstáculo da volta ê a alfândega...
que fica na fronteira de Burkina Faso.
Vou prender vocês em nome da lei, e em nome do bolso tambêm.
A lei ganha 5O francos, e o bolso ganha 2OO francos.
A outra alfândega ê a de Po, onde param os caminhões ingleses.
É aqui que descemos.
É em Po que pegamos os caminhões franceses.
A alfândega de Po ê tão ruim que ê melhor não dizer nada.
Já estamos em casa!
Temos que empurrar o caminhão.
Tudo bem, Albora?
Pegue a minha mala, rapaz. Tem muita coisa de valor aí dentro.
Pegue o saco e segure o guarda-chuva dos companheiros, secretário.
Albora, você vai andar na frente, para ser nosso intêrprete.
Esquecemos a língua da nossa terra, pois lá se vão 3 meses.
Eu esqueci o Djerma. Só falo inglês.
Quem não esqueceu a língua será nosso intêrprete.
Daqui a uma semana, nos lembraremos da nossa língua.
Mas, agora, só sei falar francês e inglês.
É fácil esquecer o Djerma.
"How are you?" "Good morning."
"How are you?"
Vamos entrar na nossa"rest-house".
Vamos, crianças.
Vamos mostrar a esse povo as esteiras que compramos.
Eles nunca viram nada igual.
Vocês verão um mistêrio: Isto ê um leão.
Vejam os dentes. Ele ê muito mau.
Illo deu aos seus pais tudo o que conseguiu em 6 meses.
Amisata ganhou 2 "pagnes", o violonista ganhou 3 "pagnes"...
e foi assim que ele distribuiu tudo.
Ele diz: "Agora, não tenho mais nada.
Voltei com a minha saúde, graças a Deus.
Vão se vestir. Eu fui embora por vocês.
Encontrei-os com boa saúde e dou tudo a vocês."
- E você, não ficou com nada? - Não fiquei com nada.
Sua noiva ê muito bonita. Qual o nome dela?
- Ela se chama Hawa. - Hawa?
Hawa, pode me dar um pouco de água? Estou com sede.
Pegue dali.
Obrigado.
Não quero água. Quero falar com você...
porque acabo de chegar da Costa do Ouro e quero me casar com você.
Quero me casar com você!
Ela ficou contente.
Você quer?
Eu quero me casar com você.
Combinado.
Agora começa o grande trabalho.
O trabalho que nos trouxe de volta da Costa do Ouro.
Doumá Besso, o grande cultivador, vai atê o seu campo.
Besso, comece a arar!
Você está contente. Você ê forte.
Não trouxe vergonha da Costa do Ouro.
Trouxe muitas roupas e não se esqueceu da sua família.
"Walay", Besso. Você cultivou para seu pai e para sua mãe.
E ele diz: "Sou Besso. Fui à Costa do Ouro, mas voltei."
Illo, por sua vez, não se esqueceu da sua profissão.
Ele pega a piroga e, como trouxe muitos objetos da Costa do Ouro...
consegue pegar atê hipopótamo...
que ele come na sua pequena casa com toda a sua família.
Illo ê corajoso.
É muito corajoso. É um pescador muito corajoso!
Estou muito contente de voltar para o meu gado.
Tenho um guarda-chuva e uma lança.
Eu me chamo Ibrahim Dia.
Isso ê tudo o que resta como lembrança da Costa do Ouro?
Da Costa do Ouro.
Não preciso de mais nada. Só uma lança e um guarda-chuva.
Retomamos o nosso antigo ofício.
E, agora, eu continuo na floresta.
Eu sou Damourê Zik.
Gosto muito do Níger, porque tem belas mulheres.
Gosto das mulheres do Níger, porque elas sorriem!
- Elas são bonitas. - Elas são graciosas e maravilhosas!
Vejam só que dentes brancos. Essa moça ê bonita.
- E ela ri bastante, Adam! - Se tiver dinheiro, me caso com ela.
- É por isso que virei sedutor. - Muito bem.
Viva o Níger!
legenda ripada por davidonato Movimento Cinema Livre