Tip:
Highlight text to annotate it
X
(música) ("Sex Partners for Kindergartners" de Scalding Lucy)
Beth: Vamos falar do notável quadro de Picasso
"Natureza Morta com Cadeira de Palha" de 1912
Nar: Quase nem é pintura...
o que o torna notável. (risos)
Steven: Acho que de várias maneiras,
parece pelo menos um desastre.
O que é formidável neste quadro são as ideias
que ele nele expõe.
Beth: Já que não é assim tão bonito de se ver,
Penso que temos que falar sobre as ideias.
Steven: Porque não é bonito?
O que queres numa pintura
para que seja bela?
Beth: O meu grande problema com o porque isto
não é bonito, é que é tudo cinzento e castanho.
É o meu grande problema com o Cubismo ***ítico em geral.
Eu gosto de cor.
S: Por isso as pessoas passam por estes
quadros num museu e dizem,
"Eu sei que é importante, mas porque tenho de olhar para ele?"
B: Mas estas pinturas do Cubismo analista
parecerem iguais.
Narrador: Então como é que se entra
na pintura e se pára e se presta atenção?
Qual é a entrada nesta pintura?
Steven: Bem, não é fácil.
Se o visses num museu
em vez de no ecrã do computador
a primeira coisa que repararias seria que
apenas o topo e o lado direito do quadro,
que é a única área aqui, e esta área aqui,
que são realmente pintadas.
Toda a parte inferior esquerda do quadro é
este outro material a que se chama "oleado".
Beth: Alguém alguma vez tinha introduzido o oleado,
posto um oleado numa pintura antes?
Steven: [O Brock] tinha, mas apenas recentemente.
Antes disso, claro que não.
A razão para o "claro que não", é que
o oleado era o material mais barato...
Beth: Claro, compra-se tipo ao rolo.
S: É como papel de contacto.
Tipo para forrar as prateleiras ou
usar numa mesa barata para que a possas limpar melhor.
Beth: Dificilmente um material de Belas Artes.
S: Como assim?
O que sugeres que Picasso está aqui a fazer?
Beth: Ele está a transformar a arte em lixo.
Steven: Em lixo, está certo.
Narrador: Ou vice-versa.
Beth: Ou o lixo em arte, sim.
Narrador: Mas ainda assim, como é que um entra
neste quadro sem perceber todas estas coisas
que escapam ao espectador comum?
Beth: Não se entra.
Eu acho que esta pintura só se torna formidável quando
se percebe o seu lugar na história da Arte.
Steven: Eu não acho que Picasso
realmente esperava que muitas pessoas
olhassem para este quadro, sequer.
Se o fizessem, eu acho que ele falava
para uma muito pequena audiência.
Beth: Quão grande é esta pintura?
Steven: De lado a lado, nem 60 cm tem.
Beth: É semelhante ao tamanho de uma mesa?
Steven: É parecido ao tamanho de uma mesa.
Isso e exactamente o que é, de facto.
Estamos realmente a olhar para uma mesa de pequeno-almoço.
E estamos a pôr agora no ecrã...
O que vês, no canto superior direito,
é o detalhe desta "Natureza Morta com Cadeira de Palha".
Mas vamos parar e apenas dizer o que
esta cadeira de palha é, e esta história do oleado.
Na esquerda, pode-se ver alguns rolos
de oleado que estão à venda.
Repararás que há um padrão impresso neles.
Em baixo, o oleado está a ser usado como toalha de mesa.
O padrão impresso que o Picasso comprou
numa loja de ferragens como se ele tivesse ido
ao AKI ou algo e comprado este material.
Como se tivesse impresso uma fotografia de
bem, não era bem uma fotografia, mas
um desenho de uma cadeira de palha, portanto
este tipo de padrão repetitivo.
Ele pega nele e simplesmente literalmente cola-o
numa tela e depois pinta sobre ele.
Beth: O que é interessante para mim é que
a cadeira de palha na pintura é incrivelmente
ilusionista e parece realmente, quer dizer, mesmo
a palha nesta cadeira.
Steven: Deixa-me perguntar então, o Picasso fez batota?
Historicamente temos sempre ligado a noção de
conceptual e do grande artista à sua habilidade
à sua habilidade de transmitir, realizar
de forma ilusionista e se o Picasso está a fazer batota
ao ir e comprar isto feito numa fábrica,
este material reproduzido, e colá-lo numa
pintura e dizer, "Não tenho que pintar mais isto"
Beth: Não apenas isso, mas a ideia da capacidade
e da genialidade de calcular o quão bem
um transmite a realidade torna-se uma espécie de controvérsia
porque as máquinas conseguem imprimir a realidade
em coisas baratas que podes comprar no AKI.
Porque não o faria?
Narrador: Obviamente uma discussão
que não teríamos hoje porque
nunca consideraríamos batota,
usar objectos achados.
Isso era discutido quando esta pintura apareceu?
Steven: Era. De facto, acho que é uma discussão que
não só começa a realmente, de alguma forma
conscientemente quebrar esses taboos
como também demonstra o que eventualmente
em cerca de 50 anos, tornar-se conhecido como "pop art"
A ideia de olhar para a nossa
nova cultura industrial, ou cultura industrial visual
e dizer, "Qual é o lugar desse mundo
no espectro das Belas Artes?"
Narrador: [O Duchamp] não fez isso antes da pop art?
Steven: Fez. Completamente.
Beth: Ele era [ininteligível]
Narrador: O que é o JOU?
O que achas que é isso?
Steven: Bem, o JOU tinha um par de
significados diferentes se bem sei.
Um é uma referência à palavra francesa para "jogo".
Narrador: Foi o que eu achei.
Beth: Está certo.
Nar: É exactamente o que pensei.
Steven: O segundo é, estas são
as primeiras três letras da palavra francesa para "jornal"
Narrador: Journal.
Steven: Precisamente.
Portanto, se leres isto, este JOU, podes ler
no sentido muito literal de
um jornal enrolado sobre a mesa.
Também tem aquele duplo sentido
que sugere que toda a pintura
é uma espécie de jogo.
Narrador: [ininteligível]
Steven: Sim.
Beth: Portanto o que vemos é o topo de uma mesa
mas se olharmos para as imagens à esquerda
de mesas de café com cadeiras de palha,
essas mesas são redondas portanto
Steven: Qual é o problema?
Nar: Isto é uma elipse
em vez de...
Beth: Como é que fazes uma elipse?
Fazes uma elipse olhando para um círculo
de um ponto de vista oblíquo.
Steven: Vai para a próxima imagem, à frente
e sabes que a mesa que estás a ver à direita
é, de facto, uma mesa redonda perfeita,
mas vê-mo-la de forma oblíqua,
olhá-mo-la de um ângulo, e portanto
o que vemos é na realidade uma espécie de elipse
que o Picasso nos dá.
Portanto é possível que olhemos de facto
uma mesa de vidro e que
o que vemos como a palha da cadeira é
a cadeira metido debaixo da mesa.
Narrador: Que forma agradável de ver a pintura
É muito bom.
Beth: Porque separar todas as formas que estão no topo?
Estamos a olhar através da mesa
estamos a pensar na ideia de
olhar através da mesa e a mesa é de vidro
o que sugere uma ideia, uma ideia importante
da arte ocidental da pintura ser uma janela
para um mundo que parece muito real
Mas no entanto, o Picasso torna-o
realmete claro que ele não está a olhar para as coisas
de forma ilusionista, ele está a olhar para os objectos
na mesa de muitos lugares diferentes de uma só vez
Narrador: Estás a ver tudo simultaneamente
sem qualquer distinção
Tudo está achatado para que tudo
esteja quase no mesmo plano.
Isso é uma interessante e desconcertante forma de ver as coisas
Steven: Acho que estão ambos certos,
ele quer mostrar-nos todo o seu entendimento visual
deste tipo de lugar, deste evento
Ele não nos está a dar só o topo de uma mesa
ele dá-nos o topo da mesa com a cadeira
e todos os objectos realmente desconstruídos para que
eles incluam não o que ele veria de
uma só perspectiva, como disseste,
mas o que ele veria em todo o seu entendimento visual
de cada uma destas formas através do tempo com a sua memória visual
Beth: Portanto o que temos na mesa aparentemente é um cachimbo de plasticina
Steven: O que podes ver aqui debaixo
é a taça do cachimbo e aqui está o seu pé
aqui em baixo que está obviamente inclinado
mesmo em cima do jornal quase
a intersectar o jornal
Beth: E depois aqui, está um pouco mais óbvio
Temos um detalhe aqui à direita
Steven: Podes ver segmentos de
um citrino; pusemos um limão como exemplo
mas que está a ser cortado pela faca
Consegues ver a lâmina da faca?
Beth: Onde está a lâmina da faca?
S: Mais cutelo do que uma faca
Isto seria a lâmina, e isto aqui, o punho.
Beth: Oh.
Steven: No meio, claro o jornal,
o cachimbo à esquerda e, desculpem-me
O jornal e o cachimbo à esquerda,
e a faca e o limão à direita é
bem, conseguem perceber?
Narrador: Onde?
Steven: Isto e tudo acima disto.
Beth: Uma garrafa de vinho?
Steven: Um copo.
Beth: Um copo.
Steven: Uma taça.
Beth: Um pouco como o que tínhamos na mesa.
Steven: Está certo. Se olhares para o copo de vinho tinto,
verás não só este tipo de reflexão
maravilhosa nele, mas podes ver o lábio no topo do copo
podes ver o plano no topo do vinho,
e depois, claro, o pé e a base do copo
Se voltares ao, vejamos se consigo aumentar
o copo central.
Talvez indo para a frente
Beth: Acho que se voltarmos para a pintura
que tínhamos no início vê-lo-ás
Steven: Ok, agora se olharmos cuidadosamente
consegue-se ver aqui em baixo na parte inferior
esta espécie de anel maravilhoso e pode-se apenas
imaginar isso como a base em que o copo
repousa?
Olha-o. Olhamos para ele de cima e
depois olha para esta linha que é mais horizontal.
É possível que o Picasso tenha tido
um segundo ponto de vista e olhamos através
desta espécie de objecto espesso, o pé
a base do pé, a taça de
vários ângulos diferentes e depois
olhando para o topo, olhando através do topo
e depois vendo de cima o topo aqui
Narrador: Portanto basicamente o que vemos é
uma pintura dentro da qual há múltiplos
pontos de vista de diferentes objectos e
eles estão todos fundidos juntos.
Mas tenho algumas perguntas sobre a corda.
É a corda literalmente uma corda?
S: É uma corda verdadeira que o Picasso
foi ao artesão e pediu especificamente
feita para esta tela
Narrador: É engraçado ter uma corda
a reter algo, é um recipiente literalmente
de algo que parece tão não retido de uma forma.
Tudo dentro parece,
que não se sabe o que o segura junto
e a corda funciona como
uma cola que o mantém num só.
Steven: Embrulha esta confusão
Narrador: Embrulha-o e depois adiciona algo
quando mostras esta pintura ao lado do topo de mesa
é aquela referência literal à mesa...
para isso, acho que foi a borda de prata da mesa
Steven: Acho que vimos um tipo de tema
restaurante, lugares de marisco.
Narrador: certo
Steven: Mesas com cordas à volta.
Eu acho que a corda é realmente um problema
Acho que é uma questão de porque...
Narrador: Parece que não encaixa
Steven: Sim.
Narrador: Parece uma tentativa de
domesticar algo que não é domesticável.
Steven: Mas mostra alguns dos
conflitos que existem entre o oleado
e a cadeira de palha dentro
e a pouca representação através da tinta numa
espécie de porção Cubista da pintura do topo?
Mostrando esta espécie de contraste entre
a evidência da corda e o
espaço visto dentro dela
uma espécie de montagem consciente
algo que é claramente real e táctil
como algo que é verdadeiramente visual
Beth: Temos muitos níveis de realidade
Acho que Platão teria achado isto muito divertido
porque temos a corda real,
e temos a palha da cadeira real,
o oleado com a palha da cadeira
Steven: Que é uma ilusão
Beth: Que é uma ilusão de palha de cadeira
e depois temos a pintura que cria
uma espécie de, de certa forma, provavelmente um nível mais alto de
realidade por mostrar-nos todos os pontos de vista de uma só vez
em vez de um ponto de vista a uma maior
e quase divina realidade
Narrador: Não seria maravilhoso como
um topo de mesa mesmo? (a Beth ri)
Narrador: Em vez de uma pintura?
Podes por apenas um bocado
de vidro oval em cima, seria fabuloso
Beth: Seria fabuloso (ri)
N: Acho que se prestaria muito
mais atenção a ele.
(música) ("In The Sky With Diamonds" por Scalding Lucy)