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Emoções de Deus
Parte 9 Um criador de Deuses
A quase 200 anos atrás
Um jovem cristão britânico que estudou teologia
partiu para uma viagem ao redor do mundo
quando ele deixou a Inglaterra ele não duvidava da
verdade literal da bíblia
De fato, durante a viagem ele citou a palavra de Deus
como autoridade moral.
Mas ele voltou com perguntas.
Durante os próximos, vinte anos, Charles Darwin
montou uma ampla gama de observações detalhadas
que ele realizou como o naturalista do navio
em uma teoria científica que abalou o mundo.
Isso também abalou o seu cristianismo anglicano.
Ao fim de sua vida ele fez uma confissão:
Eu não tinha a intenção de escrever de maneira ateísta,
mas eu penso que eu não podia ver tão claramente como os outros o viam,
e como eu deveria desejar fazê-lo,
a evidência de design e benevolência em todos os lados de nós.
Parece-me existir muito sofrimento nesse mundo.
Eu não consigo me convencer que um Deus onipotente e benevolente
teria criado uma Ichneumoniae [uma vespa parasita]
com a intenção expressa de se alimentar a dos corpos vivos de lagartas
ou que um gato deva brincar com ratos.
Um dos sucessores modernos de Darwin, Richard Dawkins
colou esse argumento de uma forma ainda contundente.
“O universo que observamos
tem precisamente as propriedades que deveríamos esperar se
no fundo, nenhum design, nenhum propósito, nenhum mal, ou nenhum bem
nada além de cega e inclemente indiferença.”
A afirmação de Dawkins pode parecer dura,
mas a alegação que ele faz é modesta.
O universo que observamos tem as propriedades que esperaríamos
baseado simplesmente em processos naturais que somos capazes de identificar
ele não faz nenhuma afirmação sobre o que, se alguma coisa
reside além dos domínios de nossas observações.
Cuidadosas e repetidas observações do mundo natural
independente de quão meticulosas, vão nos permitir saber se existe outro domínio
além dos nossos sentidos e além da nossa capacidade para processar informação,
mas elas nos permitem entender os intrincados meios do mundo natural, nós incluídos
e elas nos permitem avaliar nossos conceitos de deus
na luz do que sabemos sobre nós mesmos
O que poderíamos esperar que fossem os conceitos de Deus
se eles fossem produtos da evolução da mentes humanas?
Ao invés daqueles que temos.
No livro de Pascal Boyer “Religião Explicada”
enfatiza as maneiras pela qual as nossas mentes não são um papel em branco
As eficiências são pré-construídas
sobre a forma de suposições padrão e categorias ontológicas
que funcionam de certa maneira como pastas de arquivo etiquetadas
nós forçamos as nossas experiências de vida nas categorias que estão disponíveis para nós.
E uma maneira que usamos para fazer isso é interpretar o mundo de maneira humanoide.
Nós humanos somos uma espécie formada por especialistas em informação social.
O conhecimento é nossa moeda
e a maior parte do conhecimento que necessitamos para sobreviver
e até mesmo crescer nesse mundo vem de outros humanos.
É a evolução coletiva e cultural, muito mais que só evolução biológica
que nos fez viver longamente e prosperar
e superar o equilíbrio da natureza
e popular todo o planeta.
As nossas mentes refletem o nosso nicho
sistemas especializados do cérebro estão configurados especialmente para processar informação
vindas de e sobre outros humanos
Esse sistema nos dá a habilidade de representar o que se passa na mente de outras pessoas na nossa própria
Daniel Dennett discute essa habilidade no seu livro “A Perigosa Ideia de Darwin”
no que ele demonstra “Se não pudéssemos antecipar as nossas ações...
nós basicamente teríamos que aprender tudo por tentativa e erro”
O quão melhor seria representarmos o ambiente externo
em nossos cérebros e então executar simulações.
Nós mandamos adolescentes para autoescolas onde eles podem usar simuladores
para que eles não tenham que colocar carros reais em risco
ou desperdiçar os 16 anos que levamos para criá-los
simulações tem valor para a sobrevivência
consequentemente a seleção natural nos levou na direção de simuladores cada vez mais sofisticados.
a mente humana tem simuladores sociais particularmente sofisticados
Ao invés de sairmos dizendo “Para quando você está esperando?”
Nós podemos antecipar como uma mulher consciente do seu excesso de peso se sentiria
se de fato ela não estivesse grávida.
Mas para sermos capazes de fazer isso,
nós temos que ter a capacidade de representar outras mentes humanas
mentes reais, potenciais e até mesmo imaginárias dentro da nossa própria
crianças colocam nomes, identidades e sim emoções a objetos que são claramente inanimados
ajuda se o objeto está cheio de espuma de poliéster e coberto com pelo sintético
mas na verdade qualquer coisa pode funcionar
quando minhas filhas eram mais novas, nós viajamos para visitar uma amigo na Europa Oriental.
As garotas estavam muito desinteressadas em conversas adultas em meio à cerveja, repolho cozido com bife.
Em qualquer restaurante elas simplesmente sentavam pegavam suas facas e colheres
Aos quais elas associavam nomes e identidades
e continuavam a sua história onde os personagens eram de aço inox
povoado por garrafas vazias, xícaras e saleiros.
O jogo de talheres durava enquanto durasse a viagem
Mas uma surrada baleia de pelúcia confortou uma das garotas por quase 10 anos.
Adultos normalmente não atribuem papeis a talheres,
mas seguramente podemos
e também não temos objetos transicionais
como cobertores especiais
ou surradas baleias de pelúcia.
Mas nós damos nomes a navios e furacões
e falamos deles como se eles tivessem preferências e intenções
nós passamos a proteger mais os animais aos quais damos apelidos humanos
nós selecionamos cães para que se pareçam com bebês de olhos grandes
dando preferencias a criarmos aqueles que mais se parecem conosco.
Nós gastamos tempo tentando obter favores de espíritos das árvores
e de ancestrais e deuses.
Adultos que se derramam na tradição da religião podem simplesmente
ir para o próximo nível da ainda antropomórfica, auto focada abstração
Alguns ainda falando como se o universo ouvisse nos nossos desejos
e pudessem ser manipulados para conseguirmos atende-los.
Livros da “nova-era” como O Segredo, por exemplo,
Induzem os seus leitores a acreditar que o universo se importa com os nossos desejos.
Por isso é necessário um esforço consciente para deixarmos de lado
nossa instintiva projeção de nós mesmos no mundo físico
ainda mais daquilo que esteja além.
E ainda assim se nós nos importamos em honrar a realidade. Nós devemos!
O autor Dexter VanDango coloca da seguinte forma:
Se a humanidade quiser superar o Deus como
como o macho dominante insuperável,
para o bem ou para o mal
é vital para sempre ter em mente nossa própria psicologia,
nossa biologia e nossas relações familiares.
E também é igualmente essencial, perceber que Deus, se Deus existe,
que ele não possua nossas esperanças, nossos medos
nossos desejos ou emoções.
Se Deus de fato possuir qualquer coisa semelhante aos nossos desejos e emoções
esses “sentimentos” provavelmente não tem
nenhuma semelhança com os nossos.
Um amigo meu colocou dessa forma:
Eu sempre pensei como um Deus considerado onisciente e onipotente
possa ainda ter qualquer coisa se seja semelhante a inteligência temporal
e tudo o que isso implica, como emoções e razão.
Sem tempo tudo é definitivo e possivelmente indeterminado até ao mesmo tempo
e uma mente de Deus seria capaz de conceber isso.
Como esses dois comentários ilustram
se nós humanos nos deixamos contemplar o quão pouco os humanos espertos
sabem sobre a realidade, então a concepção ortodoxa Cristã de divindade
se torna claramente auto centrada.
É um testamento o quão centrado somos como espécie e tão poucos humanos
se sentem envergonhados de atribuir as suas divindades os atributos de primatas machos alfa.
Para chamar as descrições bíblicas de Deus de metáforas
como alguns cristãos modernos fazem
não faz com que a situação melhore nem um pouco
Uma metáfora sobre algo como o relacionamento humano com a realidade última
precisa ser profundamente precisa.
O centro da gravidade precisa acertar em cheio
mesmo que na superfície ele pareça uma simplificação grosseira.
Mas as descrições bíblicas de Deus parecem ter feito isso ao contrário
Ao invés de enaltecer o senso de uma inexprimível força
que fosse compatível com as leis da física e biologia
eles forçaram a divindade em um modelo humano
Ao invés de ressaltar a humildade e o espanto e o fascínio do desconhecido
eles oferecem o conforto do falso conhecimento
Ao invés de serem fiéis com relação a atemporalidade
falta de localidade e da perfeição
eles são fiéis ao tempo e a cultura e o ecossistema e o vínculo de onde tudo começou.
Quando os autores da Bíblia, diziam que Deus estava com raiva, triste ou satisfeito
eles tinham uma ideia superficial do que essas palavras significavam
como eles poderiam saber que esses rótulos descreviam intrincados sistemas corporais?
Tal como nossos campos visuais
eles não entendiam como dois olhos criavam visão binocular
ou como os nossos músculos contraem a mão
sem falar na química e as funções das emoções.
Eles não eram responsáveis pela sua ignorância
eles fizeram o melhor que podiam com a informação a sua disposição
eles procuravam pelos padrões do mundo natural e da sociedade humana
e então, somente então deram os seus melhores palpites sobre o que haveria além
nós deveríamos fazer o mesmo.
O homem é e sempre foi um criador de deuses.
Isso tem sido a mais séria e significante ocupação da sua permanência nesse mundo.
John Burroughs
Valerie Tarico é uma psicóloga e autora que vive em Seattle, Washington e autora de “Confiando na Dúvida”
“Uma ex-evangélica olha suas velhas crenças sob uma nova luz”
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