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Secção 2: Mercado versus Eficiência Técnica
Na secção anterior abordámos rapidamente
a forma como a economia de mercado sofreu uma evolução natural
onde os benefícios que costumava ter, num período mais simples da história humana,
foram profundamente ofuscados por uma filosofia desalinhada
inerente à sua premissa original.
Foi uma questão de tempo para que, por meios tecnológicos, outros desenvolvimentos,
o resultado viesse a ser uma opressão estruturada e camuflada
que apenas acrescenta à divisão social mais desequílibrio social
e infelizmente, desestabilização.
Agora eu gostaria de olhar para a prática fundacional
da economia de mercado num contexto mais ligado às ciências físicas
e considerar como essas características inerentes
estão desligadas do ambiente, dissociadas do mundo natural
tal como actualmente existe, tal como a ciência nos ensinou.
O contexto é "eficiência", e existem dois sistemas opostos em funcionamento.
O primeiro é denominado de "eficiência de mercado" e relaciona-se com
a operação fluída do sistema e da abstracção monetária de mercado,
enquanto que o segundo é a "eficiência técnica" que diz respeito
às leis naturais da física e à forma de nos alinharmos melhor com o ambiente
para garantirmos a nossa própria sustentabilidade.
Primeiro gostaria que nos recordássemos o que uma economia é suposta ser
por definição, da Grécia antiga. Refere-se à manutenção de um lar,
e ser eficaz nessa manutenção, diminuindo o desperdício.
Mantenham isso em mente.
A bem da comparação que eu vou fazer,
eu quero definir os meus termos com clareza,
e eu estou a baralhar isto um pouco:
Costumamos usar o termo Economia-Baseada-Em-Recursos, que se aplica bem.
Economia-Baseada-Em-Recursos (EBR) pode, às vezes, ser uma construção semântica
que as pessoas usam em contextos muito estranhos, porque pensam, por exemplo, que
"A economia monetária é baseada em recursos porque se usam recursos",
ou pensam que uma EBR seria uma economia baseada no ouro ou algo parecido,
por isso, pelo menos nesta altura, eu prefiro o termo , "Economia da Lei Natural",
já que se refere às leis naturais da ciência.
Isto seria essencialmente definido da seguinte forma
se fosse, de facto, praticada:
"As decisões são directamente baseadas em conhecimentos científicos
no que toca à optimização da saúde humana e gestão dos habitats.
A produção e distribuição é regulada pelas abordagens mais tecnicamente eficazes
e sustentávias que conhecemos." Muito simples.
A economia de mercado, tal e qual como se pratica hoje em dia, seria definida assim,
em concreto: "As decisões são baseadas em acções humanas independentes,
através do veículo da troca monetária
reguladas pelas pressões da procura e oferta.
A produção e distribuição são possibilitadas pela compra e venda do trabalho
e de matérias primas, com as motivações do grupo pessoal
(com interesse próprio competitivo) como o que define o desenvolvimento e a iniciação.
Aqui estão os 7 atributos económicos
que cada [sistema] económico partilha numa dada comparação contextual
sendo que vou falar de cada um deles separadamente.
Devo acrescentar que os asteriscos no fundo
têm a ver com questões relacionadas com o avanço da ciência e da tecnologia
e também das ciências sociais, que
são, naturalmente, parte de um sistema cientificamente orientado
onde se está a prestar atenção ao que sabemos acerca da saúde humana
e se adapta o sistema de forma a manter uma boa saúde pública
ou tecnologia avançada (percebem a ideia),
e isso irá tornar-se mais evidente à medida que avançarmos.
Ponto 1: Consumo
A economia de mercado é impulsionada pelo consumo. É esse o combustível.
É isso que te mantém empregado. É isso que te mantém alimentado.
Isso é, basicamente, o que mantém as luzes acesas.
Não que as pessoas estejam a consumir para o apoiar, por si só.
Nesta fase é o contrário:
Elas consumem para o manter, se é que isso faz algum sentido,
para manter o poder de compra e a estabilidade,
a estabilidade que vemos agora estar em perigo.
Se o consumo parasse ou reduzisse significativamente, como já está a acontecer,
todos os processos de suporte de vida seriam sufocados.
A economia mundial está baseada numa só coisa apenas:
volume de negócios através de vendas.
Como é que isto se compara com as exigências do mundo natural?
É obviamente o oposto: eficiência, conservação.
A Terra é um sistema virtualmente finito,
e a redução do desperdício e, por isso, a verdadeira eficiência económica é obrigatória.
O exemplo que dou: Se tivermos uma pequena ilha, um pequeno grupo de pessoas
com a regeneração natural de determinados produtos alimentares, etc,
vocês iriam respeitar esses limites reais, o equilíbrio dinâmico.
Porquê conceber uma economia para a vossa sociedade em que todos
têm a iniciativa de querer consumir o mais rápido possível?
A Terra é, de facto, uma pequena ilha na imensidão do oceano cósmico,
e é muito mais pequena do que pensamos.
Ponto 2: A obsolescência, algo em que as pessoas não pensam o suficiente.
A economia de mercado mantém duas formas de obsolescência:
intrínseca e planeada.
A intrínseca refere-se à necessidade de redução de custos das empresas,
de forma a permanecerem acessíveis e competitivas.
É o chamado custo-eficiência na economia tradicional.
O resultado imediato são produtos inferiores, no momento em que são feitos.
De imediato!
Obsolescência planeada: Muito pior.
Durante a Grande Depressão, a necessidade de escoamento para impulsionar a economia
fez surgir a ideia de reduzir deliberadamente a boa qualidade
em prol de um maior volume de negócios.
Foi dado um grande louvor económico às pessoas que se lembraram disso.
Podem verificar os registos históricos do passado. É incrivel! Foram atribuídos prémios.
Estas pessoas foram tidas em elevada consideração, por criarem uma economia
que vai, basicamente, desperdiçar cada vez mais.
Isso era aparentemente eficaz, e é de facto!
É uma eficácia de economia de mercado,
enquanto antítese do que uma Economia de Leis Naturais deveria ser.
Parte 3: Propriedade
Uma premissa fundamental da economia de mercado é a posse singular:
uma noção metafísica, clara e simples,
já que todas as ideias e bens físicos são transitórios
e desenvolvidos em série através de uma mentalidade de grupo,
e não existe forma de fazer uma associação permanente com a posse
a longo prazo.
[Economia da] Natureza: O que é que a nossa realidade científica em desenvolvimento diz
sobre a forma como usamos o mundo que nos rodeia?
A propriedade universal é obviamente ineficaz.
O acesso estratégico é ambientalmente mais responsável enquanto um modelo
e, claro, mais socialmente eficaz .
O melhor exemplo é um carro; apenas se utiliza numa pequena percentagem de tempo.
Por não nem sequer o possuir e partilhar esse veículo
com outras pessoas que também o utilizariam,
havendo um incentivo para manter o carro em boas condições
para que não avarie, devido à necessidade de o manter a funcionar.
Isso é para outra conversa, já que falaria disso
na segunda parte desta conversa, ao falar de um sistema híbrido
e de certos processos que podem ser utilizados
para exigir que as corporações apoiem de facto produtos verdadeiramente eficazes,
mas esta fora do âmbito da conversa desta noite.
Tenho toneladas de equipamento de filmagem empilhadas nos meus armários.
Eu não quero ser dono disso; ocupa muito espaço,
mas é muito economicamente ineficaz do ponto de vista monetário
eu alugar esse material sempre que precise dele porque
fica mais caro fazer isso, tendo em conta a frequência com que eu o utilizo.
Então, sou forçado a possuir esse material que raramente uso
Eu ficaria muito contente se houvesse um armazém
onde eu pudesse ir buscar estas coisas e depois devolvê-las. Seria fantástico,
e, obviamente, mais responsável económica e socialmente
já que mais pessoas teriam acesso a elas do que actualmente.
Parte 4: Crescimento
A economia de mercado não necessita apenas de consumo em geral, como mencionado,
mas requer, na realidade, um crescimento do consumo.
e, lamentavelmente, taxas crescentes desse crescimento.
Na actualidade, isto é sempre um tópico de conversa com o governo
que fala sobre o estímulo económico:
"Precisamos de mais crescimento" dizem eles.
Isto é totalmente ridículo do ponto de vista ecológico.
O que é que o mundo natural diz sobre o crescimento infinito? Obviamente,
exige uma economia de carga equilibrada:
uma economia que exige que o equilíbrio dinâmico seja reconhecido!
De outra forma, é apenas uma questão de tempo
até que a incompatibilidade dos dois sistemas se manifeste, que é
o que estamos actualmente a assistir até certo grau relativamente a alguns recursos,
e emerja uma escassez massiva e outros problemas.
Ponto 5: Competição
A premissa operacional da economia de mercado é a competição
na busca do interesse próprio, como aprofundámos anteriormente.
A realidade sociológica, científica
é que a colaboração humana é, na verdade, o cerne de toda a invenção
e os estudos psicológicos mostram agora distorções de longo prazo
em qualidades inaplicáveis da visão competitiva
como o Matt mencionou à pouco com a pesquisa de Alfie Kohn.
Conforme indicado na primeira parte desta palestra,
a própria competição, como estrutura de base filosófica,
está no centro de um enorme número de atrocidades e de desumanidade,
e ela simplesmente não é necessária como método,
apesar das asserções das pessoas sobre a natureza humana e afins.
É óbvio que podemos colaborar.
Debate-se: "Guerra, queremos competir". As pessoas vão à guerra, porque o fazem?
Elas estão em grande colaboração com o próprio exército.
Têm um inimigo comum contra quem agem devido aos factores de manipulação.
Estou certo de que havia boa camaradagem entre os 10 milhões do Exército Nazi.
Tenho a certeza que eram muito amigos, mas ao voltarem a sua atenção
contra outras pessoas, através das neuroses competitivas,
percebe-se a distorção que daí surge. É uma muito perigosa
identificação, e poderia ir mais além no que respeita ao patriotismo
e muitas outras coisas com relação a esta
falha psicológica subjacente ao treino competitivo.
Ponto 6: Trabalho Assalariado
A economia de mercado, como sabemos, baseia-se no trabalho assalariado.
A sobrevivência humana depende da capacidade de
se obter emprego e permitir vendas,
é fundacional, considerado intemporal, como todos sabemos.
Como o Federico destacou claramente, a mecanização está a cobrar o seu preço.
O desenvolvimento científico, a evolução da nossa capacidade de criar,
produz ferramentas que excedem largamente as nossas capacidades,
que são mais confiáveis do que nós; não têm a nossa falibilidade.
O advento da automação está a tornar o emprego mais escasso
no mínimo e eventualmente obsoleto a um nível fundacional.
É também mais produtiva e eficiente do que o trabalho humano.
É mais segura, o que torna socialmente irresponsável
da nossa parte, não mecanizar nesta altura, e colher os frutos da sua abundância,
segurança e de tudo o resto.
Último ponto, Ponto 7: Escassez e Desequilíbrio
O dinheiro move-se apenas com base na ineficiência, desequilíbrio, escassez.
Esse é o seu motivador, e quando perceberem isso,
quando perceberem a natureza deste estado anti-estável,
quando perceberem que a dinâmica é alimentada pela escassez
e a citação de Marshal Salant que o Matt mencionou há pouco, é
"O mecanismo condutor é a privação." Como poderíamos esperar
que pudesse haver equilíbrio no mundo?
A abundância e a igualdade simplesmente não podem surgir neste sistema.
É impossível! Será então que,
no campo da saúde humana, a nível da saúde pública,
isso é bom para nós? Obviamente, não. Temos de atender às necessidades humanas.
Grande parte dos crimes envolvem dinheiro. Não satisfazem as suas necessidades básicas.
Eles estão relacionados com todo o tipo de camadas complexas
de condições que derivam da escassez, de desenvolvimentos familiares
que criam a espiral, como mencionarei a seguir, a espiral da distorção
para o comportamento humano e más intenções e neuroses mentais.
Assim, é fundamental satisfazer as necessidades humanas!
Porque iriam querer uma sociedade que, cientificamente, não o pode fazer?
Do mesmo modo, a igualdade, é o ideal para a saúde pública.
A igualdade, se compararmos, por exemplo, os EUA
(extremamente estratificados, uma sociedade profundamente desequilibrada,
as excessivas taxas de homicídio)
com o Canadá, que tem alguma estratificação, mas nada comparado com os EUA.
Por que é que os EUA têm estas enormes taxas de homicídio
e o Canadá, na outra margem do riacho, tem apenas uma fracção delas?
Que significa isso? Há todo o tipo de problemas de saúde pública
que coincidem com o desequilíbrio na sociedade, é chamado de stress psicossocial,
e sugiro que se debruçem nisso. É literalmente doentio vivermos
numa sociedade estratificada, e pior fica quanto pior nos comportarmos.
Eu chamo a este conceito o"Espectro da Desordem Social",
seja o colapso da dívida, a poluição, desordens mentais,
consumo de recursos, destabilização geral, doença pública geral
guerra, desperdício, pobreza, escassez, adição a drogas,
obviamente desemprego, crime em geral.
Os sistemas de manutenção de vida que alimentam a boa saúde pública
estão basicamente em declínio como um todo devido à evolução deste sistema,
e eu podia extender-me muito, descrevendo certas experiências que tive na minha vida
a respeito de amigos que vieram de ambientes muito carenciados;
e eu pude observá-los, numa espécie de experiência proibida,
a manifestar-se nestas formas distorcidas muito neuróticas,
tudo por falta de compreensão, na nossa cultura, do que a causalidade faz.
Sugiro veementemente o trabalho de Gabor Maté
se estiverem interessados em saber como a sociedade como um todo e a sua condição
nos afectam desde pequenos e nos distorce sistematicamente desse ponto em diante,
incorporando-nos nela.
Aqui no lado esquerdo, que na verdade não conseguem ler,
está uma série de pontos que são problemas gerais da sociedade:
pobreza extrema, pobreza relativa, desigualdade, desemprego,
conflitos destabilizadores, colapso da dívida, poluição, desperdício,
escassez energética, escassez da água e recursos, também,
distúrbios de saúde pública em geral.
Quando se tem uma visão ampla do que é possível
e o nosso entendimento da saúde pública, que pode ser estatisticamente avaliado,
todos estes assuntos se tornam tecnicamente obsoletos. Eles não têm que existir.
Este é o nosso potencial; nós temos um enorme potencial!
Removendo a ineficácia ambiental e sociológica inerente ao mercado
e simplesmente aplicando conhecimentos científicos modernos
resolve ou reduz grandemente estes assuntos.