Tip:
Highlight text to annotate it
X
AS AVENTURAS EXTRAORDINÁRIAS
DE ADÈLE BLANC-SEC
Ferdinand Choupard é um
personagem secundário
na nossa história.
Não obstante, é com ele
que esta aventura começa.
Enquanto caminha tranquilamente
de regresso a casa,
depois de passar a noite
a jogar às cartas,
e arrotando ainda o
maravilhoso whisky de 12 anos.
Estamos no dia
4 de Novembro de 1911,
e é uma hora da manhã.
As ruas estão desertas
e o frio veio para ficar.
Contudo, nesse mesmo instante,
a exactamente,
953 metros da Rua do Rivoli,
a cidade rejubila.
No palco, Nicole Gambert,
conhecida como,
" Nini-as-pernas,"
fazia furor.
Ante um público entusiasmado
que não escondia o seu prazer.
Amo-a.
Maravilhoso.
Magnífico.
Todas as noites o triunfo
se repetia.
São daquele cavalheiro, ali.
E todas as noites, desde há um mês,
Raymond Pointrenaud,
antigo Prefeito de Orne,
celebrava a sua colocação
em Paris
como Secretário de Estado
dos Negócios Estrageiros.
Enquanto isso, Ferdinand Choupard
tinha acabado de percorrer
os 280 metros
que separam La Concorde
da Place des Pyramides.
Não te acanhes! Já a vimos antes!
Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
As visões de Ferdinand Choupard,
não eram, na realidade,
senão uma ilusão de óptica.
De facto,
estas luzes endiabradas
provinham da casa do professor,
Marie-Joseph Esperandieu.
Este eminente cientista
e especialista em Egiptologia,
tinha tirado a licenciatura
em Física aos 16 anos.
A sua investigação atingiu o seu apogeu,
35 anos mais tarde,
com a publicação de um livro
com o sugestivo título,
"Existe vida depois da morte?"
No mesmo instante,
do outro lado do Sena,
essa pergunta tinha sido
respondida, há já muito tempo.
Entretanto no primeiro andar,
um ser iria revolucionar
todas as leis da ciência
e do conhecimento
dando, efectivamente,
uma resposta ao nosso cientista.
Enquanto a experiência
mais inacreditável
do início do século
se desenrola ante os nossos olhos,
o Inspector Albert Caponi
tem os seus bem fechados.
Claro que se o nosso amigo tivesse visto
o pterodáctilo a passar
pela sua janela,
o decurso desta história
teria sido muito diferente.
Mas, por ora,
ninguém pode censurar
estes minutos de sono ao inspector.
Ao qual, a dedicação e a perseverança,
granjearam no passado,
um bom número de honrarias.
Nomeadamente, a Medalha de Mérito
que lhe foi atribuída
por ter solucionado
o mistério dos desaparecimentos
do hospício de Dreux.
Medalha que recebeu a
28 de Agosto de 1907,
das mãos do Prefeito de Ornes
da altura, Raymond Pointrenaud.
Raymond, pare! Que está a fazer?
Deixe o meu passarinho
poisar nos seus ramos.
Raymond, pare! Sabe que nada
me excita mais que a poesia.
A sério?
Sim!
"À medida que a noite se distancia,
" o orvalho no ramo, prestes a florir
" e o passarinho, prestes a sair."
Mais devagar, se faz favor!
Tome atenção à estrada!
Meu Deus. Sai daqui. Sai!
Caponi, escuto...
Caponi, escuto.
Como no Sena?
Oh, meu Deus.
- Oh, meu Deus.
- Oh, meu Deus.
Oh, meu Deus.
Ajuda-me a encontrar as palavras.
Este jovem é, ele também,
um cientista.
Mais humilde, é verdade,
é apenas um assistente,
trabalha há um ano
no Jardim Botânico.
Chama-se Zborowsky e tem 23 anos.
Mas a ciência não é
a sua única paixão.
Tem uma outra,
muito mais devoradora.
Minha cara... Menina Adèle...
E se ela já está casada?
Ou pior ainda, viúva?
Sim, a sua segunda paixão
é um amor incondicional
pela menina Adèle Blanc-Sec.
Uma paixão que ela despoletou
ao pronunciar estas simples palavras...
Para quem é?
Zbo... bo... boborowsky...boro...
Talvez, o nome?
- Sim.
- E qual é?
Andrej, com J.
Como em jardim.
Sempre quis ter um.
Um jardim.
“Para o Andrej, com J, como
em Jardim. Adèle Blanc-Sec”
Obrigado.
Andrej Zborowsky estava,
definitivamente,
perdido para a ciência.
Quanto a Adèle Blanc-Sec,
cujo sentido de humor
não vos deve ter escapado.
Tinha já partido
ao encontro de novas aventuras,
muito menos monstruosas
e muito mais exóticas.
Já que o seu editor
a mandara para o Peru
a fim de desvendar o segredo
dos últimos Incas.
O MONSTRO DO GELO
Há uma coisa que é preciso
saber sobre Adèle Blan-Sec
se queremos compreender
a sua personagem.
Ela ouve sempre o seu instinto
e nunca o seu editor.
Aziz, quantas horas de viagem
até ao ponto de encontro?
Com este calor, pelo menos
seis horas, Mna Adèle.
Muito bem, então a caminho.
Mexe-te.
Como dizem mexe-te, em árabe?
Yalla, Mna Adèle.
Yalla...
E, "Mexe esse rabo,
ou corto-to às postas?"
Pára.
- É por aqui?
- Acho que sim.
Muito bem.
Tome, Mna Adèle,
tem de beber muita água
com este calor.
Estes são os dois homens
de que lhe falei.
Uma chávena de chá
antes de descer?
Tenho cara de quem quer chá?
- É a sala dos túmulos?
- Não. Ainda não.
É a sala de embalsamamento.
Era aqui que preparavam as múmias.
Os corpos eram esvaziados
no altar, ali.
As vísceras eram colocadas
nos potes, aqui.
Depois, faziam-lhes uma pequena toilete.
Eram empoados, maquilhados e vestidos.
E isto, era para quê?
Para fazer fatos por medida.
Punham o corpo aqui
e a máquina enrolava-o em
200 camadas de ligaduras.
Sem esquecer o óleo...
que era pulverizado entre cada camada.
Que tipo de óleo era?
Não faço ideia, mas ainda está bom.
Encontrei-a.
Sim, é aqui.
Vá lá meus senhores,
mostrem-me o vosso tesouro.
" A morte...
É o único caminho...
" que conduz... ao nascimento."
O seu caminho acaba aqui,
minha gazela.
E como agradecimento
pela sua cooperação,
poupamos-lhe a vida.
Desapareça.
Bem, pensava que os egípcios
eram mais simpáticos.
Claro que são,
mas ele não é egípcio.
Muito bem...
Esta é uma peculiar mistura
de óleo e petróleo,
particularmente inflamável.
Entrem no túnel, nem que seja
com um pequeno fósforo
e prometo-vos
um belo fogo-de-artifício.
Avisem-me quando o vosso
pequeno clube de cavalheiros
estiver de novo aberto a mulheres.
Com licença.
É como eu pensava.
Menina, após algumas deliberações,
aceitamos a sua candidatura.
Desculpem se reservo
a minha emoção para mais tarde.
Isto está feito.
Espere um segundo...
Onde aprendeu tudo isto?
Só tinha duas opções,
ser egípcia ou aprender a lê-lo.
Incrível!
Alá é grande.
Aqui está o que procuro.
Vamos, estão lá em baixo.
Menina, mesmo sem a pedra
é muito pesado.
Como vamos fazer
para tirá-lo pelo poço?
Neste tipo de sepulturas
há sempre uma entrada
e uma saída. Procura-a.
Está bem, Mna Adèle.
- Abram-no.
- Espere.
Abrir o túmulo de um faraó
é um sacrilégio.
Pode ser enforcada por isso.
E por roubar o ouro dele?
Qual é o castigo?
Nenhum.
Tem cuidado, bruxa.
Não saio daqui sem o meu ouro.
Receio que estejas certo.
O dinheiro nem sempre traz
a felicidade, Aziz. Abram-no.
É... É... É o teu faraó?
Não, um médico.
Não se mexam.
Se queria uma consulta, menina,
parece-me que chegou
demasiado tarde.
Contudo conheço um instituto
especializado no Cairo,
onde os médicos ficariam
encantados de examiná-la.
Estou bem, obrigada,
À excepção das náuseas.
Mas tenho-as sempre que
o vejo, Prof. Dieuleveult.
Sempre o mesmo humor cáustico,
minha querida Adèle.
Vai precisar dele.
Entretanto, pode explicar-me
porque é que uma grande
jornalista como você,
está aqui a pilhar túmulos.
- A pilhar não, a pedir emprestado.
- Claro.
Vai só dar uma volta com ele,
para apanhar ar fresco.
Patmosis era professor de medicina,
o médico pessoal de Ramsés II.
O maior especialista médico
do Antigo Egipto.
O seu conhecimento não tinha limites.
E precisamente...
Preciso dos seus conhecimentos.
Para quê?
Para curar a humanidade?
Não, só a minha irmã.
Está doente.
Eis uma intenção muito comovedora.
Mas, já lhe passou pela cabeça,
que o seu professor está... morto?
Reparei nisso, obrigada.
E como pensa ressuscitá-lo?
Posso?
EXISTE VIDA DEPOIS DA MORTE?
Este velho maluco?
O Esperandieu?
Ele mal é capaz
de fazer rodar uma cadeira.
Vai estar morto antes
de conseguir ressuscitar
- a sua velha múmia.
- Cuidado com o que diz.
As múmias ouvem tudo o que dizemos
e detestam que lhes
faltemos ao respeito.
Está a assustar-me.
Depois do Monstro do Gelo,
eis que chega o Zombie do deserto.
E cuidado, ele tem mau-feitio.
Minha querida Adèle,
confesso que sou um dos
seus mais ávidos leitores.
Mas esta história é, de longe,
a mais ridícula
que alguma vez contou.
Levem-na.
Sim, senhor.
Venha. Depressa.
- Encontraste a saída?
- Vi todas as paredes. Nada.
Se não está nos lados,
tem de estar no centro.
- No centro só está o túmulo.
- Então, encontraste-a.
Já está. Leva-a!
Maldita humidade!
Sabe qual o castigo
para os ladrões de túmulos?
- O enforcamento.
- Só para os habitantes locais.
Os estrangeiros têm direito
a uma maior consideração
e a uma morte mais rápida.
É mais protocolar,
mas muito menos doloroso.
Menina! Menina!
Um último desejo, talvez?
Sei que não me faz bem à saúde,
mas gostaria de fumar um cigarro.
Porque não?
Um só não a vai matar.
Obrigada.
- É magnífico.
- Sim.
- Posso?
- Sim.
- Foi um presente?
- Na verdade, uma recordação.
Do meu pai, quando morreu.
É melhor assim,
cada vez que o uso penso nele.
Também gostava
de lhe dar uma recordação.
A sério?
Assim cada vez que o usar
pensará em mim.
Aos meus braços.
Perdoe-me esta intimidade tão repentina.
Desculpe, bom homem.
O Cairo?
Obrigada. Dá-me licença?
Deitem-no na mesa.
Acalme-se. Com cuidado.
Vamos tratar de si.
Tesoura.
Acalme-se, professor.
Está quase.
- Vou matá-la.
- Oxigénio.
- Vou matá-la.
- Oxigénio.
- Vou...
- Respire.
- Vou...
- Respire.
Sopre. Sopre!
Cinquenta.
Sr. Choupard, como quer
que acredite na sua história
se tem 50% de álcool no hálito?
Juro-lhe que é verdade,
Sr. Comissário.
- Inspector.
- Inspector, sim.
O pássaro atacou o carro
e despedaçou-o à bicada.
E o Prefo Poitrinaux...
O Prefeito Pointrenaud,
- estava no carro.
- Antigo Prefeito.
Ia ao lado de uma jovem
escassamente vestida.
Uma mulher com pouca roupa?
Com Ferdinand Pointrenaud
membro fundador da Ajuda Cristã?
Não é verdade.
Mas eu vi-o.
Vi-o com estes olhos.
Tal como viu a Joana d'Arc
em chamas, mais de uma vez.
Chefe. Chefe. Chefe. Chefe...
Havia mesmo três pessoas no carro
e conseguimos identificá-las,
Pointrenaud, o seu motorista e…
Meu Deus!
Estou a dizer-lhe isso há horas.
- Para a cela das bebedeiras.
- Mas eu não fiz nada!
Foi o pássaro grande que
deu o golpe. Eu ia para casa.
Senhores, até sabermos mais
sobre as circunstâncias
em que se deu esta tragédia,
conto convosco para manter
este caso confidencial.
- Sim, sim.
- Claro, chefe.
- Nem uma palavra aos jornais.
- Claro que não!
O Prefeito e a corista.
O baile do horror.
O Prefeito e a corista.
Comprem o " Petit Parisien" de hoje.
O " Petit Parisien" de hoje.
Pássaro gigante aterroriza a capital.
Comprem o " Petit Parisien".
Monstro mata o Prefeito.
Que faz a polícia?
Leia no seu jornal. Leia tudo.
Aqui tem. Dez cêntimos.
Monstro mata o Prefeito.
Que faz a polícia?
Esta história do pterodáctilo
é grotesca. Decididamente
fazem de tudo, para venderem
estas folhas de couve.
Até o Gaulois a publicou.
Vão conseguir assustar a
população, é o que vão fazer.
É provável, não se fala
de outra coisa nos cafés.
Ligue à mulher do pobre Pointrenaud
e apresente-lhe as minhas condolências.
Sim, senhor Presidente.
Um Prefeito com uma corista, talvez.
Mas um pterodáctilo? No século vinte!
Chamou, Sr. Presidente?
Sim.
Ligue ao Ministro do Interior.
Sim?
Os meus cumprimentos, Sr. Presidente.
Este assunto do pterodáctilo
parece... grave.
Pode ser um grupo de anarquistas
tentando desestabilizar.
Faça o que for necessário
e mantenha-me informado.
Pode ficar descansado, Sr. Presidente.
Ligue-me ao Prefeito.
Sim? Sr. Ministro?
Meu caro, este assunto do
pterodáctilo nunca mais acaba.
O Presidente quer resultados
ainda esta semana.
Farei o que for necessário, Sr. Ministro.
Ligue-me ao Chefe de Divisão.
- Sim?
- Diga-me, Dugommier,
quem está encarregue
do caso do pterodáctilo?
- O Comissário Poissard.
- Com um nome desses
não admira que não chegue
a lado nenhum.
Precisamos de alguém com
mais energia. Um detective.
E dê-lhe 72 horas
para obter resultados.
Vou tratar disso
imediatamente, Sr. Director.
- Encontra-me o Cheval.
- Sim?
Temos de resolver isto
rapidamente, Cheval.
Apresse-se. Tem 48 horas.
Considere-o resolvido,
Sr. Chefe de Divisão.
Que trapalhada!
- Caponi, pode falar.
- Daqui, Cheval.
Os meus cumprimentos, Sr. Comissário.
Caponi, fica encarregue
do caso do pterodáctilo.
Não me desiluda. A reputação
do departamento está em jogo.
Vou fazer o meu melhor, senhor.
- Tem 24 horas.
- Vin...? Obrigado, Senhor.
De onde saiu um animal daqueles?
Olhe...
- Não estava assim antes.
- Claro que não, Andrej.
Trato deste ovo desde que chegou.
Que terá acontecido?
Ontem, o guarda reparou
que o vidro estava partido
pensou que tivesse sido
algum visitante imprudente.
E substituiu o vidro,
pura e simplesmente.
As pessoas são mesmo baixas.
O assunto é mais complexo
que isso, Andrej.
Olhe com atenção
os fragmentos da casca.
A maior parte ainda está ligada
pela membrana amniótica
como se a força que quebrou
este ovo tivesse vindo...
- Do interior?
- Exactamente.
- Mas isso significa que o ovo...
- Eclodiu, Zborowsky.
Depois de 135 milhões
de anos de gestação.
Saiu da casca e saiu a voar...
Por ali.
Nesse caso, pode estar relacionado
com o pterodáctilo
de que a imprensa fala?
Zborowsky,
teria dado um excelente polícia.
- Professor Menard?
- Sim?
Inspector Caponi.
Em que posso ajudá-lo, inspector?
Estou encarregue
do caso do "pretrotáctilo".
- Pterodáctilo.
- Foi o que eu disse.
Como tem uma colecção enorme
de ossos de pássaro no museu,
pensei que poderia dar-me
alguns conselhos.
O meu conhecimento limita-se
ao período Cretáceo.
Sugiro-lhe que consulte um
especialista do Jurássico.
Ouça, tenho 24 horas
para resolver este caso.
Não tenho tempo
para ir visitar o Jurá.
Nesse caso tentarei encontrar
um especialista em Paris.
É muito amável.
Diga-me... Aquele ovo ali...
Devem ter feito uma omeleta gigante.
Por favor, siga-me, Sr. Inspector.
Claro.
Mantê-lo-ei informado
da evolução da investigação.
É muita amabilidade sua.
Adeus.
Vem...
Não tenhas medo. Vem.
Olha o que tenho para ti.
Cheira bem. Vem.
Vem...
Chegámos, chefe. É lá em cima.
Muito bem.
Bertrand, traz-me um café simples
e algo para comer.
Não consigo pensar
com o estômago vazio.
Muito bem, chefe.
Queres mais?
Come, bebé, come.
É bom, bebé.
Sim? Que desejam?
Inspector Caponi,
tenho algumas questões a colocar-lhe
- sobre o roubo do fte...
- Pte... Pterodáctilo, chefe.
Disseram-me que é
especialista na matéria.
Sim, de facto.
Mas neste momento...
Ia começar a comer.
Perfeito, é a nossa especialidade.
Bem... Então, entrem.
Por favor.
Caramba, está mesmo escuro aqui.
Sou muito sensível à luz.
Mas por favor, sentem-se.
Obrigado, Jeannot. Dá-me licença?
- Não como há dois dias.
- À vontade.
Então, como posso ajudá-los?
Fale-me um pouco do animal.
Os hábitos dele,
o que come, onde dorme...
Sabemos muito pouco
sobre os seus hábitos.
Sabemos que é, sobretudo, carnívoro.
Concordo com o animal.
Não há nada melhor que uma
costeleta de vaca mal passada.
Que barulho foi este?
Foi... Foi o tucano.
Por favor, continue professor.
Têm uma envergadura
de cerca de... seis metros.
Conseguem voar durante várias
horas à procura de comida
que depois levam para o ninho familiar.
Como? Já há um ninho deles?
Não. Não. Só há um.
Quero dizer na altura,
quando eram um casal.
A comida e a construção do ninho,
eram as suas actividades principais.
Acasalavam uma vez por ano.
E, por razões ainda desconhecidas,
só punham um ovo de cada vez.
O que explica a sua agressividade,
sobretudo...
quando se tratava de defender a sua...
única cria.
Inacreditável.
Chefe, o tucano está...
Socorro. Socorro. Meu Deus!
Foi por causa do ovo.
Foi insuportável para ele.
O homem está louco.
Agarrem-no!
Desculpe.
- Precisa de um carregador?
- Não digo que não.
Adèle.
Sr. Xavier. Foi muito amável
em vir-me buscar.
Minha cara Adèle,
se a esperança quero ter,
de entre as suas
idas e vindas a ver,
nas gares de comboio
tenho de viver.
Bravo!
- Com cuidado. É frágil.
- Sim, senhora.
Rua do Forno, nº 28, por favor.
E então? O Peru?
É longe. Muito longe.
- E a uma grande altitude.
- É verdade.
- Subiu ao cimo do Machu Picchu?
- Todas as manhãs.
Todas as manhãs...
E se não é indiscrição perguntar,
que tesouro nos traz desta vez,
nessa bela caixa?
Uma flauta. Dos Andes.
Um modelo grande.
- Só isso?
- É uma flauta sagrada
que arranquei do túmulo real
do último rei dos Incas.
- Não!
- Sim! A lenda diz
que é mortal para quem
não a tocar correctamente.
- Por isso não lhe toque.
- Certamente que não.
Diga-me, bom homem,
o táxi anda ou chamo outro?
Peço-lhe desculpa, menina,
mas estes malditos campónios
estão a bloquear o caminho
com as carroças.
Quando tomarão a decisão
de proibir os cavalos em Paris?
Caramba, estamos no século vinte.
Mexe-te, idiota,
ou capo-te aqui mesmo.
Bem... Onde íamos?
Mna Adèle,
que porcaria trouxe desta vez?
Miranda, modere a língua e
ajude-me com a bagagem.
Vê-se bem que não é você
quem faz as limpezas.
As suas velhas relíquias
são muito bonitas,
mas são verdadeiros ninhos de pó.
Encarrego-me desta
pessoalmente, prometo.
De quem são todas estas cartas?
Do jovem que trabalha
no Jardim Botânico.
Escreveu-lhe uma carta por dia.
Excepto à segunda-feira,
dia em que escreveu duas,
para compensar o domingo.
Faz-me lembrar a minha
juventude na Andaluzia,
com a família da minha mãe.
Havia um jovem picador,
tão forte como os seus touros...
E de resto, correu tudo bem?
Sim, ela portou-se muito bem.
Mas come cada vez menos.
Temos de fazer alguma coisa
ou vai ficar um esqueleto.
Sim, vamos tratar dela.
Obrigada por tudo, Miranda.
Pela sua paciência,
pela sua disponibilidade
e sobretudo pelos seus conselhos.
Então, a menina recusa-se a comer?
Olha que estás muito pálida.
Vou pôr-te um pouco de rouge.
Estás sempre bonita.
Espero que a Miranda não
te tenha chateado muito
com a Andaluzia.
Eu estive no Egipto.
E trouxe-te uma surpresa.
Apresento-te, Patmosis,
médico pessoal de Ramsés II,
o grande faraó.
Eles estavam muito
avançados na Medicina.
Por exemplo,
as suas técnicas de conservação.
Até hoje, ninguém fez melhor.
Tenho a certeza que,
com todos os segredos que guarda,
ele vai conseguir pôr-te boa.
Enfim, desde que eu encontre
o homem que o fará reviver.
Senhor?
Estou muito confuso,
Mna Blanc-Sec.
Ia deixar uma pequena
nota à sua porta,
- não sabia que tinha regressado.
- E ia sair.
- Então não a retenho mais.
- Esperemos que não.
- Aqui tem.
- Espero que as tenha numerado,
ou vou perder-me
no meio de tanta carta sua.
Esqueça as outras.
Quero dizer,
pode lê-las mais tarde.
Mas essa é a mais importante.
Muito bem. Nesse caso
fica no cimo da pilha
- e leio-a no banho.
- No banho?
Leio sempre a minha
correspondência no banho.
MARIE-JOSEPH ESPERANDIEU
FOI CONDENADO À MORTE
- A sua casa é bonita.
-O quê?
Quero dizer, a decoração é bonita.
Que história é esta de pterodáctilo?
Justamente.
Era sobre isso que eu...
Para que prisão mandam agora,
os condenados à morte?
La Santé.
Mna Blanc-Sec, posso fazer
alguma coisa para a ajudar?
Sim, brinde à minha saúde.
Esperandieu, o seu advogado quer vê-lo.
O seu cliente, Mestre.
- Mna Blanc-Sec? Que faz aqui?
- Professor, ouça.
- Encontrei a múmia de Patmosis.
- Não é possível.
Não é possível, mas encontrei-a.
- Não me pergunte como.
- E onde está ela agora?
Na minha casa.
À sua espera para a acordar.
Cara Adèle,
receio que ele tenha de
esperar por outro príncipe.
Não vejo como poderei sair daqui.
Além disso, o meu espírito
está totalmente ocupado
- a controlar o animal.
- O pterodáctilo?
Sim. Queria aperfeiçoar
a minha técnica
enquanto esperava
que chegasse do Egipto.
E consegui dar vida a um ovo
- com mais de 135 milhões de anos.
- Perfeito.
Se conseguiu acordar
um pterodáctilo,
uma múmia com 4000 anos,
é canja.
Talvez, mas o animal esgota-me.
Cada vez que adormeço,
o instinto assassino ressurge
e começa a matar.
- Tenho de o impedir.
- Primeiro tratamos da minha irmã,
e tratamos do seu insecto gigante
mais tarde.
Isso queria eu, cara Adèle,
mas como pensa tirar-me daqui?
Confie no seu advogado.
- Mestre?
- Quero ver o meu cliente,
Marie-Joseph Esperandieu.
Sr. Saint-Hubert,
um comentário, por favor?
- Sr. Saint-Hubert?
- Sr. Saint-Hubert? Le Fígaro.
Não empurrem.
Contenham os jornalistas.
Senhores, por favor.
Senhores!
Por favor. Meus senhores, calma!
Deixem-no falar.
Srs. abreviei a minha viagem
a África, a pedido do Governo.
De facto, encarregaram-me
de acabar com este...
Pterodáctilo? E é uma
grande honra para mim,
poder colocar o meu talento
ao serviço da França.
Sr. Saint-Hubert,
que técnica tenciona usar?
Em primeiro lugar,
temos de seguir o animal.
Estudar o seu comportamento
e conhecer os seus hábitos.
Mas como vai fazer para o encontrar?
Muito simplesmente…
observando o céu.
O que há de bom, hoje?
Pombo.
- Bertrand, salvou-me a vida.
- De nada, chefe.
Meu pequenino, aparece lá.
Ele está aqui, Caponi.
Consigo cheirá-lo.
Ainda bem.
Pte... pter... ptero...
Pterodáctilo...
Que é isto, exactamente?
- Carneiro. É o que isto é.
- A sério?
Afirmativo a 100%.
Pode acreditar em mim.
Percebo de excrementos.
São a melhor maneira
de seguir um animal e de
aprendermos os seus hábitos.
Estamos a fazer progressos, Caponi.
Estamos a fazer progressos.
Maravilhoso.
No fundo da taça...
No fundo da taça está um crachá.
O seu nome é,
Armand Petit-Blanchard
- e é cozinheiro.
- Armand, quê?
Petit-Blanchard, já lhe disse.
Deixei o meu crachá no cacifo,
como todas as noites
e esta manhã tinha desaparecido.
- Tirem as patas de cima!
- Rua! Já chega.
Muito bem...
Preciso dum plano melhor.
- Lamento, já não há mais paté.
- Não se preocupe.
- Bem, Caponi. Caponi?
- Sim?
Corrija-me se me enganar.
Existem três locais
onde o nosso animal
pode encontrar ovelhas.
As pastagens de Montmartre,
a norte.
A Exposição Colonial
de Vincennes, a leste.
E o Jardim Botânico, no centro.
- Correcto.
- A caminho. Com a Graça de Deus.
Obrigada, meu filho.
- Irmã, chegue aqui.
- Aqui, irmã.
Tirem as patas.
Sr. Esperandieu.
Despache-se, vamos.
Como o papá dizia, é quando
o combate parece perdido
que se torna mais emocionante.
À luta.
O pastor não tem dúvidas,
contou as ovelhas duas vezes
- e não falta nenhuma.
- Perfeito. Avancemos.
As minhas ovelhas!
Lamento. Disparou sozinha.
Bertrand? Um veterinário.
Cela 28. Para levar a injecção.
Peço imensa desculpa.
Professor? Professor?
Acorde. Temos de ir.
Pode ser gentil e voltar
mais tarde, Mna Adèle?
Estou muito cansado.
Esta foi a melhor de todas!
Seis cabras da raça Poitou,
quatro gamos dos Vanoise,
quinze ovelhas de Larzac e...
nove, dez, doze carneiros
das montanhas de Jura.
Dos Jura?
Chamei-as e nenhuma
faltou à chamada.
Bem, só nos resta o Jardim Botânico.
Ele está lá, Caponi.
Lançamos o assalto amanhã,
ao nascer do dia.
Obrigado.
Render da guarda.
Por mim, tudo bem.
Boa sorte.
Professor Esperandieu,
espero que tenha dormido bem,
mas agora temos mesmo de ir.
Que faz aqui?
Não estou aqui por querer.
- Onde está o professor?
- Foi transferido durante a noite,
- fazem isso na véspera da execução.
- Execução?
Sim, será guilhotinado amanhã
ao nascer do dia.
- Não pode ser.
- Infelizmente sim, a menos que...
- Seja agraciado.
- Agraciado?
Sim.
Tome... Tenho outras iguais.
Vai, busca. Muito bem, Nelson.
Sr. Presidente,
a menina Blanc-Sec está aqui.
Não traz nada com ela.
Como, não traz nada com ela?
Quer dizer...
revistámo-la, está desarmada.
Pode ir.
Vamos, Nelson. Lindo menino.
- Minha cara menina Blanc-Sec.
-Senhor Presidente.
Recordo com muito carinho,
a nossa outra entrevista...
- Quando foi mesmo?
- No dia 18 Janeiro de 1906.
No dia a seguir à sua eleição.
Recordo-me muito bem,
foi a minha primeira entrevista.
E a última em que me lembro
de ter rido tanto.
- Sim, eu era horrorosa.
- Era encantadora.
Então, em que posso ajudá-la?
Bem, desde a sua eleição
tem expressado
a sua indignação
contra a pena de morte.
Efectivamente, agraciei 17 condenados,
desde o início do meu mandato.
Precisamente. Venho pedir-lhe
que agracie mais um.
O professor Esperandieu.
Vai ser executado amanhã
de manhã. Ele está inocente.
Conheço o caso, Mna Blanc-Sec.
Mas temos três mortos entre mãos,
incluindo um Prefeito.
Mas não foi ele que os matou.
Foi uma besta pré-histórica.
E o professor é o único
que pode controlá-la.
Se ele morrer, só Deus sabe
quantos mais mortos terá entre mãos.
Escute, menina,
temos os nossos melhores
homens neste caso.
Inclusive contactámos um profissional
que veio de propósito de África,
para tratar do animal.
Nelson. Vai, vai buscar a bola.
Sr. Presidente,
Esperandieu é um grande professor.
As suas pesquisas fazem avançar
a ciência, todos os dias.
Ao tirar-lhe a vida, condena a de
muitos outros que ele podia salvar.
Prometo-lhe que vou pensar.
Obrigada, Sr. Presidente.
Mas, que tens? A bola está ali.
Vem, vem. Olha, Olha!
Que foi? Viste um fantasma?
Estás a ver?
A tua bolinha está aqui.
Vem buscar a bolinha.
Vem. Vem buscar a bolinha.
Anda cá. Nelson.
Vem buscar a bolinha.
Não! Sr. Presidente.
Aos meus braços.
- Ladrão. Ladrão.
- Peço imensa desculpa.
Sr Presidente! Afaste-se!
Tirem as patas de cima de mim.
Larguem-me!
- Está ferido, Sr. Presidente?
- Estou bem. Vão, vão.
Estou a avisá-los.
Faço regularmente jiu-jitsu.
- Nelson.
- Larguem-me, ou apresento queixa.
Nelson.
Nelson.
Procurem o Nelson!
Olhos bem abertos, Caponi.
- Estão bem abertos, acredite.
- Vigilância e paciência
são as duas palavras
de ordem do caçador.
Diga-me, Saint-Hubert,
ficava chateado
se eu me ausentasse uns minutos,
para comer qualquer coisa?
Está fora de questão.
Estamos em guerra, caro amigo.
Um dia cacei um tigre que se
tinha refugiado num templo bengali.
Estivemos três dias sem comer.
Três dias?
Sim.
Inacreditável!
Como conseguiu?
Comecei por consultar toda as
obras que temos na biblioteca,
e confirmei que o animal é,
particularmente sedentário.
Então, tive a ideia de recolher
todas os fragmentos da casca do ovo
e de colocá-los num lugar calmo.
Depois, coloquei alguns
bocados de carne de vaca,
bem escolhidos,
para evitar que ele dizime
o nosso rebanho de ovinos da Córsega.
Zborowsky... Você é um génio!
Não foi nada de especial.
Foi só um pouco de intuição.
Com uma intuição dessas
de certeza arrebata as mulheres,
meu jovem amigo. Não é?
Depende da mulher.
Adèle, l-l-leva dois L's?
Adorava, mas infelizmente
só tenho dois E's.
D-d-dois E's?
Adèle. A-D-E-L-E.
Blanc-Sec. Como o vinho.
Isso sabe escrever, não sabe?
- Sim, isso s-s-sei.
- Que felicidade!
- Então, r-r-recomecemos.
- A minha irmã está doente,
viajei para o Egipto
em vez de ir para o Peru,
para lhe encontrar
um médico, Patmosis.
Um homem encantador,
mas completamente mumificado.
Eu esperava que o Professor
Esperandieu o acordasse,
e não a este maldito pterodáctilo,
que devia ter deixado em paz,
porque foi ele que atacou
o nosso querido Presidente
- e o pobre do seu animalzinho.
- O p-p-ptero...
Não, esse é o grande.
O pequenino é o cão.
Ante o ataque eminente,
enchi-me de coragem,
abri os braços e atirei-me
para cima do Presidente.
Um gesto heróico acertado,
mas pouco pensado.
Porque segundo o Presidente,
eu contava que ele
agraciasse o Professor,
para ele acordar o médico
para este salvar a minha irmã.
Pensaram mesmo,
que ataquei o Presidente?
Francamente...
Tenho cara de terrorista?
Não.
Bem, o pássaro mergulhou
para cima do cão.
E-e-ele mergulhou?
Está tudo? Posso ir para casa?
Sim, mas há um pormenor
q-q-que não entendo.
Qual é?
De quem... de quem...quem...
de quem... é-é o cão?
Bem... Há alguém que possa
recolher o meu depoimento
sem ser em código Morse?
Senão passamos aqui a noite.
Salvo a vida do Presidente
e é assim que me agradecem?
Arruaceiros!
As coisas não correram como
tinha planeado, irmãzinha. E...
Preciso de um banho
para pôr as ideias em ordem.
Desculpe tê-lo incomodado
para nada. A sério.
Enfim... Sempre está melhor
aqui a ver mulheres,
do que fechado no túmulo, não?
Zborowsky...
Meu Deus!
- Sim?
- Aos meus braços!
- Li a sua carta.
- Qual?
A que fala do pterodáctilo.
Você é um génio, Andrej.
Vamos. O táxi está à nossa
espera lá em baixo.
Imediatamente.
Por aqui.
Vê? Não estava a mentir-lhe.
Incrível!
Tenha cuidado, Mna Adèle.
Não se preocupe,
já corri riscos maiores.
Passarinho, passarinho...
Mna Adèle, ele come sobretudo carne.
A sério?
Que parva.
De onde vens tu, pássaro lindo?
Não estou a falar contigo.
Seja como for,
tens uma bela plumagem.
Na verdade, se a tua plumagem
for como o teu canto...
Claramente não faz parte
da família do rouxinol.
Cuidado, Mna Adèle.
Ele deve pensar que é uma cabra.
Não é muito galanteador, Zborowsky.
Não, não era o que queria dizer...
Gosto de chamar os pássaros pelos nomes.
Sim?
Minha pomba, meu pintainho...
Minha coisinha emplumada.
Na verdade...
Queres as minhas plumas, não é?
A minha coisa com plumas.
Plumas de pássaros.
De animais...
Incrível!
Vá lá, está tudo bem.
Agora que já somos amigos,
quero pedir-te um favor.
Mna Adèle, não está a pensar...
Seria indelicadeza não o fazer.
Mas… Mas... É uma loucura.
Não pode ser mais
complicado que um camelo.
Pode sim.
Cuidado, Mna Adèle, a árvore!
Pára!
Já está.
Você é inacreditável, Mna Blanc-Sec.
Muito bem, agora que
já fizemos o inacreditável,
avancemos para o impossível.
Chegámos!
- Por aqui, meus amigos.
- Isto é tão emocionante.
E ainda não viu nada, minha cara.
Não podem nem pestanejar,
o espectáculo é rápido.
Preparei-lhes uns aperitivos,
para abrir o apetite.
- Bem pensado. Isto é para si.
- Obrigado.
Champanhe? Fico zonza
outra vez. É onde?
- Na janela.
- Obrigada.
Está muita gente. Ainda bem
que chegámos a tempo.
Estou a vê-lo.
Meu Deus, que cabeça horrível!
Já percebo porque vão cortá-la.
Charlotte.
Foi por causa do ovo.
Ele não conseguiu suportar.
É agora.
Puseram-lhe um saco na cabeça.
Não percebi. Porque é
que o carrasco saiu a voar,
com um saco preto enfiado na cabeça?
Ali! Está ali!
- Carboni?
- Estou aqui, meu...
Ele raptou um homem.
Vá chamar uma ambulância.
Deixe o resto comigo.
É para já. É para já...
Toma, fica com elas.
Mereceste-as.
Está aí alguém? Onde estamos?
Estamos no Inferno, é isso?
- Estou aqui.
- Adèle?
- Bom dia.
- Como é isto possível?
Foi ele que o salvou.
Você deu-lhe a vida,
é normal que salve a sua, não é?
- Sim.
- Zborowsky, que aconteceu?
Quem são estes...
- Esperandieu?
- Menard.
Por todos os santos. É um milagre.
- Menard, velha raposa.
- Esperandieu, sacrista!
- Como raio, chegaste aqui?
- É uma história muito longa.
Podem falar sobre ela depois.
Talvez este Inverno,
com um bom chocolate.
Entretanto, temos que acordar
uma múmia e salvar uma irmã.
- Claro que estou a brincar.
- Sim, ela está a brincar.
Mas eu não estou a brincar.
Está muito cansado da viagem?
Sim, é verdade, estou muito cansado.
- Quer ir para casa?
- Sim, quero ir para casa.
- Vou consigo.
- Sim, venha comigo.
Isso, leva-o a casa.
Adeus, pintainho.
Mas, que é...
Saint-Hubert?
Esperandieu.
- Agora não!
- Que tem?
Saint-Hubert?
Sai daqui!
Larga-me, cão estúpido.
Quem lhe deu autorização,
cretino ignóbil,
de disparar contra a ciência?
Sou Justin de Saint-Hubert,
caçador de veados.
Caçador de veados?
Eu também sou caçador.
Mas só mato ovelhas negras.
E você parece-me ser um bom espécime.
Que vai fazer?
Não pode fazer isso!
- Um!
- Não.
- Dois!
- Não.
- Três!
- Não.
- Quatro.
- Não. Não!
Cinco!
- Não morra agora, por favor.
- Darei o meu melhor.
- Deixe-me ajudá-la.
- Zborowsky,
se me quer ajudar fique aqui
e trate do pterodáctilo.
- Mas o professor está a sangrar...
- Exactamente!
Estão os dos ligados. Não me
pergunte como, nem porquê.
Mas se perdermos o animal,
perdemos o professor.
- Não deixe que isso aconteça.
- Está bem.Está bem.
Eu trato disso.
Rua do Forno, 28.
Que faço agora?
Coloque objectos antigos
em círculo, à minha volta.
Quanto mais antigos, melhor.
Sim, esse.
Tenho de te pôr....
esta pequena ligadura.
Volto já. Volto já.
- Já está. E agora?
- Agora...
Vou tentar estabelecer
contacto com a múmia,
para ver se aceita
confiar-me as chaves.
Muito bem.
Que chaves?
Depois da morte, o corpo diminui
e fecha-se a si próprio no espírito.
Descobri a frequência
que permite comunicar com
o espírito. Ele nunca morre.
Ainda bem.
Vai dar certo.
Talvez...
uns coagulantes,
num bocadinho de manteiga?
Professor!
Professor?
Professor, por favor fique comigo.
Por favor, só mais um pouco.
Por favor.
Santinho.
Obrigado.
Desculpe, a vitrina.
Não faz mal.
Mando arranjar depois.
Que pena que tenha partido.
Gostaria tanto de tê-lo conhecido.
Detecto uma certa semelhança.
É a minha irmã.
- Ela não parece estar bem.
- Não...
Mas... Justamente...
Com todo o conhecimento
que detém, poderia, talvez...
tentar... trazê-la de volta à vida?
Detive em tempos algumas
competências, mas essa não.
- Como? Não é médico?
- Absolutamente, não.
Sou engenheiro de física nuclear.
Só lido com números, sinais e equações.
Nada de muito extraordinário.
Os médicos ficam com
os seus faraós até ao fim,
e são sepultados no túmulo vizinho,
mesmo ao lado deles.
Permite-me que faça um pouco de chá?
Faça de conta que está em sua casa.
É muito amável. E a amabilidade,
é uma qualidade muito
apreciada na nossa dinastia.
Tenho de admitir
que ao longo desta aventura,
foi sempre muito calorosa comigo
e gostaria de lhe agradecer.
- Conseguia ouvir?
- Tudo.
E também via?
Como quando eu...
Tudo.
Não precisa corar. Quando se
tem um corpo como o meu,
- aprecia-se ainda mais o do outros.
- Obrigada.
Suponho que se procurava um médico,
era para tratar desta pobre criança.
Sim. Ela não é só a minha irmã
mas também, a minha amiga,
o meu anjo... A minha gémea.
O que aconteceu?
Um acidente estúpido.
- De camelo?
- De Ténis.
- Emprestas-me o teu alfinete?
- Claro que não!
- Obrigada.
-De nada.
- Como estou?
- Pareces uma espetada de frango.
O que traduzido quer dizer,
"Oh, Meu Deus,
porque é que os meus pais
lhe deram toda a beleza
e a mim só me deixaram
a amargura e o ciúme? "
Um jogo vale tudo.
Bola nove.
Tínhamos acabado de fazer 20 anos.
A Agathe era bela como o dia.
Tínhamos descoberto este novo desporto
e tínhamo-nos tornado
fervorosas adeptas.
E para evitarmos quaisquer
rivalidades entre nós
nunca jogávamos a sério.
Os nossos jogos eram
estritamente amigáveis.
Mas, num momento de plena euforia,
num momento de plena
felicidade compartilhada,
a tragédia aconteceu.
Agathe.
- Menina, está bem?
- Menina, acorde.
Afastem-se. Agathe, por favor.
Agathe. Agathe!
Não, isto não! Agathe, perdoa-me.
Fica comigo.
Parem! Vão procurar ajuda!
Agathe. Agathe. Agathe. Agathe.
Ela nasceu alguns minutos
depois de mim, mas...
partiu muito antes.
E essa é a única corrida
que adorava ter perdido.
Foi, de facto,
um acidente lamentável.
Pode crer que lamento imenso
não poder ajudá-la.
O professor fez um trabalho notável.
O seu poder mental
deve ter acordado todos os
mortos, num raio de 2 km. Mas...
Lamentavelmente,
acordou a pessoa errada.
Um segundo...
Como, 2 quilómetros?
Sim, provavelmente.
Este género de acontecimento
repercute-se, como a ondulação
que se forma quando
lançamos uma pedra à água.
E Ramsés II nunca saía
sem os seus médicos, não é?
Sim, mesmo durante os acasalamentos,
eles não saíam da sala.
EXPOSIÇÃO NO LOUVRE
AS MÚMIAS DE RAMSÉS II
Patmosis, você é um génio.
A caminho!
Desculpe, procuro a exposição
sobre Ramsés II.
Absolutamente.
Patmosis, pare de importunar
assim as pessoas.
- Ainda nos descobrem.
- Desculpe, não consigo resistir.
Reconheça que a situação é bizarra.
Depois de 5000 anos
encafuado num túmulo,
não posso brincar 5 minutos?
Regra numero um,
primeiro o trabalho.
Depois pode matá-los.
De tanto rir, se quiser.
Acha que consegue abri-lo?
Sou tão bom médico, quanto serralheiro.
É melhor que sirva para
alguma coisa nesta história,
ou então atiro-o ao Sena
na ausência do Nilo, prometo.
Está bem, não se zangue.
Um pouco de humor
- alivia o ambiente.
- Isso não é humor.
É uma brincadeira macabra.
Talvez tivesse piada há 5000 anos,
com os tarados dos faraós,
mas estamos no século vinte!
Assim está melhor.
Por aqui, patroa.
- Patmosis!
- Sim, patroa.
Estou a ir, patroa.
EXPOSIÇÃO
AS MÚMIAS DE RAMSÉS II
- Por aqui, patroa.
- Já chega. Não abuse.
Está tensa como uma corda de alaúde.
Quando tudo acabar
faço-lhe uma boa massagem.
- Agora é quiroprático?
- Não, mas estudei as moléculas,
e sei controlar as energias que libertam.
Por agora contente-se
em abrir as portas.
Bonitos, não são? Fazem-me
lembrar as nossas pinturas.
Tens um cigarro?
- Olha que é aquilo?
- O quê?
- Patmosis.
- Eu trato deles, patroa.
Menina!
Não tem talento
para acordar as pessoas,
mas é um ás a adormecê-las.
Obrigado, patroa.
Estão todos misturados.
Se Ramsés visse isto.
Exactamente.
Acorde-os e depois pode arrumá-los.
Não, primeiro os fiéis,
Têm de estar em redor do faraó
quando este despertar.
Compreendo o pobrezinho,
deve estar desorientado.
Desorientado, duvido.
Insultado, sim.
Por isso respeitemos o protocolo.
Avancemos com o protocolo.
Desculpe incomodá-lo.
É médico?
Desculpe, é cirurgião?
Estou à procura dum médico.
Bolas, você não é médico.
Algum doutor, um médico?
Que belo sono!
Patmosis,
que traje ridículo é esse?
Um dos trajes locais, Majestade.
Permiti que vos apresente
a Menina Adèle Blanc-Sec.
- Escriba, de profissão.
- Saudações.
Estes indígenas empregam as mulheres
para lhes escreverem os textos?
Sim, esta civilização
é ainda bastante rude mas,
esta jovem estrangeira
é bastante simpática
e foi ela que teve
a boa ideia de nos despertar.
Boa ideia? Pressinto que me
acordaram cedo demais.
Lamento tê-lo acordado... Vossa Alteza,
mas não tive escolha.
É uma questão de vida ou morte.
E depois? A vida, a morte?
Ela vai, ela vem...
No caso da minha irmã
preferia que ela viesse.
Na verdade, a Menina Adèle acordou-me,
- pensando que eu era um médico.
- Tu? Um médico?
Nem deixava que me cortasses as unhas.
Em todo o caso
ela está à procura de um médico
para tratar a irmã.
E pensámos que talvez...
na a vossa enorme bondade,
permitísseis que o vosso médico
pessoal visse esta pobre criança.
E acordaram-me por uma ninharia destas?
Ouve lá Ramsézinho,
há 5000 anos que ressonas
e chuchas no dedo.
Eu choro há cinco anos.
Cinco anos de sofrimento
a olhar para a minha irmã,
que não me consegue ver.
Não passo de uma insignificante mortal
que não teve a sorte
de ser protegida pelos deuses.
Vivo quotidianamente com a dor
e com o sentimento de culpa,
que nunca desaparece.
Porque a culpa foi minha.
O chapéu era meu.
Que história é esta do chapéu?
Não é nada, conto-vos mais tarde.
Nosibis, meu médico fiel...
Vê se consegues devolver
um pouco de vida a esta jovem,
para que possa desfrutar
do amor que sentem por ela.
Obrigada...
Vossa Alteza.
Sereníssima...?
Os médicos daqui disseram-me
que se retirássemos o alfinete,
ela morria de vez.
Você está completamente louco?
Não lhe pedi que a matasse
mas que a trouxesse de volta.
- Espécie de saco de ossos!
- Acalme-se, Adèle. Não interfira.
- O que é aquilo?
- As vísceras do faraó.
Que encanto.
O beijo é obrigatório?
Na realidade não.
É sobretudo uma tradição.
É melhor ser dado antes dela acordar,
- depois, não sei se o aceitaria.
- Você surpreende-me!
Muito bem...
Aproveitemos para fazer uma visita.
Agathe.
Agathe.
Agathe.
Estás doida,
a atirares a bola desta maneira?
Caramba, sou tua irmã.
Sim, és minha irmã.
E amo-te mais que a tudo no mundo.
Foi um verdadeiro privilégio
conhecê-la, menina Adèle.
A si também, Patmosis.
E pede desculpa por mim ao teu faraó,
por ter sido tão indelicada.
- E agradece-lhe por mim.
- Assim farei... Patroa.
Adèle, com quem estás a falar?
Com ninguém, querida.
Não te mexas.
Agora vai correr tudo bem, prometo.
Por aqui, Majestade.
Que foi isto?
Desculpe incomodá-lo novamente, senhor.
- Diga.
- Teria a amabilidade de nos indicar
- o caminho para o Nilo?
- Claro que sim...
É uma gente muito estranha.
Têm uma cruel ausência de boas-maneiras.
Estou de acordo, Alteza.
Em compensação, têm um sentido
artístico muito desenvolvido.
Esta praça, por exemplo, é magnífica.
- Realmente, magnífica.
- Deviam pôr aqui uma pirâmide.
Tenho a certeza
que ficaria mais composta.
Entretanto, não deveríamos
juntar-nos aos outros?
Tens razão, Patmosis.
A caminho!
A maldição dos faraós
abate-se sobre Paris.
Compre o seu jornal!
Múmias desaparecem do Louvre.
Aqui tem um. A maldição
dos faraós abate-se sobre Paris.
O que é agora,
esta história de múmias?
Continuam a tentar desestabilizar-nos.
Ligue-me ao Ministro do Interior.
Bom apetite, pequeno Caponi.
Para quem são?
São para a menina Adèle.
Ela foi de férias, umas semanas.
Devia oferecê-las a outra pessoa.
São para mim? É muito gentil.
Como se chama?
- Zboro... boro....boro...
- O nome, talvez?
Sim, Andrej,
com um J, como em...
Como em jardim.
- Uma chávena de chá?
-Sim.
- Boa viagem.
- Obrigado.
Despache-se, menina.
Estamos quase a partir.
Está bem, já estou no sítio.
Blanc-Sec, Adèle.
Obrigada.
É a mulher com o chapéu verde?
Nós tratamos dela.
Bem-vindo a bordo.
Despachem-se com as bagagens.
Vá, depressa.
Bem-vinda a bordo. Bom dia.
- Menina Blanc-Sec...
- Sim?
- Estas malas são suas?
- E cuidem bem delas, porque...
- Desculpe.
- As férias começam bem.
Lamento, Mna Blanc-Sec,
foi um acidente.
TITANIC
Boa viagem, menina Blanc-Sec.
UM FILME DE
LUC BESSON
TRADUÇÃO
- RPC -
Saint-Hubert?
Caponi. Caponi.
Que bela zebra.
Perdi o Saint-Hubert.
Perdi-o! Procurem-no.
Belo esforço. Foi uma boa caçada.
Por favor, imploro-lhe.
Imploro-lhe.
- Não!
- Sorria.
Não! Não!
Ninguém se mexe.
Lamento, inspector,
não tenho mais munições.
Prendam-no! Prendam-no!
Também és um bom espécime.
Saint-Hubert. Não saia daí.
Volto já.
- Vou buscar reforços.
- Leve o tempo que quiser.
Oh, não.