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Era a mão de Deus que decidia o resultado das batalhas,
o destino de nações e a vida ou morte de reis.
Todos sabiam disso.
Era inverno, a estação do gelo e da morte.
Um rei estava morrendo. Seu nome era Eduardo, o confessor,
Ele estava morrendo sem filhos e não estava claro quem o sucederia.
Como não havia herdeiro, muitos pensaram que poderiam ser o próximo rei,
incluindo príncipes estrangeiros como o Duque William da Normandia.
Entre estes reunidos ao redor da cama do rei Saxão moribundo
estava o próximo homem mais poderoso da Inglaterra, Harold Godwineson
e ele imaginou que a coroa ficaria bem em sua cabeça.
Ele estava ansiando por um sinal de que o rei Eduardo se sentia da mesma forma.
Então Eduardo estendeu sua mão e tocou Haroldo.
Mas, estava ele dando uma bênção ou uma maldição?
Isto era a mão de Deus fazendo de Haroldo um rei?
Ninguém sabia com certeza, mas Haroldo não tinha dúvidas.
Ele se apropriou da coroa.
A questão agora era por quanto tempo ele a manteria?
Então, no céu de abril, a mão de Deus mostrou-se como um cometa, uma estrela cabeluda
e todos souberam que não era uma benção, mas um mau agouro.
O ano era 1066 DC.
Historiadores apreciam uma vida tranqüila e usualmente o conseguem.
Na maior parte dos casos, a história move-se num passo glacial,
fazendo suas mudanças subitamente.
Na Bretanha nós gostamos de pensar que há algo sobre nossa história,
como nosso clima, nossa paisagem, que são naturalmente moderados
não dados a terremotos e revoluções.
Mas há tempos e lugares onde a história, a história Britânica,
vem em seu encontro apressada, violenta, decisiva, sangrenta -
carga de caminhão de problemas lhe derrubando,
exterminando tudo que lhe influencia:
Lei, costumes, lealdade e idioma.
E este é um destes lugares.
Eu sei que não parece como o local de um trauma nacional.
Atualmente parece mais adequado para uma feira agrícola do que assassinato em ***.
Mas este é o campo de batalha de Hastings,
e aqui um tipo de Inglaterra foi aniquilado
e outro tipo de Inglaterra foi fundado em seu lugar.
Alguns historiadores dizem que para a maior parte da população da Inglaterra
Hastings não foi assim tão importante,
que 1066 foi principalmente uma questão de substituir Lordes Saxões por Cavaleiros Normandos.
Os camponeses ainda aravam seus campos e pagavam impostos ao rei,
rezavam para evitar a miséria e a pestilência
e assistia às estações se sucederem.
Mas o dia-a-dia pode conviver com o catastrófico.
A grama cresceu verde de novo, mas havia ossos abaixo das flores amarelas
e uma classe governante inteira dos Ingleses fora expulsa,
seus homens, terras e animais deles foram tomados
e dados como espólios aos estrangeiros vitoriosos.
Você poderia sobreviver e ainda ser Inglês
mas agora você pertencia a uma raça inferior, o conquistado.
Você vivia na Inglaterra mas não era mais o seu país.
A Inglaterra Anglo-saxônica não desconhecia invasões.
Ataques Vikings tinham sido parte da vida por um século,
mas desde os tempos de Alfredo, o Grande,
era um país estável o suficiente para afogá-los.
Barcos iam e vinham, mas ainda a lei do rei regia os distritos.
Suas igrejas e abadias foram construídas mais belas do que nunca,
e a cidade que um dia viria a ser chamada de Londres
estava começando a crescer e prosperar nas margens do rio Tamisa.
Então uma invasão teve sucesso onde as outras haviam falhado,
e havia um Viking no trono. Seu nome era Canuto,
o homem que relembramos por ter tentado segurar as marés.
Enquanto ele transformou a Inglaterra Anglo-saxônica em parte de seu vasto império marítimo,
ele saiu de seu caminho para não mudar nada.
Ele até escolheu como seu conselheiro mais próximo
um dos mais poderosos nobres Anglo-saxônicos: Godwin, Conde de Wessex.
Um homem conspirador, cruel, Godwin se tornou
co-governante com Canuto sobre o que era ainda
reconhecível como Inglaterra Anglo-saxônica.
Mas, com a morte de Canuto em 1035, começou uma corrente de eventos
que iria culminar com a invasão
que a Inglaterra Anglo-saxônica seria incapaz de engolir.
E que saga ela foi.
Começou com uma sangrenta e impiedosa luta pelo trono de Canuto
entre a elite sobrevivente.
Traição, assassinato e mutilação era só o que se podia esperar.
O último homem em pé com algum tipo de direito ao trono
era um descendente de Alfredo, o grande, um príncipe da casa real Saxônica.
Chamado Eduardo, ele se tornaria eternamente conhecido como O Confessor.
Ele foi coroado no dia de Páscoa, 1043.
Ele herdou mais do que somente a coroa.
Ele também herdou o Conde Godwin que não tinha vontade de perder poder
só porque havia um novo rei.
Ao contrário de Canuto, Eduardo tinha boas razões para odiar
o homem mão-direita forçado a ele.
Pois Godwin havia arranjado o assassinato de seu irmão mais velho.
Não havia nada que ele poderia fazer sobre seu rival ensangüentado,
não ainda, de qualquer maneira.
Ele sabia que Godwin detinha as chaves do reino.
Quando Godwin ofereceu a Eduardo sua filha em casamento,
o que poderia fazer ele além de aceitar?
Godwin não era o único problema de Eduardo.
Ele também tinha que aprender a governar um país sobre o qual ele sabia pouco.
Por ele ter crescido em exílio num mundo muito diferente
atravessando o Canal Inglês, Na Normandia.
Nós pensamos sobre Eduardo, o confessor
como a quintessência do rei Anglo-saxônico.
Em fato, ele era quase tão normando quanto William, o conquistador.
Depois de tudo, sua mãe Emma era normanda
e ele viveu aqui na Normandia por 30 anos,
desde que ela o trouxe ainda criança, refugiado das guerras
entre os Saxões e os Danes.
Mas a Normandia não foi somente um asilo para Eduardo,
foi o lugar que o formou politicamente e culturalmente.
Sua língua-mãe era o francês normando.
Seus padrinhos virtuais eram os formidáveis duques da Normandia.
Os normandos eram descendentes de invasores Vikings,
mas há muito trocaram seus navios por poderosos cavalos de guerra.
O Ducado da Normandia não era, sob nenhum aspecto, só um pedaço da França.
Apesar de os duques formalmente respeitarem os reis da França,
eles eram impetuosamente independentes,
possuidores de castelos, patronos de igrejas.
Esses senhores da guerra estavam constantemente na sela (do cavalo)
impondo sua vontade a seus vassalos,
derrotando revoltas e forjando coalizões instáveis.
Mas o ducado estava também vibrando com piedade energética.
No século XI, charmosos monastérios e igrejas de pedra
com arcos romanescos começaram a aparecer.
Grandiosos castelos de pedra, tão duros quanto os lordes Normandos que os construíram,
tornaram-se parte da paisagem.
Então até o trono da Inglaterra seduzi-lo de volta
através do Canal aos 36 anos,
esta era a casa de Eduardo, e enquanto ele estava aqui, uma criança estava crescendo,
e ela mudaria o curso da história Britânica.
Foi no local deste castelo em Falles, em 1027
que William, conhecido por seus contemporâneos, apesar de não na sua cara,
como William, o bastardo, nasceu.
Ele era o filho ilegítimo do Duque da Normandia
e da filha de um curtidor chamada Ellave.
E no mundo corta-gargantas da Normandia feudal,
era importante que ele aprendesse, e rapidamente, como sobreviver.
Ele era somente uma criança quando seu pai morreu numa peregrinação
à Terra Santa, deixando William, com somente oito anos de idade, como seu herdeiro.
Uma ovelha jogada aos lobos.
Certamente Eduardo gostaria de conhecer o jovem William.
Houve sugestões que ele era um dos companheiros escolhidos a dedo
encarregados pelo pai de William, Duque Robert
de manter um olho no vulnerável jovem garoto.
Ele teria visto como William sobreviveu aos traumas de sua infância,
escapando por pouco de tentativas de assassinato;
como William foi forçado, aos 10 anos, a testemunhar o brutal assassinato
de seu querido tutor em seu quarto de dormir, na sua frente.
Eduardo deve ter se maravilhado o modo que o jovem garoto
cresceu, transformando-se num duro e cruel jovem adulto,
triunfando em batalha sobre a formidável liga de nobres rebeldes.
Enquanto William estava assegurando o poder absoluto na Normandia,
Eduardo estava, agora, no meio de um reino nervoso,
continuamente tendo que olhar por sobre seu ombro
à sua maior ameaça, Conde Godwin.
Em 1051, Eduardo agarrou sua chance de livrar-se de seu rival.
Eduardo trouxe aliados Normandos, estabeleceu-os em castelos,
e fez um Arcebispo da Cantuária. (chefe da igreja anglicana)
Sentindo que seu momento chegara, ele confrontou Godwin
com o assassinato de seu irmão e expulsou-o do país.
Sua tentativa de se livrar de seu inimigo jurado falhou miseravelmente.
No exílio, o Conde de Wessex era tão perigoso como em casa,
e navegou de volta com uma frota para humilhar o rei.
Saíram os parceiros de Eduardo normando,
voltaram os partidários de Godwin, mais fortes do que nunca.
Eduardo agora era pouco mais que um rei fantoche.
Ele se voltou para a vida religiosa, consumindo dias
em meditação e oração, tornando-se afinal, O Confessor,
devotando-se à fundação de sua abadia Beneditina
rio acima de Londres, seu "West Minster"
Impotência, porém, tem suas utilidades.
Godwin claramente tinha ambições para o futuro.
Ele empurrou sua filha Edith para Eduardo
para conseguir um jovem Godwin como o próximo rei da Inglaterra.
Mas Eduardo tinha suas próprias idéias.
Sim, ele casaria com Edith mas ele nunca dormiria com ela.
Sua vingança seria deixá-la sem filhos.
Agora, Eduardo tinha um pensamento ainda mais perverso:
"Está bem, se Godwin quer tanto assim um herdeiro para o trono,"
"Eu lhe darei um, mas um mais ao meu gosto."
É nesse ponto, cronistas normandos clamam,
que Eduardo aparentemente prometeu a sucessão
para o Duque da Normandia, William, o bastardo.
É claro, ninguém sabia disso na Inglaterra,
e menos que todos Godwin, que em 1053 morreu subitamente de um derrame
enquanto jantava com o rei.
Existiam muitos outros Godwins para tomar o lugar do "padrinho".
Seus filhos agora tomaram conta de onde ele abandonou,
controlando a Inglaterra virtualmente incontestados.
E presidindo o império familiar estava o filho mais velho, Haroldo.
Haroldo Godwinson parecia ter tudo:
Terra, poder, riquezas, carisma, uma esposa aristocrática
e uma tropa encorajadora de irmãos leais e espertos.
Ele até conseguiu fazer-se patrono de igrejas,
como esta aqui, em Bosham, Sussex.
E, apesar de ele não ousar um movimento muito insolente,
qualquer observador isento chegando na Inglaterra no início da década de 1060,
iria concluir que assim que Eduardo se for
o trono seria para que Haroldo o tomasse.
De uma vez só um vento maldoso soprou para longe sua visão de tempo bom.
Começou com uma viagem que ninguém pôde explicar, mesmo hoje em dia.
Em 1064, Haroldo e um grupo de homens zarpou para a Normandia.
Talvez fosse para resgatar seu irmão mais novo, Wulfstan,
que houvera sido tomado como refém por William.
Para os cronistas normandos, a jornada somente poderia ter um propósito.
Haroldo estava aceitando a oferta de Eduardo para a coroa.
Porque Haroldo faria algo tão contra seus próprios melhores interesses?
Talvez seja por isso que tenha inventado o primeiro pedaço da história
da mais grandiosa peça de propaganda Normanda,
A Tapeçaria Bayeux, de 70 metros de comprimento.
A tapeçaria foi encomendada pelo meio-irmão de William,
Bispo Odo de Baueux, poucos anos depois da conquista.
Pode ter sido feito por bordadores Ingleses na Cantuária,
que tinham fama de serem os mais habilidosos tapeceiros da Europa.
Quem mais teria feito um herói tão glamouroso?
Algo parece ter havido de errado no Canal, talvez uma tempestade.
Ancorando no território de Guy de Ponthieu,
eles foram presos e entregues para um vassalo de Guy,
William da Normandia.
os bordadores deixaram dramaticamente claro que Haroldo e seus homens
agora se encontravam num mundo alien.
Os Saxões usavam bigodes e barbas neste estágio da história,
de aparência mais fina, com um certo ar sobre eles,
apesar de seus apuros.
Os normandos, por contraste raspavam o cabelo da nuca.
Eles eram os assustadores meio-carecas do mundo feudal primitivo.
Dando-se conta que seu número de sorte aparecera,
William pôde se dar ao luxo de ser todo charme e generosidade para seu prisioneiro,
habilmente trazendo-o para seu séqüito militar.
William levou Haroldo em campanha com ele na Bretanha,
onde Haroldo retorna o favor resgatando dois soldados de William
das areias-movediças de monte São Michel,
um em seu braço esquerdo, outro em suas costas.
Sua hospitalidade era ponta-de-aço. Ele fez de Haroldo um de seus cavaleiros,
um negócio cerimonioso e solene envolvendo obrigações de mão-dupla.
William, agora seu senhor feudal, teria a obrigação
de proteger Haroldo, seu novo cavaleiro.
Haroldo teria que fazer suas próprias promessas, e parecia não haver dúvida
ele fez uma espécie de juramento ao duque.
Para a mente medieval, não havia nada mais sério que um juramento,
e o tapeceiro deixou claro que este era um ato religioso
fazendo testemunho com a palavra "Sacramento"
Seu juramento foi uma espécie de sacramento enquanto ia ao coração do assunto.
O que aconteceria à Inglaterra depois que Eduardo morresse?
Os ingleses dizem que Haroldo aceitou ser soldado de William
somente na Normandia e que isso não tinha nada a ver com a sucessão Inglesa.
Os cronistas normandos, porém, diziam que Haroldo jurara
ajudar William a tomar o trono da Inglaterra.
O juramento tornou-se ainda mais amarrado quando, num truque teatral barato,
a toalha da mesa onde Haroldo fez o juramento foi chacoalhada.
Embaixo, foi revelado um relicário contendo os ossos de um santo.
Então, em quantos problemas ele se metera agora?
Haroldo prometera algo que não poderia cumprir,
ou ele não fez nenhuma promessa a respeito da coroa Inglesa?
Cronistas normandos gostam de imaginar Haroldo retornando
assombrado pela culpa, dizendo uma coisa mas fazendo outra.
Na Inglaterra, não havia sinal de uma consciência constrangida.
Para por suas mãos na coroa, Haroldo desta vez fez algo
inconcebível para um Godwin, algo que
um dia poderia ter conseqüências desastrosas.
Ele vendeu seu próprio irmão, Tostig, rio abaixo.
Tostig era o Conde de Nortúmbria e também o cabeça-quente da família,
e conseguira provocar uma rebelião nortista contra ele.
Ele vinha depenando abadias e monastérios,
criando seu próprio exército privado e agindo como um mesquinho moleque tirano.
Inevitavelmente, os nobres locais se levantaram contra ele,
declarando-o criminoso e substituindo-o pelo seu próprio homem para ser o novo Conde.
Haroldo foi enviado pelo rei Eduardo para resolver a bagunça
e foi imediatamente colocado diante de duas escolhas difíceis.
Ele poderia ajudar seu irmão menor Tostig contra os rebeldes,
mas isso poderia criar uma guerra civil.
Ou ele poderia esquecer as ligações de sangue e dar suporte aos inimigos de Tostig.
Em retorno, eles poderiam se sentir agradecidos o suficiente
para oferecer-lhe seu suporte crucial
para quando vier o tempo para ele fazer seu lance para o trono Inglês.
No final, Haroldo colocou ambição à frente do amor fraternal.
Ele retirou Tostig e substituiu-o pelo o Conde Morcar.
Haroldo quebrara a solidariedade do clã Godwin
e transformou seu próprio irmão em um inimigo mortal.
E foi essa guerra cruel de irmãos que no final
custou a Haroldo seu trono e sua vida.
Mais do que outra coisa, foi a causa da morte da Inglaterra Anglo-saxônica.
O inverno de 1065 foi marcado por tremendas ventanias
que destruíram igrejas e arrancaram grandes árvores.
Enquanto Eduardo, o confessor estava em seu leito de morte,
ele fora visitado por um estranho e terrível sonho
que ele insistia em relatar a todos que se juntavam ao seu redor.
Dois monges vieram ao meu leito de morte e me disseram
que por causa dos pecados de seu povo
Deus deixou a Inglaterra para espíritos malignos.
Eu disse, "Deus não terá misericórdia?" E então eles responderam,
Não até uma árvore crescente cortada em dois por um raio
se recomponha por si só e cresça novamente."
"Somente então haverá perdão."
Mas ninguém prestou muita atenção para os delírios de um homem velho.
O que era muito mais importante
era que Eduardo houvera tocado a mão de Haroldo.
O rei não pudera/quisera atualmente declará-lo seu herdeiro
mas isto era sinal suficiente para Haroldo
e os Condes nortistas que o apoiavam.
Em 6 de janeiro de 1066, Westminster viu o funeral de um rei pela manhã
e a coroação de outro pela tarde.
Existem dois Haroldos retratados na Tapeçaria Bayeux,
mas qual era o real -
o rei confiante que cunhara moedas portando o slogan otimista "Pax",
paz em latim,
ou o culpado, distorcido usurpador, marcado por maus presságios, assombrado por visões de navios?
A frota fantasma que os bordadores colocaram na borda da tapeçaria
sugere que Haroldo poderia muito bem imaginar a reação
através do Canal à sua coroação.
Um historiador normando fez com que William soubesse das notícias quando estava fora caçando.
Quando o duque ouviu as novidades, ele ficou horrorizado.
Freqüentemente ele amarrava seu manto, freqüentemente ele desamarrava-o e não falava com ninguém.
Ninguém ousou falar com ele.
(UIVOS)
Por dez anos, William confiantemente deixou ser conhecido na Europa
que ele em breve adicionaria a Inglaterra aos seus territórios.
Ele estava agora numa posição letalmente perigosa, parecendo ridículo.
Ele consultou seus magnatas feudais numa série de assembléias
e de nenhuma maneira eles estavam particularmente excitados
com a idéia de uma invasão à Inglaterra.
Os riscos pareciam muito mais amedrontadores
do que a sedução de novas terras e riquezas.
Então o duque passou para a estratégia número dois,
tornando o assunto numa cruzada internacional.
O Papa não enxergava que sua causa era justa,
que Haroldo era um vergonhoso quebrador de promessas, um larápio de igrejas?
William, por outro lado, era um construtor de abadias
um protetor de bispos contra barões valentões.
Era um completo absurdo e funcionava como um sonho.
O Papa foi persuadido, deu a William sua bênção Papal
e investiu nele com seu anel e sua bandeira.
Era agora muito mais que uma rixa dinástica.
William usou a consagração da abadia de sua esposa,
aqui na abadia da Trindade, em Caen,
para proclamar uma cruzada contra o infiel Haroldo.
Os barões que lutavam envergonhados por arriscar seus pescoços
na vingança pessoal do duque
agora se aglomeravam para juntar-se às legiões dos abençoados.
A Tapeçaria Bayeux mostra que o trabalho começou imediatamente
para construir uma imponente força expedicionária.
Fileiras de árvores normandas tombaram sob o machado
to emerge para emergir como 400 navios "cabeça-de-dragão".
Carregados nos navios estavam cotas de malha, arcos, flechas, lanças
e, o item mais indispensável de todos, grandes barris de vinho.
Espremidos tão apertados nos navios que suportavam uns aos outros,
estavam talvez 6.000 cavalos, três para cada cavaleiro.
Através do Canal, Haroldo respondeu
provando que ele também era um organizador militar fenomenal.
Como melhores tropas de seu exército, Haroldo pôde contar com a elite
de talvez 3.000 "huscarls", "homens da casa", soldados profissionais
treinados para usar um machado de duas mãos que, se manejado corretamente,
poderia cortar através um cavalo e seu cavaleiro em um só golpe.
O coração do exército eram 5.000 Thanes ou nobres - da Inglaterra.
Em adição, havia os 13.000 soldados temporários, os "fyrd", "milícia popular",
mobilizados por seus senhores, sob a obrigação de prestar ao rei
dois meses de serviço por ano.
Com velocidade impressionante, este exército estava estacionado junto à costa sul.
Em 11 de agosto, William colocou seu exército em posição ao longo da costa da Normandia.
Duas grandes forças guerreiras empenhadas na destruição mútua
enfentaram um ao outro através uma pequena tira de água
para determinar o destino da Inglaterra.
E ali eles se sentaram,
William esperando por um vento no sentido sul que nunca vinha,
e Haroldo esperando por William, que nunca vinha.
Essa espera foi particularmente séria para Haroldo.
Na primeira semana de setembro ele manteve os Fyrd em posição de batalha
por pelo menos duas semanas a mais que seus dois meses de obrigação.
E mais, era tempo de colheita.
Então, com quem sabe mais quantos medos e constrangimentos,
em 8 de setembro Haroldo desmobilizou os Fyrd
e mandou os soldados para casa.
Ele estava certo em se preocupar. Somente 11 dias depois
Haroldo teve um choque desagradável - seu irmão caçula estava de volta.
Tostig, junto com o rei Norueguês, Haroldo Hardrada,
aportou em Nortúmbria com em torno de 12.000 homens.
Tostig passara seu tempo em exílio procurando por aliados
para perseguir sua vingança contra Haroldo.
Foi um golpe para ele ter que alistar o apoio
do assustador rei da Noruega.
Hardrada era simplesmente o mais temido guerreiro de sua época.
Construído como a face de um penhasco norueguês,
ele tinha a reputação de ter força sobre-humana
e uma criativa e elaborada crueldade.
Hardrada também tinha uma frágil reivindicação ao trono Inglês
que vinha desde Canuto, e ele não era de acovardar-se
a um desafio militar que poderia ganhar-lhe a disputada coroa.
Haroldo Hardrada navegou do sudoeste da Noruega em 12 de agosto.
A caminho, ele parou aqui, no condado Viking dos Orkneys.
para juntar mais homens e navios
para adicionar à sua já formidável frota.
As expectativas devem ter sido altas.
Os noruegueses podiam farejar triunfo nos ventos de verão.
Haveria festejos, cantorias e leitura de poemas,
alguns deles sem dúvida escritos pelo próprio Hardrada.
E pode ser aqui que Tostig juntou-se à frota Viking.
Se ele o fez e olhou para o mar e viu os 300 navios,
seu pequeno coração deve ter falhado uma batida
ao pensar na catástrofe esperando por seu irmão.
Juntos, Tostig e Hardrada seriam impossíveis de parar, invencíveis.
Ou será que não?
Aportando na costa da Nortúmbria, o exército Viking dirigiu-se para York,
onde lutou com os Condes nortistas para tomar controle da cidade.
Complacentes com a vitória Hardrada e Tostig viajavam
com somente um terço do exército, a oito milhas a leste de York,
até a Ponte de Stanford, onde eles conseguiram coletar 500 reféns.
O que eles viram nas margens do rio Derwent
não era um grupo miserável de reféns, mas um exército sólido,
suas armas resplandecendo como lâminas de gelo, como dizia o bardo Viking.
Tostig sabia que isso significava problema.
Era seu irmão mais velho.
Colocando seu exército em posição para surpreender os noruegueses
foi um feito épico sobre quaisquer padrões.
Haroldo viajou desde Londres inflando seu exército com aquisições pelo caminho,
cobrindo 300 quilômetros em quatro dias - 60 a 72 quilômetros por dia.
Imagine então, milhares de homens andando tão rápido quanto seus cavalos,
ou, em muitos casos, tão rápido quanto suas pernas podiam carregá-los.
Pela Grande Estrada do Norte até Peterborough, Lincoln, Tadcaster.
A maior marcha de alto impacto com as mais pesadas mochilas que se pode imaginar.
No final dela, Haroldo travou
uma das mais sangrentas batalhas na história inglesa.
(GRITOS E GEMIDOS)
Foi o Inglês que quebrou a linha Viking
e os guerreiros nórdicos remanescentes encolheram-se de medo ao redor de seus chefes.
Nós precisamos imaginar o grande Hardrada balançando seu machado debaixo do Landvaster
antes de finalmente cair com uma flecha na garganta;
Tostig juntando a Bandeira do Corvo e, por sua vez, sendo cortado por uma espada.
A carnificina foi tão completa que requeriu somente 24 dos 300 navios
que levantaram âncora para a Inglaterra para retornar o patético remanescente
do exército nórdico de volta à Noruega.
Num ato final de respeito, Haroldo achou seu irmão morto
e levou o que restava dele para ser enterrado na Catedral de York.
Ele não teve tempo para sentir pesar ou exaltar sobre a morte de Tostig,
pois no dia seguinte à Batalha da Ponte de Stanford, a frota Normanda,
afinal, sentiu o vento mudar de direção.
Então, com muita pressa, o duque se jogou ao mar
com sua frota navegando rapidamente para a costa da Inglaterra.
Sua primeira visão de terra seriam os penhascos de Beachy Head,
e eles aportaram nos portos de refúgio próximos em Pevensey.
Um velho forte romano guardava a praia.
Dentro de sua casca vazia, os homens de William ergueram
um castelo pré-fabricado de madeira, que mais tarde seria reconstruído em pedra,
como se declarando que eles eram agora herdeiros dos romanos.
Expedições em busca de comida e feno vindas do campo base
tomaram a forma usual, queimando tudo que não podia ser tomado,
espalhando terror nos corações dos locais.
Um dos detalhes mais inesquecíveis da Tapeçaria Bayeux inteira
é este detalhe aparentemente incidental de uma mãe e filho tornados refugiados,
fugindo de sua casa em chamas talvez até mesmo Hastings,
resignados ao seu destino, não olhando para trás.
Este é a primeira das imagens que ecoariam através da arte européia;
através de Rubens, Goya e a Guernica de Picasso,
das vítimas da guerra, dos civis, da inocência.
William logo descobriria que não havia rota fácil de Pevensey até Londres.
O país atrás da cidade era alagado,
cruzado por pequenos rios de vale que desciam ao oceano.
Mas havia uma velha trilha Anglo-saxônica que poderia levá-lo
para a estrada romana norte através de Kent,
e isto foi por dominar esta estrada antiga, lamacenta e sulcada,
que a mais extenuante batalha na história Britânica inicial seria lutada.
Depois de ter feito retroceder a ameaça dos Vikings e seu próprio irmão,
deve ter parecido inconcebível a Haroldo
que ele teria que fazer tudo de novo dentro de uma semana ou duas.
Não seria fácil. Quem ele poderia chamar?
Os arranhados e batidos restos de seu exército.
Seria um tiro de longa distância, mas depois da Ponte de Stanford
talvez Haroldo tenha sentido que ele poderia realmente confiar em sua sorte de jogador.
Além disso, a maneira como William o chamava publicamente, Haroldo, o perjurador,
Haroldo, o quebrador de juramentos, Haroldo, o traidor -
fez com que fosse pessoal agora, um duelo mortal.
Deixe que a mão de Deus decida o partido correto, quem prevalecerá.
Haroldo deixou Londres a toda velocidade.
Ele juntou o que pôde de um novo exército junto a uma velha árvore de maçãs-verdes,
uma antiga árvore arruinada que permanecia numa colina
no cruzamento da trilha que leva para fora de Hastings.
Ali Haroldo fincou seu estandarte, "O Dragão de Wessex".
Os Normandos chamavam este lugar de "Senlach", significando "Lago de Sangue".
(CÂNTICOS)
Imagine-se na manhã de sábado de 14 de outubro, 1066.
Você é um guerreiro Saxão, um guarda-costas talvez,
e você sobreviveu à Ponte de Stanford.
Você sabe que sua posição aqui não poderia ser melhor.
Você está na sobrancelha da colina e olha para baixo
a centenas de metros dali, a oposição.
Você somente tem que prevenir que os normandos quebrem a barreira para a estrada de Londres.
Eles tem os cavalos, mas eles tem que cavalgá-los morro acima.
Você olha ao longo da encosta da colina para ver uma multidão de Ingleses, densamente posicionados.
Na primeira linha estão os "huscarls",
uma parede de escudos sólidos, e com eles os machadeiros.
Atrás deles estão os temporários, os fazendeiros guerreiros,
que precisam ter tempo para encontrar sua coragem.
Ao pé da colina você pode ouvir o relinchar dos cavalos normandos...
...o que soa como o canto de salmos.
Você é um soldado de infantaria normando e você tem esperança em deus
que os cavalheiros a cavalo sabem o que estão fazendo.
Ao seu redor você pode ouvir o atrito de metal,
o afiar de lâminas, o montar em cavalos.
Você olha acima, na sobrancelha da colina
e você vê uma brilhante linha de homens e você faz o sinal da cruz.
Você toca com os dedos os anéis em sua cota de malha, seu elmo,
e imagina o quão sólidos eles são.
Você imagina qual uso eles teriam contra um machado.
Você nunca viu machados em batalha antes.
Então você enxerga o estandarte Papal e ganha coragem
Certamente Deus está a seu lado.
O princípio real deve ser imaginado como a cavalaria correndo morro acima,
um a um chegando ao alcance ouvindo o canto rítmico
de "Oot,Oot!" - "Fora, fora!" dos Saxões,
e eles lançando seus dardos na linha de frente.
Então vem o avanço lento dos arqueiros,
liberando suas primeiras flechas debaixo duma chuva de lanças inimigas.
E finalmente os soldados de infantaria correndo atrás deles.
Então houve somente o sanguinário esmagar e estraçalhar de cavalos,
o cortar e pontear de armas,
os gritos e lamentos dos feridos e moribundos.
Se o machadeiro permanecia firme contra o cavalo em disparada
ele ainda tinha somente uma chance. Se ele a perdesse,
com a guarda aberta para a cutilada da espada do cavaleiro acima.
O sucesso inicial dos Ingleses ameaçava sua derrota.
No flanco esquerdo do exército de William, cavalos refugavam e retrocediam.
No flanco direito do exército de Haroldo,
muitos dos inexperientes temporários decidiram persegui-los morro abaixo.
Mas Haroldo, sempre conservativo em suas táticas,
recusou deixar outros os seguirem.
Ele aparentava ter perdido momentaneamente o controle de suas tropas,
que não conseguiram resistir a seguir os cavaleiros,
felizes pelo pensamento de que o duque da Normandia estava perdido.
Mas William tirou seu elmo para provar que ele estava bem vivo.
Ele reuniu as linhas do centro normando ao redor da traseira dos saxões perseguidores
e deu um jeito de cortá-los em pedaços.
A batalha ainda não havia acabado.
Levaria ainda ao menos seis horas para se decidir.
A Tapeçaria Bayeux é chocantemente explícita
em expor a extensão da carnificina e mutilação.
Mas era o exército Inglês que estava eventualmente, e muito, muito devagar,
descendo a colina.
William começa a explorar pontos fracos,
entrando num ritmo, alternando arqueiros e cavalaria.
As flechas agora voavam alto no ar e caiam
não na linha de frente, mas nas cabeças dos homens desprotegidos atrás dela.
Como Haroldo morreu?
Ultimamente tem havido uma tentativa de reler a cena de morte na Tapeçaria
afirmando que ele era a figura cortada pelo homem a cavalo,
não o guerreiro tirando a flecha de seu olho,
a história que você e eu crescemos acreditando.
Parece perfeitamente claro para mim que as palavras "Harold Rex"
aparecem direta e significativamente abaixo da figura atingida por uma flecha.
Então certamente os guerreiros partiram pra cima dele, matando-o
e deixando-o estripado.
Os senhores feudais bravamente montaram uma última defesa,
protegendo o corpo de seu rei, mas para muitos era uma causa perdida.
Era tempo de cada um salvar o seu pescoço, para sair do caminho.
Há histórias tão tristes do que se segue,
e talvez alguns deles sejam verdade.
Uma delas fala da amante de Haroldo, Edith Swan Neck,
andando através de montes de corpos ensangüentados para identificar o rei morto
através de marcas em seu corpo conhecidas somente por ela.
O que nós sabemos hoje é que em torno de metade da nobreza da Inglaterra
pereceu naquele campo de batalha.
William jurara que se Deus desse a ele a vitória
ele construiria uma grande abadia em ação de graças no local exato
onde Haroldo hasteou sua bandeira, e aqui está ele -
um relato, se é que houve um, de piedoso júbilo.
Mas William tinha que deixar claro que ele venceu não somente uma simples batalha
mas a guerra pela Inglaterra.
Isto foi feito do jeito antigo cortando uma faixa de fogo, estupro e pilhagem
através do interior do sudoeste da Inglaterra.
Uma a uma as cidades Anglo-saxônicas se dobraram.
William foi coroado em Westminster no dia de natal de 1066.
Mas o evento foi mais desordem do que triunfo.
No grito de aclamação os guerreiros normandos estacionados do lado de fora,
por uma revolta ter começado, à qual sua resposta foi
queimar todas as casas que viram.
Enquanto a luta continuava, muitos dentro da Abadia,
sentindo cheiro de fumaça, correram para fora.
A cerimônia foi completada numa sala quase vazia.
Com William, pela primeira vez em sua vida, sendo visto tremendo como uma folha.
Quando ele emergiu da fumaça e caos da coroação,
qual tipo de rei o remanescente sobrevivente da velha classe governante
imaginou que eles teriam?
Eles carinhosamente supunham que ele fosse ser um outro Canuto,
que agora que ele vencera, debandaria seu exército e mandaria-os para casa.
Se o fizeram, eles tiveram um choque muito forte,
pois mesmo se William quisesse fazê-lo, seria quase impossível.
Toda sua campanha houvera sido baseada na promessa da sedução da terra,
o juramento de entregar as terras da Saxônia numa bandeja dourada de conquista.
Então, nunca houve a mais remota chance de que William
fosse ser outro Canuto e assimilar a si próprio
no mundo da Inglaterra Anglo-saxônica.
Sua conquista virou o país do avesso.
A orientação da Inglaterra agora era no sul,
longe da Escandinávia e em direção da Europa continental.
A parte do país oferecendo mais resistência
era o norte da Inglaterra, que ainda mantinha forte simpatia pelos Vikings.
Somente três anos do início do reinado de William, York abriu seus portões
para o rei Swein da Dinamarca, saudando-o como um libertador
do jugo do novo rei da Inglaterra.
A resposta de William foi montar uma campanha de opressão no norte
que não foi somente punitiva mas um exercício de assassinato em *** -
milhares de homens e meninos assassinados de forma horrível,
seus corpos deixados para apodrecer e pustular nas estradas.
Toda cidade e vilarejo queimou sem piedade.
Plantações e criação destruídos tão completamente
que quaisquer sobreviventes estavam condenados a morrer num grande período de fome.
Junto com o massacre e fome, veio a praga.
Por toda Inglaterra, William construiu ao menos 90 castelos,
dominando áreas de revolta potencial,
motores do horror que ajudaram William a controlar mais de dois milhões de Saxões,
com somente 25.000 normandos.
A maioria das vozes que chegaram até nós descrevendo os eventos depois de 1066
foram escritas com a perspectiva do vitorioso,
inescusável e vociferavelmente, delineando o mais absoluto contraste
entre o maquiavélico perjurador Haroldo e o nobre, traído William.
Mas neste nauseante coro de congratulação
há ao menos um que ousa sair da ordem,
que em fato vê a conquista da maneira que certamente foi -
um brutal, cruel e bem sucedido ato de agressão e crueldade.
A voz é ainda mais crível porque pertence a alguém
que, por direito, não deveria achar nada de errado na conquista Normanda -
o monge Orderic Vitalis, cuja família veio junto com William
e pertencia, portanto, à classe conquistadora.
No início do século 12,
ele começou a escrever sua descrição da conquista e seus resultados,
e, em completo contraste com os outros,
Orderic nunca usou palavras bajuladoras sobre o que ele pensava sobre como sendo uma colonização.
Estrangeiros enriqueciam com os espólios da Inglaterra,
enquanto os filhos dela eram ou vergonhosamente assassinados
ou levados a se exilar e vagar desesperançadamente através de reinos estrangeiros.
Seu registro transmite a traumática magnitude do que acontecera na Inglaterra
nos anos seguintes a 1066.
A Inglaterra pré-conquista era um velho país, como Orderic o descreve.
Depois, se transformou num completamente novo.
É claro, nem tudo mudou,
e se olhar para uma lista de instituições governamentais
você poderia supor que nada houvera mudado;
que uma classe de governantes chutara fora outra classe de governantes.
Grande coisa!
Mas eu penso mais que, na realidade, era uma grande coisa.
Imagine as elites do interior da Inglaterra - padres, proprietários, juízes
todos exterminados durante a noite, metade deles mortos,
e o resto humilhados, falidos, substituídos por uma classe alienígena.
Eles falam diferentemente, eles parecem diferentes, eles tomam o que querem quando querem,
e então carimbam a decisão em suas cortes.
Eles também constroem diferentemente.
A catedral de Ely é um desses lugares,
onde a escala intimista das igrejas saxônicas
fora substituída por uma demonstração de massivo triunfalismo.
Estas colunas falam de autoridade e poder rude.
Eles ordenam obediência e reverência.
Eles são, no senso mais literal, assustadores.
Era essa a diferença
entre o imenso volume Romanesco das grandes catedrais Normandas
e os pequenos espaços das capelas Saxônicas.
Existe outra diferença notável entre os antigos e novos líderes da Inglaterra:
Anglo-saxões não usavam sobrenomes.
Eles se chamavam Cedric ou Edgar de algum lugar ou outro.
Mas os normandos incorporaram lugares
aos seus próprios nomes como num ato de posse.
Eles eram Roger da bela colina - Roger Beau-Mont -
como se o lugar fosse deles e eles fossem donos de tudo.
Em fato, preservar os bens intactos
era tudo o que a nobreza Normanda fazia.
Foram eles que introduziram a prática de transmitir propriedades inteiras
intactas para um herdeiro, o filho mais velho.
O jeito decisivo, não sentimental com as coisas, era o jeito normando.
dando uma visão pragmática aos contratos e costumes confusos
que vinham sendo usados pelos Anglo-saxões.
E era neste espírito que William, em 1085,
criou a corte em Gloucester e lançou a argumentavelmente
mais extraordinária campanha de todo seu reino, uma campanha por informação.
Nós tendemos a pensar de William mais ou menos como permanentemente na sela do cavalo.
Ele cresceu em um mundo, afinal, onde a autoridade era exercida usualmente
na lâmina de uma espada.
Então é ainda mais impressionante que ele tenha entendido instintivamente
que informação também pode ser poder.
William, o conquistador, foi o primeiro rei "banco-de-dados".
Sua necessidade imediata era elevar impostos,
mas a compilação do livro do censo - Domesday book - era mais que somente um exame glorificado.
Era um inventário completo de tudo no reino,
distrito por distrito, suíno por suíno;
quem era dono do quê antes da vinda dos normandos e quem era dono agora;
quanto valia naquela época e quanto vale agora.
O rei enviou seus homens por toda Inglaterra, para cada distrito,
para descobrir quantas centenas de peles existiam em cada distrito,
que terras e gado o rei tinha propriedade no país.
E tão detalhadamente ele mandou investigar
que não havia nenhuma pele nem - vergonha relatar,
mas não parecia que ele se envergonhava - havia um boi ou uma vaca
deixados fora e não descritos nos registros.
Enquanto algumas das informações eram tomadas verbalmente pelos escribas de William,
outras devem sua existência aos registros Saxões.
O paradoxo mais extraordinário sobre o Domesday Book
era que o que pensamos sobre como sendo um monumento ao poder e força dos Normandos
devia-se ao maquinário avançado de governança
deixado ali pela velha monarquia Anglo-saxônica.
E foi graças a isso que os dados foram coletados
a tal velocidade, em menos de seis meses.
Os resultados foram apresentados a William aqui em Old Sarum,
um forte antigo da idade do ferro dentro do qual ele construiu
um espetacular palácio real.
Quando ele tomou poder do Domesday Book,
foi como se William tivesse recebido as chaves do reino novamente,
como se ele tivesse re-conquistado a Inglaterra, mas desta vez, estatisticamente,
porque esta informação era mais impenetrável que qualquer castelo.
Foi chamada The Domesday Book, afinal,
porque fora dito que suas decisões eram definitivas como o Julgamento Final(Apocalipse).
A igreja possui Wenlock.
Há 20 peles, quatro das quais foram extraídas de impostos do rei Canuto.
Há 15 escravos, dois moinhos servem os monges, mais uma área de pesca.
Floresta suficiente para engordar 300 porcos, e duas áreas cercadas.
Valendo hoje doze libras esterlinas.
Duas cerimônias tomaram lugar no festival da colheita, 1087, em Old Sarum.
Primeiro, todo nobre da Inglaterra reuniu-se aqui
para prestar um juramento de lealdade ao rei.
Então veio a entrega do livro,
a arma absoluta para mantê-los na linha.
Ninguém podia esconder nada, e era este livro,
o Domesday Book, que fez a reunião em Old Sarum
única na história da monarquia feudal na Europa.
Pois o livro, no final das contas, ERA a Inglaterra.
Passados séculos, este era o segredo do governo Inglês,
uma parceria entre o poder das classes de proprietários
e da autoridade do Estado,
entre os guardiões dos campos verdes e os mantenedores do conhecimento.
No canto da mão direita, os nobres
no canto da mão esquerda, o serviço civil.
Entre eles, o eterno árbitro, o rei.
Mas o árbitro estava finalmente sentindo a pressão disso tudo.
Não foi surpresa quando, aos 60,
William ainda não podia resistir a brincar de senhor da guerra.
Em 1087, ele subjugou uma disputa de fronteira na França
destruindo totalmente a cidade de Mantes.
Mas talvez esta devastação tenha sido demais,
pois uma tábua flamejante caída de uma casa queimada por seus soldados
caiu exatamente na frente do rei. O cavalo de William repentinamente empinou,
jogando o rei, agora acima do peso, violentamente contra sua sela,
suas vísceras tomando toda a força do golpe.
Mortalmente ferido, William foi levado a um convento em Rouen.
No final, Orderic Vitalis colocou na boca de William
uma confissão extraordinária de leito de morte,
tão penitencial, tão absolutamente não característica
que aparenta, justamente por isso, ser completamente inacreditável.
Mas se William realmente falou essas palavras ou não,
elas claramente refletiram o que algumas, talvez muitas pessoas,
sentiam sobre William, o conquistador - que quando todas as batalhas foram vencidas,
quando as leis foram todas promulgadas, ele era o que ele sempre houvera sido,
um aventureiro brutal.
E a conquista da Inglaterra não fora uma causa justa,
mas somente uma grande jogada de dados da história.
Eu não indico ninguém como meu herdeiro à coroa da Inglaterra
pois eu não alcancei esta honra por direito hereditário,
mas lutei por ela com o perjurador rei Haroldo
numa batalha desesperada com muito derramamento de sangue humano.
Eu persegui seus habitantes nativos além de toda a razão.
Fossem nobres ou pobres, Eu os oprimi cruelmente.
Muitos eu injustamente deserdei.
Inumeráveis multidões, especialmente no distrito de York,
pereceram por minha causa pela fome ou pela espada.
Tendo então construído meu caminho ao trono daquele reino
com tantos crimes, eu não ouso deixá-lo a ninguém exceto a Deus,
para que, depois de minha morte, piores coisas não aconteçam por minha culpa.
Uma vez ele se fora, nas primeiras horas da manhã
de 9 de setembro de 1087, uma cena chocante se formou.
Seus seguidores mais próximos agora manifestavam suas últimas homenagens a William
desertando-o todos,
correndo aos quatro cantos do reino para assegurar suas terras,
deixando o corpo para ser despojado pelos criados,
totalmente nu, inchado e começando a apodrecer no chão do monastério.
Então o homem que consumiu sua vida tomando tudo o que podia
por todos os meios, foi finalmente roubado de tudo,
até mesmo sua dignidade.
Talvez a mão de deus tenha decidido que este era um final apropriado.
E, quanto a seu antigo antagonista, Haroldo,
ele certamente não permaneceu enterrado na costa que encara o Canal,
como alguns historiadores normandos sugerem.
Rumores dizem que ele escapara e estava vivendo como um eremita.
Mas outra história que é bem mais provável ser verdade -
que uma vez estivessem seguras, as sobreviventes (mulheres) da família
tomaram os restos de Haroldo e os enterraram aqui na abadia de Waltham.
De acordo com William e o Papa,
Haroldo supostamente era um espoliador da Igreja, merecendo a destruição.
Mas os monges de Waltham aparentemente não concordavam,
pois eles secretamente o enterraram e rezaram por sua alma.
Em algum lugar, então, debaixo das colunas e arcos
desta igreja Romanesca, está o último rei Anglo-saxão,
literalmente parte das fundações da Inglaterra Normanda.