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PEGAZUL
Era uma vez, vejam vocês,
um passarinho feio...
Que não sabia o que era, nem de onde veio.
Então vivia, vivia a sonhar
em ser o que não era.
Voando, voando com as asas da quimera.
Sonhava ser uma gaivota
porque ela é linda e todo mundo nota.
Naquela de pretensão queria ser um gavião.
Quando estava feliz, feliz
quis ser a misteriosa perdiz.
Vejam então que vergonha
quando quis ser a sagrada cegonha!
Com a vontade esparsa
sonhava ser uma linda garça.
Num instante de desengano
queria apenas ser um tucano.
Foi aquele, aquele tititi
quando quis ser um colibri!
Por isso lhe pisaram o calo,
aí então cantou de galo.
Sonhava com a casa de barro,
a do João de Barro, e ficava triste.
Tão triste assim como tu,
querendo ser o sinistro urubu.
Quando queria causar estorvo
então imitava o sombrio corvo.
Até hoje ainda se discute
se é mesmo verdade que virou abutre.
Quando já estava querendo
aquela paz dos sabiás.
Cansado de viver na sombra,
voar, revoar feito a linda pomba.
Ao sentir a falta de um grande carinho,
então cantava feito um canarinho.
Assim o passarinho feio
quis ser até pombo-correio!
Aí então Deus chegou e disse:
"Pegue as mágoas,"
pegue as mágoas e apague-as,
tenha o orgulho das águias!"
E o passarinho feio virou cavalo voador.
Esse tal de Pégaso.
Pégaso, Pégaso, Pégaso, Pégaso...
Pega o azul,
pégazul!
Imagens: Tarcísio Tatit Sapienza
Texto: Jorge Mautner