Tip:
Highlight text to annotate it
X
Eu Simpl’cio
filho do senhor Deus
vim ao mundo para trabalhar a terra
j‡ trabalhei mesmo
porque j‡ trabalhei muito
porque o trabalho Ž uma riqueza da terra
tenho uma hist—ria para contar
para aqueles que v‹o nascer
Homem rico
homem rico Ž aquele
um homem para ser sŽrio
um homem sŽrio
n‹o precisa ser rico
agora um homem por ser rico
dizem que Ž sŽrio
muitas vezes n‹o Ž sŽrio
existe um homem que Ž pobre mas sŽrio porque Ž completo
faz todas as coisas dentro da realidade
Eu quero trabalhar para deixar o senhor Deus contente
porque um homem trabalha no seu servi o
cuida da sua fam’lia
ent‹o
eu acho que assim est‡ bem
cuida da sua fam’lia trabalha no seu trabalho
eu acho que est‡ bem
mas
eu n‹o tenho nada
tenho que trabalhar para encontrar o p‹o de cada dia
Quem vive da natureza, acho que Ž quem vive no campo
ele trabalha
sem estar ligado ao estado
ele trabalha
com
com as suas m‹os
na terra
aquele que est‡ na cidade e trabalha com o estado
trabalha s— l‡
mas o dinheiro que arranja, Ž para dividir com quem est‡ no campo
Se ele vai do campo para a cidade
sim!
‡s vezes vai!
O corpo deixa de poder trabalhar
consegue fazer uma boa casa l‡
consegue por os filhos na escola
bem
para poderem ser um grande engenheiro
ele vai morar para a cidade
mas se n‹o conseguir arranjar maneira
j‡ n‹o consegue ir viver na cidade
porque para viver na cidade Ž preciso ter casa
com tudo pronto
Ž preciso ter trabalho ˆ vontade
para viver l‡
para poder parar por l‡
Precisa de muito dinheiro?
ƒ preciso dinheiro sem dinheiro n‹o pode l‡ viver
porque na cidade gasta-se muito tambŽm
se n‹o tiver l‡ um bom trabalho
se n‹o tiver um trabalho bom
j‡ n‹o se consegue morar l‡
porque fazer uma casa na cidade Ž caro
custa muito dinheiro
Voc gosta de viver no campo ou quer ir para a cidade?
Eu
nasci no campo
criei-me aqui
quando tiver mais idade, ent‹o vou viver para a cidade
mas tenho que ter uma casa l‡, se n‹o tiver n‹o posso ir para l‡ viver
tenho que trabalhar sempre no campo
porque o servi o do campo Ž um bocado duro
mas eu estou habituado
porque nasci, cresci e ainda trabalho no campo
nasci, cresci e ainda trabalho no campo
O servi o de hoje ainda n‹o acabou
ainda tenho um cesto para fazer
que fa o tambŽm em conjunto com o trabalho dos animais
Devido ˆ falta de chuva
este ano temos pouco leite
j‡ n‹o posso trabalhar no queijo
se tivesse uma m‡quina de fazer ra ‹o
dava ra ‹o aos animais e tinha leite
m‡quina de fazer ra ‹o
mas comprar uma m‡quina de fazer ra ‹o Ž caro
n‹o consigo comprar
n‹o tenho dinheiro suficiente
se tivesse j‡ tinha comprado
porque s— para pagar
o dinheiro n‹o chega
Ent‹o vamos para outro trabalho!
Eu vivia com o meu pai
comecei a trabalhar com ele aos dez anos
depois de acordar e levantar da cama
’amo-nos lavar
dava-mos comida aos animais
depois de dar comida aos animais
faziamos o pequeno almo o
depois de comer ia-mos apanhar lenha
ao voltar a nossa m‹e j‡ tinha o almo o preparado
almo ava-mos
descan avamos um pouco e saiamos para buscar ‡gua
conheci o Simpl’cio com 16 anos
tinha 16 anos
Aqui na Achada Bilim?
Eu tinha 16 anos quando o conheci
vim viver para a Achada Bilim com 18 anos
cas‡mos e come ‡mos a viver juntos
fazemos o nosso trabalho
vivemos bem
vendemos o nosso leite
quando n‹o temos leite
vendemos uma das vacas
quando as vacas t m crias
podemos vender um bezerro, e conseguimos viver
Ž assim que n—s vivemos
n‹o temos outra forma de viver
n‹o trabalhamos para o estado vivemos s— com o gado
Chove pouco
tem que chover mais para termos pasto
para os animais
Este ano sinto que Deus vai dar mais chuva
para termos mais pasto para os animais
e alguma coisa para n—s tambŽm
Hist—ria Ž algo muito importante
para quem h‡ de nascer
a hist—ria Ž muito importante para quem h‡ de nascer
para encontrar uma hist—ria e saber como se vive
portanto se n‹o deixarmos uma hist—ria, para aqueles que v‹o nascer ouvir
trabalhamos mal neste mundo
J‡ trabalhei muito neste servi o
atŽ aos 53 anos
e ainda continuo a trabalhar
durante o tempo da minha vida vivi sempre disto
nunca trabalhei em nada sem ser isto
a cestaria e a pastor’cia
Ritinha como se chama esse instrumento?
Balaio
E esse Trabalho?
Estou a pilar para fazer farinha
O movimento com o balaio como se chama?
Estou a tentear
tentear serve para que?
serve para fazer cœscœs
faz cœscœs, faz papa, faz xŽren
faz ***
todas as coisas
Cesarino vai fechar a porta l‡ atr‡s
Vou p™r ao lume para fazer cœscœs
este Ž o binde de Cabo Verde com que se faz o cœscœs
tradi ‹o da nossa terra
estou a tapar para poder cozer
porque se n‹o se tapar a farinha n‹o coze
tapa-se bem e p™e-se o lume brando para poder cozer o cœscœs
com ‡gua?
sim com ‡gua
p™e-se ‡gua na panela atŽ ferver
s— depois se p™e o Binde
para poder cozer
J‡ est‡ cozido
Estou a almo ar
na mesa do pastor
aqui no deserto
cœscœs de milho
com leite de vaca
que Ž do meu trabalho aqui no campo
A vida Ž assim
quando chove semeamos no campo
se der vamos colher
apanhamos feij‹o e bongolon
vamos cortar o milho
depois descascamos, debulhamos
e guardamos o milho nos bidons
h‡ tr s anos seguidos que semeamos
ca’ chuva mas o milho n‹o se d‡
como no ano passado
os gafanhotos comeram tudo
quem tiver animais pode vender e fazer algum dinheiro
vende galinhas
‡s vezes vacas ou cabras
vende-se e vai dando para
desenrascar
o trabalho do pap‡ Ž muito cansativo
n—s para estudarmos pass‡mos mesmo por grandes dificuldades
estudamos para arranjar um trabalho melhor que o nosso pai
porque o seu trabalho Ž muito cansativo
e depois Ž um trabalho a que ninguem d‡ valor
o seu trabalho Ž todo no campo
depois de terminarmos os estudos
queremos encontrar um trabalho
onde podemos dizer que as dificuldades porque pass‡mos
j‡ est‹o ultrapassadas
Vo s querem sair do campo?
Sim queremos sair do campo
para ir para a cidade como toda a gente
porque vivemos num lugar isolado e deserto
Aqui viviamos com a chuva
quando era muita
a vida era boa
agora j‡ levamos tr s anos sem chover
chove t‹o pouco que a palha que d‡ n‹o chega
n‹o nos chega
d‡ pouca palha
mas quando chove muito temos palha suficiente para os animais
foi assim que o meu pai viveu
atŽ aos 89 anos
aqui na Achada Bilim
porque nesse tempo vivia muita gente aqui
depois muitos foram embora em busca de trabalho
mudou-se muita gente
s— eu e o meu irm‹o continuamos a viver por aqui
mas o meu pai viveu bem
porque naquele tempo
fazia-se casas com pedra e barro
est‡ aqui feito
uma casa s— de pedra e barro
faz-se um caboco e ergue-se da’ a casa
paredes de pedra sem cimento nem ferro
s— pedra e barro
pedra e barro Ž isto aqui
pedra Ž isto
barro Ž terra
molha-se e p™e-se uma pedra em cima
e mais outra por cima
olha barro aqui
olha barro ali
olha barro aqui
aqui dei um retoque
mas faz poucos dias
Sou o Cesarino de Achada Bilim
filho do Simpl’cio
Gostas de cantar?
Sim gosto muito de cantar tambem
Sinto muita vontade de cantar quando tenho o r‡dio na m‹o
oi o e gosto de seguir alguns passos assim
mas n‹o quero imitar as letras
quero inventar as minhas
mas dentro dos mesmos tons
Gosto muito destas coisas
N‹o h‡ ‡gua?
A pia est‡ seca Simpl’cio
A pia est‡ seca
Est‡ seca
A pia n‹o tem ‡gua?
Se a pia n‹o tem ‡gua?
n‹o h‡ ‡gua
O chafariz tem ‡gua?
No chafariz j‡ n‹o se vende mais ‡gua
J‡ n‹o se vende?
N‹o h‡ ‡gua n‹o
Hoje as vacas ficam com sede
a bateria est‡ seca
temos gas—leo mas n‹o conseguimos puxar a ‡gua
a bateria acabou o motor n‹o consegue puxar a ‡gua
agora Ž para trazer ‡gua da vila
para encher o tanque
que d‡ para cada casa
e dar dessa ‡gua ‡s vacas
atŽ que se mude a bateria
and‡mos 2 horas de caminho
as vacas ˆ 3 dias que n‹o bebem
2 horas de caminho e n‹o h‡ ‡gua para dar ‡s vacas
amanh‹ faz 4 dias que n‹o bebem
se n‹o houver ‡gua amanh‹ faz 5 dias sem as vacas beberem
agora s— v‹o beber depois de amanh‹
H‡ 4 dias que as vacas n‹o bebem
olha como a pia est‡ seca
h‡ 4 dias que as vacas n‹o bebem
vim para dar de beber mas a pia est‡ seca por falta de ‡gua
o motor est‡ avariado
n‹o h‡ ‡gua
a ‡gua da nascente secou
ficou s— a ‡gua do furo
para dar ‡s vacas
mas quando o motor est‡ avariado como hoje
n‹o h‡ ‡gua na pia durante muitos dias
porque o motor est‡ estragado
mas
as vacas j‡ n‹o bebem faz 3 dias
amanh‹ faz 4 dias
tenho de voltar a procurar ‡gua longe para dar ‡s vacas outra vez
se conseguir
ainda tenho de arranjar um carro
Ž um problema que temos
falta de chuva
o que fa o agora com estas vacas
que chegaram aqui atŽ ˆ pia sem ‡gua para beber
para voltar outra vez para casa
caramba
Um dia estava l‡ na minha casa
a minha casa Ž no terreno l‡ em baixo
estava na minha casa e chegou um carteiro
com uma carta e um bilhete de avi‹o
para ir para Portugal
para ir trabalhar nas artes tradicionais
de Cabo Verde
a minha casa Ž l‡ no fundo
vivi sempre l‡
a trabalhar a terra e nas artes
Cansado!
grande cansa o que Ž este caminho
de qualquer forma tenho de ir
atŽ Achada Bilim ˆ casa do senhor Simpl’cio
para lhe entregar esta carta
que veio de Portugal
porque
Ž muito interessante para ele
E’ p‡
carta para o Simpl’cio
N—s sa’mos de Cabo Verde
para ir para Portugal
para conhecer
para conhecer uma grande hist—ria
para vir contar aqui
a quem n‹o foi
n—s existimos para deixar uma hist—ria
uma hist—ria bonita
eu nunca pensei
que ia a Portugal
eu n‹o pensava
que ia para Portugal
porque eu n‹o tenho dinheiro
para ir a Portugal
N—s temos falta de ‡gua
o carro demorou para trazer ‡gua estes dias
nos œltimos dias o carro n‹o trouxe ‡gua
Aten ‹o ‡s vacas, ouviram
O qu ?
Aten ‹o ‡s vacas
Estamos na ponta do Sengal
Aqui morava muita gente
gente que tinha hortas
que nem conheci
mas Ž uma hist—ria para contar
porque eram fam’lia antiga do meu pai
moravam por aqui
para ali
moravam muitos para l‡
moravam muitos para aquele lado de l‡
Todo este lugar desde l‡ de cima atŽ aqui em baixo
era um lugar s— de hortas
tinha papaia
banana
cana de a ucar
cebola
todos os tipos de produtos da horta
davam-se aqui
mas a ‡gua secou
estas coisas acabaram todas
havia aqui muita gente
mas a ‡gua acabou
que atŽ os coqueiros secaram
olha quantos pŽs de c™co secos ali
um lugar que tinha tantos coqueiros
a falta de ‡gua fez secar tudo
secou quase tudo
era um lugar que tinha mais de 200 pŽs de c™co
Essas coisas agora j‡ n‹o existem
ent‹o
j‡ n‹o se pode dizer que vivemos bem aqui
aqui j‡ n‹o est‡ bom
porque um lugar sem ‡gua
que dava tanta coisa para comer
sem nada
e agora onde Ž que se vive bem aqui
a fartura j‡ n‹o est‡ aqui mais n‹o
Todo este lugar, esta zona
n‹o tem nada para os animais comerem
todo este lugar, esta zona
n‹o d‡ nada para os animais comerem
assim os animais sofrem muito
faltam poucos meses
para as chuvas
quando chega Agosto
o senhor Deus d‡-nos chuva
quando o senhor Deus nos der chuva
ficamos felizes
queremos ir mas ficamos tristes
porque n‹o conhe o para onde vou
fica muito longe
nem sei bem onde fica
mas eu vou agora
Ž mesmo a minha sabedoria que me leva para l‡
Ž o servi o de artes que me leva para l‡
Tenho o primeiro filho
segundo
terceiro
quarto
ent‹o
ali est‡ a minha mulher
hoje despe o-me deles
porque vou para Portugal
vou passar um 1 m s e 10 dias em Portugal
ent‹o s‹o 40 dias que passo fora
tenho de lhes dizer
o que devem fazer aqui
porque Ž devido ˆ minha profiss‹o
que vou a Portugal
a minha profiss‹o Ž que me leva para l‡
n‹o Ž o dinheiro que me leva
n‹o Ž
a falar por falar que vou
vou atravŽs da minha profiss‹o
que est‡ feita aqui
e vou fazer em Portugal
ent‹o eu digo para toda a gente
estudar arte
para lhe servir amanh‹
porque n—s vivemos para deixar uma hist—ria para contar amanh‹
J‡ cheg‡mos ao aeroporto da Praia
o embarque Ž ‡s 3 horas
‡s 3 horas embarco, e ‡s 7 horas estou em Portugal
Nem eu pr—prio dizia
que a minha profiss‹o me levaria a Portugal
ainda por cima Portugal fica longe
mas eu vou
Ž a minha profiss‹o que me leva para Portugal
vai me levar ˆ terra dos brancos
portanto a minha profiss‹o tem valor
quem n‹o sabe o que Ž arte
n‹o sabe
mas se soubesse
aprendia
para lhe servir amanh‹
J‡ cheguei!
J‡ cheguei! ƒ aqui!
Sim Ž aqui
agora estamos a descer
descemos
descemos
descemos
e vamos
As portas abriram
ent‹o vamos
vou com a minha mala
vamos
Olha a estrada
esta Ž que Ž a estrada
onde ouvi dizer que
andam 3 carros ao mesmo tempo
j‡ aqui cheguei
Olha a ponte
Aquilo Ž s— ‡gua que est‡ ali?
Ž o mar?
n‹o Ž um rio
Ž um rio?
Ent‹o um rio Ž assim
pensava que era o mar
Ž um rio que est‡ aqui
J‡ tinha ouvido dizer
n‹o conhecia mas agora j‡ vi
j‡ conhe o e Ž bonito
para estar e ver
Vamos pela estrada
o caminho Ž longe
mas estamos quase a chegar
Quando pass‡mos o tœnel
e sa’mos pelo outro lado
cheg‡mos ao Fund‹o
quando cheguei ao Fund‹o
cheguei com um motorista
e veio outro motorista para conduzir o carro
e levar-me para a casa do Sr. Ant—nio
Boa tarde
como t m passado?
tudo bem?
O material Ž duro
O senhor pode ver
a dona pode ver
j‡ n‹o tenho mais nada para fazer
Todo o servi o tem grande valor
eu pensava que o meu servi o n‹o tinha valor
s— quando cheguei a portugal percebi o valor do meu servi o
naquele dia que apanhei o avi‹o na Praia
descobri o valor do meu servi o
est‡s a ouvir Andreia?
Aaquele dia que apanhei o avi‹o na Praia conheci o valor do meu trabalho
quando desci do avi‹o em Portugal
e estava um carro ˆ minha espera
fiquei a pensar no meu trabalho
que valor tem?
porque eu Simpl’cio n‹o paguei nada
nem os tranportes nem o bilhete
compraram o bilhete e entregaram aqui em casa
para eu levar a minha arte para o estrangeiro
Olha palha
Cabo Verde tem tanta falta de palha
olha palha para o gado ali
aqui h‡ muitas ‡rvores
portanto a terra est‡ trabalhada
e est‡ bem
porque quem plantou estas ‡rvores aqui
plantou para servir aqueles que v‹o nascer
Aqui Ž bom
disseram-me que era bom
e Ž mesmo bom
Ž bonito para estar e eu j‡ conhe o
portanto mesmo que me v‡ embora amanh‹ cedo
j‡ conhe o alguma coisa
Agora vou come ar outro trabalho
Quando cheguei de Cabo Verde fui para o Fund‹o
Fiquei por l‡ uma semana
estive uma semana no Fund‹o
a trabalhar com o sr. Ant—nio cesteiro
trabalh‡mos em cestaria
fizemos um encontro de trabalho
ent‹o depois de terminar o encontro de trabalho
apanhei um transporte para Montemor-o-Novo
Ananil Ž o nome
de um lugar onde havia um moinho
que mo’a o milho antes de existir o motor a gas—leo
a ‡gua Ž que era o motor
ent‹o encontrei o Joaquim Canivete
encontrei o sr. Ant—nio do Fund‹o
encontrei a Virg’nia
o SŽrgio que era aluno da Virg’nia
encontrei a Catarina
encontrei a Gra a
encontrei outra senhora, cujo nome j‡ esqueci
Todas estas pessoas chamavam pelo Simpl’cio, o sr. Ant—nio e o sr. Joaquim
eramos n—s os tr s os professores daquelas artes
os outros eram alunos
que tinham os seus projectos para realizar
J‡ nos encontr‡mos no convento
agora vamos para o moinho
fazer trabalhos em artesanato
arte Cabo-Verdiana
O Simpl’cio tem a quarta classe da natureza
n‹o a do papel
mas n‹o h‡ problema
n‹o Ž a quarta classe que vem do papel
Ž a quarta classe que vem da natureza
Ë canalha!
o Simpl’cio dentro das ruas de Lisboa
atravŽs da arte de Cabo Verde
Muitas coisas temos de ir aprender aos livros
mas
os livros s‹o feitos pelo pr—prio homem
Ž o homem que faz os livros
porque tem ideias
e pensa duas noites
meses e anos e mais anos
para conseguir fazer um livro
Ž o homem que os faz
n‹o copia de uns para os outros
isso n‹o
Ž uma ideia que tem
e se achar que o pensamento s— de uma pessoa n‹o chega
juntam-se duas ou quatro pessoas
e fazem um livro
n‹o copiam de um livro para outro
n‹o Ž por j‡ existir um livro, que se copia e se faz outro
dormem de noite, levantam-se e fazem.
De dia trocam as suas ideias
de noite pensam
de dia fazem um livro
Sim
- Estou sim
Quem est‡ l‡? - ƒ a Ritinha
ƒs tu Ritinha? - Sim
Como Ž que voc s est‹o? - Estamos bem
Est‹o todos bem? - Sim, est‡ tudo bom
Est‹o todos com saœde? - Estamos bem gra as a Deus
- J‡ come ou a chover j‡ choveu?
- Sim Ent‹o a terra est‡ boa
- Sim. A palha j‡ come ou a nascer
A palha j‡ nasceu? - Sim
Ent‹o j‡ falta pouco para irmos apanhar a palha
- Se Deus quiser - Est‡ a chover agora mesmo
- N—s j‡ temos tudo semeado
Eu estou longe mas vou regressar
- Fica s— a faltar a monda
S— falta a monda?
- Sim, atŽ que tu voltes
J‡ falta pouco para eu voltar
Ent‹o atŽ amanh‹
Se Deus quiser
- AtŽ quando voltares para Cabo Verde
AtŽ um dia se Deus quiser
ƒ pena voc s n‹o estarem l‡ para ver as pessoas que estavam comigo
amigas e amigos que eu tinha l‡ em Montemor-o-Novo
era s— para voc s l‡ terem estado
Ent‹o como voc s n‹o foram deixo-vos esta hist—ria
e se alguŽm vos perguntar alguma coisa respondem que em tal parte aconteceu assim e assim
Como Ž que voc s fizeram para saber isso?
Sabemos porque o nosso pai esteve l‡ e trabalhou l‡
Agora j‡ apanhei o barco
Olha como Ž este lugar
como Ž trabalhado
como tem ‡gua
como tem luz
Vivemos s— em çfrica, mas temos de encontrar uma forma de conhecer a Europa
porque Ž importante conhecer a Europa
Caramba, isto Ž que Ž trabalho, trabalho mesmo
mas tem que ser
de qualquer maneira um homem tem de estudar e trabalhar
Uma pessoa para subir p™e um pŽ na escada rolante e Ž levado a subir, a subir
a escada ao lado vem com pessoas a descer, a descer
os que sobem, v‹o, v‹o
pensei, caramba!
Sim senhor!
Se fosse para subir a pŽ n‹o sei se conseguia
Caramba, que trabalheira!
Cheguei agora a Lisboa
Sa’mos cedo de Montemor e j‡ and‡mos muito para chegar a Lisboa
Fui visitar uns familiares
Apanhei um carro, depois um barco, depois o metro
Agora que j‡ estou em Lisboa, vou para casa
Vamos!
S— faltava voc s terem l‡ estado para verem e conhecerem
Ent‹o o lugar Ž mesmo bom?
Sim Ž bom. Eu que fui, fiquei com vontade que todos l‡ tivessem estado
para poder conhecer e dizer que j‡ viram alguma coisa
Cidad‹o Cabo-Verdiano
Cidad‹o Cabo-Verdiano, s‡bado vou para a minha terra
S‡bado vou para a minha terra
Saio da minha casa ‡s 8 horas
e embarco ao meio-dia
viagem de avi‹o
ƒ naquele que eu vou! O nosso "barco" j‡ chegou
Vai levar-me para Cabo Verde
Quando cheguei ˆ porta de casa e vi a minha famil’a, o meu trabalho
senti-me mais importante que um homem que trabalhou 40 anos na AmŽrica
l‡ na f‡brica de todos os produtos
quando cheguei a Cabo Verde
dizem que a terra Ž pobre mas Ž rica, porque quando cheguei fiquei contente demais
Quando chegaste j‡ tinha chovido
O que sentiste quando chegaste? Estava tudo diferente ou igual?
Achei mais bonito porque estava tudo verde e molhado
N‹o! Se mudou alguma coisa durante o tempo que estiveste fora?
Estava diferente, mas quando vi a verdura ficou bom como l‡
porque encontrei tudo verde e molhado, encontrei o meu trabalho, a minha fam’lia
Desci do carro, fechei a porta e disse ao motorista, atŽ amanh‹ se Deus quiser
J‡ estou aqui na minha casa
Seme‡mos no m s de julho
Algumas coisas pegaram outras n‹o
Agora j‡ estamos em Setembro mas ainda estamos a trabalhar nos lugares que os bichos estragaram
estragaram mas tambŽm ficou alguma coisa, n‹o muito
mas ainda ficou alguma coisa
assim continuamos a trabalhar para ver se damos um jeito
Para n‹o fazermos fŽ em viver apenas com aquilo que vem de longe
Ž preciso ter fŽ em trabalhar a nossa terra tambŽm
porque se n‹o trabalharmos na nossa terra e ficarmos s— com sentido em trabalhar na Europa
a nossa terra fica sem trabalho, Ž para trabalhar aqui e na Europa
O Simpl’cio viveu sempre em Cabo Verde
Desde que comecei no trabalho aos 14 anos, atŽ aos 53 anos
sem capataz, sem trabalho da C‰mara, sem qualquer outro tipo de trabalho
vivi sempre no campo por conta pr—pria
sempre no campo por minha conta
atŽ aos 53 anos
eu nunca tive um capataz a agarrar-me na camisa para me obrigar a ir trabalhar
O Simpl’cio n‹o! No dia em que quiser ir trabalhar vai, no dia que n‹o quiser, n‹o vai
Ainda n‹o pedi a ninguŽm o favor de me dar de comer
de hoje em diante podem dar-me de comer, mas atŽ hoje ainda n‹o
S— com 53 anos Ž que fui a Portugal
para ir apresentar o meu trabalho
com 53 anos
mas n‹o fui para ir trabalhar em Portugal, fui para dar forma ‹o e voltar para Cabo Verde
Agora vamos juntar a palha que estamos a cortar, para dar aos animais
porque este ano est‡ bonito
porque temos palha
o milho est‡ mais fraco porque o bicho estragou muito
mas vivemos com coragem porque este ano temos palha e n‹o precisamos de comprar tanta coisa
podemos precisar de comprar comida para n—s, mas para os animais j‡ n‹o precisamos de comprar
ent‹o ficamos mais descansados
O milho onde o gafanhoto n‹o comeu j‡ deu espiga
alguns j‡ nasceram, outros j‡ t m fl™r
outros ainda nem a fl™r nasceu
outros pŽs ainda est‹o pequeninos, h‡-de todos os tipos
Ž para o senhor Deus nos dar chuva outra vez
para ajudar no que estiver mais atrasado
para o senhor Deus nos ajudar, sen‹o ficamos a sofrer
como n—s n‹o trabalhamos para o estado
trabalhamos s— com os animais, Ž com isso que vivemos
Ž para o senhor Deus fazer com que nunca nos falte o p‹o
para podermos viver melhor
porque de outra forma n‹o d‡
continuamos a lutar para ver atŽ onde vamos, com Deus
conforme merecemos, assim vamos
Precisamos de trabalhar com grande coragem e muita for a
porque o homem Ž o motor da terra
com grande coragem e grande for a
veio o motor a gas—leo, mas n‹o vale a pena, porque o homem j‡ trabalhava
e o motor a gas—leo sem o homem n‹o funciona
Quem disse que o motor a gas—leo nos deu um grande avan o?
Sem o homem n‹o vale nada!
O homem trabalha a terra desde o in’cio do mundo atŽ ao fim
Ž o homem que trabalha a terra
Ent‹o o motor a gas—leo tem grandes vantagens?
mas apenas serve para o homem terminar o trabalho mais r‡pido
mas o motor da terra Ž o homem
o motor da terra Ž o homem, porque o homem vem da terra
e o homem alimenta-se da terra
e o homem Ž a for a que quebra a rocha para fazer o ferro que trabalha a terra
para deixar progresso para o amanh‹
para quem h‡-de nascer
este aqui j‡ nasceu!
vai achar um trabalho j‡ feito, este que agora nasceu
nasceu ontem para o amanh‹
ele tem que tomar posse do meu trabalho
porque n—s somos o motor da terra
Todo aquele que n‹o sabe o que Ž o homem, deve saber que
o homem Ž o motor da terra