Tip:
Highlight text to annotate it
X
Olá.
Bom, quando se fala de arquitetura,
a primeira coisa que todos imaginam é uma coisa pesada,
uma coisa eterna, uma coisa tectônica.
De verdade, nossa humanidade, desde os tempos ancestrais,
vive flutuando também, flutuando nas águas igualmente antigas, como construir.
Coisas firmes, e com vontade eterna.
De fato, flutuar é uma aprendizagem histórica muito antiga
das últimas inundações, das antigas glaciações
e nós estamos flutuando desde milênios.
São cidades flutuantes,
não são lugares para transportar, senão para morar.
Mas esta arquitetura, movendo-se nos tempos,
chegando nos dias de hoje,
não se adaptaram muito bem às situações contemporâneas,
de fato, hoje em dia, milhões de pessoas moram em casas flutuantes,
mas milhares de pessoas moram em casas flutuantes,
por causa de inundações, tsunamis, enchentes,
pela incapacidade da arquitetura se adaptar à situação contemporânea.
Estamos novamente vivendo uma mudança,
mas nossa arquitetura não é capaz ainda de adaptar-se,
esta estratégia de adaptação ainda não é possível.
Temos situações muito afortunadas,
muito boas de arquiteturas flutuantes, poucas.
Temos outras mais confusas, de arquiteturas flutuantes.
De qualquer forma,
se não encontramos alguma metodologia
para melhorar as arquiteturas flutuantes nas comunidades ribeirinhas,
ou nas áreas críticas,
continuarão acontecendo os problemas que estão acontecendo.
Bom, hoje queria falar de um dos projetos
que foi diretamente influenciado pela Amazônia.
E em 2005, quando cheguei pela primeira vez em Manaus,
no Mamori Art Lab, um laboratório de arte,
um espaço criado por um grupo muito visionário,
começamos a organizar workshops, não só de arquitetura,
mas de design estratégico, de fotografia, de gravações na floresta, etc, etc.
Ficamos anos organizando uma série de workshops para estudar,
para pesquisar modelos possíveis.
Nesse caso, as minhas pesquisas
aqui na Amazônia estão relacionadas a arquitetura flutuante,
várias tipologias, vários estudos de como a arquitetura pode se adaptar de fato.
A Amazônia é um laboratório incrível,
porque as marés sobem mais de 10 metros anualmente,
com isso, as comunidades locais criaram algumas estratégias, táticas
muito inteligentes e muito perspicazes de se adaptar a essa mudança.
Daí nascem as casas flutuantes.
As casas conseguem viajar no perímetro das marés
e mantendo um estilo de vida relacionado com essas maneiras
e esse espaço, 10, 20 metros,
às vezes 400 metros de terra que fica coberta d'água ou sem água.
Nós aprendemos muito, estou aprendendo constantemente no Brasil,
e particularmente na Amazônia.
Criamos vários protótipos utilizando, combinando, material local
com material mais sintético importado, plásticos e outros polímeros,
misturando com materiais naturais, procurando outros tipos de tipologias,
tipologias um pouco transterritoriais.
Até montamos um cinema.
Ficamos viajando uma semana nas regiões do Mamoré
levando uma programação de cinema para as crianças em várias regiões.
Tudo isso para entender qual a dinâmica das arquiteturas flutuantes.
Queria falar de um projeto em especial.
Queria falar de um projeto...
Voltando, depois desses anos de pesquisa, para São Paulo,
um dos projetos paralelos,
dizemos auto-produzidos no meu ateliê, era pensar:
"Vamos criar um projeto de arquitetura flutuante que inspire".
Um projeto de arquitetura flutuante que seja como um laboratório pessoal
para desenvolver todo o sistema
e solucionar todas as possíveis problemáticas de uma arquitetura flutuante.
Desde a energia limpa, desde o tratamento dos esgotos,
desde o tratamento das águas, etc, etc.
Mas qual vai ser o programa desse espaço?
Qual vai ser a função desse espaço?
Vai ser uma espécie de interface flutuante
entre o global e o local?
Por quê na Amazônia?
Qual será a reação, qual vai ser o feedback
dessa plataforma nessas regiões?
O que eu comecei a projetar
era pensando numa estrutura feita com materiais locais,
feita com bambu, uma estrutura sinergética, uma cesta, uma grande cesta,
um elemento que poderia comportar as cargas dinâmicas,
que se poderia mover e flutuar aos ventos,
uma estrutura trançada,
trançar a arquitetura mais do que construir arquitetura.
Neste caso, um teatro, um cinema, com diferentes "setups",
diferentes posições do espaço para poder organizar teatro clássico,
teatro frontal, teatro de passarela.
Esse espaço poderia viajar por vários anos levando cultura, trazendo cultura,
misturando o local ao global.
Mas, enfim, o que eu queria somente falar é que este tipo de projeto,
ou de ideias, como qualquer outro tipo,
são possíveis se são compartilhadas. Obrigado.