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Por que discutir homossexualidade na escola?
"Isso não existe aqui",
ou "não! Isso, se a gente falar disso aqui a gente vai estimular,
que surja homossexualidade".
Olha gente, nós não temos nenhum poder;
nem de estimular para que aconteça
ou para que não aconteça.
Porque o desejo é uma coisa, como a gente viu aqui nesse curso,
muito mais complexa. Então,
por que que a gente tem que falar?
Porque se a gente não falar;
a gente vai estar invisibilizando
uma questão que está presente na escola;
e ela vai estar presente na escola
pelas práticas afetivo-sexuais dos nossos estudantes,
mas sobretudo, e o que é mais grave,
pela violência,
pela homofobia,
pela lesbofobia.
Homofobia mata!
Por um estado laico, defato e de verdade!
Daquilo que nos fez humanos, tudo foi diversidade.
O que é homossexualidade?
Eu acho que existe uma fixação muito grande
sobre a homossexualidade,
existe uma fixação muito grande,
principalmente de professoras e professores,
em querer explicar a origem da homossexualidade.
Quando você me pergunta então, o que é a homossexualidade,
eu fico um pouco ressabiado em responder essa questão.
Mas, mas é uma questão também
que foi respondida por dois grandes antropólogos;
um que é o Peter Fry e o Edward MacRae.
Eles responderam essa questão, o que é a homossexualidade?
E o que eles nos mostram é que a homossexualidade,
ela é uma construção social.
Ela nunca é parte -
então vamos retomar a aula sobre gênero.
que nós tivemos com a professora Flávia motta -
ela nunca é uma essência do indivíduo.
Ela é uma construção social.
A homossexualidade ela só é possível
dentro de um determinado tempo,
dentro de um determinado espaço,
dentro de uma determinada série,
um conjunto de discursos que a circundam.
A homossexualidade não é um dado da natureza do indivíduo.
Ela é possível,
porque vivemos nesse momento,
e vivemos nessa sociedade.
Nós temos sim que,
primeiro, decifrar o que são essas questões.
Muitas professoras não sabem,
acham que, me dizem:
"Ah, aqui na minha escola tem homossexual'.
Quando a gente chega na escola,
na verdade o que tem na escola,
são travestis, transexuais.
As pessoas não sabem qual é a diferença,
e não é a mesma coisa.
Então eu acho que a gente devia começar primeiro, pensando o que que afinal,
é ser homossexual, o que que é ser travesti.
Primeiro então vamos pensar aqui:
Uma coisa é a orientação ***,
orientação *** é: homossexualidade,
bissexualidade ou heterossexualidade.
Homossexualidade, pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo;
bissexualidade, pessoas que gostam de pessoas dos dois sexos;
heterossexualidade, pessoas que gostam do sexo oposto.
A gente vê, por exemplo,
que 40% dos países que fazem parte da ONU,
que seriam 78 países,
ainda na sua legislação,
estão recorrendo a algum tipo de medida,
de alguma lei que vai punir a relação entre pessoas,
maiores de idade e conscientes,
que tem relações com pessoas do mesmo sexo.
Práticas afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo sexo,
elas sempre existiram,
assim nos agrupamentos humanos.
Mas isso que nós estamos chamando de homossexualidade
é uma construção muito recente,
e é uma construção que surge
principalmente, na medicina.
Se tende a pensar,
que o normal seria a heterossexulidade.
Mas desde Freud, no séc. xix
já se sabe que é muito complexo,
que todos nós, de alguma forma,
somos bissexuais.
É a medicina que inventa a homossexualidade.
Hoje a gente chama
de homossexualidade tentando reverter um pouco essa história cruel,
mas a medicina cria, então,
uma, uma patologia chamada homossexualismo.
O discurso da escola,
da religião, das ciências biomédicas e da psicanálise
sobretudo em certos contextos,
tem um papel de normalização da sexualidade.
Tem graduações de falta de direitos,
que a gente pode encontrar.
Mais especificamente
estamos falando de populações LGBT.
Então vai desde a morte,
a pena de morte, para este tipo de delito,
até, por exemplo ficar preso, na cadeia, por 10 anos,
como acontece na Jamaica.
Pode-se expressar essa falta de direitos
na impossibilidade de legalizar as relações conjugais,
como acontece, por exemplo, na Itália,
que é o país de onde eu venho,
não há nenhum tipo de jeito de legalizar a relação.
Na Rússia, por exemplo,
está agora proibido fazer o que eles chamam de "propaganda gay".
Isso quer dizer, que você professor,
se está na sua aula falando de opções
de orientação *** diferente da heterossexual,
pode ser encarcerado.
Então por exemplo, na Rússia,
um projeto como "Gênero e diversidade na escola"
não poderia acontecer.
Então a homossexualidade ela é inventada pela medicina.
Ou seja, o que Foucault nos diz,
e isso que transformou muito a teoria sobre a sexualidade,
ele diz o seguinte:
"A sexualidade é uma invenção histórica".
E a homossexualidade, ele foca na questão da homossexualidade,
ele nos diz o seguinte: a homossexualidade,
a sodomia, a sodomia é o sexo ***,
a sodomia que é muito...
que o sodomita é muito ligado, hoje,
a esses homens que tinham relações afetivo-sexuais com outros homens,
a sodomia ela não definia um tipo de sujeito,
ela não definia um caráter;
ela não definia um passado,
ela não definia uma espécie de sujeito.
Foulcault diz: "O sodomita ele é um reincidente".
É como, por exemplo,
uma pessoa que comete um crime, você entende?
Você não é criminoso, a sua natureza não é criminosa,
você é reincidente naquele crime,
mas você não tem uma natureza criminosa
como tem por exemplo, se a gente pensar as questões da mulher por exemplo.
A mulher muitas vezes,
pela questão bilógica, é muito mais fácil do senso comum
pensar ela como essencialmente ligada a uma identidade,
a um tipo, do que a sodomia.
Ou seja, a sodomia não definia um tipo de sujeito.
a sodomia era uma prática que você praticava
e você poderia ser reincidente ou não. A homossexualidade então,
a partir da medicina,
ela passa a denotar uma espécie de sujeito.
Então a partir da medicina,
nós, homossexuais,
essa expressão "nós, homossexuais",
passou a ser possível.
É um grande filósofo e intelectual francês do século xx,
que foi um dos pioneiros desses estudos sobre a sexualidade,
sobre a disciplina, o campo da disciplina.
A sexualidade histórica,
então, ela foi constituída, criada,
dentro de regimes disciplinares.
A medicina, a psiquiatria, a escola,
claro que contribuíram
para construir um tipo de sexualidade como viável,
então a excluir,
a marginalizar outros tipos de sexualidades.
Mas por exemplo, Foulcault,
ele faz muito bem essa historiografia também.
Essa evolução do conceito de homossexualidade,
e como vai se criando,
como na história tem um discurso autorizado,
que é o discurso, em primeiro lugar da igreja,
e em segundo lugar, da ciência.
Então esse discurso autorizado,
ele vai falar que, digamos,
a sexualidade natural,
e a sexualidde aparentemente normal,
é a sexualidade heterossexual.
Não existia essa noçaõ de pertencimento
de uma homossexualidade, certo?
Então a homossexualidade ela é uma construção social,
e principalmente fundada na medicina.
Só que a gente não pode atribuir a inferioridade
dada a essa identidade *** apenas à medicina.
Nós temos uma influência,
um impacto muito grande, e eu diria até cruel,
por parte das igrejas,
particularmente as igrejas cristãs.
Então eu não vou repetir aqui porque muitas aulas já mencionaram
o papel da religião nessa definição arcaica, tradicional,
sobre as identidades de gênero e ***,
mas as religiões também tiveram um impacto.
E ainda tem,
se a gente olhar, por exemplo, hoje, na mídia,
o que lideranças evangélicas têm dito
sobre a homossexualidade é uma violência,
é um crime, 'deveria ser um crime'.
Então, tem uma diversidade de graduações
de falta de direitos, que configuram, a nível global,
uma situação de desproteção.
Porque há os países que já começam a reconhecer, a legalizar,
por exemplo,
as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo,
mas é um processo ainda longe de ser acabado.
Na escola, os discursos normativos,
de disciplina,
que valorizam uma vez mais os papéis de gênero,
até nos livros escolares,
não tem nenhuma referência explicita, até agora,
uma positivação das pessoas não heterossexuais,
mulheres que não se encaixaram nos papéis do patriarcado, justamente.
A religião, pelo discurso naturalizador,
a lei divina,
a natureza que dita normas fixas imutáveis.
As ciências biomédicas,
acho que também têm um papel,
ou tiveram um papel no século passado,
o que fala também o Foucault,
e a psicanálise, em certos contextos
onde ela tem ainda uma força,
uma importância no campo da "expertise",
ela pode também ter um discurso muito normalizador
em termos de sexualidade. Então,
acho que isso dá para também encaixar e normalizar
a vida *** das pessoas.
Mas então,
tanto a religião como a medicina,
produziram então, uma homossexualidade muito marginal,
muito inferiorizada,
e que passa então a ser
uma população vítima de violência e discriminação.
Assim, os homossexuais passaram,
têm uma história de muita alegria,
de muita contribuição para para a humanidade,
porque os homossexuais contribuem muito
para humanidade, mas nós também
temos uma história que é muito triste,
que é uma história de muita violência
e essa memória, ela permanece nas novas gerações.
Se a gente pega, por exemplo,
a antropóloga francesa
Barbara Glowczewski quando ela fala
da antropologia da catástrofe,
ela está nos dizendo o seguinte:
essa memória da catástrofe,
a memória que eu poderia usar aqui
para usar uma categoria que eu tenho usado, 'a memória das trevas',
ela permanece nas novas gerações.
Então se hoje, por exemplo,
eu venho aqui dar essa aula,
nós estamos em 2013,
com uma camiseta, que foi uma camiseta símbolo
do combate à Ditadura militar
e pela abertura política no Brasil,
é porque essa memória,
ela faz parte.
Eu fico pensando, por exemplo,
quando eu menciono a ditadura militar,
é interessante mencionar por exemplo que em Belo Horizonte.
durante o período da ditadura militar,
as questões de homossexualidade:
existiam políticas públicas
para lidar com a homossexualidade.
só que essas políticas públicas
eram implementadas pela secretária de Limpeza Urbana.
Ou seja, a homossexualidade
e também a questão das drogas, os drogados, as prostitutas,
eram assunto,
eram objeto, da Secretária de Limpeza Urbana. Então
é uma memória muito triste, só que é também uma memória de luta.
Então, a partir do momento que,
no final de 1869, quando a homossexualidade
é criada pela medicina,
é nomeada pela medicina,
até mais ou menos os anos 60,
foi quase um século de um investimento
muito cruel nessas populações.
Mas ao mesmo tempo, essas populações
são pessoas que fazem parte das famílias.
não vamos dizer que o homossexual...
Lógico que 'ele' faz parte das famílias. É ele ou ela,
fazem, estão no seio social,
estão em todas as profissões, em todas as classes sociais.
São pessoas também que circulam
na sociedade e que produzem tal resistência.
Porque, se há um poder,
lugares privilegiados de exercício de poder,
como é a heterossexualidade, por exemplo,
a heterossexualidade é um lugar privilegiado de exercício de poder hoje,
na sociedade.
A homossexualidade, o lugar da homossexualidade
ele produz também, resistência.
E durante essa história, que é muito triste,
há também muita resistência.
E essa resistência,
eu considero, eu acho que todos os movimentos sociais,
a gente viu várias aulas que falam dos 'movimentos sociais'.
Eu gosto muito da criatividade dos movimentos sociais,
na produção de resistência.
E os homossexuais foi a mesma coisa.
Então nós temos lá,
por exemplo, nos anos 60,
que foi uma década muito cruel,
principalmente nos EUA,
como disse a Simone Schmidt, na aula de literatura negra,
é o primeiro pensamento que vem mais sistematizado para nós,
dos EUA, foi um ano muito cruel de uma perseguição
tremenda aos homossexuais.
Então é no final dos anos 60,
particularmente em 69, que pela primeira vez,
e isso é um marco da homossexualidade,
pela primeira vez, homossexuais se reuniram,
principalmente travestis e lésbicas,
para resistir publicamente.
Então isso foi num bar chamado Stonewall,
tem um filme maravilhoso chamado Stonewall,
que é baseado no livro do historiador Martin Dubermann
que é de Nova York,
do Centre of lesbian, Gays Studies em Nova York,
foi o fundador do Centro de estudos Gays e Lésbicos de Nova York,
ele fez um livro chamado Stonewall,
e desse livro surgiu um filme. Que foi Stonewall?
Era um bar,
mas dizem que foi o primeiro bar nesse modelo hoje,
que a gente conhece, de boate gay,
ou seja onde homens podem dançar juntos,
mulheres podem dançar juntas se beijar,
as travestis podiam ir montadas,
porque era, a travestilidade
também era vivida deforma diferente, mas as travestis podiam ir montadas,
eram respeitadas. E o bar existia,
e acontecia, como nós conhecemos nos bares hoje.
Só que tinha um problema,
que era a máfia da bebida alcoólica,
Então os policiais, eles cobravam as propinas
para não fazerem as batidas policiais aos donos dos bares.
E no bar Stonewaall, as batidas começaram
a ficar cada vez mais violentas.
Então, teve um dia,
que foi o dia 28 de junho de 1969,
numa dessas batidas, super violenta,
então os policiais arrancavam as perucas das travestis, batiam:
-"Você é homem!"
Porque é muito comum, dizer para uma travesti,
que se a gente olhar a identidade de gênero dela,
é feminino. Ou seja,
eu nunca vou chamar uma pessoa que tem uma identidade de gênero feminina
de ele.
Eu acho até uma contradição e uma violência!
Então, se eu tenho uma aluna travesti na escola é ELA!
Não é ele, né!
Então, a principal violência dos policiais
era chamar as travestis de ele, o que é um absurdo,
mas é super comum.
Chamavam as travestis de ele, batiam nas lésbicas, nos gays, e tal.
E o que elas fizeram, principalmente as travestis?
Elas pegaram todos os policiais,
os gays, foi uma grande coalizão,
colocaram dentro da boate,
sitiaram a boate, fecharam tudo,
chamaram todos os - que lá em Nova York tem uma rua,
que é a Cristopher Street,
que era uma rua gay, verdadeiramente um gueto gay,
diferente do modelo brasileiro,
que a gente pode pensar -
e sitiaram, fecharam aqueles policiais, e reagiram,
e fizeram uma revolta de três dias que ficou conhecida
como a rebelião de Stonewall.
Isso foi em 69.
Em 70, no dia 28 de junho,
então foi feita a primeira memória,
a primeira marcha de memória a Stonewall,
eles subiram a avenida e fizeram uma marcha
para relembrar Stoneawall,
e desde então,no mundo inteiro, a gente relembra Stonewall,
no que a gente das Paradas
do orgulho LGBT.
Então o orgulho LGBT, quando a gente faz uma parada em Florianópolis,
quando a gente faz uma parada em Criciúma,
os homossexuais estão relembrando Stonewall,
nós estamos relembrando aprimeira rebelião.
Ou seja, as pessoas, tem muita gente que fala assim:
-"Ah, parada é carnaval, o pessoal vai fazer o carnaval na rua".
Mal sabem que nós estamos ali relembrando a nossarebelião,
e a nossa forma de fazer política,
O que é uma relação consensual entre adultos?
É a possibilidade de expressar a própria sexualidade,
assim como a própria afetividade,
dirigindo ela às pessoas que a gente quer dirigir, fundamentalmente.
E se uma pessoa é maior de idade,
se supõe que ela tem direito de, com liberdade,
poder se relacionar com quem quiser.
Mas o que acontece é que há toda uma série de, digamos,
de contrução, de normalização da sexualidade,
que faz com que a única sexualidade legítima,
a única sexualidade normal, a única sexualidade natural,
é a sexualidade que pode acontecer entre um homem e uma mulher,
possivelmente tendo uma abertura para a procriação,
que é o que marca a diferença entre uma sexualidade legítima e uma sexualidade ilegítima,
o que marcou essa diferença até o final do século passado.
Depois tem o Kinsey, que vai vir no século xx,
que vai nos dizer que há um contínuo entre homossexualidade e heterossexualidade.
Então, a homossexualidade, ou heterossexualidade ou bissexualidade, isso a gente vai chamar de orientação ***.
A outra questão é a identidade de gênero.
Agora, o que vai acontecer? Na homossexualidade são pessoas que se sentem, ou homens ou mulheres,
e que desejam alguém do mesmo sexo-gênero.
No entanto, o que vai acontecer com a travestilidade?
A travestilidade são pessoas que nascem com um sexo biológico x, mas que ao longo de seu processo de socialização
vão desejar se vestir, ter um nome, serem reconhecidas, como se fossem do outro sexo-gênero.
Essas pessoas, elas, que é o caso das travestis no Brasil, muitas travestis nascem com o sexo masculino
e se produzem, se tranformam o corpo, para se transformarem em mulheres.
Essas travestis, e nós vamos encontrar muitas na escola, é uma identidade supel legal, positiva
tenho a maior admiração por esse grupo de pessoas super batalhadoras e corajosas na nossa sociedade;
e elas não são homossexuais, elas se consideram heterossexuais, por quê?
Porque elas desejam homens, "homens de verdade"; que se vestem de homens, que tem barba,
que tem uma postura masculina, é esse 'o homem' que é o parceiro ideal, para pessoas transexuais.
Portanto, homossexualidade e travestilidade, não são a mesma coisa, são coisas que tem a ver com orientação ***,
e com identidade de gênero.
A gente tem trabalhado hoje, a homofobia,
não tanto como uma questão psíquica, que define um tipo de personalidade violenta,
mas como um fenômeno mesmo, de um campo de práticas violentas, agressivas, discriminatórias, contra
aqueles sujeitos e aquelas sujeitas que transgridem o esperado de vivência da sua sexualidade segundo o sexo biológico.
A atitude de rejeição, de ódio, de discriminação, contra pessoas homossexuais, as pessoas que não se encaixam com aquelas normas de gênero,
preconceito, porque a homofobia pode ser talvez, uma coisa que machuca as pessoas que não são necessariamente homossexuais.
Muitos estudos lá na França, também, que mostram como também, certos meninos na escola,
que não colam com os papéis de gênero, da masculinidade forte, afirmativa, eles também são vítimas
dos mesmos preconceitos que os meninos que são provavelmente gays.
E mulheres, que não são subjetivamente femininas no papel de gênero, que são mais fortes, mais afirmativas,
elas são também vítimas de lesbofobia, independentemente de elas serem lésbicas ou não.
É uma categoria que surge no senso comum norte americano,
são as próprias populações homossexuais vítimas de opressão, que criam essa categoria para definir o tipo de opressão que elas viviam.
E no momento em que a homossexualidade, ela deixava de ser, para essas populações, para esses grupos,
do pecado, ou da doença e passava a se tornar uma homossexualidade política.
Ela parece uma categoria assim, psicológica. Então ela é apropriada por um pesquisador norte-americano,
da psicologia, no ano de 71; ele tinha uma hipótese para pensar:
-"Será que existe uma personalidade violenta que eu posso definir como homofóbica? Será que eu posso dizer, aquele sujeito é homofóbico?"
Então o que ele constatou? Que não!
A gente poderia complexizar um pouco essa ideia, acrescentando o uso do termo heterossexismo.
O que diferencia o heterossexismo do termo homofobia? Como nasce o termo homofobia?
Homofobia é um termo cunhado por um psicólogo nos anos 70, e ele define como o medo e o desprezo irracionais que uma pessoa,
como indivíduo, pode ter por pessoas não heterossexuais.
O problema do termo homofobia, justamente reincide nisso, na localização individual,
nas pessoas, dessa dificuldade na relação. Mas o que acontece é que não é um problema pessoal,
não é que essa pessoa tem um problema, e por isso, como poderia ser aracnofobia, ela tem medo de aranhas, não.
Tem todo um sistema de valores que hierarquiza a sexualidade também,
e que faz com que a heterossexualidade seja considerada a sexualidade normal, natural, legítima...
Há a "sexualidade legítima" e todos os demais tipos de sexualidade são imorais, ou no mínimo, incompletas,
produzidas por pessoas com algum jeito de algum tipo de problema.
Mas como eu estava falando anteriormente, a gente pode ver que a nível mundial,
temos ainda leis que vão punir, ou que vão a não reconhecer os direitos das pessoas não heterossexuais.
Então, todo esse aparato teórico, legislativo, todas essas histórias de discriminação,
a gente não pode tomá-la e fazê-la como se fosse só um problema individual,
de uma pessoa que não aceita, porque realmente há todo um sistema cultural, que o que está fazendo,
é legítimar a sexualidade heterossexual, e deixar esse espaço de ilegitimidade às sexualidades não heterossexuais.
Então, como eu estava falando realmente de um problema de direitos, temos vários termos que,
digamos, descrevem a ideologia que prescreve que um grupo social tenha menos direitos.
Então, que as mulheres tenham menos direitos que os homens, a ideologia que propunha isso,
a gente fala de sexismo, que as pessoas não brancas, tenham menos direitos que as pessoas brancas,
a gente define ele de racismo, que as pessoas não heterossexuais tenham menos direitos que as pessoas heterossexuais,
a gente define ele de heterossexismo.
Então, é o movimento LGBT, são as organizações do movimento LGBT então, que criam as condições de possibilidade
para se discutir a homossexualidade na escola.
São as organizações que definem, é o movimento social que define a educação
como um lugar prioritário de atuação no combate a homofobia, e na promoção da cidadania LGBT,
principalmente a partir do programa federal Brasil Sem Homofobia, que é um marco na história da homossexualidade no Brasil,
que é a primeira vez que o governo Federal produz um plano né, um programa né, não é plano é um programa,
mas vamos trabalhar como se fosse um plano.
É um plano de combate à homofobia no Brasil, e de promoção a cidadania LGBT.
Então, a área da educação ela se torna prioridade no governo Lula. O que é, imagina gente,
quantos anos de educação nós tivemos no qual o único modelo que se tinha na escola, era a heterossexualidade!
A escola era um lugar que se discutia heterossexualidade, os casais no livro didático, a forma como se trabalhava a biologia do corpo,
era como se o útero fosse voltado exclusivamente para a reprodução, e o pênis também para reprodução,
mas como se fosse uma coisa, como a Maria Filomena gregori falou uma vez numa palestra,
como se fosse uma tomada input-output, que é uma coisa ali, funcional para reprodução.
Então esse foi o modelo que o Brasil colocou na escola né, nos anos 70, 80 e 90.
Esse foi o modelo no qual nós fomos criados.
Hoje não, hoje, nós discutimos os outros modelos, outras questões na escola, porque a escola,
é importante a gente entender, que o papel da escola não é passar uma visão única, e muito menos a visão da maioria.
O papel da escola é mostrar a diversidade, de modelos, de comportamentos, de identidades, de discussões.
E nessa produção crítica, usar o modelo único é um absurdo e uma violência.
Ou seja, muitos homossexuais crescem na escola, sem ter um modelo e é o meu papel
como professor também oportunizar que a diversidade de opiniões, de identidades, ela esteja na escola.
Eu sou estudante do curso de graduação em Ciências Sociais, na Universidade Federal de Santa Catarina;
participo de um coletivo de luta pela diversidade *** chamado Goze, que é um grupo
que se dedica a discutir a questão da homofobia, com um cunho mais, de um cunho político social e cultural.
O grupo goze ele tem feito diversas intervenções a favor da vida, das vivências das pessoas LGBTs na universidade
e em função disso, eu gostaria de compartilhar algumas experiências que eu tive, enquanto homossexual, na escola.
A escola para mim foi marcada por algumas situações de humilhação, de violência.
Eu estava comumente submetido a esse tipo de constrangimento, pelo fato de eu ser homossexual,
e por essa razão eu gostaria de compartilhar com os professores cursistas,
que existe uma necessidade muito grande de uma preparação, que é uma preparação por parte dos professores,
que é no sentido de intervir nessas situações discriminatórias, no ambiente escolar
Porque eu, particularmente, entendo que é completamente contraditório a homofobia
e qualquer tipo de expressão de discriminação na escola, uma vez que a escola é um ambiente educacional
preparado para atuar no desenvolvimento dos indivíduos, no sentido de emancipá-lo
e levá-lo a uma educação libertadora e emancipatória.