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Eu gostaria de fazer um comentário antes de comentar.
Eu esqueci de dizer que há algo que sempre aparece nesse tipo de simpósio.
Eu sei que um dos problemas da ciência é que as pessoas que tem muita
instrução e que dão lares maravilhosos para as crianças saem da apresentação
não se preocupando com aquilo que eles fizeram certo,
mas o que deveriam fazer diferente.
O desenvolvimento é bastante forte, mas as crianças são muito adaptáveis,
e se tivesse só uma forma certa de fazer as coisas,
nós como espécie teríamos desaparecido.
Há muito do que as fazem naturalmente, e há a adaptabilidade das crianças.
Não é preciso fazer tudo certo todos os dias. As crianças aprendem a lidar com
o estresse de uma série de formas.
Eu estava falando do dano potencial nas crianças que, dia após dia,
vivem em circunstâncias muito difíceis.
Não é como as crianças que vivem em melhores meios podem ser ofendidas.
Eu gostaria de passar rapidamente por um modelo lógico, de como podemos
pegar a ciência e aplicá-la de forma sistemática
á estratégias para políticas e políticas e programas.
Se começamos com os desfechos,
há três categorias de… três desfechos de longo prazo.
Três resultados.
Um é o comportamento relacionado à saúde da população.
Alimentação, exercício, não usar drogas, álcool.
Que vivem o tipo de vida que promovem o desenvolvimento saudável.
O segundo é o êxito educacional e produtividade econômica.
O terceiro, saúde mental.
A ciência nos diz que nós podemos abordar os mesmo resultados pelo que
fazemos na infância precoce.
Na verdade, tudo tem a ver com a promoção do desenvolvimento saudável.
Eu já falei anteriormente que a biologia da saúde, aprendizado e comportamento
nos diz que tudo é interação entre genes e meio ambiente,
e isto produz a adaptação fisiológica saudável ou problemática.
E, não há cérebros perfeitos, não há sistemas imunológicos perfeitos.
Todos temos imperfeições.
Não é uma perfeição mágica.
É, sim, nos aproximarmos ao espectro da saúde e da competência.
Há duas formas em que a interação entre genes e meio ambiente promove os resultados.
Eu disse que há o efeito cumulativo ao longo do tempo.
São experiências positivas sobre positivas que vão levar à desfechos felizes.
Mas, adversidade e estresse crônicos levam à desfechos ruins.
Também podemos ter o impacto por coisas que ocorrem biologicamente em
períodos extremamente sensíveis.
Não há um acúmulo ao longo do tempo, mas é um momento no desenvolvimento
onde a sensibilidade é ideal.
Então, digamos algo durante a gravidez.
Eu não sugeriria um copo de vinho no jantar de um bebê de um ano todos os
dias, mas isto é tão prejudicial quanto o álcool durante a gestação.
Ele pode afetar o desenvolvimento precoce, e nos Estados Unidos é a causa
principal do retardo mental, e também catapora e… rubéola…
perdão… é um período crítico durante a gravidez se a mãe se contamina e
transmite ao feto pode levar à cegueira, afecções cardíacas.
São períodos sensíveis no desenvolvimento, e sabemos que devem
protegidos, além do efeito cumulativo ao longo do tempo.
São duas coisas distintas.
Então, como pegamos a ciência e
pensamos na prática e nas políticas?
Nós resumimos a ciência para dizer que havia três áreas importantes para focalizar.
As bases do desenvolvimento saudável, eu já falei disso.
A importância das relações estáveis responsivas, ambientes seguros e que
dão apoio e suporte.
São os ambientes em que as crianças crescem.
É preciso que estejam protegidos da violência.
Também é preciso que haja alimento.
É preciso que seja um lugar que haja o compartilhamento.
Isto tem um impacto.
E, claro, a nutrição tem um impacto e é criticamente importante.
O problema com nutrição costumava ser subnutrição.
Então, nós tínhamos o crescimento inadequado, e isso continua a ser um
problema em alguns problemas, deficiência de ferro, deficiência de zinco
e outros nutrientes.
Mas temos outro problema da nutrição, que é o excesso da alimentação,
com a obesidade aumentando endemicamente.
Lembrem-se de quando eu falei da fome, e que não havia o suficiente para se
alimentar, o sistema metabólico aprendeu a criar reservas e,
muitas vezes, a obesidade pode depender ou ser resultado de alterações
metabólicas anteriores.
Então, como fortalecemos as bases do desenvolvimento saudável?
É criar a capacidade daqueles que se ocupam das crianças
e das comunidades.
Tempo e compromisso, eu os felicito.
Vocês tem uma licença depois do parto e até o pai tem essa licença.
Muitos países tem períodos mais longos e, nos Estados Unidos, para metade da
população, oferecemos 3 meses sem pagamento, e prometemos
o emprego de volta.
Estamos muito atrasados.
Então, naturalmente, se há muitos filhos, há menos tempo para criar um relacionamento.
Há recursos financeiros, psicológicos, institucionais.
É muito importante que os recursos,
se eles não estejam disponíveis nas famílias, que eles estejam na comunidade.
E a habilidade e conhecimento dos pais tem um papel.
Será que eles estão preparados para proporcionar um desenvolvimento atualizado?
E se os pais não, será que a comunidade sim? Esta são as possibilidades de criar
a capacidade dos adultos para serem pais, e da comunidade para ajudar os pais.
E, chegamos à área das políticas e programa.
E, a questão é, onde estão as alavancas para inovação?
Não tem a ver só com educação precoce e saúde.
Quase todas as áreas das políticas poderiam afetar potencialmente o
âmbito de uma base eficiente.
Claro que nós precisamos do atendimento à criança, educação
precoce tem que ter qualidade.
Não pode ser simplesmente um depósito de crianças.
É preciso que existam habilidades, e o atendimento médico primário é vital
também para detectar precocemente problemas da criança.
Há programas de intervenção precoce dirigidos à crianças com problemas
detectados previamente, que podem variar de deficiências leves a graves e,
além disso, crianças com fatores de riscos bastante graves.
Isto são programas… aí são necessários programas de intervenção precoce.
O bem estar da criança lida com o abuso.
Não é só segurança física, mas é dar às crianças a possibilidade de se
desenvolver de uma forma saudável.
Eu não sei como é no Brasil, mas nos Estados Unidos e outros países o foco é
segurança física, e os provedores de serviço determinam que a família não é
um ambiente seguro e tiram a criança de lá. Gente, vocês já ouviram muito da criança.
Se tiram uma criança de um lar e se transfere pra um outro, em uma
perspectiva adulta, vamos dizer, isso foi bom, não havia segurança.
Mas, através dos olhos da criança,
a criança está sendo arrancada do
seio da família, e levada a um lugar estranho.
E, mesmo que sejam boazinhas, é uma ameaça para a criança,
é uma perda.
Pode ser necessário para a segurança, mas isto cria um novo problema.
Não é uma solução.
E, em alguns sistemas, as crianças passam de uma família adotiva para
outra, demora até que ocorra a adoção permanente.
Para a criança, mudar cada vez é uma situação ameaçadora e um estresse terrível.
Aqui, a ciência pode ajudar ao sistemas pensarem de uma forma diferente.
Iniciativas de saúde pública que protegem o abastecimento de água e de
alimentos, proteção contra lesões, também é muito importante suporte financeiro.
Há modelos fantásticos em termos de suporte financeiro.
Então, aí sabemos que as famílias pobres, quando elas tem mais dinheiro,
o estresse é aliviado e as crianças se desenvolvem mais.
O desenvolvimento comunitário e zoneamento, o que isso tem a ver?
Onde as pessoas vivem.
Se o desenvolvimento da comunidade, ele presta atenção nas crianças,
se há um parque ou se é uma área que só vende bebidas alcoólicas.
O desenvolvimento da comunidade,
o zoneamento, podem ter uma influência.
Há estudos que mostram que as crianças que vivem perto de aeroportos,
ou em áreas urbanas com alto nível de ruído… o problema do aeroporto é o
ruído… exposição constante ao ruído se associa à um desenvolvimento não
satisfatório.
Habitação, políticas de habitação, densidade das casas, quantas pessoas
num quarto, quantos cômodos
tem uma casa.
E, aqui, eu não sei como que é o problema dos sem teto aqui no Brasil,
mas no Brasil nos temos grandes problemas com os homeless,
temos abrigos temporários.
Mas, imaginem criar um bebê num lugar onde há um abrigo de 100 pessoas.
Portanto, habitação pode ter um impacto.
A autoridade da habitação normalmente não pensa na primeira infância.
Além disso, existe o setor privado.
Disso podemos talvez falar posteriormente.
Mais uma vez, isto daqui não é uma responsabilidade governamental só,
e sim de toda a população.
E o governo não pode ser a única fonte de financiamento de políticas para a criança.
Uma empresa ou um lugar para trabalhar teria que oferecer flexibilidade aos pais
para eles verem as crianças,
ou que pudessem sair para levar uma criança à uma consulta.
Também deveríamos ter leis que permitissem a volta ao trabalho,
ao mesmo tempo em que o aleitamento materno continuasse.
Isso são políticas e práticas que contribuem ao desenvolvimento.
Não é só um problema do governo.
Então, juntando tudo isso, voltando ao painel, há uma sequência lógica…
Se pensarmos numa série de políticas e programas pela lente da primeira
infância, pensando como que cada um deles poderia ajudar a promover uma
fundação mais consistente, mais forte, para todas as crianças de um país.
Isso são programas, a pergunta é o que que se faz em cada uma dessas políticas
para treinar, criar a capacidade dos cuidadores, incluindo família e os
membros dos programas, e tudo que a própria comunidade precisa para
desenvolver o desenvolvimento saudável.
Falamos sempre de capacidade, que ajuda a construir as fundações do
desenvolvimento saudável.
Por que essas fundações são importantes?
Porque são os fatores que determinam se a biologia vai se adaptar melhor ou se
será mais problemática, aumentando ou piorando os resultados na saúde.
Há sempre, claro, diferenças individuais, exemplos de alguém que cresceu em um
ambiente muito duro, muito difícil,
que acaba conseguindo obter muito sucesso quando adulto.
Mas, o problema é… olha só esse exemplo, todo mundo deveria ser como essa pessoa.
Não, não funciona assim.
Há maneiras diferentes pelas quais os indivíduos se adaptam, e se a gente
enfoca na biologia saudável, conseguiremos uma população saudável
em toda a vida.
O ciclo de vida do indivíduo.
Ou seja, não é apenas uma única imunização que vai nos proteger pro resto da vida.
Um bom começo de vida, e depois o resto com educação medíocre, etc..
Não, cada estágio tem as suas próprias necessidades.
Mas, baseia-se nos sucessos do estágio anterior.
Ou seja, se quisermos o desenvolvimento ideal,
precisamos que a mulher comece antes de se tornar… antes de engravidar,
ela tem que já começar a prestar atenção em sua saúde.
Ou seja, antes da gravidez, para que possamos, depois, proteger todo o
período da gravidez, primeira infância e assim por diante.
Vou parar por aqui.
Agora convido a professora Vera Melis Paolillo.
Presidente para o Brasil de OMEP, organização mundial para a educação
pré escolar, para fazer os seus comentários a respeito da palestra.
Um complemento, eu sou presidente aqui do estado de São Paulo da OMEP,
e não do Brasil como um todo, e tenho muito prazer de estar aqui representando
todos os meus colegas que trabalham na área de educação.
Organizei a minha fala hoje no sentido não apenas de estar trabalhando… é…
debatendo um pouco o que nos estávamos ouvindo até o momento,
mas também de trazer a voz dos educadores.
Na verdade, o investimento na educação da primeira infância que passa por uma
série de ações que, nós especialistas, aqui está presente um grande número de
especialistas, que em vários momentos, por décadas, tem atuado diretamente na
construção de documentos oficiais e de práticas que tem
consideravelmente alterado algumas políticas públicas.
Não ainda de todo, não podemos ainda concluir.
Respondo hoje, e queria colocar que, em termos de Brasil, o Brasil tem
pautado muito os nossos programas de formação de professores, de educadores,
de especialistas, de gestores,
até mesmo de formadores de opinião, seja até dentro da mídia ou de política
pública, sempre baseado numa primeira… em um grande objetivo,
que é o Marco de Dakar, que nos colocava… em 2000, trazia ampliar e
aprimorar a infraestrutura de cuidados e
educação na primeira infância.
Nós já pudemos ouvir um pouco do professor, a importância não só das
questões e da contribuição da ciência,
dos estudos avançados que tem sido feitos ao longo de todos esses anos,
de colaborar pra entender melhor a criança, pra entender melhor o seu
desenvolvimento infantil.
E, a partir daí, nós educadores tentarmos, na medida do possível e no tempo que
temos, e nas condições efetivas que temos de trabalho, tanto na rede pública
quanto na particular, de fazer acontecer e de fazer essa diferença.
Nós não podemos deixar de considerar que toda essa discussão da contribuição
da ciência para o desenvolvimento infantil, de toda a contribuição das
questões econômicas, sociais e de direitos, elas formam, exatamente,
um divisor de águas para nós na educação.
E, o que fazer com todas essas informações?
O que nós temos no Brasil, e o que eu gostaria de compartilhar com os nossos
colegas aqui presentes, é que nesta sala, neste auditório, se encontram pessoas
que em algum momento da sua vida contribuiu diretamente para estas conquistas.
A luta na constituição de 88, a própria… depois, a lei de diretrizes básicas,
a construção de um plano nacional de educação, o estatuto da criança,
as diretrizes curriculares, todo esse acervo de documentos, estivemos aqui…
temos aqui representantes de pessoas que, através destes conhecimentos,
através de informações e de estudos que aqui estão sendo discutidos, puderam
contribuir na elaboração destes documentos que hoje se tornam o
cenário adequado para a construção de políticas públicas.
É claro que eu não vou me deter em todos esses, mas eu não posso deixar de
apresentar a vocês a nossa grande conquista que é a constituição de 88,
que coloca pela primeira vez a criança.
E, por trás desta definição que explicita na constituição de 88 a criança como um
sujeito de direitos, uma criança cidadã, por trás de toda essa definição se
encontram essas expectativas, estes conhecimentos que hoje nós estamos
ouvindo, debatendo e vamos conversar durante os dois dias.
Pra isso, nós tivemos também alguns avanços no sentido de como colocar em prática.
Eu falo… nós estamos falando de Brasil, mas nós estamos falando de um continente.
Evidentemente, nós sabemos as diferenças que ocorrem entrem
municípios, entre estados, não no sentido as vezes de práticas, mas de chegar
a informação, ou de fazer que dessa informação e desse conhecimento,
tão precioso, se traduza numa prática exitosa que venha realmente a fazer
diferença e contribuir para um impacto não só social, mas também educacional
para as crianças.
Lembrando que há muito tempo atrás, ainda em 1993, começava-se a discutir,
no Ministério de Educação, alguns direitos que eu chamo de direitos
educacionais.
Na época, era toda criança, todas as creches, tem o direito.
Se falava muito em creche na época.
Hoje nós falamos em centros de educação infantil, espaços de
convivência na educação infantil.
E, se nos olharmos rapidamente por essas… por esses direitos educacionais,
que eu carinhosamente chamo,
nos vamos perceber que tudo que foi
colocado da necessidade de colocar as crianças na primeira infância dentro de
um ambiente, dentro de um espaço que lhe permite esse desenvolvimento pleno,
seguro, aconchegante, todas essas palavras se encontram já nas nossas
propostas oficiais aqui no Brasil.
E, muitas vezes, ainda, e por ser um documento mais antigo, muitas vezes é esquecido.
E isso eu trouxe pra mostrar que nós estamos caminhando.
Talvez em passos lentos, no sentido de disseminar.
Talvez em passos lentos de fazer com que todos nós da educação possamos nos
apropriar das contribuições das ciências,
das contribuições dos debates dos
economistas e administradores, para que possamos fazer uma gestão dentro da
primeira infância que realmente tenha um impacto positivo.
Gostaria de trazer algumas recomendações que, na verdade,
nos dizem, a todos nós, que vamos trabalhar com programas de cuidado e
educação, o que devemos fazer.
Devemos nos preocupar com alguns aspectos.
No caso, por exemplo, eu gostaria de chamar a atenção, não vou fazer a leitura
de todos, mas gostaria de chamar a atenção para dois: apoios a pais de
primeira viagem, e apoio a professores de primeira viagem na educação infantil.
Hoje, nós temos muitos professores que, pela primeira vez, estão saindo da
universidade sem uma formação ainda adequada, que não se discutiu a primeira
infância, muitas vezes na universidade, ou em alguns cursos… é… e se iniciam,
nessa formação inicial, iniciam a sua carreira docente já trabalhando com
crianças de 0 a 3 anos, sem uma discussão, sem um aprofundamento, sem
um acompanhamento.
E aí que a gente vem discutir, vem ressaltar a importância do que hoje nós
chamamos de residência pedagógica, de um acompanhamento,
de uma supervisão, para que esse professores, ao primeiro trabalho,
não se desestimulem ao fato…
ao contrário, se encantem ao trabalho da primeira infância e continuem
trabalhando.
E, é claro que isso muda um pouquinho o paradigma da formação continuada.
Hoje, nós professores, nós educadores especialistas, não desejamos mais que a
formação continuada destes profissionais, e por ser continuada é por
muito tempo, não seja apenas feita de seminários e palestras ou alguns
encontros, que se traduzem em apenas passagem de informações, e sim um
acompanhamento na sua prática, para que essa prática possa fazer diferença a
essa criança.
E o que podemos fazer então como sociedade, já que estamos aqui com um
grande número de profissionais de várias áreas do conhecimento.
A ciência, a antropologia, a psicologia, a biologia, a medicina, o serviço social,
a pedagogia.
Enfim, todas as áreas do conhecimento podem contribuir através da ampliação
da conscientização, junto aos gestores públicos, ampliando os acessos de
qualidade nesse atendimento das crianças, e, principalmente,
apoiar programas de fortalecimento das lideranças locais. O que, inclusive,
é um dos projetos que a fundação Maria Cecília desenvolve aqui,
junto a alguns municípios.
Valorizar o tempo e o espaço, implementar estratégias de
desenvolvimento de serviços comunitários, o que inclui as famílias
também, e trabalhar com os sonhos e o corpo das crianças.
Valorizando, sempre, o brincar como um elemento formador para as crianças.
Bem, e tudo isso nos mostrou…
Nas falas anteriores, nós vimos o quanto o ambiente, o quanto o espaço,
é importante.
O quanto as relações e interações,
que vários teóricas já nos inspiraram no século XX, a repensar a nossa prática,
que vai desde de Vigotski, e passa por Bruner, por Gardner, nós vamos fazer
uma série de teóricos que nos inspiraram.
E a Rima Shore nos traz essa fala.
Pesquisas demonstram que… já que nós estamos falando de pesquisa.
Pesquisas demonstram que a maioria dos ambientes a que as crianças estão
expostas no início da infância são de qualidade baixa ou inadequada.
Podemos melhorar a qualidade, criando ambientes nos quais as crianças
possam prosperar e aprender.
Isso, de uma certa forma, responde a nossa preocupação de criar o ambiente.
O ambiente, não só o ambiente físico, como o Doutor Jack, inclusive,
já nos colocou.
Mas, o ambiente pessoal, Inter relacional, o ambiente do afeto, do apego, do
carinho, da estimulação e da continuidade dessa curiosidade.
Portanto, se o ambiente é tão importante, e se o espaço é tão importante,
e se a criança tem cem mundos para descobrir e para inventar, sonhar e se expressar
nós não podemos oferecer a estas crianças um espaço zero
e esse tem sido o nosso grande desafio.
E o nosso aqui, eu estou colocando de todos nós que trabalhamos com educação
da reorganização dos espaços e dos ambientes.
Então, deixo com vocês algumas recomendações para que haja realmente, de fato
essa intersetorialidade, essa integração das ciências,
para que nosso professores possam, a partir daí, criar um cenário propício,
oportuno, para o desenvolvimento não só das crianças e suas famílias, mas dele próprio.
Primeiro, é preciso qualificar melhor os nossos profissionais, os profissionais,
para que eles olhem para as crianças, para os espaços e para a família.
Isso significa criar um novo paradigma de trabalho e de olhar para as crianças.
Garantir a implementação de práticas educacionais.
É preciso que se fortaleçam essas práticas, para não ocorrer o que nos nós
todos tememos, quem trabalha com primeira infância, tememos o academicismo.
Cada vez mais, trazendo pra mais perto a questão dos exercícios, de caderno,
de papel, e de tudo mais.
Trabalhando essas linguagens tão necessárias para a criança se desenvolver.
É preciso que, enquanto sociedade,
nós nos organizemos para acompanhar o orçamento público,
porque nós sabemos que tudo isso é um sonho
e um sonho possível, ele se faz e ele precisa de dinheiro.
Ele precisa ter um orçamento público reservado para a primeira infância.
E, como nós sabemos que a primeira infância é responsabilidade do município
é preciso de um trabalho mais sistemático.
Realizar avaliações de qualidade, oferecer uma variedade de materiais,
isso implica na compra de materiais, ou da organização local de materiais
regionais e, para que a criança possa brincar, não necessariamente comprar
material industrializado, e garantir essa oferta de brinquedo.
Melhorar também a transição da primeira infância, da educação infantil,
para o ciclo inicial da educação fundamental.
Mesmo porque, hoje, as nossas crianças de 6 anos já começam no ensino
fundamental, e por vezes, em muitos lugares, estão sentadas nas cadeirinhas
umas trás das outras, e essa ruptura do brincar, ele é muito forte e pode causar,
inclusive, um estresse.
Talvez não um estresse… talvez um estresse tolerável, se a professora tiver a
sensibilidade de trabalhar essa transição.
Ou, às vezes, não.
Estimular o desenvolvimento e construir planos municipais, que nós precisamos muito.
Organizar espaços, e aqui espaços eu falo de ambientes, environments,
enriquecedores, para a criança viver,
brincar, conviver, aprender.
Participar de programas de formação.
Sempre.
Por mais que a gente, “não, eu já sei, eu já ouvi”.
Eu preciso, enquanto profissional, estar aberta a muitos das contribuições
que as ciências, todas as ciências,
podem nos dar, a fim de melhorar a nossa prática,
E, a partir daí, pesquisar e disseminar muitas abordagens hesitosas que
existem, que eu sei que tem, e que as vezes fica escondidinha e não é
compartilhada.
As pesquisas no cuidar, no educar.
E, pra isso, nós vamos olhar para os espaços, para as rotinas, para o brincar,
e vamos deixar… eu gostaria… meu tempo já está finalizando.
Mas, eu gostaria de deixar aqui alguns recados.
Primeiro, que nós podemos, todos nós, contribuir para as políticas públicas.
Por que?
Política pública é mais do que fazer a política.
Política, educação infantil, primeira infância, é de interesse público.
Nós acabamos de ver, por todas as justificativas, que é interesse público.
Portanto, é política pública.
Então, todos nós somos responsáveis, todos nós podemos contribuir de alguma forma.
E podemos, portanto, fazer em nossas cidades algumas ações concretas para
prover, para assegurar, para apoiar, para definir, fortalecer, estabelecer e garantir.
A minha proposta, na verdade, já que a educação é uma questão de interesse
público, e a minha proposta é que se invista diretamente naquele que atua com a criança.
Porque, muitas vezes, esses conhecimentos não chegam até os
professores, até os educadores, com acompanhamento, com supervisão,
para que eles possam transformar numa linguagem acessível aos pais,
aos familiares, à comunidade.
E que sirva de um debate amplo para que essa prática… uma nova prática seja
construída a fim de atender a todas essas necessidades.
Bem, gostaria então de encerrar a minha fala.
Espero ter contribuído para provocar ainda algumas perguntas.
Se antes agradecer ao convite da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal
pela oportunidade de estar aqui falando um pouco sobre educação.
E, deixar como uma última mensagem, uma fala de Judit Falk que diz o
seguinte: “para criança, não se trata de preparar para o futuro, mas de se esgotar
as suas possibilidades atuais”.
Obrigada.
Passo agora a palavra à professora Sandra Grisi.
Só pra retomar, de uma forma bastante simplificada.
O professor Shonkoff trouxe quais são as principais necessidades para que a gente
consiga promover um desenvolvimento infantil que, eu vou chamar aqui e não
sei se o termo é muito adequado, mas, dado o viés da minha formação, eu vou
chamar de desenvolvimento saudável.
Mas, não só falando no sentido biológico, mas no sentido amplo da
palavra saudável, incluindo aí a formação de um cidadão, de um cidadão
feliz e integrado a sua sociedade.
E o professor Shonkoff trouxe uma séria de conhecimentos científicos muito
relacionados à como se dá o processo do desenvolvimento cerebral, e como as
experiências e a interação com o meio ambiente produzem alterações no futuro
dessa criança.
Enfim, deixa eu ver se… então,
vamos tentar rever estes conceitos, que foram tão bem colocados aqui,
dentro da nossa realidade.
Então, a primeira questão que eu coloco para todos é: as colocações mostram a
necessidade de um acompanhamento longitudinal, desde a concepção até,
digamos, pelo menos sexto ano de vida.
Então, a primeira colocação que eu coloco aqui pra nossa audiência é: quem
alcança longitudinalmente esta criança?
Como pensar políticas e ações que comecem da saúde da mulher na sua
vida, pelo menos, reprodutiva, da concepção, cuide do pré natal,
esteja presente durante os 3 primeiros anos de vida e, depois, a acompanhe
durante sua fase escolar, que, normalmente, aqui por volta de seus
4 anos boa parte de nossas crianças estão na escola. Relembrando que nas creches,
somente 18% das crianças estão nas creches. 82% das nossas crianças estão
em suas casas, ou em suas comunidades, sendo cuidadas por alguns cuidadores,
enfim.
E durante o pré natal.
Enfim, eu volto a insistir, quem alcança a criança?
Da concepção até o final do segundo ano de vida é a área da saúde.
Essa, sim, alcança.
E daí, para frente, a área da saúde ainda tem uma certa atuação, mas aí a
principal atuação vem do setor da educação.
Então, quando pensamos, aqui nas nossas condições, como fazer um
programa de acompanhamento longitudinal, me vem a primeira
colocação, e que é um grande desafio para nós.
Como construir um projeto entre saúde e educação?
E, mais, dentro da saúde, como construir o projeto que começa no pré natal e se
estende durante toda a puericultura?
Então, este é um grande desafio para nós.
Talvez nos tenhamos boas condições para isso.
O setor saúde, no Brasil, quem faz o acompanhamento longitudinal é a
atenção primária.
Para que não está aqui muito acostumado as nossas nomenclaturas,
atenção primária é a atenção feita nos ambulatórios, nos consultórios,
nos centros de saúde.
Enfim, aquele que está próximo da população e que faz todo o seu
acompanhamento.
Este sim é responsável pela promoção da saúde e pela prevenção de doenças.
Os hospitais, normalmente quando se pensa em atenção à saúde, logo nós
pensamos nos hospitais, os hospitais são responsáveis para dar as respostas às
questões de doença.
Então, estando doente, você procura um hospital.
Mas quem faz o acompanhamento longitudinal é a atenção primária,
a atenção básica.
Na atenção básica no Brasil, nós temos definido pelo… como política de saúde,
o Programa de Saúde da Família.
E o Programa de Saúde da Família é formado por médicos, por enfermeiros,
por técnicos de enfermagem, e por agentes comunitários de saúde.
Os agentes comunitários são pessoas da própria comunidade que fazem uma
ligação entre o setor saúde e a família.
Essa é uma grande oportunidade que talvez nós tenhamos que pensar em uma
proposta efetiva entre educação e saúde, utilizando este sistema que alcança a
família, e que alcança a comunidade, muitas vezes os pequenos grupos de
crianças que estão sendo cuidados por uma pessoa. Isto, o agente comunitário
de saúde, ou, enfim, o cadastro das equipes de saúde da família, tem este
mapeamento.
Basta que nós possamos desenvolver projetos integrados da saúde com a
educação.
Vejo aqui como um desafio pensarmos nas equipes de saúde da família como
um eventual processo de interação.
O Brasil tem uma cobertura de 50% das equipes de saúde da família.
Quer dizer, cerca de 100 milhões de brasileiros estão sob a cobertura
das equipes de saúde da família, e o estado de São Paulo tem próximo de
40% de cobertura, 36% de cobertura em equipes de saúde da família.
Já é um bom começo, e um bom desafio, pensarmos nisso.
E, depois disso, claro, a integração.
A saúde também entrando na educação, através de uma integração com as
creches e com os centros de desenvolvimento infantil.
Enfim, me parece que nós temos aqui como uma proposta tentarmos
estabelecer programas longitudinais,
que iniciem desde a concepção, até o final do sexto ano,
integrando o setor saúde e o setor educação, e aproveitando uma política
de saúde que é adotada aqui no Brasil.
E, como toda audiência sabe, o meu papel aqui é da…
é o papel da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, é claro que o nosso papel, a nossa maior probabilidade
de contribuir nesse debate é através do ensino e da pesquisa.
Do ensino, formando recursos humanos que estejam voltados e preparados para o
desenvolvimento da primeira infância.
E, isto sim, deve ser levado à um debate interno dentro da universidade, dentro
das nossas unidades que estão ligadas a formação de recursos humanos para saúde.
Mas, além disso, também podemos ter uma contribuição no setor pesquisa,
como eu falei no início, na apresentação da mesa de abertura.
E, nesse sentido, uma possível contribuição que a Faculdade de
Medicina pode vir a oferecer é uma plataforma de ensino e de pesquisa em
atenção primária, que é da responsabilidade da Faculdade de
Medicina, mas onde também atuam todas as outras unidades da área de saúde
da Universidade de São Paulo.
A Faculdade de Medicina tem o Projeto Região Oeste, que é um projeto onde nós
somos responsáveis pela gestão dos serviços de saúde da região oeste de
São Paulo.
Ao final do ano de 2012, nesta região, nós teremos um total de 51 equipes de
saúde da família, e seremos responsáveis por uma população de 430 mil
habitantes.
Nesta região, nós temos cerca de 38 mil crianças na idade entre 0 a 6.
Esta é a área onde nós, dentro dessas unidades básicas de saúde, ensinamos
atenção primária aos nossos alunos, é nessa plataforma de ensino que nós
formamos os nossos especialistas em atenção primária, e onde desenvolvemos
também todas as nossas pesquisas com base populacional.
E, certamente, poderá ser um palco para possíveis pesquisas de intervenção,
para estudarmos o impacto e as relações custo/efetividade de eventuais
intervenções que possam permear a saúde e a educação.
Bom, eram essas as contribuições que eu podia dar a este tema.
Muito obrigada pela oportunidade, e parabéns ao professor Shonkoff pela
sua excelente apresentação, que eu tenho certeza que vai contribuir muito para o
pensamento e a formulação, se não de políticas, pelo menos de ações e de
projetos em algumas áreas.
Obrigada.
Convido agora, o professor Naercio Menezes Filho.
Bom dia a todos e a todas.
É um prazer estar aqui.
Queria começar também agradecendo a fundação Maria Cecília Souto Vidigal
pelo convite pra estar aqui.
E, nessa parceria, o INSPER e o Centro de Políticas Públicas faz o papel de fazer
a análise mais econômica de políticas públicas. Então, a ideia
do economista é ter uma visão geral de políticas públicas,
baseadas na evidência científica, analisar seus custos e seus benefícios para
sociedade.
E, assim, fazer o cálculo do custo benefício.
Ou seja, dado a quantidade de recursos disponíveis para serem gastos com
desenvolvimento infantil, quais são as políticas que tem o maior retorno pra
sociedade, utilizando esses recursos.
Então, envolve o desenho de políticas públicas eficazes e eficientes, abordando
os diversos aspectos relacionados ao impacto do desenvolvimento infantil.
Porque, como nós vimos aqui, um desenvolvimento infantil tem
impactos sobre saúde, sobre aprendizagem, sobre salários futuros,
sobre produtividade das empresas, e até o crescimento econômico do país.
Então, o desafio é como levar em conta todos esses benefícios e compará-los
com os custos, para poder formular políticas públicas adequadas.
Nestes comentários da apresentação do professor Shonkoff, e vou focar em pré
escola, que é uma das políticas públicas, na área educacional para a qual nós já
temos alguns dados e evidências disponíveis.
Isto pode servir como exemplo do que pode ser feito em outras áreas através da
parceria que está sendo montada com a Faculdade de Medicina, com Harvard,
e com a Fundação.
Então, se a gente olhar a razão da importância do desenvolvimento infantil,
a razão mais geral, ela tem a ver com a desigualdade de renda no Brasil.
Então, todos nós sabemos que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo.
Ou seja, uma parcela pequena da população se apropria de grande parte
dos recursos gerados na economia, enquanto uma parcela grande da
população se apropria de uma parcela pequena dos recursos.
Se a gente comparar a desigualdade de renda, ou seja, a razão entre a renda
apropriada pelos 10% mais ricos e 10% mais pobres de vários países, nós
podemos ver que o Brasil, que é o quarto ali, está entre os países com maior
desigualdade.
Ou seja, a razão entre a renda média dos mais ricos e os mais pobre no Brasil
é de 40 vezes.
O Brasil não é o país mais desigual do mundo, inclusive a desigualdade tem se
reduzido nos últimos anos, mas comparado com outros países, tais como
Chile, México, Uruguai e Estados Unidos, e depois países que tem uma
tradição de maior igualdade, como a Finlândia e a Suécia, essa razão chega a
apenas 6, 7, vezes nestes países. Se a gente comprar com 40 no Brasil,
a gente vê que é uma discrepância muito grande.
Então, isso sempre nos incomodou, sempre me incomodou particularmente,
de tentar entender como essa desigualdade foi sendo gerada, como nós
chegamos a esse ponto.
E, através de pesquisas, a gente foi entendendo que a educação tem um
papel muito importante.
Então, se nós compararmos os salários das pessoas de diversos grupos
educacionais, nós podemos ver, por exemplo, que uma pessoa que
tem 0 anos de estudo, por exemplo, um analfabeto, ganha cerca de R$ 350,
R$400, por mês.
Isto vai aumentando conforme o grau atingido. Aos 4 anos de estudo,
depois 8 e 11 anos de estudo,
agora a diferença é pequena, em uma média de R$1000 por mês.
Aqueles que conseguem chegar numa faculdade, atingir um nível superior e a
concluem, ganha em média, no Brasil como um todo, faculdades públicas e
privadas, cerca de R$ 3000 por mês.
E, aqueles que chegam a pós graduação, ou seja, fazem algum tipo de mestrado,
doutorado ou MBA, ganham, em média, cerca de R$ 5000 por mês.
Esses diferenciais de salário associados à educação estão entre os maiores de todos
os países do mundo.
Ou seja, o prêmio pela educação é muito alto no Brasil.
Em poucos países você vê diferenciais desta magnitude.
Ora, quando tradicionalmente somente os filhos de uma elite conseguiam chegar
ao ensino superior para aferir estes grandes salários, não é surpreendente o
grau de desigualdade que a gente observa na sociedade.
Então, um dos nosso grandes desafios é fazer com que a população mais pobre,
de famílias mais pobres no Brasil, consiga atingir estes altos níveis
educacionais para conseguir receber uma remuneração maior, o que vai tirá-la da
pobreza no longo prazo, sem depender exclusivamente de programas de
transferência de renda, e diminuir a desigualdade de renda que a gente
observa.
Vale a pena ressaltar que isso também terá impacto sobre criminalidade,
sobre violência, que é um fator que diminui o bem estar da nossa sociedade,
especialmente nas grandes cidades.
Todo mundo que mora em São Paulo sabe a dificuldade, o medo que é,
de andar nos carros com os vidros fechados, etc..
Então, como a gente pode fazer isso?
Ora, a primeira coisa é tentar melhorar a qualidade da educação no setor público.
Se a gente olhar os dados do PISA, que é um *** internacional de proficiência em
matemática, ciências e leitura, realizado aos 15 anos de idade em vários países do
mundo, nós podemos ver que a parcela de aluno abaixo do nível 1… o nível 1 é
o nível mais básico de aprendizado.
Abaixo do 1 são aqueles que não atingem nem o básico.
Originalmente não existia, ele foi criado para acomodar países que tinham uma
alta parcela de estudantes nesta faixa.
A gente vai ver que no Brasil, nós temos quase 40% dos nosso alunos,
aos 15 anos de idade, estão no nível abaixo do básico.
Se a gente for comparar com Xangai, China, que foi o primeiro colocado,
os alunos de Xangai superaram todos os países da OCDE, da Europa e dos
Estados Unidos, que participaram do programa. Ali, a porcentagem de alunos
abaixo do básico é ínfima, assim como na Finlândia, Coréia e Singapura.
Estados Unidos tá na média da OCDE. Nos Estados Unidos estão sendo
desenhadas políticas educacionais a todo momento pra tentar reverter essa
situação. Chile e México, que são nossos parceiros, um nível de 22, 23.
Agora, o Brasil tá num nível muito elevado.
Então, se a gente pensar que 40% das crianças não aprendem basicamente nada
aos 15 anos de idade, como supor que elas vão progredir na educação, atingir
níveis de educação mais alto e ganhar salários mais altos?
Muito difícil isso acontecer.
Aí você vem no papel da pré escola.
Então, nós começamos analisando o papel da pré escola.
O objetivo depois é voltar pra creche, pro Programa Saúde da Família.
Mas, com relação à pré escola, nós podemos ver que esse é o efeito de
ter frequentado a pré escola sobre a conclusão dos ciclos escolares.
Controlando por todos os demais fatores, ou seja, por educação dos pais, renda dos
pais, número de computadores em casa, e assim por diante, ter feito a pré escola
aumenta em 4% a possibilidade de concluir o primeiro nível do ensino
fundamental, 18% o segundo nível, 24% o ensino médio, e 5% o ensino
superior.
Ou seja, ter frequentado algum tipo de pré escola aumenta a probabilidade
educacional, que é o que a gente precisa.
De forma que aqueles com pré escola tem 7,5 anos de estudo em comparação
com 6 anos de estudo de aqueles que não frequentaram a pré escola.
Ou seja, ela te dá o ganho de um ano e meio, que é muito importante nos dados
diferenciais de salário que a gente observa no Brasil.
Embaixo, a gente pode ver como ter frequentado a pré escola aumenta a
produtividade dos indivíduos, pois eles conseguem ganhar um salário muito
maior do que aqueles que não frequentaram a pré escola.
Esse é o efeito da pré escola sobre a produtividade dos indivíduos, que os
permite conseguir um emprego melhor e ganhar maiores salários.
Uma evidência interessante, que é um puzzle, é o seguinte: apesar desses
efeitos positivos sobre os anos de estudo e sobre os salários, o efeito da pré escola
sobre a proficiência é maior para os filhos de mães mais escolarizadas e
aqueles que estudam em escolas particulares.
Ou seja, a pré escola, no momento, não está tendo o efeito equalizador que
se espera na nossa sociedade.
O efeito sobre a proficiência, sobre as notas dos alunos de matemática,
por exemplo, a gente pode ver aqui.
Mães de ensino fundamental, na escola particular e pública, é muito pouco.
No ensino médio começa a aumentar para mães com ensino
médio, mas é muito maior nas escolas particulares.
E, para as mães com ensino superior, nas escolas particulares, o efeito é o
maior de todos.
Ou seja, o que nós gostaríamos, talvez, é que a pré escola tivesse uma qualidade
suficiente, ou que o ensino fundamental para o qual esse alunos vão quando saem
da pré escola e chegam no ensino fundamental, tivesse uma qualidade
suficiente para que a complementação dos dois possibilitasse que mesmo para
os filhos de mães com ensino fundamental e com ensino médio,
um alto impacto sobre a proficiência.
Atualmente, talvez pelo tipo de qualidade da pré escola que é
frequentado pelas mães mais escolarizadas ou menos escolarizadas,
ou pela qualidade do ensino que essas crianças recebem quando saem da pré
escola e chegam na escola, o efeito é muito maior para mães mais educadas e
para crianças que estudam em escolas particulares.
Ou seja, não estamos conseguindo vencer o problema da desigualdade na
escala suficiente.
Além disso, outro ponto importante é sobre políticas educacionais.
Então, no Brasil, nós estamos… nós acordamos para a importância da educação.
Políticas educacionais estão sendo desenhadas a todo momento, em todas as
redes municipais, estaduais, do Brasil.
Aumentar salários dos professores, reduzir tamanho de classe, computadores
para todos os alunos.
Aumentado da jornada escolar, que foi proposto pelo Ministro da Educação nas
últimas semanas.
Vejam como é importante a pré escola. Se você comparar o efeito da jornada
escolar para a proficiência dos alunos que fizeram pré escola, do lado direito,
com os que não fizeram pré escola, a gente vê que o efeito é muito maior
para aqueles que fizeram pré escola, controlando por outras características.
Ou seja, é uma imagem que nós lembra a importância de cuidar da primeira
infância, do desenvolvimento infantil, para que políticas educacionais do
ensino básico tenham um efeito maior.
De que adianta aumentar a jornada escolar, aumentar os dias de aula,
se as crianças que estão na escola não conseguem aprender.
Tiveram problemas de desenvolvimento infantil que foram acumulados,
como mostrado pelo professor Shonkoff, e chegaram no estágio que tem muita
dificuldade de concentração e de aprendizado.
Então, isso mostra a importância de você considerar a interação de políticas.
Políticas educacionais com base num ótimo desenvolvimento infantil.
É isso que vai conseguir aumentar a proficiência escolar, o aprendizado dos
alunos, fazer com que eles cheguem mais longe, ganhem um salário maior,
e reduza a desigualdade de renda.
Então, assim eu termino a minha apresentação, enfatizando o papel da pré escola.
Tanto como redutor da desigualdade, como aumentando a eficácia de políticas
educacionais, como o aumento da jornada, por exemplo.
Porém, temos um problema que é o efeito da pré escola parece ser muito
maior para alunos que já estão em escolas particulares e que tem
mães mais educadas.
Então, precisamos de mais estudos para entender a qualidade da creche e a
qualidade da pré escola.
Que tipo de pré escola e de creche queremos para que as nossas
desigualdades sejam reduzidas.
E, assim, a gente pensa no desenho de políticas públicas na educação e saúde.
E, o critério fundamental nessa primeira infância é a informação para os pais.
Obrigado pela oportunidade.