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Em uma visão mais ampla você consegue notar que
o Cristiano, Lincoln, Sandro e o Bob...
...apesar de terem estilos diferentes,
você percebe que são skatistas brasileiros.
O que é muito legal.
O fato de que tem algo ali que os identifica...
...com o jeito de se andar de skate no Brasil.
Esses caras têm uma coisa que vale para muitos skatistas brasileiros.
Não é apenas o talento que faz deles grandes skatistas.
O que fez a diferença foi a garra...
...e o fato deles terem acreditado.
Só o talento não é suficiente para você deixar seu país
e chegar ao topo do mundo do skate como esses caras fizeram.
Foi realmente uma revolução brasileira.
O Bob Burnquist é o melhor exemplo disso.
Todos nós imitamos até que tenhamos o potencial...
...o talento ou a ideia de liderar.
E você não se dá conta de que isso está acontecendo
até que realmente aconteça.
É disso que nasce o sonho...
...dessas pessoas que os outros querem imitar.
Os imitadores nunca criam o sonho.
Ver o Sandro ir tão bem é incrível.
Na minha opinião ele é
o skatista mais "power" de todos os tempos
em termos de força, estilo e aéreos.
O Cristiano segue a mesma linha.
Ele provou que com determinação você pode chegar lá.
Talvez não tenha tido as mesmas oportunidades,
mas ainda assim ele encontrou um estilo próprio,
com aéreos altos e manobras técnicas.
Havia uma herança no mundo do skate...
...que havia se perdido por algum tempo.
Sempre existiu o cara dos aéreos altos, e o Hosoi era esse cara.
Depois que o Hosoi saiu de cena, outros tentaram seguir o mesmo estilo,
mas o Lincoln voa alto em qualquer pista.
Ele está sempre no limite da força e da velocidade.
Ele é um mini Christian Hosoi.
Foi o cara perfeito para preencher esse espaço.
O skate precisa dele para manter essa herança viva.
Sempre que íamos para a Europa...
...ou qualquer outro lugar no mundo, havia as comparações.
"Esse é o Mike McGill de Portugal" e tal.
Então, se o Lincoln era o cara que voava mais alto,
ele só podia ser comparado ao Hosoi. Com certeza.
Eu estava ali sentado, tinha meus apliques no cabelo,
minha camiseta toda cortada, e o público super animado...
...é verdade, eu comecei a dançar.
Havia aquelas pistas de skate enormes
com um monte de garotos jogando bola.
"O que é isso?"
"Não se anda de skate por aqui?" "Ninguém mais anda."
O skate foi desaparecendo no final dos anos 70
e depois sumiu de vez.
Acho que trouxemos um novo ânimo para o lugar
e mostramos para que serviam aquelas pistas.
A família do Bruno Brown me levou para lá, junto com o Cesinha,
um dos locais da pista de Marina Del Rey naquela época.
Eles diziam: "Você tem que ir para o Brasil, Christian."
"Tony Alva já esteve lá."
"Você tem que ir e conhecer todas as pistas."
E eu disse: "Tô dentro!"
Guaratinguetá! Aquele lugar era o paraíso!
Você tinha aquele clube de campo inteiro,
com aquelas pistas de skate.
Um "banks" em forma de feijão com um "bowl" perfeito.
E tinha o Kakinho...
...lembro de ver aquele garoto com uma tatuagem no braço.
"O quê?"
"Esse é o garoto mais novo que eu já vi com uma tatuagem!"
Eu me lembro dele ser fluido e muito estiloso.
Ele queria muito ter um skate Americano.
Eu perguntei a ele: "Vocês compram skates por cem dólares?"
"Vocês estão de brincadeira!"
Ele disse: "Pago cem dólares nesse seu skate."
"Tá bom!"
Eu queria ficar com ele. Mas por cem dólares?
A gente vendia nos EUA por vinte e cinco!
Só me lembro daquele garoto ser muito bom e jovem.
Qualquer lugar por onde você passa e alguém chama sua atenção...
...a ponto de ficar na sua memória é muito bacana.
Mesmo depois de viajar tanto e ver muita gente andando.
Isso não tem preço, porque é tempo investido
Eu acho que tempo vale bem mais do que dinheiro.
Se eu tivesse que escolher entre meu pai
me dedicar tempo ou me dar dinheiro,
eu certamente ficaria com o tempo.
Os caras arrebentavam!
Eles davam "inverts" e "madonnas" gigantescas.
Eu dizia: "Vocês deviam ir para os EUA e correr os campeonatos."
Eles diziam: "Legal, mas nós somos brasileiros, a gente gosta daqui."
Claro! Com dez mil dólares, você tinha uma mansão na praia,
com uma pista de skate no quintal.
"É acho que vocês deviam ficar por aqui mesmo."
A maioria dos caras que nós víamos nas viagens mundo afora,
tinha dado um jeito de aprender a andar de skate.
O que visualmente não é grande coisa, eles se viraram.
O Mureta não. O skate dele era natural.
Negão!
Ele dava uns "540º frontside" que eram incríveis de se ver.
Hoje todo mundo faz "frontside rodeos",
mas na época ninguém dava e ver ele fazendo me deixou de cara.
Eu lembro de ver o Sérgio dando "540º frontside".
Acho que além dele só dois caras no mundo faziam aquilo.
O incrível é que ele completa essa manobra até hoje.
Ele tinha aquele "540º frontside" maluco.
Jogava o braço por cima da cabeça girava e sai da frente.
Nós nunca tínhamos visto nada parecido.
A manobra era tão absurda que nem pensei em tentar aprender com ele.
Eu pensava: "Isso é tão difícil
que provavelmente ele é o único capaz de fazer".
Quando íamos para a Europa, a maioria dos garotos falava inglês.
No Brasil às vezes aparecia alguém que também falava,
mas mal dava para se comunicar.
Era um outro mundo diferente de tudo.
Naquela época era difícil de ver o público vibrar em outro país.
Isso quando havia público.
No Brasil, os ingressos esgotaram e o público não parava de gritar.
As pessoas gostavam de skate e de skatistas de vertical...
mas poucos andavam no vertical.
No Brasil, eles levavam o vertical a sério.
O nível aqui é bem mais alto do que eu pensava.
Eu não sabia que havia uma cena de skate...
com os garotos vendo os profissionais como heróis.
O que eu me lembro daquela viagem
é do Tony ter ficado muito doente.
Era tanta febre que ele não conseguia andar de skate.
Eu estava literalmente tremendo no palco, quase vomitando,
e eles começaram a gritar "son of ***" em português.
"O que estão dizendo?" "O que estão dizendo?"
E o Daniel Bourqui disse:
"Eles estão te chamando de filho da puta."
Eles me fizeram ir até o palco e dizer para o público...
que eu não tinha condições de andar.
Não era o que eu queria fazer.
Eles acharam que eu não queria andar. Eu queria!
Mas eu nunca tinha me sentido tão mal. Nunca mais fiquei doente daquele jeito.
Eu curti muito.
Foi Demais! Um momento incrível!
Hosoi, o que você sabia sobre você em São Paulo?
O que eu sabia sobre mim?
Do que você gostou?
Eu gostei de São Bernardo. São Bernardo foi alucinante.
A molecada quebrou,
mas o garoto que roubou o meu skate, esse eu não sei.
Acho que vai ser bom. vai ser novo, diferente.
O estilo americano ganhando força aqui no Brasil.
540º duplos! "Flips" sem as mãos,
diz aí.
Quando estive no Brasil pela primeira vez,
eles já tinham truques da Independent, skates da Powell...
Todas aquelas marcas feitas por empresas brasileiras.
Eu perguntei: "Essas marcas já estão no Brasil?
Eles diziam: "Não, é gente daqui mesmo que fabrica."
É "Nossa, que louco!" "E melhor eu registrar meu nome."
Eu não esperava aquela cena. Eles tinham uma cena própria.
Eles construíram uma cena própria tão forte,
que na minha opinião, o que vemos hoje é o resultado daquela prática.
Nós vimos o logo da "Santa Cruz" no fundo do skate,
e na parte de cima o logo da "Airwalk",
que nem era uma marca que fabricava skate.
Havia todo tipo de mistura e confusão de logos copiados.
Era uma piada!
"Mad Rats" era uma marca de bermudas nos anos 80...
e no Brasil tinha o Tênis Mad Rats.
Tinha um skate "Caballero" que era igual ao original,
mas vinha escrito "Ballero".
"O que está acontecendo?"
Eram tempos difíceis. Eu senti pena de algumas marcas.
Deixa eu te dizer uma coisa. Nos anos 80, quem mandava...
...no circuito mundial de vertical eram os dez primeiros do ranking.
Ninguém entrava no meio desses caras. Não importa quem fosse.
Eu não consegui ver ele andando. Tive que ir embora ontem.
Não vi, mas ouvi dizer que ele é muito bom.
Eu só me lembro de estar em Münster...
...e daquele garoto brasileiro dando aéreos incríveis.
Os skatistas brasileiros sempre usavam muito equipamento de proteção.
E eles eram enormes.
De repente, aquele garoto aparece,
chega as finais e acaba em quarto lugar.
Aquilo foi a prova de que havia muito talento no Brasil.
Se eles tivessem o apoio para participar de eventos internacionais,
os resultados viriam.
No começo dos anos 90, com a chegada dos vídeos,
os brasileiros nos viam nos filmes e pensavam:
"É assim que a gente tem que andar de skate!"
E eles tentaram andar como a gente andava nos vídeos.
"A gente tem que ir pra lá!"
E quando eles chegaram aqui...
...perceberam que os americanos não andavam como nos vídeos.
Ao vivo!
Eles pegaram aquilo que pensaram que era real...
...e criaram uma nova realidade.
Quando o Bob venceu em Vancouver, ele colocou o skate brasileiro no mapa,
em termos de reconhecimento internacional.
Eu nunca tinha visto ele andar, só tinha ouvido histórias...
Ele apareceu e começou a mandar umas manobras malucas.
Ele apareceu do nada. Ninguém o conhecia.
Chegou com aquelas manobras estranhas e completando tudo.
Nós não apostávamos nada nele. De repente, ele estava na final.
"O cara é incrível!"
"Boom!" Ele vence o campeonato.
Ninguém aparecia do nada e ganhava um campeonato.
Não foi apenas mais uma vitória.
Ele realmente passou a ser encarado como um dos grandes.
Essa foi a barreira que ele quebrou.
Eu liguei para a revista Transworld: "Vocês sabem o que isso significa?"
"É melhor vocês darem o espaço que isso merece."
Antes disso, quando um brasileiro chegava às finais,
era aquela história... "Tá bom, outro brasileiro."
E ninguém mais lembrava quem era.
Dessa vez não. O Bob aparecia e você ouvia:
"Aquele é o Bob Burnquist." "O garoto, o tal Bob!"
O Lincoln apareceu e era o cara que tinha chegado às finais...
mas de repente o Bob era o cara.
Ele estava em todas as capas de revista.
Os principais nomes da época diziam: "Ele é o melhor!"
Ele é uma peça chave no quebra-cabeça do skate mundial.
Sem essa peça o quebra-cabeça estaria incompleto.
Ele traz algo que o skate precisa.
Ele pegou a ideia da Mega Rampa do Danny Way,
e a levou a um outro nível, mostrando o que era possível
em termos de manobras e distâncias. Eu acho que ele será reconhecido...
como um dos skatistas mais influentes da história.
Ele continua vencendo campeonatos. Tem a Mega Rampa em casa.
Vem fazendo manobras que só ele consegue.
Inovou o skate de base trocada.
Ele está superando todos os limites.
Parecido com o que o Tony Hawk conseguiu em sua época.
Façam barulho para Sandro Dias!
Façam barulho para Sandro Dias!
O Sandro completa manobras como o "540º body jar".
As pessoas não percebem o quanto ela é difícil e perigosa.
Sandro Dias!
"540º body jar".
"one footed judo 540º", "900º"...
Ele vai tão alto. Que altura tem aquelas "madonnas"?
Três metros de altura?
Eu já vi ele completando "madonnas" muito altas.
A primeira vez que vi o Sandro tentando o "900º".
eu sabia que ele seria o próximo a completar a manobra.
E o fato do Sandro saber encolher ajuda muito.
Ele consegue voltar na rampa e salvar a manobra.
mesmo quando a volta não é perfeita.
O Sandro participou de todos os campeonatos do circuito.
Ele tem aquele "body jar" maluco e aquelas variações de 540.
É um dos meus skatistas favoritos. Tem o estilo do skate brasileiro.
Sandro, você é o número um no meu livro. Manda ver, garoto!
Para ser honesto o fato do Bob falar inglês muito bem,
o que permite a ele representar os skatistas brasileiros
na comunidade que fala o inglês, foi decisivo.
Ele deu perspectiva e voz para muitos brasileiros,
que talvez não falassem nada de inglês.
A primeira vez que encontrei o Lincoln aqui,
ele só falava "Número 1" no MC Donald's.
O Lincoln chegou e as pessoas começaram a notar.
"Tem um cara que está dando aéreos de três metros!"
"Aéreos de três metros são mais legais de assistir."
Ninguém chegava a três metros de altura desde a época de Hosoi.
É isso que o Lincoln tem.
Ele voa!
Especialmente quando está andando sozinho,
ele é capaz de mandar, em qualquer pista,
um "540º" de três metros. Isso é incrível!
Em campeonatos o Lincoln só tem uma velocidade.
Ele vai com tudo!
Nas suas voltas de campeonato ele não alivia e acaba caindo.
É raro o Ueda completar uma volta de campeonato.
Eu costumo dizer:
"Se o Lincoln completar uma volta na final de um campeonato..."
"Ele ganha!"
No caso do Lincoln, o que faz a diferença é o talento...
é aquele "body jar" insano que ele tem.
"Body jar" de oito pés!
Quem poderia imaginar que isso seria possível?
Lincoln!
Emendando com um 540º.
Percebam a velocidade e o uso da pista inteira.
Esse cara usa mais a pista do que qualquer um.
A academia escolheu... Bob Burnquist.
O skate me trouxe até aqui. Eu não acredito!"
A força dele ou de qualquer um para superar uma contusão grave,
só pode vir do desejo... e do amor pelo que você já fez.
É a mentalidade do skate. Aquela atitude que nós temos.
"O quê?"
"Vocês acham que eu não consigo?"
"Duvida! Duvida!" "Paga pra ver!"
E você vai lá e faz.
Eu acho que o skate é incrível.
São pessoas muito intensas.
São as pessoas mais honestas e francas que eu conheço.
É aquele tudo ou nada.
Tantos skatistas tiveram que se superar pra seguir andando.
Eu acho que isso vem muito da personalidade que o skate forma.