Tip:
Highlight text to annotate it
X
Eu sou Alice Roberts.
Estou esperando meu 2° filho dentro de alguns meses
e tenho o dia livre para visitar alguns parentes.
Olá, olá.
Quer essa uva?
Essa é Le Puri.
Ela é uma bebê bonobo, ou chimpanzé pigmeu.
E, dentre todos os animais vivos hoje,
ela é um dos meus parentes mais próximos.
Bem, está despertando
todos os instintos maternais em mim.
Le Puri pode ser fofa
mas, ao atingir a grandiosa idade de 1 ano,
ela é muito mais desenvolvida do que um ser humano de 1 ano.
Ela e eu partilhamos 99% do nosso DNA
e, no entanto, desde o momento do nascimento,
nossas vidas são bastante diferentes.
Quando meu bebê nascer,
levará 1 ano até mesmo para ele andar
e, no entanto, com o tempo, tal como um ser humano,
sua vida irá desenvolver uma riqueza muito além
daquela de nossos primos macacos peludos.
Então, o que há em nossos corpos, em nossos genes
e, por fim, em nossos cérebros que nos diferenciam?
O quê realmente nos torna humanos?
O QUE NOS TORNA HUMANOS?
Eu vim a um lugar que há muito queria visitar:
o recinto dos grandes macacos, do Instinto Max Planck,
no Zoológico de Leipzig,
uma das maiores coleções de grandes macacos do planeta.
Tal como os humanos, a família dos grandes macacos é composta
de gorilas, orangotangos, chimpanzés e bonobos.
É realmente adorável ver esses pequeninos com os adultos,
porque eles estão fazendo
o que você esperaria que uma criança fizesse.
Eles estão inquietos.
Eles estão meio que subindo e mexendo com os adultos,
e eles têm esse olhar travesso em seus olhos.
Esses macacos são os nossos parentes vivos mais próximos.
E eu estou aqui para descobrir
o que torna esse determinado macaco -
o ser humano - diferente de todos os outros.
É realmente muito difícil desenhá-los.
Eles ficam parados por um minuto
e, em seguida, vão-se novamente.
Para mim, como uma anatomista,
a primeira coisa a fazer
é olhar para as diferenças entre nossos corpos.
Os gorilas são os maiores entre os grandes macacos
e olhando para o grandão de dorso prateado
bem ali atrás do cercado, ele é realmente enorme.
Ele é magnífico.
Eles estão ali parados de um modo belo,
de modo que você pode realmente apreciar
as semelhanças e diferenças entre as nossas anatomias.
Uma boa parte deles é bastante semelhante, de fato.
Se você olha para a anatomia dos braços e das pernas,
você tem, exatamente, os mesmos ossos lá.
Mas eles têm formatos e proporções diferentes,
logo, você pode ver que
os braços são muito longos, se comparados às pernas.
Eles têm pernas muito curtas,
se comparadas ao restante de seus corpos.
Nós temos pernas muito longas,
pernas ridiculamente longas para um macaco.
Essas diferenças se relacionam à forma como nos deslocamos.
Enquanto que os gorilas e os outros macacos
andam sobre suas 4 patas,
nós, humanos, de modo único,
normalmente andamos eretos, sobre 2 pernas.
E há outra diferença óbvia que se torna aparente
quando você começa a desenhar as cabeças.
É bastante difícil desenhá-las.
Eu acho que os rostos são particularmente difíceis,
porque você tem a idéia na cabeça
de como se parece um rosto humano,
e você precisa esquecer isso completamente,
quando você está desenhando esses macacos,
porque as proporções dos seus rostos
são totalmente diferentes das dos nossos.
Se você olha para uma cabeça humana,
os olhos ficam bem embaixo na cabeça,
talvez, bem na metade dela,
se medirmos do topo da cabeça até o queixo.
Se você olha para a cabeça de um gorila,
os olhos estão bem lá no topo,
porque a sua caixa craniana é muito menor do que a nossa.
Eles não têm essa enorme testa e um enorme cérebro dentro dela.
Há muito sabemos que essas 2 características -
cérebros grandes e andar ereto -
são, realmente, a marca registrada dos humanos.
E de algum modo, esses enormes cérebros
devem explicar o enorme abismo que vemos entre
nós mesmos e nossos parentes mais próximos - os chimpanzés.
Dentre todos os grandes macacos,
eles são aqueles com os quais estamos mais relacionados.
E o incrível é que agora sabemos, a partir de estudos
sobre nosso DNA - o deles e o de outros macacos -
que, de fato, nós estamos
mais relacionados aos chimpanzés do que aos gorilas.
É extraordinário.
Aqui estão nossos parentes mais próximos -
os simples chimpanzés e bonobos.
Eu acho que isso nos diz algo realmente importante
sobre o nosso lugar na árvore genealógica dos primatas
e torna ainda mais extraordinário
o fato de nossas vidas serem tão diferentes das deles.
Então, o que exatamente mudou nos 6 milhões de anos,
uma vez que partilhamos de um ancestral comum?
Certamente, temos cérebros maiores
e nós pensamos que somos mais inteligentes,
mas os chimpanzés são cheios de surpresa.
O Instituto Max Planck
está na vanguarda de alguns trabalhos revolucionários,
comparando a inteligência dos humanos e dos chimpanzés.
Durante os últimos 9 anos, Michael Tomasello
tem profundamente estudado esse grupo.
Bem, ela fez algo que, penso eu, na sociedade humana,
seria considerado bastante estranho.
Ela veio até aqui e mostrou a bunda dela para você.
Então, esse é um tipo de sinal amistoso?
É uma espécie de saudação amistosa.
Certo, OK.
Um pouco mais amigável
do que normalmente faríamos em nossa sociedade.
Bem, existem essas semelhanças,
mas também há algumas diferenças bem importantes.
Exatamente isso.
E o seu trabalho sobre a inteligência dos macacos
está lançando uma nova e fascinante luz
sobre o que significa ser humano.
Quando você iniciou esse trabalho,
você ficou surpreso?
Você descobriu que eles eram mais ou menos inteligentes
do que esperava que fossem?
Bem, essa é a melhor parte.
Eles, de certas formas, são mais inteligentes
mas, de outras formas, são talvez menos inteligentes.
Eles farão algumas coisas que surpreenderão você totalmente
e você simplesmente não consegue acreditar
que eles sejam tão espertos
e, a seguir, eles irão simplesmente se virar
e fazer algo que é simplesmente bobagem.
Gostamos de pensar que somos as espécies
mais inteligentes do planeta, mas precisamos ser cautelosos
sobre o que significa para nós, exatamente, a inteligência.
A primeira coisa da qual precisamos nos livrar,
quando pensamos em inteligência animal,
é a idéia de que existe essa escada de inteligência
que vai de baixo para cima,
e que os animais podem ser, simplesmente, colocados nela.
É, na verdade, muito mais complicado do que isso.
Animais diferentes têm inteligências diferentes.
Assim, os melhores memorizadores do mundo
são os esquilos e pássaros,
os quais escondem suas nozes em diferentes locais
e conseguem se lembrar de dezenas e dezenas de locais -
mais do que somos capazes.
Oh, eu ia dizer:
quando você diz "melhores memorizadores do mundo",
nós estamos incluídos?
Estamos incluídos. Absolutamente.
No caso dos macacos,
achamos que eles são especialmente bons
na cognição das coisas do mundo físico
e na compreensão de espaço e das relações causais,
tal como ao usar ferramentas,
o que faz com que algo se mova, essas coisas.
Eles são muito bons nisso
e, basicamente, eles não são diferentes
de uma criança humana, nesse tipo de compreensão.
Então, eis a tarefa.
Eu pego um pequeno amendoim -
ele é para você, é a sua recompensa -
e eu simplesmente o ponho aqui...
E para me mostrar o quão inteligentes
os chimpanzés podem ser,
o colega de Michael, Daniel Hannus,
convidou-me para eu mesma tentar resolver o problema
que eles regularmente dão aos chimpanzés.
Faça o que você quiser para liberar o amendoim.
Minha tarefa é retirar o amendoim do tubo,
usando qualquer coisa que eu tenha à mão.
Eu me pergunto se poderia usar a corrente, de algum modo,
e a colher de chá...
Isso vai ser realmente difícil, eu acho.
Receio que eu venha a perder a colher de chá também.
Você nunca vai conseguir tirá-la novamente.
Eu não acho que seja a coisa certa a fazer.
Pode levar um tempo até eu descobrir como,
mas a chave para esse quebra-cabeça
é algo que você poderia pensar que os chimpanzés não têm -
a capacidade de usar um pouco de pensamento lateral.
Eu posso usar minha água?
O que você quiser.
- Você pode usar... - Eu usaria...
Qualquer idéia que você tiver, pode testá-la.
OK.
Sim! Lá vem ele!
Isso! Uau!
Excelente.
Precisei de mais de 4 minutos para conseguir meu amendoim,
então, vamos agora ver como se sai um chimpanzé.
Oh, aqui vêm eles.
Daniel está tentando fazer
com que eles fiquem interessados no amendoim.
E eles vão ter que fazer, exatamente,
o mesmo *** que eu fiz.
Oh, veja, ele está conseguindo.
É realmente inteligente, realmente -
ver esse chimpanzé fazer isso.
E ele não tem uma garrafa de água, como eu tinha.
Ele precisa pensar em como pôr água ali.
Ele põe um pouco da água da garrafa na sua boca
e, então, ele a cospe dentro do tubo.
Ainda não foi o suficiente.
Será que ele já consegue?
Outro gole de água mais... e, oh, está quase...
está quase lá...
Deve ser tão frustrante.
Sim! Ele conseguiu, ele conseguiu.
Você é um chimpanzé esperto.
Eu acho que foi mais rápido do que eu.
2 vezes mais rápido, na verdade.
Mas apesar desse chimpanzé já ter feito isso antes,
mesmo quando lhe apresentaram a tarefa pela primeira vez,
muitos dos macacos aqui perceberam que a água
poderia ser usada não apenas para beber,
mas também como uma ferramenta para mover os amendoins.
Em certas tarefas,
chimpanzés são mais espertos do que você poderia imaginar.
E o que me deixa animada é que Mike e sua equipe
estão agora mirando nos aspectos específicos
da inteligência e do comportamente humano
que nos distinguem de nossos primos peludos.
O que nos torna realmente diferentes
é a nossa capacidade de nos concentrarmos juntos
e fazer coisas que nenhum de nós poderia fazer sozinho,
criar novos recursos que nenhum de nós poderia criar sozinho.
Tudo resume-se realmente à comunicação, colaboração
e trabalho em equipe.
Você acha que há algum efeito complementar
ao de ensinar e de estar em uma comunidade,
em uma cultura que meio que se baseia nessas capacidades inatas?
Faz toda a diferença.
Se você criar uma criança em uma ilha desértica,
sem contato social,
ou seja, sem aprendizado, sem contato com humanos,
sua inteligência, como adulta,
será bastante similar à de outros macacos.
Seria um pouco diferente,
mas eles evoluíram para aprender uns dos outros,
para comunicar-se com os outros e para colaborar com os outros,
e se não houver ninguém lá, nenhuma cultura,
nenhuma ferramenta, nenhuma linguagem,
então, aquela inteligência natural humana
simplesmente não se desenvolverá.
Os peixes nascem à espera de água, certo?
Eles têm nadadeiras, eles têm brânquias,
eles nascem à espera de água.
E os humanos nascem à espera de cultura.
Na essência de ser um humano, está, então, a nossa cultura,
e algo que caminha de mãos dadas com a cultura humana
é a nossa capacidade de cooperar,
e Michael desenvolveu um experimento
que, segundo ele, revela
uma parte específica do comportamento,
a qual nos distingue dos chimpanzés,
a qual nos define como espécie
e que realmente nos torna humanos.
Bem, o que esse *** busca observar, então?
Certo, esse é um *** sobre colaboração e cooperação -
trata-se de puxar uma corda,
de modo que cada um obtenha sua recompensa.
A corda está bem presa através desses ganchos,
logo, se apenas um indivíduo puxá-la,
simplesmente fará a corda se soltar.
Ah, certo.
Assim, precisam puxar juntos para conseguirem a comida.
Bem, agora cada um já tem sua corda.
Certo. Então, essa é uma tábua móvel.
É uma tábua móvel.
Com seus pedaços de banana, que é a recompensa.
Exatamente.
Então, eles têm que puxar juntos?
Eles têm que puxar juntos.
Se um deles puxar sozinho, a corda simplesmente se soltará.
Ela está bem presa e eles estão prontos para fazê-la se mover,
mas eles têm que ser sensíveis ao que o outro está fazendo.
Percebeu que houve, na verdade, um olhar de um para o outro?
Sim, isso é incrível.
E ambos a puxaram e conseguiram sua recompensa.
Eles são 2 de nossos melhores em fazer isso.
- Isso é chocante. - Eles são muito bons.
Que baita cooperação! Isso é brilhante.
Mas a cooperação no mundo dos chimpanzés é algo frágil.
O que acontece se algo der errado
e um dos chimpanzés conseguir sua recompensa primeiro?
Esse aqui se atrapalhou com sua corda.
Ela não consegue alcançar.
E, agora, ele não pode mais fazê-lo, pois o outro se foi.
Você pode ver, agora, a corda saindo.
Ela está frustrada porque
eles não puxaram de modo exatamente síncrono.
Sim.
Então, ela conseguiu sua recompensa.
Ela está feliz, agora. Ela se foi.
E sua pobre parceira é deixada para trás, sem sua recompensa.
Para nossos parentes mais próximos,
inteligentes como são,
isso é o máximo que eles conseguem ir.
Os chimpanzés irão cooperar, mas apenas com fins egoístas.
Mas os experimentos ficam bastante interessantes
quando você começa a testar seres humanos.
Michael tem comparado
como uma criança pequena desempenha a mesma tarefa.
Esse é um *** bastante similar ao ***
que os chimpanzés estavam fazendo com as bananas.
Sim, é a mesma idéia básica, a mesma idéia básica.
Assim como os chimpanzés,
as crianças precisam colaborar puxando
uma corda, ao mesmo tempo, para liberar as bolas de gude.
E, assim como os chimpanzés, não têm problema em cooperar.
Ao invés de um pedaço de banana, sua recompensa é
a satisfação de colocar a bola de gude em uma caixinha.
O experimento pode ser ajustado
de modo que as crianças recebam uma recompensa igual ou desigual.
Então, Mike, qual é a idéia nesse ***?
Elas precisam trabalhar juntas para conseguir a recompensa?
Sim, a idéia desse *** é de que as crianças
não são naturalmente generosas com suas próprias coisas,
e, assim, se elas tiverem algumas coisas
e você disser que elas precisam compartir,
talvez elas o façam, talvez não o façam,
mas quando trabalham juntas
e geram, juntas, essas recompensas,
elas tendem a querer que ambas sejam recompensadas igualmente.
Aqui vêm elas.
Então, ela a está ajustando...
mas, dessa vez, fazendo que a distribuição seja desigual?
Isso mesmo.
Um deles ganhará mais do que o outro,
e veremos se eles vão querer nivelar isso
antes de guardarem suas recompensas.
Puxando...
Ah, uma recompensa desigual, não é?
Essa pequena garota ficou com 1 e esse garoto ficou com 3.
Eles estão compartilhando?
Vamos ver.
Eles as compartilharam.
Sim, eles as compartilharam.
Então, cada um ficou com 2 bolas.
Isso não é interessante?
Isso foi bastante extraordinário,
porque eu não teria pensado naturalmente
que crianças dessa idade -
2 meses, 3 meses de idade - fossem compartilhar.
Apenas quando elas trabalham juntas nisso.
Isso é simplesmente fascinante.
Nesses experimentos, Mike e sua equipe descobriram
uma diferença aparentemente pequena, mas crucial,
entre nós e os chimpanzés.
OK, aqui vêm eles.
As crianças humanas fazem algo que nenhum outro macaco fará.
- Ele rolou uma para ele. - Ele lhe passou uma. - Sim.
Nesse pequeno ato de partilha,
eles revelam algo que realmente está
na essência do que é ser humano.
É uma diferença pequena, porém profunda,
entre nós e os outros macacos,
e é uma forma de pensamento em que se baseia a nossa
capacidade de cooperar e criar a cultura humana.
De alguma forma, esses enormes cérebros que temos
guardam as principais diferenças
entre nós mesmos e nossos parentes mais próximos,
porque olhe para esses chimpanzés.
Eles estão pelados e são peludos.
Eles não estão usando roupas,
eles não estão falando sobre mim, não estão me desenhando.
Então, há algumas diferenças realmente enormes
entre nós e eles,
as quais provavelmente se devem, em muitas formas,
ao que está ocorrendo
dentro desse enorme órgão em nossas cabeças.
Com tão só uns meses faltando para eu dar à luz,
vou fazer um ultrassom para ver como está indo meu bebê.
Bem, eu me deito de costas aqui, Chrissie?
Sim.
Bem, esse é um gel um pouco frio.
Bem, eu vou primeiro dar uma pequena olhada em volta.
É uma experiência emocional
ver meu bebê crescendo dentro de mim.
- Essa é a cabeça. - Essa é a cabeça, sim.
Aqui está o coração batendo.
Oh, é maravilhoso.
Esse é o meu bebê.
Veja isso.
Esse é o meu bebê dentro do meu útero.
E, olhando para ele, ele é obviamente pequeno agora.
Ele só tem 6 meses de gestação, ou seja,
tem outros meses ainda por vir,
mas, nesse ponto, ele parece um bebê perfeito, embora pequeno,
entáo, tudo já está lá -
ele tem seus dedos no lugar, os dedos dos pés no lugar,
e é simplesmente incrível
que tudo isso veio de um simples óvulo fertilizado.
Isso nunca deixa de me surpreender.
Digo, é simplesmente extraordinário
que toda a complexidade do corpo humano venha daí,
de uma única célula com genes meus e do meu marido
e que, de algum modo, ao final, você gera um ser humano.
Mas tanto quanto uma futura mãe, eu também sou uma anatomista,
assim, olhando para as imagens,
eu não deixo de ficar fascinada com as estruturas
que já consigo ver dentro desse meu novíssimo ser humano.
Então, se voltarmos a olhar a cabeça, agora...
Vocë quase consegue ver
as estruturas dentro do cérebro, não é?
É incrível.
Sim, esse é o cerebelo.
- Você vê essa forma em haltere aqui? - Sim, sim.
E essa área escura aqui é o...
Sim, é a parte traseira do ventrículo lateral, não é?
Isso mesmo. É o ventrículo posterior ali.
Isso é incrível.
Com tão só 6 meses,
o cérebro do meu bebê já tem mais da metade do tamanho
do de um chimpanzé adulto, e ainda cresce bem rápido.
Quão grande está a cabeça, agora, Chrissie?
Bem, vamos medi-la para ver...
Bem, nos diz que a gestação já tem mais de 27 semanas,
e que a circunferência da cabeça é de 25,6 cm.
Qual é o diâmetro?
O diâmetro BPD é de 7,2...
7,2. Então, ainda ficará um pouquinho maior.
Bastante, sim.
Oh, céus.
Acho que já está grande o suficiente.
Essa cabeça em crescimento não me deixa esquecer de algo
que está ficando mais próximo a cada dia.
Algo particularmente complicado para nós, seres humanos.
O parto.
O tamanho enorme de nossos cérebros,
juntamente a outro traço unicamente humano -
nosso modo estranho de andar sobre 2 pernas -
conspiram para tornar o nascimento humano
algo bem doloroso,
como qualquer mãe lhe dirá.
Mais uma vez.
Força, isso. Força.
É bem estranho estar em uma ala da maternidade
e pensar que eu estarei de volta a um lugar assim
dentro de apenas 2 meses,
pronta para a chegada de meu próprio bebê no mundo.
Eu acho que isso faz a gente perceber
que o nascimento humano é algo bastante especial,
bastante único, inclusive, dentre o dos outros animais.
Como forma de comparação, dê uma olhada nisso:
um vídeo raro de uma chimpanzé dando à luz
no Zoológico de Leipzig.
O que é notável é a rapidez e a facilidade,
certamente quando comparado com o bem mais complexo
e doloroso parto humano.
Empurre com mais força, vamos.
O que eu desenhei é, essencialmente,
a anatomia de um parto.
Essa é uma pelvis humana feminina.
Se nós olharmos para baixo, desde cima,
estamos olhando através do canal do parto
e essa é a cabeça do bebê,
passando através do canal do parto,
e você pode ver por que
o nascimento é um processo tão difícil.
O canal do parto tem, aproximadamente,
10 cm de diâmetro.
A cabeça do bebê tem, aproximadamente,
9 cm de diâmetro.
Agora, sempre se pensou
que havia restrições na largura da pelvis,
que se baseava no andar sobre as 2 pernas,
que, na verdade, não podemos afastar mais os quadris,
porque isso tornaria andar ineficiente
e, portanto, isso significaria,
para nossos bebês de cérebros grandes,
que eles, na verdade,
não poderiam passar mais tempo no útero,
porque as suas cabeças estariam grandes demais
para passar através do canal do parto.
E, assim, nossos bebês nascem
em um estágio relativamente curto de desenvolvimento.
Nossos recém-nascidos são indefesos.
E esse é um dos paradoxos mais confusos sobre ser um humano.
Diante de nosso brilhantismo como espécies,
em comparação aos outros macacos,
nossos bebês vêm ao mundo sem muita utilidade.
Durante décadas, assumimos que nossos bebês indefesos
eram uma consequência desafortunada
de andar eretos e de ter grandes cérebros.
É chamado dilema do obstetra.
Está escrito em todos os livros.
É o que me ensinaram na universidade
e é algo que eu ensino a outros.
A pelve feminina batalha para realizar 2 tarefas distintas
e nós ficamos de mãos atadas com esses bebês indefesos.
Para explicar esse dilema, devemos começar abrindo a porta
para um baú de idéias sobre ser humano.
E há uma ciência emergindo na costa leste dos EUA,
a qual está abalando a visão tradicional
dos quadris femininos.
A Dra. Holly Dunsworth decidiu que a pelve feminina
merecia uma examinação mais detalhada.
Parece bem peculiar, digo...
algo que realmente nos distingue dos demais macacos
é que o nascimento dos seres humanos é...é difícil.
É muito mais difícil do que é em chimpanzés e gorilas.
Eu sei disso, por experiência pessoal,
então, o que em nossa evolução configura esse problema?
É um dilema. Temos um equilíbrio apertado.
Temos essas 2 condições excepcionais.
Temos esse modo engraçado de andar por aí,
o qual estamos fazendo bem agora,
e temos esses enormes cérebros no topo de nossas cabeças.
E a seleção natural, agindo sobre essas 2 coisas,
as reuniu e criou esse nascimento tão complicado.
Então, é meio que um balanço.
A pelve feminina é um balanço entre algo que precisa ser largo
para permitir que um enorme cérebro de bebê saia,
mas que precisa ser estreita para manter um andar eficiente?
Exatamente.
E esse é o dilema do obstetra, e é único dos humanos.
Então, o ponto é que, idealmente,
nós gostaríamos que nossas pelves fossem um pouco maiores
mas, na verdade, as pelves femininas
já estão nos tornando menos eficientes do que os homens
ao andar e ao correr, e não podemos dilatá-las mais?
Exato.
Segundo essa hipótese, elas não podem ficar maiores,
do contrário, as mulheres seriam
ainda piores ao andar e correr do que já são,
e tudo se partiria em pedaços.
Sim, você acabaria meio que cambaleando
e isso seria realmente ineficiente.
Isso. Você jamais escaparia de um tigre dente-de-sabre.
O que é incrível é que, durante todas essas décadas,
ninguém sequer pensou em questionar as suposições
em que se baseia o dilema do obstetra,
ou a sugestão de que mulheres são um lixo, ao correrem.
Até agora.
Junto a seus colegas - Herman Pontzer e Anna Warriner -
Holly exaustivamente testou os pressupostos
sobre a pelve feminina...
E ela me convidou para o laboratório de Herman,
em Nova York, para ver os resultados.
Incrível. Obrigada.
Então, Holly, isso fazia parte da pesquisa original
que você fez com Herman e Anna, observando a eficiência
da corrida e do andar de mulheres e homens.
Eu vi eles começarem a fazer esse tipo de pesquisa
e ela se encaixou muito bem com as dúvidas que eu tinha
sobre esse assunto do dilema do obstetra.
Sim, sim.
Bem, eu estava pensando em como era estranha essa idéia
de que nossas pelves
estavam limitando nosso tempo de gestação
e isso era algum tipo de, você sabe, uma epifania.
A equipe decidiu explorar o pressuposto de que as mulheres,
com seus quadris largos,
especialmente adpatados para o parto,
são menos eficientes do que os homens, ao correrem e andarem.
Usando um sistema de captura de movimento e uma plataforma,
Anna montou um experimento para analisar o mecanismo interno
dos ossos dos quadris e das pernas.
Até agora, assumira-se que os músculos dos quadris das mulheres,
estando conectados a uma pelve mais larga,
precisavam trabalhar mais do que os dos homens.
Vamos lá, Lesley.
E aqui vem ela.
Isso é ótimo, não é?
Um par de pernas andante.
Mas os experimentos revelaram que, a cada passo,
o ângulo da pelve é constantemente ajustado
para minimizar o trabalho necessário.
Os quadris das mulheres podem ser mais largos,
mas essa oscilação faz uma diferença fundamental.
À medida que ela se move, por meio de cada passo,
ela está ajustando seu equilíbrio e seu peso.
Então, a partir dessa oscilação,
você começa a suspeitar que isso não é tão simples -
dizer que as mulheres, por terem pelves mais largas,
tenham , portanto, os músculos ao redor dos seus quadris
trabalhando mais quando você está caminhando e correndo?
Sim, exatamente. Exatamente certa.
O resultado de todas essas medições
mostra que, durante décadas, nós estivemos errados.
Isso é realmente importante,
porque isso significa que não há uma restrição
sobre o quão larga a pelve pode ser,
em termos de ser eficiente através de um andar bípede.
Esses dados indicam que não há efeito
de ter uma pelve adaptada para o parto
na sua eficiência, durante a caminhada ou a corrida.
A pelve humana, ao que parece, não fica comprometida
e as mulheres, com seus quadris largos,
são tão eficientes quanto os homens, ao correrem e andarem.
Então, por que a pelve feminina não evoluiu para ser mais larga,
para permitir que nossos bebês crescessem um pouco mais
e que não fossem tão indefesos ao nascerem?
A resposta me foi revelada por meio de um experimento
que me envolveu em beber uma água especialmente projetada
e enviar, a seguir, a Herman amostras congeladas de urina.
Bem, Herman, eu reconheço esses pequenos tubos plásticos.
É isso mesmo.
Então, nós a fizemos beber uma pequena dose
do que chamamos de água de dupla-marcação,
e, a seguir, coletamos uma série de amostras de urina,
tal como vemos aqui,
e podemos, na verdade, calcular o quanto de dióxido de carbono
você está produzindo diariamente
e, portanto, quantas calorias
seu corpo está queimando diariamente.
É o padrão de referência
para a medição de gasto de energia nas pessoas,
durante a vida normal.
Revela-se que a duração da gestação não tem nada a ver
com a largura do canal do parto,
mas tudo a ver com energia.
Então, aqui temos a energia que o feto está usando.
Ela é baseada nos dados de outros estudos
e vemos que ela cresce exponencialmente.
À medida que o bebê fica maior,
ele precisa de cada vez mais energia
e nós demos uma olhada na energia
que as mães realmente consomem durante a gestação.
Vemos que ela cresce rapidamente no início,
mas, a seguir, ela se nivela.
Ela atinge um limite. Não há como ir além.
Há um limite para a quantidade de energia
que seu corpo pode queimar.
Presumivelmente, então, não importa se eu coma mais
logo, se eu comer umas centenas de calorias a mais,
isso não faz diferença.
Eu não serei capaz de dar isso ao feto,
porque eu, na verdade, não consigo metabolizar
mais rapidamente.
Isso mesmo.
Há um limite para o quanto de energia seu corpo pode ceder.
Há um forte limite nisso.
Se a gestação continuasse durante mais 1 mês,
você passaria desse limite.
Seria metabolicamente impossível fazer isso.
Então, ao invés disso,
o que ocorre é que, ao se aproximar dos 9 meses,
você dà à luz.
Certo.
Então, demos uma olhada nos seus dados, certo?
Seu caso está ilustrado aqui. Você está bem aí.
Ah, certo, então...
Você está com em torno de 6 meses.
- Estou certo? - É exatamente isso...
Então, você pode dizer em que mês de gestação estou
olhando para isso sem, na verdade...
sem eu dizer isso a você?
Sem você dizer me dizer isso,
eu poderia dizer que você está se aproximando daquele limite.
Você está, praticamente, no consumo máximo de energia
de que espera-se que seu corpo seja capaz.
Será praticamente insustentável, ao adentrar nos 9 meses,
e você dará à luz.
Isso é fascinante.
Isso significa que o bebê chega em um momento,
quando está justamente prestes a exigir mais energia da mãe
do que ela é capaz de lhe dar através da placenta.
Exatamente.
Eu acho que essa pesquisa é realmente revolucionária.
O que ela revela é que
não importa quão largos nossos quadris se tornem,
nossos bebês náo conseguirão ficar dentro do útero
um tempo a mais do que eles já ficam.
Isso me fez ver a pelve feminina sob um novo olhar
e dizer, bem, na verdade, não se trata de um balanço.
Ela funciona muito bem.
Mas, além disso, ela me fez olhar para os bebês indefesos
sob um novo olhar, também, pois eles também funcionam bem.
Exato.
Você sabe, por um lado,
dizemos que eles vêm ao mundo muito cedo,
mas isso funciona.
Isso funciona dentro do contexto da sociedade humana,
porque, caso contrário,
não estaríamos aqui na quantidade que estamos.
Nós gestamos pelo tempo que deveríamos,
para primatas de nosso tamanho,
e, talvez, um pouco mais.
Damos à luz a bebês do tamanho certo,
para primatas de nosso tamanho,
ou, talvez, até um pouco maiores.
O fato é que, uma vez que eles nascem,
eles ainda têm muito crescimento para vivenciar,
particularmente no cérebro,
e enquanto alcançamos esse crescimento,
também temos muito a aprender sobre como ser humano,
do que um chimpanzé precisa aprender
sobre como ser um chimpanzé.
Revela-se, então, que a própria natureza do nascimento humano -
o fato de que vou trazer um bebê aparentemente subdesenvolvido,
é, na verdade, um ingrediente fundamental
no caminho do meu filho para tornar-se humano.
Nossos bebês podem nascer indefesos,
mas longe de ser uma idéia idiota,
acaba sendo um dos passos mais inteligentes que já demos...
...porque, para desenvolver seu potencial humano completo,
os cérebros dos bebês precisam do estímulo de outros humanos.
De algum modo, os segredos de ser humano
estão guardados dentro do cérebro -
o objeto mais complicado e misterioso do universo.
Mas é um órgão que mantém seus segredos muito bem embrulhados.
Então, esse é um cérebro que foi removido de um crânio
e você pode ver que ainda há algumas peles sobre ele -
as meninges -
logo, há diversas camadas de membranas
ao redor da parte externa do cérebro.
Para ver o cérebro teremos que remover essa pele.
Lá vamos nós. Na verdade, já está saindo.
Eu só preciso achar uma brecha
e, então, quando se consegue uma brecha,
ela sai fora facilmente.
É como retirar a casca de uma laranja.
E uma vez que eu retiro essa camada,
nós estamos começando a ver
a realmente bela textura da superfície do cérebro,
então, esse é o córtex cerebral que começamos a ver aqui,
e você pode ver como ele é cheio de dobras.
Essa é uma das características de um cérebro humano -
o cortex é incrivelmente repleto de dobras.
Você tem a impressão de que há um monte de informação
sendo comprimida em uma área pequena.
Então, é isso, esse é o cérebro, muito bem limpo.
E eu acho que, não importa quantas vezes eu faça isso,
é totalmente extraordinário segurar em minhas mãos
o órgão que, mais do que qualquer outra parte de nós,
nos representa.
Parece realmente extraordinário
que esse objeto físico, na verdade, pouco atraente,
contenha a personalidade de alguém, seu banco de emoções,
e que seja nele onde eles vivenciaram o mundo
e onde eles guardaram suas memórias.
É realmente notável.
Apesar de centenas de anos de experimentos,
a forma exata com a qual o cérebro consegue tudo isso,
permanece envolvida em mistério.
O pouco que sabemos
apenas parece tornar tudo ainda mais extraordinário.
Nós sabemos que um cérebro humano contém
espantosos 100 bilhões de neurônios,
mas não é só o número de células cerebrais que é importante.
O que torna o cérebro humano tão incrível
é a enorme quantidade de conexões entre essas células -
a sua gigantesca e complexa rede interna.
Assim, eu vou começar a fatiá-lo
com esse bisturi cerebral incrivelmente afiado.
Os cérebros humanos têm em torno de 40% a mais
de conexões entre os neurônios do córtex
do que os cérebros de outros primatas.
São em torno de 100 trilhões de conexões em cada cérebro.
Nós conhecemos muito bem a anatomia básica,
mas se quisermos começar a entender
esse nível extraordinário de complexidade,
precisamos olhar para o cérebro com um novo kit de ferramentas.
Para descobrir exatamente
como nossos cérebros podem se tornar tão altamente conectados,
eu vim aos EUA para aprender sobre a mais recente pesquisa
sobre o genoma humano -
a receita para um ser humano.
Há 3 bilhões de letras no genoma humano,
armazenadas nos 23 cromossomos contidos nessa receita,
em cada célula de nossos corpos.
Cada letra - A, G, C e T - representam 1 das 4 bases,
os blocos químicos de construção,
os quais compõem as longas cadeias de DNA.
E para os geneticistas, como Franck Palleux,
essas letram guardam as pistas
que poderão desvendar os segredos do cérebro humano.
Então, esse é o cromossomo N° 1 por escrito.
Isso mesmo.
- Corresponde a que fração do cromossomo N° 1? - Apenas 1/5.
E há 1.000 páginas aqui.
1.000 páginas e 45.000 pares de bases por página.
O genoma inteiro preencheria 670.000 folhas de papel
e, a esse ritmo,
Franck e eu levaríamos mais de uma semana,
trabalhando 24 horas por dia,
para dispor o código humano inteiro.
É incrível pensar que a nossa vida inteira, sabe,
está contida nesse código.
E se queremos descobrir o que torna o código humano tão único,
precisamos comparar nossa própria receita com a dos outros.
O avanço que nos permite fazer isso é que,
assim como o genoma humano,
nós, agora, sequenciamos o genoma de muitos outros animais.
Mas descobrir as seções de código cruciais
que nos tornam humanos é um quebra-cabeça monstruoso.
Um dos passos importantes nesse processo
para tentar identificar o que,
em nosso genoma, no genoma humano,
poderia estar vinculado ao que nos torna humanos,
é tentar encontrar diferenças ao nível dos pares de bases,
entre a nossa sequência de código -
basicamente nosso genoma -
e, ao menos, a do nosso parente vivo mais próximo - o chimpanzé.
Franck se deteve em uma mudança particular
que é específica aos humanos,
a qual, segundo ele, pode ser fundamental.
Envolve um gene chamado SRGAP2,
o qual é encontrado em todos os animais
e que afeta, principalmente, o cérebro em desenvolvimento.
Mas nos humanos e apenas nos humanos,
esse gene é duplicado 4 vezes.
Esse gene começa na página 814
e o início da sequência é essa sequência - CACAGGAA -
e, bem, o gene começa aqui.
Eu não acredito que você consegue reconhecê-lo.
O gene tem em torno de 125.000 pares de bases de tamanho,
então, ele vai da página 814 à 840.
Bem, tudo isso é um único gene?
Um único gene. Exatamente.
E a sequência basicamente acaba bem aqui - TGCTGCGT.
Então, esse é um gene que temos em comum com outros macacos,
mas temos 3 cópias a mais do que eles?
Correto. Temos 3 cópias a mais desse gene.
Isso estaria no volume 30.
Lembre-se: esse é apenas um volume do cromossomo N° 1.
A sequência completa do cromossomo 1
apresenta 50 volumes, certo?
Assim, as cópias estariam nos volumes 30, 31, 32.
O que Franck descobriu foi que a duplicação humana do SRGAP2
tem um efeito dramático na conectividade dos neurônios.
Aplicando a duplicata humana no DNA do rato,
ele mostrou que os neurônios do rato
aumentaram a sua capacidade de formar conexões.
Então, esse é o cérebro normal de um rato,
e isso é o que acontece
se você põe a parte duplicada do SRGAP2...
Você forma, basicamente, muito mais ramificações
e nós temos outra evidência que mostra esses neurônios
estão, na verdade, super-conectados lá.
Você aumenta em torno de 40% o número total de conexões
feitas entre esses neurônios.
Por que isso é tão animador?
Basicamente, os humanos se destacam totalmente.
Os neurônios humanos têm um aumento de em torno de 40-50%
no número de conexões feitas entre esses neurônios,
o que sabemos ser uma característica
que meio que distingue os neurônios humanos, basicamente.
Para mim, aí é quando a genética fica realmente excitante,
porque tivemos uma verdadeira diferença observada
nos cérebros de chimpanzés versus os cérebros humanos,
e, agora, nós temos algo no genoma
que poderia explicar
a verdadeira diferença física entre nossos cérebros.
Exatamente.
Cada nuance do comportamento humano, de algum modo,
nasce dessa enorme rede ramificada
de neurônios hiper-conectados em nossos grandes cérebros.
É o que torna o cérebro humano tão brilhante -
esse complexo diagrama de conexões,
o qual armazena nossas memórias, nossas emoções,
nossa capacidade para remar um barco ou para desenhar.
É o que nos torna humanos.
Mas até para contemplar o desenho desse diagrama,
precisamos de toda uma nova forma de olhar.
Eu vim até a Universidade de Harvard para conhecer
um dos neurocientistas mais importantes do mundo,
que impôs a si próprio uma tarefa de ambição esmagadora.
Jeff Lichtman está planejando criar o derradeiro mapa,
um diagrama de rede do cérebro humano,
uma conexão por vez.
Se ele conseguir completá-lo,
esse mapa monumental poderia, finalmente,
revelar os mecanismos misteriosos do cérebro humano.
Mas antes que ele possa começar,
Jeff primeiro está tentando mapear as conexões
no bem mais modesto cérebro de um rato.
Esse é um pequeno bloco plástico, onde está contido o cérebro.
Não está todo o cérebro do rato aqui?
Não, provavelmente tem 1/4 do cérebro de um rato,
de modo que, para ver o que está havendo,
precisamos fatiá-lo em tiras extremamente finas.
Assim, estamos fatiando esse cérebro com uma faca de diamante.
Essa faca de diamante corta uma seção
de cerca de 30 nanômetros de espessura -
isso equivale a 300 átomos de hidrogênio,
ou seja, é muito pequeno.
Tem a espessura de cerca de 1 milésimo de um cabelo humano,
então, você acaba com uma fita muito, muito, muito longa,
a qual tem milhares e milhares de seções nela.
Eu consigo ver as seções aí dentro, na verdade...
- Exato. - Esses pequenos retângulos.
E essas seções são como frames em um filme.
Cada uma dessas milhares de pastilhas com as seções
precisam ser, então, individualmente escaneadas.
Então, isso está em tempo real, essa é a imagem, na verdade,
vindo do microscópio eletrônico, aqui?
A 20 milhões de pixels por segundo.
Isso irá levar 15 minutos e, a seguir, partimos para o próximo.
E temos 10.000 por fazer com esse conjunto de dados.
São 3 meses de trabalho.
Os números são astronômicos, não são?
É como olhar para as galáxias e contar estrelas.
Bem, em 3 meses, você terá construído um cubo,
um cubo tridimensional,
o qual, na verdade, mede 1/4 de mm em cada direção?
Isso mesmo, mais ou menos.
Para escanear um cubo de 1 milímetro, então,
seria isso 16 vezes.
Sim, ou seja, 4 anos.
Então, quanto tempo para escanear o cérebro inteiro de um rato?
Você precisaria fazer isso 1.000 vezes,
então, isso dá em torno de 4.000 anos.
Certo, e quanto tempo para escanear um cérebro humano?
Levaria 1.000 vezes mais tempo, então...
4 milhões de anos!
A essa taxa, não estarei mais vivo até lá.
Jeff, você tem que torcer para que isso fique mais rápido.
Um calendário com multimilhões de anos pode soar assustador,
mas a tecnologia avança
e, nesse momento, Jeff e sua equipe
estão nos dando uma visão incrível
sobre os mecanismos internos do cérebro.
Eu pedi a um dos meus colegas, Bobby Kestheri,
para segurar, totalmente imóvel,
uma dessas partilhas que estão sendo escaneadas,
de modo que pudéssemos dar um zoom aqui -
e ele é bem destemido.
Ele partirá rapidamente para o microscópio eletrônico.
E essa é uma dessas seções.
Então, tal como uma das seções que nós vimos
- ...vindo do microscópio. - Exatamente.
As imagens são tão detalhadas
que elas permitem que Jeff faça amplificações
até a escala de neurônios individuais...
Esses grandes círculos brancos são as células nervosas.
...revelando, em uma escala menor, a seção transversal
do labirinto de fios no centro do cérebro.
Se amplificarmos ainda mais, vemos, finalmente,
um axônio fazendo uma sinapse com o dendrito de uma célula.
Jeff pode, então, reagrupar
o pequeno cubo cerebral dentro de um computador,
empilhando as fatias crebrais,
rastreando o percurso complexo de cada neurônio
com cores diferentes e criando um modelo 3-D
dos fios individuais conectados no cérebro.
Os fios são dispostos de um modo incrivelmente denso.
Isso mostra as ligações em apenas 1/5.000.000
de 1 milímetro cúbico de cérebro.
Então, essa é a circuitaria,
esse é o seu diagrama 3-D de conexões?
É bastante belo ver o cérebro dessa forma
e perceber que essa é uma fatia infinitamente pequena
de um cérebro muito grande.
Eu acho que para os seres humanos contemplarem isso,
a dificuldade é que é muito difícil para um cérebro humano
entender a extraordinária complexidade
de um cérebro humano.
Nós achamos que somos muito espertos
e que podemos entender tudo,
mas, na verdade, a máquina que estamos usando
para nos permitir entender as coisas é muito mais complicada
do que as idéias bem simples que saem de nossas mentes.
Nossos cérebros não são apenas grandes,
eles têm muito mais conexões
do que os cérebros de qualquer outro animal.
Por fim, trabalhando com esses neurônios individuais,
mapeando suas trilhões de conexões,
podemos ser capazes de apontar, exatamente,
como essas super-conexões refletem na psicologia
e no comportamento dos seres humanos.
Para a maioria dos animais,
grande parte de seus cérebros é codificada pelos seus genes.
Uma mosca-da-fruta não precisa ir até a escola para voar,
e sequer precisa aprender a como voar.
Ela sabe como voar desde o início.
Nos seres humanos, é muito difícil saber
que tipos de comportamento temos, intrinsicamente.
Provavelmente tossir, defecar, urinar,
e algumas outras coisas que definitivamente podemos fazer,
como respirar,
mas aprender a como abotoar a sua camisa
ou ler ou usar a linguagem com a qual você pensa -
tudo isso exige aprendizado.
Você é obrigado a aprender.
Não se trata de um extra,
é um ingrediente essencial para se tornar um ser humano.
Então, os humanos têm, essencialmente,
mais comportamento que é aprendido
e menos comportamento com o qual foi programado desde o início?
Sim, acabamos com cérebros
capazes de fazer todas essas coisas incríveis,
mas viemos ao mundo aparentemente
sabendo muito menos sobre o mundo
do que, praticamente, qualquer outro animal.
Precisamos de 1 ano para andar, 18 anos para sair de casa,
e durante todo esse tempo,
os seres humanos estão construindo informações
sobre como se comportar.
E os circuitos neurais de comportamento
são baseados na experiência,
não baseados em informação genética.
Um humano, hoje, como adulto,
está fazendo um conjunto de coisas totalmente diferente
das que humanos faziam milhares de anos atrás,
e qualquer pessoa mais jovem irá lhe dizer
que seus pais parecem antiquados,
e que seus avôs são completamente arcaicos,
mas imagine, você sabe, o que as pessoas estavam fazendo,
milhares ou dezenas de milhares de anos atrás.
Isso porque os humanos evoluem continuamente sua cultura,
mesmo quando nossa herança genética
não variou tão rapidamente.
Essa é a genialidade de ser um ser humano.
Eu realmente amo a beleza do trabalho de Jeff -
esses fantásticos neurônios multi-coloridos,
todos conectados juntos
em redes incrivelmente complexas e densas.
E, é claro, todas essas conexões estão sendo feitas
nesse exato momento,
dentro do cérebro do meu bebê, dentro do meu útero...
E esse, por si só, é um pensamento extraordinário,
mas eu acho que o ponto no qual
realmente começamos a nos tornar humanos
é o ponto onde temos
essa interação entre o natural e o aprendido -
o processo que realmente esculpe uma mente humana,
e isso começa no nascimento.
E aqui está ele, meu lindo menino.
Ele é muito, muito novo e, certamente, muito indefeso.
Ele também tem uma enorme cabeça.
Ele tem muito potencial, ao emergir nesse mundo,
e está pronto para aprender a se tornar um ser humano.
Traduzido por: VitDoc