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Eu sempre fui um apaixonado por livros.
Na verdade, creio que são uma das
coisas mais importantes jamais criadas
um dos pilares de nossa civilização.
Então, quando me sugeriram
fazer uma jornada em busca do
gênio que inventou a imprensa,
aceitei na mesma hora.
- Jesus Cristo, é ela mesmo?
- Sim, é ela.
Esse foi o homem que iniciou a
primeira revolução de mídia
e abriu-nos as janelas do
mundo contemporâneo.
Mas sua história está envolta
em mistério, então, para esclarecer alguns pontos
decidimos fazer uma
experiência
e construir nossa própria
impreSssora medieval. "Tão lindo!".
Isso significa meter a mão na ***
com ferramentas e tecnologia
do século 15.
Assim não, Stephen!
E produzir alguns dos ingredientes
com minhas próprias mãos.
O que me levou de volta às aulas de educação
artística, onde eu era um desastre.
O que depois se comprovou absolutamente
verdadeiro.
"Me sinto conectado a isto, de alguma maneira,
só pelo fato de fazê-lo."
Então aqui está a história um pouco mais
mão-na-***-do-que-eu-esperava
de Johannes Gutemberg e
sua máquina maravilhosa.
A Máquina Que Nos Criou
Bem, se você for tão velho quanto eu,
deve se lembrar disso.
O Kit de Impressão John Bull.
Produto da Inglaterra.
Este foi meu primeiro contato
com a arte da impressão, verdade.
E, mesmo simples como são,
esses bloquinhos de borracha aqui
traduzem tudo o que é necessário saber
sobre impressão
com tipos móveis.
Toma-se a tinta... Oh, aqui está.
E vou sujar meus dedos logo, logo.
Há dezenas de letras diferentes
e pode-se rearranjar o conjunto em qualquer
sequência desejada numa destas,
que, creio, se chama 'forma'.
E, então, quando você imprime...
O conteúdo é exatamente o mesmo, todas as vezes.
Você pode imprimir centenas, dezenas,
milhões de páginas
absolutamente idênticas.
E aqui está.
Claro que o fato de que
estes são tipos móveis
me possibilita mover as letras
em qualquer arranjo,
criar outras palavras,
como num jogo de Scrabble,
então vamos misturá-las e
ver o resultado?
Aí está. ("Galinhas de estimação fritas")
Então porque a humanidade levou tanto tempo
para juntar esses
elementos tão singelos
em uma máquina
que pudesse fazer livros?
O salto quântico foi dado por um homem
chamado Johannes Gutenberg,
há mais de 500 anos atrás.
Sua máquina de imprimir
foi o mais revolucionário
avanço tecnológico
desde a invenção da roda.
Vivemos ainda envoltos em suas
consequências, como se pode ver aqui,
no subsolo da
Biblioteca Britânica, onde há
pelo menos uma cópia de todo
e qualquer livro em inglês.
Sim, há quase vinte quilômetros de
estantes aqui
E mais um número enorme
adicionada todos os anos
já que 3 milhões de novos livros saem dos
prelos em inglês, e sobre mim, todos
os leitores esperando seus livros
não fazem a menor idéia do
labirinto de estantes aqui.
Foi a invenção da imprensa que
iniciou isso tudo,
tornando a produção em *** de livros possível
pela primeira vez na História.
Passados poucos anos de sua invenção,
já havia milhões de livros circulando.
Na medida em que circulavam, levavam
sua preciosa carga de novas idéias
ou teorias, filosofia
ou propaganda
a todo e qualquer canto da Europa e além,
plantando as sementes do grande
reflorescimento cultural que
chamamos Renascença.
Os frutos do invento de Gutenberg
podem ser visto por toda parte,S
mas há mais que isso,
pois tudo aquilo que baseia
nossa cultura e civilização
começou com este invento de Gutenberg.
E este era o seu carro-chefe -
um dos primeiros e mais refinados livros
impressos usando sua nova máquina.
Para o olhar contemporâneo, a Bíblia de Gutenberg
abre uma janela para um mundo desaparecido
de monges e monastérios.
Mas, quando de sua primeira aparição,
na década de 1450, foi visto
não como um souvenir do passado,
mas como um farol iluminando o futuro,
e provando que uma nova
era da informação estava
acontecendo na Europa,
impulsionada pelo poder
da palavra impressa.
Eu quero descobrir como e porque
Gutenberg inventou sua máquina.
Para responder a pergunta "como?",
Estou planejando um experimento único.
E este é o laboratório
em que o experimento terá lugar.
Vamos entrando.
Essa oficina no coração da
Inglaterra pode não parecer muito hi-tech -
mas só é assim pois a tarefa que
tenho em mente requer
materiais e técnicas
do século 15,
e a ajuda de um expert quando o assunto
são os pioneiros da imprensa.
Ecce ***: Alan May.
- Então esse é o lugar em que você
tentará replicar uma
prensa de Gutenberg, certo?
- Essa é a idéia.
Mas não qualquer prensa. Eu quero
uma igual à de Gutenberg.
E funcionando.
Nenhuma dessas primeiras máquinas chegou
até nós. E ninguém jamais descobriu
uma ilustração ou esboço
de como elas realmente eram.
Então Alan tem menos pesquisa pela frente.
- De fato, essencialmente, este é
um território inexplorado.
- Um conto de mistério, se preferir.
- A mais antiga ilustração de uma prensa
está em A Dança Macabra, de 1499.
- Mais de 50 anos depois que
Gutenberg começou seu negócio.
- Então as coisas evoluiram rápido...
- Exatamente.
- Acho que esse período inicial
foi realmente revolucionário.
- As coisas mudavam o tempo
todo. Mais ou menos como a
Internet agora.
- Foi mesmo um 'bum!'
- Sim
Alan acredita que a prensa de Gutenberg
guarda algumas semelhanças com
máquinas posteriores. "Todas as impressoras
até por volta do ano 1800..."
"tinham uma parte central que
descia, imprimindo os tipos."
- Havia um pistão e
uma prensa.
- E outra coisa fundamental
em qualquer máquina desse tipo
é que é necessário um meio
de transportar
a superfície impressa
e o papel sob a prensa.
- Então você tem o papel se movendo
nesse sentido e então vem
a prensa, como você diz... Descendo
aqui e ela imprime o ...
" Mas há uma diferença crucial entre
o original de Gutenberg
e as chamadas 'prensas comuns', como a
em que esse modelo se baseia."
- Para imprimir nesse tipo de equipamento,
se põe duas folhas nesta pedra aqui.
- Certo...
- Uma pedra muito pesada,
cerca de 100 quilos.
- Jesus!
- E então o processo de
impressão era duplo.
- Você coloca a primeira página,
move a alavanca,
que faz a prensa baixar. Então solta parcialmente
e baixa de novo na próxima página e
imprime outra vez.
- Daí o termo "prensa de dois tempos".
Análise periciais no original
da Bíblia de Gutenberg revelam
que ele imprimia apenas uma página
por vez. Em outras palavras:
sua prensa era de "um tempo".
Isso influenciará o tamanho
e design da máquina experimental
de Alan,
que já está tomando forma
em outro canto da oficina.
- Certo, vamos lá. Por favor passe a
marreta e o formão.
- Oh, Deus, sim, aqui estão.
"Carpintaria nunca foi minha especialidade
na escola, mas ninguém parece
ter avisado Alan deste detalhe."
- O truque está em não usar
a largura completa
do formão.
- Certo.
- Cerca de um terço dele,
isso faz com que ele deslize.
- Melhor menos profundo que excessivo.
- E se for muito raso você pode
ajustá-lo com a mão, ok?
- Certo, tente agora. - Oh meu Deus.
Você vai se arrepender disso. Não
quero estragar tudo. Eu avisei.
- Certo, cerca de um terço, assim mesmo.
- Vamos, coragem. Ficou muito bom!
- Uau! É muito bacana!
- Dá uma sensação boa, não?
- Sim, é sim. Eu sinto
como se estivesse descobrindo
um fóssil numa rocha.
- Sim, é como se fosse isso!
- Hum, espero que não tenha errado esta.
Não, está bem.
- É extraordinário criar algo como um
mecanismo complexo - literalmente
com as próprias mãos.
- E aí está.
- Está muito bom...
- Termine isto para mim, por favor,
Quando Alan tiver terminado a máquina
quero imprimir uma página réplica
da Bíblia de Gutenberg.
Isso significa que também terei
que buscar alguns outros ingredientes,
incluindo tipos móveis
e papel do século 15.
Mas antes, tenho uma viagem a fazer.
- Viajarei através do Vale do Silício
da Europa medieval,
para explorar os lugares onde
Gutenberg e seu time
desenvolveram a máquina que moldou
o mundo moderno.
Meu primeiro ponto de parada é Mainz,
nas margens do Reno,
no Oeste da Alemanha.
Esta é a cidade natal de Gutenberg
e o lugar em que passou a infância.
Mas, apesar das aparências, restam poucos
vestígios da cidade medieval
em que Gutemberg cresceu.
- Esta é a casa em que ele nasceu.
- Uma farmácia?
- Você sabe ler emS alemão?
- Sim.
- "Esta é a casa em que Gutemberg nasceu".
- E 'Gutenberg' é o verdadeiro
nome de família?
- Não, na verdade o nome de sua família
era 'Gensfleish'.
- Que significa?
- 'Carne de Ganso'.
- Então... quem quer andar por aí portando um nome
como CARNE DE GANSO a vida toda?
Logo na esquina está a igreja onde
ele provavelmente foi batizado.
Bem, parte dela, pelo menos.
Mainz foi pesadamente bombardeada
na Segunda Guerra, então as ruínas
medievais de São Cristóvão
agora estão amparadas
em concreto do pós-Guerra.
- Foi deixada assim
deliberadamente, como um memorial?
- Sim, sim.
- Pense numa impressora
e você lembra de fontes,
esta aqui deve ser uma fonte de 7.000 pixels!
Mas é formidável de se ver.
- Ah, ali há placa sobre ele.
- Bem, ali estão seus restos mortais.
- Sim, há algo que eu queria
lhe perguntar, na verdade.
- A cidade de Mainz anunciou no ano 2000
o sexto centenário de seu nascimento,
então acreditam que
ele tenha nascido em 1400.
- Bem, isto foi decidido
publicamente em 1900,
quando promoveram o mesmo oba-oba
ao redor de seu quinto centenário,
na época e decidiram
que Gutenberg nascera em 1400.
Mas a data exata
é algum dia entre 1397 e 1404.
Bom, eu diria que concordo
um pouco com a decisão da cidade.
- Acho que 1400 é um belo ano para
fixar seu nascimento, não por causa
do número redondo, mas por que é
exatamente o ano em que
Geoffrey Chaucer morreu, na
- Oh... Então foi o final de uma era,
digamos, a Era do escritor medieval
e o início de uma nova Era,
o alvorecer da Renascença.
Há muito poucas evidências sobre
os primeiros anos de Gutenberg em Mainz.
Sabemos que sua mãe era dona de terras
e que seu pai era um comerciante,
cujo trabalho o pôs em contato com os ourives,
fundidores de metais,
donos de talentos que Gutenberg
descobriria muito úteis,
e é provável que ele tenha
frequentado a universidade
onde teria entrado em contato com
os livros, ao contrário da maioria
de seus contemporâneos.
Mas esta é toda a informação que se tem.
É como vislumbrar a aparição
ocasional de um rosto numa multidão,
e vê-lo sumir instantes depois,
fundido com a ***.
E, quando você finalmente topa
cara a cara com o grande homem,
você não tem certeza se está
olhando para o Gutenberg real.
Tivesse ou não três mãos,
como este sujeito aqui,
Parecesse ele ou não como um David
Tennant ou como um Doutor Who,
ou ainda tivesse ele uma barba
em forma de peixe - ou não -
uma coisa é certa -
não sabemos realmente como
Gutenberg se parecia,
e isso abre diversas possibilidades.
Talvez ele se parecesse com você.
Ou comigo.
Improvável. Ele seria queimado na fogueira
se se parecesse comigo.
Ninguém sabe exatamente quando o
arisco Gutenberg sonhou pela primeira
vez com seu invento.
Mas a ideia era revolucionária
no mundo pré-industrial
do século 15.
Estamos tão acostumados com
materiais impressos em nosso
dia-a-dia, de pacotes de cereais pelas manhãs
ao livro de cabeceira,
que, talvez, seja muito difícil imaginar
como era o mundo antes da invenção da imprensa.
Então foi necessário vir aqui, a esse
monastério, o Kloster Eberbach,
em uma aldeia a apenas alguns quilômetros
de Mainz, onde Gutenberg cresceu,
e onde não a palavra impressa,
mas a palavra escrita, era a rainha soberana.
- Ah. Dr. Schneider.
- Olá...
Oi. Prazer em conhecê-la.
É maravilhoso estar aqui, num
sítio monástico.
- Estou tentando entender como era
a vida por aqui na época de Gutenberg,
como os livros eram produzidos nos Scriptoria -
como se dizia.
Ja (em alemão).
Este é um belo salão.
Mas, de fato, é uma sala de reuniões
onde liam os capítulos da Bíblia
sentados em bancos largos.
- Então um SCRIPTORIUM, é de se presumir,
era diiferente de salões como este?
- Sim. - Que tipo de coisas é de se
esperar numa sala de escribas?
Ah, os scriptoria eram salas menores
que essa, pela necessidade de aquecimento
nesses ambientes, pois para escrever
você precisa de dedos descongelados.
- Claro.
- Segurar uma pena e fazer todo
esse trabalho meticuloso manualmente.
- E luz. Uma janela no verão,
e, no inverno, velas... "Kerzen. Ja, Ja, Ja".
- Há alguma ideia de que tipo de caráter
ou personalidade tinham esses monges copistas?
- Muito raro. Por vezes encontramos,
no final destas Bíblias
ou outros manuscritos, pequenos textos,
onde os copistas informavam
o quão duro seu trabalho tinha sido.
- Sério? Eles deixavam
pequenos registros?
- Ja, ja, ja.
- Fazia muito frio, eles tinha que sentar
sempre na mesma posição
e tinham...
- Cãimbras e reumatismos.
- Ja, ja. E fazia frio, e era escuro,
e as vistas cansavam.
- E eles registravam isso?
- Sim! Sim, sim, sim.
"Bíblias manuscritas eram
luxos raros e caríssimos,"
"muito além do alcance
de simples mortais."
"E mesmo os melhores copistas
cometiam erros."
"Uma máquina de imprimir permitiria
a criação de cópias exatas,"
"e muitas."
"Ainda que alguns líderes da Igreja"
"temessem qualquer coisa que pudesse
quebrar seu monopólio sobre o conhecimento,"
"outros entendiam que uma versão
padronizada e universalmente
aceita da Bíblia"
"seria uma arma poderosa na
batalha para preservar a unidade dos Cristãos".
"Mas a Igreja era apenas um
dos mercados potenciais para livros impressos".
"Além do claustro, novas universidades
surgiam aqui e ali por toda a Europa."
- Então é tentador pensar
que Gutenberg, além de seu
interesse puramente técnico,
também pensava como empreendedor...
- Ja, ja, ja.
- Era uma mistura de três coisas,
creio.
- Ele era um técnico no que
tangia aos desafios técnicos,
era um comerciante,
e também um intelectual -
frequentara a universidade e sabia
que muita gente precisava de livros.
"Com a demanda crescente por livros,
qualquer um que inventasse
uma máquina para fazê-los
podia fazer uma fortuna.
"E, tendo crescido na maior
região vinícola da Alemanha,"
"Gutenberg não precisava buscar
longe uma fonte de inspiração."
Estas são estruturas bastante sólidas,
e eu creio que o pobre Alan, lá na Inglaterra,
tentando construir uma prensa,
acharia interessante ver
de perto como as originais eram feitas.
"Essas trqaquitanas são prensas de uva."
"Alan crê que a prensa de Gutenberg
evoluiu de máquinas como essas."
- Oh, muito esmerada. Muito boa.
- Sim, para Gutenberg este era provavelmente
um cenário corriqueiro.
- Ele cresceu em uma das maiores regiões
vinícolas do mundo.
- Mas, me pergunto, terá havido um momento,
um instante exato em que ele, sentado perto
de uma dessas,
ou vendo as uvas espremidas pela prensa,
viu a espiral empurrando para
baixo o bloco,
e pensou,
"Ah! É Isso que preciso."
Algo como esse enorme quadro
com uma espiral."
"Prensas como essa podem ter
iniciado o processo criativo de Gutenberg,"
"mas transformar uma peça mecânica tão simples
numa máquina de precisão seria uma tarefa
de outra magnitude."
"E isso foi apenas parte do
desafio que ele enfrentou."
"O projeto todo
tomaria anos de experimentos"
"e custaria fortunas."
"Mas dinheiro não dava em árvores
na Mainz do século 15."
- A cidade fora muito influente
e próspera na Idade Média,
mas, então, já no século 14,
desacelerou um pouco, pois foi
abatida pela peste duas vezes.
- A Peste Negra.
- Sim, a Peste Negra.
- A cidade já não era mais tão rica.
Mas fora politicamente influente.
- O Arcebispo era um dos
'primus inter pares', como se diz dos
responsáveis pela eleição do Imperador.
Então era uma cidade importante,
de qualquer modo.
- De certo modo, o que você
está me dizendo é que Mainz era uma
cidade do passado,
e que Gutenberg precisava de uma
cidade que mirasse para o futuro.
- Sim, creio que é isso.
"Para o jovem empreendedor Gutenberg,
Mainz não era o lugar ideal para começar um negócio."
"Ele tinha pouco mais de 30 anos quando
fez as malas e içou velas pelo Reno."
"A dois dias de barco ao sul estava a cidade
onde seus experimentos com impressão"
"começariam."
"Na oficina de Alan May, na Inglaterra,
nosso protótipo de impressora já
está em marcha."
"Alan convidou seu amigo Martin Andrews,
também expert no assunto,
para mostrar-lhe o progresso do trabalho."
"Estou feliz de ver que minhas fotos de
turista estão sendo usadas."
"E Alan também concluiu a espiral de
madeira maciça que gera a pressão
necessária para imprimir."
Mas essa rosca precisa de uma
'contra-rosca' para guiá-la na
sua viagem,
"e é preciso fazê-la manualmente
na própria máquina."
"Parece difícil para mim,
mas Alan tem um plano."
- É uma engenhoca formidável, Alan!
- A idéia foi emprestada de um sujeito
chamado 'Heron de Alexandria',
que fez algo assim por volta de 64 dC.
"Esse dispositivo engenhoso
usa esses pinos de madeira"
para guiar a viagem."
"Enquanto isso, um conjunto de lâminas
no outro lado da espiral esculpe
as ranhuras no bloco".
- Com cuidado de posicioná-lo
sem bater na lâmina.
- Você está usando a própria rosca
para esculpir a contra-rosca.
- Exato. Essa é a parte
elegante da idéia.
- Ela já empurrou bastante
serragem no caminho, veja.
"Está funcionando, aparentemente, mas
só há um jeito de saber se
a espiral e a contra-espiral
estão ajustadas."
- Ah! isso muda toda a
perspectiva.
- Assim que você tira o pistão
dá para ver o resultado.
- Jesus! lá vamos nós!
- Excelente!
Acho que está muito boa!
- Nunca vi algo assim. Estou convencido, funciona!
- Estou convencido também,
mas há um pouco mais de trabalho pela frente.
"Estou seguindo a pista de Gutenberg
pelo Reno, de Mainz a Estraburgo".
"Quando Gutenberg chegou, nos anos 1430,"
"esta era uma cidade que efervecia,
com relações comerciais
por toda a Europa e além."
"Isto fazia dela uma base comercial muito
mais promissora que a cidade
decadente em que nascera."
"E dominando a paisagem da
região comercial
vê-se a grande Catedral."
"Claro, quando Gutenberg aportou por aqui
ela ainda não estava concluída"
e essa impressionante torre pontiaguda
ainda não estava concluída.
"E, como se pode ver, o trabalho
continua até hoje."
"É preciso ter em mente que,"
"nessa época, o único investimento
que os seres humanos faziam"
"era em seu futuro longínquo,
em outras palavras, na vida após a morte."
"Ao participar na construção
dessas enormes estruturas,"
"estavam garantindo
seu lugar no Paraíso."
"Na época de Gutenberg,"
"entra em cena um novo personagem,
o empreendedor,"
"que investe não no pós-morte,
mas no seu futuro em vida."
"Investidores de risco.
E essas pessoas provaram-se
bastante úteis ao projeto de Gutenberg."
"A catedral era mais que
o coração espiritual da cidade."
"Era também o ponto de encontro
para negociantes e homens de posses,"
"protótipos de capitalistas com os fundos
de que Gutenberg precisava para seu projeto."
"No final da década de 1430 ele iniciou uma
sociedade com três deles,"
"e estava preparado para
materializar seu sonho."
"E, sempre que ele quisesse
se assegurar de que sua idéia
era excelente,"
"era só dar uma voltinha
pelas ruas da cidade."
"Veja a Rue des Freres,
'a Rua dos Irmãos' -
nos diz um pouco sobre
essa região."
- Estamos ao lado da catedral,
o coração eclesiástico de uma
cidade eclesiástica encrustrada
no centro de um império eclesiástico -
o Sacro Império Romano-Germânico.
- Pode-se comparar este local
com algo como a City de Londres
o centro nervoso de um sistema
que comanda o mundo atual.
Para nós são as finanças,
para eles, a religião.
- Era a Igreja que
produzia toda a papelada
toda a documentação legal,
todos os serviços impressos.
- Tudo, de fato, que Gutenberg
enxergava precisava de cópias,
que demandavam uma nova tecnologia.
- E então chegamos aqui, uma rua claramente
menos pomposa que a anterior,
mas não o nome: "Rue des Écrivains".
- "Rua dos Escritores. "Schriwerstubgass".
- Nessa rua, em Estrasburgo,
Gutenberg deve ter topado com copistas
passeando a própria pompa
com grandes maços de papel sob os braços
e calos nos dedos tisnados de tinta.
- E deve ter pensado: 'Vocês acham que têm seus empregos
assegurados para sempre, mas estão enganados'.
'Pois, um dia, vocês todos serão substituídos,
por uma reles e vulgar máquina.'
"Ele contratou um carpinteiro de nome
Saspach para iniciar sua nova invenção."
"Ninguém sabe ao certo como se parecia, então Alan May
usou outras pistas para desenhar nosso protótipo."
"Ele já sabe que Gutenberg imprimia uma página por vez,"
"enquanto as prensas posteriores imprimiam duas
em uma rápida sequencia."
"Talvez seja por isso que esses protótipos pareçam
incomuns a um expert no assunto."
- Deixe-me ver rapidamente como ela funciona,
pois parece bem pouco convencional.
- A primeira coisa que me surpreende,
é que todo o peso se concentra nesse quadro aqui,
e, normalmente, numa prensa de dois tempos
você teria o quadro mais ou menos aqui,
o que deixa tudo mais rígido,
mas também equilibra o peso da pedra
e das outras traquitanas.
- Isso não é mais necessário, veja.
- Pois só é preciso mover o aparato até aqui.
- Quando a prensa está em uso, nunca passa além...
- Além daqui.
- É incomum...
"Talvez não seja convencional, mas Alan acha que
encontrou suporte teórico para seu design de uma
fonte bastante curiosa."
- Essa ilustração de prensa foi
desenhada por Albrecht Dürer
"60 anos após a primeira impressão de Gutenberg."
É o único registro conhecido em que
os pés da prensa aparecem para fora
do quadro.
- Semelhante à minha.
- Esta tem uma estrutura reforçada na frente...
- Como a sua.
- Que a prensa tipográfica nunca teve,
ela tem uma pequena... - Perna.
- Então eu concluí que essa pode ser
uma prensa obsoleta
que Dürer encontrou,
e o que vemos no desenho é um produto com
mais de 50 anos de idade.
- É uma teoria engenhosa!
- Se os outros experts no mundo concordarão com ela,
já não sei.
"Se Alan estiver certo,
essa é uma descoberta importante."
"Seria este um retrato de uma das primeiras
prensas Gutenberg?"
"A equipe de Gutenberg estava crescendo.
Além do carpinteiro Saspach,"
"ele recrutou outros artesãos
das guildas de Estraburgo"
"e os pôs a trabalhar seguindo suas novas premissas."
"Não na área urbana, mas em um lugarejo próximo,
"afastado dos olhares curiosos de eventuais concorrentes."
- Porque tanto segredo? Era necessário?
- Havia bastante gente nessa região tentando
resolver o mesmo problema.
Autor de "A Revolução de Gutenberg".
- Quem conseguisse mostrar à Igreja um trabalho impresso,
faria uma fortuna em dinheiro,
então era necessário manter sigilo,
ou alguém poderia copiar seu invento.
"Enquanto eles trabalhavam em segredo
no novo invento,
era necessária uma segunda fonte de renda
para pagar as contas do dia-a-dia."
- Surpresa! - O destino apresentou a
Gutenberg uma brilhante ideia.
A fabricação de espelhos
para peregrinos em passagem para Aachen.
- E por que Aachen era importante?
- A cidade era importante pois
havia uma catedral lá,
e, nessa catedral encontrava-se relíquias
supostamente do próprio Cristo,
e a cada quatro anos eram expostas,
e gente de toda a Europa vinha ver tais relíquias
e receber os raios curadores que emanavam delas.
Eventualmente havia tantos peregrinos que era
impossível chegar perto dessa relíquias,
então nasceu a idéia de que era
possível capturar esses raios,
com o uso de espelhos metálicos côncavos,
que seriam apontados como uma mini antena parabólica para
a miraculosa fonte irradiadora.
Os fabricantes locais não conseguiam dar conta da demanda.
A idéia de Gutenberg foi que,
se ele conseguisse a liga metálica certa,
poderia usar as prensas que estavam em construção
para imprimir espelhos, que seriam vendidos aos
romeiros a caminho de Aachen.
"Soava como um futuro sucesso de vendas,
mas, na Europa do século 15,
havia uma variável a mais a temer,
capaz de destruir o mais elaborado dos planos de negócios."
- A Peste Negra atacou de novo,
e os peregrinos sumiram.
- Eles adiavam peregrinações por causa da peste...
- Seria um desastre real se houvesse 100 mil pessoas
todas juntas num ataque da peste.
- Sim, claro.
Isso significa que todos os investidores
que esperavam o retorno naquele ano...
- Sim. Um dos sócios morreu.
A sociedade começou a se desfazer,
deixando Gutenberg não exatamente na sarjeta,
mas em maus-lençóis.
"Esse revés teria detido um homem com
menos fibra que ele, mas agora,
"Gutenberg estava completamente obcecado por
seu plano, então o trabalho prosseguiu."
- Pronto. Ilha Gutenberg.
- E aqui há uma estátua dele
com a barba de peixe de novo.
"Ninguém sabe exatamente onde a oficina era,
mas devia ser em algum lugar aqui perto."
"Ele teria escolhido este QG afastado para se proteger
do perigo da espionagem industrial."
"Mas há também uma razão para estar perto da água,
pois Gutenberg estava brincando com fogo."
"Você lembra do meu Kit de Impressão John Bull"
"e aquelas pecinhas de borracha com letras?"
"O projeto de Gutenberg só daria certo"
"se ele descobrisse um sistema de produção
em *** de letras individuais"
"que pudessem ser arranjadas e rearranjadas
em qualquer ordem."
"Ele foi então à guilda dos ourives e achou
um sujeito chamado Hans Dunne".
"Juntos, eles desataram o nó-górdio
técnico"
"que impedia a idéia brilhante de Gutenberg
de se tornar uma realidade prática."
- Então assim é uma fundição de tipos gráficos...
- Sobre essa bancada, creia ou não, há uma fundição completa.
"Eu também pedi a Stan para me ajudar
um tipo,
"uma simples letra E,"
"para usar em nosso protótipo de prensa."
"Para emprestar autenticidade,"
"pedi que minha letra tenha as mesmas dimensões da
fonte original usada na Bíblia de Gutenberg."
- Primeiro temos que fazer um punção,"
"uma cópia mestra da letra que queremos
reproduzir."
Depois que transferimos contorno da letra
para a ponta dessa barra de aço,
"é preciso esculpi-la à mão usando uma lima -
uma lima muito afiada."
- Dá para produzir um punção por dia,
talvez dois.
- Então, para produzir o conjunto completo de tipos gráficos
que Gutenberg precisava em sua Bíblia,
quanto de trabalho foi necessário?
Há pelo menos 270 caracteres,
talvez mais.
Então, contando os muitos feriados religiosos,
creio que boa parte de um ano.
- Um ano. Se você fosse um dos investidores nessa
nova tecnologia,
você talvez ficasse impaciente.
- Perguntaria: "Sr. Gutenberg, será que são mesmo necessários
oito tipos diferentes de 'Es'?"
E a razão para a necessidade
de tantos tipos era obviamente
porque ele buscava um visual elegante
e harmonioso,
ele exigia a mais alta qualidade,
e ele encomendou algumas fontes mais largas,
outras um pouquinho mais estreitas,
para que pudesse ter sempre
as linhas justificadas.... - Exato.
- ... Sem espaços em branco e composições hediondas.
"Esta é uma primeira prova com fumaça,
uma modo rápido de garantir que nosso punção
é uma cópia acurada
da letra que queremos replicar.
"Parece que acertamos!"
- Veja isto!
- Então aqui temos, esculpida à mão
e limada, polida e ajustada,
cinzida e formatada,
fundida e temperada.
- E agora temos em mãos a chave que destrava o baú
que revelou a tecnologia que mudou o mundo.
- O punção. Formidável.
- E nós o fizemos.
- Mas, qual é o próximo passo?
- Bem, temos de gravar uma matriz com isso.
- Gravar uma matriz?
- Sim. Vou martelar esse punção
diretamente numa peça de cobre.
- Isto vai gravar o formato da letra.
- Exatamente.
"Os experts não chegaram a um consenso sobre como
exatamente Gutenberg produziu suas letras,
"mas a teoria de Stan é a mais comumente aceita."
"Gutenberg teria inventado algo engenhoso
como esse dispositivo."
Essa ferramenta diante de nós é o salto quântico
da invenção de Gutenberg.
Esse é o molde dos tipos e ele é composto
de duas metades.
E ambas se encontram para formar uma cavidade.
na qual o tipo se formará.
Com a matriz certa no fundo.
Correto, com a matriz de cobre.
-Sim. Então essas duas metades
encaixam-se elegantemente.
E porque elas formam tanto tanto um
abertura larga quanto estreita,
colocando essa matriz
dentro do molde,
que foi cuidadosamente construído antes,
e fechando o molde na matriz,
usando a mola para mantê-lo fechado
- é isso que essa coisinha ridícula é -
agora há uma cavidade dentro do molde
que tem a forma da letra que vamos formar. OK.
- Não é bacana?
- Não acredito que isso funcionará.
É uma peça única.
Não havia nada como isso antes de Gutenberg.
- Certo
Aí colocamos metal derretido aqui - chumbo,
estanho ou antimônio.
Exatamente aqui. Sim.
E ele enrijece instantaneamente...
Já está pronto. - Sério? - Sim.
Vamos destravar a mola.
E liberar a matriz pressionando aqui.
- Sim.
Espiamos o conteúdo do molde.
- E aí está o tipo.
- Oh, meu Deus!
- Não é fantástico?
- Então, qual parte é a letra?
- Aqui está a face que formamos.
E é uma réplica exata...
- Aqui está o E. E se você comparar com o
punção que temos aqui... - Sim!
Veja que o punção está replicado
na face...
- Sim, é idêntico pois voltou à sua...
- Voltou à sua forma. Não é bacana?
"É mais que 'bacana' -
"é revolucionário. Pois desse modo pode-se
produzir quantos 'Es' quisermos,"
"rapidamente e a um baixo custo."
"Quantas serão necessárias para imprimir
uma Bíblia completa?"
- Veja o que eu fiz! Um 'E'!
É difícil de acreditar que estes são os componentes básicos
da maior revolução vivida pela humanidade
desde a invenção do fogo, sem a menor dúvida,
e a razão para isto é que
eles são idênticos.
É uma pecinha extraordinária,
uma jóia da técnica.
Usando técnicas e métodos conhecidos
há centenas de anos
mas adicionando isto,
esta minúscula pecinha,
que possibilitou às prensas em toda
a Europa a começar a informar o mundo.
"Fui informado que Alan está obtendo
grandes progressos com sua prensa,"
"então retornei à base para ajudá-lo a
montar o protótipo final."
"Se você já teve algum trauma montando
um armário ou prateleira,"
"agora é a hora certa de ir buscar um café."
É como aqueles quebra-cabeças de caixinhas de cereal.
Encaixe A no encaixe B, ou algo assim.
Exatamente. É só acertar o encaixe
e dar uma empurradinha.
- Me sinto como um Atlas.
- Vou pegar um taco...
Eu poderia trabalhar numa chanchada.
- Traga a caixa toda.
- Ah, assim é mais fácil.
- Certo então. Use a marreta.
- Sério?
- Para encaixar.
- Não faça isso, Stephen!
- Eu seguro isso, você bate.
- Belo efeito sonoro, não?
- Estamos produzindo estalos.
- Imagino que ninguém tenha feito algo
como isso nos últimos 500 anos.
Com certeza, pelo menos no que tange
a esse tipo de prensa. Ok, está bom.
Para ser honesto, eu jamais seria
um bom escoteiro. Sem chance.
- O que amo nisso é que, de um lado
é absolutamente simples,
e, por outro,
há esses pequenos detalhes,
que eu jamais conseguiria conceber em
nem 100 anos. E eu amo...
"Quando Alan mostrou-me que estava
produzindo essa espiral dupla,
pensei, 'vou testar com o dedo por aqui.'"
"Vou fazer a volta e ele vai estar
nesse ponto aqui."
"Mas, não, ele aparece aqui.
Porque, yo, é uma espiral dupla."
E a outra segue em paralelo,
uma coisa complicada.
Embatuca minha cabeça, literalmente.
"Ele não tem certeza da aparência exata de uma
prensa Gutenberg, mas essa parece bastante boa."
E geralmente esse é o segredo desse
tipo de design.
Se parece certo, então está certo.
É um resultado bastante satisfatório.
Além de todo o resto, não seria divertido
ter um desses no quarto?
Daria para convertê-lo em
uma lavatório ou algo no estilo.
Talvez um pequeno espelho aqui
com a altura ajustável.
Estou falando bobagens,
mas é porque estou orgulhoso dela.
Não posso esperar para ver como
ela imprime realmente.
"Começo a compartilhar
da excitação"
"que Gutenberg deve ter sentido
quando finalmente estava pronto para imprimir."
"No final dos anos 1440, ele mudou-se
de Estrasburgo,"
"que fora recentemente aterrorizada"
"por um bando de bandidos mercenários
franceses chamados 'os Armagnacs'"
"Foi esta, talvez, a razão
para que ele retornasse a Mainz."
"Apertado de dinheiro, como sempre, tomou
um empréstimo de um parente."
"Esta casa foi dada como garantia
do empréstimo,"
"e iniciou uma sociedade com um novo
investidor chamado Johann Fust."
"Um negócio que, posteriormente,
ele iria lamentar,"
"mas que lhe deu o impulso necessário
para que a prensa fosse finalizada."
"Não iniciou pela Bíblia -
ainda um projeto muito ambicioso."
"Mas deu a partida nos *** imprimindo
coisas mais modestas, como essa Gramática Latina"
- Amabo, amabis, amabit, amabimus,
amabitis, amabunt. Lembro disso.
"Para mostrar à Igreja que sua invenção
representava uma oportunidade e não uma ameaça,"
"ele também imprimiu documentos
como essa indulgência papal."
- Indulgências eram essa maravilhosa maneira
Católica de ganhar uns trocados.
- Sim, isso.
- Lembra um pouco essa moda de, se você
viaja muito de avião ou algo assim,
ou tem um carro muito poluidor,
você pode abater seus créditos de carbono,
não é isso?
- Pagar para uma companhia
limpar seus rastros de carbono.
- Uma absolvição de seus pecados de carbono.
- Era mais ou menos a mesma coisa."
- Um esquema de créditos de pecados, não?
- Deve ter sido magnífico para eles
contar com a nova tecnologia de Gutenberg.
- Pois antes disso, cada uma das indulgências
exigia uma cópia manuscrita.
E elas não são recibinhos, não,
eram bastante elaboradas.
- Então era uma maneira bastante apropriada
de demonstrar as vantagens da nova tecnologia.
- Sim, sim. E parece, também, que a Igreja estava
muito interessada em impressão.
- Ela não a considerava como algo pernicioso
como dizemos em alemão,
mas estavam interessados pois viam todos
os benefícios que essa técnica permitia.
"Com o apoio da Igreja para sua obra-prima,
havia apenas mais um detalhe a resolver."
"A maioria dos bons livros daquela época eram produzidos
em algo chamado pergaminho velino."
"E do que era feito esse pergaminho?"
"De um desses pobres amigos. Esses belos,
marrons e de olhos amendoados bezerros."
"Eles proporcionavam as peles,
assim como todo o resto,"
que virava iguarias
nas mesas dos poderosos."
"Gutenberg, que estava determinado a fazer a
melhor Bíblia de todas"
"queria imprimir todas as suas Bíblias
no mais fino velino."
"Mas, ou ele ou seus sócios cometeram um sério
erro matemático,"
"como diríamos hoje em dia, e rapidamente
eles se deram conta que só poderiam imprimir umas
poucas em velino."
"Pois um pequeno rebanho como esse, bem,
não chegaria nem para o Velho Testamento."
- Chamemos aquele carinha de Êxodo.
- Ali está o Deuteronômio e ali o Levítico.
"Seriam necessários 140 bezerros para imprimir
apenas uma cópia completa da Bíblia."
"Para uma tiragem inicial de 180 cópias,
como inicialmente planejado,"
"seriam necessários inacreditáveis
25 mil dessas pobres criaturas.
"É um número impressionante de peles
de bezerro para qualquer livro."
- Ainda assim há algumas poucas bíblias de Gutenberg
espalhadas pelo mundo
que foram impressas em pergaminho velino,
mas a maioria foi impressa em papel.
"Sem um sistema de produção em ***
de papel,"
"a invenção de Gutenberg
teria nascido natimorta."
"Embora os chineses tivessem inventado esse
material há mais de 1200 anos"
"o papel ainda era uma novidade
no Ocidente."
"Essa fábrica em Bäsel, na Suíça,
começou a funcionar"
"quase na mesma época em que Gutenberg estava
trabalhando em sua máquina,"
"e continua funcionando até os dias de hoje
da mesma maneira tradicional,"
"usando como matéria prima
retalhos de tecido."
- Ohh. Muito bom.
"Os retalhos são macerados
até formar uma fina polpa."
"Um moinho d'água provê a força necessária
para movimentar esses enormes marretas."
"Quando a polpa atinge a
consistência ideal,"
"ela é transferida para um
grande tonel"
"onde a parte divertida acontece."
- Isso vai ser o nosso papel.
- É extraordinário que essas minúsculas
partículas de tecido, estraçalhadas,
tenham se transformado nessa polpa.
- Ok, é preciso continuar mexendo.
- Sim, é isso.
- Extraordinário.
- Sente-se o calor, a água está morna.
- Pois isso é matéria orgânica que precisa
ser quebrada?
- Não, porque é mais fácil de trabalhá-la assim.
- Ah, entendi!
- E a água morna escorre mais rápido da...
- Da peneira?
- Peneira.
- Então este é o processo. Ok?
- Certo. Então vamos fazer papel.
- Mova a peneira assim, e então, assim.
- Levante-a.
- Agite um pouco.
- Para que a água escorra.
- E as fibras permaneçam.
- Estou vendo. Jesus amado.
- E podemos passar à próxima.
- Eu poderia tentar uma vez?
- Sim, claro.
- Você terá de assumir meu posto.
- Podemos trocar de lugar? - Sim.
- Isso é fascinante.
- Melhor remangar a camisa, não?
- Estou sentindo a horrível sensação...
de estar de volta ao atelier de artes da escola
onde eu era sempre o zero à esquerda.
- Então é só colocar a peneira?
- Do outro lado.
- Assim?
- Não, assim.
- Ah, entendi. Assim?
Eu, na primeira já...
- Eu mostro.
- Desculpe.
- Assim.
- Ah! Mas já ficou algo nela.
- Tiro isso?
- Não, tudo bem. Ok.
- Pronto para mergulhar.
- Para baixo, girando, levante.
- Oh, oh, oh.
- Um pouco para este lado.
- Ok? Tem alguns pedaços brancos,
mas não parece mau.
- Pode parar.
- Papel para você, René.
- Impressionante.
- E está pronto para tirar o quadro?
- Aí está. É sempre o segundo que dá problema.
- E agora...
- É um processo mágico.
- É quase como bateiar ouro, não?
- Talvez essa não seja uma analogia despropositada.
- Papel valia ouro na Idade Média.
Era incrivelmente valioso.
- E ainda que seja um processo demorado,
é muito mais rápido que produzir pergaminho
velino de bezerros.
- Devo dizer que realmente gosto disso.
- Sinto-me conectado a Gutenberg
de alguma forma ao fazer isto.
- Como se sabe quando está pronto?
Quando as ondas param?
- Sim. Já está pronto.
- Esse não ficou bom. Vamos ver.
- Não ficou muito bom este aqui.
- Não. Hum, bem.
- Ponho de volta? Viro de volta?
- Sim, só devolva.
- Viro assim?
- Não.
- Pensei que fosse apenas assim. Assim?
- Sim.
- Oh, Deus, estraguei o molde.
- Ah, entendi.
- Melhor.
- Pisei no tomate.
"Fabricar papel para impressão
é uma arte refinada."
"As matérias primas têm de ser misturadas com
perfeição para produzir a textura e porosidade certas.
"Para Gutenberg, esse era o último ingrediente crucial"
"com que transformaria a impressão de
Bíblias num negócio viável."
- Oh, posso pegar?
- Sim.
- Que magnífico.
- Meu primeiro pedaço de papel.
- Mas é preciso secá-lo, não?
- Sim.
"Espero que Alan fique contente com este."
"E porque ele não ficaria?"
- É um trabalho digno das mais finas
imprensas.
- Chegou o grande dia.
- Já se passaram 5 meses desde que Alan
começou a trabalhar em sua prensa.
- E agora está pronta.
- O papel foi produzido em Bäsel.
Eu fundi pessoalmente o tipo.
- Nada nos impedirá de imprimir
uma página de texto como Gutenberg o fez.
- Assim o grande homem deve ter se sentido.
"Antes de começar a imprimir, eu
tenho uma pequena confissão a fazer."
"Eu e Stan levamos quase um dia inteiro
para produzir apenas uma simples letra 'E'."
"Para produzir todos os tipos necessários para imprimir
uma Bíblia completa provavelmente exigiu um ano
da equipe de Gutenberg."
"E, sinceramente, eu não tenho nem tempo,
nem paciência."
"Então eu trapaceei."
"Esse pacote veio dos Estados Unidos."
"É uma réplica dos tipos originais de
Gutenberg."
"E, graças a Deus, nada foi avariado
durante o transporte."
- Então isso é...
- É perfeito, não? Podemos imprimir com eles?
- Claro.
"Bem, quase."
"É claro que há espaço para o meu pequeno
'E' em algum lugar da página."
- Oh, agora sim. É tão maravilhoso.
- E agora? O que é isto?
Consegue ler? Leges. L E G E S.
- Feito!
- Maravilha.
- Sabe, eu tenho de confessar que
tinha minhas dúvidas
se Alan conseguiria ou não concluir a
construção de uma prensa móvel.
no tempo combinado.
E se havia know-how suficiente
sobre o assunto
para possibilitar a produção de
algo que funcionasse de verdade
e gerar um facsimile aceitável de algo
feito por Gutenberg.
- Tenho de dizer que minhas dúvidas foram dissipadas
pela maestria do trabalho executado.
E todos os três experts estão sorrindo
como crianças felizes
maravilhadas com o que criaram
em conjunto.
Vejamos agora se é possível imprimir
de verdade.
- Certo, essa é a hora da verdade.
Vejamos como se comporta.
- Não está mal, hein.
- Acho que está quase OK.
Ok?
- Pronto. Lá vamos nós.
- Oh, meu Deus.
- Espere o estalo.
- Oh, ho ho ho.
- Boa sorte, pessoal. E vamos lá.
- Está impresso, Martin.
- Sim, está.
- Está tudo no papel. Sim.
- Uau.
- Oh, meu Deus.
- É formidável.
- É extraordinário.
- Parabéns, pessoal.
- A impressão é SOBERBA, Martin.
- E o alinhamento é fantástico.
- E aqui está o seu 'E', bem aqui.
- E esse 'E' em particular se destaca suntuosamente...
- É o melhor 'E' do lote.
- Excelente façanha. Bravo.
- Estou muito, muito contente com o resultado.
- E deve ficar mesmo.
- Considerando que essa é a primeira página,
creio que está realmente muito boa.
- Fenomenal.
- Vamos imprimir mais.
- É a prova de fogo de uma prensa móvel,
ser capaz de fazer muitas cópias.
- Ao imprimir, o procedimento normal seria...
- Você é o carregador, ok?
- Ok.
- O carregador tira a página,
dá uma conferida rápida,
- E se prepara para a próxima impressão.
Certo?
- Enquanto o tinteiro, longe
da prensa,
se prepara aplicar as tintas de novo.
- Então é uma verdadeira linha de montagem?
- E quando termina a aplicação da tinta,
ele checa a qualidade da impressão recém concluída.
- Exato. Mas ele não vai revisar a cópia, não?
- Não, apenas checar a qualidade da impressão.
- Certo. Verificar se não ficaram áreas mal impressas.
- Exatamente. Ok.
- Baixo o protetor.
- Sim.
- Fixamos a guarnição.
- Guarnição fixada.
- Morta a coruja.
- Agora todos a seus postos na prensa.
- Certo. E...
- Feito.
- Está pronto, não? Super.
- Soberba.
- E aí estamos. Muito boa. Realmente, melhor que
a primeira.
- Está, não?
- Estamos chegando lá.
"A primeira edição da Bíblia de Gutenberg teve
180 cópias, cada uma contendo"
"mais de 1200 páginas, que foram configuradas,
tintadas e impressas."
- Muito bonita.
"E essa era só a parte mais simples."
- Depois de sair da prensa, cada página tinha de ser
decorada à mão por um ilustrador,"
"antes que o conjunto todo fosse costurado
em um único volume."
- Esse é o milagre. Elas são idênticas.
- Cada uma dessas páginas maravilhosas.
- Nunca antes vistas na História da Humanidade.
"Nosso experimento está quase concluído,
mas para Gutenberg,"
"este foi apenas o começo de um
trabalho monumental de dois anos."
"Mas que começo magnífico!"
"As primeiras cópias da Bíblia de Gutenberg
foram apresentadas pela primeira vez
"na Feira de Comércio de Frankfurt, em 1454,"
"e causou sensação."
"Hoje em dia, menos de 50 desses livros ainda
resistem."
"Um dos mais bem conservados está
em Göttingen, Alemanha."
- É verdade, eu estou genuinamente
comovido e nervoso por
chegar tão perto de uma Bíblia de Gutenberg,
tendo visto uma delas apenas através de vidros.
Tendo pesquisado tão a fundo o modo como foi produzida,
descoberto o quão importante foi,
e o quanto de simbolismo ela encerra
para a era moderna,
para mim, a idéia de tocar de verdade em uma, ainda
que através de luvas de algodão, está me dando...
arrepios.
- Não consigo acreditar.
- Já disse, eu as vi através de vidros e li
a seu respeito.
- Mas estar tão perto de uma
é uma sensação extraordinária.
- Quer dar uma olhada?
- Por favor.
- Esta é uma anotação de Jacob Grimm.
- Um dos Irmãos Grimm?
- Sim, de quando ele era bibliotecário
em Göttingen.
- "Eine Guttenbergische bibel. "
- Uma Bíblia de Gutenberg. E ele diz...
- "Da maior raridade".
- Sim.
- E essa é a primeira página do primiro volume. Céus.
- Sabe o que é espantoso?
- Ainda que as ilustrações e
decorações...
- Chama-se rúbricas, não?
- Exatamente.
- As "letras vermelhas", literalmente.
- Ainda que sejam muito bonitas, é a fonte o que realmente
enche os olhos, não?
- Sim. Diz-se que mesmo no início
desta nova tecnologia
é também onde se chegou à perfeição.
- Sim.
- A opinião é de que é muito mais bela do que
necessitaria ser, para a época.
- É verdade.
- O sujeito era simplesmente um perfeccionista.
- Sim.
- Ele usa técnicas que os copistas nos monastérios
também usavam, usa abreviações.
- É a única maneira de criar essa justificação
tão fluida e perfeita.
- Há um pequeno buraco. O que está havendo?
Alguém deve ter...
- Um VÂNDALO!
- Não sei quando isso aconteceu.
- Talvez alguém tenha precisado de um modelo
de ilustração
para outro trabalho.
- Então recortou daqui e pôs próximo
a outro manuscrito
e copiou a partir do modelo.
- O que é uma judiaria.
- Naturalmente, me sinto muito privilegiado
de ser capaz de folhear
esse indescritivelmente raro e importante
objeto.
Uma Bíblia de Gutenberg em minhas mãos. Estou
vestindo luvas brancas, estou apavorado
de respirar e umedecê-la com meu hálito, e ainda assim,
sinto a sensação estranha
de que não estou manuseando algo
que se esfarelará em pó
ao virar uma página muito rápido.
Ela dá a sensação de ser muito sólida e robusta.
Além do mais, ela foi feita para uso
diário. Se foi comprada por um monastério,
suponho que fosse manipulada por muita
gente todos os dias.
E era, realmente, um objeto sólido.
Uma Bíblia era algo que as pessoas
consultavam freqüentemente.
E não é uma coisinha frágil...
um ornamento, mas, sim, um objeto útil.
E o mais extraordinário é que, apesar de terem sido impressas
pouco mais de 100 destas,
apenas 12 dessas em pergaminho velino,
você sabe que, fora as ilustrações,
todas as páginas são iguais.
E este é o fato mais admirável disto, não?
Que alguém em um monastério na Alemanha,
alguém num palácio em Florença ou
alguém numa casa em Amsterdam pudesse
olhar o mesmo número de página
e a mesma palavra estaria no início e no
final desta página.
- E eles estavam admirando um objeto produzido
em *** pela primeira vez.
Ainda que apenas os muito ricos,
os que podiam pagar por isto,
não eram tão ricos quanto os que podiam pagar
por manuscritos, produzidos por copistas.
- Ainda não acredito que estou aqui.
"Eu gostaria de contar um final feliz para a história
do sujeito que produziu este livro maravilhoso,
mas infelizmente, não foi o que aconteceu.
"Você lembra do Senhor Fust, o dragão
que financiou a impressão da Bíblia?"
"Logo após as impressoras começarem a trabalhar,
ele exigiu que Gutenberg devolvesse o empréstimo."
"Gutenberg não tinha o dinheiro,"
"e foi forçado a entregar todas as prensas
em pagamento."
"Ele levara quase uma vida para construir
seu invento."
"E agora, tão logo estava funcionando,
fora arrancado
das mãos de Gutenberg."
"Minha jornada termina aqui, no vilarejo de Eltville,
a poucos quilômetros de distância de Mainz."
Gutenberg tinha parentes aqui,
e seus amigos o ajudaram a se reerguer
e até a construir uma nova oficina tipográfica.
Mas ele nunca desfrutou das riquezas que sua
invenção rendeu ao seu antigo sócio, Fust.
Bem, Gutenberg enfim recebeu o reconhecimento
que lhe é devido.
Acima, no castelo, o bispo consagrou-o cavaleiro
e garantiu-lhe uma pensão,
e, quando ele morreu, o mundo sabia que ele
era o fundador da moderna arte da impressão.
Mas não foi exatamente isso o que me trouxe
até aqui.
É o pensamento do que aconteceu depois
da morte de Gutenberg.
A replicação das técnicas de impressão
pela Europa a uma velocidade,
uma velocidade inimaginável para a época,
de zero a 20 milhões de livros
em apenas 50 anos.
- A tecnologia de Gutenberg alastrou-se
pela Europa como um vírus benigno.
Deu às novas idéias um veículo e o
pontapé inicial à Renascença.
Pelos 500 anos seguintes,
seu método de impressão foi
usado para produzir livros em todo o mundo.
É dele a máquina que nos fez o que somos.
E essa arte, a arte da impressão com tipos
móveis, nos define.
É a nossa civilização mais que qualquer outra coisa.
Posso imaginar o mundo moderno sem carros.
Posso imaginar um mundo sem telefones ou computadores.
Mas não posso imaginar uma sociedade
nem remotamente semelhante à nossa
que não tenha a palavra impressa.
(Desculpe, Stephen, I beg to differ: sem computadores
e sem Internet, o mundo não existe).
Tradução pt-BR por Rico Ferrari.
http://www.laudano.com.br