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Estas palestras se chamam "Crescendo no Universo"
"Crescer" significa três coisas:
primeiro, crescer como indivíduo,
como você e eu,
ou um pinheiro.
Todos crescemos a partir de uma pequena célula,
até chegar a ser uma grande edificação
com bilhões de células
durante nossa vida.
Em segundo,
refere-se ao crescimento de toda uma espécie em um planeta,
o que chamamos de evolução.
A evolução é uma mudança que vemos unicamente
quando transcorrem muitas gerações sucessivas.
Esta palestra é dedicada ao terceiro tipo de crescimento.
Crescer no sentido de alcançar uma compreensão
madura do Universo.
Para que um ser vivo compreenda o universo,
deve ter o equipamento adequado
e neste planeta é o cérebro.
Quando este cresce,
adquire a capacidade de compreender o Universo,
e o faz introduzindo um modelo do Universo dentro de si.
Na verdade, esta nossa conversa poderia ser chamada de
"Como colocar o universo dentro do crânio",
mas muito antes de consegui-lo,
o cérebro deve crescer através de etapas intermediárías.
Fazer um curso de montagem de modelos
de coisas mais mundanas.
Os cérebros não evoluem para grandiosos propósitos,
como simular o universo.
Começam simulando coisas cotidianas,
como alimentos,
ou a geografia circundante.
Aquí vemos uma vespa-cavadeira.
Está ferroando um grilo.
É uma vespa solitária, ao contrário das que nos incomodam no outono.
Ferroa grilos ou outras presas e os leva a seu ninho.
Isto representa a vespa
e este é o seu ninho.
Cada vez que pega um grilo,
leva-o ao ninho
para alimentar suas crias.
Tem de achar seu caminho de volta à casa,
pois percorre longas distâncias em busca de suas presas.
Como ela o faz?
Sai de seu ninho e voa pelas proximidades,
em um voo de reconhecimento,
aprendendo a geografia do terreno.
Depois, voa mais longe,
caça um grilo,
voa de regresso,
entra no ninho,
volta a sair,
pega o grilo
e coloca-o no ninho.
Repete o processo
toda vez que pega uma presa para suas crias.
O grande etólogo, Niko Tinbergen,
fez uma experiência muito inteligente.
Quando a vespa estava dentro do ninho,
rápidamente colocou quatro cones em torno do ninho.
Esperou...
até que a vespa saiu
e, desta vez, observou os cones
e voou para caçar um grilo.
Enquanto isso, Tinbergen mudou os cones...
...assim.
A vespa retornou com seu grilo
e viu os quatro cones que marcou
como marcas em torno de seu ninho,
indo direto prá lá,
mas não encontrou seu ninho.
A vespa tinha feito um modelo ou mapa mental
do entorno de seu ninho.
Mesmo o cérebro de uma vespa pode fazer isso
mas, para simular o universo, necessita-se de um cérebro
muito maior do que o de uma vespa.
Vejamos outra experiência de Tinbergen,
realizada primeiramente pelo entomólogo francês, Fabre.
Fez o seguinte:
Quando a vespa volta com sua presa,
deixa o grilo de um lado,
desce ao ninho,
verifica que está limpo, desocupado
e que não há obstáculos,
então sai,
toma o grilo
e o mete no ninho.
Isso é feito normalmente.
Porém, Tinbergen esperou que a vespa voltasse com seu grilo,
deixando-o ali
e que entrasse em sua toca.
Entretanto, Tinbergen moveu o grilo do lugar.
A vespa saiu,
foi aonde deixou o grilo
e não o encontrou.
Procurou e o encontrou.
Então ela disse a si mesma:
Oh, cacei um grilo,
devo descer ao ninho e verificar que não haja obstáculos.
Tinbergen, em seguida, mudou o grilo mais um pouco.
A vespa não o achou.
Procurou...
Oh! um grilo!
Ao ninho novamente.
Repetiu isso 40 vezes
até Tinbergen ficar de saco cheio!
Existem limitações no cérebro da vespa - cavadeira.
Na verdade, em nosso planeta há só um cérebro
que, recentemente, começa a ser capaz de simular o Universo
e, claro, é o cérebro humano.
Aquí está um cérebro humano,
em lamentável estado.
Vejamos o cérebro de uma pessoa viva.
O cérebro que vemos na tela,
neste exato momento, pensa em uma rosa amarela.
Agora pensa...
sobre estar pensando em uma rosa amarela.
Agora pensa...
no Salão da Royal Institution
e agora pensa...
Qual o seu nome?
Caroll?
Sara.
Agora...
há uma imagem mental do rosto de Sara.
É captada através do olho.
Aí está o cristalino
e a retina.
Agora, há uma imagem invertida do rosto de Sara.
Aquí.
Essa imagem é transmitida
por um grande cabo troncal de um milhão de fios,
por ali até atrás
e a imagem da Sara
é projetada na parte de trás do cérebro,
em uma área ainda mais recôndita.
Talvez distribuída por todo o cérebro,
a imagem torna-se consciente.
Esse cérebro é o meu.
Foi feito mediante uma nova técnica chamada
Imagem por Ressonância Magnética,
com a qual os médicos examinam o organismo
sem ter de abrí-lo
e sem usar os prejudiciais Raios-X.
Me submeti a uma IRM, por ocasião desta conferência.
O cérebro poderia ser chamado de computador interno do corpo.
O corpo se move em um complexo mundo tridimensional,
mas os olhos fornecem informação bidimensional.
As retinas vêem uma imagem bidimensional do mundo
e, além disso, vêem de cabeça prá baixo.
De algum modo, o cérebro elabora a informação
e a vemos em três dimensões.
Gostaria de lhes pedir para fazer algo muito simples,
os telespectadores também podem fazer em casa.
Levante a mão direita na sua frente
e olhe-me,
não olhe sua mão, olhe para mim.
Verá duas mãos.
E estas mãos são
as que seu olho esquerdo e direito vêem.
Porisso há duas.
Agora, focalize apenas a sua mão.
Não olhe para mim, olhe para sua mão.
Verá duas imagens minhas e só uma imagem de sua mão.
É o bastante.
O que acontece?
Ainda há duas imagens de sua mão.
Uma na retina esquerda e outra na direita.
Mas o cérebro junta ambas as imagens
e forma uma só imagem tridimensional
em algum lugar da cabeça.
O cérebro fabrica um "modelo" singular
de sua mão ou de outra coisa,
em sua cabeça.
Sempre que observamos a chamada realidade exterior,
o que realmente vemos é uma representação ou modelo mental,
uma simulação cerebral.
É muito útil,
constantemente se atualiza
com informações captadas pelos sentidos.
Não está inativo.
Os órgãos sensoriais descarregam uma informação constante,
porém não percebemos essa informação em bruto,
mas a que é processada no modelo cerebral.
A realidade que vemos é reconstruída
em nosso crânio como uma "realidade virtual",
no jargão da informática.
Vejamos a realidade virtual em um computador.
Aquí temos um computador muito rápido e poderoso
e, em seu interior, há um modelo de um mundo,
um microcosmos.
Uma casa,
um corredor e alguns quartos.
Preciso de alguém que experimente,
ou que se sinta andar por esse mundo.
Karen nos ajudará.
Fique aquí.
Primeiro vou explicar-lhe...
Este capacete tem duas telas de televisão em miniatura,
e mostram imagens desalinhadas,
para conferir a ilusão estereoscópica
de três dimensões.
Coloque-o.
Vemos na tela ao que ela está assistindo.
Você pode virar a cabeça de lado a lado?
Notem que o mundo parece se mover.
Este capacete proporciona uma experiência muito natural,
pois responde a cada giro da cabeça.
Vejamos o que acontece se você olhar para cima e para baixo.
Para cima...
e para baixo...
Ela vê em estéreo
e nós só vemos uma tela
em mono.
Apesar de Karen estar situada frente a vocês,
ela pensa que está em um corredor com portas laterais,
e pensa que está percorrendo-o,
não com seus pés
mas mediante o controle que sua mão segura.
Avança pressionando um botão
e retrocede pressionando outro.
Passeie ao redor, Karen.
Abra uma porta.
Caminhe pelo corredor.
Dê um giro.
Não sei qual se abrirá, é decisão sua.
Cruze a porta.
O que há aquí?
Está nadando em uma sala cheia de peixes.
Também vejo uma borboleta.
É um mundo virtual,
onde tudo pode ser recriado por computador.
Cada peixe está programado para agir como uma entidade autônoma,
como se fossem verdadeiros.
Que está fazendo, Karen?
Bem...
Sai ao espaço.
Está contra a parede, eu acho.
Giro 180 graus.
Posso ver tudo.
Volte para a sala.
Essa seta que você vê no espaço virtual
representa sua mão,
e responde aos seus movimentos.
Ela abrirá a porta com sua mão-flecha.
Entramos no corredor.
Onde você vai, Karen?
Está girando.
Ela pode ir aonde quiser.
Está no corredor.
Outra sala?
Sim, vejamos o que há por trás dessa porta.
Parece um jogo de xadrez.
Caminhe entre as peças.
Você pode pegar esse peão?
Tentarei.
Toque-o.
Ela levanta o peão.
Está movendo o peão.
Vou soltá-lo.
Caiu.
O que há mais além?
Explore.
Vai cair por um banco!
Há outro tabuleiro abaixo.
Cai!
Está no painel inferior.
Há outro peão.
Vá aonde quiser.
Você pegará o peão?
Deixou-o cair!
Desapareceu.
Agora estamos sob o tabuleiro.
Subimos o barranco.
Uma torre.
Epa!
Muito obrigado, Karen.
O que aconteceu?
Houve realmente um tabuleiro de xadrez?
De certa forma, sim.
Era uma representação matemática
interpretada na tela como um tabuleiro de xadrez.
Um mundo realista, onde você pode manipular objetos,
abrir portas, mover-se
e, se soltar um peão,
ele fica lá até que o pegue de novo.
"Algo" corresponde à realidade,
e esse mesmo "algo"
ocorre agora mesmo dentro de seus crânios.
O cérebro cria uma simulação virtual do mundo
e isso é o que vêem.
Como sei que nossos cérebros fazem isso?
Uma dica é observar ilusões.
Aquí está uma máscara de Charlie Chaplin.
Não há truque, é sua fabricação.
Quando você olha pela frente é vista sólida e normal.
Quando você olha por, algo inusitado acontece.
Se observarem,
a cara oca se vê sólida,
também parece girar no sentido oposto,
Parece que a face real engloba a virtual.
Esse lado é realmente sólido.
O outro lado também se verá sólido,
embora seja oco.
O que acontece?
Quando o cérebro vê algo que parece ter olhos, nariz e boca,
imediatamente fabrica um modelo de rosto.
Está ansioso para ver um rosto
e o verá, embora exista a mínima desculpa,
e o reverso desta máscara é a mínima desculpa:
há dois olhos, nariz e boca,
que incitam o cérebro a fabricar seu modelo facial em 3D.
Analisemos que aconteceria às imagens na retina,
Se o objetivo fosse verdadeiramente sólido.
O movimento nas retinas
é compatível com a ideia de um rosto sólido,
girando em sentido oposto.
O cérebro se vale disso
e faz o rosto girar na direção oposta.
Para a seguinte demonstração,
preciso de um voluntário.
Vá saindo,
porém voltará em seguida.
Este é um triângulo impossível.
Neste canto
vemos que aponta em uma direção.
Aquí,
os olhos nos dizem que aponta para outra direção.
e aquí aponta para uma terceira direção.
Os ângulos não se encaixam entre si.
Ainda assim, o cérebro cria um modelo de uma figura impossível
Um triângulo impossível.
Todos podem vê-lo.
Agora, quebramos bruscamente a ilusão.
O que aconteceu?
Sai...
O triângulo se refaz.
Entra.
Sai.
Muito obrigado.
Você poderia trazer o objeto para ver como é realmente?
Obrigado! Seu nome?
Sara.
Fique um momento, Sara.
Não é nada especial.
Apenas três madeiras em direções opostas.
Tratarei de recriar a ilusão.
É isso ai.
Se ponho meu rosto verão novamente o efeito.
Obrigado, Sara.
Esta é uma clássica ilusão
e demonstra o que tento explicar.
O cubo de Necker.
É um cubo desenhado no papel.
Ao observá-lo produz um estranho efeito.
Parece alternar a face mais próxima do observador.
Às vezes, será um lado, outras vezes será outro.
O que acontece aquí?
O padrão bidimensional desenhado à tinta
é igualmente compatível
com dois cubos em 3D alternativos,
então o cérebro não sabe qual destes cubos adotar.
Tem dois potenciais modelos tridimensionais
e não sabe qual usar,
uma vez que ambos são compatíveis com o padrão feito à tinta.
Poderia decidir-se por um,
mas interpreta ambos os modelos, alternativamente.
Aquí temos um cubo real.
É de metal e está girando.
Novamente, se a luz é correta,
melhor vê-lo na tela.
O padrão bidimensional que se move em suas retinas
é compativel com dois cubos tridimensionais.
Se olharmos bem, veremos que muda de direção.
O cérebro não sabe qual modelo adotar
então, escolhe-os alternadamente.
Os dispositivos ilusórios não são a única forma de verificar
que o cérebro constroi um modelo de realidade virtual.
Agora todos poderão participar,
mesmo os telespectadores.
Você não será um espectador passivo,
você mesmo vai experimentar.
Movam suavemente com um dedo seu globo ocular.
Meneiem seu olho como eu.
Verão que o mundo se move.
Como um pequeno tremor.
É o esperado,
pois a imagem em sua retina e o olho ocular está sendo movida,
então a posição aparente do objeto que você mira, move-se,
e você vê um movimento.
É o esperado e não tem nada de estranho.
Analisemos mais.
Não ocorre o mesmo quando giramos os olhos?
Olhem ao redor, movendo os olhos.
A imagem em sua retina se move como louca
muito mais que quando meneias o olho com um dedo.
Embora as imagens em sua retina se agitem,
você não vê um terremoto.
O mundo parece tão firme como uma rocha.
Por um lado, se você meneia seu olho
é como se você visse um tremor.
Por outro lado, quando você gira os olhos voluntariamente,
embora ocorra o mesmo nas retinas,
vai observar tudo perfeitamente estável.
Qual é a diferença entre os dois casos?
É a seguinte:
pode haver um terremoto
e é importante que o cérebro o saiba,
mas é importante que você não acredite que há um terremoto
toda vez que você gira os olhos.
Quando o cérebro ordena aos músculos oculares para mover o olho,
e o faz muitas vezes,
envia uma cópia dessa ordem
ao software de realidade virtual
que está fabricando o modelo interno do mundo.
Este software é avisado:
prepare-se, o olho se moverá.
De modo que o software não mostra um terremoto,
porque foi avisado com antecedência,
e o modelo cerebral compensa com precisão aquele movimento.
Porém, quando você meneia o olho, não se recebe cópia da ordem
e o mundo se move como se presenciara um terremoto.
Certamente pode haver um,
e é importante que o cérebro o saiba e não deseje a ideia.
Um cientista alemão realizou uma experiência muito inteligente.
Anulou seus próprios músculos do olho, com anestesia.
Chamaria um voluntário
mas, infelizmente,
não temos tempo.
Vou relatar o que aconteceu.
Esse alemão anestesiou seus próprios músculos do olho.
O que vocês acham que aconteceu?
Quando dava aos olhos a ordem para se mover,
estes não respondiam.
Os olhos e a imagem na retina ficavam imóveis.
Porém a cópia da ordem havia sido enviada
ao software de realidade virtual no cérebro,
informando-o que esperasse um movimento.
Como não houve movimento,
interpretou como se fosse um terremoto.
Quando o alemão ordenou a seus músculos que movesse os olhos,
estes permaneceram quietos,
a imagem da retina também,
mas o modelo em seu cérebro se moveu
e ele viu um terremoto.
Isso mostra que o cérebro cria um modelo do mundo.
Vemos uma realidade virtual.
Mudarei temporáriamente de tema,
para falar sobre a evolução do cérebro humano em si.
Segundo padrões evolutivos,
o cérebro cresceu muito rápido.
Especialistas dizem que sua evolução durante o último milhão de anos,
talvez seja o avanço mais rápido de um órgão
em toda a história da vida.
Comparado com crânios de outros primatas,
o nosso é muito grande,
parece ter sido inflado como um balão.
Aquí há uma animação.
Esta é a cabeça de um Australopithecus,
um de nossos antepassados.
Evolui ante seus olhos,
torna-se um *** erectus,
*** sapiens arcaico,
agora um *** sapiens moderno, como nós.
A cabeça incha à medida que evolui.
Três milhões de anos comprimidos nesta animação.
Vejamos o perfil das caixas cranianas.
O Australopithecus.
Cabeça chata.
O maxilar se contrai.
Milhões de anos de evolução.
O crânio se infla.
Ai está o crânio moderno.
Repleto de *** cerebral.
Uma forma de entender o que acontece
é dirigindo nossa atenção aos computadores.
Algo semelhante aconteceu com o rápido crescimento do computador.
Para ilustrar, vou ler uma citação
do psicólogo Christopher Evans.
Diz o seguinte:
<i>O automóvel atual é diferente dos dos anos pós-guerra</i>
<i>em vários aspectos.</i>
<i>É mais barato, tendo em conta a inflação,</i>
<i>e é mais econômico e eficiente.</i>
<i>Isto é devido ao avanço da engenharia automotiva,</i>
<i>melhor produção e ampliação do mercado.</i>
<i>Porém, suponhamos que a indústria automotiva</i>
<i>tenha crescido ao mesmo rítmo que os computadores,</i>
<i>e no mesmo período.</i>
<i>Quanto mais baratos e eficientes seriam os modelos atuais?</i>
<i>Se você ainda não tenha ouvido a analogia, a resposta é impressionante.</i>
<i>Hoje poderiamos comprar um Rolls Royce por 1,35 libras,</i>
<i>cobriria 18 milhões de km por litro</i>
<i>e teria a potência de mover o Queen Elizabeth II.</i>
<i>Se você se interessa pela miniaturização,</i>
<i>poderia colocar meia dúzia deles na cabeça de um alfinete.</i>
Se o cérebro humano inchou como um balão,
o computador cresceu de maneira ainda mais espetacular.
Embora seja injusto comparar as duas escalas temporais,
a evolução biológica está limitada pelo fato de
que só ocorre através da morte de alguns indivíduos,
geração após geração e a reprodução de outros.
A evolução precisa de tempo, muito tempo.
A tecnologia, porém, avança sem pausa.
Ninguém sabe ao certo o que causou o inchaço do cérebro humano.
Há muitas teorias.
O computador nos dá indícios.
Se estudarmos as causas do seu rápido desenvolvimento,
talvez possamos entender o do nosso cérebro.
Mas há muitas diferenças entre ambos,
e é inútil ver o progresso
de válvulas e transistores ou circuitos integrados,
pois o cérebro não funciona assim.
Mas há outra fonte de desenvolvimento do computador,
algo ocorrido em seu desenvolvimento
e que pode ser relevante à nossa compreensão do cérebro.
Dar-lhe-ei um longo nome e veremos seu significado...
co-evolução de auto-alimentação.
Co-evolução é a evolução conjunta.
Auto-alimentação é qualquer processo em que
"Quanto mais temos, mais ganhamos."
A corrida armamentista é um exemplo.
À medida em que os mísseis melhoram de um lado,
os dispositivos interceptadores e radares do outro lado
devem, por sua vez, aperfeiçoar sua velocidade e precisão.
Se os radares melhoram, os mísseis devem melhorar mais ainda
e, logo, os radares devem melhorar mais,
em um processo de escalada.
Chamo isso de auto-alimentação,
porque as melhorias nos radares originais
criam uma necessidade de melhorias nos mesmos radares,
embora isto, por sua vez, conduza ao progresso do outro lado.
Quanto mais se tem, mais se precisa
e mais se obtém.
Também ocorre na evolução.
Este é um falcão peregrino.
Está voando.
Uma bela máquina de voar.
Logo fará um voo de mergulho para caçar sua presa.
Fechou suas asas.
Cai para 150 km/h
rumo à sua presa.
É um pato.
Também voa rápido.
Aí vem ele.
O pato e o falcão
são o resultado de uma longa corrida armamentista evoluciónária.
Ambos são excelentes voadores,
porque o outro o é.
A melhoria em uma das partes
criou a necessidade de melhoria da outra.
Se os falcões melhoram, os patos devem melhorar.
E como os patos melhoram, os falcões devem melhorar.
Indiretamente,
a melhoria dos falcões
obriga seus filhos a melhorar ainda mais.
O mesmo ocorre com os patos.
Porisso, chamamos auto-alimentação.
Algo semelhante a esta co-evolução de auto-alimentação
pôde ter ocorrido no desenvolvimento dos computadores
e dos cérebros.
Em computação, tanto o hardware como o software co-evoluem.
"Hardware" são as partes físicas que podemos tocar.
"Software" significa programas,
ambos são importantes.
Aquí há uma peça de hardware muito simples:
o mouse.
É apenas uma bola presa em uma caixa
e, conforme a movemos,
um ponteiro se move na tela.
Isso cria uma forte ilusão
como se nossa mão movesse os objetos na tela.
Isso é feito de forma natural.
Nos velhos tempos,
se você quisesse, por exemplo, excluir um arquivo,
deveria digitar um comando complicado e ridículo.
E muitas vezes cometiamos erros
e sempre eram esquecidos.
Hoje em dia,
tudo o temos de fazer
para apagar um arquivo
é selecioná-lo,
movê-lo à lixeira
e soltá-lo.
Em seguida, esvaziamos a lixeira,
confirmamos
e lá se vai...
É apenas um exemplo trivial.
O significativo,
é que a informática hoje está dominada
pelo uso do mouse ou outros ponteiros
para mover as coisas rápida e naturalmente,
como você estivesse movendo papéis em sua mesa.
Você pode manejar objetos,
mostrar e ocultar menus, entre outras coisas.
Hoje é muito fácil,
mas, tempos atrás, teria de manejar complexos comandos.
O cerne da questão
é que tudo foi impulsionado por um original dispositivo de hardware.
O aparelho em si é simples,
mas desencadeou toda uma nova geração de software,
levantando-se uma sobre o outro
e assim se armou uma grande edificação
de software que trabalha e evolui mutuamente.
Outro exemplo do computador
que leva a uma espiral de auto-alimentação,
é a forma como os computadores estão projetados.
Atualmente, são muito complexos
e os detalhes não podem ser projetados por seres humanos.
Este gráfico
só ilustra a oitava parte do circuito integrado deste chip.
Este é um chip de computador,
e seu diagrama é oito vezes maior do que vemos aquí.
Vamos observá-lo um pouco.
Cada linha vermelha representa um cabo.
Seguimos os caminhos do mapa.
Observem este formidável documento
e notem que nenhum ser humano poderia criar algo assim.
O ser humano tem as idéias básicas,
pode programar o computador para fazê-lo,
mas os computadores modernos, em grande parte, têm sido planejados
pela geração anterior de computadores.
Os computadores de hoje
se enlaçam aos computadores da geração anterior.
É outro exemplo de uma espiral de auto-alimentação.
Os primeiros avanços levam a posteriores avanços
e se torna uma espiral.
Vimos a co-evolução de auto-alimentação na informática,
com o propósito de fazer uma analogia com o cérebro humano.
Há alguma semelhança com o cérebro humano?
À diferença dos computadores,
não podemos observar diretamente seu desenvolvimento,
as únicas evidências que temos são crânios e certas habilidades.
Temos as "caixas externas"
e o "software" seriam nossos produtos
como estas pontas de flecha
feitas por nossos ancestrais.
Temos desenhos,
como esta pintura rupestre.
É o produto de um cérebro humano primitivo,
Numa fase muito posterior produziram-se escritos
como esta tabela cuneiforme
ou este livro.
O que causou a "decolagem" do cérebro humano?
Qual foi o equivalente do mouse,
o que inpulsionou nossa espécie?
Grande parte deve ser especulado.
Há 3 milhões de anos,
quando o Australopithecus caminhava pela África,
seu cérebro não era maior que o de um chimpanzé.
Este é um Australopithecus.
Se estas espécies tivessem se coincidido no tempo
tinham estado em igualdade de condições
com respeito ao cérebro.
Naquele tempo,
nenhum dos dois poderia ter decolado.
O substancial nas espirais de auto-alimentação
é que não começam de forma espetacular.
Uma espécie inovou ligeiramente seu software
e fez algum pequeno progresso.
O resultado se viu muito depois.
A espiral se incrementou por um período de tempo
e, eventualmente, atingiu a magnitude atual.
Ainda não digo qual foi a inovação no software que acendeu o estopim.
Não o sabemos, só podemos supor.
Talvez tenha sido um avanço em nossa aptidão para simular modelos.
O cérebro cria um modelo do que acontece na realidade
e também fabrica modelos
do que "poderia" suceder no mundo.
Nosso antepassado, o *** erectus,
viveu há um milhão de anos.
Imagine uma fêmea *** erectus em particular
tentanto cruzar com sua família sobre um cânion.
Assim.
Até então, ninguém havia construído uma ponte.
De repente, ela imaginou uma árvore caída ali perto
e notou que serviria como ponte.
Pensou em como consegui-la,
então imaginou um fogo na base da árvore,
pensou em queimá-la para que caisse e assim, com ela, cruzar o cânion.
Isso é suposição, não sabemos se algo assim ocorreu.
O ponto é que ela
fabricou um modelo mental de um fato ainda não acontecido.
Antecipou o que poderia acontecer no futuro.
Se você fizer isso, você possui um valioso truque,
pois resolverá problemas que nenhum outro animal pode.
É uma possibilidade.
A simulação imaginativa talvez tenha deslanchado a nossa espécie.
Outra possibilidade que é sempre sugerida é a línguagem.
Parece feito na medida para suportar uma espiral.
Cada geração pode aprender de seus ancestrais imediatos,
aprender com os erros e assim ganhar experiência.
Talvez tenha sido a linguagem.
Porém há um bloqueio.
Há evidências de que a língua falada
surgiu após a expansão do cérebro.
Mas podemos sugerir que teve uma fase primitiva,
como sinais,
ou desenhos na areia
ou, talvez, a línguagem surgiu antes da invenção da fala,
como uma voz interior, um pensamento
para planejar as ações.
Talvez, então, exteriorizou-se como fala
usando língua, lábios e voz
e assim os cérebros se interconectaram em uma rede.
Também podemos pensar na tecnologia,
como estas ferramentas,
mediante as quais o cérebro ampliou o poder das mãos
ou outros dispositivos, como telescópios e microscópios,
para ampliar o poder dos olhos.
Talvez fosse a tecnologia
a inovação que produziu a alavancagem dos seres humanos.
Temos identificado a imaginação,
a linguagem e a tecnologia
como três possiveis candidatas na decolagem
e, talvez, envolvendo as três,
reforçando-se uma às outras, em uma explosão em espiral.
Mas estas ferramentas:
imaginação, linguagem e tecnologia
são facas de dois gumes.
Bem utilizadas,
poderiamos fabricar um modelo do Universo,
mas sempre de dois gumes.
Nossa capacidade imaginativa é um exemplo.
Pode ser muito útil,
porém pode também ter consequências lamentáveis.
Um cérebro que seja capaz de simular modelos imaginários,
inevitavelmente corre o risco de auto-enganar-se.
Quem já não acreditou ter visto um fantasma no quarto,
ou um rosto diabólico na janela
e depois descobriu que era um jogo de luzes na cortina?
Vimos, com Charlie Chaplin,
a ânsia do cérebro em modelar rostos,
mesmo quando se vê apenas a parte de trás de uma máscara.
O software interno pode fazer o mesmo truque,
ao ver as dobras da cortina que insinuam olhos, nariz e boca.
Vemos um rosto mesmo que não haja nenhum.
Todas as noites sonhamos.
O software de simulação produz mundos ilusórios:
Pessoas, animais, países irreais que, talvez, nunca poderiam existir.
Vivenciamos como se fossem realidade
e não é de estranhar,
já que percebemos a realidade quotidiana da mesma maneira,
mediante modelos mentais.
Também podemos nos enganar quando estamos acordados.
A lição disso é que se alguma vez ouvirmos uma história
de alguém que viu um arcanjo e ouviu vozes em sua cabeça,
devemos entrar imediatamente na defensiva.
Segundo, a linguagem.
Porque é uma faca de dois gumes?
A informação proveitosa
se espalha pelo mundo através da rede de cérebros,
porém todo o demais também.
Até algo tão trivial
como isto.
Há dez anos,
ninguém colocaria o boné com a viseira para trás.
Neste país, ninguém sequer usava bonés de beisebol.
Atualmente, se você andar pelas ruas da Inglaterra ou da América,
é inevitável ver um rapaz com o boné para trás.
O boné virado prá trás se espalhou como a catapora,
primeiro na América e logo aquí.
É uma epidemia mental,
um vírus da mente.
Como uma epidemia de varicela,
os vírus da mente, alegra-me em dizer que
morrem logo.
Cedo ou tarde,
o boné de trás para frente
se esfumará assim...
Os bonés e as tartarugas são inofensivos,
porém há outros sistemas de idéias, mais poderosos e sinistros
e que dificultam nossa compreensão do universo.
Em 1633, a Santa Inquisição condenou Galileu Galilei,
o grande físico italiano,
à prisão perpétua.
Seu crime foi o de publicar um livro
afirmando que a Terra gira em torno do sol.
Foi condenado por suspeita de heresia,
pois sua ciência contradizia a crença cultural de seu tempo.
E não sejamos complacentes com nossos tempos.
Foi na atualidade
que uma seita religiosa foi incitada por seus líderes
para matar um romancista,
cujo livro foi considerado uma ameaça às suas crenças
verbalmente transmitidas.
Também foi em nosso século
que se espalhou o pior vírus da linguagem.
Não há necessidade de comentar nada sobre isso.
Consideremos o poder positivo e negativo da linguagem.
As crianças aprendem muito enquanto crescem.
A linguagem é uma magnifica ferramenta de aprendizagem,
permite-nos concentrar em poucos anos a sabedoria de séculos.
Sem dúvida, porisso as crianças são tão receptivas quando jovens.
As crianças acreditam em tudo que lhes dizem.
O Papai Noel e a Fada dos Dentes são inofensivos,
mas uma mente capaz de acreditar em fadas
é uma mente vulnerável a todo tipo de coisas.
Quem assistiu à minha primeira palestra
talvez se lembre desta imagem fictícia,
um mapa do mundo onde as pessoas crêem em idéias diferentes,
como várías teorias dos dinossauros em várías áreas
e mostrei um gráfico da futilidade de uma ciência que funcionasse assim,
se suas crenças sobre o mundo ou o universo
dependessem de onde nós nascemos.
Não repetirei os detalhes.
Aprendam esta lição.
Observem suas próprias crenças
sobre o mundo, a vida e o Universo.
Você tem razões para acreditar nelas?
ou apenas acredita devido ao lugar onde você nasceu?
Encaixariam naquele mapa suas crenças sobre o universo?
Se for assim,
suspeite enérgicamente,
pois os dados sobre o universo
não podem diferir nas distintas áreas do mundo.
A terceira faca de dois gumes: a tecnologia..
Dispositivos, como telescópios, microscópios e outros
são muito poderosos.
Se estamos compreendendo o universo, é por causa deles.
E qual é o seu ponto fraco?
O primeiro efeito negativo que nos ocorre
é a bomba de hidrogênio,
ou outras invenções de destruição.
Sem dúvida, é o principal efeito,
mas falo sobre algo menos evidente:
um efeito na mente que, na minha opinião,
tem dificultado o desenvolvimento de nossa espécie.
É isto:
Estamos acostumados a ver coisas complexas e funcionais
concebidas por seres humanos,
e pensamos que todas as coisas complexas operacionais
deviam ser planejadas.
Em outra conversa com vocês,
fiz a distinção entre objetos projetados e "designoids".
Objetos como telescópios e microscópios,
são realmente planejados.
Os objetos designoids são como os olhos,
parecem concebidos,
funcionam como projetados,
mas eles não o são.
Surgiram por outro processo,
a evolução por seleção natural,
a teoría darwiniana, de como se deram as coisas.
A diferença da teoría da relatividade de Einstein,
a evolução por seleção natural é uma idéia simples.
Qualquer pessoa pode compreendê-la
mas, no passado, ninguém a compreendeu,
nem as pessoas mais inteligentes,
nenhum grande filósofo,
nenhum grande matemático,
ninguém captou esta simples ideia
até meados do século IXX, quando dois naturalistas,
Darwin e Wallace, a entenderam.
Porquê tomou tanto tempo?
Há muitas razões possíveis, mas refiro-me ao seguinte:
suspeito que foi pelas distrações da tecnologia.
Estávamos tão acostumados a ver coisas feitas por humanos,
objetos, como telescópios e microscópios,
ferramentas cotidianas de carpintaria e outras coisas.
Crescemos pensando que tudo devia ter um propósito.
Mas hoje vemos o propósito humano pelo que é:
um produto do cérebro,
e o cérebro é um produto da evolução.
O propósito evoluiu como todo o demais.
Durante três bilhões de anos,
as formas de vida cresceram neste planeta
de maneira designoid, pareciam planejadas
porém, por si mesmas, não teriam o conceito de planejadas.
Finalmente, nossa espécie,
adquiriu a capacidade de projetar
e de ter propósitos.
O objetivo emergiu e se desenvolveu no universo
recentemente.
Porém, o propósito mesmo,
já desenvolvido no cérebro humano,
tem o potencial de causar outra inovação de software
e detonar uma progressiva espiral de co-alimentação.
Especialmente quando uma equipe de humanos
compartilha o mesmo objetivo.
Este é explorador lunar da NASA,
próximo a descer na lua,
um exemplo do que um grupo de mentes humanas pode fazer
quando se juntam em um propósito comum.
Quando uma equipe anunciou sua intenção de ir à lua,
o objetivo foi alcançado em menos de uma década.
Outro propósito grupal foi
elaborar o mapa completo do genoma humano
e que também será conquistado.
A ciência mesmo,
entender o universo no qual despertamos,
é outra meta com um potencial quase ilimitado.
Podemos sair do Universo,
colocar um modelo do universo em nossos crânios.
Quando percebemos algo,
colocamos um modelo dentro de nosso crânio.
Nosso modelo do universo estará dentro de nossos crânios,
de maneira similar a um modelo de realidade virtual em um computador.
Temos um último modelo virtual.
Alguém o executará.
Alistair?
Venha, Alistair.
Ele vai nos levar sob seu próprio controle,
iremos aonde ele quiser ir.
É uma operação difícil.
Percorramos este modelo virtual.
Há um quadro e uma porta,
talvez vocês o reconheçam.
Agora nos afastamos.
Estamos em um modelo de computador.
Agora atravessaremos essa porta.
Entramos... onde estamos?
Estamos na sala de palestras da Royal Institution.
É um modelo desta sala, dentro do computador.
Ali está o estrado,
a saida,
os assentos azuis,
as paredes por trás da galeria.
Já captamos a ideia.
Muito obrigado, Alistair.
Era o modelo de um mundo,
um microcosmos dentro do computador.
Mas nosso modelo do universo
não será um pequeno modelo local.
Será uma gestão mais grandiosa.
Fabricá-lo é uma empresa compartilhada.
O modelo se distribui pela rede de cérebros que participam.
Peças do modelo estão em livros, bibliotecas,
quadros, bancos de dados.
Conforme o tempo passa e nossa civilização cresce,
o modelo do universo que partilhamos melhorará,
será refinado progressivamente
e será mais exato em seu reflexo da realidade.
E, ao mesmo tempo, à medida em que crescemos,
se tornará menos supersticioso,
menos limitado e paroquial.
Perderá seus fantasmas, duendes e espíritos.
Será um modelo realista,
regulamentado e atualizado
por informações recebidas do mundo real.
Um modelo poderoso,
com peças em harmonia,
capaz de avançar até o futuro
e prever o que nos acontecerá e ao nosso mundo.
Nós..
talvez sozinhos no Universo,
sejamos finalmente capazes de crescer.
Muito obrigado...
tradução: caconti