Tip:
Highlight text to annotate it
X
Apresentamos agora a última mesa sobre o tema "programas de desenvolvimento saudável".
Para compor esta mesa, convidamos ao palco, professora Ana Chiesa, professora da escola de
enfermagem da USP e consultora da fundação
Maria Cecília Souto Vidigal, e mediadora nesta mesa.
Professora Kate Billingham, diretora de projetos do programa Family Nurse
Partership, da Inglaterra.
E doutora Sandra Grisi, professora titular do departamento de pediatria da faculdade de
medicina da Universidade de São Paulo, e
coordenadora do projeto "Região Oeste de São Paulo".
Com a palavra, professora Ana Chiesa.
Boa tarde.
Eu, primeiramente, gostaria de agradecer muito a presença de todos aqui.
Estamos cansados, mas eu tenho certeza que
vai valer a pena esse esforço, mais essa concentração.
É um grande prazer, e também uma grande responsabilidade, coordenar, mediar essa
mesa, porque ela vai coroar uma série de discussões
que a gente veio fazendo ao longo destes dois dias.
Nós já estamos chegando ao fim deste evento e a gente já percebe um clima de quero mais.
Então, eu acho que também ajuda a preparar o público que veio, que esteve presente aqui, que
esteve acompanhando pela internet, é... a participação pro próximo evento, que
certamente vai ser tão interessante quanto esse.
Nesses dois dias, nós pudemos refletir sobre o papel da ciência e, certamente, a gente, além
de reconhecer e reafirmar que o papel da ciência é produzir evidências, nós pudemos
ver também o quanto a ciência deve se comprometer também com a disseminação
mais ampla desse conhecimento baseado em evidências produzidas, e também apoiar a
apropriação desses conhecimentos em larga escala, ajudando as pessoas a fazerem as
melhores escolhas possíveis no seu cotidiano.
E, acho que uma reflexão que a gente pode fazer é o que nós podemos melhorar
a partir de onde nós estamos.
Acho que as experiências que vão ser apresentadas a seguir ajudam a pensar nessa direção.
O que a gente pode fazer melhor a partir de onde nós estamos inseridos.
Então, essa mesa vai apresentar algumas experiências de programas de
desenvolvimento saudável e, primeiramente, eu que quero apresentar pra vocês a professora
Kate Billingham, que vai nos falar sobre sua ampla vivência internacional.
A professora Kate Billingham teve formação como enfermeira pediátrica, antes de se tornar
uma visitadora na área da saúde.
Até o início dos anos 90, ela trabalhou como visitadora, antes de criar um projeto
comunitário para mães adolescentes em Nottingham, na Inglaterra.
Ainda na década de 90, Kate se tornou consultora de saúde pública para crianças em Sheffield.
Em 2000, passou a fazer parte do departamento de saúde do governo inglês
como enfermeira chefe.
Em 2006, foi coautora do programa The Healthy Child, que é um programa de
saúde pública universal, pra crianças de 0 a 5 anos, no Reino Unido.
Kate permaneceu trabalhando a nível governamental, liderando a introdução do
Nurse Family Partership Program, na Inglaterra.
Em maio de 2012, muito recentemente, ela deixou o departamento de saúde para trabalhar
meio período como conselheira senior do Nurse Family Partnership International, na
Universidade do Colorado, e promover a prevenção baseada em evidências e
intervenção nos primeiros anos de vida.
Queria também dizer que ela é membro e conselheira do Queen's Nursing Institute, e
professora honorária do King's College London.
E, em 2011, ela recebeu o CBE, que é um título da ordem do império britânico.
Então, é uma honra...
Foi recebida pela Rainha?
Então, não é que a gente vai falar alguma coisa pra inglês ver, a gente vai ver o que os ingleses
tem a dizer pra gente!
Então, é uma grande honra para a gente.
Kate, você tem 30 minutos, e elas vão apresentar quando tiver faltando...
Obrigado, Ana.
Boa tarde amigos e colegas.
É uma grande honra estar aqui no Brasil e com vocês aqui nesta conferência.
E obrigado pela Fundação por ter feito esses dois dias fantásticos.
Eu tenho aprendido muito.
E hoje é um dia muito propício já que a Organização Mundial da Saúde anunciou hoje
que houve uma redução de 40% na mortalidade infantil nos últimos 20 anos.
E quando estava olhando os dados era possível ver que o Brasil fez uma contribuição
significativa para este maravilhoso desenvolvimento na humanidade.
E, acredito eu, para o crédito do trabalho e da liderança que vocês tem feito no Brasil.
Portanto, me sinto muito humilde estando aqui de pé em frente à vocês e ofereço a minha
experiência na Family Nurse Partnership Program em humildade ao que vocês conseguiram.
Eu vou falar nesta tarde e vou tentar falar devagar para auxiliar os tradutores.
Eu vou falar sobre o Family Nurse Partership Program e da experiência da implantação no
Reino Unido e depois refletir sobre o que seria
este aprendizado de sair da ciência para a prática.
Mas eu gostaria de começar fazendo uma questão.
Quantos de vocês trabalharam diretamente com crianças e famílias, face a face?
Muitos de vocês.
Fantástico.
Vocês são as pessoas importantes.
Certamente para as crianças e famílias, vocês são as pessoas importantes.
E terminar esta conferência focando na prática, acredito que é uma forma importante de se
terminar a conferência, porque este é o trabalho, é aqui que a mudança acontece.
Eu quero começar com uma citação de David Olds, que
é o fundador da Family Nurse Partnership Program:
"Há uma janela mágica durante a gravidez.
É um momento no qual o desejo de ser uma boa mãe e criar uma criança feliz e saudável
cria a motivação para superar obstáculos incríveis, incluindo pobreza, instabilidade ou
abuso, com a ajuda de uma enfermeira bem treinada".
Esta conferência tem falado menos sobre gravidez do que sobre a infância.
Mas a gravidez é um momento chave para a criança em desenvolvimento.
É uma janela mágica.
É um momento quando, pela primeira vez, e mães especialmente, estão mais receptivas a
aprender, estão mais vulneráveis e instintivamente motivadas a proteger e cuidar
pelo seu filho ainda não nascido.
É um momento em que a criança está muito vulnerável.
Quando toxinas, tais como cigarro, álcool e drogas podem ter um dano incalculável e de
longo termo na criança.
E é também um momento onde stress e violência em relacionamentos tem um impacto
na criança em desenvolvimento.
Então está realmente se tornando um momento cada vez mais importante e a ciência que
começamos nesses dois dias está cada vez mais olhando para a importância da gravidez.
Então, sobre o Family Nurse Partnership Program, vou apenas oferecer um pouco de
background, não vou entrar muito a fundo porque não temos tempo.
Mas, essencialmente, é um programa com um poder considerável.
As enfermeiras fazem visitas em casa.
Elas começam ainda no início da gravidez e terminam quando a criança atinge 2 anos de idade.
Às vezes as visitas são semanais, às vezes
ocorrem quinzenalmente e às vezes a cada 4 semanas.
É um programa que faz sentido para os pais.
E ele precisa fazer sentido, pois é voluntário.
As pessoas optem por participarem do programa.
E para escolher fazer parte de algo, você precisa
acreditar que aquilo vai fazer uma diferença pra você.
E eu estava refletindo, pensando sobre a fala de hoje cedo.
Sobre os frameworks e sobre essas conversas a respeito da intersubjetividade e como a
capacidade de pensar sobre a pessoa que está recebendo seu serviço - e de se adaptar de
forma a se alinhar a subjetividade dela - é o que acredito que está no cerne deste programa.
E de se conectar aos modelos culturais e as motivações psicológicas do cliente individual.
Ele tem aprofundamentos teóricos e empíricos muito sólidos.
Ele é baseado em três teorias: teoria ecológica, teoria do apego e teoria da auto eficácia.
E ele foca no comportamento dos pais no interior do contexto em que vivem.
E é um programa... a razão que estamos fazendo este programa em
muitas partes do mundo é porque ele está sendo rigorosamente testado.
Nós servimos e o conceito de servir famílias é uma parte importante deste programa.
Nós estamos lá não para fazer por elas, mas para servir.
E nós servimos... essencialmente, as famílias que se beneficiam
mais são aquelas com baixa... mães com baixos recursos psicológicos, e
essas tendem a ser mulheres grávidas de baixa renda, geralmente adolescentes.
E é feito apenas para pais com seu primeiro filho porque a experiência de ser pai ou mãe
pela primeira vez é uma experiência muito peculiar, como qualquer pai ou mãe aqui sabe.
É também um momento quando as pessoas estão mais receptivas a aprenderem.
Esse é um panorama do programa para vocês.
Existem três objetivos no programa.
Melhorar os desfechos da gravidez; melhorar a saúde e o desenvolvimento infantil e melhorar
a autossuficiência econômica dos pais.
Conseguir prover materialmente para seu filho é uma parte muito importante na percepção de
ser um pai ou mão confiante.
E é também bom para o bem estar e para a saúde da criança.
O programa tem alguns elementos chaves, mas ele é pensado para mães em risco em sua
primeira gravidez e se utiliza de enfermeiras registradas.
Vou falar um pouco mais sobre isso.
E é um serviço intensivo, ele precisa ser intensivo para que faça alguma diferença.
E ele é intensivo tanto na profundidade no qual ele trabalha, tanto em termos da relação e
da profundidade psicológica/terapêutica no qual ele trabalha, e também na frequência do contato.
Ele é também um programa muito amplo.
O foco é no comportamento e ele tem conceitos que giram em torno da fidelidade ao
programa, que vou falar um pouco mais sobre adiante.
Mas eu queria falar mais um pouco sobre o porquê de enfermeiras registradas, pois isso foi
de quando começamos o programa.
A primeira pergunta: por que enfermeiras registradas?
Nós não temos enfermeiras o suficiente, ou elas são caras ou ainda, certamente outras
pessoas seriam capazes de realizar o trabalho.
E tem se tornado muito claro para nós porque enfermeiras, mas eu acho que vale a pena detalhar.
E fiquei movida hoje ao ouvir o palestrante de manhã sobre a pesquisa...
sobre a importância da saúde e da saúde física para mães em desvantagem no início...
no primeiro ano de vida.
E o secretário de estado ontem falando sobre a importância da saúde pública enquanto o
primeiro contato, a primeira porta.
Então isso é parte da coisa.
Então por que enfermeiras.
Bom, elas têm o conhecimento e o julgamento e as habilidades.
E como este programa é realizado em um momento de rápido crescimento e
desenvolvimento físico, com crianças e mulheres grávidas muito vulneráveis, muitas
dessas questões são questões clínicas.
Muitas das preocupações que as mães têm são questões clínicas, muitos dos riscos que as
crianças têm são riscos clínicos.
Então é muito importante ter médicos que entendam...
sobre imunização, que consigam reconhecer uma infecção, que saibam quando é meningite
e quando não é.
E profissionais da medicina que saibam fazer julgamentos, que não precisem de outros
agentes o tempo todo, mas que consigam fazer o julgamento na hora e que tenham as
habilidades e o conhecimento para isso.
Nas comunidades, enfermeiras frequentemente tem um alto nível de confiança e não são vistas
enquanto algo estigmatizante.
Elas têm credibilidade e uma autoridade que vem pelo fato de serem registradas, de sua
titulação e de seu conhecimento.
E a teoria e prática da enfermagem estão no cerne neste modo de atuação, que vou falar um
pouco mais a respeito.
Cada visita ao lar cobre todos esses assuntos, o que significa um programa muito amplo, pois,
não sei quanto a você, mas eu às vezes fico confuso com os diferentes resultados.
E sobre qual programa gera qual resultado e qual parte do programa gera qual resultado.
E quando você está fazendo trabalho preventivo tão cedo assim na vida você pode
ter diferentes resultados que tem sua origem em um programa multidimensional, ainda que único.
E isso faz parte da característica desse programa.
Então ele cobre saúde pessoal, saúde ambiental, a vizinhança, o lar.
Ele cobre o desenvolvimento do custo de vida, educação, tempo entre uma gravidez e outra, o
papel maternal, amigos e família e redes sociais, saúde e recursos humanos, usando
tanto a saúde como outros serviços.
E cada visita gasta certo tempo em cada uma dessas áreas.
Isso é um pouco complicado, então não vou gastar muito tempo nisso, mas este é o modelo
de como o programa funciona.
E quando se traduz ciência para a prática, nós precisamos ter um modelo muito coerente que
informa sobre o que é este programa.
E o que você vê aqui é que este programa procura intervir em três coisas.
Comportamentos de saúde pré-natais; cuidados disfuncionais às crianças; curso de vida maternal.
Porque se a gente não intervier nesses, o resultado final é um dano emocional e um
dano no desenvolvimento neurológico, problemas na criança e adolescente em torno
de comportamentos de uso indevido de substâncias, um curso de vida maternal
dominado por diversas gravidezes indesejadas em um curto espaço de tempo, dependência da
assistência social e abuso de substâncias.
Então o modelo lógico é uma parte chave deste programa.
E acho que, de certa forma, este programa foi desenvolvido 30 anos atrás, antes de qualquer
pessoa falar sobre neurociência e epigenética.
Alguns de nós estávamos já medicando naqueles anos e falávamos sobre apego, era o
nosso ponto de referência e não sei se liam Bowlby naquela época.
E às vezes eu ouço a neurociência e penso para mim mesmo: "tá, mas e daí?".
Porque a gente sempre soube que este é um período muito importante da vida.
E a neurociência nos ajuda a entender porque ele é tão importante e cria então um imperativo.
Mas as intervenções e a importância de intervenções intensivas sempre estiveram
presentes, eu acredito, para nós que trabalhamos com crianças, mães e famílias,
por muitos, muitos anos.
Mas eu acho que o que entendemos agora é que esse programa está se conectando com
aqueles sistemas neuro-genéticos que são essenciais na humanidade, em torno da
sobrevivência, vínculo e apego e proteção da prole.
E ao se conectar com as motivações profundas dessas pessoas e seus movimentos instintivos
de cuidar de seus filhos, isso cria uma oportunidade para mudança que
provavelmente não existe em nenhum outro momento para crianças.
Eu vou falar um pouco sobre a pesquisa.
Não em muita profundidade, já que existe muita informação no próprio website sobre isso.
Mas, para mim, o que foi realmente impressionante foi que David Olds começou
isso nos anos 1970 e ainda existe acompanhamento pelo programa, de crianças
que estão agora com seus 30 anos.
E essas três experiências de controles aleatorizados de alta qualidade estão entre as
melhores experiências controlados no mundo para esse tipo de programa.
E David Olds não... quando ele foi oferecido... as primeiras experiências tiveram
tanto sucesso que pessoas lhe ofereceram dinheiro para expandir o programa.
E ele disse que não, pois não sabia ainda o suficiente se ia funcionar caso usado com
populações diferentes.
Então ele foi à Memphis e fez outra experiência e os resultados foram ainda melhores.
E pessoas foram até ele oferecer dinheiro para expandir o programa.
Ele disse não, ainda não sei o suficiente, preciso fazer outra experiência porque ainda
não sei se precisamos de enfermeiras para fazer isso ou não, ou se funcionaria com uma
população diferente, uma população hispânica.
Então ele fez outra experiência em Denver.
E foi apenas em meados dos anos 1990, quando ele pode ver os resultados da terceira
experiência, que ele então aceitou o financiamento.
E o primeiro financiamento veio por advogados, pois advogados estavam
preocupados com o nível da criminalidade juvenil e com o número de jovens sendo
presos, e queriam um programa baseado em evidências que trataria da criminalidade juvenil.
Então essas experiências foram realmente a razão pela qual decidimos testar
o programa na Grã-Bretanha.
E eu acho que é muito importante.
Sabe, eu me apoio hoje aqui nos ombros de David Olds e os 30 anos de trabalho que ele
fez e que de muitas maneiras transformou nossas ideias sobre como trabalhar com as
famílias das crianças mais vulneráveis.
E quero aqui apenas reconhecer o trabalho que ele fez.
Então, os resultados dessas experiências que podemos identificar enquanto consistentes e
significantes são todas as coisas que queremos para nossas famílias e crianças mais
vulneráveis, não são?
Que a saúde pré-natal das mulheres melhore, reduções do fumo durante a gravidez,
melhores dietas durante a gravidez, reduções em ferimentos infantis e...O Lancet fez um
panorama sobre maus tratos infantis.
Eles fizeram a seguinte questão: "quais programas no mundo tem sido eficazes para
prevenir maus tratos infantis?".
E surpreendentemente havia apenas dois no mundo com evidências para isso, e este é um deles.
A redução em ferimentos infantis é significante neste programa.
Menos gravidezes futuras e maior tempo entre elas são elementos chaves para dar resultados
para as crianças e mães.
O pai mais envolvido no cuidado das crianças, maiores níveis de emprego, reduções na
dependência social, escolas mais preparadas para lidar com isso, especialmente para mães
com poucos recursos.
E os efeitos são maiores para os mais vulneráveis.
Então você não oferece esse programa para todos, pois os efeitos são maiores para aqueles
com menos recursos materiais e psicológicos.
E o que tem se tornado muito importante é que se, assim como eu, você vive e trabalha numa
economia ocidental em declínio, é muito importante saber o que vamos ganhar com o
investimento do nosso tempo e dinheiro.
E uma das razões que o governo britânico queria testar este programa foi por causa da
análise econômica que havia sido realizada, que demonstrou um retorno de 17 mil dólares
por criança quando atingiam 15 anos de idade.
Então por cada dólar investido, há uma economia entre 3 e 5 dólares por criança.
Então este é um retorno muito significativo do investimento e tem feito este programa ficar
no topo de todos os programas rentáveis baseados em evidência.
E vou mostrar apenas alguns slides agora, apenas para demonstrar a pesquisa e os
resultados deste programa.
Todos nós que trabalhos com crianças, especialmente com famílias de crianças em
desvantagem, sabemos o quão difícil é realizar alguma mudança.
Então, ao vermos esse tipo de mudança, isso significa que existe algum muito importante
acontecendo aqui entre as enfermeiras e as famílias com quem trabalham.
Então essas aqui mostram as diferenças.
A linha no topo é o grupo que não tinha o programa, que não tinham os serviços usuais e
a linha de baixo são aqueles que tiveram o programa.
Então, essas são sobre desempenho acadêmico.
Sempre fico atônita com essa escala na linguagem pré-escolar e com as melhorias na
linguagem durante a pré-escola pra crianças que estavam no programa.
As diferenças em dias hospitalizados por ferimentos. O distanciamento
temporal entre nascimentos entre mulheres que estão no programa.
Os meses em que precisaram receber benefícios de assistência social e vale-
alimentação foram reduzidos.
E esse é um gráfico que mostra as economias com gastos.
Então a linha vermelha é o gasto que o programa tem por família, 7 mil dólares, e a economia...
você pode ver o quão maior é a economia para o mais vulnerável, as famílias em maior risco.
Então nesse sentido você tem como saber para quem deve ser oferecido o programa.
Onde você terá maior retorno do seu investimento.
Então eu quero agora falar um pouco sobre a implantação na Inglaterra.
A coisa mais surpreendente sobre este programa é que ele parece ser não ideológico,
e imagino que isso seja tão importante aqui quanto em qualquer outro lugar.
Quando nós o iniciamos, Tony Blair era o primeiro ministro e havia a guerra do Iraque e
George Bush, e todas as enfermeiras e as pessoas na Inglaterra diziam: "e o que os
americanos têm a nos ensinar sobre saúde?".
E eles não gostavam de George Bush e da guerra no Iraque.
Então não estava claro na época que o programa seria aceitável na Grã-Bretanha.
Mas o governo queria introduzi-lo, pois havia um número significativo de crianças para as
quais os resultados estavam muito, muito ruins.
E 10 anos de um governo trabalhista, redistribuição de recurso, pobreza infantil,
muitos dos programas não fizeram diferença em seus resultados e o governo tentou achar no
mundo algum programa pelo qual poderiam justificar o uso de dinheiro público.
Então nós começamos com 10 equipes em 2006/2007 e eu estava cética.
Eu estava liderando o programa e pensava "bem, mas nós já temos serviços universais".
Mas logo ficou óbvio que isso era algo totalmente diferente, que nunca havíamos
trabalhado antes dessa forma e com essa intensidade com as famílias.
São 80 equipes, então metade das áreas locais na Inglaterra tem uma
equipe do Family Nurse Partnership.
Temos 400 enfermeiras em atividade, 10 mil famílias e temos um compromisso
governamental de atingir 13 mil famílias até 2015.
E temos uma unidade de implantação nacional que é composta de líderes clínicos e lideres na
área de serviços desenvolvendo o programa.
O serviço é fundado por serviços nacionais locais de saúde, essas são suas crianças locais.
Não é fundado por um governo central.
É muito importante que as pessoas o criem localmente, pois essas são crianças locais e
isso assegura que o financiamento ocorra mesmo
depois que o financiamento central do governo acabe.
Nós pagamos pela licença e consultoria pela Universidade de Colorado, pois é um
programa de licenciamento, e temos tido uma avaliação formativa quando testávamos o
programa pelos primeiros três anos e agora nós temos um *** de controle randomizado.
Então o que a gente conseguiu?
Bem, acho que todos nós ficamos surpresos pelo sucesso do programa.
Essas famílias são muito vulneráveis.
Por exemplo, uma enfermeira me disse que estava trabalho com uma garota grávida de 17
anos, que estava grávida de 8 meses e não estava comendo direito.
Sem frutas, legumes e vegetais, sem cálcio.
Ela só comia batata frita e Mcdonalds.
E a enfermeira estava muito preocupada com a criança e sabia que tinha algo de errado ali.
E um dia essa garota explicou pra ela que quando ela tinha 3 anos, seu padrasto a
amarrava numa cadeira, a vendava e a alimentava a força.
E essas experiências traumáticas da infância têm um longo legado e quando você tem esse
legado, quando a criança...
a gravidez é um momento quando muitas dessas experiências traumáticas vêm a tona e
se manifestam numa inabilidade de cuidar da criança.
E esse programa parece ativar elementos na prestação de cuidados que foram desativados
nas pessoas devido a abusos e infâncias traumáticas.
Então, este trabalho é muito difícil.
Trabalhamos com jovens mulheres e jovens homens muito difíceis, que frequentemente
não estão lá quando você realiza uma visita.
Você pode fazer 10 visitas e não estão lá.
São grosseiros com você.
Eles te testam o tempo todo, que nem adolescentes, e levam vidas muito, muito
difíceis e muito incertas. Vidas muito caóticas.
Então, nós ficamos maravilhados em saber que quase 90% daqueles que foram oferecidos
aceitaram o programa.
E a habilidade das enfermeiras em identificar e criar relações foi parcialmente responsável por isso.
Mas poder falar para alguém: "estou aqui pra você e vou estar do seu lado até que seu filho
tenha 2 anos" foi um presente para as pessoas.
E poder dizer para alguém: "este programa, nós temos feito ele nos EUA e sabemos que as
crianças lá se saem melhor na escola e ficam longe de confusão.
Você gostaria dele também?".
Claro que as pessoas querem.
As evidências e provas são muito importantes para as famílias com quem trabalhamos e
ajudam as pessoas a serem a melhor mãe do mundo.
Então nós percebemos que poderíamos ter altos níveis de engajamento e manter as
pessoas no programa por 2 anos e meio.
É bastante tempo.
Nós entregamos o programa com a fidelidade, então atendemos os requisitos de fidelidade
logo cedo no recrutamento, lá por 16 semanas de gravidez, entregando a dosagem, cobrindo o
conteúdo e conseguimos atingir a maioria da fidelidade.
É um programa popular e com uma organização local.
Na verdade, não temos como atender a demanda por expansão.
E, mais importante, nós temos clientes que tem uma história alternativa para suas próprias
vidas e futuros diferentes para seus bebês.
E temos pais e mães que são pais com autoridade, sensíveis e carinhosos.
E temos enfermeiras que amam seu trabalho e que estão fazendo um trabalho fantástico e
realmente alcançando bons resultados para as famílias.
E temos um serviço modelo no qual outros estão aprendendo.
Eu acho que, de muitas maneiras, isso tem transformado a forma pela qual trabalhamos
com famílias na Grã Bretanha.
Temos uma primeira avaliação promissora, mas não sabemos se isso produz resultados
diferentes dos serviços usuais.
Então, ainda não sabemos quais serão os resultados deste programa até sair os
resultados do *** de controle randomizado.
Então o desafio é, bem... aqueles de vocês que trabalham com famílias,
em especial aquelas mais vulneráveis e em desvantagem, sabem o quão difícil é conseguir
Isso é um trabalho muito difícil.
E às vezes eu me pergunto: "estamos exigindo demais das enfermeiras?".
O que elas precisam fazer, pessoalmente e profissionalmente, e o tanto de habilidade para
possibilitarem as pessoas a mudarem suas vidas é algo incrível.
Nosso contexto é diferente dos EUA.
Tivemos que adapta-lo ao nosso contexto.
Como você mantém a qualidade quando você está fazendo a mesma coisa por 5, 6 anos.
Construindo uma capacidade de reproduzir programas baseados em evidência.
E eu acho que tem outra ciência que precisamos estar atentos aqui, que é a ciência
da implantação.
Conseguir pegar que existe em 40 estados nos EUA e levá-lo para 80 locais na Inglaterra, e
saber que ele foi implantado da mesma forma que na pesquisa original, é um crédito
fantástico deste programa porque, ele contém todos os elementos necessários para esta
reprodução. Eu mesma não chegaria perto de um programa que não tivesse elementos em seu núcleo
central que permitisse reproduzi-lo no padrão no qual foi originalmente entregue.
Não vou entrar nisso porque quero conseguir terminar e vou ficar sem tempo, mas eu
gostaria de mostrar alguns slides sobre as enfermeiras.
Uma das experiências comparava profissionais associados, trabalhadores da comunidade
local, com as enfermeiras.
E se saíram bem, ambos se saírem bem.
Os profissionais associados também produziram benefícios, mas as enfermeiras
produziram benefícios significativamente maiores.
Elas tiveram mais resiliência, a desistência foi menor e conseguiram melhores resultados.
Em especial em coisas com fumo e gravidez, que é um resultado principal do programa.
Então o argumento sobre do porquê de enfermeiras pode ser apoiado pela evidencia empírica.
Então, muito rapidamente, algumas reflexões sobre passar da ciência para a prática e o que ajuda.
O que ajuda neste programa é a evidência rigorosa, custo benefício, mas também por
termos a informação de quem se beneficia e sabemos como se beneficiam.
E não tem nada neste programa que não foi pesquisado antes.
Bom, ainda tem muito que precisa ser pesquisado, mas há o suficiente para ter
conhecimento das evidências e de como reproduzi-las.
Ele tem elementos no seu núcleo que se forem colocados em prática pode ficar confiante de
que a promessa será cumprida.
Ele tem uma extensa lista de diretrizes do programa.
E de sistemas no lugar para melhorias contínuas.
Um grande banco de dados sobre todas as famílias no programa.
Ele tem sido a chave para a gente conseguir patrocínio governamental, então é um
triângulo na verdade entre política pública, ciência e prática, e comunidades fazendo parte.
E nós providenciamos treinamento de alta qualidade e assistência técnica.
Treinamento clinico, assistência clinica para as enfermeiras do programa.
Meu ultimo slide é sobre algumas reflexões pessoais a respeito de ter feito esse programa.
Eu acho que é a qualidade do programa e como ele repercute com os formuladores de
políticas públicas, famílias, enfermeiras e pessoas que tem dinheiro.
E isso torna meu trabalho de liderar muito mais fácil.
Ele tem o foco na prática.
Passamos os primeiros 3 anos focando na prática.
Parecia a nós que se não entendêssemos o que acontece entre a enfermeira, aquela mãe,
aquele pai, aquele bebê, nós nunca saberíamos realmente o que estava acontecendo.
E viemos a entender a prática clínica de uma forma que, depois de 40 anos, nunca havia
compreendido naquele nível.
Então este programa tem um foco real e um respeito sobre a importância da prática clínica
das enfermeiras.
O outro aspecto disso, eu acredito, é que quando você começa este programa você tem
que construir a sustentabilidade desde o início.
Você precisa ser ambicioso e testá-lo numa escala grande o suficiente, mas esteja
preparado para pará-lo caso não seja bem sucedido.
E nunca presuma que vai ser bem sucedido.
Este é um programa que é um trabalho em construção, há muito desenvolvimento
acontecendo na área de saúde mental, violência doméstica ou na interação pai-filho.
E de fazer parte de uma comunidade internacional, em ser parte desse programa.
E ele tem um impacto sobre todo o sistema, não apenas nos outros serviços de saúde
infantil, mas ele também tem um impacto em comunidade, porque essas jovens mães e pais,
eles contam aos seus amigos.
Eles conversam com seus amigos sobre...
nós ouvimos essa história, sobre um a mãe que mandou um SMS pra enfermeira dizendo que
estava sentada no pub com seu bebê ... que ela viu uma mãe com um bebê.
E ela foi falar com essa mãe que seu bebê estava desengajado.
E se você entende de bebês, eles sintonizam e desligam e eles sempre precisam de um
período de desengajamento, porque seu cérebro fica super estimulado.
E essa jovem mãe foi falar para esta outra mãe que ela deveria deixar seu bebê descansar,
relaxar, porque ele estava desengajado.
Então, elas têm um enorme conhecimento que podem compartilhar com sua comunidade.
E eu geralmente mostro este slide.
E nós temos uma frase que é "mudando o mundo, um bebê de cada vez".
Mas se você olhar para esta imagem.
Pelos nossos serviços na Inglaterra, eu não faço suposições sobre o seu, nós olharíamos
isso e pensaríamos: são tão jovens, quantos riscos existem aqui para este bebê.
Que vidas terríveis estas pessoas devem ter tido.
Como nós vamos cuidar deste bebê e tentar consertar, deixar as coisas boas?
Com o Family Nurse Partnership Program, você olha pra isso e você pensa, quanto
potencial, uma nova vida começando.
Quantas possibilidade existem aqui para esta família poder fazer o bem para esta criança.
E é essencialmente uma visão otimista.
E para nós, enquanto indivíduos, caso fossemos trabalhar e alguém nos enxergasse
como um risco, como um problema, como um déficit, não iríamos querer trabalhar e
certamente não faríamos nosso melhor.
Mas se a gente formos ao trabalho e alguém nos ver cheio de potencial, oportunidade e
força, nós faríamos nosso melhor para as pessoas com quem trabalhamos.
E é o mesmo com as famílias.
Então, ao ver famílias enquanto riscos e problema, isso certamente não as ajuda e
certamente não ajuda os filhos delas.
Então para nós isso foi uma mudança cultural muito grande na forma de como abordamos
nosso trabalho com as famílias.
E eu acho que isso é parcialmente responsável
por esse programa ter um nível tão alto de engajamento.
Porque se você está indo para lugares muito, muito difíceis com as pessoas...
e às vezes as enfermeiras estão envolvidas em ações de retirar crianças de pais que são
incapazes de cuidar delas.
E se você consegue fazer isso e ainda assim manter uma relação com a família, apesar do
trauma, então você fez diferenças significativas para os desfechos daquela criança.
Obrigada.