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Se vieste
escutar um homem
que se supõe transmitir a sabedoria,
erraste o caminho,
porque a real sabedoria não se transmite por meio de livros nem de discursos.
A real sabedoria está no fundo de tua consciência,
assim como o amor verdadeiro está no fundo de teu coração.
Se vieste empurrado pelos caluniadores e hipócritas
para escutar este homem,
a fim de que o que escutas te sirva depois como argumento contra ele,
erraste o caminho,
porque este homem não está aqui para te pedir nada,
nem para te usar,
porque não precisa de ti.
Escutas um homem
desconhecedor das leis que regem o universo,
desconhecedor das leis da História,
ignorante das relações que regem os povos.
Este homem se dirige à tua consciência
a muita distância das cidades e de suas ambições enfermas.
Lá nas cidades,
onde cada dia é um afã truncado pela morte,
onde ao amor sucede o ódio,
onde ao perdão sucede a vingança,
lá nas cidades dos homens ricos e pobres,
lá nos imensos campos dos homens,
pousou um manto de sofrimento e de tristeza.
Sofres
quando a dor morde teu corpo.
Sofres quando a fome se apodera de teu corpo.
Mas não sofres apenas
pela dor imediata de teu corpo,
pela fome de teu corpo.
Sofres também pelas consequências
das enfermidades de teu corpo.
Deves distinguir dois tipos de sofrimento.
Há um sofrimento que se produz em ti
devido à doença,
e esse sofrimento pode retroceder graças ao avanço da ciência,
e, assim como a doença, a fome também pode retroceder,
mas graças ao império da justiça.
Há outro tipo de sofrimento que não depende da doença de teu corpo,
mas que deriva dela:
se estás impedido,
se não podes ver,
ou se não ouves, sofres.
Mas, ainda que este sofrimento derive do corpo ou das doenças de teu corpo,
tal sofrimento é de tua mente.
Há muitos outros tipos de sofrimento
que não podem retroceder frente ao avanço da ciência.
Esse tipo de sofrimento,
que é estritamente de tua mente, retrocede
frente à fé,
frente à alegria de viver,
frente ao amor.
Deves saber que este sofrimento
está sempre baseado na violência que há em tua própria consciência.
Sofres porque temes perder o que tens,
ou pelo que já perdeste,
ou pelo que desesperas alcançar.
Sofres porque não tens,
ou porque sentes temor em geral...
Eis os grandes inimigos do homem:
o temor à doença,
o temor à morte,
o temor à solidão.
Todos estes são sofrimentos próprios de tua mente.
Todos eles denunciam a violência interna, a violência que há em tua mente.
Observa que essa violência deriva sempre do desejo.
Quanto mais violento é um homem, mais grosseiros são seus desejos.
Gostaria de te propor uma história que aconteceu há muito tempo.
Existiu um viajante
que teve que fazer uma longa travessia.
Atou seu animal à carroça
e empreendeu uma longa marcha
rumo a um longínquo destino
e com um limite fixo de tempo.
O animal chamou de Necessidade,
a carroça de Desejo,
a uma roda chamou de Prazer
e a outra, Dor.
Assim, então, o viajante levava sua carroça para a direita e para a esquerda,
mas sempre rumo a seu destino.
Quanto mais velozmente andava a carroça,
mais rapidamente se moviam as rodas do Prazer e da Dor,
ligadas como estavam pelo mesmo eixo
e transportando como estavam a carroça do Desejo.
Como a viagem era muito longa,
nosso viajante se aborrecia.
Decidiu, então, decorá-la,
ornamentá-la com muitas belezas,
e assim foi fazendo.
Porém, quanto mais embelezou a carroça do Desejo,
mais pesada esta se tornou para a Necessidade.
De tal maneira que, nas curvas
e nas encostas empinadas,
o pobre animal desfalecia, não podendo arrastar a carroça do Desejo.
Nos caminhos arenosos, as rodas do Prazer e do Sofrimento
afundavam no solo.
Desesperou-se um dia o viajante porque era muito longo o caminho
e estava muito longe de seu destino.
Decidiu, então, meditar nessa noite
e, ao fazê-lo, escutou o relincho de seu velho amigo.
Compreendendo a mensagem, na manhã seguinte
desmantelou a ornamentação da carroça,
aliviou-a de seus pesos
e muito cedo levou seu animal a trote,
avançando rumo a seu destino.
No entanto, tinha perdido um tempo que já era irrecuperável.
Na noite seguinte, voltou a meditar
e compreendeu, por um novo aviso de seu amigo,
que tinha agora de empreender uma tarefa
duplamente difícil porque significava seu desprendimento.
Na alta madrugada,
sacrificou a carroça do Desejo.
É certo que, ao fazê-lo, perdeu a roda do Prazer,
mas com ela também a roda do Sofrimento.
Montou o animal da Necessidade e, em cima de seu lombo,
meteu-se a galope pelas verdes pradarias
até chegar a seu destino.
Observa como o desejo pode te encurralar.
Há desejos de diversas qualidades.
Há desejos mais grosseiros e há desejos mais elevados.
Eleva o desejo,
supera o desejo,
purifica o desejo,
que haverás certamente de sacrificar com isso a roda do Prazer,
mas também a roda do Sofrimento.
A violência no homem,
movida pelos desejos,
não fica somente como doença em sua consciência,
senão que atua no mundo dos outros homens,
exercitando-se com o resto das pessoas.
Não creias que falo de violência
referindo-me apenas ao fato armado da guerra,
em que uns homens destroçam outros homens.
Essa é uma forma de violência física.
Há uma violência econômica.
A violência econômica é aquela que te faz explorar o outro,
a violência econômica se dá quando roubas o outro,
quando já não és irmão do outro, mas sim ave de rapina para teu irmão.
Há, além disso, uma violência racial.
Acreditas que não exercitas a violência
quando persegues o outro que é de uma raça diferente da tua?
Acreditas que não exerces violência quando o difamas
por ser de uma raça diferente da tua?
Há uma violência religiosa.
Acreditas que não exercitas a violência
quando não dás trabalho
ou fechas as portas,
ou despedes alguém,
por não ser da tua religião?
Acreditas que não é violência religiosa
cercar aquele que não comunga teus princípios, por meio da difamação,
cercá-lo em sua família,
cercá-lo entre sua gente querida,
porque não comunga tua religião?
Há outras formas de violência
que são as impostas pela moral filisteia.
Tu queres impor uma forma de vida a outros,
tu deves impor tua vocação ao outro...
Mas quem te disse que és um exemplo que se deve seguir?
Quem te disse que podes impor uma forma de vida porque te apraz?
Onde está o molde e onde está o tipo para que tu o imponhas?
Eis outra forma de violência.
Só podes acabar com a violência em ti
e nos outros e no mundo que te rodeia
pela fé interna e pela meditação interna.
Não há falsas portas para acabar com a violência.
Este mundo está prestes a explodir
e não há forma de acabar com a violência!
Não procures falsas portas!
Não há política que possa solucionar
este afã de violência enlouquecido.
Não há partido nem movimento no planeta
que possa acabar com a violência.
Não há falsas saídas para a violência no mundo...
Dizem-me que os jovens em diferente latitudes
estão buscando falsas portas para sair da violência e do sofrimento interno.
Procuram a droga como solução.
Não procures falsas portas para acabar com a violência.
Irmão meu, cumpre com mandamentos simples,
como são simples estas pedras e esta neve
e este sol que nos bendiz.
Leva a paz em ti e leva-a aos outros.
Irmão meu, lá na História, há um homem
mostrando o rosto do sofrimento...
Olha esse rosto de sofrimento, mas recorda que é necessário seguir adiante
e que é necessário aprender a rir
e que é necessário aprender a amar.
A ti, irmão meu, lanço esta esperança,
esta esperança de alegria,
esta esperança de amor,
para que eleves teu coração e eleves teu espírito,
e para que não te esqueças de elevar teu corpo.