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Neil Armstrong fala com Patrick Moore
O Céu de Noite, BBC 1970
- Sr. Armstrong, eu entendo que quando estava na Lua,
você teve muito pouco tempo de olhar para cima,
mas fale algo sobre como é o céu visto da Lua, o Sol, a Terra, as estrelas, etc.
- O céu é um escuro profundo quando visto da Lua,
assim com é quando visto do espaço cislunar, o espaço entre a Terra e a Lua.
A Terra é o único objeto visível além do Sol,
embora houve alguns relatos da visão de planetas,
eu mesmo não vi planetas da superfície da Lua, mas suspeito que possam ser visíveis.
A Terra é muito bonita do espaço e da Lua,
aparentando ser bem pequena e bem remota, mas...
é bem azul e coberta com as rendas brancas das nuvens,
e os continentes são claramente visíveis, embora tenham pouca cor a essa distância.
- E com relação ao Sol, você viu algum sinal coroa solar?
- Não, o brilho do Sol no visor do capacete dificultava muito...
para ver a coroa. A única vez que pudemos vê-la,
foi durante um eclipse solar na Lua, ou seja, quando estávamos voando...
pela sobra da Lua, e pudemos ver a coroa solar saindo de trás da Lua.
- Olhando para as fotos coloridas que você trouxe da superfície lunar,
parece que a cor da superfície varia de acordo com o ângulo de onde a vemos.
Isso é verdade, isso acontece?
- Sim, certamente acontece. É uma característica que observamos...
primeiro enquanto viajávamos ao redor da Lua, em órbita,
podíamos que que no terminador, a linha entre a parte escura e a clara da Lua,
era como se estivéssemos assistindo uma televisão com o contraste no máximo;
muito preta e muito branca. Quando nos movíamos mais para a luz,
havia mais e mais tons de cinza, mas quando seguíamos adiante,
de forma que o Sol ficasse mais alto acima do horizonte,
começávamos a ver tons mais bronzeados e marrons aparecerem num nível bem baixo.
Similarmente, na superfície da Lua, as mesmas características são evidentes.
Podemos ver marrom, se o Sol estiver alto o suficiente...
O Apollo 12, por exemplo, aterrissou...
quando o Sol estava apenas 5 graus acima do horizonte, então,
quando eles chegaram, não viram nenhum tom marrom em nenhuma parte,
apenas cinzas em alto contraste... - Mas você viu?
- Sim, eu vi. O Sol estava a 11 graus. E o Apollo 12 também viu.
No próximo dia, quando eles acordaram, o Sol estava mais alto, é claro,
então, os tons marrons eram visíveis.
- Quando estava realmente a andar na superfície da Lua,
e a chutar uma certa quantidade de poeira, você notou alguma cor,
e, também, você estava preocupado com a possibilidade de áreas não seguras?
- Bem...
A cor é um fenômeno enigmático na Lua, além das características que já mencionei,
em geral, temos a impressão de estar numa superfície desértica,
com matizes vermelhos ou claros, mas quando olhamos para o material de perto,
como nas mãos, vemos que é um cinza-carvão na verdade,
e nunca pudemos achar nada muito diferente dessa cor.
Eu suspeito que conforme peguemos mais amostras com voos futuros,
veremos que há alguma cor,
mas as propriedades ópticas da Lua são muito peculiares.
- Quando estava andando, teve alguma dificuldade em calcular distâncias?
Pois eu acho que o ouvi dizer uma vez que coisas distantes...
aparentavam estar bem perto.
- Sim. Tivemos uma certa dificuldade na percepção de distâncias,
por exemplo, nossa câmera de TV, julgamos estar a cerca de 15 ou 18 metros...
do cockpit do módulo lunar, mas sabíamos que havíamos esticado todo o cabo...
de 30 metros, similarmente, tivemos dificuldade em aproximar...
o quão próximas estavam as colinas no horizonte.
O fenômeno peculiar é a proximidade do horizonte,
devido a maior curvatura da Lua, 4 vezes maior que a da Terra,
e ao fato de que é uma superfície irregular, com bordas de crateras...
se sobrepondo às bordas de outras crateras...
Não dá para ver o horizonte de verdade,
nós vemos colinas que estão mais perto de você.
Havia uma grande cratera que sobrevoamos durante nossa aproximação final,
que tinha colinas com cerca de 30 metros de altura,
e estávamos apenas a 335 metros a oeste dessa colina,
e não conseguíamos ver uma colina de 30 metros de altura a essa distância.
- Você notou alguma diferença óbvia entre o lado oculto e o lado visível,
além da diferença óbvia em topografia?
- Nenhuma diferença visível em cor,
mas também o ângulo solar era sempre diferente lá,
então, seria difícil fazer uma correlação geral.
Eu diria que a topografia é a mudança mais notável,
é claro que como todos os telespectadores sabem,
não há mares no lado *** da Lua, apenas terras altas e montanhas,
grandes crateras, notavelmente diferente do lado visível.
- Há apenas uma outra coisa que gostaria de lhe perguntar.
Você é uma das pouquíssimas pessoas cuja opinião nisso vale a pena ouvir,
aliás, há apenas 4 de vocês:
Você acha, com seu conhecimento da Lua, tendo estado lá,
que será possível num futuro próximo estabelecer bases científicas lá,
ou qualquer coisa numa grande escala?
- Eu tenho certeza que teremos essas bases ainda durante nossa vida.
Algo semelhante às estações na Antártica, e bases científicas desse tipo,
continuamente tripuladas,
embora haja o problema do ambiente, o vácuo, e as temperaturas...
altas e baixas do dia e da noite, ainda assim, de muitas formas,
é um lugar menos hostil do que a Antártica.
Não há tempestades, neve, ventanias, fenômenos climáticos imprevisíveis...
que conheçamos, e a gravidade é muito agradável...
de se trabalhar; melhor que a daqui da terra.
E eu acho que seria um lugar muito agradável de se realizar...
pesquisa científica, e muito prático.
- Sr. Armstrong, muito obrigado. E, novamente, deixe -me dizer...
que tremenda honra e privilégio foi tê-lo conosco.
- Obrigado.