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(Português): A encantadora e hospitaleira
capital de Minas Gerais.
Boa tarde!
Não vou falar em português,
porque não sei falar português.
E não quero inventar a primeira palestra em portunhol.
Por isso vou falar em inglês.
Eu venho do México.
Bem, 30 anos atrás, nasci na cidade do México
e, como vocês devem saber, o México é o país onde o milho
nasceu há séculos atrás.
Chamamos o México de terra do milho.
E, na verdade, o milho é muito importante
em nossa cultura, mas não apenas em nossa cultura,
mas principalmente em nossa gastronomia.
E talvez alguns aqui já tenham ido
a um restaurante mexicano comer tacos talvez.
Talvez burritos, apesar dos burritos
não serem realmente mexicanos, sinto muito.
Mas eles usam na maior parte do tempo o que temos aqui,
que são tortilhas.
Essas tortilhas são feitas de milho e, no México,
o consumo de milho é muito alto.
Como vocês podem ver aqui, de acordo com estatísticas da FAO,
por pessoa, por ano, um mexicano
come aproximadamente 120 kg de milho.
Então, não é apenas importante em termos de cultura,
mas é muito importante em termos de nutrição.
Então, ciente disso, aos 15 anos de idade,
comecei a sonhar, e meu sonho naquela época era
ajudar a fazer uma melhoria,
uma melhoria nutricional no milho.
Assim, meus compatriotas mexicanos, que comem muitas tortilhas
todos os dias como se fosse pão, poderiam ter uma dieta melhor, certo?
Esse era meu sonho quando tinha 15 anos.
E eu imagino que as pessoas que, como eu aos 15 anos,
têm um sonho assim, a primeira coisa que fazem
é optar por estudar ciências, engenharia,
então foi o que eu fiz.
Desse modo, passo a passo, comecei a estudar engenharia bioquímica,
me formei e, logo depois, aos 23 anos,
já estava trabalhando como pesquisador
na Universidade de Canterbury,
no Departamento de Ciências Biológicas.
Logo comecei a participar de projetos
relacionados a pesquisa em biotecnologia, o que fazia todo o sentido
se eu voltar ao meu antigo sonho.
Então, eu não sei se vocês pensam muito sobre as mudanças de rumo da vida,
sobre aqueles momentos que de repente mudam a direção,
o rumo atual da sua vida e que acabam transformando
todos os desvios em um novo rumo.
Para mim, esse momento aconteceu em 2005.
Em 2005, tive a oportunidade de ir às Ilhas Salomão.
Não sei se vocês já ouviram falar das lhas Salomão.
Bem, as Ilhas Salomão são, na verdade, um país
situado no Pacífico.
Faz parte das Ilhas do Pacífico.
Bem, esta é uma foto que tirei do avião,
é assim que elas são.
É um lugar muito interessante, com a maior concentração
de etnias e línguas do mundo.
E, apesar de tudo isso, sabemos muito pouco sobre elas.
Na verdade, conhecemos as Ilhas Salomão
por ter sido o lugar onde muitas batalhas navais
da segunda Guerra Mundial aconteceram,
e porque muitos mergulhadores vão lá, por exemplo,
mas, fora isso, poucos conhecem o lugar.
Bem, na verdade estive lá a convite de um biólogo da conservação
das Ilhas Salomão, chamado Patrick Pikacha.
Ele me levou a uma ilha chamada Ilha Choiseul,
que fica nas Ilhas Salomão, mas está perto da fronteira
com a Papua Nova Guiné, que é assim.
É muito linda e provavelmente deve ser parecida
com alguns lugares aqui no Brasil.
Então, fomos lá, pois o Patrick estava fazendo um trabalho
tentando monitorar uma espécie nativa,
ele gosta, particularmente, de estudar sapos.
Então, não sei por que, mas cientistas como ele,
biólogos, gostam de trabalhar à noite,
talvez devido ao fato dos sapos, eu não sei, normalmente saírem à noite,
como algumas pessoas aqui no Brasil, e também na América Latina.
Bem, assim como os sapos, tivemos de sair à noite,
com Patrick, e estávamos procurando por esses sapos
e, apenas 30 segundos após sairmos da estação,
percebi que este não era, absolutamente, meu ambiente.
Fiquei completamente cego. Imaginem só essa escuridão para mim.
Fiquei exatamente como uma pessoa cega.
Eu já uso óculos. Imaginem só eu ali.
Pois estou bastante acostumado a viver na cidade,
e nem um pouco acostumado a esse tipo de ambiente.
E minha experiência ficou ainda mais interessante
quando comecei a ver que Patrick estava apontando sua lanterna
para o rio, começando a localizar vários sapos diferentes,
Para mim, isso era completamente invisível.
Mas o mais interessante aqui foi que o menino,
o adolescente que estava liderando a expedição,
estava na verdade localizando o lugar onde organismos
iam aparecer, mesmo antes
do especialista, mesmo antes de Patrick.
E foi nesse momento que comecei a perceber
que algo interessante estava acontecendo,
e comecei a ver como esse não especialista, esse adolescente,
tinha uma visão diferente, especialmente, se comparada à minha,
mas diferente também do verdadeiro especialista, do Patrick.
Mas as Ilhas Salomão não têm somente uma floresta,
elas também têm cidades.
E na cidade de Honiara, que é a capital,
nós e alguns colegas da Universidade de Canterbury,
como o professor Jack Hyneman, como o meu amigo e colega
das Ilhas Salomão, Paul Roughan,
começamos a organizar algumas
iniciativas de capacitação para discutir biotecnologia
nas Ilhas Salomão e discutir biologia em geral.
A pessoa que vocês veem aqui é Naneth Tutua.
Ela é uma empresária lá nas Ilhas Salomão.
O que ela está segurando aqui é a extração de um DNA
de um mamão.
Ela conseguiu visualizar o DNA.
Mas como isso aconteceu?
Pois as Ilhas Salomão são consideradas
um dos lugares menos desenvolvidos do mundo.
Por isso, não existem laboratórios reais para biologia molecular lá.
Mas o que tivemos de fazer foi improvisar.
Para fazer um tipo diferente de experimento para extrair o DNA,
e, assim, Naneth conseguiu ver como era o DNA,
e, olhando para isso, ela foi capaz de desmistificar o DNA.
E o DNA não era apenas uma coisa abstrata
que ela não conseguia compreender,
dessa vez ela foi capaz de vê-lo, de compreendê-lo,
e, quando alguém quer falar sobre biotecnologia,
ela tem , de algum modo, alguma segurança para falar sobre o assunto.
Ela parece bem orgulhosa de ter feito essa extração.
E, naturalmente, as extrações de DNA, não sei se vocês sabem,
são muito fáceis de serem feitas.
A gente precisa apenas de sal, detergente e álcool.
Assim, comecei a usar esses três ingredientes,
coloquei na minha bolsa e comecei a viajar por aí,
fazendo exatamente o que fizemos nas Ilhas Salomão,
repetindo a experiência, levando
a desmistificação do DNA.
Isso aconteceu em diversos lugares do mundo,
mas, definitivamente, minha experiência mais importante
aconteceu em novembro passado, quando mostraram a extração de DNA
numa novela chilena chamada "Decibel 110".
Uma extração de DNA de cozinha de baixo custo
fez parte desse encontro entre Francisco
e seu amor proibido, Cindy.
E não paramos na extração do DNA, de repente começamos a brincar também
com instrumentos da biologia molecular.
Aqui estão algumas fotos das oficinas
que realizamos nas Filipinas, onde, na verdade,
começamos a desenvolver o equipamento básico molecular,
e como podem ver aqui, parece bastante básico,
mas são, na verdade, alguns dos equipamentos
mais usados em laboratórios.
Assim, depois de começar a construir este tipo de proposta
e instrumentalizá-la e de tentar desenvolvê-la
com essa tecnologia local, e a desmistificação,
e, com todas essas viagens,
de repente me achei na África Ocidental.
E a África Ocidental também foi um momento de virada para mim.
A razão para isso é que na África Ocidental
encontrei pela primeira vez um grupo de pessoas
que pensavam um pouco como eu.
Que estavam fazendo perguntas sobre os especialistas,
que estavam fazendo perguntas sobre tecnologia.
Que tipo de tecnologia? Para quem?
Eles estavam fazendo perguntas sobre
o que a África pode dar ao mundo.
O interessante aqui é que eles eram,
principalmente cientistas sociais mas também fazendeiros
e artistas, falando sobre isso.
Assim, decidimos ficar mais, e tenho ido
à África Ocidental todo ano desde 2007.
E a questão central disso é baseada nesta foto.
Como podem ver, temos um avião.
Um avião representa tecnologia, eu acho,
e podemos concordar que os aviões mudaram
a forma como nos locomovemos, como nos comunicamos,
mas também a forma como as doenças são transmitidas
e também passadas.
Mas o importante aqui não é somente olhar a tecnologia,
mas ver o contexto ao redor dela.
E talvez, para alguns de vocês, isso pareça muito bacana.
Para mim, me permite fazer as perguntas sobre
de que se trata o contexto.
O que esta tecnologia tem a oferecer a este contexto?
Essa tecnologia cabe nesse contexto?
E estas foram as perguntas usadas
como base do nosso documentário:
(Música)
(Vídeo) Homem (em francês): Se a ciência diz, é como "o Evangelho".
A ciência é feita pelo homem.
A ciência tem de ser feita pelo homem
para o homem.
Mulher: Por que temos de pesquisar?
Quem faz a pesquisa?
Com que propósito?
Homem: E os especialistas se escondem
em suas salas, em seus grupos,
para decidir por todo mundo.
Homem: Criar uma política agrícola
sem os fazendeiros
significa que não discutimos agricultura.
Homem: O fazendeiro precisa se considerar um pesquisador,
como alguém que trabalha em um laboratório.
Mulher: Não basta pesquisar dentro de um laboratório.
Homem: Hoje, vamos extrair o DNA de plantas.
Mulher: Não basta fazer pesquisa dentro de uma instituição.
Homem: Vamos usar um pouco de sal,
um pouco de detergente,
temos álcool e tubos de ensaio.
Conseguimos extrair o DNA. Nós o vimos.
Eu vi o DNA, nossos amigos viram o DNA.
Sem qualquer eletrônico ou microscópio ótico.
Mulher: Temos de desinstitucionalizar a pesquisa!
Camilo Rodriguez-Beltran: Bem, este é apenas um trecho do documentário
“Autrement” ("De outra maneira"), que rodamos na África Ocidental,
e, como podem ver, ele levanta questões sobre tecnologia, ciência,
levando em conta o contexto da África Ocidental.
E como podem ver, há um empoderamento disso.
Há uma mensagem que os africanos
querem passar sobre o que eles podem oferecer.
Assim, após construir um tipo de barco
com instrumentos e métodos, começamos a usá-los
em diferentes partes do globo,
então decidi também observar.
E isso vem de um assim chamado expert
que é conhecido agora para falar sobre os não experts.
Normalmente os não experts são meio que invisíveis
nesta geração do conhecimento.
Mais que tudo, não experts são consumidores ou usuários
de conhecimento, de tecnologia, de ciência.
Tivemos diversas revoluções tecnológicas
começando com a tecnologia da informação,
começando também na agricultura, montes de revoluções tecnológicas.
Mas a maioria das pessoas no mundo, e estou falando aqui também de países,
têm sido mais que tudo consumidores e usuários.
Esta é uma lista das tecnologias
que Peter Diamandis, da Singularity University
propôs no último TED.
Nesta lista, que é muito interessante,
ele propõe que são as tecnologias
que vão mudar e que já estão mudando o futuro.
E, entre essas tecnologias,
ele fala também sobre o povo, e o poder do povo.
Ele na verdade introduz o termo cyber cidadãos,
que são cidadãos normais, pessoas como nós,
que participam online, e, em seu exemplo,
era num jogo de enovelamento de proteínas.
Não só pelo prazer de jogar,
mas, na verdade, para resolver os problemas médicos.
E isso é onde estamos agora, num mundo em que
os não experts não são apenas consumidores e usuários,
mas eles estão se transformando em colaboradores.
Ouvimos hoje, nesta manhã, um ótimo exemplo disso
acontecendo aqui no Amazonas.
Mas alguns desses são também o que chamamos de Povo X,
ou crowdsourcing, ou crowdfunding.
Um ótimo exemplo é a Wikipédia.
A Wikipédia é feita com a contribuição de não especialistas.
E nós temos montes de exemplos assim.
A ciência do cidadão, os bio-hackers,
isso é o que está acontecendo agora.
O "quem" está mudando.
Os não experts estão contribuindo agora.
No entanto, estou aqui para propor
algo mais radical que apenas ser colaboradores.
Quero também levantar questões relativas ao "O quê"?
Que tipo de tecnologia?
Essa é a única lista de tecnologias que vão moldar o futuro?
Acho que não.
Não acredito que exista apenas uma forma de ver
como vamos nos desenvolver no futuro.
Na verdade, penso que precisamos mais e temos mais.
Precisamos de conhecimento que comece a se desenvolver
a partir do contexto, baseado no contexto.
Ouvimos alguns exemplos da África Ocidental
e das Ilhas Salomão.
Esses são contextos diferentes e eles podem desenvolver
novas formas de ver a geração do conhecimento.
Nós provavelmente precisamos parar de rotular parar de dizer:
a ciência é apenas isso,
e se começarmos a trazer alguma arte para isso,
então não é ciência, vocês não podem falar sobre isso.
Talvez tenhamos de começar a remover o rótulo das coisas.
Por exemplo, no nosso documentário,
falamos sobre ciência e desenvolvimento,
Mas usamos dança contemporânea africana para falar sobre isso, por quê?
Porque se vocês falarem sobre dança contemporânea na África,
as coisas fazem sentido.
Se não usarem a cultura, as coisas não fazem sentido.
É importante trabalhar na desmistificação,
na democratização, descentralização.
Penso que podemos ter ótimos exemplos para pesquisa
vindo desses lugares.
As Ilhas Salomão, esse arquipélago minúsculo,
poderia se tornar, por exemplo, o melhor observatório
para monitorar as mudanças globais no mundo.
E esses poderiam ser os novos centros de pesquisa
surgindo ao redor do mundo,
talvez esses sejam os novos colaboradores.
Na verdade, acredito que passamos
da revolução tecnológica para, neste momento,
uma revolução do povo, mas precisamos de algo mais.
Precisamos de uma revolução humilde. Precisamos de humildade.
Precisamos diminuir o nosso ego. Nosso ego.
Aqueles que se consideram especialistas, ou experts,
precisamos reduzir o ego deles.
Uma vez feito isso, seremos capazes de identificar
o potencial entre nossos companheiros,
entre aqueles que chamamos de não experts.
E, fazendo isso seremos capazes de dar início a novos rumos.
Novos rumos para a ciência, para a tecnologia,
chamem do que quiserem.
Vou apenas terminar com este slide,
que, para mim, representa o empoderamento,
porque estou aqui, na frente de vocês,
e aquele sonho que eu tinha quando tinha 15 anos,
quero lembrar a vocês que ele mudou.
Aquele sonho foi, na verdade, expandido.
Não quero construir, com um monte de especialistas,
uma ferramenta tecnológica para ajudar a população do meu país.
Quero criar algo novo.
Quero expandir meus horizontes, e isso é tudo.
Muito obrigado.
(Aplausos)