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Quantas vezes a menina imagina
o gigante de um olho só que arranca,
como ela mesma arranca as raízes da terra,
estes infames prediozinhoscaixinhas cor de papel-jornal, colados
precariamente para se manterem em pé,
cercados de moscas esporádicas,
helicóptero cacóptero
limpadores de janelas
- um súbito avião que destrói a brincadeira?
Quantas vezes a menina imagina o arrancamento dos prédios que
permitiria, finalmente,
olhar o céu pleno
maior que a amplitude dos olhos não um céu colagem, tridimensional, um céu pano de fundo
mas um céu poderoso em sua profundidade
um céu espelho do infinito *** das pupilas da menina?
Estes prédios não são estacas cravadas pela mão do gigante
não cresceram como brotos da seiva de asfalto
não são monumentos ao pênis da classe dominante
(erguidos em concreto, para evitar os possíveis constrangimentos)
não foram construídos pelas mãos de honestos e sobreviventes assalariados.
Estes prédios são uma reação astrológica da cidade
à Carnificina,
às espoliadas e assassinadas,
a cidade se metamorfoseou num cemitério e os prédios são as lápides.
(Os cadáveres são cada encarnação do corpo gigantesco e esmeralda da Esperança).
Os cadáveres das pequenas pessoas, não se enterra,
a sobrevida concentrada no campo elísio, no campo da consolação,
economiza o tempo inútil do enterro.
A posição mais honrada no campo do cemitério
é a do verme,
que rói o corpo verde-musgo até o fim da espera quando ele de novo esverdeje.