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MOSFILM
Segunda Uni�o Art�stica
ALICE FREINDLIKH
ALEXANDRE KAIDANOVSKI
ANATOLI SOLONITSIN
NIKOLAI GRINKO
STALKER
Roteiro: ARKADI STRUGATSKI BORIS STRUGATSKI
Inspirado na novela "Piquenique � Beira da Estrada"
Dire��o ANDREI TARKOVSKY
Fotografia ALEXANDRE KNIAJINSKI
Cen�rios ANDREI TARKOVSKY
M�sica EDUARD ARTEMIEV
Realiza��o L. TARKOVSKAIA
Poemas:. F. TIUTCHEV e ARSENI TARKOVSKI
Som - V. CHARUN Maestro - E. KHATCHATURIAN
STALKER
"O que foi isto? A queda de um meteorito?"
"Uma visita de seres do abismo c�smico?"
"Fosse como fosse, no nosso pequeno pa�s..."
"surgiu o milagre dos milagres: a Zona."
"Enviamos tropas para l�"
"N�o voltaram"
"Cercamos a Zona com cord�es policiais..."
"E fizemos bem... Ali�s, n�o sei...
Da entrevista do Professor Walles - Pr�mio Nobel.
Para que voc� quer o meu rel�gio?
Aonde voc� vai? N�o est� me ouvindo?
Voc� me deu a sua palavra... Acreditei em voc�!
Se n�o pensa em voc�, o problema � seu. E n�s?
Pensou na sua filha?
Nem teve tempo de se habituar a si mesmo.
Voc� me fez envelhecer. Voc� acabou com minha vida!
Fale baixo, assim vai acordar a nossa garotinha.
N�o posso passar a vida toda te esperando! Vou morrer!
Disse que ia trabalhar!
Prometeram-lhe um trabalho normal como o de todo mundo!
Eu volto logo.
Voltar� outra vez para a pris�o!
E n�o vai pegar cinco anos, mas dez!
Nesses dez anos, n�o ter� nada. Nem a Zona!
E estarei morta durante esse tempo!
N�o v� que tudo para mim � uma pris�o?!
- Largue-me! - N�o largo!
Eu disse, deixa-me!
V�! Tomara que apodre�a l�!
Maldito seja o dia em que te encontrei, desgra�ado!
Deus te deu por castigo uma filha assim!
E a mim tamb�m, por sua causa, canalha!
Meu amor, o mundo � enfadonho at� demais.
N�o h� nada, nem telepatia, nem fantasmas, nem discos voadores...
nada disso existe.
O mundo � regido pelas leis do ferro-fundido. � triste.
Infelizmente, estas leis s�o inviol�veis.
Elas n�o sabem violar-se a si pr�prias...
N�o conte com discos voadores seria muito empolgante.
E o Tri�ngulo das Bermudas? N�o quer me dizer que...
Quero. N�o existe nenhum Tri�ngulo das Bermudas.
Existe apenas o tri�ngulo ABC semelhante ao tri�ngulo A' B' C'.
N�o sente a tristeza fatal dessa afirma��o?
Por exemplo, interessante foi viver na Idade M�dia.
Cada casa tinha um duende cada igreja, Deus.
A humanidade era jovem! Agora, um em cada quatro � um velho.
Enfadonho demais, meu anjo!
Mas dizia que a Zona � obra...
de uma superciviliza��o...
Isso tudo tamb�m � enfadonho com suas leis e tri�ngulos...
sem duendes e, certamente sem Deus.
Por que se Deus � o tal tri�ngulo...
ent�o, j� n�o sei mais nada.
Isto � para mim! Formid�vel!
Adeus querida.
Esta senhora aceitou amavelmente acompanhar-nos at� a Zona.
� uma mulher corajosa. Chama-se...
Desculpe, chama-se...
Voc� � realmente um Stalker?
Um momento... j� explico tudo.
V�...
Cretino.
Acabou se entregando a bebida!
Eu? Como disse?
Bebi, como o faz a metade da humanidade.
A outra metade, embebeda-se. Mulheres e crian�as inclu�dos.
Eu apenas bebi.
Diabos! O que � isto?
Beba, ainda � cedo.
E se beb�ssemos um copinho pelo caminho?
O que me diz?
Esconda isso!
Tudo claro. Lei seca. O alcoolismo � uma praga dos povos.
O que fazer? Vamos beber cerveja.
Este vem conosco?
N�o faz mal, tem tempo para ficar s�brio. Tamb�m precisa ir l�.
� professor mesmo?
Se assim prefere...
Nesse caso, permita que me apresente, chamo-me...
Chama-se Escritor.
Muito bem. E eu? Como me chamo?
Voc� � Professor.
Claro! Sou escritor de profiss�o...
por isso todos me chamam, naturalmente, Escritor.
- Voc� escreve sobre o qu�? - Sobre meus leitores.
� �bvio que n�o vale a pena escrever sobre outros temas.
Quer saber de uma coisa? N�o vale a pena escrever sobre nada.
Voc� � qu�mico?
Antes, f�sico.
Tamb�m � enfadonho, n�o � verdade? A busca da verdade.
Ela se escondendo, e voc� a procurando.
Uma cavadinha aqui, ora, ora! O n�cleo � composto de pr�tons!
Outra cavadinha, que beleza!
O tri�ngulo ABC � semelhante ao tri�ngulo A' B' C'.
Comigo � diferente.
Encontro a verdade mas enquanto cavo...
ela transforma-se inacreditavelmente...
num monte de... desculpe, prefiro n�o dizer.
Com voc�, � tudo simples!
Imagine-se, por�m, um vaso antigo num museu.
Na antiguidade, era usado como balde de lixo...
e hoje � motivo da admira��o geral...
pela beleza lac�nica do seu desenho e a forma invulgar.
E fica todo mundo de boca aberta!
De repente, sabe-se que nada tem de antigo...
e que foi imposto aos arque�logos por um brincalh�o...
s� para divertir.
Estranho, mas as bocas fecham-se. Grandes apreciadores...
Est� sempre pensando nisso?
Deus me livre!
Na verdade, eu nunca penso muito. Me faz mal.
� imposs�vel escrever e pensar sem parar no �xito ou fracasso.
Naturalmente! Mas se daqui a cem anos ningu�m ler as minhas obras...
para que ent�o escrevi tudo isso?
Diga, Professor, porque se meteu em toda esta hist�ria?
Para que quer a Zona?
Sou, em certo sentido cientista.
Mas para que voc� a quer?
� um escritor que est� na moda.
As mulheres perseguem-no aos bandos.
Perdi a inspira��o, Professor. Vou implorar para isso.
Porqu�? N�o consegue escrever?
Como? Sim, talvez, em certo sentido.
Est�o ouvindo? � o nosso trem.
- Tirou a capota do carro? - Tirei.
Luger, se eu n�o voltar, fala com a minha mulher.
Droga! Esqueci de comprar cigarros.
N�o volte.
- Porqu�? - � mau sinal.
- Voc�s s�o todos uns... - Uns o qu�?
Acreditam em qualquer bobagem.
Vou guardar para quando n�o aguentar mais.
� mesmo cientista?
Deitem-se!
N�o se mexam!
Veja se tem algu�m l�!
Depressa!
N�o tem ningu�m!
Corra para a outra sa�da!
Ent�o, Escritor?
- Trouxe a lata? - Trouxe, est� cheia.
Eu estava dizendo que...
� tudo mentira. Estou cheio de inspira��o.
Como posso saber o nome daquilo que quero?
Como posso saber que, no fundo, n�o quero o que quero?
Ou que, digamos, n�o quero de fato o que n�o quero?
S�o coisas ef�meras...
basta dar-lhes um nome, e perdem o sentido.
Este derrama-se como uma �gua viva ao Sol.
A minha consci�ncia quer a vit�ria do vegetarianismo por todo o mundo,...
mas o meu subconsciente morre por um bife suculento.
E eu? O que eu quero?
Dominar o mundo, no m�nimo.
O que far� uma locomotiva na Zona?
� do posto. N�o vai al�m.
Eles n�o gostam de entrar l�.
Aos seus postos! Prontos?
Chegou o plant�o. Desliguem o televisor.
Depressa!
V� ver se a vagonete est� no trilho.
Qual vagonete?
Volte! Eu vou.
A lata!
D�-me isso!
Deixe a mochila! � um estorvo!
Para mim, n�o � um passeio, como para voc�.
Se algu�m for atingido, que n�o grite nem corra!
Se veem, matam!
Deve esperar que tudo se acalme e depois arrastar-se para o posto.
Ser� recolhido de manh�.
N�o nos perseguir�o?
Eles tem medo disso como uma praga.
Medo de quem?
Pronto, estamos em casa.
Que tranquilidade!
� o lugar mais tranquilo do mundo. Ainda v�o ver mais.
Que belo! N�o h� ningu�m aqui.
S� a gente.
Tr�s pessoas n�o conseguem tudo num s� dia.
N�o conseguem? Conseguem.
Estranho! As flores n�o cheiram.
N�o sente?
Tem cheiro de p�ntano. Isso sim.
N�o, � um rio. Aqui tem um rio.
Haviam muitas flores aqui perto, mas o Porco-Espinho amassou-as.
O aroma, por�m, persistiu muito tempo. Muitos anos.
Porque ele as amassou?
N�o sei.
Perguntei o porque para ele tamb�m.
Ele disse: "Vai entender depois."
Parece-me que chegou a odiar a Zona.
Porco-Espinho � sobrenome?
Apelido, igual ao que voc� tem.
Vieram muitos para a Zona por anos, e ningu�m conseguiu apanh�-lo.
Ele foi o meu professor. Abriu-me os olhos.
Chamava-se, ent�o, simplesmente, Mestre.
Depois, lhe aconteceu alguma coisa, partiu-se por dentro...
Mas acho que foi apenas castigado.
Ajude-me, por favor. Tem que amarrar as porcas.
E eu... acho que vou dar um passeio.
Preciso fazer uma coisa...
Tenham cuidado!
Aonde ele vai?
Acho que quer estar s�.
Por qu�? Quando nem mesmo tr�s se sentem bem aqui.
� o encontro com a Zona. Ele � o Stalker.
E depois?
Stalker �, em certo sentido uma voca��o.
- Fazia outra ideia dele. - Qual?
Qualquer coisa de tipo, Flecha Longa, Grande Cobra...
A biografia do nosso amigo � mais triste.
Foi preso v�rias vezes, sofreu acidentes aqui.
Tem uma filha mutante, vitima da Zona, como ele chama.
Parece que n�o tem pernas.
O que houve, afinal, com esse tal Porco-Espinho?
O que significa "foi castigado"?
� uma maneira de dizer?
O Porco-Espinho regressou, um certo dia...
e enriqueceu subitamente.
De uma forma incrivel.
Foi esse o castigo?
E, uma semana depois, enforcou-se.
Por qu�?
Psiu!
O que � isto?
Caiu aqui um meteorito, h� cerca de vinte anos.
A aldeia toda ficou em chamas.
Procuraram o meteorito, mas naturalmente, nada encontraram.
Naturalmente?
Depois, as pessoas come�aram a desaparecer misteriosamente.
Vinham para c�, e n�o voltavam.
Por fim, conclu�ram...
que o tal meteorito, n�o tinha nada de meteorito.
Para come�ar...
cercaram tudo de arame-farpado, para os curiosos n�o ca�rem na tenta��o.
Come�aram, ent�o, a correr boatos que havia um lugar na Zona...
onde os nossos desejos se realizavam.
A Zona passou a ser protegida como a menina dos olhos.
As pessoas podem ter muitos desejos.
O que poderia ter sido, sen�o um meteorito?
J� disse, ningu�m sabe.
E voc�, o que � que acha?
Sei l�... qualquer coisa.
Uma mensagem para a humanidade, como diz um colega meu.
Ou um presente.
Que rico presente!
Que necessidade teriam daquilo?
Queriam fazer-nos felizes.
As flores recome�aram a florir. Mas sem aroma.
Desculpem t�-los deixado s�s. Mas ainda era cedo.
Ouviram?
Algu�m vive aqui?
Quem?
Voc� mesmo disse...
que tinha turistas aqui quando a Zona apareceu.
N�o h� ningu�m na Zona, nem poder� haver.
Bem, est� na hora.
Como voltaremos?
- Por aqui n�o se volta. - O que quer dizer com isso?
Seguimos como combinamos.
Eu indico a dire��o.
Qualquer desvio � perigoso.
A primeira refer�ncia � aquele �ltimo poste.
V� na frente, Professor!
Agora, voc�.
Procure seguir as pegadas dele!
Meu Deus! Onde...
Ficaram mesmo aqui, as pessoas?
Ningu�m sabe.
Lembro-me apenas de v�-las embarcar na esta��o para virem � Zona.
Ainda era crian�a.
Pensava-se que algu�m queria conquistar-nos.
Vamos, Professor!
Agora voc�, Escritor.
O seu lugar � ali. O nosso destino.
Porque se fez valer ent�o? Est� ao alcance da m�o.
Sim, s� que a m�o tem de ter um bra�o muito longo.
N�o � o nosso caso.
N�o! N�o fa�a isso!
N�o arranque! N�o!
J� lhe disse, n�o toque nisso!
Est� louco? Enlouqueceu?
J� disse que isto n�o � um passeio.
A Zona exige respeito, caso contr�rio, castiga.
N�o fa�a isto! N�o sabe falar?
Mas eu pedi!
� por ali que vamos?
Sim. Subimos, entramos e viramos � esquerda.
S� que n�o vamos por aqui. Vamos dar uma volta.
Mas por qu�?
Por aqui, n�o!
Na Zona, quanto mais longe, menos risco.
Se formos em linha reta morremos?
J� disse que isto � muito arriscado.
- O regresso � menos perigoso? - �, mas temos de dar uma volta.
Ora bolas! Quero l� saber!
Escute, o que quer?
N�o quero dar a volta! Est� mesmo perto!
� arriscado por aqui, � arriscado por ali... Que droga!
A sua atitude � muito leviana.
Estou farto de porcas com pano!
Se n�o querem, fiquem. Mas eu vou por aqui.
- � um irrespons�vel! - Ora, quem fala...
Posso?
Est� come�ando a ventar...
N�o sentem? A erva...
Outra raz�o ainda.
Que quer dizer?
Pare!
Tire as m�os!
Bem, o Professor � testemunha n�o o mandei.
Voc� vai de livre vontade.
De livre vontade. Que mais?
Mais nada. V�!
E que Deus o acompanhe!
Escute!
Se notar ou sentir...
qualquer coisa estranha,...
regresse imediatamente! Ou...
S� lhe pe�o que n�o me d� com um ferro na nuca!
Pare! N�o se mexa!
- Por qu�? - Por qu�, o qu�?
- Porque o mandou parar? - N�o foi voc�?
O que aconteceu? Por que me mandou parar?
Eu n�o mandei nada...
Quem foi? Voc�?
Pro inferno...
� muito esperto, Sr. Shakespeare.
Com medo de avan�ar e vergonha de recuar...
deu uma ordem a si pr�prio. E at� ficou s�brio com o medo.
- O qu�? - Pare com isso!
- Por que esvaziou a garrafa? - Eu disse pare com isso!
A Zona � um complexo sistema...
de armadilhas, se querem. Todas s�o mortais.
N�o sei o que se passa aqui quando n�o tem ningu�m.
Mas quando aparecem pessoas, tudo come�a a mexer.
As antigas armadilhas somem, surgem novas.
Os lugares seguros tornam-se intransit�veis.
E o caminho ora � f�cil, ora infinitamente emaranhado.
� a Zona.
Por vezes, parece at� caprichosa.
Mas �, em cada momento, como a fizermos com o nosso esp�rito.
Algumas pessoas tiveram que voltar da metade.
Outras morreram mesmo na entrada do lugar.
Tudo que se passar aqui, depender� apenas de n�s, n�o da Zona!
Quer dizer, a Zona deixa entrar os bons e decapita os maus?
N�o sei.
Parece-me que deixa entrar...
quem j� n�o tem esperan�a.
Os infelizes, n�o os bons ou os maus.
Mas at� o mais infeliz dos infelizes morrer�, se n�o se comportar.
Voc� teve sorte, ela avisou-o.
Acho que vou esperar aqui,...
at� que regressem... j� afortunados.
� imposs�vel!
Tenho comida, uma garrafa t�rmica...
N�o aguentar� uma hora sem mim.
Al�m disso, ningu�m volta pelo caminho por onde entrou.
Apesar de tudo, preferiria...
Nesse caso, voltamos todos e j�!
Devolvo-lhes o dinheiro, exceto uma pequena soma...
pelo incomodo, se quiserem...
Recuperou seu ju�zo, Professor?
Est� bem. V�, lance sua porca.