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Em novembro de 1878...
dois gigantes do mundo inglês das artes...
defrontaram-se num tribunal de Londres.
De um lado, o crítico e teórico John Ruskin.
Do outro, um famoso pintor americano:
James Whistler.
A audiência teve origem...
por Ruskin condenar um quadro de Whistler.
A reação do artista foi um processo por difamação...
num confronto que prendeu a imaginação dos londrinos.
Whistler saiu vitorioso...
mas foi um triunfo de vida curta.
Ele recebeu apenas 1/4 de centavo de indenização...
e o custo da causa levou-o à falência.
Desde muito cedo...
Whistler desejava ter o estilo de vida do artista boêmio.
Ele queria frequentar círculos da moda...
ter casos com belas mulheres...
viajar, socializar e ter fama e fortuna.
Quando ele morreu, aos 69 anos...
tinha alcançado suas grandiosas ambições.
A obra de Whistler foi focalizada no espírito de sua época.
Conhecia as pinturas Realista e Pré-Rafaelita inglesa...
e muitos dos artistas desses movimentos...
eram seus amigos.
Whistler também era fascinado...
pelo interesse contemporâneo pela arte japonesa...
e levou o estilo oriental à sua vida e à sua obra.
Mas, no fundo, era um criador genuíno.
Suas cenas noturnas e retratos estilizados...
jamais haviam sido vistos antes...
e hoje, seus feitos de artista são devidamente apreciados.
Como artista, Whistler alcançou muitas coisas...
mas, principalmente, defendeu a liberdade de criação...
e também desafiou conceitos do que seja um bom quadro...
que não era apenas questão de tema. Era mais...
uma composição abstrata de cores e marcas sobre a tela.
Ele como que liberou as percepções dos quadros...
enfrentou os críticos pela imprensa...
e lutou batalhas para defender a liberdade do artista independente.
Antes de Whistler...
os quadros tendiam a ser algo que ilustrava histórias...
ilustravam idéias ou filosofias.
Whistler viu que a pintura era um meio visual puro.
Ele nos dá obras cheias de elegância e prazer visual.
Elas são refinadas...
são pintadas suavemente, no geral...
elas têm um senso de tranquilidade...
como se fosse um mundo fora da vida cotidiana.
E talvez ele incorpore a idéia da arte pela arte...
mais do que qualquer outro pintor da época.
Uma das coisas importantes nele, é o fato de que ele...
sabia captar um momento passageiro.
O momento em que uma cotonária explode...
e, como disse um crítico, ele pintava o ar.
James Abbott McNeill Whistler nasceu em 14 de julho de 1834...
em Massachusetts, EUA.
Era o segundo de três filhos.
Sua mãe, Anna, era uma mulher devota...
e seu pai, George, engenheiro civil.
Em 1843, George foi contratado para trabalhar na construção...
de uma ferrovia na cidade russa de São Petersburgo.
A família acompanhou-o...
e as viagens de James, com 9 anos, começavam.
James gostava da vida em São Petersburgo.
A casa da família era confortável...
e o menino adorava ver os fogos de artifício...
no rio Neva.
Também teve aulas de desenho...
e fez duas longas viagens a Londres...
a cidade que seria seu lar durante quase toda sua vida adulta.
Mas em 1849 seu pai morreu...
e sua mãe decidiu voltar para os Estados Unidos.
De volta à América...
James entrou para a famosa academia militar de West Point.
Ele era um tipo travesso e de espírito livre...
que tendia a se rebelar contra a autoridade.
Após 3 anos de treinamento, ele foi dispensado.
Mas o tempo em West Point não foi totalmente desperdiçado.
O currículo incluía aulas de desenho...
onde ele se superava.
Com 20 e poucos anos, ele se apaixonou...
por um livro de Henry Murger, publicado recentemente.
Ele descrevia a história de quatro jovens brilhantes...
que viviam despreocupadamente, buscando seus sonhos artísticos.
O livro chamava-se Cenas da Vida Boêmia...
e Whistler foi fisgado.
Ele decidiu se tornar um boêmio...
vivendo como artista.
Para isso, teria que se mudar para a cidade que Murger chamava...
de centro mundial da vida boêmia:
Paris.
A idéia de Murger era que...
a vida boêmia era algo que...
todo grande artista criativo havia vivenciado.
Ele citava Villon, Homero, Shakespeare, Molière...
como tendo passado por este estágio...
e que ele era importante para o desenvolvimento do artista.
No que se referia a Whistler, acho que ele sentia...
que era certo...
ser pouco convencional.
Whistler ficou intrigado com o livro de Murger.
Creio que porque ele representava a liberação para ele.
Ele vinha de um ambiente burguês...
um ambiente puritano...
e a imagem da alegre vida em Paris vivida pelos boêmios...
o atraía enormemente.
Em 1855, quando tinha 21 anos...
James Whistler garantiu uma mesada da mãe...
e deixou os Estados Unidos.
Ele não mais voltaria para sua terra natal.
Pouco depois, ele chegou em Paris...
e se lançou no estilo de vida boêmio que tanto almejava.
Como muitos destinados a serem artistas...
estudou no estúdio do acadêmico Charles Gleyre.
Mas também se interessava pela arte contemporânea.
Nesta tela que mostra a cabeça de uma camponesa...
podemos perceber a influência de um francês...
que se tornou inspiração e amigo.
O fundador da pintura Realista: Gustave Courbet.
Courbet emulava os holandeses, principalmente Rembrandt...
e o próprio Whistler neste período inicial...
copiava o estilo que Courbet adotara.
Assim, ele tinha efeitos bem evidentes...
e quadros muito escuros, com fortes efeitos realçados.
Mas curiosamente, ao invés de usar suas idéias...
ele copiava o estilo.
Não creio que Whistler estivesse particularmente...
interessado no Socialismo, como Courbet estava.
Ele se interessava muito mais pela pintura em si.
Whistler teria conhecido a pintura de Courbet...
quando chegou em Paris em 1855.
Quadros de Courbet estavam na Exposição de Paris...
e acho que ele reagiu...
aos temas realistas sociais...
e também à ênfase realista de trabalhar a partir da natureza.
Whistler admirava as controvertidas cenas campestres de Courbet.
Também se identificava com sua deliberada imagem...
de homem de espírito livre da época.
Mas o jovem também buscou a grande arte do passado.
Ele estudou os velhos mestres no Louvre...
e desenvolveu especial admiração...
pelas obras do espanhol Diego Velázquez.
Mas é o espírito contemporâneo do realismo...
que mais se evidencia em suas primeiras obras...
uma série de águas-fortes com cenas comuns de paisagens urbanas...
e de operários que ali viviam.
Elas se tornaram conhecidas como Série Francesa.
Juntas, demonstram o entusiasmo do jovem...
pelo tema realista.
Também revelam algo da vida pessoal de Whistler na época.
Esta é Finette, uma dançarina de cancã...
uma figura muito conhecida em Paris.
Também foi uma das primeiras amantes do artista.
Em 1859, Whistler foi visitar...
sua irmã e seu abastado cunhado em Londres.
Foi ali que ele iniciou este intrigante quadro...
mostrando sua irmã e a filha desta Ao Piano.
Whistler estava com 24 anos...
e esta foi a primeira tela importante de sua carreira.
Ao Piano foi um dos primeiros óleos de Whistler...
e é interessante em termos de mostrar...
o artista se desenvolvendo. É uma composição sofisticada...
que mostra seu rico sentido de cor, visto na mistura...
de marrons, vermelhos, verdes, branco.
E também pela complexidade da composição.
Parece que ele esteve estudando efeitos óticos...
com seu cunhado, Seymour Haden.
E embora Whistler sempre tenha negado...
que conteúdo ou tema tivessem interesse ou mérito...
ele mostra sua irmã Deborah Haden...
com a filha Annie na casa de Seymour Haden...
onde Whistler costumava ficar naqueles primeiros anos.
É uma peça doméstica...
que talvez tenha um tema subjetivo de lamentação...
ou lembrança do pai, que morrera recentemente.
E Deborah era ótima pianista...
e parece que o piano foi enviado a ela pela mãe...
talvez uma lembrança...
do tempo que passaram na Rússia com o pai.
Ao Piano hoje é tido como uma obra-prima de Whistler...
mas a reação contemporânea foi variada.
Gustave Courbet o adorou...
mas o quadro foi rejeitado pelo Salon de 1859...
a exposição anual oficial da arte francesa.
Whistler reagiu da maneira tempestuosa...
que se tornou uma característica de sua vida.
Ele denunciou o sistema parisiense de arte...
e decidiu morar permanentemente em Londres...
fixando-se na casa da irmã...
na elegante Sloane Street.
Pouco tempo depois, Whistler terminou uma tela...
cujo nome era tão revelador quanto sua composição.
É Harmonia em Verde e Rosa: Sala de Música...
título que revela muito da ambição do artista...
de identificar a arte da pintura com a arte da música.
Whistler queria que se concentrassem na beleza pura de seus quadros.
Ele não queria que o tema arrebatasse as pessoas...
queria que apenas os vissem como efeitos belos.
Este é um dos motivos para os títulos musicais.
Ele achava que a música era o efeito puro do som.
Por que os quadros não podiam ser visões e imagens puras?
Começou com os quadros que...
ele originalmente chamava de Luares...
e seu patrono Frederick Leyland sugeriu...
que Whistler chamasse um deles de Noturno...
e não de Luar.
Whistler escreveu-lhe uma carta explicando...
como estava maravilhado com isso...
que achava que era uma idéia ótima...
e isso irritou os críticos...
o que também lhe dava prazer.
Harmonia em Verde e Rosa nos introduz às questões estéticas...
que ficariam com Whistler durante toda sua vida ativa.
Também vemos temas artísticos recorrentes em outras imagens...
criadas durante os primeiros anos do artista em Londres.
Whistler amava o Tâmisa...
e cenas do rio aparecem em sua segunda série de águas-fortes...
conhecida como A Série do Tâmisa.
Fascinava-o a vida agitada das docas de Londres...
e sua crescente perícia no manejo da linha...
pode ser vista nesta gravura do distrito de Rotherhithe.
Apesar de sua imagem elegante Whistler gostava de conviver...
com os marinheiros e trabalhadores das docas de Londres.
Para esta tela de 1861...
ele escolheu pintar o tráfego no rio em Wapping.
O resultado foi esta impressionante imagem realista...
que nos dá uma mostra da vida pessoal do artista.
Nela vemos Alphonse Legros...
amigo de Whistler de Paris.
Também vemos a ruiva Jo Hefferman...
uma beldade irlandesa com quem o artista mantinha um romance.
Também vemos Jo nesta tela de 1862...
Sinfonia em Branco Número Um.
Mas é um tipo de imagem muito diferente.
Whistler tinha em alta conta um ousado movimento...
da pintura inglesa de meados do Século XIX...
o estabelecimento da Irmandade Pré-Rafaelita...
cujos membros incluíam John Everett Millet...
William Holman Hunt e Dante Gabriel Rossetti.
Whistler conhecia bem esses artistas.
Millet expressou publicamente sua admiração por Ao Piano...
quando foi exibido em 1860 na Academia Real de Londres.
Mas a influência mais significativa sobre Whistler foi Rossetti.
Os dois se tornaram praticamente vizinhos...
quando Whistler se mudou para uma casa própria em Chelsea.
É evidente a influência de Rossetti nesta tela memorável.
Sinfonia em Branco No. 1...
tem muita relação com a obra dos pintores Pré-Rafaelitas.
E há estas tensões sobre a narrativa...
embora Whistler tivesse negado isto...
em termos de a coisa já aconteceu ou está prestes a acontecer.
Estas insinuações sexuais subjacentes da pureza do vestido...
em relação à pele de lobo sobre a qual ela se ergue.
O cabelo solto em relação ao lírio branco que ela segura.
Um dos amigos de Whistler...
observou que Gilly, esse era Whistler...
e o bando de Rossetti eram íntimos...
e suas idéias inflamavam uns aos outros.
Sinfonia em Branco Número Um...
é uma das primeiras obras mais significativas de Whistler...
mas como com Ao Piano antes dela...
a reação da crítica foi variada.
Ela foi rejeitada pelo Salon de Paris de 1863...
mas nesse ano tantas obras foram recusadas...
que o Imperador Napoleão criou o famoso Salão dos Recusados.
Foi nesta exposição que Piquenique na Relva de Manet...
causou indignação.
Sinfonia em Branco também foi muito condenada.
Mas outros viram o valor desta assombrosa tela...
inclusive o poeta Charles Baudelaire...
e a exposição conseguiu criar o perfil de artista de Whistler.
Mas ele decidiu permanecer em Londres...
morando perto de Rossetti e desfrutando seu caso com Jo Hefferman...
que também posou para o quadro seguinte...
Sinfonia em Branco Número Dois.
Vemos novamente a habilidade do artista com a cor branca...
mas também identificamos novos elementos de composição.
Terminada em 1864, esta tela é um dos primeiros quadros de Whistler...
a revelar a influência do Extremo Oriente.
Na época, Londres estava obcecada pela arte oriental.
Uma exposição de artefatos em 1862 causou euforia em Londres...
e os ricos começaram a adquirir objetos de arte da China...
e, principalmente, do ***ão.
Whistler, como seu amigo Rossetti...
tornou-se ávido colecionador de cerâmica chinesa...
e ele se gabou que as porcelanas vistas nesta tela de 1864...
pertenciam a ele.
Este quadro do mesmo ano...
revela um interesse ainda mais notável pelo Extremo Oriente.
Capricho em Prata e Ouro: A Tela Dourada...
é uma tela cheia de objetos japoneses em volta da mulher de quimono...
e, novamente, ela pode ser sua amante Jo.
Mas é uma imagem diferente das Sinfonias em Branco.
O entusiasmo de Whistler por gravuras japonesas, que aqui vemos...
agora entrava no coração de sua técnica de composição.
Olhando os quadros de Whistler em relação às gravuras japonesas...
vemos, de imediato, como ele adotou este...
método de cortar a imagem...
em estranhos desenhos assimétricos.
E o desenho pode ser tão forte que demora um tempo...
para entendermos o que a imagem retrata exatamente.
É a...
maneira como ele usa o espaço...
às vezes achatando o plano do quadro.
Ele absorveu estas influências...
e começou a produzir estes quadros maravilhosos.
O espírito da arte japonesa permearia a carreira de Whistler...
e a influência oriental também seria aparente em quadros...
cujo tema dificilmente poderia ser mais ocidental.
Em meados da década de 1860, Whistler ainda estava em contato...
com sua primeira influência importante, Gustave Courbet.
No final de 1865, ele voltou para a França...
para pintar com Courbet na costa de Trouville...
levando Jo com ele.
Naquele outono, Whistler pintou enigmáticas marinhas...
fortemente influenciadas pelo artista francês.
Harmonia em Azul e Prata...
deve-se, principalmente, a uma obra anterior do pintor...
que agora se denominava mestre de Whistler.
A visita a Trouville foi produtiva artisticamente...
mas problemas pessoais começaram a afetar a vida de Whistler.
Sua mãe chegou em Londres em 1863...
forçando Jo a encontrar alojamento perto dali.
Em 1865, seu irmão também chegou...
recém saído como cirurgião Confederado na Guerra Civil americana.
Talvez o histórico de guerra do irmão tenha perturbado Whistler.
Pouco depois, ele embarcou em sua mais incomum viagem.
Em 31 de janeiro de 1866...
acompanhado do irmão e vários veteranos da Guerra Civil...
Whistler foi para o porto de Valparaíso no Chile.
Na época, Chile e Peru estavam em guerra com a Espanha...
e o expatriado americano de 31 anos...
havia decidido ajudar a causa.
Mas Whistler não era herói de guerra.
Quando chegou a Valparaíso...
os espanhóis bombardearam a cidade, e o artista fugiu para as montanhas...
onde ficou até garantir sua volta para Londres.
A visita ao Chile resultou na criação de belas marinhas...
inclusive esta, Sinfonia em Cinza e Verde...
onde vemos o motivo oriental da borboleta...
que o artista adotou como assinatura.
Mas a expedição ainda pode ser vista...
como a decisão irracional de um homem perturbado.
Cada vez mais transparecia a agressividade latente de Whistler.
Na viagem de volta do Chile...
ele ficou detido a bordo após atacar um passageiro.
Em Londres, deu um soco no rosto do amigo Legros...
e empurrou o cunhado de uma janela.
O ciúme pode ter contribuído para seus acessos.
No Chile, Jo o deixou por seu velho amigo Courbet...
e esta imagem de Courbet mostrando Jo como lésbica...
dificilmente terá impressionado seu antigo amante.
Amargo após o rompimento com Courbet...
Whistler reagiu contra seu entusiasmo pelo Realismo.
Numa carta a Fantin-Latour...
ele se desespera por sua arte numa frase que revela...
a grande confusão que sentia no momento:
"Oh, meu amigo.
Por que não estudei com Entres?"
Esse comentário veio num momento em que ele procurava um estilo...
e se confundia entre o realismo de Courbet...
que ele tanto admirava...
e sua filosofia da arte pela arte...
e a pintura decorativa, buscando um tipo de beleza comprovada.
Ele disse que queria se expressar em seus quadros...
e ter o que ele chamava de ira francesa...
que era muito mais análoga...
à maneira na qual Whistler trabalhava...
e seu modo de entender como funcionava a linha...
era muito mais em relação ao modo como Whistler pintava, então...
ele se afastou rapidamente das idéias e influência de Courbet...
e adotou a maneira de trabalhar de Entres.
Os últimos anos de 1860 foram tumultuados para Whistler...
e por dois anos ele não exibiu nada.
Mas sua vida não era só um sentimento pessimista.
Tinha uma nova amante, Louisa *** Hanson...
que se tornou a mãe de seu amado filho.
Também gozava da amizade de Frederick Leyland...
um rico armador inglês e leal patrono de Whistler.
No início de 1870, o artista estava...
à beira dos maiores feitos de sua carreira...
embora a criação deles provasse ser um assunto tortuoso.
Esta tela nos dá uma idéia da técnica dolorosamente vagarosa de Whistler.
Esta é Cicely Alexander...
a filha de 8 anos de um financista de Londres.
O título formal da obra é Harmonia em Cinza e Verde...
mas é um mistério imaginar como o artista mantinha...
uma atmosfera harmoniosa em seu estúdio.
Não menos que 70 sessões foram necessárias para satisfazer Whistler...
e isto não era incomum.
Por toda sua carreira, ele foi famoso...
por apagar uma tela inteira e recomeçar tudo.
Whistler não tinha medo de testar a paciência de seus modelos...
em busca da perfeição.
Os quadros de Whistler parecem ter sido feitos num instante...
eles têm uma certa elegância, são pintados com suavidade.
E o que esquecemos é que...
ele costumava riscar as telas e recomeçar outra vez...
então a dificuldade não vem de várias camadas de tinta...
não parece que o quadro é pesado...
porque ele apaga tudo e recomeça outra vez.
Ele quer exatamente o efeito certo.
Este quadro de 1872 também demorou a ser pintado.
Aqui vemos o historiador Thomas Carlyle...
em um dos melhores retratos de Whistler.
Ele também precisou posar várias vezes até o quadro ser terminado.
Dizem que Carlyle ficou frustrado...
mas podemos agradecer por ele ter permitido ao retratista...
terminar esta imagem sutilmente harmoniosa.
O retrato de Carlyle deu a Whistler uma substancial quantia de dinheiro...
como também este quadro de 1871.
É o retrato da velha mãe do artista...
embora o título formal da obra seja...
Arranjo em Cinza e Preto Número Um.
Para muitos admiradores da obra de Whistler...
é esta imagem que representa o maior feito...
de sua vida ativa.
O quadro da mãe de Whistler é particularmente importante.
Ele mostra um notável insight psicológico...
desta devota viúva protestante...
sofrendo, ele perdeu dois filhos e o marido.
Foi um quadro influente. Por exemplo...
quando Thomas Carlyle o viu, disse...
que estava preparado para ser pintado por Whistler.
Não foi uma decisão fácil...
ninguém dizia à toa que seria pintado por Whistler...
porque isso era um *** de resistência.
O quadro foi comprado pelo Louvre em 1891...
e deve ter sido o primeiro reconhecimento oficial de Whistler...
como pintor internacional, e a partir desse ponto...
recebeu honrarias e prêmios ao seu trabalho.
Então, foi crucial a partir desse ponto...
embora quando o quadro foi exibido pela primeira vez...
ele teve uma reação crítica bem fria.
E, desde Whistler...
tornou-se um ícone mundial da maternidade.
Quando esta imagem foi pintada, Whistler estava com 37 anos...
com uma crescente confiança em sua capacidade...
como revela este auto-retrato de 1872.
Ele continuava a ter Frederick Leyland como patrono...
a quem retratou nesta tela do ano seguinte.
Retratos agora tomavam muito do tempo de Whistler...
mas ele também executou obras em um estilo diferente.
Eram as cenas noturnas do rio Tâmisa...
Os Noturnos.
Whistler teve esta idéia de pintar o entardecer...
durante a abortada expedição ao Chile...
como o confirma esta imagem do porto de Valparaíso.
Mas foi em Londres, nas margens do Tâmisa...
que ele deu total realização a este gênero artístico incomum.
Como em seus retratos...
Whistler buscou expressar a harmonia da cor na tela...
e, com imagens como Noturno em Azul e Prata...
ele o conseguiu.
Mais uma vez, o processo criativo de imagens como esta foi prolongado.
Antes de levar o pincel à tela...
Whistler sofria com a mistura dos pigmentos.
Sua tinta era tão diluída...
que ele deitava a tela no chão do estúdio.
O artista referia-se à técnica como "pintar com um molho"...
e os resultados estão entre as melhores de suas obras.
Quando Whistler decidiu voltar à influência do oriente...
neste Noturno da Ponte de Battersea em Londres...
sua façanha pode ter sido a maior de todas.
Whistler foi influenciado pelas gravuras de Daphne quando...
fez os Noturnos, embora a diferença esteja...
no tipo de cor que ele usa. O desenho era essencialmente japonês...
mas ele lhe deu uma tonalidade própria.
E talvez o mais notável seja esta idéia...
de deixar belo e estranho o cotidiano.
Seus Noturnos mostravam partes de Londres...
que não eram muito belas, eram bairros industriais...
em Battersea, com muitos armazéns...
e, ao escolher a composição certa na hora certa do dia...
ele as transforma em referências poéticas.
É um quadro esplêndido.
A diferença entre a pintura achatada...
e a sugestão de espaço dados pela pintura...
é uma tinta bem rala, harmonias de cor...
bem restritas. Uma das coisas interessantes do quadro...
é o toque de vermelho...
que levanta o quadro inteiro, é...
é uma força total.
Imagens assim hoje são vistas como obras-primas...
mas Whistler lutou para encontrar compradores.
Contudo, seus retratos de 1870 venderam bem...
e ele pôde gozar de um suntuoso estilo de vida.
Conheceu outra amante, Maud Franklin...
e sua casa em Chelsea era conhecida pelas festas e entretenimentos.
Frederick Leyland ainda lhe era leal...
mas em 1876, Whistler forçou sua lealdade...
e sua vida teve outra reviravolta.
Naquele ano, Leyland pediu que Whistler...
decorasse a sala de jantar de sua casa londrina...
enquanto ele ia para o norte a negócios.
Na sua ausência, Whistler trabalhou dia e noite...
para criar uma proeza artística dominada por pavões em ouro.
Ele convidou a nata das artes de Londres...
para admirar seus esforços.
Leyland ficou furioso...
e nem a genialidade da decoração conseguiu acalmar sua ira.
A saga da Sala dos Pavões levou a um rompimento permanente...
na relação do artista com seu patrono...
e o pior estava por vir.
Pouco depois, Whistler exibiu uma série de obras...
na recém-inaugurada Grosvenor Gallery.
Entre elas, esta cena noturna de fogos de artifício...
Noturno em Preto e Ouro: O Foguete em Queda.
A tela foi posta à venda por 200 guinéus.
Uma soma que um homem considerou ofensiva...
o crítico John Ruskin.
E isso resultou num dos mais famosos litígios judiciais do Século XIX.
Ruskin era uma figura conhecida na comunidade artística.
Era famosa sua defesa dos quadros radicais de Turner.
Mas Ruskin tachou o Noturno de Whistler de inacabado...
e disse que o artista estava pedindo 200 guinéus...
pelo ato de "atirar uma lata de tinta na cara do público".
O irado Whistler decidiu responder no tribunal.
Ele expediu uma intimação por difamação contra Ruskin...
e o caso foi ouvido em novembro de 1878...
com enorme interesse da imprensa e do público.
O caso opôs duas visões diferentes...
do propósito da arte visual...
e apenas um lado venceria.
A questão era Ruskin de um lado...
defendendo o tema e o acabamento...
e, do outro, Whistler advogando...
o direito de ter uma abordagem diferente à pintura.
O tema não era primordial para ele...
e o artista podia cobrar um preço justo.
Não se tratava de um simples dia de trabalho.
Era, como ele chamou, "a experiência de uma vida".
Quando se confirmou a vitória de Whistler...
seu senso de vingança deve ter sido forte.
Mas a recompensa de uma indenização insignificante...
rapidamente o trouxe de volta à terra.
Com as custas ainda a serem pagas...
Whistler foi à falência.
Sua casa e muitos bens foram vendidos para pagar os credores.
No fim, foi uma vitória empírica.
Não é surpresa ele ter decidido sair de Londres.
Conseguiu uma encomenda de águas-fortes de Veneza...
e, em setembro de 1879, partiu para a Itália.
Longe da Inglaterra, com sua amante...
Whistler avaliou suas condições.
Como muitos artistas antes dele...
ele encontrou inspiração na paisagem veneziana...
com esta imagem noturna, A Lagoa...
demonstrando sua contínua maestria em cenas do entardecer.
Mas Whistler criou poucos óleos da costa do Adriático...
preferindo se concentrar em pastéis e gravuras...
que ele havia sido encarregado de produzir.
Ele preferiu evitar os pontos mais famosos de Veneza...
para usar de tema.
Ele procurou as ruelas como inspiração...
para um notável conjunto de trabalho gráfico.
Embora críticos tenham também falado em obras incompletas...
hoje podemos apreciar a abordagem inovadora...
em cenas venezianas como estas.
Ele queria mostrar...
em parte pela reação à ação judicial, que ele...
que ele era capaz de desenhar...
com precisão e...
grande economia...
e acho que isto se tornou uma direção...
com os quadros da série de Veneza.
Deu a eles uma linda linha, era um maravilhoso...
gravurista e estes foram alguns dos efeitos elegantes que produziu.
De novo, como em seus Noturnos de Londres...
feitos em lugares que podiam parecer sórdidos...
pequenas ruelas com prédios em ruínas...
e que ele transformava em objetos de beleza...
Suas gravuras mostram Veneza como moradia...
e ela é, pessoas moram lá.
Mas nas grandiosas visões do Grande Canal...
não sentimos que ali moram pessoas, enquanto...
que as gravuras de Whistler transmitem a...
vida cotidiana da cidade...
numa dimensão ainda maior.
Whistler voltou a Londres em novembro de 1880...
decidido a ser novamente uma figura de destaque.
Nos anos subsequentes...
aplicou sua maestria na harmonia de cores em pequenos quadros...
retratando as fachadas de lojas e casas londrinas.
Mas sua verdadeira ambição eram os retratos...
e com encomendas como este retrato de Lady Meux...
ele provou que suas ligações com a sociedade continuavam fortes.
Estava confiante o bastante para trabalhar mais rapidamente...
sem prejuízo para sua qualidade.
Retratos como este de 1884, de Theodore Duret...
demonstram uma crescente perícia em contrastes de cor...
e houve uma série de bem-sucedidas exposições de sua obra...
na década de 1880.
Agora sua obra era apreciada por muitos contemporâneos...
inclusive Oscar Wilde.
Histórias das conversas dos dois foram muito publicadas.
Whistler ainda era uma figura refinada...
com um cacho de cabelo branco pendendo de sua testa.
Agora era uma das figuras mais conhecidas de Londres...
e suas ambições estavam sendo alcançadas.
Em 1888, sua vida pessoal lhe trouxe mais felicidade...
quando se casou com Beatrice Godwin, tema deste retrato...
adequadamente chamado Harmonia em Vermelho.
Suas dificuldades do passado tinham ficado para trás.
Além de ser famoso...
Whistler era cada vez mais bem recompensado financeiramente.
Em 1891, seu retrato de Thomas Carlyle...
foi comprado pela incrível soma de 1.000 guinéus.
No mesmo ano, o governo francês pagou 4.000 francos...
pelo retrato de sua mãe.
O artista até lamentou o fato...
de essa riqueza não ter chegado mais cedo...
mas a década de 1890 foi o período mais feliz de sua vida.
Em 1892, ele recebeu a Legião de Honra da França...
e, pouco depois, voltou a Paris...
para montar uma casa com Beatrice.
Ele continuava a frequentar os círculos boêmios.
Também começou a explorar a litografia...
e continuou a viajar sempre que podia.
No verão de 1895, voltou para a Inglaterra...
ficando no balneário de Lyme Regis...
onde pintou este comovente retrato...
chamado A Pequena Rosa de Lyme Regis.
Whistler, com 60 e poucos anos, ainda era mestre na harmonia de cor...
mas quando criou esta imagem fascinante...
ele se viu frente a outro desastre pessoal...
que ele não tinha como evitar.
Sua amada esposa estava gravemente doente...
e a visita à costa inglesa foi devida à saúde dela.
Mas Beatrice estava com câncer...
e esta litografia feita por seu marido em 1896...
revela a extensão de sua doença.
Ela morreu em maio daquele ano e o marido ficou arrasado.
Foi a maior tragédia da vida de Whistler...
e, embora ele tenha vivido outros 7 anos...
a morte de Beatrice marca o fim...
dos grandes feitos do artista.
Ele próprio estava doente.
Mas continuou a viajar...
e no primeiro ano do novo século, visitou o norte da África...
na esperança de que sua saúde melhoraria.
Mas quaisquer benefícios tiveram curta duração...
e, após uma última mudança de volta a Londres...
ele morreu de ataque cardíaco em 17 de julho de 1903.
Foi o fim de uma vida notável.
Desde cedo, ele procurou ser um homem de seu tempo...
e conseguiu ser uma das figuras mais conhecidas de sua era...
um artista tão famoso por seu caráter e estilo de vida quanto por sua obra.
Mas é essa obra que continua conosco.
É através de imagens como estas...
que ainda podemos apreciar a conquista de James Whistler.