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Ser capaz de iludir a morte, quando nossos órgãos falham,
ao terem um transplante,
é uma das maiores conquistas da medicina moderna.
Sucesso, o rim tem cor e cheiro,
à medida que o sangue do paciente passa através dele.
Eu me sinto como se tivesse
sido abençoado com a oportunidade
de viver uma vida mais longa.
Eu me sinto, absolutamente fantástica, desde o transplante.
No entanto, tem sido uma luta longa e sangrenta
para os cirurgiões que enfrentaram obstáculos éticos
para reanimar os vivos com órgãos retirados de cadáveres.
Eu me pergunto qual será a fúria dos céus na noção
de que nossos corpos são coleções de peças de reposição.
E também para os pacientes,
dispostos a jogar e a suportar quase tudo
em sua luta por uma vida mais longa.
Alguém precisa descobrir como.
Se o barco está afundando
e esse é o último bote salva-vidas, sabe?
- E os 2 pacientes, o que houve com eles? - Eles morreram.
Durante os últimos 45 anos,
Horizon e BBC anunciaram o progresso dos cirurgiões
cujo desejo de seguir novos caminhos
levou-os à glória e ao desastre.
Cirurgiões cardíacos
que não sabiam absolutamente nada sobre transplantes
queriam mostrar que eles também podiam transplantar o coração,
com 100% de mortalidade.
Apesar dos fracassos iniciais,
os cirurgiões tiveram bastante êxito
em sua tentativa de aproveitar o corpo.
Agora, o desafio da escassez de órgãos
está levando a ciência a direções cada vez mais estranhas.
Até onde podemos e devemos ir
em nossa luta por prolongar a vida?
CONSERTEM-ME: GUIA HORIZON AOS TRANSPLANTES
Quando eu era um estudante de medicina,
coisas como transplante de rins eram relativamente comuns.
Mas nos 25 anos desde então,
eu vi algumas descobertas realmente notáveis
e, ocasionalmente, perturbadoras.
E, recentemente, o transplante de toda uma face humana.
Eu vim a Boston, ao Brigham And Women's Hospital,
para encontrar-me com um dos
principais cirurgiões de transplante de face do mundo,
o Dr. Bohdan Pomahac.
Bom dia.
- Bom dia. Oi, como vai? - Olá, Michael Mosley.
- Parece um cara bonito, não? - Ele era.
Sim, até ele pisar em um fio de energia,
aproximadamente 10 anos atrás.
Mitch Hunter tinha só 20 anos,
quando seu carro atingiu um poste,
contendo um cabo elétrico de 10.000 volts.
As lesões em seu rosto foram horrorosas.
Ooh. Ah... Esse foi o verdadeiro estado de chegada.
Pobre rapaz. Isso é...
Há algo para o qual eu estava meio que preparado,
mas isso foi... foi um choque.
Apesar de 16 cirurgias anteriores para corrigir os ferimentos,
o rosto de Mitch ainda estava bastante desfigurado.
Então, ele concordou em se tornar um dos primeiros
a ter o rosto de um homem morto transplantado ao seu próprio.
Primeiro, uma equipe de 14 cirurgiões precisou
remover, cuidadosamente, o seu antigo rosto.
Uma meticulosa cirurgia microvascular
é necessária para ligar as artérias de Mitch ao novo rosto.
O suprimento sanguíneo é absolutamente crítico.
Sem o suprimento sanguíneo, o rosto não ficará vivo.
Finalmente, a face é costurada na própria pele de Mitch.
Após 14 horas, a operação está completa.
4 meses após a cirurgia, eu fui ver como Mitch
estava se acostumando ao seu novo rosto.
Eu diria que, em torno do 1° mês, eu comecei a sentir sensações
e...eu acho que estou indo pelo 4° ou 5° mês,
e está 10 vezes melhor do que estava no 1° mês.
Você sabe, eu posso sentir muito mais, como...
eu posso sentir a brisa, agora, no meu rosto.
É simplesmente incrível o quanto de sensações
eu consegui de volta em um tempo tão curto.
Não está perfeito, mas o que certa vez parecia
ficção científica horrível
está dando a Mitch uma chance bem apreciada de uma vida normal.
No entanto, apenas 100 anos atrás,
a própria idéia de um transplante era inimaginável.
Tudo isso mudou com a morte de um presidente francês.
Era junho de 1894 e o presidente Carnot estava a caminho de Lyon,
quando ele foi atacado por um anarquista armado com uma faca...
...ferindo uma artéria vital.
Os cirurgiões não tinham idéia
de como religar os vasos sanguíneos danificados.
E o presidente Carnot sangrou até a morte.
Um jovem médico - Alexis Carrel -
observou o seu presidente morrer e ficou horrorizado.
Agora, obcecado, ele aprenderia a costurar
e, a seguir, passou anos lutando com frágeis vasos sanguíneos,
antes de, finalmente, aperfeiçoar uma técnica
que ligava os pontos em um selo perfeito.
Carrel havia inventado a cirurgia vascular.
Mas isso não era o bastante para Carrel.
Por que não - ele pensou - usar essa nova técnica cirúrgica
para pegar o órgão de um corpo e inseri-lo em outro?
Vestindo seus aventais negros, ele embarcou em uma série
de experimentos terríveis e sinistros.
Ele pegou o rim de um filhote de cachorro e o pôs em um gato.
E, então, as patas dianteiras de um cachorro branco
e as pôs em um cão preto.
Carrel havia realizado, com sucesso,
vários transplantes de órgãos.
Suas técnicas cirúrgicas eram perfeitas,
no entanto, logo depois,
os órgãos pararam de funcionar e todos os animais morreram.
Carrel concluiu que havia alguma força biológica misteriosa
que havia tornado os transplantes impossíveis,
e ele abandonou esse trabalho.
Ele, inadvertidamente, descobrira o maior inimigo
do cirurgião de transplantes - a rejeição.
Superar essa barreira iria ser um grande desafio
durante as décadas seguintes.
Não foi até a II Guerra Mundial
que os cientistas fizeram uma descoberta.
Um vasto número de pilotos de caça estavam sofrendo
queimaduras terríveis - frequentemente fatais.
E um biólogo de Oxford, Peter Medawar, teve a idéia
de cobrir as queimaduras com a pele dos mortos.
Mas a pele simplesmente enrugava e descascava.
Determinado a descobrir o porquê,
Medawar começou com os experimentos.
Uma jovem Horizon explorou seus métodos.
Bem, foi resumida da seguinte forma:
ele pegou 2 coelhos...
...e ele transplantou a pele de um coelho para o outro.
Esse pedaço de pele, na forma de um transplante de órgão,
necrosou após 10 dias.
Então, Sir Peter Medawar, um pouco depois,
pegou outro pedaço de pele daquele coelho
e a transplantou novamente para o mesmo receptor.
E esse pedaço de pele necrosou após 5 dias.
O seu coelho receptor havia ficado imunizado
devido ao transplante anterior do pedaço de pele.
Medawar havia descoberto como os corpos dos pacientes
rejeitavam os enxertos.
Os pacientes são vítimas das defesas de seus próprios corpos.
Sempre que um material estranho penetra no interior do corpo,
glóbulos brancos, como esses, irão atacá-lo e tentarão destruí-lo.
Isso é o que acontece com as células de um órgão transplantado.
A conclusão foi profundamente depressiva.
A não ser que os cientistas pudessem descobrir uma forma
de sobrepor o sistema imunológico,
a rejeição sempre iria evitar um transplante bem sucedido.
A Segunda Guerra Mundial presenciou uma inovação médica
que ofereceu esperança a alguns pacientes com falência de órgãos -
o primeiro rim artificial.
Mas a invenção da diálise
significava que as enfermarias ficariam lotadas
com pacientes renais vivendo mais,
mas sem perspectiva de uma cura.
Apesar dos problemas contínuos impostos pela rejeição,
cirurgiões sempre otimistas decidiram que, agora,
sabiam o suficiente para tentar o transplante de rins.
Na Europa e nos EUA,
cirurgiões deram início, calmamente, aos experimentos.
Dessa vez, em seres humanos.
Mas, primeiro, eles precisavam dos rins de um recém-falecido,
frescos o bastante para um transplante.
Isso, em uma era quando nem se falava em doação de órgãos.
Um cirurgião francês surgiu com uma solução macabra.
Eu disse "não há escolha, temos que ir à prisão".
Então, eu telefonei para o diretor da prisão,
para perguntar se eles teriam ou não, em um futuro próximo,
algumas sentenças de morte.
Ele disse "Sim". Eu disse:
"Bem, poderia pegar seus rins"? E ele "Sim, sim.
Ele estará morto, sem cabeça. Você pode pegar os rins".
Mesmo quando eles puderam pegar os órgãos,
os cirurgiões recorreram a algumas estratégias bizarras,
em uma tentativa de superar a rejeição.
Um tentou transplantar rins em um saco plástico.
Outro tentou eliminar o sistema imunitário do paciente
com uma dose massiva de radiação.
Nenhum dos pacientes sobreviveu.
A afirmação é muitas vezes feita
como se não poderíamos fazer isso agora, seria ilegal.
Talvez seja, mas esses pacientes estavam sofrendo bastante,
eles certamente precisavam de uma tentativa.
É compreensível que tenha havido um pessimismo.
Mas o cirurgião americano Joseph Murray
recusou-se a desistir.
Interessantemente, muitos dos meus velhos amigos -
cirurgiões e médicos -
disseram-me, quando eu era um jovem cirurgião,
para jamais envolver-me nesse projeto.
Isso arruinaria a sua carreira.
Mas as visões céticas estavam prestes a ser desafiadas
quando, em 1954, Richard Herrick veio ao hospital de Murray,
morrendo de uma doença renal.
Richard mencionou algo sobre si próprio,
o qual deu esperança à Murray...
Ele tinha um gêmeo perfeitamente saudável - Ronald.
Murray raciocinou que
se ele pegasse um dos rins saudáveis de Ronald
e o desse a seu irmão doente, não haveria rejeição,
porque gêmeos idênticos têm sistemas imunológicos idênticos.
Assim, ele decidiu operar.
Em 10 segundos, a urina começou a escorrer pelo penico,
indo parar no chão...
Tivemos que chamar os enfermeiros para contê-la.
Mas esse era só o início. E foi bastante animador.
Dentro de uma semana, ele parecia uma nova pessoa.
Você simplesmente não conseguia acreditar na transformação.
Murray tinha conseguido.
O primeiro transplante de órgãos com sucesso no mundo.
Ambos os gêmeos sobreviveram.
Richard até se casou com sua enfermeira.
Se a operação tivesse falhado,
os transplante teriam sido atrasados em anos, talvez décadas.
Porque havia um sentimento nato contra o conceito como um todo.
Era uma vitória absoluta para todos nós.
Porque isso significava que o problema podia ser vencido.
Nós apenas redefinimos o problema.
Agora, tínhamos que descobrir como evitar uma rejeição.
Levaria 8 anos até que a equipe de Murray fizesse isso.
Pesquisadores do câncer perceberam
que um medicamento usado para tratar a leucemia
também suprimia os glóbulos brancos,
responsáveis por causar rejeição em um transplante de órgãos.
A droga foi chamada azatioprina.
Murray preparou-se para testá-la em seus pacientes transplantados.
Inevitavelmente, isso implicava assumir riscos.
Os primeiros dois pacientes que nós transplantamos
morreram com rins funcionais,
mas eles morreram devido à toxicidade da droga.
E o terceiro paciente,
em quem usamos em torno de 1/4 da dose esperada,
ele sobreviveu por mais de 1 ano.
E isso iniciou os transplantes em uma escala mundial.
Ser capazes de transplantar rins em indivíduos sem parentesco
foi uma enorme conquista.
Ela ofereceu esperança a quem, antes, não tinha nenhuma.
Mas ela também forçou as pessoas
a confrontar um dilema moral desconfortável.
Os órgãos precisavam vir dos que acabavam de morrer.
Mas como os médicos deveriam
definir quando uma pessoa estava, de fato, morta?
Em que ponto disso tudo um doador realmente morre?
Eu acho que essa é uma dessas perguntas e respostas intermináveis.
A noção antiga de morte ocorrendo quando o coração pára
precisava ser modificada para significar a morte cerebral,
de modo que os órgãos pudessem ser coletados
enquanto ainda havia sangue circulando.
E quando os transplantes se tornaram algo comum,
isso forçou os médicos,
cujo objetivo era, normalmente, o de salvar vidas
a um território inexplorado.
- Diga a eles que estarei lá em torno de 1h30. - OK, adeus!
Para encontrar órgãos para transplante,
eles teriam que focar, ativamente,
naqueles à beira da morte.
Eu acho que um cirurgião de transplantes
apenas precisa olhar para a lista de pacientes
que estão aguardando por transplantes
e ele é levado a ir buscar rins.
Lembre-se, essas pessoas estão morrendo.
A maioria delas não tem outra forma de tratamento.
Há uma pequena garota, agora, quem está ficando sem tempo.
Eu preciso encontrar um rim para ela.
É constrangedor...
Todos sabem que você está esperando alguém morrer
e você precisa, simplesmente, ficar sentado ali.
Os parentes estão aqui - eles estão no consultório.
- Eles estão muito chateados? - Sim, estão muito chateados.
Você acha que eu realmente deveria pedir a eles?
Eu acho que deveria, eu acho que pode até ajudá-los um pouco.
Vamos lá.
O rim doado que fora testado chega à sala de operações,
dentro da máquina de perfusão.
Sucesso.
O rim tem cor e cheira
à medida que o sangue do paciente passa através dele.
As conexões estão funcionando.
Eu me sinto, absolutamente fantástica, desde o transplante.
Eu nem sabia que era possível se sentir tão bem,
porque é uma experiência pela qual nunca passei em toda a minha vida,
mesmo quando eu nem sabia que estava doente.
Os cirurgiões tinham cruzado a fronteira.
Mas, agora, eles queriam ir muito mais além.
E para os realmente ambiciosos,
não poderia haver objetivo maior que o coração humano.
Transplantar um coração
implicaria assumir riscos enormes.
Ao contrário do rim,
um coração batendo precisaria funcionar corretamente
desde o princípio.
Nos EUA, vários cirurgiões competiam para ser o primeiro.
E um deles pensava ter a dianteira.
Nós tínhamos um receptor pronto,
tínhamos, literalmente, um doador identificado na Filadélfia
e, naquela manhã, a minha filha veio
e disse que algum brincalhão em algum lugar da África
fizera um transplante de coração.
O primeiro transplante de coração foi realizado.
A história médica foi feita na África do Sul.
Jornais de toda parte trazem notas
vindas de médicos desde a longínqua União Soviética.
Há um clamor pela dramática descoberta.
O cirurgião foi o Dr. Christiaan Barnard,
um estranho que tomara o mundo completamente de surpresa.
Essa era uma experiência nova.
Porque jamais vira um ser humano que, na verdade, estava vivo
sem um coração dentro do seu peito.
E eu percebi, naquele momento,
que eu estava fazendo algo diferente.
Eu jamais fizera isso antes.
E eu percebi que precisava pôr um coração de volta ali.
O paciente fora Louis Washkansky.
Pela primeira vez,
um coração transplantado batia no peito de outro ser humano.
Foi incrível ver como ele havia perdido todas as evidências
de falência do coração,
o inchaço de suas pernas desapareceu
e ele estava mentalmente bem.
E eu realmente não acreditara que não fosse ter êxito.
Então, estávamos muito otimistas, a princípio.
O mundo inteiro torcia para Louis ficar bem.
Mas duas semanas após o transplante, tudo deu errado.
Eu acho que ele morreu...
...acho que ele sabia que iria ter uma vida maravilhosa,
porque ele ficou bem durante 10 dias.
Quero agradecer aos médicos
que pesquisaram até o fim,
e quero agradecer a todos, ao redor do mundo,
que desejaram que ele ficasse bem...
Louis Washkansky não morreu de rejeição,
mas de uma infecção pulmonar que ele foi incapaz de combater
devido às drogas imunosupressoras.
Eu fiquei completamente destroçado naquela manhã,
eu desci até meu escritório e permaneci la no sofá.
E um dos meus assistentes negros do laboratório entrou
e ele viu que eu estava chorando.
Porque ele era um homem muito simpático -
o Sr. Washkansky era um homem muito agradável.
Houve uma grande tristeza em o deixarmos partir.
Mas a tristeza não duraria muito.
Apesar da morte de seu paciente,
a vida de Barnard foi transformada.
Ele se tornou o homem do momento.
De repente, eu era uma celebridade.
Todos queriam conversar comigo, conhecer-me.
Recebi convites de todas as partes. Era excitante.
Eu pensei, nesse momento,
que eu era, provavelmente, o homem mais popular do mundo.
Naturalmente, outros médicos
queriam partilhar de sua popularidade.
Em 1968, o mundo foi tomado pela febre dos transplantes.
Novos corações foram dados a 102 pessoas em 18 países diferentes.
E, talvez, foi esse espírito pioneiro que levou os cirurgiões
de um hospital de Londres
a tentar o mais improvável dos experimentos.
O telefone tocou em torno das 17h30.
Era Donald Longmore no telefone.
E ele foi muito sucinto, ele disse:
"Estou no National Heart Hospital,
você poderia me dar, agora, dois porcos com 90 kg"?
Eu tive que... tenha em mente que eram 17h30.
Não era a coisa mais fácil do mundo em Londres
encontrar 2 porcos com 90 kg.
Ele não quis saber e simplesmente disse:
"Encontre-os e traga-os aqui assim que puder".
De minha parte, eu fui até o National Heart Hospital,
assim, eu estaria lá quando eles chegassem.
Enquanto a equipe de operações aguardava,
uma van estava a 9 milhas dali,
deixando as portas do Animal Research Centre,
no National Orthopaedic Hospital em Stanmore, Middlesex.
Era pouco mais das 18h30 da tarde,
e o primeiro porco estava a caminho.
Foi difícil subir com o porco?
Não tão difícil.
Mas porcos não estão acostumados a elevadores, é claro.
O que aconteceu então,
quando o primeiro coração de porco foi trazido?
Uma tentativa foi feita pelo cirurgião para atá-lo
aos grandes vasos de um dos pacientes
e, ao fazer isso,
permitir que o sangue fluísse através dele.
Você pode descrever, exatamente, o que aconteceu com o coração,
tão logo ele foi conectado ao paciente?
O coração ficou quase parecido com uma rocha
e, obviamente, tinha uma dificuldade crescente
de se manter em ação.
E, finalmente, ele mesmo morreu.
E foi, obviamente, o epílogo
de um fenômeno de rejeição super-rápido.
E os dois pacientes? O que aconteceu com eles?
Eles morreram.
Mas, é claro, se queremos progredir nesse campo,
precisa haver homens corajosos.
Precisa haver uma primeira vez.
Precisa haver *** e tentativas.
Ser corajosos é uma coisa,
mas essa forma de experimentação, sem comitês de ética, ou algo assim,
nesses dias, parece quase inacreditável.
Com o final dos anos 60,
o sonho do transplante de coração começava a morrer.
O problema era que os pacientes
precisavam de doses muito mais elevadas
de drogas imunosupressoras do que os pacientes renais.
E as taxas de sobrevivência traziam uma leitura sombria.
2/3 dos pacientes que faziam transplante de coração
morriam dentro de 3 meses.
E bem poucos conseguiam ir além disso.
Cirurgiões cardíacos, os quais não sabiam
absolutamente nada sobre transplantes,
imunidade em transplantes, o processo imunitário de rejeição,
queriam mostrar que eles também poderiam transplantar um coração -
com um 100% de mortalidade.
E isso foi um desastre.
O homem que começou isso tudo - Christiaan Barnard -
podia ter se tornado uma celebridade,
mas muitos outros médicos estavam ficando preocupados.
E quando a BCC convidou-o para confrontar seus colegas,
Barnard foi criticado.
Eu acho que a publicidade nauseante
faz mal à profissão, faz mal a si próprio.
Nós teremos tantos fracassos
que a reação popular contra isso será a de, efetivamente,
adiar o dia em que todos poderemos dizer
que isso pode ser feito com segurança.
E até mesmo para esses pouco sortudos
que sobreviveram além das primeiras semanas,
a vida após a cirurgia
significava conviver com uma incerteza devastadora
e um doloroso regime de medicamentos.
Bem, de certo modo,
eu acho que pode-se compará-lo a um homem no corredor da morte.
Pois ele sabe que, mais cedo ou mais tarde, irá partir.
Ele não sabe quando.
E você fica meio que esperando que eles surjam com algo
que lhe dará um ciclo de vida um pouco maior que esse.
A prednisona, tomada diariamente contra a rejeição,
pode ter efeitos colaterais debilitantes.
Eu me lembro da primeira vez em que me deram-na,
eu simplesmente não conseguia mover-me,
não deixava ninguém me tocar, nem enfermeiras, nem ninguém.
Nem mesmo um lençol ou meu pijama - tudo era doloroso.
Minhas pernas estavam muito, muito grandes, inchadas.
Não era a salvação que haviam prometido aos pacientes.
Meu dia começa às 5h da manhã,
com a primeira dose de medicamento que eu tomo.
E ele termina às 11h da noite.
Você precisa ficar tomando medicação o tempo inteiro.
Até mesmo enormes quantidades de drogas não eram o suficiente
para prevenir que o sistema imunitário os machucasse.
E após um tempo, os novos órgãos, inevitavelmente, falhariam.
Parecia que a antiga inimiga dos cirurgiões -
a rejeição dos órgãos -
iria afundar seus sonhos de transplante novamente.
Muitos governos começaram a ordenar sua suspensão em hospitais.
Mas, então, a ajuda veio de uma fonte muito inesperada...
...um fiorde norueguês.
Companhias farmacêuticas tiram amostras de solos frequentemente,
ao redor do mundo, em busca de novos remédios.
E esse continha um fungo
que parecia possuir excelentes propriedades imunossupressoras,
controlando a rejeição aos órgãos,
sem derrubar a resistência às infecções.
Ele foi chamado ciclosporina.
Os cirurgiões cruzaram os dedos e começaram a usá-lo nos pacientes.
A ciclosporina era a descoberta pela qual todos esperavam.
Finalmente, eles tinham uma droga
que poderia suprimir o sistema imunitário
sem tantos efeitos colaterais letais.
Os programas de transplante de corações reabriram
e as taxas de sobrevivência aumentaram.
Os cirurgiões foram capazes de dar grandes saltos
em relação aos órgãos que podiam transplantar -
fígados, pulmões, intestinos -
algumas vezes, tudo ao mesmo tempo.
Nos anos 80,
os transplantes tornaram-se algo como um milagre diário.
Duas equipes de médicos
trabalharam durante as primeiras horas dessa manhã
para realizar o primeiro transplante triplo do mundo.
O sucesso dos cirurgiões
significava que a demanda por órgãos decolara,
e um esquema nacional de doação de órgãos foi lançado.
12 milhões desses novos cartões plásticos serão distribuídos.
O novo cartão está sendo emitido
porque novas técnicas estão aumentando
a gama de órgãos que podem ser doados.
Ótimo na teoria mas, na prática, a demanda sempre supera a oferta.
A escassez de órgãos
significava que a esperança oferecida pelos transplantes
muitas vezes tornou-se em desespero,
para aqueles que estavam na lista de espera.
Milhares de pessoas que poderiam ter sido salvas estão morrendo,
porque não há rins o suficiente.
Essa paciente tem um marido,
se ela fosse solteira ou divorciada,
não teria prioridade...
Para os médicos, isso implicava em tomar decisões difíceis
sobre quem deveria ter uma segunda chance.
No Guy's Hospital, se um paciente irá viver ou morrer
é decidido nessa reunião semanal da unidade renal.
É muito informal, frequentemente acalorada,
algumas vezes agonizante.
Atlético. Brasileiro. Jovem. Forte. Ele tem angina.
Sim, mas ele está morrendo.
Sim, mas nós mudamos a nossa política consideravelmente
ao longo dos últimos 2, 3 meses, não?
Mudaram-na frente a 4 pessoas que estão apreensivas
com uma falha renal terminal - você ainda não as conhece,
mas 3 estão em diálise, no hospital, aguardando a morte.
Já pensamos em deixar Thomas abordar isso?
Não, porque estamos muito atarefados no momento.
À medida em que os cirurgiões aventuravam-se mais,
o problema em torno da escassez de órgãos tornou-se mais grave.
Particularmente, quando se trata de doadores vivos.
Se um dos meu irmãos ou minha irmã precisar de um rim,
então, eu estou feliz em doar.
Mas e se o órgão não for tão dispensável?
Você arriscaria a sua saúde
pela esperança de salvar um ente querido?
Desde os anos 60,
a família Laughran tem convivido
com uma doença potencialmente letal.
No ano passado, a ciência médica os confrontou
com uma terrível escolha que nenhum de nós gostaria de tomar.
Eu espero que isso dê a ela muitos anos de vida felizes,
Dar o dom da vida a alguém, essa é...
uma oportunidade maravilhosa de fazer algo que...
sem dúvidas, será a coisa mais importante que já fiz na vida.
Nada do que eu aprendi alterou meu compromisso em fazê-lo.
Mas eu tenho que admitir
que estou apavorada com algumas das informações.
Eu só tenho a ganhar, seja o que for.
Não tenho nada a perder.
Mesmo que chegue o dia e eles não o queiram,
eu não me importo em dizer não a eles.
Eu não quero que eles, de repente, pensem, você sabe,
porque não é justo que eles devam...
Eu simplesmente não quero que eles sofram...
Eu não quero arruinar parte alguma de suas vidas.
Sheila Batchelor sofre de fibrose cística,
a desordem genética mais comum desse país.
É uma doença incurável, a qual, lentamente, destrói seus pulmões.
Ela precisa estar no oxigênio 24 horas por dia.
Em março do ano passado,
a família começava a enfrentar o seu pior medo.
Mas, então, eles ouviram sobre
um novo procedimento médico radical
chamado transplante de pulmões de doadores vivos.
Concebido nos EUA,
essa operação controversa está sendo desenvolvida no Reino Unido
pelo Professor Sir Magdi Yacoub,
o mundialmente famoso cirurgião de transplantes
de coração e pulmão.
Usando 2 doadores vivos, ao invés de 1 doador morto,
essa é a tentativa mais recente da ciência médica
para resolver a escassez na doação de órgãos.
Vão dar-me toda uma vida nova novamente, uma novinha em folha,
então, eu não acho que muitas pessoas tenham acesso a isso.
Ao contrário das operações de doação de rins em gente viva,
os transplantes de pulmões
são muito mais perigosos para os doadores
e têm muito menos êxito nos receptores.
Isso se deve a que o pulmão é um órgão muito frágil,
e não é facilmente transplantado.
Vejo vocês amanhã.
Adeus.
Essa operação jamais foi filmada antes.
Ela envolve 3 salas de operação separadas,
controladas por 3 equipes cirúrgicas
que trabalham para o Professor Yacoub.
Ele estima que as chances de sobrevivência de Sheila
são de em torno de 70%.
A primeira etapa dessa operação de 8 horas é remover
o pulmão direito doente de Sheila.
Após 2 horas, o professor começa a conectar
o lóbulo de Damian
à traquéia e aos vasos sanguíneos no peito de Sheila.
É um processo lento e delicado.
Seu pulmão esquerdo doente foi imediatamente movido
para o lóbulo de Josephine.
Finalmente, Sheila está pronta para deixar a sala de operações.
Ela está respirando com os seus novos pulmões.
A operação durou mais de 12 horas.
A primeira noite de Sheila foi difícil,
porque havia um perigoso acúmulo de líquido em seus pulmões novos.
2 dias depois, ainda precisava de um respirador para viver.
Devido a isso, ela está sendo mantida sedada.
O progresso de Damian e de Josephine é lento.
Eles têm bolsões substanciais de ar em torno dos pulmões.
A dor foi absolutamente incrível.
Não sei como descrevê-la. Um sentimento de total impotência.
Mas parte do que pretendo fazer é ver, tão logo seja possível,
o momento em que Sheila acordar.
Parece como se fosse uma grande brisa.
Apesar dos melhores esforços da equipe médica,
eles não puderam controlar
a infecção que estava devastando o corpo de Sheila.
3 semanas após a operação,
Sheila finalmente perdeu sua luta pela vida.
5 meses depois
Tudo mudou. Tudo.
Eu tentei não pensar muito nisso.
Tentei, deliberadamente,
me manter ocupada sempre que possível,
apenas fechada em mim como uma concha.
Apenas me fortalecendo por dentro, eu acho,
porque eu, provavelmente, pareça ser a mesma,
mas tenho as cicatrizes para prová-lo
e eu tenho coisas que mudaram dentro de mim.
É um tipo de perspectiva da vida, eu acho.
Cada vez que um paciente é perdido, há uma enorme tristeza.
E o que nós tentamos fazer é analisar o porquê
e, então, tomar uma decisão
sobre se devemos ou não oferecer esse tipo de operação às pessoas.
Apesar dos riscos,
a operação com pulmões vivos
ainda está sendo oferecida a famílias desesperadas.
E as taxas de sucesso estão melhorando.
Os experimentos com humanos sempre foram
a pedra angular das cirurgias de transplante.
Mas cada descoberta trouxe novos desafios,
especialmente quando os cirurgiões foram além de salvar vidas
para enxertos mais cosméticos de partes do corpo.
Quando Clint Hallam foi escolhido
para receber o primeiro transplante de mão do mundo,
em 1998, após perder a sua em uma pequena serra circular,
ele sabia o preço a pagar por ser um pioneiro cirúrgico.
Minha primeira sensação, ao ver minha mão, é que era um milagre.
A junta final, na verdade, segue em volta de uma junta irregular.
Foi, provavelmente, só nos últimos 6 ou 7 meses
que eu comecei a me sentir desconfortável, algumas vezes,
com as diferenças reais entre as peles.
A dificuldade com que me deparei, psicologicamente,
é que eu quero ser capaz de usar minha mão para fazer coisas.
Mas nem sempre é possível controlá-la.
Escovar os dentes é um exercício seguro para usar minha mão.
Mas quando se trata de me barbear,
eu me asseguro de que tenha a lâmina na minha mão boa.
E totalmente sob controle.
Não, não, não.
E não foi só Clint que implicou com a mão.
Tive pessoas em aviões -
houve uma senhora que pediu para mudar-se para outro assento,
poque ela não gostava do fato de sentar-se perto de mim,
com essa mão que pertence a uma pessoa morta.
Clint também começou a ressentir-se
com o "preço" do pesado regime de drogas anti-rejeição.
Os 2 efeitos colaterais físicos que eu mais percebi são,
primeiro, eu tenho diabetes.
O segundo efeito colateral é mais físico:
eu passei a ter seios, ao invés de um peito.
Isso é algo um pouco difícil com que lidar.
Apesar de sua fama mundial como um pioneiro no transplante,
Clint tomou uma decisão difícil -
ele decidiu cortar os seus medicamentos anti-rejeição.
Só poderia haver um resultado.
A vermelhidão na ponta dos dedos, as unhas caindo -
todos eles são indicadores de um sério problema de rejeição.
Em 2001, o sistema imunitário de Clint
destruiria quase que totalmente sua nova mão.
Boa noite. Clint Hallam esteve no centro
de uma revolução médica, 2 anos atrás,
mas, agora, ele quer sair.
Tendo a mão de um morto no lugar onde a sua costumava estar,
ele, agora, está implorando para que ela seja removida.
Eu certamente acredito que deve haver um ponto em que,
sim, ou meu corpo diz, ou minha mente diz,
já é o bastante.
Na manhã seguinte à gravação dessa entrevista,
a mão de Clint foi cirurgicamente removida.
Foi tema de preocupação.
Uma ilustração gráfica da difícil verdade de que,
quando cirurgiões fazem um trabalho pioneiro,
eles nem sempre podem prever o resultado.
A cirurgia havia avançado até o ponto em que, praticamente,
cada parte do corpo estava disponível.
Nós lidávamos com outra realidade desconfortável -
a demanda crescente por partes do corpo
deixou o sistema todo aberto a abusos.
Nos EUA, 1.5 milhão de operações de transplante de tecido
são realizadas a cada ano.
Isso criou uma demanda enorme por tecidos,
a qual precisava ser atendida.
É nos tecidos de transplante onde está o verdadeiro
valor financeiro do corpo.
Se cada parte útil pudesse ser
recuperada, processada e vendida a seu valor máximo,
a renda com um único corpo seria de US$250.000.
Com tanto dinheiro em oferta,
talvez não surpreenda que o uso dos corpos esteja tão difundido.
Uma das pessoas atraídas pelo dinheiro
foi o ex-dentista Michael Mastromarino.
Michael Mastromarino era um cirurgião bocal
que parecia ter uma prática de muito êxito em Nova Jersey.
Ele envolveu-se com drogas,
sua licença para exercer a cirurgia foi suspensa,
ele tinha um estilo de vida bem agradável, o qual precisava manter.
E, assim, ele envolveu-se com o negócio de partes do corpo.
Em 2002, Mastromarino montou uma empresa -
a Biomedical Tissue Services -
para procurar e vender tecidos humanos
para uso em transplantes.
Tudo de que ele precisava era
um suprimento de corpos barato e confiável
razão pela qual, como todos os bons ladrões de tumbas,
ele virou-se para o ramo das funerárias,
e eles ficaram muito felizes em ajudar.
Em pouco tempo,
ele tinha uma rede de mais de 30 funerárias
entre Nova York e Filadélfia,
prontos para permitir-lhe cortar os corpos sob seus cuidados.
As partes úteis - os ossos, os tendões, a pele -
eram removidas e embrulhadas.
Corpos destinados a ser queimados eram reconstruídos
com tubos de PVC.
Quando eles foram exumados,
os raios-X forneceram amplas evidências
da obra dos ladrões de corpos.
Durante mais de 4 anos,
Michael Mastromarino lucrou aproximadamente US$ 5 milhões,
ao roubar as partes de mais de 1.000 corpos.
Um deles era o de um grande jornalista -
Alistair Cooke.
Em março de 2004, poucas semanas após gravar seu último
Letter From America, Alistair Cooke morreu.
Ele tinha 95 anos e sofria de câncer no pulmão.
Susan Cooke Kittredge é a sua filha.
Ele certamente teria ficado intrigado com essa história.
Ele teria apreciado esse tipo de enlace Dickensiano -
a essência do roubo de corpos que estava acontecendo.
Mas ele jamais teria imaginado que isso aconteceria com ele,
ele teria ficado horrorizado.
O tecido era vendido para companhias de processamento,
as quais o transformavam em produtos médicos esterilizados.
Mas a maior mentira de Mastromarino
foi que ele forjava os detalhes médicos do morto.
Ele tinha 95 anos, estava muito, muito fraco
e tinha câncer nos ossos.
Agora, é de meu entendimento
que eu não posso contrair câncer daqueles ossos,
mas eles não irão fazer-me muito bem.
Na época em que a rede de roubos de corpos foi desmantelada,
mais de 25.000 produtos feitos de ossos roubados
tinham sido distribuídos ao redor de todo o mundo.
Muitos deles tinham sido implantados em pacientes vivos.
Mas há uma solução para o problema, a qual garantiria
uma oferta abundante de tecido humano.
Você poderia impedir esses crimes,
aumentando bastante a oferta,
fazendo com que todos doassem seus corpos?
Acabaria imediatamente com isso, eu acho.
Ao longo da longa história das cirurgias de transplante,
as pessoas tiveram que lutar com problemas de escassez e rejeição.
Não surpreendentemente, desde o princípio,
houve quem buscasse alternativas
que não tivessem esses problemas, em particular.
Mas tal como os pioneiros dos transplantes,
eles logo descobriram que seriam atormentados pela morte,
por desastres e pelo choque de seus egos gigantescos.
De volta aos primeiros dias dos transplantes de coração,
um cirurgião de Houston decidiu que a tecnologia
era a resposta para a escassez de órgãos.
O Dr. Michael DeBakey liderou uma equipe
que criou um coração artificial.
Estávamos pensando que o coração era, simplesmente, uma bomba.
Parecia lógico que se essa era a função principal,
você devia ser capaz de replicá-la mecanicamente.
Nos anos 60, a equipe de Michael DeBakey
estava testando o seu coração artificial em animais.
O principal pesquisador - Domingo Liotta -
foi até o Dr. Michael DeBakey com uma proposta surpreendente.
O Dr. Liotta tinha a ambição de aplicar a bomba em humanos,
e eu expliquei a ele que nós não podíamos fazer isso,
porque ela havia sido usada em 7 vacas,
onde 4 das quais morreram na mesa de operações.
Nós não conseguiríamos obter a aprovação do Comitê.
Eu não percebi que, secretamente,
ele sondou o Dr. Cooley a respeito.
Denton Cooley era um
dos protegidos e colegas do Dr. DeBakey .
Ele viu uma oportunidade
para fazer o primeiro *** em humanos,
uma oportunidade para a qual o cauteloso DeBakey
não estava preparado para usar.
O Dr. Cooley não tinha experiência
com o programa do coração artificial.
Ele não tinha experiência com o laboratório,
jamais fizera um trabalho de laboratório.
Era um bom cirurgião, mas isso era tudo.
O Dr. DeBakey parecia mostrar pouco interesse em usá-lo.
E o Dr. Liotta pensou que ele estava simplesmente
desperdiçando seus anos no laboratório,
ao trabalhar com animais e, assim por diante,
que isso jamais seria testado clinicamente.
Eu pensei e concordei com o Dr. Liotta que chegara a hora
de realmente fazer um *** com ele,
e o único *** verdadeiro
seria aplicá-lo em um paciente terminal.
O paciente foi Haskell Karp, de Skokie, Illinois.
Ele era um homem com um longo histórico de problemas cardíacos.
Em 4 de abril de 1969,
Haskell Karp tornou-se o primeiro homem
a ter um coração artificial implantado -
uma versão do dispositivo
que havia sido desenvolvida no laboratório de DeBakey.
Seu próprio coração fora completamente removido.
Karp foi mantido em uma máquina cardíaco-pulmonar
enquanto o coração artificial era implantado.
A intenção era mantê-lo vivo apenas até que
um doador de coração pudesse ser encontrado.
Excepcionalmente, o Dr. Cooley não procurara qualquer
aprovação para essa operação revolucionária.
Nesses dias, não me sentia como se precissásemos de permissão,
eu precisava do consentimento do paciente.
Isso era essencial, é claro.
E eu acho que se eu tivesse pedido permissão da, digamos,
da agência federal ou do hospital, ou de alguém mais,
eu acho que, provavelmente, ela teria sido negada.
Nós teríamos perdido uma oportunidade de ouro.
Eu estava em Washington, quando eu li no jornal da manhã
sobre o uso desse coração artificial
que o Dr. Cooley havia posto em um paciente.
Eu fiquei chocado.
Eu não sabia que ele havia feito tudo isso secretamente,
que o havia retirado do laboratório.
2 dias após a operação, com Karp ficando cada vez pior,
sua esposa fez um emocionante apelo por um coração humano.
Dentro de 1 dia, um doador de coração foi encontrado.
Mas Haskell Karp morreu logo após ele ter sido transplantado.
A justificativa do Dr. Cooley era que ele estava tentando
salvar a vida desse paciente.
Ora, você sabe, você não pega um aparelho estranho
para salvar a vida de um paciente,
quando não há evidência de que ele o faça.
Na controvérsia que se seguiu,
o Dr. Cooley renunciou à faculdade de DeBakey.
Mas por ser o primeiro homem a implantar um coração artificial,
sua reputação internacional estava assegurada.
Eu acho ingênuo pensar que todos temos
os motivos mais puros para aquilo que fazemos.
Eu gostei da sensação de fazer algo inédito,
algo que ninguém mais havia realmente concebido,
ou que não haviam tido a coragem de tentar.
Você percebe que esse é um problema muito mais complicado
do que parecia inicialmente.
E depois que trabalhamos nisso durante vários anos,
eu realmente cheguei à conclusão de que,
provavelmente, era melhor pararmos de trabalhar
em um coração totalmente artificial.
Mas DeBakey não desistiu da tecnologia.
O fiasco de Cooley simplesmente o estimulou a aperfeiçoá-lo.
Ele voltou-se para o básico,
e desenvolveu um dispositivo chamado LVAD -
uma bomba implantada que impulsionava um coração fraco,
ao invés de substitui-lo.
O primeiro paciente que tivemos foi bem impressionante.
Fomos capazes de aliviar o paciente de seu problema.
Então, isso nos estimulou a prosseguir.
Essa inovação iria prolongar as vidas de milhares de pessoas,
enquanto elas aguardavam por um novo coração.
E como as listas de espera continuavam a crescer,
um grupo de cientistas embarcou em um projeto
que eles esperavam que iria mudar o jogo.
Ele nos proveria com um suprimento ilimitado de órgãos,
por meio da manipulação genética.
O seu trabalho controverso foi envolvido em secretismo,
porque os órgãos não viriam de humanos, mas de porcos -
geneticamente modificados com o DNA humano.
Ao contrário do fracasso anterior com os porcos,
esperava-se que órgãos de porcos geneticamente modificados
fossem semelhantes o bastante ao tecido humano
para minimizar a rejeição.
Se nós pensássemos em usar os porcos como doadores,
pela primeira vez, poderíamos tratar ou mudar, agora, o porco,
de tal modo que o órgão do porco fosse aceito pelo paciente,
ao invés de tentar tratar o paciente
para aceitar o órgão do porco.
Abril de 1995.
Alexion Pharmaceuticals, uma empresa americana
que também criou porcos geneticamente modificados,
está prester a pôr suas teorias em ***.
2 babuínos irão receber os órgãos dos porcos.
Eles são parentes próximos dos humanos
e, se o transplante funcionar,
os cientistas dizem que eles também irão servir nas pessoas.
A idéia é ver quanto tempo os transplantes irão durar.
Normalmente, seriam rejeitados em uma questão de horas.
Se a engenharia genética funcionar,
eles irão durar mais tempo.
O coração e os pulmões do porco são removidos primeiro.
Nós abrimos o abdomen e o peito do animal.
Nós estamos nos preparando para remover o pulmão esquerdo,
o qual nós iremos usar para o transplante de pulmão.
O pulmão do babuíno é, agora, removido.
Eles, então, trazem o pulmão do porco,
o qual estava preservado no gelo.
Quando os vasos sanguíneos são conectados,
permitiremos que ocorra a perfusão.
E esse é o ponto no qual veremos
por quanto tempo ele funciona antes da rejeição.
Oh, Ok, isso está bem.
No peito do babuíno, os pulmões do porco enchem-se de ar.
Isso está funcionando perfeitamente, cara.
- Isso é bom para nós, afinal. - Não mostra sinais de rejeição.
Alexion fez com que os órgãos do porco sobrevivessem por 2 dias
em babuínos que não haviam ingerido drogas anti-rejeição.
Isso é promissor, sugerindo que, com as drogas,
eles iriam sobreviver por muito mais tempo.
Nós ainda precisávamos ver
o coração geneticamente modificado de um porco
batendo dentro de um peito humano.
Mas após décadas de pesquisa,
o primeiro transplante de um porco para um homem
está planejado para mais adiante, nesse ano.
Enquanto alguns cientistas
juram que porcos geneticamente modificados
apontam para um futuro dourado,
outros afirmam que estamos à beira do sucesso
usando uma abordagem bastante diferente,
uma que poderia nos livrar
não apenas do problema da rejeição,
mas também do da escassez de órgãos.
A resposta, ao que parece, está nas células-tronco.
E a visão sedutora oferecida é a de órgãos sob medida
criados no laboratório, usando nossas próprias células.
Dean Third foi diagnosticado com um problema cardíaco raro -
chamada cardiomiopatia dilatada.
Ele vive à sombra de que
seu problema possa matá-lo a qualquer momento.
Deixar as crianças para trás, não vê-las crescer...
é algo realmente difícil de se pensar a respeito, agora,
porque é bastante emocional.
Em 2009, Dean viajou até a Universidade de Minnesota,
para descobrir se
os experimentos revolucionários da Dr. Toris Taylor
tinham o potencial para curar seu frágil coração.
- Você é o Dean? - Oi, sou Dean.
- Eu sou Doris. - Como vai você?
- Entre. - Obrigado.
Esse é o meu laboratório.
O que tentamos fazer foi perceber que
para pessoas com problema cardíaco em fase terminal,
o único tratamento realmente verdadeiro é transplante, certo?
Isso está certo, sim. Foi o que me disseram.
Bem, mas não há corações o suficiente por aí.
Nosso objetivo é tentar construir um coração em laboratório.
Absolutamente fantástico.
Acreditamos que você precisa de células e de um tecido
no qual você possa inserir essas células,
porque células sozinhas em uma placa
não constroem um coração, certo?
Nós dissemos que a natureza já construiu o tecido perfeito,
não temos que aprender a como fazer isso.
Mas olhe isso, esse é um coração de laboratório,
mas ele está branco porque,
literalmente, nós estamos removendo todas as células,
e o que ficou é o que chamamos de matriz extracelular -
a proteína abaixo sobre a qual as células ficam.
Agora, podemos pegar esse tecido
e transplantar as células de volta.
Excelente.
Então, isso é antes - deixe-me mostrá-lo o depois.
Agora, esse só tem uns poucos dias de vida,
então, ainda não está perfeito,
mas você pode ver esse coração, ele não é branco como o outro,
você pode ver que ele está, na verdade, movendo-se.
- Ele está realmente batendo! - Sim.
- Isso é fantástico. - Isso não é legal?
Isso é legal, isso é absolutamente fantástico.
Estou admirado, Doris, estou!
Porque isso é absolutamente fantástico.
Você está pesquisando células-tronco,
mas o que você, na verdade, está fazendo é criar esperança.
Criando esperança para centenas de milhares de pessoas.
Obrigado!
- Quer um abraço? - Sim, eu quero um abraço.
Percorremos um longo caminho
desde os sacrifícios desses primeiros pacientes,
os quais estiveram dispostos a se oferecer pela cirurgia.
E milhões beneficiaram-se
do trabalho de médicos prontos para assumir riscos.
OK. Ele funciona?
É difícil prever aonde, exatamente
a história dos transplantes irá nos levar a seguir.
Mas estou certo de que,
quaisquer que sejam as inovações que surjam,
elas irão criar dilemas morais para os cirurgiões que
estão estendendo as fronteiras para além daquilo que é possível,
e para os pacientes desesperados para enganar a morte.
Traduzido por: VitDoc