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Terceiro episódio do A Pé está começando agora.
Hoje é dia 30 de outubro de 2013, e eu estou em Santiago,
capital do Chile, maior cidade do país,
e moradia de mais de um terço da população chilena.
Então, vem comigo!
Antes de subir no Cerro San Cristóbal,
que inicialmente seria o ponto inicial da minha caminhada,
eu vou falar dessa casa azul aqui atrás
que está praticamente na encosta do morro,
e ela se chama La Chascona.
Ela foi construída em 1953,
e aqui morou o famoso poeta chileno Pablo Neruda
com uma primeiro amante e posteriormente esposa
chamada Matilde Urrutia.
Essa mulher, a Matilde, tinha uma cabeleira gigante e ruiva
e daí veio o nome da casa.
La Chascona, em espanhol, quer dizer descabelada.
Essa casa chegou a ser invadida e parcialmente incendiada
pelas tropas do Pinochet durante o golpe de 1973, mas foi recuperada.
Hoje a La Chascona é um museu e é mantida pela fundação Pablo Neruda,
que também administra as outras duas casas que o Neruda morou no Chile.
Essa área que eu cheguei agora é a do Parque Metropolitano de Santiago.
Ele tem 7 km² e é considerado o pulmão da cidade.
Eu vou subir agora a colina mais alta desse parque,
que é o Cerro San Cristóbal.
Mas, para isso, eu vou dar uma pequena trapaceada no conceito do A Pé.
Não vou subir a pé, vou subir no famoso Funicular de Santiago.
Esse funicular demorou dois anos para ser construído
e foi inaugurado em 1925 pelo próprio presidente do Chile na época.
E aliás, falando em pessoas ilustres,
o Papa João Paulo II andou nesse funicular
na única visita que ele fez ao Chile, em 1987.
O trajeto desse funicular é grande, com 485 metros,
e ele tem três estações:
a estação aqui de baixo, a Pío Nono, onde se entra no funicular;
a estação Zoológico, que é no meio do caminho
e dá entrada ao Zoológico Nacional, que é o nosso próximo ponto;
e a estação Cumbre, que fica lá em cima do morro,
lá em cima do Cerro San Cristóbal.
Desci aqui na única parada do funicular
e estou na entrada do Zoológico Nacional.
Esse zoológico foi inaugurado em 1925,
apenas alguns meses depois do funicular.
Ele é o lar de mais de mil animais,
de exatamente 158 espécies diferentes.
Sem mais delongas, pois todos sabem como um zoológico funciona,
agora eu vou esperar o próximo funicular passar
e, agora sim, vou lá para o topo do Cerro San Cristóbal.
Sempre lembrando que é possível sim subir e descer
o Cerro San Cristóbal a pé,
só que é um caminho de 7 km pelo outro lado do morro,
o que fica totalmente fora da minha rota.
Finalmente cheguei aqui no cume do Cerro San Cristóbal.
Eu estou a 880 metros de altitude e a 280 metros do resto de Santiago.
Esse aqui é o segundo ponto mais alto da cidade,
atrás do Cerro Renca, que fica bem pra lá, fora da minha trajetória.
Por que vale a pena vir aqui?
Para apreciar a paisagem, a vista de Santiago.
Então agora sim, eu calo a minha boca,
e a gente aprecia a vista com calma.
Esse santuário é um dos principais templos da Igreja Católica no Chile
e também um ícone da cidade de Santiago.
Como vocês podem ver, ele é caracterizado
pela imagem da Imaculada Conceição.
A estátua começou a ser construída em 1904,
em substituição a uma antiga cruz gigante
que ficava aqui desde a fundação da cidade, e foi inaugurada em 1908.
Tem 14 metros de altura e pode ser vista
de praticamente qualquer lugar do centro da cidade.
Na base da estátua, tem uma pequena capela.
Eu não falei antes que o João Paulo II
tinha usado o funicular para subir até aqui?
Então, foi nessa pequena capela que ele rezou
e abençoou a cidade de Santiago em 1987 no dia 1º de abril.
O Parque Metropolitano ficou pra trás
e antes de sair desse bairro, que é o Bellavista,
e ir pro próximo, que é o Lastarria,
eu vou passar num lugar muito legal, que é o novo Patio Bellavista.
Esse espaço aqui foi inaugurado em 2006
como parte de um projeto de reforma urbana.
É o Patio Bellavista.
Aqui dentro, várias lojas, restaurantes, bares, galerias de arte,
todos distribuídos em volta de uma pracinha interna central.
Aqui também fica o luxuoso Hotel del Patio.
E esse lugar oferece uma extensa programação cultural
que envolve espetáculos de dança, shows,
exposições de pintura, de fotografia, dentre várias outras coisas.
Um escultor chileno publicou um artigo numa revista
sugerindo que o Chile deveria seguir os moldes europeus
e ter o seu museu de belas artes para reunir
todas as obras que estavam dispersas e espalhadas em outros lugares.
Aí um ano depois, em 1880, a ideia dele foi aceita,
e foi criado o Museu Nacional de Belas Artes.
Ele ocupa esse prédio aqui atrás, o Palácio das Artes, desde 1910,
que foi o ano em que esse palácio foi construído
para comemorar o centenário da independência do Chile.
Esse prédio já sofreu diversas mudanças arquitetônicas,
algumas por vontade própria, e algumas por força maior,
como o terremoto de 1985 que atingiu o Chile,
mas essas mudanças são em sua maioria internas,
externamente ele é praticamente o mesmo
desde o dia em que foi inaugurado.
Agora eu cheguei no bairro Lastarria.
Esse bairro, assim como vários outros bairros de Santiago,
foi construído em torno de uma igreja principal,
que é essa igreja aqui atrás, a igreja de Veracruz.
E esse bairro se tornou um centro cultural, turístico e gastronômico aqui de Santiago.
A rua principal é a rua Lastarria.
Tanto nela quanto nessas outras ruazinhas
tem vários cafés, bares e restaurantes,
o que torna aqui um agradável bairro para dar um passeio a pé.
O destaque desse bairro é a Praça Mulato Gil de Castro,
que fica lá na ponta
e que recebe uma movimentada feirinha de antiguidades
todas as quintas-feiras e sábados.
Foi aqui no Cerro Santa Lucía
que Pedro de Valdívia fundou Santiago em 1541.
Um pouquinho antes, dia 13 de dezembro de 1540,
ele chegou nesse morro pela primeira vez,
e como o dia 13 de dezembro é o dia da padroeira Santa Lucía,
o morro foi batizado com o nome dela.
Ao longo dos séculos, o Cerro Santa Lucía foi revitalizado várias vezes,
mas o grande salto ocorreu na década de 1870
quando o então prefeito da época construiu esse terraço,
a fonte, o lago e todas essas outras coisas.
Esse morro tem "apenas" 69 metros de altura.
Ele é bem menor que o Cerro San Cristóbal lá do início da caminhada,
mas também proporciona uma bela vista da cidade.
A construção da Igreja de São Francisco começou em 1575,
ainda com o trabalho dos índios,
o que torna a igreja a construção mais antiga
ainda existente aqui em Santiago.
A igreja já foi ampliada e reformada diversas vezes,
principalmente devido aos terremotos que vira e mexe atingem o Chile,
mas a torre atual, com o sino e os relógios, é de 1857.
A igreja também abriga um museu
que tem vários objetos valiosíssimos da época colonial.
O Teatro Municipal é o principal palco no Chile inteiro
para teatro, ópera, ballet, música clássica…
Ele foi inaugurado em 1857
e treze anos depois ele foi destruído por um incêndio
depois do término de uma apresentação de uma cantora de ópera.
Ele foi reconstruído e reinaugurado logo depois.
Essa sala abriga 1500 pessoas e mais 250 no andar superior.
E só mais uma curiosidade:
as cortinas que fecham o palco são feitas com um tecido especial,
ela foi feita na Alemanha, é importada,
e pesam 1200 kg!
O Mercado Central foi erguido em 1872
para substituir uma antiga praça que ficava aqui,
chamada Plaza de Abastos, que também tinha alguns vendedores.
Essa praça, infelizmente, acabou sendo destruída em um incêndio - também.
Esse prédio é considerado uma das construções mais belas daquela época.
Ele é importado da Escócia, e inclusive o mercado inteiro foi montado
em Glasgow, e depois o trouxeram por partes para Santiago.
Hoje aqui é um mercado disputado e um importante centro de compras.
As pessoas vêm aqui para comprar o seu peixinho,
ou então para jantar junto com a família.
Cheguei na Plaza de Armas.
Essa praça surgiu junto com a fundação da cidade,
dia 12 de fevereiro de 1541,
seguindo a tradição espanhola de reservar um quarteirão da cidade
como espaço para desfiles.
Hoje, depois de sucessivas reformas, eles ampliaram o espaço ao ar livre.
Hoje a praça está bem arborizada e virou um atrativo cultural,
e esse espaço atrai vários artistas do país para se apresentarem aqui.
O irônico é que mostra os dois lados da moeda:
hoje é um espaço cultural, antigamente eles usavam esse espaço
até para executar os condenados na forca.
Santiago foi projetada para que todos os seus quarteirões
fossem quadrados igual a um tabuleiro de xadrez
e para que a Plaza de Armas fosse o centro de tudo isso.
Não é à toa que dos próximos lugares que eu vou mostrar agora,
boa parte deles fica em torno dessa praça aqui.
Aqui no cantinho da Plaza de Armas fica a Municipalidad,
que é a sede da prefeitura de Santiago.
Lá no século XVI, nesse lugar ficava o Cabildo,
que é o nome da sede administrativa da época colonial.
Do cabildo, o lugar passou a ser a prisão da cidade,
mas depois os presos foram remanejados para outros lugares.
O lugar veio abaixo, construíram esse lugar novo,
e desde 1895 aqui é a sede da prefeitura de Santiago.
Aquele brasão que vocês estão vendo lá em cima
é um presente dado pela Espanha para o Chile,
e o Chile colocou na fachada do prédio.
Ao lado da prefeitura, tem esse prédio amarelo
que é o Palacio de la Real Audiencia.
Esse prédio já testemunhou vários acontecimentos importantes
da história do Chile, sendo o principal deles a independência,
por isso ele também é conhecido como Palácio da Independência.
Esse lugar também já foi sede do Congresso Nacional,
já foi local de trabalho do Bernardo O'Higgins,
que foi o libertador do Chile e também o primeiro presidente do país,
além de ter sido também a sede da prefeitura e dos correios.
De 30 anos pra cá, o palácio está abrigando o Museu Histórico Nacional,
que é um museu muito legal porque tem um acervo cronológico
que mostra a história do Chile
desde a época colonial até o golpe militar de 1973.
Essa aqui atrás é a Catedral Metropolitana.
Ela foi construída em 1775,
e se vocês acham que ela já é velha o suficiente,
mal sabem vocês que essa já é a quinta igreja
que foi construída nesse lugar.
As quatro primeiras foram destruídas.
Por incêndios? Não, por terremotos.
Ela é considerada a catedral mais importante do Chile inteiro.
Dentro dela, o corredor tem 90 metros de extensão
e ela é dividida em três naves,
que são essas alas onde os fiéis se reúnem.
Em uma dessas alas, tem os restos mortais da Santa Teresa de los Andes,
que foi a primeira santa chilena,
e também, por incrível que pareça,
os corações dos heróis chilenos que lutaram
na Batalha de Concepción durante a Guerra do Pacífico,
que foi uma guerra no final do século XIX
que o Chile lutou contra a Bolívia e o Peru.
Esse museu aqui atrás, hoje está em obras,
mas normalmente ele é o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana.
Ele é uma iniciativa pioneira na América Latina
e é dedicado unicamente aos povos da América
antes da chegada de Cristóvão Colombo.
As coleções desse museu vão desde os povos antigos mais famosos,
como os Astecas, os Incas e os Maias,
mas também aborda povos locais chilenos, como os conhecidos Rapa Nui,
da Ilha de Páscoa, que pertence ao Chile.
O museu é dividido em seis regiões culturais,
incluindo uma pequena seção que fala sobre nós, sobre o Brasil.
Ela é dedicada exclusivamente à Amazônia.
A rua que eu vou agora me traz lembranças
do primeiro episódio do A Pé, em Buenos Aires.
Ela é a versão chilena da Calle Florida,
que é a principal rua da Argentina unicamente para pedestres.
Essa região perto da Plaza de Armas passou por uma reforma
que incluiu o fechamento de 12 quadras para circulação dos veículos.
Essa aqui é a rua principal, que é a Paseo Ahumada.
Essa é considerada a rua mais cara da América Latina.
Cariocas, esqueçam o Leblon de vocês.
Paulistas, esqueçam Higienópolis. É Paseo Ahumada.
Por ser uma rua unicamente para pedestres,
o comércio se desenvolveu muito aqui nessa região.
E estima-se que passam por aqui mais de 2 milhões de pessoas por dia.
Na esquina da Ahumada com a Nova York, que fica para lá,
eles instalaram um telão gigante
que transmite os jogos mais importantes para os chilenos,
como os jogos da seleção de futebol, ou então partidas de tênis.
O preservadíssimo Palacio de La Moneda
é a atual sede da presidência do Chile.
Esse palácio foi construído ainda pelos espanhóis,
no final do século XVIII, para ser a casa de cunhagem,
a Casa da Moeda, por isso o nome Palacio de La Moneda.
Ele permaneceu sendo a Casa da Moeda até 1929.
Em 1973, aconteceu um grande golpe de estado aqui no Chile
liderado pelo Augusto Pinochet,
e o presidente do Chile, o Salvador Allende,
acabou morto dentro desse palácio.
Até hoje não se sabe se foi pelas tropas dos inimigos
ou se ele cometeu suicídio,
embora a perícia mais recente tenha apontado mesmo pro suicídio.
Aqui na frente do palácio tem essa bela praça
e aqui tem estátuas de vários presidentes do Chile,
com destaque para a estátua do Salvador Allende.
Esse é o Museu da Memória e dos Direitos Humanos
e ele homenageia as vítimas de violações de direitos humanos
durante a ditadura do Pinochet, que foi entre 1973 e 1990.
Ele foi construído em 2010
para comemorar o bicentenário da independência do Chile.
O projeto arquitetônico desse museu, que por sinal é muito bonito,
foi escolhido através de um concurso
e o vencedor foi o projeto de um grupo de arquitetos brasileiros.
Esse museu tem três andares e tem vários artigos sobre o assunto,
incluindo jornais, revistas, cartas, fotografias,
documentos, documentários em vídeo,
além de uma biblioteca digital e de um espaço para atividades culturais.
O Estádio Nacional é de 1938
e tem capacidade para 47 mil espectadores.
Ele foi o principal estádio da Copa do Mundo de 1962,
que foi disputada no Chile e vencida por nós, brasileiros,
e na Copa do Mundo ele sedeou 10 jogos.
O Brasil jogou dois jogos aqui:
a semifinal, quando a gente venceu os próprios chilenos por 4 a 2,
e a final, quando a gente ganhou da Tchecoslováquia por 3 a 1.
A historia desse estádio não se resume apenas a eventos esportivos.
Acontecem muitos shows aqui.
E, durante a ditadura militar,
o estádio inclusive foi utilizado como centro de detenção.
Passei a conversa no guarda que estava aqui na frente
e entrei aqui no Estádio Nacional
só para poder me despedir de vocês aqui de dentro.
Aqui então se encerra a minha caminhada.
Muito obrigado a todos que assistiram.
Valeu, e até a próxima!