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Nós estamos mais uma vez aqui no Clube Brasil, em pleno festival Europalia
e hoje nós conversamos com uma pessoa muito especial.
Ela é uma baiana que está em turnê pela Europa,
e como dizia uma das músicas que ficou muito famosa na voz dela, ela estava de viagem e passou em Barreiras.
Mas, desta vez, ela esta de viagem e passou em Bruxelas e agente conversa com Carla Visi.
E ela está vinda com a corda toda, e todas as vezes que ela vem aqui eu falava: - E ai vai cantar? Uma musica atrás da outra, ao vivo aqui no planeta? E ela vou e veio.
É um prazer, Carla, recebê-la em Bruxelas.
Poxa estou super feliz. É tão bom quando a gente chega em um lugar
o nosso país está sendo homenageado e tão bem apresentado.
Eu passei por Portugal, passei por Irlanda, Londres, Itália, Suíça e agora to aqui
Carla, você está com um novo trabalho aqui né?
Essa turnê tem o objetivo de apresentar o Encanto Mestiço, fala um pouco para a gente desse espetáculo.
O "Encanto Mestiço" para mim é um prazer está fazendo, é claro todo artista diz isso né?
Cada filho tem um sabor especial, cada disco, cada show,
mais o Encanto Mestiço vem com uma carga genética sabe? Diria o nosso querido Jaime Sodré.
vem com uma carga, um compromisso com a ancestralidade.
Na Bahia tudo que a gente faz é misturado mesmo. A gente já é mestiço por natureza.
Você pode ser branco ou ***, mas com certeza você está com esse sangue bem misturado,
por que lá foi onde o Brasil começou e onde as misturas aconteceram.
Então o encanto mestiço representa um pouco isto.
Nos pedimos licença as casas de terreiros, aos cambomblés e as rodas de samba
e pegamos um pouco de tudo isso e colocamos na nossa música.
O eixo principal que nos liga a toda essa história do Encanto Mestiço é exatamente o universo percussivo da Bahia.
São as claves rítmicas afro baianas.
Então nós passamos por diversos rítmos afro baianos
Então que tem tudo isso nesse trabalho
com um detalhe: sem percussionista.
Os percussionistas ficaram irados comigo,
mas a idéia foi de Letieres Leite, que é o maestro da Orquestra Rumpilezz
Eu implorei a ele para compor para o formato canção, para voz.
Se você não sabe o que é o formato canção, vou dar uma aula aqui agora.
Coisa que aprendemos na Faculdade de Comunicação onde estivemos juntas há muito tempo.
Onde fomos colegas.
O formato canção é aquele que conta uma história, tem refrão, conta outro pedaço da história, tem refrão de novo.
e a Orquestra Rumpilezz, que é super premiada, usa a voz também como mais um instrumento, sem palavra,
sem contar nada, em todo o caso as nossas canções do "Encanto Mestiço" contam histórias
que são contadas em cima exatamente destas claves rítmicas tão nossas e que precisam
precisam chegar ao conhecimento do Brasil e do mundo, que muita gente não conhece.
E é uma forma da gente pensar o tempo inteiro nisso, se reconhecer enquanto afrodescendente
se reconhecer nessas músicas, nessas formas de manifestações artísticas.
Eu acho que, às vezes, na nossa cidade, ainda falta um pouco de reconhecimento
por parte de uma parcela de nossa população, mais digamos que isto está mudando
e trabalhos como o seu certamente contribui muito pra isso.
Eu achou muito interresante tudo isso por que quando eu lembro de você,
principalmente ainda na época do "Cheiro de Amor", eu me lembro muito do Quixabeira
que era um trabalho, uma cultura, que já existia há muitos anos
e que de repente ficou muito famoso na sua voz linda. Alguma relação pessoal?
Muito forte. Eu achou que a Quixabeira foi o começo de tudo isso,
por que cantar o "Axé" no carnaval, nos trios elétricos, já é muito maravilhoso,
já é muito mágico, mais quando você resgata alguma coisa
que já está no imaginário popular há muito tempo
inclusive foi "Carlinhos Brown" que resgatou isso, não foi mérito meu.
E a partir daí eu vi na "Timbalada" e gravamos um disco ao vivo
esse foi um disco realmente muito positivo
foram três milhões de cópias vendidas e fez desta música "quixabeira" uma marca minha
Por que aonde eu vou, além da música "Vai sacudir, vai abalar"
a "quixabeira" me dá aquele respaldo de baiana que vem do "Recôncavo"
que samba no pé, que bate na palma da mão.
Você está viajando o mundo e obviamente, depois de tantos bilhões de discos vendidos,
as pessoas devem sempre associar você também ao "Axé"
Tatuagem? o "Axé" é como uma tatuagem daquelas que não é possível tirar?
Olha é uma tatuagem e vai ficar para sempre.
Isso é carnaval ,o resto é história
Está tatuado para sempre. Tem um fator importante no "Axé".
Quando eu terminei a graduação jornalismo, meu trabalho foi sobre a história do "Axé",
então foi um momento muito importante da música baiana, dali surgiram grandes artistas,
e principalmente ouve a formação de um time de músicos, arranjadores e compositores
que é bem peculiar e único nosso.
então a Bahia passou a ser um pólo cultural importante, um pólo musical mais importante ainda
e atraímos grandes músicos para lá, então eu achou que o "Axé" foi muito importante
e ainda é muito importante para a música da Bahia,
e eu tenho a tatuagem com o maior orgulho. Apenas vivemos momentos.
Eu já cheguei aos 40, mais de 20 anos de música, então já é um outro compromisso
com a própria carreira e com a nossa cultura brasileira e eu quero contribuir mais.
Já dei a minha contribuição no axé e agora quero contribuir de outra forma, pronto.
Então agora a gente está na fase "Encanto Mestiço ".
Você poderia cantar um pouco para a gente, mesmo sem músicos?
Muito obrigada, Carla, foi um prazer ter você aqui em Bruxelas
Eu espero que os shows sejam um sucesso. Eu tenho certeza que vai ser.
Dani, adorei ver você. Eu me senti em casa.