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Nesta aula iremos abordar os MOVIMENTOS MESSIÂNICOS ocorridos na República Velha. Dentre eles
os mais famosos são a Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado.
Movimentos messiânicos foram os movimentos rurais ocorridos no Brasil durante a República
Velha. O Messias neste caso era uma liderança religiosa que realizava suas pregações nas
regiões isoladas e miseráveis pelo interior do Brasil. Ao fazer uso de um discurso religioso
o Messias apresentava aos trabalhadores do Sertão a possibilidade de melhores condições
de vida. A força dos movimentos messiânicos se deve em grande parte a um contexto de crise
social em que foi implantada a república brasileira. Houve uma alteração nas relações
entre o Estado e a Igreja Católica e a população pobre e analfabeta de todo o Brasil não compreendia
o significado desses acontecimentos.
Além disso, esta população carente era intensamente explorada pelas elites que comandavam
a política local. Foi neste contexto que ocorreu a Guerra de Canudos, tema que iremos
explorar a partir de agora.
A Guerra de Canudos teve como líder Antônio Conselheiro. Ele foi o fundador do Arraial
de Belo Monte, localizado na Bahia. Belo Monte foi uma comunidade que reuniu cerca de 20
mil sertanejos.
Pelo fato de Belo Monte ter atraído uma população tão grande e ter retirado mão-de-obra barata
dos proprietários de terra da região a comunidade passou a representar uma ameaça ao poder
dos coronéis. Antônio Conselheiro ficou muito famoso e conquistou autoridade entre
os sertanejos. Em outras palavras, o beato Antônio Conselheiro passou a disputar poder
religioso e político com os padres e coronéis do sertão da Bahia. A estratégia dos homens
poderosos da região foi transformar Belo Monte em uma ameaça à República brasileira.
A tal ameaça era justificada pelo fato de Antônio Conselheiro criticar publicamente
o casamento civil e a separação entre Igreja e Estado. Antônio Conselheiro também demostrava
ser contrário ao fim da monarquia brasileira. Depois de alguns conflitos locais envolvendo
a comunidade liderada por Antônio Conselheiro e o governo da Bahia (como por exemplo, a
recusa em pagar os impostos), Canudos ganhou repercussão nacional (principalmente na imprensa
do Rio de Janeiro e de São Paulo) e passou a representar um perigo para a continuidade
da República brasileira.
A Guerra de Canudos foi marcada por quatro expedições militares enviadas para combater
os "perigosos sertanejos da região". As duas primeiras expedições foram enviadas pelo
governo baiano, contando com 113 e 600 soldados, respectivamente. As duas expedições foram
derrotadas de forma humilhante pela comunidade de Canudos. O Governo Federal interferiu no
conflito para defender as oligarquias do Sertão Baiano. Foi enviada pela terceira vez uma
expedição, desta vez contando com 1300 militares, que por sua vez, foram novamente derrotados.
Após esta sucessão de derrotas humilhantes para os sertanejos de Canudos o Governo Federal
passou a tratar o assunto com muito mais cuidado. Vencer e destruir Canudos passou a ser uma
questão de honra. A quarta e última expedição contava com 10 mil militares. Neste último
episódio o arraial de Canudos foi colocado no chão e as oligarquias locais se mantiveram
no poder, explorando a miséria das famílias de trabalhadores sertanejos.
A partir de agora o nosso foco é a Guerra do Contestado.
A Guerra do Contestado ocorreu na divisa disputada pelos estados do Paraná e Santa Catarina.
Suas características são muito semelhantes aos eventos ocorridos em Canudos. Na Guerra
do Contestado o líder messiânico foi representado pelo monge José Maria. Assim como fez Antônio
Conselheiro, o monge José Maria também demonstrava contrariedade com a implantação da república
e insatisfação com o fim da monarquia. Toda essa contrariedade tinha como elemento central
a perda da influência da Igreja Católica na política e na sociedade brasileira. José
Maria reuniu uma significativa população de sertanejos pobres próximo ao município
catarinense de Curitibanos. Um dos elementos centrais para o início da Guerra do Contestado
foi a construção da ferrovia Brazil Railway Company, que ligaria São Paulo ao Rio Grande
do Sul. Como parte do pagamento pela construção da ferrovia houve a doação de um imenso
terreno dos dois lados da linha férrea à companhia construtora. Por esta razão os
sertanejos e pequenos proprietários que viviam na região foram expulsos das terras e passaram
a integrar a comunidade liderada por José Maria. Entre 1912 e 1916 expedições militares
formadas pelas forças policiais estaduais e por homens do exército colocaram fim à
Guerra do Contestado, deixando como resultado a morte de centenas de sertanejos. Em nosso
próximo vídeo iremos analisar os casos do Padre Cícero e do Cangaço.