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Qual é a sua velocidade neste instante?
Esta pergunta parece fácil.
Somos tentados a responder:
“Eu estou parado.”
Pensando melhor,
talvez deva-se levar em conta o movimento da Terra.
Uma segunda resposta seria:
“Cerca de 30 km/s em torno do Sol.”
Você lembra ter aprendido que o Sol
gira em torno da Via Láctea
e esta, em torno do Grupo Local de galáxias,
e o Grupo Local move-se dentro do Aglomerado de Virgem,
e o Aglomerado de Virgem move-se no interior de...
Não é fácil dizer
qual a sua velocidade neste instante.
Quando o Controle da Missão informa aos astronautas
a velocidade que desenvolvem,
fica subentendido um padrão de repouso.
No início da viagem,
as velocidades são medidas em relação à plataforma de lançamento.
Mais tarde, quando a plataforma de lançamento
é apenas mais um local arbitrário
sobre a superfície da Terra que gira,
as velocidades são dadas em relação
ao centro imaginário da Terra, idealmente não girante.
Em sua jornada à Lua,
os astronautas da Apolo tiveram diculdades
de responder a pergunta:
“Qual é a sua velocidade neste instante?”
A velocidade de afastamento da Terra é uma coisa,
e a velocidade em direção à Lua é outra muito diferente.
Isto é porque a Terra e a Lua
movem-se uma em relação à outra.
Ah, claro!
Velocidade é uma quantidade relativa.
Quando o Capitão Kirk pergunta ao Tenente Sulu
se a Nave Estelar Enterprise atingiu velocidade warp 7,
Sulu responderia:
“Relativa a quê, Capitão?”
Esta resposta insolente
pode criar problemas aos oficiais subordinados da Frota Estelar,
porém é a única boa resposta
à pergunta: “Qual é a sua velocidade neste instante?”
Isto é o básico falando de relatividade.
Não a sofisticada relatividade de Einstein,
mas a velha e boa (e ainda correta)
relatividade de Galileu.
Galileu parece ter sido a primeira pessoa
a compreender que não existe
uma velocidade absoluta.
As velocidades são relativas.
Isto quer dizer que as velocidades somente têm significado
quando em função de um referencial.
Supõe-se que tal sistema referencial esteja em repouso,
Então, temos que perguntar novamente:
“Em repouso, em relação a quê?”
Porque até mesmo o conceito de repouso
perdeu qualquer vestígio de significado absoluto.
A velocidade é relativa e o repouso é relativo.
A velocidade da Terra é de 30 km/s em relação ao Sol.
A velocidade da Enterprise é warp 7
em relação ao centro da Via Láctea.
Sua velocidade é zero em relação à sua poltrona.
Mas dependendo do local onde você estiver sentado,
ela será da ordem de milhares de km/h em relação ao centro da Terra.
Quando erguemos a sobrancelha e perguntamos:
“Mas qual é realmente a velocidade da Terra?”,
imaginamos a Nave Espacial Terra
singrando o oceano do espaço
enquanto orbita o Sol.
Mas o espaço não é um oceano.
Não é algo substancial, como a água.
O espaço não é uma coisa.
O espaço é coisa nenhuma.
O espaço é o nada.
Você pode se deslocar entre dois pontos no espaço,
digamos entre a Terra e Marte,
mas não pode deslocar-se pelo espaço.
Nada há através do que se mover.
É o mesmo que tentar dizer quanto pesa um buraco.
Um buraco pesa exatamente nada,
porque um buraco é nada.
Ele é um vazio. Assim é o espaço.
Deslocar-se em relação a nada não faz sentido.
Os conceitos de velocidade e de repouso
têm apenas significado relativo.
São absolutamente sem sentido.
Significam alguma coisa
apenas em relação a referências artificiais
escolhidas arbitrariamente.
Se, algum dia, dentro da sua nave espacial,
você observar, pela janela lateral, digamos,
que uma estação espacial passa velozmente,
a uma velocidade constante,
não há como saber quem de vocês
está realmente em movimento.
Na verdade, nenhum dos dois está em movimento
porque nada existe de real quanto à velocidade constante.
Velocidade constante em uma linha reta
tem apenas significado relativo,
uma espécie de realidade relativa.
Isto quer dizer que todo movimento é relativo?
Não! Alguns movimentos têm apenas significado relativo,
mas outros movimentos têm significado absoluto,
são absolutamente reais.
Por exemplo, a velocidade constante é relativa,
mas a variação de velocidade é absoluta.
Chamar alguma coisa de absoluta, em ciência,
quer dizer que não são usados padrões arbitrários
em sua medida.
É mensurável de modo inequívoco.
Quando sua espaçonave faz a ignição dos motores,
sua mudança de velocidade não deixa dúvidas.
Você a sente no estômago,
e os sensores de sua nave podem medi-la.
Do lado de fora da janela,
a estação espacial que passa
parece mudar de velocidade,
mas os tripulantes dentro dela não o sentirão.
Nenhum sensor da estação espacial pode medir isso.
Você está mesmo mudando de velocidade,
e eles (na estação espacial) não estão.
Há alguma coisa totalmente real
nas mudanças de velocidade.
Vale o mesmo para a rotação.
Se sua espaçonave estiver girando, você pode sentir
e os sensores de sua nave podem medir isso.
A estação espacial lá fora
pode parecer girar ao redor de sua nave,
mas é você quem se sente mal,
e não o pessoal da estação espacial.
Você está girando de verdade
e eles, na verdade, não.
A rotação é real de maneira absoluta.
Portanto, alguns movimentos são relativos, enquanto outros não o são.
Não há verdade inerente à velocidade constante,
mas as mudanças de velocidade são profundamente reais,
tanto quanto as rotações.
Temos que pensar com cuidado
em nossa análise da experiência quotidiana,
para identificar o que é profundamente real.
Já que podemos ser enganados pelas nossas percepções
tão básicas como a velocidade,
talvez toda percepção mereça uma análise minuciosa.
Foi isto que inspirou Einstein
em seus "insights" incríveis
referentes à velocidade da luz e à viagem à frente do tempo.
Saber como identificar
o que é profundamente real
é um trabalho duro e importante.
Se um policial parar você por correr demais
e perguntar: “Você sabe qual era sua velocidade?”
Uma resposta cheia de "insight", mas talvez imprudente,
seria: “Relativa a quê?”
Então, sentado no banco traseiro do carro de polícia,
sentindo-o acelerar em direção à cadeia,
você pode acrescentar:
“Mas algumas coisas são absolutas!”