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Andes Água Amazônia
Um filme Equador – Brasil
Direção: Marcio Isensee e Sá
Entre os Andes e a Amazônia acontece um dos mais importantes
ciclos hidrológicos que produz uma quinta parte da água doce do planeta:
Massas de ar úmido, produzidas na Amazônia, são arrastadas aos Andes,
onde esfriam enquanto sobem pelas encostas, precipitando-se em forma de chuva.
Este processo natural implica que qualquer alteração ambiental que afete uma destas regiões,
inevitavelmente afetará a outra e a seus habitantes, sistemas produtivos,
práticas culturais e inclusive a sobrevivência do homem no planeta.
A presença da Cordilheira dos Andes no Equador
é determinante para entender o que acontece na região amazônica.
A cordilheira determina os padrões de precipitações na Cordilheira Oriental,
e todas as massas de ar que chegam desde a baixa Amazônia
do Brasil especialmente e do Peru
são as que quando chocam com os Andes equatorianos na Cordilheira Oriental
provocam grandes quantidades de precipitação.
desta maneira se explica o volume de água que observamos em zonas mais baixas
como Puyo, Tena, e em Misahualli,
são rios que nascem em Antisana, em Cotopaxi,
que nascem em vários complexos de zonas úmidas como Llanganates
que terminam em zonas baixas, formando nossos principais rios
como o rio Napo, Aguarico, Puyo, Pastaza, e o rio Zamora, na parte mais baixa.
O páramo é um ecossistema de alta montanha
situado desde a linha de matas andinas até onde existe vegetação abaixo das neves eternas.
Por seu grande potencial de armazenamento e regulação hídrica
são ecossistemas estratégicos responsáveis pelos nascimentos dos principais rios.
Esponjas de água ou “almofadas”: são as plantas que captam qualquer quantidade de água.
Quando tem bastante gado na região, são compactadas e ficam duras,
um solo duro, como uma estrada.
E o que acontece? Chove e a água corre, não a absorve.
Não fica como aqui, onde temos bastante água dentro.
Porque não temos muito gado aqui no setor.
E tem setores com bastante gado que já está compactado.
Choveu e choveu, a água corre como riachos, e em dois dias já está tudo seco.
Subindo desde a Amazônia central do Equador, a Cordilheira dos Llanganates dá as boas-vindas aos Andes,
lugar onde nuvens carregadas de água formam numerosos córregos que dão vida aos rios Ana Tenório e Mulatos,
principais bacias do Parque Nacional Llanganates.
Neste percurso a água atravessa páramos e florestas nubladas
até chegar às florestas úmidas tropicais da Amazônia, com o nome de Rio Napo.
O rio se chama Ana Tenório,
depois se une com o Langoa e já se chama Rio Mulatos.
Aqui vemos que desce água de todo lado das vertentes.
O que mais tem aqui é água.
Lá em cima onde nasce o rio,
antes morava uma família,
a mulher se chamava Ana, e o marido acho que era Tonho.
Por isso batizaram o rio com Ana Tenório.
Na zona amazônica os rios que vêm desde os Andes
são os rios mais usados ou são os de maior fluxo e são os que as pessoas mais utilizam
Então existe uma conexão direta entre o que acontece na parte alta dos Andes e o que vai acontecer na Amazônia andina.
Tudo o que se faz nas águas de cima, beneficia ou prejudica as águas de baixo.
Não existe um controle de desmatamento nas margens dos rios,
além das atividades como o aumento da fronteira agrícola,
pecuária, pastos, atividade petrolífera e de mineração.
Grande parte da água que vem até aqui está dentro de áreas de proteção.
Estão em Llanganates, no Parque Nacional Cayambe Coca, Parque Nacional Sumaco,
porém, não existe uma proteção real destas bacias.
A pressão sobre os páramos cada vez é maior.
Cada vez tem menos páramos disponíveis, são transformados em pastagens, em zonas agrícolas.
Em alguns casos também existem explorações minerais potenciais em muitas zonas dos páramos.
Isso provoca que este ecossistema, em geral no Equador, seja muito sensível
e possa ter muitos problemas no futuro.
O Rio Napo entra para a história que podemos conhecer com os povos Omagua.
As peças encontradas na cultura Napo
nos falam do florescimento de uma importante civilização
que se desenvolve desde o ano 900 de nossa era até 1600.
É uma cultura fluvial
que vive nas margens do Rio Napo e seus afluentes principais.
Os Omagua vinham desde o Brasil,
navegando pelos grandes rios e chegaram até as cabeceiras, até o rio Suno.
São grandes navegantes, viajam por todo o rio e pelas cabeceiras,
aproveitando todos os imensos recursos que a floresta oferece.
Estamos falando de um povo altamente civilizado, uma sociedade com conceitos espirituais bem profundos.
Procuravam o que eles chamavam de “terra sem mal” que está sempre ao Oeste,
por isso a tendência destes povos amazônicos era subir, subir pelo Rio Napo.
Em suas cerâmicas aparece permanentemente a relação com a água, com os olhos d´água,
a relação com os peixes, com os animais das margens que são muito importantes como o jacaré, a tartaruga.
Esses animais se transformam continuamente ou se movem entre diferentes reinos.
Depois dos Omaguas vieram os espanhóis, os conquistadores.
Que entraram por cima, toda a ocupação da Amazônia entrou por cima.
Os naporunas eram uma mistura de povos, cada um com seu dialeto,
e o Rio Napo é o lugar onde todas essas culturas que citamos se tornaram uma só:
o naporuna atual.
Antigamente nossos antepassados, mulheres e homens,
se convertiam em jibóias e iam pelo rio e apareciam em qualquer parte.
Como conta minha mãe, tudo isso era realidade,
se convertiam em onças, em jiboias, em golfinhos.
A gente se assentou em toda a zona de Archidona, Napo, até Nuevo Rocafuerte, na fronteira com o Peru,
somente pelas margens do Rio Napo.
E a maioria das pessoas é evangélica.
Antes das religiões, nossos deuses eram o Sol, a Lua, as árvores grandes, as lagoas e a anaconda.
Nesses tempos meus antepassados diziam que quando viam um redemoinho muito forte, existia uma anaconda ali.
O Rio Napo é um dos elementos fundamentais da cosmovisão naporuna.
A criação se deu através do rio,
existe um mito muito interessante, chamado “a árvore dos peixes”,
A "árvore dos peixes" que foi derrubada, e se converteu no Rio Napo.
Antes o Rio Napo era bem mais caudaloso, mas agora mudou bastante.
Mudou também a organização das comunidades, o rio mesmo.
Naquele tempo havia bastante caça e pesca,
e meu pai conhecia tudo, a pesca, o ouro que havia no Napo.
Antigamente, antes dos anos 1970, tudo aqui era incerto,
porque não tínhamos meios de comunicação, nenhum meio.
Apenas tínhamos o voo da TAO que chegava em um aeroporto que os missioneiros construíram.
Esta comunidade nunca teve água antes.
A partir de 1970 começaram a fazer estudos e a colocar as redes de água.
Todo o mundo pegava a água do rio.
Depois de mais de 15 ou 20 anos nos deram água encanada, ajudados pelo município.
Com isso já estamos mais ou menos, mas ainda não é água segura.
Antes se viam vários peixes, bagres, as pessoas pegavam bastante, centenas.
E era tudo para comer.
Agora caça e pesca já quase não tem.
Agora as pessoas trabalham cultivando cacau e milho.
Quando éramos crianças pequenas, a gente tomava banho tranquilamente no rio, não acontecia nada,
não sentíamos o que sentimos hoje no corpo.
Era mais limpo o Rio Napo, a gente até tomava essa água.
Pegávamos a água e preparávamos a chicha,
tomando depois sem medo, sem acontecer nada, mas agora não.
Para conseguir a água as pessoas iam aos riachos pequenos,
faziam buracos na margem e aí brotava a água pura, e a pegavam.
Nos entregaram um tanque a cada beneficiário, depois de uma capacitação.
Fomos capacitados em como instalá-los e como fazer a manutenção.
Como nos deram estes equipamentos, ajuda bastante para cozinhar e para tomar.
também às vezes como não tem água, usamos para lavar.
Nossos companheiros pegam água diretamente do Napo para consumir, tomar banho, para tudo.
e se vocês vissem o que acontece a partir aqui, desde a nossa província,
não está bem planejado, os esgotos vão diretamente ao rio.
A sujeira que vem da cidade vai diretamente à água.
Para mim o principal problema é a água.
Dos 37 blocos petrolíferos que existem no Equador, oito deles estão localizados na província de Orellana.
La Joya de los Sachas é uma das cidades mais exposta a esta atividade,
aqui a presença de petróleo é evidente nos oleodutos e poços de extração localizados perto de áreas habitadas.
Vieram aqui jogar águas contaminadas com químicos e resíduos de petróleo.
Tem tanta gente que toma banho rio abaixo, tanta gente que pega água.
Como vamos permitir que isso continue acontecendo?
- Esta água foi tirada daqui, do que jogaram aqui... - água com químico.
- Isto é a água com que lavam os... - Poços.
- Águas de químicos... - Sim, isso vieram jogar aqui.
Lamentavelmente as leis têm sido muito frágeis, muito permissivas com certas atividades extrativistas.
todas estas atividades especialmente aqui na zona petrolífera
não tem um controle real da entidade reguladora, que é o Ministério do Ambiente.
Houve grandes catástrofes ecológicas no Rio Napo,
mas a maior catástrofe ecológica é a da Texaco, que ainda está em processo.
O derramamento que a Texaco fez é incrível,
jogava tudo nos rios.
O tema das petroleiras nas nossas comunidades
não deixou melhores coisas do que somente afetar o meio ambiente,
contaminação, e ensinar aos nossos companheiros outra forma de vida.
O dano ambiental não é reparado.
Esses danos ambientais ficam ai. As pessoas continuam sendo afetadas
pelo dano causado por petróleo, por diferentes químicos.
Então fica difícil.
As doenças mais frequentes aqui são problemas de estômago, problemas respiratórios, problemas de pele.
Muitas famílias pegam água do rio,
deste Rio Guamayaco que rodeia a cidade,
que tem até 400 vezes mais contaminação de metais pesados que causam cáncer,
e que nem sequer os animais deveriam usá-lo.
Onde entra a atividade petrolífera, em qualquer de suas fases, desde a exploração,
primeiro que acontece é a desintegração do núcleo organizacional de uma comunidade.
Em vez de nos superarmos, nos fizemos pedaços com o tema petroleiro,
dividindo as comunidades.
Começa a se dividir a comunidade pelo dinheiro,
porque às vezes a empresa petroleira pega o presidente da comunidade e lhe diz: “você tem que fazer isto”, “dizer aquilo”,
mas a maioria da população não está de acordo, mas eles compram o presidente e ai está a divisão.
Tem muitas comunidades com esse problema de divisão.
Isso se vê em Edén,
onde havíamos calculado 80% de mães solteiras.
Então, olha o dano para as comunidades quando entram as empresas petroleiras!
O Rio Napo continua no Peru e quando se une com o Rio Marañón se converte no grande Amazonas
O rio tem que ser visto como um organismo vivo.
Muita gente não entende, ou pensa que somos meio metafísicos, meio loucos, meio hippies,
mas o tema é que o rio é um organismo vivo, tem sua dinâmica própria e temos que respeitá-lo, entendê-lo e compreendê-lo.
Se não temos uma água pura, não temos saúde.
No final, tudo termina nos rios.
Tudo o que fazemos, cada uma das atividades, cada uma das coisas que fazemos, tudo termina nos rios.
Sempre vemos o rio como a fonte de abastecimento de água,
mas temos que ver o rio como um ecossistema, como um ser vivo.
São as veias do planeta,
por onde circula a vida, e delas depende a vida.
Tradução: Giovanny Vera